O Uso do diário de Campo no Currículo Narrativo. Mestrando: Danilo Pereira de Souza Orientadora: Dra. Daniele Lima

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Transcrição:

O Uso do diário de Campo no Currículo Narrativo Mestrando: Danilo Pereira de Souza Orientadora: Dra. Daniele Lima

Produto PPGEduCIMAT O presente trabalho é um requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Educação em Ciências e Matemática, pelo Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática

Objetivos do produto Proposição do uso do diário de campo como ferramenta potencializadora no/do Currículo narrativo

O que é o Caderno de Campo? Caderno ou Diário de campo é um objeto que tem sido usado para registrar anotações sobre observações, impressões e contextualizações de diferentes momentos no/do contexto escolar. Neste instrumento tem sido registrado o que ouvimos, vimos, sentimos e experenciamos no trabalho de campo (Oliveira 2014, p.75).

"Além de ser utilizado como instrumento reflexivo para o pesquisador, o gênero diário é, em geral, utilizado como forma de conhecer o vivido dos atores pesquisados, quando a problemática da pesquisa aponta para a apreensão dos significados que os atores sociais dão à situação vivida. O diário é um dispositivo a investigação, pelo seu caráter subjetivo e intimista. Macedo (2010, p. 134)

O Diário de campo tem auxilizado no desvelamento do contexto social, histórico e institucional das histórias de vida Visou-se utilizar o diário de campo como instrumento enriquecedor e potente das narrativas em ação das histórias de vida dos discentes, do currículo em ação e da história de vida institucional, bem como outros elementos descritos nele O diário de campo não foi utilizado, como menciona em seu artigo Oliveira (2014) como espécie de cartilha nem receituário (p.75), mas sim como uma possibilidade de compreensão da narração em ação, das inter-relações e contextualizações do objeto de pesquisa.

Currículo Narrativo Currículo Narrativo é uma proposta de Goodson (2008), que visa compreender o Currículo destacando o papel da narrativa. Nesta, é proposto o uso das Histórias de vida dos sujeitos na compreensão e/ou elaboração do Currículo.

Ao invés de escrever novas prescrições para escolas, novos currículos ou novas diretrizes de reforma, elas precisam antes questionar a própria validade das prescrições pré-digeridas em um mundo de fluxo e de mudança. Precisamos, em suma, sair do currículo como prescrição para o currículo como narração de identidade, do ensino cognitivo prescrito para o ensino narrativo do gerenciamento da vida (p.142). Goodson (2008) Justifica sua opção de um currículo que leve em conta a narração sobre a prescrição da seguinte forma:

Martins (2007) argumenta que o Currículo Narrativo defendeu várias questões que compõem a teoria social, a saber: as questões sobre o poder, a legitimidade, as exclusões, as geografias e cartografias centrais e periféricas, o que representam as permanências e as tradições curriculares, assim como o que representam as inovações, as mudanças e a sucessão de reformas contemporâneas (p.42).

Apoiado em Bauman (2001), Goodson (2008) compreendeu que as questões referentes ao currículo e a educação não se poderiam ser explicitadas somente por questões internas destes, mas sim a compreensão destas questões em um mundo fluido, de novas organizações e trabalho. Neste sentido, o referido autor propôs a utilização do currículo Narrativo no processo de ensinoaprendizagem e o uso da História de Vida dos atores envolvidos no processo educacional. A compreensão de como a vivência deste sujeitos influenciaram seu entendimento, seus anseios e seus pontos de vista sobre aqueles determinados temas

Na prescrição, acreditou-se em uma uniformidade de saberes como um equalizador de oportunidades, já que todos tem em tese partem do princípio, não considerou a gênese do conhecimento, a individualidade cultural do sujeito envolvido no processo, suas experiências, crenças, vivências, interesses e objetivos No currículo narrativo (Goodson, 2008), história de uma vida pode explicar as reações de aprendizagem de uma pessoa (p.154). Este currículo envolveu diretamente os sujeitos que o viveram, não mais só a dimensão do ensino e/ou a prática docente, mas como possibilidade de aprendizagem, a qual ele denominou de aprendizagem narrativa

Goodson, 2008, aposta na ideia que os sujeitos do processo educacional elaboram e reelaboram os conhecimentos a partir da narrativa de seus contextos sociais e culturais em conflito com um capital cultural relacionado a um conjunto de conhecimentos reconhecidos, por grupos hegemônicos, como legítimos de serem aprendidos e utilizados. Sendo assim, a compreensão dos elementos das histórias de vidas destes estudantes desvelados a partir do viés curricular permitiu a mudança de antigas hierarquias de capital cultural e simbólico na direção de algo que [Goodson, 2008 chamou] de capital narrativo (p.153), a compreensão e consideração de novas formas de organização dos mundos.

O uso do diário de campo na construção tem revelado-se um agente importantíssimo na contextualização, nas capturas de situações e análises que não seriam possível no trânsito de outras perspectivas metodológicas