Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica RESILIÊNCIA EXTERNA EM XEQUE: O PASSIVO EXTERNO LÍQUIDO

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Transcrição:

Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica Ano XV Nº 96 Julho / 2013 O passivo externo brasileiro não apenas se reduziu em proporção do PIB. Além disso, sua atual composição segue conferindo resiliência à economia brasileira diante de possíveis constrangimentos impostos ao balanço de pagamentos. RESILIÊNCIA EXTERNA EM XEQUE: O PASSIVO EXTERNO LÍQUIDO A economia brasileira reflete as condições adversas do cenário internacional. Neste momento, dois choques externos simultâneos afetam o setor externo. Em primeiro lugar, há a desaceleração corrente da economia chinesa. Esta tende a deprimir os preços de commodities internacionais e, por conseqüência, os termos de troca da economia brasileira. Com isso, a balança comercial passa a demonstrar saldos cada vez menores em prejuízo do déficit em transações correntes, o que favorece a depreciação do real. Em segundo lugar, há também a aceleração corrente da economia norte-americana. Esta acaba por pressionar as taxas de juros dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos de longo prazo. A diminuição do diferencial de taxas de juros no Brasil e no exterior tende então a pressionar ainda mais a taxa de câmbio. Vale notar que choques em sentidos opostos, a desaceleração da economia chinesa e a aceleração da economia norte-americana, resultam em um mesmo efeito: o enfraquecimento da moeda brasileira. Boletim SOBEET Tel/fax: 55 11 3078-9236 sobeet@sobeet.org.br www.sobeet.org.br Qual o grau de resiliência da economia brasileira para enfrentar tais choques? Os dados divulgados pelo Banco Central do Brasil reforçam a posição do país como credor internacional. De fato, o total de reservas internacionais, créditos brasileiros no exterior e os haveres dos bancos comerciais, no valor total de US$ 395 bilhões, superam a dívida externa bruta, de US$ 325 bilhões, tornando negativa a dívida externa líquida. Em outras palavras, a economia brasileira segue sendo credora externa internacional, como ocorre desde 2007, conforme figura a seguir. 1

Passivo Externo Líquido Essa posição de credor internacional do país pode parecer contraditória frente aos dados de passivo externo líquido do país, também divulgados pelo Banco Central do Brasil. Afinal de contas, também é verdade que o passivo externo líquido do país, já descontado dos ativos no exterior, alcançou US$ 734,1 bilhões em maio deste ano. Qual a diferença entre os dois conceitos mencionados? O conceito de passivo externo é mais abrangente do que o de credor ou devedor internacional. Neste último caso estão contemplados apenas os créditos e empréstimos comerciais obtidos no exterior e os títulos de renda fixa emitidos no exterior. Além destes itens, o conceito de passivo externo, por sua vez, contempla também os valores referentes a investimentos diretos estrangeiros (IDE), investimentos estrangeiros em ações e em renda fixa denominados em reais, entre outros. Assim, o conceito de passivo externo líquido acaba por sinalizar não apenas o t o t a l d e r e m u n e r a ç ã o a o c a p i t a l d e e m p r é s t i m o s, c o m o o c o n c e i t o d e c r e d o r o u d e v e d o r internacional o faz. Além disso, também pode indicar valores de remuneração ao capital de risco. A diferença aparentemente sutil pode resultar em divergências de diagnóstico e prognóstico nada irrelevantes. Se há diminuição da dívida externa do país e aumento dos ingressos de IDE na mesma proporção, a posição devedora do país diminui, mas não o seu passivo externo líquido. Neste caso, tende a diminuir o pagamento de juros, mas o pagamento de dividendos a não residentes está propenso a aumentar. Neste sentido, a análise do passivo externo líquido pode trazer algumas conclusões reveladoras sobre as mudanças do setor externo brasileiro. 2 O que se nota na figura a seguir é que a posição do passivo externo, em primeiro lugar, segue elevada. Hoje esta representa o equivalente a 68,2% do PIB.

Mais relevante do que o nível do passivo externo frente ao PIB, entretanto, é a sua composição. Nesta, os Investimentos Diretos Estrangeiros seguem como o principal destaque. Estes representam 31,9% do PIB, o componente de maior relevância no passivo externo brasileiro. Este percentual é mais elevado do que nas economias dos BRIC s. Sem dúvida, um sinal do elevado grau de internacionalização da economia brasileira. Em segundo lugar, destaca-se também a participação de investimentos estrangeiros em renda variável. A representatividade destes alcança 14,5% do PIB, o segundo componente de maior relevância no passivo externo brasileiro. Mas cabe notar que essa representatividade vem decaindo desde 2009. Esse movimento ocorreu não apenas por redução de investimentos estrangeiros em renda variável. Em verdade, a contabilização pelo Banco Central contempla também a valorização bursátil dos títulos de renda variável, o que explica essa representatividade decrescente nos últimos anos. Por fim, os passivos referentes a investimentos estrangeiros em títulos de renda fixa e créditos comerciais seguem sendo os componentes do passivo externo de menor representatividade, mesmo com algum aumento na margem. Estes representam 12,4% e 9,2% do PIB, respectivamente, até o último dado disponível. Se por um lado o passivo externo segue elevado, por outro o ativo externo vem aumentando frente ao PIB. Este apresentou crescimento de 7,2 pontos percentuais em relação ao PIB desde 2010, para 36% deste. Isso se deve em parte ao Investimento Direto Brasileiro, dada a internacionalização das empresas brasileiras. A contribuição mais relevante, entretanto, tem sido, sem dúvida, o aumento das reservas internacionais, representativas de 16,4% do PIB brasileiro. 3

Conclusões Quais as conclusões dessas mudanças do passivo externo do Brasil? Em primeiro lugar, houve desde 2010 uma redução do passivo externo líquido em termos de PIB de pouco mais de 9 pontos percentuais do PIB, para 32,2% deste. Mas a resiliência diante de choques externos decorre também do seu perfil. O passivo externo resultante de títulos de renda fixa e créditos comerciais alcança 21,5% do PIB no período. Nestes casos, o não pagamento dos serviços de suas dívidas gera obrigatoriamente default. Ao mesmo tempo, o passivo externo resultante de IDE e investimento em ações chega a 46,4% do PIB. Nestes casos, não há default. As saídas de capital ao exterior resultantes do passivo externo, ou seja, as remessas de dividendos ocorrem quando e se houver lucros a serem distribuídos. Isso faz com que as saídas de recursos ao exterior sejam cada vez mais condicionadas pela atividade econômica. Em resumo, o passivo externo brasileiro não apenas se reduziu em proporção do PIB. Além disso, sua atual composição segue conferindo resiliência à economia brasileira diante de possíveis constrangimentos impostos ao balanço de pagamentos. 4

SOBEET - Socierdade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização PRESIDENTE: Luis Afonso Lima VICE-PRESIDENTE: Reynaldo Passanezi DIRETOR: Nicola Tingas DIRETOR: Eduardo Luiz Machado DIRETOR: Frederico Turolla DIRETOR: José Augusto Guilhon de Albuquerque DIRETOR: Ernesto Lozardo DIRETOR: José Roberto de Araujo Cunha Junior DIRETOR: Roberto Padovani DIRETOR: Fernando Sarti CONSELHO CONSULTIVO: PRESIDENTE: Hermann Wever André Costa Carvalho; Antônio Corrêa de Lacerda ; Antonio Prado ; Armando Castelar Pinheiro ; Arno Meyer; Carlos Eduardo Carvalho ; Carlos Kawall; Christian Lohbauer; Gustavo Franco ; John E. Mein ; Luciano Coutinho ; Marcelo Resende Allain; Maria Helena Zockun ; Octavio de Barros ; Otaviano Canuto ; Renato Baumann; Ricardo Bielschowsky ; Rubens Barbosa ; Rubens Ricupero; Sandra Polónia Rios ; Vera Thorstensen ; Virene Roxo Matesco ; Winston Fritsch. Tel/fax: 55 11 3078-9236 - e-mail: sobeet@sobeet.org.br site: www.sobeet.org.br MANTENEDORES PARCERIA 5