Brasília, 22 de setembro de 2011. AO SR. PAULO ARGENTA Sub-Chefe de Assuntos Parlamentares Presidência da República REF.: ARRECADAÇÃO DE IMPOSTO DE RENDA INCIDENTE SOBRE O VALOR DO FRETE NO TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE CARGAS REALIZADO POR AUTÔNOMOS. Ilustríssimo(s) Senhor(es), A União Nacional dos Caminhoneiros (UNICAM), em nome desta categoria de trabalhadores que trafegam pelas estradas do Brasil, os quais representam hoje quase um milhão de brasileiros, segundo registros efetuados no Registro Nacional do Transportador Rodoviário de Cargas (RNTRC) da Agência Nacional do Transporte Terrestre (ANTT), vêm, respeitosamente à presença de Vossa(s) Senhoria(s), expor as preocupações dos Caminhoneiros Autônomos e reivindicar alteração na legislação do imposto de renda em benefício da categoria, nos termos como segue. Em decorrência de trabalhos desenvolvidos pela UNICAM, voltados à regulamentação do pagamento do frete ao Transportador Autônomo de Cargas (TAC) no Brasil, recentemente logramos êxito em ver decretado o fim da carta-frete que tanto prejudicou esses trabalhadores. Diante da grande conquista que é a regulamentação do pagamento do frete ao TAC nos deparamos com outro problema que atinge a categoria, consistente na grave distorção da tributação do frete do
Caminhoneiro Autônomo, o que afeta diretamente sua renda e, consequentemente, o sustento de sua família. Atualmente, o artigo 9º, inciso I, da Lei nº 7.713, de 22 de dezembro de 1988, estabelece a incidência do imposto de renda sobre 40% (quarenta por cento) dos rendimentos da prestação de serviços de transporte, em veículo próprio, locado, ou adquirido com reserva de domínio, decorrente do transporte de carga. Segundo este dispositivo o TAC, mais conhecido como Caminhoneiro Autônomo está obrigado a pagar imposto de renda sobre 40% do frete por ele cobrado em razão do serviço de transporte que presta a terceiros. Ora, é de conhecimento geral o fato de o frete pago ao caminhoneiro não ter essa gordura de 40% (quarenta por cento) do seu custo do transporte, que possa ser considerado como renda do trabalhador autônomo. Os custos para execução do serviço com combustíveis, pedágio, manutenção do veículo e as outras despesas, como alimentação, estadia durante a viagem, são suportadas, exclusivamente pelo TAC. Maior prova desse fato e a mais grave das conseqüências do frete baixo praticado nos País, aliado à base de cálculo injusta para determinar a renda tributável do Caminhoneiro Autônomo, é a idade média da frota de caminhões de propriedade dos mesmos que gira em torno dos 20 (vinte) anos, segundo o que consta no RNTRC. A frota velha e sucateada que hoje se concentra na mão dos transportadores autônomos de carga é uma das grandes vilãs da segurança no trânsito das rodovias brasileiras, tendo como consequência direta e imediata a trágica perda de vidas, pois 8.721 pessoas morrem por ano em acidentes com caminhões em nossas estradas, e além disso o custo aos cofres públicos de pensões e tratamentos médico-hospitalares dos feridos nestes mesmos acidentes cujo o valor estima-se em 7,7 bilhões de reais.
Também é sabido que os caminhões antigos, com baixa tecnologia, poluem em níveis muito acima dos permitidos, e aliado ao fato de que as manutenções, face ao alto custo, não são freqüentes, esses veículos se traduzem em agente poluidor em nossas regiões urbanas, logo, a renovação da frota brasileira se prestará a colaborar com a redução de emissão de carbono na atmosfera. Outro aspecto de suma importância, especialmente ao redor das regiões metropolitanas, é o constante aumento no número de quebras mecânicas ocasionadas pelos veículos transportadores de longa idade, haja vista que tais quebras, por si só, produzem, acidentes, congestionamentos intermináveis com consequências graves e danosas ao fluxo de veículos destas regiões. Em estudo da Coppead/CNT apurou-se que veículos com idade superior a 15 (quinze) anos estão suscetíveis 3,81 vezes a mais de possibilidade de quebra do que um veículo com até 02 (dois) anos de idade. Outro elemento, que comprova o baixo rendimento auferido pelo TAC é o insucesso dos vários programas de renovação da frota que já foram lançados pelos Governos, atual e anteriores, como o COMFROTA e PROCAMINHONEIRO, pois tais programas esbarram nas dificuldades do Caminhoneiro assumir o pagamento de financiamento de um veículo novo. Além da elevada carga tributária, o TAC sofreu nos últimos cinquenta anos com a prática da Carta-Frete considerada ilegal conforme pareceres dos juristas Modesto Carvalhosa e Ives Gandra. Esse meio de pagamento (Carta-frete) promovia o uso de caixa-dois para pagar o frete e por sua vez promovia a informalidade perante o TAC, que não fazia os recolhimentos previdenciários e de imposto de renda. Em razão de tais fatos e por não ser uma realidade a rentabilidade de 40% (quarenta por cento) do valor do frete, o rendimento percebido pelo Caminhoneiro, acabou ele ao longo de todos esses anos sendo levado a atuar na mais completa informalidade, quer pela prática da cartafrete, quer pela insuportabilidade da carga tributária sobre tal percentual do frete.
Nesse contexto a informalidade traz para o Carreteiro mais uma agravante, ou seja, o exclui dos programas governamentais, tais como o de renovação de frota, posto não ter tal profissional como comprovar rendimentos e candidatar-se a obtenção de um financiamento. Sensível aos problemas enfrentados pelos Caminhoneiros, o Congresso Nacional aprovou, e o Excelentíssimo Senhor Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva sancionou, no ano passado, a Lei Federal nº 12.249, de 11 de junho de 2010, que acrescentou o artigo 5º-A à Lei nº 11.442, de 5 de janeiro de 2007, instituindo a conta frete, que tem como escopo ordenar o sistema de pagamento de fretes aos Transportadores Autônomos em todo o território nacional, de modo a trazer a todos estes profissionais a formalidade, assegurando-lhes transparência no relacionamento jurídico com os Contratantes de transporte e meios de comprovar sua renda resultante do seu trabalho. A norma sancionada extingue a carta-frete como meio de pagamento promovendo a inclusão social do TAC, acabando com os cinqüenta anos com o regime de semi-escravidão. Logicamente, trazendo para a formalidade os quase 1 milhão de Transportadores Autônomos (segundo os registros do RNTRC), teremos como resultado um considerável aumento na arrecadação da Receita Federal, que hoje nada arrecada daqueles que vivem e trabalham na informalidade. Apenas para ilustrar, trazemos abaixo cálculos decorrentes de estudos que estimam o valor total movimentado por Carreteiros no Brasil. Vejamos: 1) Estimativa feita pelo - ILOS - Instituto de Logística e Supply Chain Média Número de autônomos (Cadastro ANTT) 1.096.740 Diesel consumido no transporte de carga por autônomos 50,00% Representatividade do diesel no Transporte carga 28,70% Total de diesel consumido no Brasil para TRC R$ 54.400.000.000
Diesel consumido por autônomo no TRC R$ 27.200.000.000 Total autônomo R$ 94.773.519.164 2) Estimativa pelo faturamento mensal Média Número de autônomos (Cadastro ANTT) 1.096.740 Faturamento mensal de um autônomo (levantamento por entrevistas) R$ 10.000 Faturamento anual da categoria R$ 131.608.800.000 ainda o seguinte: Os estudos supramencionados apuraram Média Setor com alta informalidade - % de informalidade * 80% Valor declarado por empresas de transporte pago a carreteiros - Pesquisa IBGE -Pesquisa anual de serviços 2009 ** R$ 10.000.000.000 Salário médio de mercado para motorista contratado com registro em carteira de trabalho (com 13º, férias) *** R$ 2.000 * A última pesquisa sobre economia informal urbana do IBGE sugeria que a participação das empresas informais na atividade de transporte superava 80% (IBGE/2003). Com base nesses dados Souza, Feijó e Silva (2006) desenvolveram uma classificação dos níveis de informalidade urbana, segundo a qual o transporte rodoviário de cargas é classificado como de alta informalidade, por apresentar como características: baixo nível de renda, trabalho por conta própria, local precário de atuação da empresa, mercado consumidor formado por pessoas variadas (em vez de instituições e clientes fixos), falta de registro contábil e falta de constituição jurídica (Revista do BNDES, Rio de Janeiro, V. 14, N. 29 P. 35-60. 2008) ** De acordo com a Pesquisa Anual de Serviços 2009, volume 11, elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), para transporte rodoviário de carga, as empresas de transportes, serviços auxiliares aos transportes e correios, total, segundo as atividades - CNAE 2.0 gastaram no ano de despesa operacional, para os seguintes itens, o que segue:
Valor Serviços prestados por profissionais liberais ou autônomos (Mil Reais) R$ 4.077.944 Fretes e carretos, afretamento de embarcações e aluguel de espaços em embarcações (Mil Reais) R$ 9.131.391 Total gasto com esses 2 itens R$ 13.209.335 Serviços prestados por profissionais liberais ou autônomos (Mil Reais) são descritos como serviços prestados por pessoas físicas, inclusive carreteiros, despachantes etc., apenas parte dessa soma pode ser considerada frete pago a Carreteiros (TAC). Consideramos que Carreteiros devem significar o maior percentual dessa conta para empresas de transportes e usamos um percentual de 75%. Fretes e carretos, afretamento de embarcações e aluguel de espaços em embarcações (Mil Reais) são descritos como Fretes e carretos (não inclui os fretes para as compras), afretamento de aeronaves com pilotos e de embarcações por tempo ou por viagem e aluguel de espaços em embarcações, inclusive contratação de empresas de transportes. Apenas parte dessa soma pode ser considerada frete pago a empresas de transporte de 1 a 3 veículos. De acordo com pesquisa de 75% a 84% da movimentação de carga é feita por Carreteiros, por isso usamos o percentual conservador (75%) para esse total. acima, temos: Assim sendo, diante da análise dos estudos Valor Serviços prestados por profissionais liberais ou autônomos (Mil Reais) estimativa para carreteiros R$ 3.058.458 Fretes e carretos, afretamento de embarcações e aluguel de espaços em embarcações (Mil Reais) estimativa para empresas de 1 a 3 veículos R$ 6.848.543 Estimativa de total gasto com carreteiros por empresas de transporte rodoviário de cargas R$ 9.907.001 Desse modo temos que o total declarado oficialmente pelas Empresas de Transporte Rodoviário de Cargas, gasto com Carreteiros, não deve ser superior a R$10 bilhões por ano. Cumpre esclarecer que
existe outra parcela de serviços contratados de Carreteiros, feitos por embarcadores ou pessoas jurídicas, contudo, não há pesquisas oficiais para estimar esse valor. *** Por pesquisa realizada pelo ILOS, em maio 2011, o salário inicial para motoristas girava em tono da média de R$1.100,00 (mil e cem reais)/mês, entretanto, se contabilizamos sobre o referido valor as férias, o 13º salário, as horas extras etc., podemos afirmar que o motorista contratado com registro em carteira de trabalho deve ganhar, em média, R$ 2.000 (dois mil reais) mensais. Vale ressaltar que o motorista registrado não assume qualquer custo e/ou despesa decorrente da viagem por ele realizada, ou seja, a empresa contratante arca diretamente com o pagamento de combustível, manutenção mecânica do caminhão, desgaste de pneus, refeição etc. Assim sendo, é evidente que o faturamento mensal do Caminhoneiro Autônomo, apurado em entrevistas na média de R$10.000,00 (dez mil reais), não pode ser interpretado como ganho efetivo, pois suporta diretamente todas as despesas custeadas pela empresa de transporte no caso do motorista registrado. Dessa forma, considerando que os Transportadores Autônomos de Carga faturam anualmente algo em torno de R$ 100 a R$ 130 bilhões, os quais são recebidos de maneira extremamente informal, cujo índice de informalidade pode ser superior a 80% do valor total mencionado, estimase que entre R$ 80 e R$ 104 bilhões/ano, embora sujeitos a tributação, não dão causa a qualquer tipo de recolhimento aos cofres públicos. É importante destacar que diante da informalidade acima descrita pode-se presumir que a mesma se reflete nas operações financeiras realizadas pelos responsáveis em efetuar os pagamentos dos fretes aos Carreteiros, ou seja, é muito provável que ocorra o efeito cascata, entretanto, não há notícia de qualquer estudo que possa dimensionar valores. Todavia, a carga tributária será insuportável para os Caminhoneiros se for mantida a atual redação da lei que considera como resultado do seu trabalho, ou como renda, 40% (quarenta por cento) do frete, o que, como já visto, não condiz com a realidade.
Tanto não é essa a realidade que, o próprio governo federal, ao fixar para efeito de incidência da contribuição ao INSS o que seria a remuneração do caminhoneiro, estabeleceu na legislação da previdência social, como base de cálculo, 20% (vinte por cento) da remuneração percebida pelo transportador autônomo de carga, consoante exatos termos do artigo 201, 4º, do Decreto 3.048, de 06 de maio de 1999 (Regulamento da Previdência Social). Desta forma, seria de bom alvitre e mais condizente com a realidade do mercado, a fixação da base de cálculo de 20% (vinte por cento) do valor do frete, a ser considerado como ganho ou renda do Caminhoneiro Autônomo; sobre a qual deverá incidir a alíquota do imposto de renda, aplicando-se sobre a mesma tabela relativa aos rendimentos da pessoa física, estabelecendo-se, assim, uma uniformidade de tratamento a esse trabalhador e contribuinte tanto pela Receita Federal, quanto pela Previdência Social. Mais uma vez, ressaltamos que com o advento da regulamentação do pagamento do frete e a retirada da informalidade da remuneração do TAC, haverá sensível aumento na arrecadação onde a adequação aqui pleiteada não representará redução da arrecadação tributária. Apenas a título de argumentação, no estudo de regulamentação da carta-frete, podemos estimar que, mesmo com a redução da base de cálculo do Imposto de Renda para 20% do valor do frete, que passará a incidir sobre o montante adicional estimado entre R$ 16 e R$ 21 bilhões/ano, haverá uma elevação na arrecadação do Estado, relativa ao recolhimento de IRRF da ordem de aproximadamente 5,2 bilhões de reais/ano, sem se falar na majoração de recolhimentos relativos a contribuições previdenciárias (INSS). Conforme destacado acima, os valores utilizados anteriormente para pagamento do TAC através da Carta-Frete, possivelmente advindo de caixa-dois também não eram tributados em sua origem. Logo, podemos admitir que a arrecadação de impostos pelo Estado será ainda maior do que à acima apresentada diante da devida formalização de todo sistema de pagamento.
Diante do exposto, solicitamos a Vossa(s) Senhoria(s) que se digne dar encaminhamento ao presente pleito, e para tanto anexamos o documento encaminhado ao Senador Gim Argello em 14 de abril de 2011, tudo com o objetivo de sanarmos tão grave problema e fazer justiça perante toda a categoria dos Carreteiros Autônomos. Aproveitamos o ensejo para apresentar a Vossa Excelência nossos protestos de elevada estima e distinta consideração. Atenciosamente São Paulo, 22 de setembro de 2011. UNIÃO NACIONAL DOS CAMINHONEIROS - UNICAM José Araujo Silva China Presidente