EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA COMARCA DE SICRANO DE TAL, brasileiro, solteiro, estudante, portador da Cédula de Identidade RG n. [...] e do CPF/MF n. [...], sicrano@email.com.br, residente e domiciliado na Rua [...] n. [...], apto. [...], no bairro da Saúde, São Paulo, CEP 01442-020, por intermédio de seu advogado e bastante procurador infra-assinados (Instrumento de Mandato em anexo), vem, mui respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, propor AÇÃO INDENIZATÓRIA POR DANOS MATERIAL, ESTÉTICO E MORAL contra o médico FULANO DE TAL, devidamente inscrito no CRM n. [...], e demais dados para qualificação ignorados, CLÍNICA ORTOPÉDICA NÃO ERRAMOS, inscrita no CNPJ n. [...]., contato@drfulanodetal.med.br, ambos com endereço na Rua [...] n. [...], no bairro de [...], CEP [...], nesta Capital, HOSPITAL [...], devidamente inscrito no CNPJ sob o nº [...], sem indicação de e-mail para contato, estabelecido na Rua [...] n. [...], no bairro de [...], CEP [...], nesta Capital, OPERADORA DO PLANO DE SAÚDE, pessoa jurídica de Direito Privado, devidamente inscrita no CNPJ/MF n. [...], com sede na Rua [...] n. [...], no bairro de [...], CEP [...], nesta Capital, pelos motivos de fato e de direito abaixo articulados: 1. Há aproximadamente dois anos, o autor vinha sentindo dores nos dois tornozelos. Essas dores no tornozelo esquerdo intensificaram-
se, e o autor teve de procurar alguns médicos especialistas na área. Em dezembro de 2016, o autor localizou a Clínica [...], por meio do convênio da operadora do plano de saúde. Marcou consulta com o médico Fulano de Tal para iniciar o tratamento. 2. Na clínica, o facultativo realizou uma infiltração no autor, para que não sentisse mais a dor. O médico explicou-lhe que havia uma região de impacto ósseo na região anterior do tornozelo esquerdo, e uma possível barra óssea chamada de coalizão tarsal. Na verdade, trata-se de dois ossos que estavam muito próximos e com o impacto das atividades físicas, eles entram em atrito, causando dor. Disse também que iria fazer a cirurgia com o objetivo de raspar os ossos. Por ser uma cirurgia bem simples, o autor ficaria internado no hospital apenas um dia. 3. A cirurgia foi marcada para o dia 17/02/2017, às 17h30min no Hospital [...], visto que o médico pertence à equipe médica do hospital, e o nosocômio também faz parte dos hospitais conveniados da operadora do plano de saúde. O autor teve de aguardar um longo tempo na recepção, porque não havia quarto disponível. Depois foi levado para um quarto que mais parecia uma UTI. 4. Depois disso, o autor foi levado à sala de cirurgia. Retorno ao quarto anestesiado. Ao acordar do pós-operatório, reparou que havia um curativo no pé esquerdo. Observou ainda que os dedos do pé esquerdo estavam roxos. Nesse ínterim, o médico do pós-cirúrgico solicitou que ligassem para o médico assistente. Imediatamente, ele veio para avaliar o pé esquerdo do autor. Realizou compressa com soro, e pediu ao autor para ficar mexendo com os dedos do pé, o máximo que conseguisse. 5. No dia seguinte, o médico assistente tirou o curativo do pé esquerdo do autor, retirou os pontos da cirurgia e, com seringas, tentava retirar o sangue do pé do autor, colocando-as nas incisões da cirurgia. O autor percebeu que havia acontecido algo de errado, porque estava sendo removido novamente para a UTI para realizar um ultrassom. Depois disso, o médico
assistente informou o autor de que precisaria fazer outra cirurgia para dar espaço para a circulação. 6. Posteriormente, o autor teve de se submeter à outra cirurgia chamada fasciotomia, isto é, um procedimento para salvar o pé esquerdo, com o objetivo de evitar a amputação. Depois do procedimento, o autor teve de ficar com uma manta térmica no pé esquerdo, no entanto, a situação do autor se agravou, conforme demonstram as fotos em anexo. 7. Como o médico assistente não estava conseguindo reverter a situação, os médicos Fulano e Beltrano assumiram o tratamento. Como se pode observar, o pé esquerdo do autor começou a necrosar. Diante desse fato, o médico Fulano transferiu definitivamente o caso para a médica Sicrana, e deixou de atender o autor. Atualmente, quem está cuidando do caso é a médica Sicrana. 8. O autor entende que foi vítima de erro do médico. Uma simples cirurgia de coalizão tarsal poderá resultar na amputação do pé esquerdo do autor. Com o processo de necrose, um dos dedos do pé do autor já foi amputado. A amputação do pé esquerdo não está descartada. Há de se considerar também que o autor é estudante de educação física, e se ele tiver o pé esquerdo amputado, terá sua carreira profissional totalmente comprometida. 9. O facultativo que agiu com negligência, ofendendo a integridade física do paciente, causando-lhe lesão corporal, por isso, deverá indenizá-lo, porque cometeu ato ilícito. O artigo 927 do Código Civil explicita que: Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Ora, a negligência médica caracteriza-se pela falta de cuidado ou desatenção no procedimento médico. Implica omissão ou falta de observação no dever de cuidar. Esquece-se de aplicar as técnicas necessárias para obter o resultado almejado. 10. Nesse mesmo sentido, dispõe o artigo 186 do Código Civil que: Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Para caracterizar a responsabilidade civil do médico, faz-se necessário demonstrar três elementos essenciais à caracterização da responsabilidade civil: a ação ou omissão, o dano efetivo e o nexo de causalidade. 11. No Direito Médico e da Saúde, dá-se a caracterização do erro do médico por meio de perícia, visto que se trata de matéria de direito. Estabelecendo o perito o nexo de causalidade entre a má-prática médica e a lesão, caracterizar-se-á o dano, impondo-se o dever de indenizar. 12. A indenização deverá abranger não somente as despesas do tratamento (dano emergente), mas também aquilo que a vítima do erro do médico deixou de auferir (lucro cessante) até ao fim da convalescença, além de prejuízos que o ofendido teve. Essa é a norma insculpida no artigo 949 do Código Civil: No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o ofensor indenizará o ofendido das despesas do tratamento e dos lucros cessantes até ao fim da convalescença, além de algum outro prejuízo que o ofendido prove haver sofrido. 13. O artigo supramencionado é aplicado ao médico que, no exercício profissional, causou lesão ou inabilitou o paciente para o trabalho, segundo dispõe o artigo 951 do Código Civil: O disposto nos arts. 948, 949 e 950 aplica-se ainda no caso de indenização devida por aquele que, no exercício de atividade profissional, por negligência, imprudência ou imperícia, causar a morte do paciente, agravar-lhe o mal, causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo para o trabalho. 14. Nesse mesmo sentido, o artigo 14, 4º, do Código de Defesa do Consumidor explicita que: O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e
riscos. 4 A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa. 15. Repise-se, portanto, que o médico assistente responde pelas lesões corporais causadas ao paciente, mediante a verificação de culpa, harmonizando este preceito com o artigo 1º, da Resolução do CFM n. 1.931/2009 (Código de Ética Médica) que disciplina o seguinte: É vedado ao médico causar dano ao paciente, por ação ou omissão, caracterizável como imperícia, imprudência ou negligência. Nesse sentido: 16. Além do médico assistente, o autor entende que a operadora, a clínica e o hospital devem figurar no polo passivo da ação, porque pertencem à mesma cadeia na prestação de serviço. O artigo 34 do Código de Defesa do Consumidor é explícito ao afirmar que: O fornecedor do produto ou serviço é solidariamente responsável pelos atos de seus prepostos ou representantes autônomos. Além disso, são responsáveis solidariamente pelo dano, segundo o art. 7º, parágrafo único do CDC: Tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela reparação dos danos previsto nas normas de consumo. 17. O pé esquerdo do autor está necrosando, conforme demonstram as fotos em anexo. Já perdeu um dos dedos do pé. O dano é expressivo, podendo, inclusive ter de amputar o pé esquerdo. Trata-se de um jovem estudante que já teve seu direito lesado, porque teve de trancar matrícula e deixar os estágios da Faculdade de Educação Física. 18. O autor tem direito à indenização por danos moral, material e estético em razão do erro do médico que o inabilitou para o trabalho. Com base nessas argumentações, ele entende que tem direito à indenização pelos danos no valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais), sendo R$ 60.000,00 (sessenta mil reais) a título de dano moral e R$ 40.000,00 (quarenta mil) a título de dano estético, uma vez que ele ficará com sequelas definitivas no pé esquerdo.
19. Entende ainda que tem direito a pensão mensal de três salários mínimos, uma vez que não poderá exercer suas atividades de professor de educação física. Esse valor deverá ser fixado a partir de sua internação no hospital, abrangendo o período de convalescença. Caso a sequela seja definitiva, requer a Vossa Excelência que se digne de determinar que o pagamento da pensão mensal seja feito definitivamente, havendo majoração com base na categoria do dissídio coletivo da categoria de professor de educação física. 20. Outro aspecto importante é o dever de o médico assistente obter do paciente o Termo de Consentimento Informado (TCI) que deve indicar os riscos do tratamento. Se o facultativo não obter o consentimento do paciente, deverá indenizá-lo pelo fato de ter realizado a cirurgia sem autorização. 21. Por esse motivo, o artigo 15 do Código Civil afirma peremptoriamente que: Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica. O TCI é o documento que informa ao paciente os riscos da cirurgia. Ora, se o paciente não quiser se submeter ao tratamento, pelo princípio da autonomia, tem esse direito. 22. O medido que não obtém o TCI do paciente comete infração legal e administrativa. O artigo 22 do Código de Ética Médica (RESOLUÇÃO CFM Nº 1.931/2009 - RESOLUÇÃO CFM Nº 2.217/2018) dispõe de forma esclarecedora que: É vedado ao médico: Deixar de obter consentimento do paciente ou de seu representante legal após esclarecê-lo sobre o procedimento a ser realizado, salvo em caso de risco iminente de morte. 23. O autor requer a Vossa Excelência que, nos termos do art. 396 do CPC, determine ao médico assistente que apresente o TCI firmado pelo autor sob pena de ser condenado no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais) a título de dano moral pelo desrespeito ao princípio da informação.
Isto posto, requer a Vossa Excelência que se digne de condenar solidariamente os réus no valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais), sendo R$ 60.000,00 (sessenta mil reais) a título de dano moral e R$ 40.000,00 (quarenta mil reais) a título de dano estético, totalizando o valor indenizatório de R$ 100.000,00 (cem mil reais), conforme fundamentação, além das custas, despesas e honorários advocatícios, tudo devidamente atualizado. Requer a condenação dos réus no pagamento de pensão mensal de três salários mínimos a favor do autor, durante o período de convalescença, transformando em pensão mensal vitalícia, se a lesão for permanente. Requer eventual condenação de R$ 10.000,00 (dez mil reais) a título de dano moral se o médico assistente não juntar na contestação o Termo de Consentimento Informado, uma vez que desrespeitou o princípio da informação. Requer a Vossa Excelência que se digne de conceder-lhe, nos termos do artigo 98 e 99 do Código de Processo Civil, os benefícios da justiça gratuita, porque é pessoa pobre na acepção jurídica do termo e não tem como arcar com as custas, despesas processuais e honorários advocatícios sem prejuízo de seu sustento e de sua família. Ressalte-se ainda que o autor não está trabalhando nem tem rendimento próprio que possa sustentá-lo financeiramente durante esse período, conforme faz prova documental. O autor opta pela audiência de conciliação ou de mediação, nos termos do artigo 319, inciso VII, do Código de Processo Civil, por isso, requer a Vossa Excelência que se digne de determinar a citação dos réus, de acordo com o artigo 246, inciso I, do Código de Processo Civil, para que, querendo, compareçam à audiência a ser designada por esse juízo.
Requer a Vossa Excelência a inversão do ônus da prova, nos termos do artigo 6º, inciso VII, do Código de Defesa do Consumidor, uma vez que está demanda refere-se a defeito na prestação de serviço médicohospitalar. Ademais a Súmula 608 do Superior Tribunal de Justiça afirma que se aplica o Código de Defesa do Consumidor aos contratos de planos de saúde. Dá-se à causa o valor de R$ 110.000,00 (cento e dez mil reais) a título de alçada. Nestes termos, pede deferimento. Local e data. Assinatura, nome e OAB