A INTERFERÊNCIA DA FIBROMIALGIA NO DESEMPENHO OCUPACIONAL INTRODUÇÃO Ádila Siqueira de Basto Lima Wilkelane Ferreira da Silva Marcela Medeiros Melo Mirella Oliveira Barata Thayane de Cácia Brito A fibromialgia não era bem definida enquanto entidade clinica e na década de 70 foi mais explorada, então em 1977 foi introduzido o conceito da fibromialgia a partir da descrição de sítios anatômicos com exagerada sensibilidade dolorosa, denominados tender points, nos portadores desta moléstia, (JUNIOR, 2012). Anjos, 2011, estima que a fibromialgia atinja 2% da população mundial. Tendo alta incidência na população feminina, ocorrendo na proporção de 9 mulheres para 1 homem, com idade predominante de 30 a 50 anos. A etiologia e a fisiopatologia da fibromialgia permanecem desconhecidas, sendo mais aceita a hipótese fisiopatológica de que o distúrbio primário para a síndrome seria uma alteração em algum mecanismo central de controle da dor, o qual poderia resultar de uma disfunção de neurotransmissores. Em relação à fisiopatologia também é indicado que o eixo hipófise-hipotálamo-adrenal pode desempenhar um papel importante na mediação e na perpetuação dos sintomas da fibromialgia. (JUNIOR, 2012). A síndrome pode variar desde sintomas leves até casos em que as dores, fadiga e depressão sejam tão intensas que impeçam o desempenho das atividades. A incapacidade funcional dos doentes de fibromialgia reflete-se diretamente no desempenho ocupacional, (BERBER, 2004). METODOLOGIA Trata-se de uma revisão bibliográfica, na qual os dados foram colhidos a partir de artigos científicos disponíveis na biblioteca virtual em saúde, e na base de dados SciELO, como também em livros literários da área, publicados a partir de 2004, na língua portuguesa. Os descritores utilizados para a pesquisa foram: Atividades cotidianas, Fibromialgia, Terapia Ocupacional. 89
OBJETIVOS Objetivo geral Identificar as repercussões da fibromialgia no desempenho ocupacional. Objetivos específicos Caracterizar a síndrome da fibromialgia; Nomear as áreas de desempenho comprometidas pela síndrome e suas respectivas atividades; Descrever a intervenção do terapeuta ocupacional na fibromialgia. RESULTADOS/DISCUSSÃO 1. Quadro Clínico Os sintomas da fibromialgia podem ser fadiga, dor contínua, distúrbios do sono, rigidez matinal de curta duração, sensação de edema, dormência e formigamento nos membros, problemas circulatórios e intolerância ao frio. A relação com outras síndromes pode ocorrer com a depressão, a ansiedade, a cefaleia crônica e a síndrome do cólon irritável, (MARTINEZ, 2009). O diagnóstico é geralmente clínico, pois até o momento não existe nenhum exame laboratorial específico como prova diagnóstica para a fibromialgia, (JUNIOR, 2012). Para Resende, 2009, pacientes femininas com fibromialgia se mostram mais inseguras, fragilizadas e com baixa auto-estima, com um aumento de sentimentos de culpa, frustração, irritabilidade e raiva. Todos esses sentimentos podem levar a depressão.em uma pesquisa realizada por Berber em 2005, obteve-se que dois terços da amostra com fibromialgia apresentaram algum grau de depressão. Dentre os diversos sinais e sintomas que o paciente fibromiálgico apresenta, o quadro de dor crônica pode causar sofrimento persistente ao paciente, gerando alterações psicoativas que afetam a percepção do indivíduo quanto ao seu bem-estar e qualidade de vida, interferindo de forma negativa na realização de suas atividades cotidianas, (ANJOS, 2011). 90
Como já visto, o desempenho ocupacional pode ser prejudicado pela sintomatologia da fibromialgia, este engloba três áreas de desempenho ocupacional, são elas a área de atividades de vida diária, área de atividades produtivas e a área de atividades de lazer, (RESENDE, 2009). Segundo Ferreira, 2005, a maioria das pessoas com fibromialgia evitam o cumprimento das Atividades de Vida Diária, como arrumação, vestir-se, higiene pessoal e mobilidade na comunidade. As Atividades Produtivas podem está prejudicadas no controle domiciliar (fazer compras, limpeza, cuidado com roupas e preparação das refeições) e em atividades vocacionais. 2. Tratamento O tratamento não é totalmente efetivo e se dá em uma equipe multidisciplinar, e de caráter individualizado, inclui medidas farmacológicas e não farmacológicas. Há indícios de que as atividades físicas beneficiem os pacientes desta síndrome, trazendo melhoras físicas e psicológicas, porém não há consenso acerca da modalidade e frequência mais indicada. São muito variadas as formas de exercícios aeróbicos estudados (caminhadas, marchas, bicicleta, remo etc.), assim como outros tipos de exercícios (alongamentos, exercícios isométricos, isocinéticos, entre outros de fortalecimento muscular), e variadas modalidades de hidroterapia (exercícios respiratórios aquáticos, hidroginástica, natação, entre outros). Também foi encontrada uma grande diversidade nos métodos de reabilitação como, por exemplo, coping, biofeedback, educação familiar, terapia cognitivo-comportamental, técnicas manipulativas e de relaxamento, (JUNIOR, 2012). 3. Intervenção Terapêutica Ocupacional A Terapia Ocupacional, sendo uma ciência e uma profissão de reabilitação, preocupa-se em capacitar os indivíduos a atingir o máximo de potencial de desempenho das suas funções nas atividades, (BUCKNER, 2004). Para isto, o terapeuta ocupacional inicialmente deve realizar uma avaliação para verifica o perfil ocupacional do paciente, compreendendo aspectos gerais de sua saúde, de sua história de vida, interesses, sua ocupação profissional, seu desempenho funcional eocupacional nas atividades cotidianas e suas perspectivas com relação à doença. 91
Instrumentos padronizados também são utilizados, porém o terapeuta ocupacional deve considerar os fatores culturais, psicológicos e sociais do paciente, (ANJOS, 2011). Cabe a esse profissional analisar não só as limitações, mas também as capacidades remanescentes do paciente. (CARLO, 2004). A intervenção do terapeuta ocupacional está baseada em métodos de proteção articular e conservação de energia. Estes métodos têm o intuito de reduzir o estresse e a dor nas articulações, preservando a integridade das estruturas articulares. Os princípios da proteção articular são: - Respeitar a dor, considerando-a um sinal de que a atividade deve ser interrompida; - Balancear atividade e repouso; - Manter a força muscular e a amplitude articular; - Poupar energia; - Evitar posições de deformidade; - Usar as articulações maiores e mais fortes; - Usar cada articulação em seu plano anatômico-funcional mais estável; - Evitar ficar na mesma posição por muito tempo; - Evitar atividades que não podem ser interrompidas; - Usar adaptações e órteses. (CARLO, 2004) Ainda de acordo com as técnicas de proteção articular e a conservação de energia são feitas mudanças no cotidiano do paciente (atividades de autocuidado, trabalho e lazer) e podem ser necessárias, modificações ambientais, adaptações das ferramentas ou dos instrumentos utilizados no cotidiano, (CARLO, 2004). Seguem imagens destas técnicas de acordo com Noordhoek, 2005. 92
O melhor tratamento das contraturas e deformidades é a prevenção. Quanto mais precocemente o uso de órteses, alongamento e movimentação passiva, mais facilmente o processo de instalação dessas contraturas e deformidades pode ser reduzido, retardado ou prevenido, (CARLO, 2004). O plano de reabilitação também deve visar a educação do paciente, pois ele igualmente responsável pelo seu tratamento. Seja no ambiente hospitalar ou no domiciliar a colaboração do paciente é primordial, (CARLO, 2004). CONCLUSÃO A fibromialgia é uma síndrome crônica, caracterizada pela ocorrência de dor músculo-esquelética difusa pelo corpo, com pontos dolorosos (tender points) à palpação, de etiologia desconhecida. A prevalência da fibromialgia aumenta com a idade, acometendo mais mulheres. Esta síndrome pode estar associada à depressão e baixa qualidade de vida afetando o desempenho ocupacional do indivíduo. 93
O tratamento da fibromialgia é multiprofissional, com medidas farmacológicas e não farmacológicas, a atividade física esta demonstrando ser eficaz neste processo. A intervenção terapêutica ocupacional é justificada pelo afastamento ou menor desempenho das atividades cotidianas destes pacientes. Esta intervenção é iniciada com a avaliação, é preciso que o profissional considere os aspectos biopsicossociais, as medidas mais comumente empregadas são as de conservação de energia e proteção articular, adaptações, o uso de órteses, alongamento e movimentação passiva. Essa intervenção pode ser no ambiente hospitalar ou doméstico. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANJOS, R. G. B.; CASSAPIAN, M. R.; A Intervenção Terapêutica Ocupacional Junto a Pacientes com Fibromialgia. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, São Carlos, v. 19, n.1, p. 71-80, Jan/Abr2011 BECKER, R. M. R.et al, Interação entre Qualidade do Meio Ambiente, Estresse e a Variação do Gene APOE na Determinação à Suscetibilidade da Fibromialgia. RevBrasReumatol,50(6):617-30, 2010. BERBER, J. S. S. et al, Prevalência de Depressão e sua Relação com a Qualidade de Vida em Pacientes com Síndrome da Fibromialgia. RevBrasReumatol, v. 45, n. 2, p. 47-54, mar./abr., 2005. BUCKNER, W. S.; Artrite, apud PEDRETTI, L. W; EARLY, M. B; Terapia Ocupacional: Capacidades Práticas para as Disfunções Físicas. São Paulo, Roca, 5º ed., p.847-874, 2004. CARLO, M. M. P. et al, Terapia Ocupacional em Reumatologia: Princípios e Perspectivas, apud CARLO, M. M. P.; LUZO, M. C. M.; Terapia Ocupacional: Reabilitação Física e Contextos Hospitalares. São Paulo, Roca, p. 153-181, 2004. EARLY, M. B.; Desempenho Ocupacional, apud PEDRETTI, L. W; EARLY, M. B; Terapia Ocupacional: Capacidades Práticas para as Disfunções Físicas. São Paulo, Roca, 5º ed., p. 125-131, 2004. FERREIRA, E. A. G. et al, Fibromialgia, apud CHIARELLO, B.; DRIUSSO, P.; RADL, A. L. M.; Fisioterapia Reumatológica. São Paulo, Manole, p. 148-164, 2005. JUNIOR, M.H.; GOLDENFUM, M.A.; SIENA, C. A. F.; Fibromialgia: aspectos clínicos e ocupacionais. RevAssocMed Bras.Vol. 58, n.3, p.358-365, 2012. MARTINEZ, J. E. et al, Correlação entre a Contagem dos Pontos Dolorosos na Fibromialgia com a Intensidade dos Sintomas e seu Impacto na Qualidade de Vida. RevBrasReumatol. 49(1):32-8, 2009. NOORDHOEK, J; LOSCHIAVO, F. Q.; Intervenção da Terapia Ocupacional no tratamento de indivíduos com doenças reumáticas utilizando a abordagem de proteção articular. RevBrasReumatol, v. 45, n. 4, p. 242-44, jul./ago., 2005. RESENDE, M. J. P.; FERREIRA, D. M.; Desempenho Ocupacional e Fibromialgia:Intervenção em Equipa Multidisciplinar, Contributo da Terapia Ocupacional. VII Tese de Mestrado em Saúde. Lisboa, 2009. 94