ENSINANDO CIÊNCIAS COM A LITERATURA INFANTIL

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Transcrição:

MATERIAL DE APOIO AO PROFESSOR DOS ANOS INICIAIS DISCIPLINA: CIÊNCIAS DA NATUREZA CADERNO DE OFICINA ENSINANDO CIÊNCIAS COM A LITERATURA INFANTIL MÁRCIA PRISCILLA CASTRO LANA FÁBIO AUGUSTO RODRIGUES E SILVA

SUMÁRIO 1. APRESENTAÇÃO... 5 2. INTRODUÇÃO... 7 3. OBJETIVOS... 9 4. AS ATIVIDADES... 10 4.1. INGRESSO... 10 a) Desenvolvimento... 10 4.2. PERCEPÇÃO... 12 a) Leitura do texto:... 12 b) Desenvolvimento... 12 c) Comparação de informações... 12 4.3. SENSIBILIZAÇÃO... 14 4.4. CRIAÇÃO REINAÇÕES... 15 a) Criação do personagem/personagens... 16 b) Qual conteúdo de Ciências vai aparecer na sua história?... 16 c) O problema da personagem:... 16 d) Qual é o problema da personagem principal?... 16 e) Sequência de fatos... 16 4.5. ARREMATE... 16 5. REFERÊNCIAS... 17 6. ENCERRAMENTO... 19 4

1. Apresentação Aos Professores, O ato de ler vai além da identificação de palavras, perpassa pela compreensão, interpretação e pela possibilidade de se relacionar o que se lê com o seu contexto dando sentido ao texto o que pode propiciar a apropriação de informações. A leitura está enraizada na cultura humana. Ler pode ser decisivo na maturidade de um sujeito e sua inserção na comunidade escolar. No entanto, essa atividade deve associar-se a atividades prazerosas para que possa acompanhar o sujeito ao longo de sua vida (MORAIS, 2011). Fernandes (2010) entende a leitura como um processo linguístico, social, afetivo e cognitivo associado à compreensão. Associa a leitura também ao sentido que o leitor dá ao texto, afirmando que ler deve ser estimulado desde o início da escolarização das crianças por meio de práticas que estimulem o gosto pela leitura. Para que o sujeito leia é necessário haver uma interação o leitor e o texto. Isso ocorre quando aquele que lê imprime sobre a leitura o seu conhecimento socialmente constituído. A literatura humaniza o leitor, auxiliando-o na compreensão do seu entorno por meio da ressignificação de seu contexto. Partindo desse princípio, é que se propõe essa oficina de leitura/literatura pode tornar-se um espaço potencializador da criatividade da criança tomando o livro como elemento de simbolização do real. Isso possibilitaria às crianças participantes uma percepção criativa, isto é, a experiência da ilusão, auxiliando a criança a construir a subjetividade na percepção objetiva da realidade e a partir daí a possibilidade de simbolização (PORCACCHIA E BARONE, 2011, p, 397). Aliado a essa práticas que visam estimular a leitura, o proponente precisa atentar para os interesses dos alunos, ou seja, conhecer seu público alvo. Fernandes (2010, p.8) também orienta que para esse tipo de atividade seja fornecido vários exemplares do livro que será utilizado e que o proponente explore os aspectos físicos (nome do autor, do ilustrador, a editora, as imagens, etc) dos livros com as crianças. Associando os interesses dos alunos por um conteúdo específico é possível adotar um texto literário para auxiliar na percepção criativa da criança leitora estimulando a criticidade a partir da contextualização da leitura inserida em uma sequência didática. 5

Dessa forma, este caderno de oficina pretende auxiliar os profissionais da educação na inserção da literatura infantil no ensino de ciências a fim de promover o letramento científico nas turmas da educação básica. Márcia Priscilla Castro Lana 6

2. Introdução Márcia Priscilla Castro Lana 1 Fábio Augusto Rodrigues e Silva 2 A literatura se materializa em diferentes manifestações artísticas que acompanham a humanidade desde os primórdios por meio da difusão trazida pela literatura oral feita por declamadores em épocas festivas na Grécia antiga até as manifestações escritas nas obras literárias contemporâneas (ZILBERMAN, 2012). Os primeiros livros escritos que podem ser identificados como literatura infantil surgiram com os Jesuítas nos séculos XV. A partir desse século houve uma mudança de olhares para a criança que passou a ser vista como um período de preparação para a vida adulta. (GREGORIN FILHO, 2009). E para que se tornasse um adulto consciente de seus deveres e direitos esse sujeito em formação precisava de uma educação diferenciada, isso foi possibilitado pelos trabalhos de Jean Jacques Rousseau com a valorização social da criança (ARIÈS, 1981). Assim, os textos clássicos foram, ao longo dos anos, adaptados e reescritos para se adequarem à idade dos pequenos leitores. Com o desenvolvimento gráfico foram acrescentadas imagens não verbais a esse texto como um suporte à leitura estimulando a imaginação e a fantasia. A literatura está mais próxima das crianças que em anos anteriores (CADERMATORI, 1991). Silva (2009) afirma que esses gêneros literários são algumas vezes associados à leitura remetendo-se à escola, especificamente às aulas de Língua Portuguesa ou a espaços específicos de leitura como as bibliotecas. Desse modo é possível identificar algumas maneiras de ler que podem ser interpretadas como atos de leitura praticados pelo leitor. Essa leitura realizada pelo que lê pode se referir à habilidade de decifrar os códigos trazida pela leitura mecânica que não necessariamente está imbuída de significado. Paulo Freire (1989) abordou um tipo de leitura que ele próprio denominou como leitura de mundo 3 que 1 Márcia Priscilla Castro Lana, é mestranda do Programa de Pós-Graduação Profissional em Ensino de Ciências da Universidade Federal de Ouro Preto MPEC/UFOP. 2 Fábio Augusto Rodrigues e Silva, é mestre e doutor em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais UFMG, Professor da Universidade Federal de Ouro Preto. 3 Leitura de mundo proposta por Paulo Freire (1989) é um conjunto de processos que antecedem a leitura do código. Estão associados à interação do aprendiz com o mundo e, no processo de alfabetização, utilizar-se desse seu mundo e vivências para a aprendizagem da leitura. 7

seria um processo contínuo que tem início na primeira infância no seio familiar e tem seu termo com a morte do sujeito (SILVA, 1989). A leitura de mundo foi muito estimulada por Freire como uma forma de gerar inclusão social. É proposto que ela deve ser iniciada na família e aprimorada na escola logo nos anos iniciais de escolarização por meio da utilização dos variados gêneros textuais trabalhadas em todas as disciplinas do currículo escolar incluindo a disciplina de Ciências (SABINO, 2008). Na disciplina Ciências o trabalho com textos nos anos iniciais pode ser relacionado à alfabetização científica (FERREIRA, GALIETA, 2014). Giradelli e Almeida (2008) constataram que em consequência da baixa habilidade leitora os estudantes apresentam uma grande dificuldade na compreensão, síntese e relacionamento de dados que são consideradas como habilidades importantes para o aprendizado em Ciências. Alguns autores também afirmam que a literatura infantil pode auxiliar no processo de ensino e aprendizagem de conhecimentos científicos (SILVA, 1998; ANTLOGA e SLONGO, 2012; SANTOS e PIASSI, 2010; GIRALDELLI e ALMEIDA, 2008). Isso porque as obras literárias carregam a ludicidade, a magia e o encantamento e como afirmam Francisco Júnior e Garcia Júnior (2010) a imaginação é importante para se aprender Ciências por estimular o pensamento, influencia na compreensão e a forma como o leitor se relaciona com o texto. A ludicidade da literatura infantil associa-se ao enredo, às imagens e podem funcionar como suporte para que a criança compreenda os eventos naturais (ANTLOGA e SLONGO, 2012). Segundo Amorim e Borges (2014) além do lúdico a Literatura Infantil desperta a fantasia e é dessa maneira que a criança aprende e por essa razão ela não pode ser restringida a um único conteúdo didático. Antloga e Slongo (2012) concordam com esse uso irrestrito da literatura em todos os conteúdos porque ela se relaciona com a sociedade quando a retrata, modela, denuncia, diverte, favorece o desenvolvimento de habilidades físicas, psicossociais, cognitivas e assimila a cultura. Para tanto apresentaremos um produto educacional que poderá ser utilizado por educadores e pais no processo de ensino e aprendizagem de ciências que, por muitas vezes fica relegado a segundo plano no processo de alfabetização, mas que entendemos ser um recurso lúdico de aprendizado com suas fantasias e mágicas que encantam as crianças. Para tanto, propomos o uso de textos de Monteiro Lobato que revolucionou a literatura infantil brasileira. Esse autor escreveu sobre questões nacionais em ambientes brasileiros, e se destacou, principalmente, pela valorização da ciência e sua grande preocupação na divulgação científica em seus textos. 8

3. Objetivos 3.1. Geral Mobilizar alunos a ler e escrever sobre a ciência embasando-se na imaginação e a fantasia. 3.2. Específico Possibilitar o contato com os conteúdos de ciências utilizando o lúdico e a fantasia; Contribuir para a aprendizagem e o letramento científico dos alunos; Estimular a reflexão a partir da comparação entre texto literário e conteúdo científico; Aproximar as crianças de práticas próprias da literatura 9

4. As atividades A seguir apresentamos uma proposta de organização da oficina a fim de otimizar o tempo dessa atividade. Ingresso Percepção Aula teórica/prática sobre o alimentação saudável Duração: 1 aula Expectativa de Aprendizagem: reconhecer a importância de se alimentar bem. Recursos: Revistas, tabelas nutricionais de alimentos, cartolinas, cola, tesouras, canetinhas Leitura do texto "Os livros comestíveis" de Monteiro Lobato Duração: 1 aula Expectativa de Aprendizagem: reconhecer que o valor nutricional dos alimentos esta além da aparência Recursos: Livros "A reforma da natureza" Sensibilização Aprendendo sobre as "Reinações" Duração: 1 aula Expectativa de Aprendizagem: entender o significado de "reinações" para Monteiro Lobato Recuso: livro "A reforma da natureza", lápis de escrever e colorir, folha A4 Criação Criando "Reinações" Duração: 2 aulas Expectativa de Aprendizagem: Estimular a escrita criativa a partir de um tema escolhido pela criança/jovem Recurso: lápis, borracha, caneta, folhas, Arremate Socialização das Reinações Duração: 1 aulas Expectativa de Aprendizagem: Estimular a divulgação científica criativa a partir de um tema escolhido pela criança/jovem Recurso: Mural 4.1. Ingresso a) Desenvolvimento De acordo com o número de alunos e a disponibilidade de materiais segue algumas sugestões para essa etapa da oficina: 10

Dividir a turma em trios ou quartetos Distribuir os rótulos das embalagens, as cartolinas e canetinhas entre os grupos Pedir que analisem os nutrientes presentes nas embalagens Escutar e anotar no quadro os possíveis comentários que forem feitos O (a) professor(a) poderá orientar o trabalho a fim de que os grupos selecionem os alimentos que apresentem componentes mais saudáveis com o seguinte questionamento: Quais alimentos apresentam em sua composição substâncias mais saudáveis, e quais são menos saudáveis? Assim, os grupos formarão duas colunas contendo alimentos saudáveis e menos saudáveis. A partir desse ponto o (a) professor(a) deverá orientar as crianças a falarem porque fizeram essa separação buscando problematizar os conhecimentos prévios que apresentam a respeito da ingestão correta dos nutrientes. Esse momento deverá ser encerrado com a construção de uma pirâmide alimentar na qual serão inseridos os rótulos dos alimentos conforme a sua constituição de acordo com o modelo: Óleos, gorduras, açucares e doces (1 porção) Leite, queijo e iogurte (3 porções) Carnes e ovos (1 porção) Feijões e oleaginosas (1 porção) Legumes, verduras e frutas (3 porções de cada) Carboidratos (até 6 porções) Fonte: adaptado do livro: CARNEVALLE, Maíra Rosa. Projeto araribá ciências. São Paulo, Moderna, 2014, 4 ed. P.48 11

4.2. Percepção a) Leitura do texto: O livro comestível Este texto está presente no livro Reforma da Natureza de Monteiro Lobato. b) Desenvolvimento oficineiro pode: Após a leitura do texto é possível direcionar a reflexão das crianças. Assim, o professor I. Pedir às crianças que encontrem no texto alguma referência ao tema alimentação circulando; II. Direcionamento das discussão: a. Dessa (s) informação (ões) encontrada (s) por que consideram que ela se refere ao tema alimentação? b. Há alguma informação desatualizada? c. Se houver informação desatualizada, que reforma você faria para que ela fosse mais atual e real? d. Qual a sua opinião sobre essas reformas realizadas por Emília e sua amiga Rã? É interessante que o professor oficineiro anote as informações que forem levantadas pelas crianças para se fazer uma comparação, sempre que possível, com a pirâmide alimentar construída com as informações nutricionais dos alimentos que foi feita na atividade anterior. c) Comparação de informações De posse da pirâmide alimentar sugere-se que o professor chame a atenção das crianças, caso tenha passado desapercebido, para o seguinte trecho da história: 12

_ Pois eu tenho uma ideia muito boa disse Emília. _ Fazer o livro comestível. _ Que história é essa? _ Muito simples. Em vez e impressos em papel de madeira, que só é comestível para o caruncho eu farei os livros impressos em um papel fabricado de trigo e muito bem temperado. A tinta será estudada pelos químicos uma tinta que não faça mal para o estômago. O leitor vai lendo o livro e comendo as folhas; lê uma, rasga-a e come. Quando chega ao fim da leitura, está almoçado ou jantado. Que tal? A Rãzinha gostou tanto da ideia que até lambeu os beiços. _ Ótimo, Emília! Isto é mais que uma ideia mãe. E cada capítulo do livro será feito com papel de um certo gosto. As primeiras páginas terão gosto de sopa; as seguintes terão gosto de salada de assado, de arroz, de tutu de feijão com torresmos. As últimas serão as da sobremesa gosto de manjar-branco, de pudim de laranja, de doce de batata. _ E as folhas do índice disse Emília terão gosto de café, serão o cafezinho final do leitor dizem que o livro é o pão de espírito. Por que não ser também pão do corpo? As vantagens seriam imensas poderiam ser vendidos nas padarias e confeitarias, ou entregues de manhã pelas carrocinhas, juntamente com o pão e o leite. _ Nem precisaria mais pão, Emília! O velho pão viraria livro. O livro pão, o pão-livro! Quem souber ler lê o livro e depois come; quem não souber ler come-o só, sem ler. Desse modo o livro pode ter entrada em todas as casas, seja dos sábios, seja dos analfabetos. Otimíssima ideia, Emília! _ Sim disse esta muito satisfeita com o entusiasmo da Rã. _ Porque afinal de contas, isso de fazer os livros só comíveis para o caruncho é bobagem podemos fazê-los comíveis para nós também. Após essa leitura o professor pode estimular as crianças à reflexão sobre a alimentação saudável, propagandas sobre alimentos e a fala da boneca e sua amiga. I. O que a boneca considerou para escolher o sabor que os livros teriam? II. Mostrar os seguintes vídeos para a comparação com as escolhas da boneca: a. https://www.youtube.com/watch?v=eiuus_jmnwq Propaganda de biscoito recheado de 1988: com apelo a fantasia, lúdico e imaginação. b. https://www.youtube.com/watch?v=sk48vxcjiyw 13

Propaganda de refrigerante e pipoca. c. https://www.youtube.com/watch?v=hh-jihte6a0 Propaganda de fast food associado a brinquedos. III. Qual a intenção da propaganda? IV. Os alimentos das propagandas apresentam apenas os nutrientes que são importantes para a nossa saúde? V. E as reformas de Emília nos livros se preocuparam com os nutrientes? VI. Como seria a sua reforma para se preocupar também com uma alimentação saudável 4.3. Sensibilização A cada criança deverá ser disponibilizado lápis de escrever, lápis de colorir e folhas A4 para que elas registrem por meio de um desenho o que desvendaram sobre o seguinte: 14

Na história que iremos escutar a boneca Emília fala que tudo era reinação. O que seria essa reinação que ela fala? Neste momento sugestionamos a leitura do texto Era reinação do livro Reforma da Natureza de Monteiro Lobato. Após a leitura, os alunos podem ser questionados a respeito da hipótese que levantaram sobre o que seriam as reinações, comparando com o texto que acabaram de ouvir/ler. É necessário fazer alguma alteração no desenho? Se a resposta for afirmativa, que mudanças poderiam ser feitas? É importante deixar as crianças livres para expressar as suas opiniões e refazer as ilustrações, caso este seja o caso, deixando um registro de antes e depois da leitura. Aquelas que preferirem fazer o registro por escrita de um pequeno texto não devem ser inibidas. 4.4. Criação reinações Agora, as crianças poderão ser estimuladas a criarem suas próprias reinações, ou seja, suas histórias com fundo científico. Para auxiliar nessa criação, apresento uma sequência de escrita: 1º) Cada turma irá pensar em um tema de Ciências que gostaria de utilizar como pano de fundo. Para isso será feito uma pequena pesquisa para coleta de informações que possam ser úteis para a construção da narrativa. 2º) Feita essa coleta pensaremos no personagem principal, no cenário da história, o problema do personagem. Para as turmas de 1º e 2º anos pode ser feito uma escrita coletiva. Para as turmas de 3º ao 5º anos a escrita poderá ser individual. 15

a) Criação do personagem/personagens i. Invente uma personagem (um menino/menina; um animal; um homem/mulher; um ser imaginário); ii. Como é essa personagem: nome, onde mora, do que gosta, do que não gosta; iii. Pense em algumas ações que esse personagem sempre faz; b) Qual conteúdo de Ciências vai aparecer na sua história? c) O problema da personagem: I. Qual é o problema da personagem principal? II. Como foi resolvido o problema? d) Qual é o problema da personagem principal? e) Sequência de fatos I. Para começar: i. Antes do problema II. Para continuar: i. O começo do problema ii. O problema iii. Solução do problema III. Para terminar: i. Fim da história 4.5. Arremate Uma outra coisa que pode ser pensada é a alocação desses textos em um livro encadernado e doado para a biblioteca escolar. 16

5. Referências AMORIM, Kaline Prates Luz. BORGES, Cristiane Souza. O valor da literatura infantil no ensino de Ciências. Fórum internacional de Pedagogia. Agosto, 2014. ANTLOGA, Daiane Christ. SLONGO, Iône Inês Pinsson. Ensino de ciências e Literatura Infantil: uma articulação possível e necessária. Seminário de Pesquisa em Educação da Região Sul, 9º, 2012, Caxias do Sul. CADEMARTORI, Lígia. O que é literatura infantil. São Paulo, Brasiliense, 1981. FERNANDES, Celina Busto. Promoção da leitura. Proformar. Jun, 2010, p. 37-45. Disponível em: http://proformar.pt/revista/edicao_16/promocao_leitura.pdf FERREIRA, C. S.C. GALIETA, T. Revisão de literatura em periódicos nacionais: a produção sobre letramento científico, leitura e escrita. Revista da Sociedade Brasileira de Ensino de Biologia. N. 7. Out, 2014. Acessado em: 24/08/2015. Disponível em: http://www.sbenbio.org.br/wordpress/wp-content/uploads/2014/11/r0117-1.pdf GIRALDELLI, Carla Giulia Corsi Moreira. ALMEIDA, Maria José P. M. de. Leitura coletiva de um texto de literatura infantil no Ensino Fundamental: algumas mediações pensando o Ensino de Ciências. Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências, vol. 10, núm. 1, 2008, p 1-19. GREGORIN FILHO, José Nicolau. Literatura infantil: múltiplas linguagens na formação de leitores. São Paulo, Melhoramentos, 2009, 128p. KLEIMAN, Angela. Oficina de leitura: Teoria e prática. 8ª ed, Campinas, Pontes, 2001. MORAIS, Maria de Amparo Ferreira. Oficina de leitura: vírus l. Repositório aberto Universidade do Porto. Disponível em: https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/57301/2/44496.pdf PORCACCHIA, Sônia Saj. BARONE, Leda Maria Codeço. Construindo leitores. Estudos de Psicologia, Campinas, V28(3), p. 395-402, jul-set, 2011. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/estpsi/v28n3/a12v28n3.pdf 17

SABINO, Maria Manuela do Carmo de. Importância educacional da leitura e estratégias para a sua promoção. Revista ibero-americana de educação. N. 45, mar, 2008. Disponível em: file:///c:/users/usuario/downloads/2398sabino%20(2).pdf SANTOS, Fabiana Rodrigues. PIASSI, Luís Paulo de Carvalho. O caso da borboleta Atíria: ensinando Ciências com literatura infanto-juvenil. Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia, 2º, 2010, Paraná. SILVA, Vera Maria Tietzmann. Literatura infantil brasileira: um guia para professores e promotores de leitura. 2 ed. Goiania, Cânone Editorial, 2009, 272p. ZILBERMAN, Regina. Teoria da literatura I. Curitiba, IESD, 2012, 208p. 18

6. Encerramento Professor (a), Ao encerrarmos essa oficina científica literária esperamos que os alunos da educação básica tenham desenvolvido um novo olhar para a ciência. E que a leitura de um texto que marcou os rumos da literatura infantil brasileira tenha possibilitado a você uma forma descontraída para ensinar ciências. Sentimos, em nossa prática, a necessidade de estimular a leitura reflexiva em nossos alunos e muitas vezes não sabemos como fazer isso. Em outras oportunidades outros conteúdos tornam-se irrelevantes no processo de alfabetização e letramento de alunos dos anos iniciais do ensino fundamental com o favorecimento daquelas específicas para a alfabetização como português e matemática. Esperamos com essa oficina oportunizar o uso da ciências também para a aprendizagem da leitura e escrita bem como, para os mais adiantados no processo de escolarização, favorecer uma outra maneira de aprender os conteúdos científicos. E como nosso trabalho baseia-se em trocas de experiências e envolvimento com nossos alunos coloco-me a disposição para compartilhamento dessas informações por meio do meu endereço eletrônico: marcialana@ymail.com. Márcia Priscilla Castro Lana 19