Aplasia de Medula Óssea. Doença esquecida

Documentos relacionados
PROTOCOLOS DE TRATAMENTO DE DOENÇAS HEMATOLÓGICAS

TRANSPLANTE DE MEDULA ÓSSEA

Aulas e discussão dos casos.

Transplante de Células Tronco Hematopoéticas

ENFERMAGEM EXAMES LABORATORIAIS. Aula 2. Profª. Tatiane da Silva Campos

INTERPRETAÇÃO DO HEMOGRAMA

PEDIDO DE CREDENCIAMENTO DO SEGUNDO ANO NA ÁREA DE ATUAÇÃO HEMATOLOGIA E HEMOTERAPIA PEDIÁTRICA

Anemia aplástica pós-viral: Relato de caso

SELEÇÃO DE MÉDICOS RESIDENTES PARA 2017 ÁREA DE ATUAÇÃO COM PRÉ-REQUISITO GABARITO

1) Qual translocação é característica da Leucemia mielóide crônica? a) t(14;18) b) t(9,21) c) t(9;22) d) t(22,9) e) t(7;22)

Dr. Bárbaro Andrés Medina Rodríguez. Luanda 8 de Novembro 2017

Diagnóstico Laboratorial em Hematologia. Marcos K. Fleury Laboratório de Hemoglobinas Faculdade de Farmácia - UFRJ

Leucemias Agudas: 2. Anemia: na leucemia há sempre anemia, então esperamos encontrar valores diminuídos de hemoglobina, hematócrito e eritrócitos.

Sessão televoter anemias. Joana Martins, Manuel Ferreira Gomes António Pedro Machado

LOCAL: CENTRO DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE ABRAM SZAJMAN (CESAS) BLOCO A 1ºSS 26 DE JUNHO DE 2018, TERÇA-FEIRA

Peculiaridades do Hemograma. Melissa Kayser

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO-SENSU EM HEMATOLOGIA E BANCO DE SANGUE ( )

GABARITO RESIDÊNCIA MÉDICA R1-2017

Plaquetopenia. Felippe Schirmer

EXAME HEMATOLÓGICO Hemograma

Alessandra Comparotto de Menezes IHOC-2013

Discussão de caso Insuficiências Medulares e HPN. Sandra Fátima Menosi Gualandro Disciplina de Hematologia e Hemoterapia Faculdade de Medicina da USP

ESPECIALIZAÇÃO EM HEMATOLOGIA E BANCO DE SANGUE. Aulas Teóricas: On Line Práticas: Presenciais

SÉRIE VERMELHA ANEMIAS CARENCIAS ANEMIAS HEMOLÍTICAS CONGÊNITAS ESFEROCITOSE HEREDITÁRIA, ANEMIA FALCIFORME, TALASSEMIA MINOR DESORDES DA MEDULA

31/10/2013 HEMOGRAMA. Prof. Dr. Carlos Cezar I. S. Ovalle. Introdução. Simplicidade. Baixo custo. Automático ou manual.

GCD_16_Doenças_e_Perturbações_do_Sangue/Órgãos_Hematopoiéticos_e_Doenças_Inumológicas

Caso Clínico - Anemia Aplástica. Dr. Diego Villa Clé Disciplina de Hematologia HCFMRP-USP

Farmácia Clínica em Oncologia: Como eu faço no TCTH?

- Condição adquirida caracterizada por alterações do crescimento e da diferenciação celular

Hemograma. Exame laboratorial que expressa a quantidade e a qualidade dos elementos figurados do sangue periférico em 1 microlitro

Curso de atualização à distância em SMD - organizado pelo GLAM

PROGRAMAS DAS PROVAS NÍVEL E

Avaliação Hematológica, Interpretação e Importância em Nutrição

ENFERMAGEM. DOENÇAS HEMATOLÓGICAS Parte 1. Profª. Tatiane da Silva Campos

Doença dos Eritrócitos

Outras Anemias: Vamos lá? NAC Núcleo de Aprimoramento científico Hemograma: Interpretação clínica e laboratorial do exame. Jéssica Louise Benelli

PATOLOGIA DO SISTEMA HEMATOPOIÉTICO

Hematologia Clínica : bases fisiopatológicas

HEMOCENTRO RP PROCEDIMENTO OPERACIONAL USO DE HEMOCOMPONENTES ESPECIAIS

CURSO DE FARMÁCIA Autorizado pela Portaria nº 991 de 01/12/08 DOU Nº 235 de 03/12/08 Seção 1. Pág. 35 PLANO DE CURSO


ENFERMAGEM. DOENÇAS HEMATOLÓGICAS Parte 2. Profª. Tatiane da Silva Campos

INDICAÇÕES PARA USO CLÍNICO DE HEMOCOMPONENTES. Concentrado de Hemácias (CH)

O Cancro - Aspectos gerais O termo Cancro é aplicado e utilizado genericamente para identificar um vasto conjunto de doenças que são os tumores malign

Questionário - Proficiência Clínica

CURSOS DE CITOMETRIA DE FLUXO - HOSPITAL AMARAL CARVALHO

PHILLIP SCHEINBERG. Parâmetros preditivos de resposta hematológica, recidiva, evolução clonal

CURSO: MEDICINA HEMATOLOGIA 2º ESTÁGIO TURMA A

Linfohistiocitose Hemofagocítica: Estamos diagnosticando?

Colheita e Transplantação de Progenitores Hematopoiéticos

PLANO DE APRENDIZAGEM. CH Teórica: 40h CH Prática: 20h CH Total: 60h Créditos: 03 Pré-requisito(s): Período: IV Ano:

APLASIA DE MEDULA ÓSSEA: características, diagnóstico e tratamento

Sugerimos manter-se a grelha proposta

RESIDÊNCIA MÉDICA 2014 PROVA OBJETIVA

Colheita de Células Hematopiéticas

HOSPITAL DE CLÍNICAS DE PORTO ALEGRE EDITAL N.º 01/2016 DE PROCESSOS SELETIVOS GABARITO APÓS RECURSOS

ACADEMIA DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA

FERNANDA DE LIMA GOMES DOS SANTOS ALTERAÇÕES HEMATOLÓGICAS NO DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE LEUCEMIAS LINFOCÍTICAS

ANEMIA EM CÃES E GATOS

φ Fleury Stem cell Mastócitos Mieloblastos Linfócito pequeno Natural Killer (Grande linfócito granular) Hemácias Linfócito T Linfócito B Megacariócito

Programa de Formação da Subespecialidade de Oncologia Pediátrica

Transplantação de Progenitores Hematopoiéticos

INTRODUÇÃO AO LINFOMA EM GATOS

Anemias Microcíticas e Hipocrômicas ADC e Talassemias. Profa. Alessandra Barone Prof. Archangelo Fernandes

Caso 1 Citometria de Fluxo Detecção de Múltiplos Clones

Leucograma: Avaliação normal e alterações quantitativas

Classificação das Anemias

CYNTHIA DE ASSUMPÇÃO LUCIDI 1 ; FLÁVIA FERNANDES DE MENDONÇA UCHÔA 2

PROTOCOLOS DE TRATAMENTO DE DOENÇAS HEMATOLÓGICAS

Hematopoese Aspectos gerais

Procedimentos Técnicos Código: PROHEM NOME FUNÇÃO ASSINATURA DATA ELABORADO POR

Anemia Falciforme. Anemia Falciforme. Wilson Marques da Rosa Filho

Governo do Estado de Pernambuco / Secretaria Estadual de Saúde / Fundação HEMOPE Processo Seletivo Simplificado 2006

ANEMIA NO PACIENTE IDOSO L A R I S S A T O R R E S

ERITROGRAMA HEMOGRAMA 24/09/2010 INTERPRETAÇÃO DE EXAMES LABORATORIAIS EM NEONATOLOGIA E PEDIATRIA HEMOGRAMA HEMATOPOIESE HEMATOPOIESE

A N E M I A S H E M O L Í T I C A S

ANEMIA APLÁSTICA CARLOS EDUARDO PIZZINO

Requisitos básicos. Nas regiões hematopoéticas, 50% do tecido medular é representado por gordura. O tecido hematopoético pode ocupar áreas de gordura.

Cronograma das Atividades Didáticas FCFRP/USP 1º semestre de 2019 Integral / _X Noturno

Aplicações clínicas de células tronco hematopoiéticas

CURSO DE HEMATOLOGIA E ONCOLOGIA. Apresentação Prof. Dra. Vanda Sakae Assahide Ogasawara

Recomendações das indicações e laudo de imunofenotipagem para SMD (OMS):

Principais Doenças do Sistema Hematológico

Caso do mês. Sociedade Brasileira de Patologia. Apresentadores: Dra. Sheila Ap. Coelho Siqueira Dr. Ariel Barreto Nogueira

EMERGÊNCIA NO PRONTO ATENDIMENTO: MANEJO DOS PACIENTES COM LEUCEMIA PROMIELOCÍTICA AGUDA

Imunofenotipagem nas doenças hematológicas: Doenças linfoproliferativas crônicas. Dr. Edgar Gil Rizzatti Grupo Fleury

HEMOGRAMA. Rebecca Braz Melo Lucas Nascimento

Cronograma das Atividades Didáticas FCFRP/USP 1º semestre de 2018 Integral / _X _ Noturno

ANEMIAS HEMOLÍTICAS ADQUIRIDAS. Prof. Dr. David Cavalcanti Ferreira

A importância do esfregaço do sangue periférico no diagnóstico das anemias. Profa. Dra. Célia Martins Campanaro

T E R M O D E C O N S E N T I M E N T O E S C L A R E C I D O TRANSPLANTE DE MEDULA ÓSSEA TRANSPLANTE AUTÓLOGO

LEUCOGRAMA O que realmente precisamos saber?

Dadores inscritos no CEDACE

Hemocomponentes filtrados, irradiados e lavados. Fabiana Sinnott Ghaname

ESTÁGIO: PSICOLOGIA HOSPITALAR: INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA EM UMA UNIDADE DE TRANSPLANTE DE MEDULA ÓSSEA

Ritha Capelato 4⁰ ano Medicina UFGD DOENCAS LINFOPROLIFERATIVAS MALIGNAS

Proliferação. Diferenciação. Apoptose. Maturação. Ativação funcional. SCF PSC TPO CFU GEMM. BFU EMeg CFU GMEo BFU E IL-3. CFU EMeg CFU GM EPO.

Identificando doenças hematológicas através da morfologia celular no hemograma

HEMATOLOGIA E HEMOTERAPIA

RECONHECIMENTO CLÍNICO & DIAGNÓSTICO. Dra. Lucilene Silva Ruiz e Resende Disciplina de Hematologia Depto. de Clínica Médica FMB - UNESP Botucatu 2014

Transcrição:

Aplasia de Medula Óssea. Doença esquecida Professor : José Luis Aparicio. Consultor Ministra da Saúde.

Algoritmo Estudo no paciente com pancitopenia Pancitopenia 1. Antecedentes: Quimioterapia; Radioterapia; Drogas e/ou tóxicos. 2. Esplenomegalia: Sim: Mielograma e Biópsia de Medula Óssea: Patológica: Leucemia; Linfoma; Doença Lisosomal Síndrome hemofagocítico. Normal: Hiperesplenismo

Algoritmo Estudo no paciente com pancitopenia Não Esplenomegalia: Exames laboratoriais. Laboratório de hemólisis: a) Frotis de sangue periférico. Pancitopenia b) Reticulocitosis: Hemoglobinúria Paroxística Noturna. c) VCM aumentado: Anemia Megaloblástica; Aplasia Medular; Mielodisplasia. d) Células imaturas: Mielodisplasia; Leucemia. e) Suspeita-se HPN; Aplasia Medular; Mielodisplasia; Leucemias, solicitar: Mielograma e Biópsia de Medula Óssea.

Aplasia de Medula Óssea Anemia Aplástica Adquirida Síndrome caracterizada por pancitopenia periférica e medula óssea hipocelular junto com o compromisso de ao menos duas linhas celulares em sangue periférico.

Aplasia de Medula Óssea A P L A S I A

Patogenia Processo autoimune no que se produz, por um mecanismo ainda não identificado, a ativação de células T citotóxicas que produzem a destruição imune de células stem e progenitoras hematopoiéticas.

Exame físico A presença de organomegalia ou adenopatias faz improvável o diagnóstico de Anemia Aplásica.

Critérios diagnósticos de aplasia medular Aplasia não severa Hb < 10 g/dl; neutrófilos 1,5 a 0,5 x 10 9 /L; Plaquetas 50 a 20 x 10 9 /L; Celularidad medular diminuída. Aplasia severa Reticulocitos < 20 x 10 9 /L; neutrófilos 0.5 a 0,2 x 10 9 /L; Plaquetas < 20 x 10 9 /L; Celularidad medular < 25 %.

Critérios diagnósticos de aplasia medular Aplasia muito severa Reticulocitos < 20 x10 9 /L; Neutrófilos < 0,2 x 10 9 /L; Plaquetas < 20 x 10 9 /L; Celularidad medular < 25 %. Miano M., Dufour C. The diagnosis and treatment of aplastic anemia: a review. Int J Hematol 2015 DOI 10.1007/s12185-015-1787-z

Estudos no paciente com pancitopenia Hemograma com reticulocitos. Bioquímica do sangue: estudos de função renal, LDH, bilirrubina total e direta, haptoglobina, função tireóidea, Hepatograma. Esfregaço de sangue periférico. Aspiração de Medula Óssea e Biópsia de Medula Óssea (BMO). Citometría de fluxo de medula óssea/sangue periférico. Estudo Citogenético. Sorologias virais. Estudo de fragilidade por DEB para descartar Anemia de Fanconi.

Diagnóstico diferencial Anemia aplásica adquirida Síndrome Mielodisplásico Hipoplásico. Leucemias agudas, que debutam com uma fase hipoplástica. Leucemia de células velosas sem esplenomegalia. Linfoma Hodgkin ou não Hodgkin em medula óssea com mielofibrosis. Infecção mico bacteriana. Anorexia nervosa ou desnutrição prolongada HPN. Até 50 % dos pacientes com AA apresentam pequenos clones HPN em ausência de anemia hemolítica. Estes pacientes têm maior taxa de resposta ao tratamento imunossupressor.

Tratamento É recomendável um enfoque multidisciplinar para a atenção destes pacientes. Transplante de células progenitoras hemopoiéticas (TCPH) de doador relacionado histoidéntico: tratamento de primeira linha em pacientes pediátricos ou adultos até 50 anos. Tratamento imunossupressor : em pacientes sem indicação de TCPH ou que não contem com doador histoidéntico relacionado. Transplante de CPH de doador não relacionado, ante a falta de resposta a tratamento imunossupressor.

Tratamento imunossupressor O tratamento padronizado utiliza as seguintes drogas em conjunto: Globulina antitimocítica (GAT). Ciclosporina (CSA). Metilprednisolona.

Tratamento imunossupressor Mecanismos de ação. Produz intensa depleção das células T em sangue, baço, nódulos linfáticos, por lises mediada por complemento. Modula os mecanismos de ativação, homing e citotoxicidade das células T. Induze apoptoses de células B, NK e monócitos, mas de média magnitude.

Tratamento imunossupressor O tratamento imunossupressor deve ser iniciado o mais cedo possível, mas após o tratamento e o controlo de infecções graves, uma vez que o estado imunológico do paciente será agravado nos primeiros meses pós-infusão de GAT.

Medidas de suporte Transfundir plaquetas se o nível é < 10.000/mm 3 ou < 20.000 plaquetas/ mm 3 em caso de febre. Durante a administração de GAT manter um nível de plaquetas > 30.000/ mm 3. Não transfundir durante a infusão de GAT. Manter uma Hb 7 g/dl, de acordo às morbidades e estado hemodinâmico do paciente. Leucodepleção de glóbulos vermelhos e plaquetas, para evitar desenvolvimento deac ante HLA. Transfundir hemoderivados irradiados para evitar o enxerto contra Hóspede transfusional.

Medidas de suporte No paciente neutropénico severo recomenda-se: isolamento, higiene bucal, antissepsia local, dieta baixa em conteúdo bacteriano e habitação com filtros HEPA, de estar disponível esta opção. Dada a falta de consensos sobre profilaxia antimicrobiana, a cada instituição define sua política de profilaxia antibiótica e antifúngica em os nos pacientes com neutropénia severa.

Tipos de resposta à terapia imunossupressora 1. Resposta completa: independência transfusional associada a contagens: Hb > 11 g/dl; Plaquetas > 100 x10 9 /L ; Neutrófilos > 1,5 x10 9 /L. A RC consegue-se em menos de 50 % dos pacientes respondedores. 2. Resposta Parcial: independência transfusional, mas sem conseguir os valores de RC no hemograma. Os valores do hemograma devem ser confirmados em 2 controlos sucessivos, separados por um lapso de tempo de 4 semanas. 3. Não respondedores: não obtêm a independência transfusional. A não resposta pode se definir recém aos 6 meses de recebido o tratamento imunossupressor.

Aplasia de Medula Óssea A anemia aplástica é de origem heterogênea que causa afecção da célula tronco hematopoiética. Predictivos de não resposta: Idade > 18 anos; linfócitos < 1 x 10 9 /L; reticulocitos < 25 x 10 9 /L. Lembre-se da possível complicação da evolução clonal para SMD e HPN. As manifestações clínicas dependerão da gravidade das citopenias. Se pancitopenia depois de pelo menos 3 meses de independência transfusional: Recaída. Iniciar-se suspensão da Ciclosporina depois de 3 meses de ter conseguido a melhor resposta. A base do tratamento da doença é a terapia imunossupressora e TMO.

Consideração final O sangue é, como a virtude, património essencial do ser humano. aparicio.angola2016@gmail.com