Direito em Saúde Suplementar



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Transcrição:

Direito em Saúde Suplementar 177 Jussara Maria de Abreu Guimarães 1 Inicialmente, no decorrer do Curso sobre Saúde Suplementar, foram tratados os princípios básicos da atividade, notadamente, sobre os fundamentos econômicos e atuariais de seguros e planos de saúde. Sob esse enfoque, o funcionamento do seguro se apoia no mutualismo; ou seja, no compartilhamento do risco (risk pooling), sendo certo que apenas após a criação da Teoria da Probabilidade, no século XVIII, criou-se o fundamento que daria base ao seguro. Acerca da palavra risco, pontua-se que possui diversos conceitos próximos, mas diferenciados, tais como: Probabilidade: qual o risco disto acontecer? Evento: o seguro indeniza o segurado em caso de ocorrência do risco coberto. Risco X Incerteza (Frank Knight) Risco, na visão de Frank Knight, seria um evento aleatório, possível de identificar e mensurar a probabilidade de ocorrência, enquanto na incerteza haveria o desconhecimento da distribuição da probabilidade. Exemplificando, em tal acepção, o risco relaciona-se à conhecida probabilidade de 1/6 de sair qualquer dos lados de um dado lançado. O resseguro consiste no repasse de um risco grande para uma resseguradora. Exemplos na visão de Frank Knight: 1 Juíza de Direito do Juizado Especial Cível de Itaboraí.

178 Série Aperfeiçoamento de Magistrados 6 Judicialização da Saúde - Parte I Evento determinístico. Ex.: Data e hora de eclipse. Risco. Ex. número médio de consultas nos próximos doze meses para pessoas entre 30 e 34 anos. Incerteza. Ex. número médio de consultas num intervalo de doze meses daqui a dez anos para pessoas entre 30 a 34 anos. Não é possível saber a prevalência de doenças, mesmo com conhecimento estatístico. A seguinte citação esclarece a diferença entre os termos citados, litteris: O tempo é o fator predominante do jogo. O risco e o tempo são faces opostas da mesma moeda, pois sem amanhã não haveria risco. O tempo transforma o risco e a natureza do risco é moldada pelo horizonte do tempo: o futuro é o campo do jogo ( Desafio aos Deuses - A fascinante história do risco, de Peter L. Bernstein). Retornando ao tema inicial, o funcionamento do seguro depende do mutualismo, dentro de grupos homogêneos em relação ao mesmo perfil de risco. Todos os segurados de determinada classe de risco pagam o mesmo valor de prêmio (contraprestação). O valor total dos prêmios será utilizado para pagar os sinistros deste grupo de segurados, durante a vigência da apólice, tal como ocorre no seguro de vida em grupo. Merece destaque a ponderação acerca da saúde, interpretada de produto a direito à assistência. O seguro saúde tem sido envolvido no debate de distribuição de justiça e método de prover subsidiários para assegurar a cobertura. A evolução do direito à saúde passou da fase do ressarcimento financeiro (SES) à prestação do serviço por rede própria ou referenciada (OPS). Por muito tempo, o sistema de ressarcimento se manteve, mas houve crescimento de tecnologia e inflação. Nesse contexto, buscou-se um sistema em que as operadoras possuiriam maior controle de custos, através da rede referenciada, estabelecendo procedimentos médicos e administrativos. Antigamente, havia consenso da supremacia da decisão médica; mas, com o tempo, passou-se a avaliar se o tratamento eleito pelo médico responsável era o adequado ao caso; são perspectivas diferentes, pois o mé-

179 dico responsável não analisa o custo, enquanto a empresa o faz. Os contratos de planos de saúde são contratos de seguro? Independente de considerá-los atípicos ou variações/subtipos dos contratos de seguro, eles partilham a mesma base técnica-econômica. Assim sendo, ambos se fundam no mutualismo, consistente na desintegração econômica do risco, ou sua transformação de individual para coletivo. O segurado transfere o risco para o segurador, que pratica um negócio empresarial, no qual dilui o risco, transformando o risco individual em coletivo. Por isso, o seguro somente pode ser analisado segundo a perspectiva do coletivo. O segurador estima despesas com a maior precisão possível e dilui em uma massa grande de segurados, encontrando o prêmio puro, no qual insere a margem de risco, as despesas de administração, os tributos e a corretagem. A obrigação do segurador nasce no momento da contratação, consistindo na garantia de que, caso ocorra o sinistro, o segurado estará coberto. A prestação primária do segurador consiste em garantir que gerenciará os recursos obtidos, para que possa fazer frente às despesas. O segurador possui obrigação de constituir recursos mínimos e provisões técnicas adequadas e suficientes à cobertura dos riscos cobertos no contrato, bem como de administrar os recursos e provisões de modo a assegurar a solvabilidade da empresa. Nesse sentido, merecem relevo implicações do mutualismo: a boafé; a assimetria de informações; a seleção adversa de riscos. A seleção adversa de riscos significa situação na qual a maior ou menor contratação do seguro é correlacionada à maior ou menor possibilidade de sua fruição (maior ou menor risco) e o segurador não está capacitado a precificá-la. Exemplificando, citamos os fumantes, propensos a contratar seguro diante de sua condição. A seleção adversa é atenuada: pela maior ou menos propensão dos indivíduos a riscos; pela adoção de statutory mandates; pela adoção de critérios de classificação de riscos, separando segu-

180 Série Aperfeiçoamento de Magistrados 6 Judicialização da Saúde - Parte I rados em sub-grupos específicos e promovendo justiça tarifária. A exclusão/limitação de doença preexistente se inclui como método de combate à seleção adversa, ou meio neutro de identificar perdas que não deflagram a cobertura conferida pelo contrato? A doença preexistente tem que ser conferida. Caso o segurado possua conhecimento da doença, praticou seleção adversa, razão pela qual, contratualmente, não faz jus à cobertura. As carências também se destinam a combater a seleção adversa, razão pela qual estão excluídas nos procedimentos de urgência e emergência. Nos planos coletivos, não há seleção adversa, realizada pelo empregador, havendo benefícios, tais como, a ausência de despesas comerciais e administrativas. O risco moral qualifica-se como o comportamento do segurado após o contrato, tendendo a ser menos cuidadoso e incentivando a ocorrência do sinistro, seja para maior utilização do seguro, seja para utilização de serviços mais sofisticados. Posteriormente, no curso restou exposta a evolução do seguro saúde, destacando-se o histórico legislativo do setor público e o do setor privado. Primeiro, cuidando do setor público, descreveu-se a seguinte linha temporal: 1. 1923 Lei n.º 46782 (Lei Eloi Chaves); 2. 1930/1940 Int. de Aposentaria e Pensão. Ex.: IAP, Iaserj; 3. 1960 Lei n.º 3.807 Lei Orgânica da Previdência Social e Convênio Empresarial; 4. 1966 INPS Unificação dos IAPs; 5. 1974 INPS Desmembramento em INSS e INAMPS; 6. 1987 Criação do Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde (SUDs), gerido pelo INAMPS; 7. 1988 art. 196 da Constituição da República Criação do SUS; 8. 1990 Leis n.º 8080 e 8142 Efetivação e Regulação do SUS.

181 São princípios doutrinários do SUS a universalidade (todos os cidadãos terão direito a atendimento), a equidade (atendimento igualitário) e a integralidade (atendimento às necessidades de condições). Segundo, em se tratando do setor privado, foram elencados: 1. 1930 Autogestão; 2. 1956 Medicina de Grupo; 3. 1967 Cooperativa Médica; 4. 1980 Seguro Saúde; 5. 1990 Unidas. A legislação aplicável consiste na Lei n.º 9.656/98, na Lei n.º 9.961/00 e na Lei n.º 10.192/01. Cuidando-se especificamente do tema Direito Contratual em Saúde Suplementar, foram destacados os princípios da quantificação e previsão do risco e que os serviços efetuam-se de forma plurilateral: operadoras; hospitais; laboratórios; médicos; fornecedores; e institutos de pesquisa. Segundo as pesquisas realizadas pelo Setor, os usuários se encontram satisfeitos, havendo um percentual de demandas judiciais de 0,6%; ou seja, de 06 ações para cada 1.000 clientes. Hoje o rol de procedimentos da ANS está baseado na lista de doenças especificada pela OMS, atualizada a cada dois anos. O rol de procedimentos ostenta previsão no art. 10, 4º, da Lei de Regência, a ser regulamentado pela ANS, assim como as limitações (art. 1º, da Lei n.º 9.961/00). Ex.: Res. Normativa n.º 211. No caso de doenças preexistentes, a cobertura é parcial, pois são excluídos os procedimentos e internações no período de carência (24 meses). A carência objetiva limitar comportamentos oportunistas, que violam o mutualismo. A segmentação dos planos acha-se prevista nos arts. 10 a 12 da Lei de Regência, sendo os planos de referência: a) Ambulatorial em que há cobertura de consultas e exames, mas não de internação; b) Hospitalar em que há cobertura de internação; c) Hospitalar com Obstetrícia; d) Odontológico. Ressalve-se que a grande maioria dos planos consiste em uma combinação entre as modalidades descritas.

182 Série Aperfeiçoamento de Magistrados 6 Judicialização da Saúde - Parte I As exclusões, previstas na Lei de Regência, em seu art. 10º contemplam: I) medicamentos, produtos e técnicas classificados como experimentais pelo CFM; II) procedimento estético; III) inseminação artificial; IV) emagrecimento estético; V) produtos e/ou medicamentos não nacionalizados (importados e sem registro na ANVISA); VI) medicamento para tratamento domiciliar, salvo internação domiciliar (que não se confunde com home care); VII) medicamento com efetividade reprovada; VIII) prótese ou órtese não ligada ao ato cirúrgico; IX) tratamentos reputados ilícitos; X) em caso de guerras e etc.; XI) acolhimento de idosos. A partir de 2009, a pessoa tinha a prerrogativa de transferir-se para outra operadora, podendo para tanto portar a carência. Antes da Res. n.º 254 da ANS, a portabilidade somente era possível aos planos novos e individuais, possuindo como requisitos: a adimplência do cliente; e o período de dois anos de manutenção no plano para a primeira portabilidade e de um ano, para a segunda. Após a mencionada resolução, a norma foi estendida para os planos coletivos por adesão (entidade representativa de classe contratou o plano e o individuo a ele adere). Indagou-se acerca dos limites para a prática do ato médico, quando foi noticiado que o CFM reconhece o procedimento de auditoria médica e disciplina a prescrição das OPME s, e arbitragem de especialistas, quando houver conflito (Res. n.º 1614/01 e 1956/10). O CFM veda ao médico assistente a exigência de fornecedor ou marca comercial exclusiva; ele poderá recusar produto inapropriado, devendo oferecer, pelo menos, três marcas de produtos, de diferentes fornecedores, aprovados pela ANVISA. A medicina pública e privada está vinculada a protocolos médicos em todo mundo, regulamentados pelos órgãos competentes. Esses protocolos devem ser observados, uma vez que a operadora de plano de saúde consiste em gestora de recurso de terceiros, devendo fazê-lo de forma eficiente. O procedimento de divergência médica qualifica-se como ferramenta importante para impedir fraude relacionada a preço e quantidade de prótese ou medicamento. No tema Direito Contratual e do Consumidor, merece ser frisado

183 que a Constituição da República de 1988 significou um marco da Democracia e dos Direitos Humanos, prevendo, dentre os direitos extrapatrimoniais, a dignidade da pessoa humana. O art. 6º da Constituição da República preconizou dentre os direitos sociais, o direito à saúde. A Defesa do Consumidor viu-se exposta na Constituição da República, assumindo status de microssistema, ou seja, de um subsistema do Direito protetivo a esse sujeito vulnerável. A saúde foi tratada como direito de todos e dever do Estado, possibilitando a Constituição da República que a saúde fosse livre à iniciativa privada. O subsistema de saúde privado encontra-se regulado e fiscalizado pela ANS, conceituando-se o usuário como consumidor. A legislação aplicável consiste no Código de Defesa do Consumidor, na Lei n.º 9.656/98 e nos Regulamentos específicos. O Código de Defesa do Consumidor possui fincas na Constituição da República, razão pela qual todas as leis que tratam de relação de consumo a ele se subordinam. Apesar do texto do art. 35-G da Lei de Regência, a aplicação do Código de Defesa do Consumidor não é subsidiária, mas sim complementar à lei especifica, devendo ambos os estatutos se orientar pelos mesmos princípios. Os contratos, na concepção clássica e liberal, consagravam a autonomia da vontade, considerando-se que todos eram livres para celebrar o contrato e manifestar a sua vontade. Na concepção contemporânea, o Estado passou a interferir na manifestação da vontade de contratar, para proteger determinados interesses sociais, o que é nomeado de dirigismo contratual. Os contratos anteriores à Lei de Regência são regidos pelo Código de Defesa do Consumidor e pelo Dec. N.º 73/66, enquanto os contratos posteriores e os adaptados são regidos pela Lei n.º 8.078/90, pela Lei n.º 9.565/98 e pelos Regulamentos da ANS. Consistem em formas de contratar, individual e coletivo, esse empresarial e por adesão. O estudo ora procedido revelou a importância dos temas abarcados pelo curso Direito em Saúde Suplementar para o exercício da atividade judicante, conferindo instrumental prático ao Magistrado e conduzindo ao debate acerca de matéria, de extrema relevância no cenário jurídico atual.