INTRODUÇÃO AO PENSAMENTO PRÉ-SOCRÁTICO 1. Carlos Copelli Neto



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Transcrição:

1 INTRODUÇÃO AO PENSAMENTO PRÉ-SOCRÁTICO 1 Carlos Copelli Neto Quando se fala do pensamento pré-socrático, automaticamente remonta-se à própria formação da Filosofia no Ocidente, enquanto um sistema de pensamento autônomo que se desvincula dos aspectos míticos e religiosos que caracterizavam até então a cosmovisão humana. Assim, dentro de um aspecto mais investigativo, faz-se necessária uma apreciação acerca dos motivos que levaram esse homem a deixar de lado as construções mitológicas e substituí-las pelas racionais e científicas. Retrocedendo na própria história da Grécia, mais precisamente a partir do século VI a.c., depreende-se que esse novo modo de pensar ganha um espaço que irá influenciar pensadores de todas as épocas até a atualidade. As razões para essa mudança de paradigma, isto é, da mitologia para a racionalidade e para o pensamento científico, são apontadas por alguns historiadores na relação existente entre o Oriente e a Grécia na Antiguidade. Posteriormente ao século VI a.c, Platão e Heródoto (séculos V e IV a.c.) apontavam para a sua própria civilização como original no campo filosófico-científico, não obstante admitirem também que teria havido uma assimilação de conhecimentos dos orientais acerca da religião e da arte. Outros pensadores já não aceitavam que tive havido alguma originalidade no pensamento grego, pois toda a sabedoria havia sido herdada do Oriente. Além dessas controvérsias, que serão posteriormente retomadas, há que se destacar fatos históricos que apontam para um favorecimento da formação dessa nova forma de pensar, que remontam a uma época bem anterior ao século VI a.c antes citado, pois a partir do século XII a.c. as invasões dóricas causam a ruína total dos antigos reinos micênicos, cujas bases estruturais de existência voltavam-se tão somente para o elemento agrário e patriarcal. Os povos invadidos, agora na condição de fugitivos e na ânsia de salvaguardar suas tradições, buscam refúgio nas ilhas da Ásia Menor e desenvolvem, considerando suas novas condições de vida, o comércio, o artesanato e a navegação; salienta-se que as respectivas circunstâncias geográficas facilitaram esses tipos de atividades. Ora, uma vez que os seus produtos (no caso aqui referido, o artesanato) eram comercializados com os povos vizinhos, evidentemente através da navegação que fora desenvolvida, o intercâmbio cultural com povos vizinhos foi uma conseqüência lógica e inevitável. Cabe aqui, 1 Artigo Publicado na Revista Filosofia, Ciência & Vida Caderno Especial Os Filósofos Pré-socráticos.

2 portanto, uma observação quanto à originalidade ou não do pensamento grego no que se refere à Filosofia e ao desenvolvimento das ciências e das técnicas, uma vez que há controvérsias entre os pesquisadores quanto a este tema. Usando um termo da atualidade a globalização depreende-se que o universo desses antigos micênicos atualizado em suas novas condições geográficas, favoreceu uma cultura além-fronteiras, facultando e facilitando o aparato racional como instrumento de explicação, compreensão e criação da realidade. Necessária também se faz a referência, que esse novo status globalizado se dá naquilo que também é chamado de revolução monetária, dadas as atividades comerciais desenvolvidas, nas quais a moeda é utilizada como meio de troca, facilitando o intercâmbio mercantil. Evidentemente essa transposição de paradigmas não se deu de forma instantânea logo no início da ocupação das ilhas da Ásia Menor no século XII a.c., posto que esse processo se deu de modo lento e gradual, pois entre os século X e VIII a.c. ainda se verifica um vínculo nítido entre a mitologia e o agir humano, conforme pode ser visto nas epopéias homéricas. Mas, o século VI a.c. pode ser considerado um marco do desenvolvimento da ciência teórica e da técnica. Fazendo referência a esta última, o que antes era considerado uma transmissão de conhecimento efetuada pelos deuses com o objetivo de auxiliar os mortais, isto é, a origem do conhecimento era divina, e a humanidade era mera receptora desse saber, a partir do século acima citado, a técnica passa a ser fruto do aparato racional humano, passível de ser criada, desenvolvida, replicada e dominada. Ainda dentro desse mesmo aparato racional, o mesmo pode ser dito a respeito do pensamento filosófico, antes vinculado tão somente a elementos míticos, ou seja, em total relação com a Teologia, uma vez que a cosmologia e a antropologia apenas eram totalmente embasadas sob uma epistemologia religiosa. Esse fenômeno também está presente em outras culturas, mesmo entre os bárbaros, orientais e também na própria tradição judaico-cristã. À guisa de ilustração, o próprio Platão, já em época posterior, ainda se vale de elementos religiosos para apresentar em seu sistema filosófico, elementos religiosos para fundamentar a criação da alma, do mundo e do homem, por exemplo. Ao se fazer uma verificação histórica do desenvolvimento das idéias, depreende-se que o pensamento pré-socrático é bastante original, pois constitui o pólo inicial para a valorização do homem enquanto ser autônomo e livre para criar sob o comando da razão; ainda que essa originalidade possa ser fruto de assimilações múltiplas das culturas que esse mundo insular grego estava em relação. É a partir desse momento, mais especificamente, o século VI a.c., que a civilização ocidental passa a trazer em seu bojo as feições da racionalidade.

3 Ainda dentro dessa verificação histórica, vê-se também que a história da idéias não pode ser apenas concebida como algo linear e passível de ser estudado apenas enquanto crônicas, mas antes, uma análise mais detida sob o ponto de vista histórico por excelência, uma vez que o ideal grego de independência do pensamento em relação à religião, sucumbe na Idade Média, com o apogeu da autoridade da Igreja, posto que a Filosofia fica na dependência da Revelação e passa a ser utilizada como meio para a formulação e fundamentação da dogmática. A revitalização da independência do pensamento racional livre e autônomo começa a se dar a partir da Renascença e sobretudo com o Iluminismo nos séculos XVII e XVIII desta era. Considerando, portanto, essa autonomia da racionalidade como um paradigma existencial, encontra-se nesses pensadores a partir do século VI a.c. as primeiras proposições sobre Cosmologia, Física, Geometria e Matemática. Todavia há uma escassez de dados, posto que apenas fragmentos das obras desses filósofos chegaram até os nossos dias, como também alguns comentários feitos por Platão e Aristóteles acerca dos mesmos. Fazendo um ligeiro roteiro sobre os pré-socráticos, o seu início se dá em Tales de Mileto, que é considerado o pai da Filosofia e os seus seguidores também se detiveram no âmbito da Cosmologia e da Física. Provém desse pensador a idéia de que tudo é composto pelo elemento água e as diversas manifestações materiais nada mais são do que as alterações desse elemento. Segundo menção feita por Aristóteles, atribui-se a Tales a idéia de que a origem do universo tem uma causa material; assim, considerando a possibilidade de que o enunciado de Aristóteles tenha, efetivamente, realidade histórica, vê-se neste caso específico que há um rompimento entre a tradição teológica enquanto elemento explicativo da abordagem desse tema. Já Anaxímenes refuta a teoria de Tales sobre a composição da matéria a partir do elemento água e atribui como único elemento formador o ar, e o universo seria o resultado de suas transformações. Por exemplo, ele propõe que quando há rarefação do ar surge o fogo; da sua condensação surge o vento e também a água, a terra e por fim a pedra. O ar era para ele a substância primordial e eterna que, em sua multiplicidade de alterações, resultava nesses elementos. Sua obra também volta-se para a meteorologia e foi o primeiro a levar em consideração que a lua recebe luz do sol. Nesta seqüência, ao se fazer uma referência a Pitágoras, convém lembrar que a sua figura está envolta em um misto de lenda e realidade e pouco se sabe acerca da fronteira entre ambas; segundo a colocação dos historiadores, o mundo grego na época de Pitágoras iniciava o seu culto a Baco, considerando que a tradição órfica ensinava a metempsicose enquanto um ciclo inevitável a ser cumprido. Portanto, para que esse ciclo de múltiplas existência fosse rompido,

4 a adoração a esse deus-libertador era o caminho eficaz; no entanto, Pitágoras apresenta outra solução para esse problema que era a via da Matemática, uma vez que acreditava na divindade do número, posto que este possui a essência de todas as coisas e é a verdade eterna. Derivados do pensamento pitagórico, outros filósofos também tiveram suas atividades voltadas para a Matemática, atribuindo ao universo toda uma lógica dos números, tendo por conseguinte a fundamentação de sua lógica a própria Matemática, constituindo assim uma visão mecanicista, dada a identificação no mundo com o raciocínio matemático. Ressalta-se que o próprio Platão apreciava e exaltava a Geometria tendo em vista o seu caráter abstrato. Xenófanes, por seu turno, apresenta um retorno a uma Teologia, porém totalmente diversa da mitologia grega da época; sua visão teológica tem um caráter racional e está em oposição à visão antropomórfica dos deuses, variável segundo os costumes dos diversos povos. Para ele, havia um único deus que está além dos sentidos, é imutável e eterno, além do que está presente em tudo o que existe. Esta noção de onipresença divina, tão cara ao Cristianismo, não constitui uma herança direta do Judaísmo, posto que em seus primeiros escritos ainda não há esta visão. Considerando o mais importante dos filósofos pré-socráticos, Heráclito é chamado o filósofo do devir, dado que tudo, segundo ele, está em constante movimento; daí a sua célebre frase: não entramos duas vezes no mesmo rio. Segundo a lei do devir, tudo flui, tudo nasce, tudo se transforma e tudo se dissolve e, conseqüentemente, todo o juízo seria falso. A verdade se encontra no devir e não no ser, pois tudo é movimento. Ainda que de uma forma muito reducionista, o existencialismo e a fenomenologia apresentam fortes conotações relativas ao aspecto do movimento em suas teorias. Considerando o dito em filósofos precedentes no que diz respeito à origem do universo através de uma única substância, como a água e o ar, Empédocles identifica quatro substâncias básicas que deram origem ao universo terra, ar, fogo e água enquanto substâncias eternas. Ele descarta a possibilidade das verdades absolutas, mas antes proporcionais de acordo com a medida humana. Concluindo este brevíssimo panorama acerca do pensamento pré-socrático, algumas referências são feitas à escola atomista, representada por Leucipo e Demócrito. Para o primeiro há inclusive um referencial que coloca em dúvida a sua existência real, não obstante Aristóteles referir-se claramente ao seu pensamento; já para o segundo há elementos históricos concretos, não obstante também considerar-se que o seu pensamento não seja original, mas sim pertencente a Leucipo.

5 Independentemente das considerações sobre a validação de Leucipo enquanto ente histórico ou não, e ainda quanto à originalidade total de Demócrito, importa observar o pensamento da escola atomista que tem repercussões até a atualidade no âmbito da ciência empírica, o que não deixa de ser um fato surpreendente. Assim, essa escola ensinava que a matéria era constituída por átomos e vácuo; mais precisamente esses átomos estão situados no vácuo. As características fundamentais desses átomos eram a indestrutibilidade e a imutabilidade. Ora, se tais eram as suas características, como poderiam ser explicadas as variações da matéria? Essa pergunta, certamente, seria feita por um físico da atualidade. No entanto, a resposta atomista para essa questão era bastante simples e compreensível, pois as variações da matéria dependem unicamente dos modos como esses átomos se agrupavam. De uma forma bastante genérica, depreende-se que há uma incipiente noção de molécula. Este breve panorama teve por finalidade apenas apresentar a sucinta e resumidamente o pensamento de alguns dos pré-socráticos e a sua atualidade na contemporaneidade. O brilhantismo de suas proposições, considerando a época em que foram formuladas, tem como fator primeiro o uso do aparato racional na especulação sobre a vida, deixando para trás o aparato mítico como elemento explicativo por excelência. Devido ao exílio forçado que os micênicos sofreram no século XII a.c., o decorrer dos séculos seguintes foi fecundo na determinação da autonomia da racionalidade em prol do desenvolvimento da Filosofia e da técnica. BIBLIOGRAFIA: COLEÇÃO OS PENSADORES. Pré-socráticos. 2ª. Ed. São Paulo: ABRIL CULTURAL, 1978. CLÁSSICOS CULTRIX. Os filósofos pré-socráticos. Trad. de Gerd A. Bornheim. 2ª. Ed. São Paulo: CULTRIX, 1972. RUSSELL, B. História da Filosofia Ocidental. Vol. I. Trad. de Brenno Silveira. 3º. Ed. São Paulo: ED. NACIONAL, 1977. ZILLES, U. Teoria do Conhecimento. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2006.