PROCESSO Nº: 0801806-81.2014.4.05.8500 - AÇÃO CIVIL PÚBLICA AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL RÉU: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS 3ª VARA FEDERAL - JUIZ FEDERAL TITULAR SEGURIDADE SOCIAL. PREVIDENCIÁRIO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. PRAZO PARA REALIZAÇÃO DE PERÍCIAS MÉDICAS PARA ANÁLISE DE PEDIDOS DE CONCESSÃO DE AUXÍLIO-DOENÇA. IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO PP - MODELO SIMPLIFICADO DE RECONHECIMENTO DO DIREITO AO AUXÍLIO- DOENÇA. MEDIDA NECESSÁRIA E QUE NÃO FERE O CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA. DEFERIMENTO DO PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA. DECISÃO O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL ajuizou a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA, em desfavor do INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS, requerendo a concessão de medida antecipatória dos efeitos da tutela, para determinar ao réu a realização das perícias necessárias à concessão de benefícios previdenciários e assistenciais, no prazo máximo de 15 (quinze) dias, a contar do requerimento do benefício, no que atine a todas as Agências da Previdência Social localizadas no Estado de Sergipe. Narrou que a ACP tem por base as constatações contidas no Inquérito Civil (IC) número 1.35.000.000152/2014-45, instaurado no âmbito da Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão e da Cidadã em Sergipe - PRDC/SE, que apurou que o tempo médio de espera para perícia nas unidades, em junho de 2014, foi de 59 dias, sobrepondo-se à meta de 15 (dias) almejada pela autarquia previdenciária para agendamento das perícias médicas, previdenciárias e assistenciais. Instado a se manifestar, o INSS defendeu a impossibilidade da concessão da liminar da maneira como requerida pelo MPF, o que ocasionaria um verdadeiro caos nas Agências da Previdência Social, pois certamente muitos segurados de outras cidades (e até mesmo de outros Estados) se deslocarão até as agências referidas, com a finalidade de obter o benefício previdenciário mais rapidamente, pois, como é de conhecimento, o interessado pode agendar a perícia no local de sua preferência.
O MPF pugnou pela realização de audiência de conciliação, a qual foi realizada em 02/10/2014, tendo as partes acordado a suspensão do processo, pelo prazo de 30 (trinta) dias, a fim de serem formuladas soluções para o litígio. O INSS informou, em 31/10/2014, a designação de mutirão, com a participação de três médicos, a fim de auxiliar o setor de perícias médicas da Gerência do INSS em Sergipe. Diante da concordância das partes, o processo foi suspenso até 10/01/2015. Em 16/01/2015, o MPF requereu a realização de nova audiência, a fim de que apresentasse o resultado efetivo das medidas adotadas. Na audiência realizada em 23/06/2015, o MPF pugnou pela concessão da tutela antecipada, no sentido de que: 1) seja determinado ao Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, que implante, com urgência, no Estado de Sergipe, o denominado "Projeto PP" - Modelo Simplificado de Reconhecimento do Direito à Prorrogação do Auxílio Doença)", de modo que até 31/12/2015, o TMEA-PM (TEMPO DE DIAS DE ESPERA PARA ATENDIMENTO) não seja superior a 45 (quarenta e cindo) dias em relação a nenhum local de atendimento da Autarquia Previdenciária neste Estado de Sergipe; 2) seja declarado que o denominado "Projeto PP" - Modelo Simplificado de Reconhecimento do Direito à Prorrogação do Auxílio Doença)", nos moldes em que apresentado pela Autarquia Previdenciária, não fere o Código de Ética Médica (especialmente artigos 80 e 92 - Resolução CFM nº. 1931/2009), de forma que os peritos médicos do INSS possam, com a tranquilidade necessária, exercer seu atuar a bem da sociedade como um todo. O INSS não se opôs a antecipação de tutela, desde que concedida parcialmente, nos moldes dos itens 1 e 2 do requerimento formulado pelo MPF. É o relatório.
DECIDO. A complexidade e a diversidade do funcionamento do sistema previdenciário nacional apontam dificuldades de solução do pleito, mormente por envolver grande volume de benefícios a examinar, especialmente aqueles que dependem de perícias médicas, nem sempre realizadas com a celeridade necessária ao atendimento das necessidades dos segurados e demais beneficiários.. Nesse sentido, sabe-se da necessidade de o Poder Público observar o devido processo administrativo, em atenção aos princípios da legalidade, probidade e preservação do interesse público. Ao mesmo tempo, se o caminhar administrativo deve seguir uma ritualidade, com atendimento a preceitos constitucionais e legais para motivar o ato administrativo, seja concessivo ou indeferitório de direito, também deve atender a razoabilidade e a eficiência administrativa. Em diversos locais o sistema de apreciação de requerimentos de benefícios por incapacidade (auxílios-doença e aposentadoria por invalidez) vem apresentando problemas de deliberação em prazo razoável, o que justifica a revisão, pelo menos parcial, dos procedimentos e adoção de medidas saneadoras das atuais dificuldades na prestação dos serviços previdenciários e assistenciários, a cargo do INSS. No curso da tramitação desta ação, o INSS tem demonstrado maior diligência na melhoria desses serviços, seja com medidas de priorização da política de Seguridade Social, seja com incremento de melhor estrutura material e humana para atender à demanda. Mesmo assim, mostram-se insuficientes as medidas adotadas pela autarquia previdenciária, tendo o MPF demonstrado, em audiência, o seguinte quadro da saúde no Estado: a) a média atual da TMEA, em Sergipe, está em 49 dias (junho/2015). Cabe destacar, porém, a situação de Itabaiana-SE (109 dias), Neópolis-SE (87), Propriá-SE (81), Estância-SE (62 dias), Lagarto-SE (59 dias), Tobias Barreto-SE (50). O INSS apresenta a tabela da TMEA (anexo); b) para aprimorar a situação em Sergipe foi autorizado o credenciamento de 05 (cinco) profissionais médicos, sendo que compareceram apenas 02 (dois) interessados para a capital (previsão que devem começar a atuar no mês de
julho/2015); não apareceram interessados para as APS's do interior (Tobias Barreto-SE, Lagarto-SE e Nossa Senhora da Glória-SE), e o processo será reaberto (nova publicação do edital prevista para agosto/2015); c) ocorreu remoção ex ofício, vindo um perito médico efetivo, lotado na Região Sul, e já está lotado e em exercício em Nossa Senhora da Glória-SE; d) o INSS considera como meta a TMEA de 45 dias, mas ressalta que para concretizar esses números neste Estado da Federação, até o final do ano de 2015, é imprescindível a implementação do Pedido de Prorrogação (Projeto PP - Modelo Simplificado de Reconhecimento do Direito à Prorrogação do Auxílio Doença) (...)". Logo, depreende-se que o INSS tem realizado medidas para melhorar os números neste Estado da Federação. Todavia, ainda remanescem TMEAS's bem acima da própria meta de 45 (quarenta e cinco) dias da Autarquia Previdenciária, a exemplo do que vem ocorrendo em Itabaiana-SE (109 dias), Neópolis-SE (87), Propriá-SE (81), Estância-SE (62 dias), Lagarto-SE (59 dias), consoante dados de junho/2015. A esse respeito, cabe enfatizar, a própria Gerência Executiva, perante este Órgão Ministerial (ata de reunião em anexo), assegurou que pode regularizar a situação em Sergipe até o final de 2015, sendo imprescindível, porém, "a implementação do Pedido de Prorrogação (Projeto PP - Modelo Simplificado de Reconhecimento do Direito à Prorrogação do Auxílio Doença)". Eis que, na audiência, o INSS reiterou a importância e relevância da implementação do denominado "Projeto PP" para que o objetivo tratado nesta Ação Civil Pública seja efetivamente concretizado em favor dos cidadãos e cidadãs. O MPF, a seu turno, consignou em sua manifestação que está de pleno acordo com as razões apresentadas pela Autarquia Previdenciária. Tal projeto consiste na concessão de auxílio-doença independentemente de perícia administrativa inicial, a partir de laudos médicos particulares, simplificando o processo de análise e processamento da Prorrogação da Incapacidade Laborativa (PP). A implementação do "Projeto PP" é medida que se,com urgência, inexistindo qualquer violação a ato médico ou algo similar. Ao revés, trata-se de uma atuação institucional, do INSS, comprometida com o que há de mais adequado e contemporâneo na Administração Pública, isto é, a busca de soluções (constitucionais e legais) que permitam aos entes públicos prestar serviços ágeis, seguros, transparentes e com eficiência e efetividade.
Não há que se falar em possível violação ao Código de Ética Médica (artigos 80 e 92, da Resolução CFM nº. 1931/2009), já que o que faz o "Projeto PP" é justamente dar o devido valor à atuação e laudos respectivos de profissionais médicos assistentes, considerando-se, pois, a relação jurídica de confiança existente entre o Estado, a Sociedade e os profissionais de área médica que ela forma, bem como o próprio confiar social de que os Conselhos Profissionais atuarão, como sempre atuaram, para coibir práticas abusivas e ilegais. Ante o exposto, defiro o pedido de tutela antecipada, formulado pelo MPF para determinar ao Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, que implante, com urgência, no Estado de Sergipe, o denominado "Projeto PP" - Modelo Simplificado de Reconhecimento do Direito à Prorrogação do Auxílio Doença)", de modo que até 31/12/2015, o TMEA-PM (TEMPO DE DIAS DE ESPERA PARA ATENDIMENTO) não seja superior a 45 (quarenta e cindo) dias em relação a nenhum local de atendimento da Autarquia Previdenciária neste Estado de Sergipe. Intime-se o INSS, para o efetivo cumprimento desta decisão. Vistas ao MPF. Juiz Edmilson da Silva Pimenta