PROVINHA BRASIL E HABILIDADES DE LEITURA: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE OS NÍVEIS DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO



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Transcrição:

1 PROVINHA BRASIL E HABILIDADES DE LEITURA: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE OS NÍVEIS DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO INTRODUÇÃO Solange dos Santos (UFS) A leitura tem sido por muito tempo um tema muito debatido nos estudos acadêmicos, tendo em vista sua relevância para o desenvolvimento do aluno não só na vida escolar, como também no meio social. Nas séries iniciais, prioriza-se a aprendizagem da leitura e da escrita, de uma forma tão intensa, que dominar o código escrito é considerado critério de avaliação para o aluno poder prosseguir para as séries posteriores. Por volta dos anos de 1980, surgiu a necessidade de não só ensinar as habilidades de leitura e escrita, mas também ensinar a fazer o uso dessas habilidades. Nesse sentido, é preciso ampliar a concepção do que seja a alfabetização e letramento. De acordo com Soares (2003), letrar é mais que alfabetizar, é ensinar a ler e escrever dentro de um contexto onde a escrita e a leitura tenham sentido e façam parte da vida do aluno. Embora haja o reconhecimento da importância da alfabetização e do letramento e dos diversos estudos relacionados ao tema, ainda há muita dificuldade dos alunos com relação a essa prática. É comum se deparar com alunos em séries avançadas com muitas deficiências de leitura e escrita. Esse fato revela que muitos alunos saem do 2º ano sem estarem alfabetizados, dificultando ainda mais o desenvolvimento do grau de letramento. Por mais que se enfatizem alternativas de se trabalhar a leitura em sala de aula, o processo de ensino-aprendizagem tem apresentado questionamentos acerca da abordagem veiculada pelos materiais didáticos, dos métodos avaliativos, dos projetos escolares, entre outros meios, que visam propor estratégias de desenvolvimento da proficiência em leitura.

2 No que se refere aos testes avaliativos, podemos destacar, entre outros a Provinha Brasil, uma avaliação diagnóstica, que analisa as habilidades de leitura nas séries iniciais através dos níveis de alfabetização e letramento. Mediante essas considerações, este trabalho, v inculado ao projeto Ler+Sergipe leitura para o letramento e cidadania, analisa os resultados obtidos na primeira avaliação da Provinha Brasil, edição 2012, de duas escolas públicas do município de Itabaiana/SE, com o intuito de observar o nível de alfabetização e letramento destes alunos e as principais dificuldades apresentadas por eles. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A Provinha Brasil é uma avaliação diagnóstica que tem por objetivo analisar o processo de alfabetização e letramento, identificando as principais dificuldades dos alunos nos anos iniciais do ensino fundamental, através de duas avaliações anuais, uma no primeiro semestre e a outra no segundo semestre do ano letivo. A aplicação dessa avaliação é opcional, ficando a critério de cada secretaria de educação. Vale destacar que os resultados da provinha Brasil não são utilizados na composição do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica IDEB, reforçando que seu principal objetivo consiste em utilizar os resultados para orientar as ações pedagógicas. Assim, enfatiza-se o caráter de instrumento diagnóstico atribuído ao teste. As secretarias de educação recebem o Kit da Provinha Brasil composto por quatro documentos: Guia de Aplicação; Guia de Correção e Interpretação de Resultados; Caderno do Aluno e Reflexões sobre a Prática. Esses documentos consistem em cadernos que abordam a metodologia da avaliação, seus objetivos, pressupostos teóricos, além das orientações para a aplicação, correção e uso dos resultados. Diante disso, torna-se necessário a leitura desse material para uma melhor compreensão a respeito da Provinha Brasil. No que se referem aos objetivos da avaliação, os referidos documentos enfatizam não só a avaliação do nível de alfabetização dos alunos, mas também o do

3 aprimoramento das práticas pedagógicas a partir dos subsídios fornecidos pelos resultados. A esse respeito, Cristofolini (2012) assinala que a Provinha Brasil propõe, também, que os resultados ajudem a compreender os conhecimentos que os alunos já adquiriram sobre a língua escrita, bem como quais aspectos dos conteúdos ainda deverão ser desenvolvidos; também se espera que os resultados contribuam para o aperfeiçoamento, reorientação e redimensionamento da prática pedagógica do professor, visando à redução das desigualdades e à melhoria da qualidade de ensino. (CRISTOFOLINI, 2012, p. 226) Em outras palavras, trata-se de um instrumento que oferece um diagnóstico do nível de alfabetização e letramento no início do processo de aprendizagem, auxiliando na elaboração de meios para sanar a s possíveis dificuldades de leitura e escrita dos alunos. A sua finalidade não é classificatória, mas de fornecer aos professores e gestores da escola um instrumento de análise. Dentro dessa perspectiva, as habilidades concernentes à alfabetização e ao let ramento inicial dos alunos são avaliadas na Provinha Brasil. Tais habilidades foram organizadas e descritas na Matriz de Referência para Avaliação da Alfabetização e do Letramento Inicial, que foi estruturada tomando como base o documento Pró- Letramento Programa de Formação Continuada de Professores dos Anos/Séries Iniciais do Ensino Fundamental e outros documentos que norteiam as avaliações nacionais desenvolvidas pelo Inep. (BRASIL, 2012c, p. 7) As habilidades apresentadas estão baseadas na percepção de que alfabetização e letramento são processos complementares que devem ser desenvolvidos paralelamente. Elas foram agrupadas aos seguintes eixos: 1) apropriação do sistema de escrita; 2) leitura; 3) escrita; 4) compreensão e valorização da cultura escrita; 5) desenvolvimento da oralidade. Entretanto, a Matriz de Referência considera apenas os quatro primeiros eixos. Destaca-se a concepção de que a leitura contempla não somente a atividade de decifração, como também a de compreensão e produção de sentido, ou seja, as práticas de letramento. Dentro dessa perspectiva, destacam-se as habilidades de: ler palavras; localizar informações explícitas em frases ou textos; realizar inferências; reconhecer assunto de um texto; reconhecer finalidades dos textos; estabelecer relação entre partes do texto (BRASIL, 2012c, p. 8).

4 Os desempenhos dos alunos são analisados de acordo com cinco níveis. Para chegar a esses níveis foi realizada uma análise da dificuldade das habilidades medidas no teste. A partir disso, definiram-se o número de acertos para cada nível de alfabetização e letramento. Acredita-se que as respostas dos alunos podem ser interpretadas fazendo uma relação entre o número ou a média de acertos e os correspondentes níveis de desempenho descritos pela Provinha Brasil: Nível 1 até 04 acertos Nível 2 de 05 a 09 acertos Nível 3 de 10 a 15 acertos Nível 4 de 16 a 18 acertos Nível 5 de 19 a 20 acertos Nesse sentido, esses níveis indicam em que ponto do processo de aprendizagem os alunos estão, quais habilidades foram desenvolvidas por eles e que habilidades precisam ser desenvolvidas. É dessa forma que a interpretação dos resultados obtidos contribui para uma reorientação da prática pedagógica do professor. Dessa forma, objetiva-se que o material e os resultados do teste contribuam para reflexão da prática pedagógica, ampliando conceitos e bases teóricas que dão suporte ao trabalho em sala de aula. Podemos afirmar então que, além de contribuir com a identificação das necessidades dos estudantes, a Provinha Brasil opera como uma formação continuada para os professores, uma vez que a leitura do Kit da Provinha Brasil e a análise dos resultados fornecem elementos para o aprimoramento das concepções de alfabetização e letramento. Na perspectiva da Provinha Brasil, o processo de alfabetização é aqui entendido como a apropriação do sistema de escrita, que pressupõe a compreensão do princípio alfabético, indispensável ao domínio da leitura e da escrita. Já o letramento refere-se às práticas e aos usos sociais da leitura e da escrita em diferentes contextos. (BRASIL, 2012c, p. 14) Outro ponto destacado a respeito, é que a alfabetização e o letramento são processos interligados, complementares e inseparáveis. Esta também é a concepção de diversos autores que abordam sobre o tema. Tfouni (2004), por exemplo, ao abordar

5 sobre a percepção de Magda Soares sobre as diferença entre alfabetização e letramento, afirma que é fundamental entender que eles são indissociáveis e têm as suas especificidades, sem hierarquia ou cronologia: pode-se letrar antes de alfabetizar ou o contrário (TFOUNI, 2004, p. 3-4). Como mencionado anteriormente, a Provinha Brasil busca analisar em que ponto do processo de aprendizagem o aluno se encontra. Acredita-se que a identificação das dificuldades dos alunos nas séries iniciais auxilia na efetividade do processo de ensino e aprendizagem. As concepções que embasam a Provinha Brasil consideram que as habilidades relacionadas ao processo de alfabetização e letramento não se desenvolvem apenas nos dois primeiros anos da educação formal, mas continuamente, durante toda a educação básica. No entanto, acredita-se que, se os problemas forem identificados e sanados ainda no início da vida escolar da criança, as chances de uma aprendizagem efetiva serão potencializadas. (BRASIL, 2012c, p. 6) METODOLOGIA A proposta metodológica para este estudo consiste na análise da ficha de correção de quatro turmas do 2º ano, sendo duas turmas da rede estadual, da Escola Estadual Eliezer Porto, e duas da rede municipal, da Escola Municipal Vice-governador Benedito Figueiredo. Para facilitar a exposição dos resultados, as turmas foram denominadas da seguinte maneira: 2º ano A E (turma da manhã da rede estadual) 2º ano B E (turma da tarde da rede estadual) 2º ano A M (turma da manhã da rede municipal) 2º ano B M (turma da tarde da rede municipal) Primeiro acompanhamos a aplicação do teste e depois solicitamos cópias das fichas de correção à coordenação das escolas. Com as fichas em mãos, observamos em que nível se encaixava cada aluno e a média de cada turma. Em seguida, juntamos os resultados das quatro turmas para analisarmos em que nível de alfabetização e letramento se encontra a maioria dos alunos. A partir da

6 identificação do nível, inferimos, de acordo com os pressupostos apresentados no Kit da Provinha Brasil, as principais dificuldades dos alunos. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Os dados das fichas de correção revelaram que turma do 2º ano A E obteve média 15,5 correspondente ao nível 3 (10 à 15 acertos). O 2 ano B E atingiu a média 17,6 equivalente ao nível 4 (16 à 18 acertos). Na rede municipal, a turma do 2º ano A M teve média 9,2 correspondente ao nível 2 (de 6 à 9 acertos) e o 2º ano B M alcançou 11,7 referente ao nível 3. A distribuição dos níveis de desempenho está reunida no quadro abaixo: DISTRIBUIÇÃO DOS NÍVEIS DE DESEMPENHO Turmas Nível 1 Nível 2 Nível 3 Nível 4 Nível 5 Nº de alunos que fizeram o teste 2º ano A - E 1 0 8 11 3 23 2º ano B - E 0 0 3 10 12 25 2º ano A - M 2 9 9 0 1 21 2º ano B - M 2 4 8 2 3 19 Total 5 13 28 23 19 88 Quadro 1: Distribuição dos níveis de desempenho. Juntando os resultados obtidos nas quatro turmas, observamos que apenas 5 alunos estão no nível 3. A maior parte dos alunos, 28 dos 88 alunos que fizeram o teste, atingiu o nível 3. Podemos comprovar esse resultado, somando as médias das turmas e dividindo por quatro (número de turmas analisadas). Obteremos uma média de 13,5 que se encaixa no nível 3 (10 à 15 acertos). Outra maneira de visualizar este resultado é através do gráfico abaixo: Gráfico 1: Resultado Geral Os resultados da análise nos permite dizer que a maioria dos estudantes, que participaram dessa primeira fase da Provinha Brasil, estão no nível 3. Nesse

7 sentido, de acordo com as habilidades descritas pelos documentos do Kit da Provinha Brasil, a maioria dos alunos demonstram saber: ler palavras compostas por sílabas canônicas e não canônicas; identificar o número de sílabas de palavras; ler frases de sintaxe simples baseadas em imagens ou ditadas pelo aplicador; localizar informações, por meio da leitura silenciosa, em uma frase ou em textos de aproximadamente cinco linhas. (BRASIL, 2012c, p. 7) Diante disso, podemos afirmar que a maioria desses alunos ainda apresentam dificuldades em: Identificar a finalidade de textos de gêneros diversos, como bilhete, sumário, convite, cartazes, livro de receita; identificar o assunto de um texto médio a partir de leitura individual; fazer inferências simples. (BRASIL, 2012c, p. 8) Isso significa que a maioria das crianças que fizeram o teste demonstra está em uma fase intermediária e necessitam desenvolver mais as habilidades de leitura e escrita. Elas já conseguem ler palavras com sílabas não canônicas (como planta, branco, etc.), frases com pouca complexidade, e até localizar informações em um texto curto, entretanto ainda possuem dificuldades em encontrar a finalidade dos gêneros textuais, o assunto de textos médios e fazer inferências simples, ou seja, habilidades de letramento. CONCLUSÃO A análise dos resultados da provinha Brasil nos permite perceber em que ponto do processo de aprendizagem se encontra os alunos, as habilidades que eles já dominam e as que necessitam de mais atenção no planejamento das aulas. É importante destacar que não se deve levar em consideração somente os resultados da Provinha. Não há dúvidas do valor analítico do teste, mas não podemos ignorar as possíveis intervenções que podem sofrer a aplicação, como por exemplo, mediações do professor na hora da aplicação, omissões da realidade do aluno que

8 podem ser camufladas pelo fato da prova ser objetiva (famosos chutes), entre outros fatores que podem interferir no resultado. Nessa análise priorizamos o resultado geral, englobando todas as turmas, porém não se deve esquecer que também é de suma importância o professor observar a avaliação de cada aluno. A análise individual permite que o professor perceba os alunos que estão mais atrasados no processo de alfabetização e elabore estratégias para auxiliar em suas necessidades individuais. Assim, vale lembrar que a Provinha Brasil é uma avaliação diagnóstica que auxilia na identificação das dificuldades dos estudantes e consequentemente no planejamento do ensino, se usada de forma adequada e associada a outras prát icas pedagógicas. Este presente estudo analisa apenas a primeira etapa da edição 2012, por isso torna-se necessário acompanhar a segunda aplicação para observar se houve um progresso nas turmas e analisar as habilidades que foram desenvolvidas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Provinha Brasil: Caderno do Aluno. Brasília, 2012a.. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Provinha Brasil: Guia de Aplicação. Brasília, 2012.. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Provinha Brasil: Guia de Correção e Interpretação de Resultados. Brasília, 2012.. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Provinha Brasil: Reflexões sobre a Prática. Brasília, 2012. CRISTOFOLINI, Carla. Refletindo sobre a provinha brasil a partir das dimensões sociocultural, linguística e cognitiva da leitura. Alfa. São Paulo, 56 (1): 217-247, 2012 KLEIMAN (org), Ângela. B. Os significados do letramento. São Paulo: Mercado de Letras, 1995. SOARES, Magda. Letramento e alfabetização: as muitas facetas. Trabalho apresentado no GT Alfabetização, Leitura e Escrita, durante a 26ª. Reunião Anual da ANPEd, Poços de Caldas, 2003.

9 TFOUNI, Leda V. Letramento e alfabetização. São Paulo: Cortez, 2004.