Universidade de São Paulo (USP) Escola de Comunicações e Artes (ECA) Comissão de Pesquisa da ECA Projeto de Pós-Doutorado



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Transcrição:

Universidade de São Paulo (USP) Escola de Comunicações e Artes (ECA) Comissão de Pesquisa da ECA Projeto de Pós-Doutorado Anos de Chumbo X Anos de Ouro: censura e criatividade no fotojornalismo brasileiro durante o AI-5 (1968-1978) Prof. Dr. Paulo César Boni São Paulo São Paulo 2013

Universidade de São Paulo (USP) Escola de Comunicações e Artes (ECA) Comissão de Pesquisa da ECA Projeto de Pós-Doutorado Anos de Chumbo X Anos de Ouro: censura e criatividade no fotojornalismo brasileiro durante o AI-5 (1968-1978) Prof. Dr. Paulo César Boni Projeto apresentado à Comissão de Pesquisa da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP) como proposta de estágio de pós-doutoramento, supervisionada pelo Prof. Dr. Boris Kossoy. São Paulo São Paulo 2013

Anos de Chumbo X Anos de Ouro: censura e criatividade no fotojornalismo brasileiro durante o AI-5 (1968-1978) 1 Proponente: Prof. Dr. Paulo César Boni 2 Supervisor: Prof. Dr. Boris Kossoy 3 Apresentação: O período do regime militar (1964-1985), especialmente o da vigência do Ato Institucional n.5 (AI-5), de dezembro de 1968 a dezembro de 1978, foi batizado pela imprensa e passou para história como os anos de chumbo, em razão de medidas adotadas pelo governo militar para inibir manifestações individuais ou coletivas e cercear a liberdade de imprensa. O termo anos de chumbo foi cunhado na Itália, no final dos anos 60, para caracterizar a brutalidade da repressão policial sobre manifestantes, especialmente estudantes. (LUNGARZO, 2012, p.83). Entre 1968 e 1978, censores estiveram presentes nas redações dos mais importantes jornais diários e revistas semanais de informação do país. No entanto, para a sorte da liberdade de imprensa, os censores não eram jornalistas de ofício. Eram militares burocratas que atuavam com o olhar limitado pelo cabresto da disciplina militar à obediência de ordens superiores. Eles sabiam ler textos, mas não sabiam ler imagens. Não só eles, a maioria absoluta dos cidadãos brasileiros é alfabetizada para a leitura de textos, mas permanece analfabeta ou, no mínimo, ignorante quanto à leitura imagética. Em razão dessa deficiência dos censores, jornalistas, editores e seus veículos de comunicação usaram a mensagem fotográfica para driblar a vigilância da censura, informar a população e manifestar seu pensar à sociedade. 1 A proposta de título para o projeto (e para o livro) Anos de Chumbo X Anos de Ouro: censura e criatividade no fotojornalismo brasileiro durante o AI-5 (1968-1978) faz alusão ao paradoxo vivido pelo fotojornalismo brasileiro durante o período do regime militar, especialmente o da vigência do Ato Institucional n.5, o AI-5. Em razão das perseguições políticas e das amarras da censura, esse período passou para a história do Brasil como os anos de chumbo. Paradoxalmente, mesmo censurado, o fotojornalismo viveu nesse período os seus anos de ouro, pois se transformou na ferramenta mais eficaz para burlar a vigilância da censura, pois os censores oficiais não dominavam os recursos da linguagem fotográfica e sequer imaginavam o potencial de comunicação das imagens. 2 Doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP, 2000). Professor Associado do Departamento de Comunicação do CECA Centro de Educação, Comunicação e Artes da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Coordenador do Curso de Especialização em Fotografia: Práxis e Discurso Fotográfico da UEL. Coordenador do Mestrado em Comunicação da UEL. Editor da revista Discursos Fotográficos. Líder do. Grupo de Pesquisa: Comunicação e História do CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. E-mail: discursosfoto@uel.br 3 Professor da área de atuação Linguagens e Estética da Comunicação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP).

Passado o período de governo dos militares (1964-1985), que a imprensa sempre chamou de ditadura militar, estudiosos se debruçaram sobre jornais e revistas de época, documentos e depoimentos do período para escrever sobre a ditadura, a censura à imprensa, o cerceamento às liberdades individuais e coletivas e outras atrocidades deste período ainda obscuro da história do Brasil. Com isso e para isso, institutos de pesquisa foram criados, núcleos de estudo foram formados, e diversos documentos e livros foram publicados. Alguns se tornaram famosos e fontes obrigatórias de consulta, como Brasil nunca mais, coordenador pelo então arcebispo de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns, que denunciou as atrocidades cometidas pelos militares em mais de 700 processos de repressão política, e A censura política na imprensa brasileira (1968-1978), de Paolo Marconi, que recortou como objeto de estudo a atuação da censura política nas redações dos veículos de comunicação de massa. No entanto, ainda não existe nenhuma publicação específica e abrangente sobre a principal ferramenta de comunicação utilizada para driblar a vigilância e a ignorância imagética dos censores e burlar as amarras da censura política à imprensa: a fotografia, ou no caso específico da imprensa, o fotojornalismo. Justificativa: Em razão deste vácuo bibliográfico na história da imprensa do Brasil e, principalmente, na rica e importante história do fotojornalismo brasileiro, este projeto se propõe a pesquisar, organizar, sistematizar e publicar sua trajetória no período de vigência do Ato Institucional n. 5 (AI-5), ou seja, de 1968, quando ele foi imposto pelos militares, a dezembro de 1978, quando, em razão de pressões políticas e populares, foi extinto, também pelos militares. Para tanto, além da tradicional pesquisa bibliográfica, que pressupõe o levantamento, leitura e checagem da bibliografia disponível, e da pesquisa documental, que privilegia a pesquisa e checagem de informações em jornais e revistas de época, este projeto propõe dar voz aos repórteres fotográficos que atuaram profissionalmente durante esse período e foram vítimas ou não do cerceamento à liberdades de imprensa e, ao mesmo tempo, agentes denunciadores e transformadores da história do país. O objetivo de preencher parte do vácuo bibliográfico existente na história do fotojornalismo brasileiro e a possibilidade (ainda) de sorver informações diretamente com as fontes primárias, ou seja, repórteres fotográficos que trabalharam durante o recorte temporal do projeto (1968-1978) são acadêmica e historicamente as mais relevantes justificativas para sua execução e viabilidade. Outra importante justificativa para sua execução é o fato de ele estar diretamente atrelado à recuperação da memória de um dos mais importantes e conturbados períodos da sociedade brasileira: o do governo militar. E, sempre é importante lembrar: recuperar a memória é consolidar a identidade. Um país sem memória é um país sem identidade.

Por fim, mas com o mesmo peso e importância, também justifica a execução do projeto, o exercício de um olhar crítico sobre a sociedade brasileira, como um todo, a imprensa escrita, em particular, e o fotojornalismo, em especial, por pesquisadores que há anos se dedicam ao estudo e sistematização da história do fotojornalismo brasileiro, com diversos outros trabalhos publicados em importantes periódicos científicos brasileiros. Objetivo geral: Pesquisar o papel, a importância e a criatividade do fotojornalismo brasileiro como ferramenta de comunicação capaz de burlar a vigilância da censura durante o período do AI-5. Objetivos específicos: Estudar e contextualizar a trajetória do fotojornalismo nos principais veículos de comunicação impressos do Brasil durante o período de vigência do AI-5, ou seja, entre 1968 e 1978; Pesquisar a importância do fotojornalismo como ferramenta alternativa de comunicação, capaz de burlar a censura durante o período militar; Identificar e destacar casos de criatividade, por parte dos repórteres fotográficos, na composição da mensagem fotográfica para driblar a vigilância dos censores; Entrevistar 10 (dez) repórteres fotográficos que trabalharam durante o período do AI-5 e conviveram com as amarras da censura; Transformar o resultado das pesquisas bibliográficas, pesquisas documentais e entrevistas em livro. Entrevistas com fotógrafos que vivenciaram o regime militar e a vigência do AI-5: Sérgio Luiz Sade, então editor de fotografia da revista Veja (entrevista já Ricardo Chaves (Kadão), repórter fotográfico da revista Veja (entrevista já Flávio Damm, ex-repórter fotográfico da revista O Cruzeiro (entrevista já Boris Kossoy, ex-repórter fotográfico da imprensa paulista que migrou para a pesquisa e o ensino superior de fotojornalismo (entrevista já Evandro Teixeira, ex-repórter fotográfico do Jornal do Brasil (entrevista já Nair Benedicto, repórter fotográfica de vários veículos de comunicação no período do regime militar (entrevista já Walter Firmo, repórter fotográfico no período do regime militar (entrevista a ser

Juca Martins (Manoel Joaquim Martins Lourenço), repórter fotográfico da revista IstoÉ no período do regime militar (entrevista a ser Pedro Martinelli (Pedrão), repórter fotográfico da revista Veja no período do regime militar (entrevista a ser Sérgio Berezovsky, repórter fotográfico no período do regime militar (entrevista a ser agendada). Problemática da pesquisa Teriam a repressão militar e a censura à imprensa criado o ambiente propício e condições adequadas para que os repórteres fotográficos desenvolvessem e exercitassem a criatividade na composição da mensagem fotográfica? Como os fotógrafos conseguiam burlar as amarras da censura? Um texto é composto por códigos estabelecidos, universais e pré-definidos (o alfabeto, as letras, as sílabas, as palavras e as frases). Assim, qualquer pessoa alfabetizada e conhecedora desses códigos é capaz de ler, interpretar e entender uma mensagem textual. A mensagem fotográfica, por sua vez, é composta por códigos abertos e contínuos, ou seja, eles não são pré-definidos. Com isso, não existem códigos pré-estabelecidos para a leitura de uma mensagem fotográfica, o que permite, inclusive, sua leitura mesmo por pessoas analfabetas. Dizem que a linguagem fotográfica é universal, mas poucos são os alfabetizados e treinados para decodificá-la e compreender a essência de sua mensagem. A leitura de uma mensagem fotográfica é idiossincrática, ou seja, cada um a interpreta de acordo com suas vivências, experiências e repertório. Sabedores da não habilidade dos censores para a leitura de mensagens fotográficas, fotógrafos e editores de jornais e revistas brasileiras utilizaram fotografias para a transmissão de mensagens de caráter denunciativo, satírico ou ideológico durante o período do regime militar, especialmente durante a vigência do AI-5 (1968-1978), para burlar a vigilância e as amarras da censura e tentar alertar por meio de fotografias o que estava se passando no país para seus leitores. Pesquisas já publicadas e relatos de entrevistados ainda inéditos revelam que os censores impediam a publicação de textos, mas raramente questionavam o conteúdo informativo de uma fotografia, por puro desconhecimento de sua força de comunicação. Como a maioria absoluta da população, eles apenas viam as fotografias, mas eram incapazes de nelas enxergar qualquer possibilidade de denúncia, sua carga de informação, o convite implícito que ela fazia à reflexão e indignação. Com isso, fotógrafos saíam às ruas buscando imagens que pudessem denunciar as atrocidades do regime militar à nação. Conhecedores e hábeis manipuladores dos recursos técnicos e dos elementos da linguagem fotográfica procuravam registrar imagens que pudessem passar pelo crivo dos censores, mas que, uma vez liberadas e publicadas, sensibilizassem seus leitores e torciam para que estes se tornassem potenciais multiplicadores de informação para espalhar, por rede informal de comunicação, os desmandos do governo militar no tocante ao cerceamento das liberdades individuais e coletivas e censura à imprensa. Uma das fotografias mais emblemáticas e representativas desse período é a do fotógrafo Evandro Teixeira que

congela e imortaliza o momento em que libélulas posam nos gumes das baionetas de soldados perfilados no Rio de Janeiro. A fotografia, mesmo com uma metáfora denunciativa fortíssima, passou sem problemas pelos censores e foi publicada no Jornal do Brasil. Referenciais teóricos Para subsidiar e dar consistência ao estudo, serão utilizados referenciais teóricos que versem sobre o período do regime militar no Brasil, a imprensa brasileira com ênfase no fotojornalismo desse período e sobre fotografia e análise fotográfica, objetos de estudo de quase duas décadas do proponente. Cronograma de atividades Atividade a ser desenvolvida Período de desenvolvimento Pesquisa bibliográfica Agosto / 2013 a Fevereiro / 2014 Pesquisa documental Agosto / 2013 a Fevereiro / 2014 Entrevistas com os fotógrafos Agosto / 2013 a Abril / 2014 Redação inicial do Relatório de Estágio Janeiro / 2014 a Maio / 2014 Revisão de língua portuguesa Junho / 2014 Revisão de língua estrangeira (abstract) Junho / 2014 Revisão de normas (ABNT) Junho / 2014 Redação final do Relatório de Estágio Julho / 2014 Adaptação do relatório em proposta de livro Agosto / 2014 Revisão de língua portuguesa e ABNT do livro Setembro / 2014 Programação visual do livro Setembro / 2014 Edição e elaboração da arte para impressão Outubro / 2014 Impressão e lançamento do livro Novembro / 2014 Bibliografia: ALMEIDA, Maria Fernanda Lopes. Veja sob censura (1968-1976). São Paulo: Jaboticaba, 2009. ALVES, Fabiana Aline. Fotojornalismo e Regime Militar: a cobertura fotojornalística de temas polêmicos em dois jornais do Paraná. 2012. Dissertação (Mestrado em Comunicação) Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2012, 152p. AQUINO, Maria Aparecida. Censura, imprensa e estado autoritário (1968-1978): o exercício cotidiano da dominação e da resistência O Estado de S. Paulo e Movimento. Bauru: Edusc, 1999. ARNS, Paulo Evaristo. Brasil nunca mais. Petrópolis: Vozes, 1985. BONI, Paulo César. O discurso fotográfico: a intencionalidade de comunicação no fotojornalismo. 2000. São Paulo. Tese (Doutorado em Ciências da Comunicação) Universidade de São Paulo, São Paulo, 2000.

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