VII CONGRESSO INTERNACIONAL DE ENSINO DA MATEMÁTICA PROJETOS DE APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO ESTATÍSTICA

Documentos relacionados
Projetos de Aprendizagem no Ensino da Estatística

VII CONGRESSO INTERNACIONAL DE ENSINO DA MATEMÁTICA

Modelo Pedagógico Relacional na Educação Estatística

VII CONGRESSO INTERNACIONAL DE ENSINO DA MATEMÁTICA VIVÊNCIA DE PROJETOS DE APRENDIZAGEM

A EDUCAÇÃO ESTATÍSTICA E A PESQUISA NA SALA DE AULA

ATIVIDADES DIGITAIS, A TEORIA DOS CAMPOS CONCEITUAIS E O DESENVOLVIMENTO DOS CONCEITOS DE PROPORCIONALIDADE

Palavras Chaves: Ensino de Matemática, Material Digital, Tecnologia.

O ENSINO DE DIDÁTICA E O PROCESSO DE CONSTITUIÇÃO PROFISSIONAL DOCENTE

A CONTEXTUALIZAÇÃO COMO AGENTE FACILITADOR NO PROCESSO ENSINO E APRENDIZAGEM DA MATEMÁTICA

6.1 DELINEAMENTO. Este capítulo apresenta o delineamento da pesquisa, os participantes, os materiais e o desenvolvimento.

APRENDER E ENSINAR: O ESTÁGIO DE DOCÊNCIA NA GRADUAÇÃO Leise Cristina Bianchini Claudiane Aparecida Erram Elaine Vieira Pinheiro

UM PORTAL COM ATIVIDADES PARA O ENSINO DE ESTATÍSTICA

RESOLVENDO PROBLEMAS ABERTOS USANDO WEBQUESTS

A DISCIPLINA DE DIDÁTICA NO CURSO DE PEDAGOGIA: SEU PAPEL NA FORMAÇÃO DOCENTE INICIAL

7. ORGANIZAÇÃO CURRICULAR

Porto Alegre, v. 18, n. 1, jan./jun ISSN impresso X ISSN digital INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO: teoria & prática.

A Prática Profissional terá carga horária mínima de 400 horas distribuídas como informado

FORMAÇÃO CONTINUADA NA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA: A EXTENSÃO QUE COMPLEMENTA A FORMAÇÃO DOCENTE. Eixo temático: Educación, Comunicación y Extensión

A FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DE PROFESSORES: CONCEPÇÕES SOBRE A ESCOLARIZAÇÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NA PERSPECTIVA HISTÓRICO-CULTURAL

INSTITUTO DE PESQUISA ENSINO E ESTUDOS DAS CULTURAS AMAZÔNICAS FACULDADE DE EDUCAÇÃO ACRIANA EUCLIDES DA CUNHA

A CONCEPÇÃO DE ENSINO ELABORADA PELOS ESTUDANTES DAS LICENCIATURAS

O Currículo Paulista e a revisão do PPP: compreender para intervir. Prof.ª Maria Regina dos Passos Pereira

APLICAÇÕES DA MODELAGEM COMPUTACIONAL NO ENSINO DE FUNÇÕES UTILIZANDO O SOFTWARE DE SIMULAÇÕES MODELLUS

QUAL O NÚMERO DO SEU CALÇADO? :VIVENCIANDO UMA ATIVIDADE DE ESTATISTICA NO 4º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL

OS DESAFIOS DA PESQUISA NA FORMAÇÃO DOS ESTUDANTES DO CURSO DE PEDAGOGIA OFERECIDO PELA PLATAFORMA FREIRE, NO MUNICÍPIO DE BOM JESUS DA LAPA BA

PROJETOS DE APRENDIZAGEM NA ABORDAGEM DE CONCEITOS ESTATÍSTICOS: PERCEPÇÕES DE FUTUROS PROFESSORES DE MATEMÁTICA

PENSAMENTOS DE PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS SOBRE SABERES DOCENTES: DEFINIÇÕES, COMPREENSÕES E PRODUÇÕES.

ATIVIDADE DIDÁTICA PARA O ENSINO DE ESTATÍSTICA: O PERFIL DA CLASSE

NÚCLEO TEMÁTICO I CONCEPÇÃO E METODOLOGIA DE ESTUDOS EM EaD

29º Seminário de Extensão Universitária da Região Sul OFICINAS DE ESTATISTICA FÁCIL

A ATUAÇÃO DE PROFESSORES NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

REGULAMENTO DOS PROJETOS INTEGRADORES

LIAU Laboratório de Inteligência no Ambiente Urbano no bairro Passos das Pedras em Porto Alegre Um relato de experiência

A PRESENÇA DA ESTATÍSTICA NOS ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

APRESENTAÇÃO. Prezados leitores,

PROJETOS DE APRENDIZAGEM NO ENSINO DE FÍSICA ATRAVÉS DE INTERVENÇÕES DO PIBID

FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES E A EXPERIÊNCIA DO PIBID EM UMA IES COMUNITÁRIA: CAMINHOS PARA A CONSOLIDAÇÃO DE UMA CONCEPÇÃO DE TRABALHO DOCENTE

Investigação das habilidades e competências estatísticas de estudantes recém-ingressos em uma universidade pública brasileira

OFICINA: Aprendizagem no Ensino Superior. FORMADORAS: Profa. Blaise K. C. Duarte Profa. Lourdes Furlanetto Profa. Luciane Nesello

UMA ANÁLISE DOS CONTEÚDOS DE PROBABILIDADE E ESTATÍSTICA NOS LIVROS DO ENSINO FUNDAMENTAL E ENSINO MÉDIO DA CIDADE DE JATAÍ

PLANEJAMENTO DE ENSINO DE CIÊNCIAS E BIOLOGIA

LABORATÓRIO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA: UM AMBIENTE PRÁTICO, DINÂMICO E INVESTIGATIVO

FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES ALFABETIZADORES EM FOCO

IDENTIFICAÇÃO DAS ANIMAÇÕES\ SIMULACÕES EM AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM PARA O ENSINO DE BIOLOGIA

Jacques Therrien, UFC/UECE

Professor ou Professor Pesquisador

,1752'8d EM QUE CONSISTE O ESTUDO?

ANÁLISE DE CONTEÚDO DAS EMENTAS DAS DISCIPLINAS RELACIONADAS AO ENSINO DE CIÊNCIAS PRESENTES NAS MATRIZES CURRICULARES DO CURSO DE PEDAGOGIA

Educação, tecnologia, aprendizagem exaltação à negação: a busca da relevância

Universidade de São Paulo Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto Enf. Psiquiátrica e Ciências Humanas. Profa. Karina de M. Conte

Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em Licenciatura em Educação Física no ano de

A importância das aulas laboratoriais como uma ferramenta didática para os professores de Biologia. Apresentação: Pôster

INTERDISCIPLINARIDADE COM O USO DE WEBQUEST. GT 05 Educação Matemática: tecnologias informáticas e educação à distância

OBJETIVOS. PALAVRAS CHAVE: Produção científica, Sequência de ensino-aprendizagem, Pesquisa em Ensino de Ciências, Didática das Ciências.

ENSINO DE INGLÊS PARA TÉCNICOS EM QUÍMICA: A IMPORTÂNCIA DO MATERIAL DIDÁTICO ESPECÍFICO - PESQUISA E PRODUÇÃO

A Estatística nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental em uma escola municipal de Rio Grande

DISCIPLINAS E EMENTAS CURSOS DE MESTRADO e DOUTORADO

FORMAÇÃO DE PROFESSOR: A CONSTRUÇÃO DO SABER DOCENTE¹

PEDAGOGIA DE PROJETOS

Percepções de professores de ciências sobre as relações entre a pesquisa e a prática

Curso Gestão Escolar e Tecnologias PUC/SP Microsoft Brasil Centro Paula Souza. O uso das tecnologias no contexto da escola:

Potencialidades de atividades baseadas em Categorias do Cotidiano em uma sala de aula da Educação Básica

Universidade do Estado de Minas Gerais Fundação Educacional de Ituiutaba

Ferramentas de Autoria e Interação para apoio ao desenvolvimento de Projetos de Aprendizagem

Formação continuada para professores em metodologias educativas e tecnologias digitais. Tiago Dziekaniak Figueiredo 1 -

Educación Estocástica La enseñanza y aprendizaje de la probabilidad y la estadística

MINICURSO: FLIPPED CLASSROOM A SALA DE AULA INVERTIDA EM ATIVIDADES DE MODELAGEM MATEMÁTICA

PLANO DE ENSINO. Curso: Pedagogia. Disciplina: Conteúdos e Metodologia de Alfabetização. Carga Horária Semestral: 80 horas Semestre do Curso: 5º

EXPERIÊNCIAS VIVIDAS: APRENDENDO PELA PESQUISA NAS CIÊNCIAS DA NATUREZA 1 LIVED EXPERIENCES: LEARNING THROUGH THE RESEARCH IN THE SCIENCES OF NATURE

O ENSINO DE MATEMÁTICA NAS SÉRIES INICIAIS: DESAFIOS E NECESSIDADES DOCENTES

FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES: ENSINO DE CIÊNCIAS INTERDISCIPLINAR NA PERSPECTIVA HISTÓRICO- CRÍTICA

Marta Lima Gerente de Políticas Educacionais de Educação em Direitos Humanos, Diversidade e Cidadania.

ALFABETIZAÇÃO MATEMÁTICA DAS CRIANÇAS NOS ANOS INICIAIS NO ENSINO FUNDAMENTAL: A IMPORTÂNCIA DA ARGUMENTAÇÃO

PLANO DE ENSINO. CURSO Licenciatura Interdisciplinar em Ciências Naturais MATRIZ 763

O PLANEJAMENTO DA PRÁTICA DOCENTE: PLANO DE ENSINO E ORGANIZAÇÃO DA AULA

OS REGISTROS DE REPRESENTAÇÃO SEMIÓTICA NO PROCESSO DE ENSINO DE COORDENADAS POLARES 1. Angeli Cervi Gabbi 2, Cátia Maria Nehring 3.

Lista das disciplinas com ementas: DISCIPLINAS OBRIGATÓRIAS:

A prática como componente curricular na licenciatura em física da Universidade Estadual de Ponta Grossa

Os Blogs construídos por alunos de um curso de Pedagogia: análise da produção voltada à educação básica

A FORMAÇÃO DE PROFESSORES: UM PROCESSO QUE MERECE UM OLHAR ESPECIAL

Faculdade de Ciências Sociais Departamento de Ciências da Educação PROGRAMA. Unidade Curricular: Seminário de Reflexão sobre a Prática Pedagógica II

FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES E O PERFIL DO ALUNO DO CURSO DE LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

A PRÁTICA PEDAGÓGICA NA ABORDAGEM DA TERAPIA GÊNICA POR ACADÊMICOS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DA FACULDADE DE APUCARANA, PR

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE SÃO PAULO CAMPUS SÃO ROQUE

Education and Cinema. Valeska Fortes de Oliveira * Fernanda Cielo **

Resumo Pretendo, nesta pesquisa, apresentar um estudo sobre a posição que a alfabetização ocupa

APRENDER A ENSINAR COM TECNOLOGIA EM CURSOS DE LICENCIATURA EM MATEMÁTICA

XVIII Encontro Baiano de Educação Matemática A sala de aula de Matemática e suas vertentes UESC, Ilhéus, Bahia de 03 a 06 de julho de 2019

Projeto de pesquisa realizado no curso de Licenciatura em Matemática da URI - Campus Frederico Westphalen 2

AVALIAÇÃO DA IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NOS PROFOP - PROGRAMAS DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES: UMA PROPOSTA DE MUDANÇA CURRICULAR.

CURSOS / OFICINAS DE ENSINO 1º SEMESTRE 2017 (2016.2)

A PERCEPÇÃO DOS ALUNOS DO CURSO DE LICENCIATURA EM QUÍMICA A DISTÂNCIA UAB/ IFMT SOBRE O PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM

A ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO NA PRÁTICA DE ENSINO EM MATEMÁTICA: CONTRIBUIÇÕES À FORMAÇÃO DOCENTE

OFICINA TEMÁTICA: A EXPERIMENTAÇÃO NA FORMAÇÃO DOCENTE

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE GOIÁS CÂMPUS JATAÍ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO PARA CIÊNCIAS E MATEMÁTICA

SÍNTESE PROJETO PEDAGÓGICO

SÍNTESE PROJETO PEDAGÓGICO

Plano de Ensino IDENTIFICAÇÃO

FORMAÇÃO CONTINUADA PARA PROFESSORES DOS ANOS INICIAIS EM ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO

SITUAÇÃO DE ESTUDO: UMA ESTRATÉGIA DE FORMAÇÃO DOCENTE NO MUNDO EM TRANSFORMAÇÃO

Transcrição:

VII CONGRESSO INTERNACIONAL DE ENSINO DA MATEMÁTICA ULBRA Canoas Rio Grande do Sul Brasil. 04, 05, 06 e 07 de outubro de 2017 Minicurso PROJETOS DE APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO ESTATÍSTICA Karine Cunha Duarte Silva 1 Milena Ruas Marques 2 Gabriela Machado Moura 3 Mauren Porciúncula 4 Ensino de Estatística e Probabilidade e Educação Ambiental Resumo: Entendemos que educar consiste em prover caminhos que levem a construção de conhecimentos. Nessa perspectiva, este Mini Curso tem como objetivo apresentar Projetos de Aprendizagem (PA) como uma proposta pedagógica para a promoção da aprendizagem da Estatística. Primeiramente, serão apresentados os fundamentos teóricos que inspiraram a escolha por PA para a Educação Estatística. Na sequência, Projetos de Aprendizagem serão desenvolvidos com os participantes. Por fim, apresentaremos estratégias metodológicas, já realizadas na condução do desenvolvimento desta prática pedagógica, em diferentes níveis de ensino, a fim de nortear ações futuras dos participantes. Espera-se que este Mini Curso propicie uma vivência que estimule os professores de Matemática a atuarem na Educação Estatística. Palavras Chaves: Projetos de Aprendizagem. Educação Estatística. Formação de Professores. Letramento Estatístico INTRODUÇÃO Pesquisadores em Educação Estatística, como Batanero (2001), Vendramini e Brito (2001), Gal (2002), Cazorla (2004), Campos, Coutinho e Almouloud (2006), Garfield e Ben-Zvi (2008), Salcedo (2014) vêm realizando estudos sobre o processo de ensinar e aprender Estatística. Entre eles, há um consenso da importância de se repensar o modo como professores concebem a prática educacional e implantar outras formas de ensino. O Grupo de Pesquisa em Educação Estatística de nossa Universidade também vem realizando ações e pesquisas nesse âmbito. Elas visam contribuir para a formação de professores e a construção do conhecimento estatístico dos 1 Graduanda do Curso Matemática Licenciatura da Universidade Federal do Rio Grande FURG. Email: kkduartesilva@hotmail.com 2 Graduanda do Curso Matemática Licenciatura da Universidade Federal do Rio Grande - FURG. E-mail: milly_ruasmarques@hotmail.com 3 Graduanda do Curso Matemática Aplicada da Universidade Federal do Rio Grande FURG. E-mail: gabriela_mmoura@hotmail.com 4 Profa. Dra. Mauren Porciúncula Laboratório de Estudos Cognitivos e Tecnologias na Educação Estatística L@bEst. Universidade Federal do Rio Grande FURG. E-mail: mauren@furg.br

estudantes. São pautadas principalmente por Projetos de Aprendizagem (PORCIÚNCULA e SAMÁ, 2014; PORCIÚNCULA e SAMÁ, 2015; SCHREIBER e PORCIÚNCULA, 2016) como um caminho pedagógico para a promoção da construção do conhecimento Estatístico. Nessa perspectiva, este Mini Curso tem como objetivo apresentar Projetos de Aprendizagem (PA) como uma proposta pedagógica para a promoção da aprendizagem da Estatística. Este texto contempla os fundamentos teóricos da Epistemologia Genética de Piaget (1976) e da Teoria da Biologia do Conhecer de Maturana e Varela (2005), os quais inspiraram a escolha por PA. Outrossim, apresenta a literatura sobre Projetos de Aprendizagem (FAGUNDES, SATO e LAURINO-MAÇADA, 1999), e estes aplicados à Estatística (PORCIÚNCULA e SAMÁ, 2015). Para além desses pressupostos teóricos e conceituais, descrevemos as atividades que serão desenvolvidas no Mini Curso. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Acreditamos que só se aprende nas vivências, nas interações que fazemos com o ambiente, com o espaço em que convivemos. Segundo a Teoria de Maturana e Varela (2005), assumir a interação como um pressuposto para o aprender, significa, repensar as práticas e estratégias pedagógicas, a fim de que se possibilite a participação efetiva de cada estudante na construção de seu conhecimento, bem como no desenvolvimento de competências que realmente importam para os estudantes no fluxo do viver. Também acreditamos que, para que ocorra uma nova aprendizagem, os estudantes precisam ser desequilibrados por uma curiosidade, que os leve a agir visando uma nova reequilibração (PIAGET, 1976), ou seja, a novos conhecimentos. Essa aprendizagem não pode ser alcançada no isolamento do indivíduo, ela se dá na relação com o meio, com o contexto, com a experiência e a história de vida dos que buscam aprender. Nesse mesmo sentido, Gal (2002) destaca para que ocorra o Letramento Estatístico é necessário a compreensão de que os dados estatísticos não são unicamente números, mas números inseridos num determinado contexto; estar familiarizado com os conceitos básicos de estatística descritiva; compreender

noções básicas de probabilidade; e entender o mecanismo do processo inferencial, ao tomar decisões estatísticas. Assim, a construção dos conceitos estatísticos ocorre a partir da ação e interação dos estudantes, considerando seus conhecimentos e o meio em que vivem. Cada um, sujeito de seu processo de aprendizagem. PROJETOS DE APRENDIZAGEM A Pedagogia de Projetos de Aprendizagem, amplamente utilizada e referenciada teoricamente pelo LEC Laboratório de Estudos Cognitivos da UFRGS - e cuja experiência piloto foi realizada pelo Projeto Amora (Cap/UFRGS), em 1995-96 é a inspiração para este Mini Curso. O Grupo de Pesquisa em Educação Estatística, da Universidade Federal do Rio Grande, adaptou esta estratégia pedagógica no Ensino da Estatística, em cursos de graduação (PORCIÚNCULA e SAMÁ, 2014). Esta seção descreve detalhadamente os Projetos de Aprendizagem, em sua concepção original (FAGUNDES, SATO e LAURINO-MAÇADA, 1999). É finalizada evidenciando como estão sendo aplicados à Educação Estatística. Um Projeto de Aprendizagem consiste na busca por informações que esclareçam as indagações de um sujeito sobre a sua realidade. É fundamental que a questão a ser pesquisada parta da curiosidade, das dúvidas, das indagações do aluno, e não imposta pelo professor, senão seria um Projeto de Ensino. Isto porque a motivação é intrínseca, é própria do indivíduo. O educar pela pesquisa caracteriza-se por uma situação de aprendizagem mais abrangente, pois para que o aluno pesquise e estude um tema, é preciso aprofundar determinados conceitos específicos trabalhados na disciplina. Isto permitirá que o estudante entenda as particularidades destes conceitos, faça relações mais complexas e integre-as no âmbito global do Projeto de Aprendizagem proposto, buscando confirmar suas certezas temporárias e superar suas dúvidas provisórias. Para Prado (2006) conceber e realizar um projeto implica esforço e envolvimento pessoal, bem como ser capaz de gerir a complexidade das situações que vão surgindo. Há diferentes caminhos que podem levar à construção do projeto, a partir das necessidades do aluno. Inventando e decidindo é que os estudantes/autores vão ativar e sustentar sua motivação. Mesmo assim, constitui um desafio que pode ser

muito estimulante para os estudantes que estão dispostos a assumir um papel ativo no seu processo de aprendizagem e no seu desenvolvimento profissional. O objetivo é o desenvolvimento de um processo de aprendizagem que alcance a construção de novos conhecimentos, no qual o aprendiz possa sistematizar informações, ampliando sua rede de significações, e reestruturar o raciocínio lógico sobre os novos significados enquanto elabora sínteses de respostas descritivas e explicativas para sua curiosidade. Durante o desenvolvimento do projeto, os sujeitos constroem uma rede de conhecimentos em torno da questão investigada. Segundo Fagundes, Sato e Laurino-Maçada (1999), o primeiro passo é selecionar uma curiosidade que, para fins didáticos, denomina-se de questão de investigação. A seguir é feito um inventário dos conhecimentos (sistemas nocionais ou conceituais dos aprendizes) sobre a questão. Esses conhecimentos podem ser classificados em dúvidas e certezas. As certezas para as quais não se conheça os fundamentos que a sustentem são denominadas de provisórias, e as dúvidas são sempre temporárias, de modo que o processo de investigação consiste no esclarecimento das dúvidas e na validação das certezas. O trabalho com projetos se desenvolve segundo um plano de interação intensiva. No plano, os itens do inventário são agrupados em unidades de investigação, segundo suas afinidades, e ocorre a previsão de um tempo para sua realização, a definição de recursos e a escolha de uma metodologia. O esclarecimento/validação de um item requer: coleta de informação, análise, debates e, por fim, elaboração de uma síntese descritiva e/ou explicativa. No decorrer da investigação, surgem novas dúvidas e novas certezas; com isso, o inventário é modificado e o planejamento, consequentemente, refeito. Em torno de um projeto se articula uma rede de cooperação, formada por autores dos projetos, outros sujeitos (construtores de outros projetos, orientadores) sendo, neste caso, orientadora/pesquisadora e eventuais colaboradores externos. Vale ressaltar que essas coletividades não são somente constituídas por sujeitos humanos e por tecnologias, mas também por suas relações (MARASCHIN, 1995). Na proposta de Projetos de Aprendizagem, o papel do professor é orientado pelas diferentes funções que venha a assumir na interação com os estudantes (FAGUNDES, SATO e LAURINO-MAÇADA, 1999). Ele poderá ser um articulador entre objetivos, interesses e estilos de aprender dos alunos, cabendo a ele a função de organizar o contexto de aprendizagem no que diz respeito às possíveis áreas de

interesse e as suas necessidades e dos sujeitos, desenvolvendo-as presencialmente ou via mecanismos de interação e comunicação digitais; coordenar a reflexão que envolve a prática docente e discente, organizando o planejamento conjunto de novas ações e analisando continuamente os resultados de modo a oportunizar a reorganização do contexto de aprendizagem; fortalecer as trocas que favoreçam a interação entre os conceitos trabalhados por orientador/pesquisador a partir das ações disciplinares ou interdisciplinares. O orientador de projetos deve estimular e auxiliar a viabilização de busca e organização de informações, frente às indagações do grupo. Ele ainda questiona, apresenta desafios, argumenta e provoca a contra argumentação dos aprendizes, provocando a atividade de pensar criticamente para refazer suas buscas e as atuais construções. O professor/orientador também é responsável por proporcionar o estabelecimento de contatos com os especialistas das diferentes áreas do conhecimento, sempre que um projeto assim demandar, de maneira que os conceitos sejam aprofundados. Projetos de Aprendizagem na Estatística (PORCIÚNCULA e SAMÁ, 2014) possibilitam o desenvolvimento de todas as etapas de uma pesquisa. Desde a escolha da temática, elaboração de um instrumento de coleta de dados, a própria coleta, a organização desses dados coletados, a análise destes, bem como a socialização dos resultados. Esse processo permite o desenvolvimento da cooperação, a aplicação dos conceitos da Estatística Descritiva e ainda, quando desenvolvidos por professores em formação inicial e continuados, proporcionam o exercício de uma prática que pode ser adotada na docência. Pautados nos referenciais de PA, bem como em PA na Estatística, os quais serão descritos mais detalhadamente na sequência deste texto, a próxima seção descreve as atividades a serem realizadas no Mini Curso de Projetos de Aprendizagem na Educação Estatística. ATIVIDADES DO MINI CURSO O Mini Curso iniciará com a apresentação da diferenciação entre um Projeto de Aprendizagem e um Projeto de Ensino. Também serão apresentadas as funções de cada sujeito no processo de desenvolvimento de um PA - estudante e professor, a partir da apresentação das teorias que fundamentam esta estratégia pedagógica. Logo a seguir, os participantes serão divididos em grupos. Cada grupo desenvolverá, cooperativamente, um Projeto de Aprendizagem.

Esta atividade tem por objetivo possibilitar que os participantes do Mini Curso vivenciem as diversas fases de um Projeto de Aprendizagem: definição da temática e constituição dos grupos; definição da questão de investigação, população/amostra e elaboração do questionário; coleta, organização e análise de dados; divulgação dos resultados (PORCIÚNCULA, SAMA, 2015). A cada etapa, os ministrantes do Mini Curso farão uma análise críticoreflexiva, discutindo as possibilidades, limites e a forma de articulação com os conceitos estatísticos. Ao final, cada grupo apresentará sua proposta de projeto de aprendizagem, as possibilidades a serem exploradas a partir dessa estratégia pedagógica e as dificuldades enfrentadas ao longo do processo. CONSIDERAÇÕES FINAIS Aprendizagens ativas como esta, algumas vezes denominadas de modelagem, ou simplesmente projetos, não são inéditas. No entanto, por buscarem a promoção da aprendizagem pelo estudante, e o aprender a aprender, ainda faz-se necessário que sejam disseminadas. Nesta perspectiva, espera-se, com este Mini Curso, que os participantes vislumbrem o potencial da utilização de Projetos de Aprendizagem como uma estratégia pedagógica capaz de contribuir para o Letramento Estatístico. REFERÊNCIAS BATANERO, C. Didáctica de la Estadística. 1 ed. Espanha: Universidad de Granada, 2001. 210 p. ICOTS, 7., 2006. Salvador. Anais Salvador: IASE, 2006. 6 p. VIII Encontro Nacional de Educação Matemática, 2004. Pernambuco. Universidade Federal de Pernambuco, FAGUNDES, L. C.; SATO, L. S.; MAÇADA, D. L.. Aprendizes do futuro: as inovações começaram! 1 ed. Brasília: Ministério da Educação - Secretaria da Educação a Distância - Programa Nacional de Informática na Educação, 1999. 96 p. GAL, I. Adult's Statistical literacy: Meanings, Components, Responsabilities. 1 ed. The Netherland: International Statistical Review, v. 70, 2002. 159 p. GARFIELD, J.; BEN-ZVI, D. Developing Students Statistical Reasoning: Connecting Research and Teaching Practice. 1 ed. USA: Springer Science & business Media, 2008. 408 p.

MARASCHIN, C. Escrever na Escola: da alfabetização ao letramento. 1995. 232f. Tese (Doutorado em Educação) Faculdade de Educação Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1995. MATURANA, H. R.; VARELA, F. A árvore do conhecimento: as bases biológicas da compreensão humana. 5 ed. São Paulo: Palas Athena, 2005. 283 p. PIAGET, J. A Equilibração das Estruturas Cognitivas: problema central do desenvolvimento. 1 ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1976. 176 p. SBIE, 17., 2006. Brasília. Anais... Brasília: SBIE, 2006. 10 p. SALCEDO, A. Educacion Estadística en America Latina: Tendencias y Perspectivas. 1 ed. Venezuela: Programa de Cooperación Interfacultades Universidad Central de Venezuela, 2013. 389 p. VENDRAMINI, C.M.M.; BRITO, M.R.F. Relações entre atitude, conceito e utilidade da estatística. Psicologia Escolar e Educacional. Campinas, v. 5, n.1, p. 59-74, jan./jun. 2001. PORCIÚNCULA, M.; SAMÁ, S. Projetos de Aprendizagem: uma proposta pedagógica para a sala de aula de Estatística. In: SAMÁ, S.P.; PORCIÚNCULA, M. M. S. (Org.) Educação Estatística: ações e estratégias pedagógicas no Ensino Básico e Superior. Curitiba: CRV, 2015. p 133-141. PORCIÚNCULA, M.; SAMÁ, S. Teaching Statistics Through Learning Projects. Statistics Education Research Journal, v. 13, n. 2, 2014. p 177-186, nov. SCHREIBER, K.; PORCIÚNCULA, M. A formação em Estatística do futuro professor de Matemática e as percepções destes graduandos. In: PEREIRA, E.; MACHADO, C.; SAGGIOMO, L.; MIRANDA, S. (Org). Formação de professores em diferentes contextos. Bagé: Casaletras, 2016. p 148-163.