TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Transcrição

1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de Ribeirão Preto, em que são apelantes MONICA APARECIDA DE SOUZA (JUSTIÇA GRATUITA) e NATALIA DE SOUZA CARDOSO BAHIA (MENOR), é apelado PALESTRA ITÁLIA ESPORTE CLUBE. ACORDAM, em 10ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso, com observação. V.U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores JOÃO CARLOS SALETTI (Presidente sem voto), CESAR CIAMPOLINI E J.B. PAULA LIMA., 24 de abril de ELCIO TRUJILLO RELATOR Assinatura Eletrônica

2 10ª Câmara Seção de Direito Privado Apelação n Comarca: Ribeirão Preto Ação: Responsabilidade civil e Indenização por Danos Morais e Materiais Apte(s).: Mônica Aparecida de Souza (e outra) (AJ) Apdo(a)(s).: Palestra Itália Esporte Clube Voto nº INDENIZAÇÃO Danos morais e materiais Menor que adentrou no estabelecimento réu junto com outros menores e acompanhados de uma responsável maior, sofrendo queda na borda da piscina, o que ocasionou seu óbito Socorro devidamente prestado pelos prepostos da ré - Culpa exclusiva da autora Dever de guarda e vigilância que é dos genitores - Afastada a responsabilidade indenizatória, diante ausência de nexo causal entre qualquer conduta da ré e os danos sofridos pelas autoras Improcedência da ação - Sentença confirmada Verba honorária majorada, em atendimento ao artigo 85, parágrafo 11º do CPC - RECURSO NÃO PROVIDO, com observação. Trata-se de ação de indenização por danos morais e materiais julgada improcedente pela r. sentença de fls. 271/277, de relatório adotado. Apelam as autoras alegando ter havido culpa da ré para a ocorrência do evento, pois permitiram a entrada do menor desacompanhado de pessoa responsável, o que ocasionou a sua queda na piscina do clube, levando-o ao óbito; pleiteiam, assim, indenização por danos morais e materiais a título de pensão de alimentos futuros; pedem a reforma da decisão (fls. 280/309). Contrarrazões (fls. 313/318). A d. Procuradoria Geral de Justiça, em seu parecer, opinou pelo não provimento do recurso (fls. 328/330). Apelação nº Voto nº

3 É o relatório. Alegam as autoras, genitora e irmã menor do falecido, que ele e seus amigos adentraram nas instalações do clube réu sem qualquer autorização de pessoa responsável por eles, para nadar na piscina existente, vindo a se afogar e posteriormente, vindo a óbito, o que lhes gerou danos irreparáveis, tanto morais como materiais, pretendendo, assim, serem indenizadas. A ré alegou que o falecimento do menor foi decorrente de edema cerebral, e não por afogamento, diante pulo mortal efetuado próximo da borda da piscina, e atendido imediatamente pelo salva-vidas, que prestou os primeiros socorros e chamando em seguida a ambulância. Acrescenta que todos os menores adentraram com autorização de adulto responsável que os acompanhava, tendo atendido às normas de segurança exigidas, não havendo configuração de qualquer negligência de sua parte. A r. sentença julgou improcedente a ação, ausente nexo de causalidade entre algum ato culposo por parte da ré e os apontados danos sofridos pelas autoras. Daí o apelo das autoras. Trata-se de pretensão reparatória pela morte de menor, filho e irmão das autoras, em decorrência de edema cerebral ocasionado pelo salto realizado pelo menor na borda da piscina do clube réu, que teria autorizado a sua entrada desacompanhado de qualquer responsável legal. Ocorre que não se verifica dos autos qualquer nexo de causalidade entre qualquer conduta imputada à ré e o evento ocorrido. Como bem apontado pelo i. Procurador de Justiça, a alegada não identificação da pessoa maior que teria autorizado o infante a ingressar nas dependências do clube, do qual não era sócio, não se erige em questão fundamental para o estabelecimento de culpa do requerido, porque o dever primário de cuidar dos filhos é dos pais, e, simplesmente, deles. Mais ainda, a causa da morte do menor foi a queda de sua própria altura, resultado em edema cerebral, que poderia ter como palco qualquer ambiente, e não afogamento. Por fim, o socorro prestado ao menor pelo clube mostrou-se correto, sem que se possa apontar qualquer desídia. (fls. 329) (grifo no original). Como bem observa também o i. promotor de justiça, não gostaria de formular a seguinte observação, mas me sinto obrigado a fazê-lo: a mãe da vítima, na inicial, admite que sequer sabia onde o filho se encontrava (fls. 03). Ora, como é possível que uma criança, que contava apenas oito anos de idade, fique solta à rua, sem que a mãe nem mesmo saiba de seu Apelação nº Voto nº

4 paradeiro? (fls. 260). Em realidade, embora de se lamentar o ocorrido, negligente foi a autora quanto aos cuidados com seu filho, pois o dever de cuidado e vigilância é dos genitores, não se podendo, por conta de sua efetiva desídia, responsabilizar o terceiro. Egrégio Tribunal de Justiça: Nesse sentido, na jurisprudência deste Apelação. Ação de indenização por danos morais. Sentença de improcedência da ação. Inconformismo do autor. Criança de quatro anos que sofreu lesão no olho esquerdo ao se chocar com uma gôndola no interior do estabelecimento comercial da ré, sem sequelas. Descuido da mãe. O dever de vigilância que compete aos pais não pode ser transferido para o estabelecimento comercial. Precedentes deste E. TJSP. Ausência de culpa concorrente da loja. Excludente de responsabilidade prevista no art. 14, 3º, inciso II, do CDC. Inexistência de nexo de causalidade. Sentença mantida. Recurso desprovido. (8ª Câmara D. Privado, Apelação cível nº , Rel. Des. Pedro de Alcântara da Silva Leme Filho, j , v.u.); INDENIZAÇÃO. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL. INOCORRÊNCIA. QUEDA DE ARMÁRIO SOBRE O AUTOR. ACIDENTE SOFRIDO DURANTE PERÍODO DE HOSPITALIZAÇÃO. AUSÊNCIA DE ILICITUDE DE COMPORTAMENTO DA PARTE RÉ. INSTRUÇÃO PROCESSUAL QUE COMPROVA QUE O DEMANDANTE, EM QUE PESE SE ENCONTRAR EM PERÍODO DE CONVALESCENÇA, NÃO ESTAVA EM SEU LEITO. ARMÁRIO QUE NÃO POSSUÍA DIMENSÃO SUFICIENTE PARA ALCANÇAR A CAMA DO REQUERENTE. VERSÃO SOBRE O ACIDENTE ALEGADA NA INICIAL QUE NÃO SE SUSTENTA. AUTOR QUE ESTAVA ACOMPANHADO DE SUA GENITORA, QUE FALTOU COM O DEVER DE VIGILÂNCIA. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. (6ª Câmara D. Privado, Apelação cível nº , Rel. Des. Vito Guglielmi, j , v.u.); Ação de indenização por danos morais. Acidente ocorrido com menor de idade, coautor, no espaço de festas infantis do estabelecimento da ré. Criança que brincava sozinha. Dever de vigilância dos pais, também coautores. Ausência de nexo causal entre o Apelação nº Voto nº

5 evento danoso e a conduta da ré. Inexistência de dano moral indenizável. Sentença de improcedência mantida (art. 252, RITJSP). Apelação desprovida. (10ª Câmara D. Privado, Apelação cível nº , Rel. Des. Cesar Ciampolini, j , v.u.). Por fim, a verba honorária comporta majoração em prol dos patronos do apelado para R$ 3.500,00 (três mil e quinhentos reais), que se adequa ao grau de zelo do profissional, o lugar da prestação do serviço, a natureza e a importância da causa e o trabalho realizado pelo causídico e o tempo exigido para o seu serviço, observado o disposto no parágrafo 8º do artigo 85 do Código de Processo Civil, levando-se em conta, ainda, o trabalho adicional realizado em grau recursal, a teor do disposto no parágrafo 11º do citado dispositivo legal, observada a gratuidade judiciária concedida às autoras. Assim, cumpre a integral manutenção da r. sentença, inclusive por seus próprios e jurídicos fundamentos, observada a majoração da verba honorária em prol da parte recorrida. recurso, com observação. Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO ao ELCIO TRUJILLO Relator Assinado Digitalmente Apelação nº Voto nº