AULA 12 - MÓDULO RESPONSABILIDADE CIVIL NA SAÚDE - PÓS- GRADUAÇÃO EM DIREITO MÉDICO E DA SAÚDE INFECÇÃO HOSPITALAR RESPONSABILIDADE CIVIL DO HOSPITAL
LEI Nº 9.431, DE 6 DE JANEIRO DE 1997. Dispõe sobre a obrigatoriedade da manutenção de programa de controle de infecções hospitalares pelos hospitais do País.
Art. 1º Os hospitais do País são obrigados a manter Programa de Controle de Infecções Hospitalares - PCIH.
1 Considera-se programa de controle de infecções hospitalares, para os efeitos desta Lei, o conjunto de ações desenvolvidas deliberada e sistematicamente com vistas à redução máxima possível da incidência e da gravidade das infecções hospitalares.
2 Para os mesmos efeitos, entende-se por infecção hospitalar, também denominada institucional ou nosocomial, qualquer infecção adquirida após a internação de um paciente em hospital e que se manifeste durante a internação ou mesmo após a alta, quando puder ser relacionada com a hospitalização.
Art. 2 Objetivando a adequada execução de seu programa de controle de infecções hospitalares, os hospitais deverão constituir: I - Comissão de Controle de Infecções Hospitalares.
1. Conceito de Infecção Hospitalar Infecção hospitalar é aquela adquirida após a admissão do paciente e que se manifeste durante a internação ou a alta, quando puder ser relacionada com a internação ou procedimentos hospitalares. PORTARIA N 2.616, DE 12 DE MAIO DE 1998 da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)
2. Conceito de infecção comunitária (IC) Infecção comunitária é aquela constatada ou em incubação no ato de admissão do paciente, desde que não relacionada com a internação anterior no mesmo hospital. (Portaria n. 2.616/98 da ANVISA)
As legislações de Controle de Infecção são a Portaria 2.616/98 e a Lei 9.431/97, além do Roteiro de Inspeções (RDC 48, de 2 de junho de 2000).
A infecção hospitalar é uma das causas que provoca o maior índice de mortalidade e, consequentemente, aumenta o número de litígio em matéria de responsabilidade civil dos hospitais.
A infecção hospitalar é um defeito na prestação do serviço prestado pelos hospitais e classificada como responsabilidade objetiva.
Para caracterizar a responsabilidade objetiva do hospital é necessário demonstrar que: a) Antes de ser internado, o paciente não portava nenhum agente infeccioso ou apresentava baixa imunidade.
b) A infecção não se classifica como endógena, gerada pelo próprio organismo.
c) A infecção surgiu quando o paciente já se encontrava sob o exclusivo controle do hospital e dos respectivos médicos.
d) A infecção causada por agente infeccioso tipicamente hospitalar.
O Ministro Cesar Asfor Rocha, do STJ, no REsp 629212/RJ explicitou que: o hospital responde objetivamente pela infecção hospitalar, pois esta decorre do fato da internação e não da atividade médica em si.
Embora se apliquem aos serviços hospitalares o Código de Defesa do Consumidor, no que se diz respeito à responsabilidade objetiva, permitindo, portanto, a inversão do ônus da prova, nada impede que o paciente prove a omissão configuradora da negligência do hospital da qual resultou a infecção.
O ônus da prova da inexistência de defeito na prestação dos serviços médicos é da clínica recorrida por imposição legal (inversão 'ope legis'). Inteligência do art. 14, 3º, I, do CDC.
O Colendo Superior Tribunal de Justiça tem fixado a indenização por morte entre 300 e 500 salários mínimos.
Isso levando-se em consideração acima, a gravidade do fato em si, a culpabilidade do autor do dano, a intensidade do sofrimento das vítimas por ricochete, o número de autores, a situação socioeconômica do responsável, que são elementos de concreção que devem ser sopesados no momento do arbitramento equitativo da indenização pelo juiz.
No que se refere aos serviços de medicina e afins, para o surgimento da responsabilidade, sempre haverá necessidade da análise do chamado state of the art, ou seja, o nível do conhecimento técnico disponível na época da prestação do serviço.
É esse nível de conhecimento técnico que determinará a análise da situação concreta, pois, quanto mais avançada, precisa e ausente de riscos a ciência, maior a cautela a ser observada na sua aplicação e maior a obrigação no alcance do resultado almejado.
Se o nível do conhecimento técnico não afastar a existência de riscos, obviamente não se poderá exigir que o profissional ou o estabelecimento de saúde os supere em todas as circunstâncias.
Em tese, toda infecção decorrente de ato cirúrgico é considerada infecção hospitalar, mas necessária é a delimitação da responsabilidade do hospital em face do dever de controle de tal risco.
Apelação cível. Responsabilidade civil do Estado. Fazenda do Estado. Paciente submetido a cirurgia em hospital da rede pública. Alegação de ter sido colocada em seu ombro direito prótese de platina infectada, estando o estabelecimento hospitalar em péssimas condições de higiene, causando-lhe grave infecção. Ação julgada improcedente. Manutenção. Reconhecimento da ocorrência de causa excludente. Culpa exclusiva da vítima. Recurso não provido.
Comprovado que o resultado insatisfatório observado em paciente submetido a cirurgia em hospital da rede pública não decorreu de ação iatrogênica culposa dos médicos durante o ato cirúrgico, nem da omissão do hospital na mantença das condições de higiene e esterilização do campo de atuação médica, não há falar em responsabilidade objetiva do Estado, máxime quando demonstrado o rompimento do nexo causal por culpa exclusiva da vítima, ou seja, sua condição física anterior e sua predisposição a fatores nocivos no pré e pós-operatório, como a sua condição de cardiopata, com doença pulmonar obstrutiva crônica, tabagismo e hábito etílico acentuado. (Apelação Cível nº 100.854-5/4, 3ª Câmara de Direito Público, Rel. Des. Rui Stocco, j. 27.03.2001)
O hospital responde objetivamente pela infecção hospitalar, pois esta decorre do fato da internação e não da atividade médica em si. (REsp 629.212/RJ, Rel. Ministro CESAR ASFOR ROCHA, QUARTA TURMA, julgado em 15/05/2007, DJ 17/09/2007, p. 285)
A responsabilidade é objetiva e o ônus de demonstrar ausência de nexo causal entre a internação e o dano é da parte ré (artigo 14, 3º, inciso I).
Apelação Cível Ação de indenização Erro médico Infecção hospitalar decorrente de procedimento cirúrgico Falha na prestação de serviço hospitalar caracterizada, ainda que não decorrente do procedimento cirúrgico efetuado Ausência de demonstração de existência de comissão de controle de infecção hospitalar instalada no nosocômio Laudo pericial que concluiu que a infecção contraída pela apelada deveria ser considerada uma fatalidade desde que fosse comprovada a existência da referida comissão Ausência de impugnação específica aos fundamentos da sentença Apelante que não apontou os motivos pelos quais entende que a conclusão exposta na sentença não poderia prevalecer Inocorrência de cumprimento da condição estabelecida para afastar a falha na prestação de serviço hospitalar Recurso, nesta parte, improvido. Dano moral Apuração que deve observar os critérios de proporcionalidade e razoabilidade, atendidas as condições do ofensor, do ofendido, e do bem jurídico lesado, bem como a extensão e a gravidade do dano Redução determinada Correção monetária do valor nos termos da Súm. 362/STJ Juros moratórios contados a partir do evento danoso (Súm. 54/STJ) Recurso, nesta parte, provido. TJSP; Apelação 0036774-43.2011.8.26.0002; Relator (a): José Joaquim dos Santos; Órgão Julgador: 2ª Câmara de Direito Privado; Foro Regional II - Santo Amaro - 8ª Vara Cível; Data do Julgamento: 11/09/2018; Data de Registro: 13/09/2018)