16 Congresso de Iniciação Científica

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Transcrição:

16 Congresso de Iniciação Científica CONSTRUÇÃO DE UMA TEORIA DO LAZER A PARTIR DOS AUTORES CLÁSSICOS AS CONTRIBUIÇÕES DE ADORNO, T.W., HORKHEIMER, M., MARCUSE, H., BENJAMIN, WALTER Autor(es) RENATA MORAIS DO NASCIMENTO Orientador(es) NELSON CARVALHO MARCELLINO Apoio Financeiro PIBIC/CNPq 1. Introdução O estudo das questões que envolvem as atividades físico-esportivas em particular, e de lazer, de modo geral, ainda mais quando aquelas são consideradas como conteúdos culturais do lazer, apesar dos avanços verificados nos últimos anos, encontram, ainda hoje, uma série de barreiras nos meios acadêmicos, até mesmo em algumas Faculdades de Educação Física, por mais que elas venham ganhando importância na nossa sociedade. Os dois termos são carregados de preconceitos, e a alegação mais freqüente para a reserva, no seu tratamento, diz respeito a um pretenso caráter supérfluo dessas atividades, tendo em vista a nossa situação sócio-econômica, e a sua utilização como instrumento ideológico, contribuindo para o mascaramento das condições de dominação social. No entanto, não é possível negar, apesar de todas as relativizações que possam ser feitas, que as atividades físico-esportivas, no campo do lazer, vêm se firmando em setores significativos da nossa sociedade contemporânea. Com isso, não se está afirmando que as atividades físico-esportivas ocorrem de maneira exclusiva no campo do lazer, mas tão somente que, considerando o estilo de vida gerado pelo nosso sistema de produção, esse campo não pode deixar de ser levado em conta nos estudos sobre a Educação Física. Assim, mesmo reconhecendo a importância da consideração das relações entre Educação Física e Lazer, é preciso enfatizar que elas constituem apenas um dos aspectos entre os vários a serem observados nas discussões que envolvem cada um desses temas. Integrando a cultura em seu sentido amplo - e em constante relação com a sociedade -, o lazer como necessidade humana sempre existiu, adquirindo contornos distintos ao longo da história. Hoje em dia, adquire características de mercadoria vendida no mercado do entretenimento, mas pode ser visto também como elemento de denúncia da realidade opressora, além de anúncio de novas possibilidades de vida. Assim, o lazer é, portanto, entendido como a cultura compreendida em seu sentido mais amplo, vivenciada 1/5

no tempo disponível. É fundamental como traço definidor, o caráter desinteressado dessa vivência. Ou seja, não se busca, pelo menos basicamente, outra recompensa além da satisfação provocada pela própria situação. A disponibilidade de tempo significa possibilidade de opção pela atividade ou pelo ócio (MARCELLINO, 2004). Chega-se esse entendimento após a análise da polêmica verificada entre os estudiosos do assunto, com relação ao peso dos aspectos tempo e atitude, na caracterização do lazer, na sociedade contemporânea urbano-industrial. É importante ressaltar, também, que o entendimento do lazer não é efetuado em si mesmo, mas como uma das esferas de ação humana historicamente situada. Outras opções implicariam na colocação apenas parcial e abstrata das questões aqui analisadas (MARCELLINO, 2004). A noção de cultura deve ser entendida em sentido amplo, consistindo... num conjunto de modos de fazer, ser, interagir e representar que, produzidos socialmente, envolvem simbolização e, pôr sua vez, definem o modo pelo qual a vida social se desenvolve (MACEDO, in VALLE e QUEIROZ, 1982). Implica, assim, no reconhecimento de que a atividade humana está vinculada à construção de significados que dão sentido à existência. A análise da cultura, pois, não pode ficar restrita ao produto da atividade humana, mas tem que considerar também o processo dessa produção - o modo como esse produto é socialmente elaborado (Idem). Importa ressaltar, também, que o entendimento do lazer não pode ser efetuado em si mesmo, mas como uma das esferas de ação humana historicamente situada. Outras opções implicariam na colocação apenas parcial e abstrata das questões relativas ao lazer. É impossível, por exemplo, abordar as questões do lazer isoladas das questões do trabalho, ou da educação. De fato, a observação da prática do lazer na sociedade moderna é marcada por fortes componentes de produtividade. Valoriza-se a performance, o produto e não o processo de vivência que lhe dá origem; estimula-se a prática compulsória de atividades denotadoras de moda ou status. Além disso, o caráter social requerido pela produtividade, confina e adia o prazer para depois do expediente, fins de semana, períodos de férias, ou mais drasticamente, para a aposentadoria. No entanto, isso tudo não nos permite ignorar a ocorrência histórica do lazer, inclusive também como conquista da classe trabalhadora (Idem). Analisar a contribuições de quatro autores importantes, da chamada Escola de Frankfurt, contribui para o enriquecimento da Teoria do Lazer. 1 Chega-se esse entendimento após a análise da polêmica verificada entre os estudiosos do assunto, com relação ao peso dos aspectos tempo e atitude, na caracterização do lazer, na sociedade contemporânea urbano-industrial. É importante ressaltar, também, que o entendimento do lazer não é efetuado em si mesmo, mas como uma das esferas de ação humana historicamente situada. Outras opções implicariam na colocação apenas parcial e abstrata das questões aqui analisadas (MARCELLINO, 2004). A noção de cultura deve ser entendida em sentido amplo, consistindo... num conjunto de modos de fazer, ser, interagir e representar que, produzidos socialmente, envolvem simbolização e, pôr sua vez, definem o modo pelo qual a vida social se desenvolve (MACEDO, in VALLE e QUEIROZ, 1982). Implica, assim, no reconhecimento de que a atividade humana está vinculada à construção de significados que dão sentido à existência. A análise da cultura, pois, não pode ficar restrita ao produto da atividade humana, mas tem que considerar também o processo dessa produção - o modo como esse produto é socialmente elaborado (Idem). 2. Objetivos Destacar e analisar a contribuição dos autores da Escola de Frankfurt, especificamente ADORNO, HORKHEIMER, MARCUSE e BENJAMIN, para a formulação da Teoria do lazer, e, contribuir para o embasamento teórico de projetos que estudem as relações entre lazer e cultura e lazer e sociedade, bem como projetos de ação, na área. 2/5

3. Desenvolvimento Pesquisa bibliográfica, efetuada nos sistemas de bibliotecas da UNICAMP E UNIMEP, e com auxílio de outras ferramentas disponíveis, que buscou verificar a contribuição das principais obras dos autores clássicos ADORNO, HORKHEIMER, MARCUSE e BENJAMIN, para a construção de uma possível Teoria do Lazer, buscando o embasamento teórico de projetos que estudem as relações entre lazer e cultura e lazer e sociedade, bem como projetos de ação na área. Foram selecionados os principais escritos dos autores. Os autores foram selecionados pela sua importância, como representantes da Escola de Frankfurt, e a análise de autores será complementada por outros projetos de Iniciação Científica, que fazem parte do projeto-mãe. As obras selecionadas foram lidas e analisadas por análise textual, temática, interpretativa e crítica (SEVERINO, 1980). 4. Resultado e Discussão Escola de Frankfurt é a nomenclatura comumente utilizada para se referir a um grupo de pensadores que integraram o Instituto Para Pesquisa Social, fundado no início da década de 1920, em Frankfurt, Alemanha. Seus nomes mais destacados são os de ADORNO, HORKHEIMER, MARCUSE e BENJAMIN. A partir da leitura da crítica que esses autores fizeram à sociedade e à cultura contemporânea é possível visualizar elementos importantes sobre a temática do lazer tal como inserido na sociedade então criticada. Benjamin, em Reflexões sobre a criança, o brinquedo e a educação (1984), critica a forma como o adulto se intromete nos momentos de lazer infantil. Segundo o autor, acreditando que a brincadeira da criança tem seu conteúdo imaginário retirado do brinquedo, o adulto produz aquilo que imagina ser adequado. Para ele, ninguém melhor que a própria criança para produzir seus próprios brinquedos e elaborar suas brincadeiras, pois, ao contrário do que se pensa, é a imaginação infantil que determina o conteúdo da brincadeira e a utilização do brinquedo. O segundo ponto importante de sua crítica diz respeito à tentativa de incluir o lúdico na literatura infantil e na educação. Benjamin critica o tratamento dado às crianças, de forma infantil, com o objetivo de aproximar-se destas. Considera isto patético, cômico: A criança exige do adulto uma representação clara e compreensível, mas não infantil. Muito menos aquilo que o adulto costuma considerar como tal. (BENJAMIN, 1984). Porém, elogia a forma como o tratamento dos textos e imagens, feitos de forma clara e compreensível, fazem com que a criança se divirta e seja estimulada a aprender de forma agradável. Segundo o autor, é o lúdico que faz com que o hábito entre na vida do indivíduo. Em A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica (1995), Benjamin aborda o chama de teses sobre as tendências evolutivas da arte, nas atuais condições produtivas, que seriam as inovações e possibilidades no campo da arte, esta então no contexto em que reproduzida de forma técnica, com o aparecimento de novas formas de manifestações artísticas, como exemplo a fotografia e o cinema. Benjamin afirma que a reprodução técnica, que teria modificado a forma de produção e recepção da arte, bem como eliminando a aura que existia nas obras tradicionais, tornaria a arte menos distante e mais acessível. Na medida em que a arte não tem mais função de culto e encontra-se próxima e acessível às massas, teria um valor revolucionário. A atitude revolucionária e crítica das massas dar-se-iam por meio da diversão e da distração. A tese de Benjamin foi refutada por Adorno e Horkeimer, como visto em A Indústria Cultural: O Esclarecimento como Mistificação das Massas, parte integrante da obra Dialética do Esclarecimento (1985), na qual o termo Indústria Cultural denuncia o que antes seria arte e tornou-se técnica, sendo produzida a nível comercial e autoritário, como forma de adaptar a mercadoria às massas, bem como as massas às mercadorias. Seria dominação por meio da disseminação de produtos padronizados, destinados 3/5

ao consumo das massas, como se tivessem que satisfazer necessidades iguais. Essa padronização aceita sem resistência, culminaria na falta de autonomia dos indivíduos, e na sua dominação inconsciente. Adorno e Horkheimer diagnosticam a indústria cultural agindo nos momentos de lazer, reprimindo inconscientemente as liberdades individuais, padronizando e conformando as massas, condicionando-as ao mundo do trabalho. Adorno, em Prismas Crítica Cultural e Sociedade (1998), fala de uma sociedade opressora, altamente competitiva tendo em vista o mercado -, repressora das liberdades individuais. Os indivíduos seriam indivíduos massificados mesmo que inconscientemente e a cultura, mercantilizada como todas as esferas da vida humana, padronizada a toda a sociedade. Para Adorno, em sua sociedade contemporânea há um padrão estabelecido, ao qual dificilmente se oferece resistência, e mesmo os poucos que tentam resistir não podem esquivar-se totalmente das características da cultura e sociedade de que fazem parte. Segundo Adorno o indivíduo estaria incluído numa sociedade que seu senso crítico não teria importância, ou pior, estaria aprisionado. O entretenimento seria então uma forma de extensão da dominação, aqui de forma inconsciente, no tempo livre, nos momentos de lazer, atuando enquanto forma de desviar o pensamento e a atenção do indivíduo. Já em Tempo Livre (1995), Adorno destaca que a expressão tempo livre indicaria a existência de um tempo não-livre. Essa divisão do tempo subjugaria, quase totalmente, o tempo livre ao tempo de trabalho. O autor fala de funções sociais que definem as pessoas até mesmo em seu tempo livre, causando assim uma dificuldade em estabelecer, de forma geral, o que resta nas pessoas, além do determinado pelas funções. Isso pesa muito sobre a questão do tempo livre (ADORNO, 1995). Negando a validade do tempo dividido em duas metades, um vinculado ao outro, Adorno defende que tempo livre deveria ser o tempo que o indivíduo tem por benefício, e não privilégio, para decidir, escolher e organizar segundo suas próprias vontades. Porém, segundo o autor, isso só seria possível em pessoas emancipadas, não naquelas subordinadas a uma realidade social na qual o tempo livre é uma sombra do trabalho. Já Marcuse, em A Ideologia da Sociedade Industrial (1982), afirma que a sociedade industrial, pela forma como é organizada para se manter em desenvolvimento, destrói as necessidades individuais na medida em que as necessidades políticas da sociedade se tornam as aspirações individuais. Isso acontece porque a lógica imposta é de que vale a pena suprimir o desejo individual, por aquilo que supostamente seria melhor para a sociedade como um todo. O fato de essa realidade ser aceita como razão, faz com que toda liberdade seja suprimida e a própria noção de liberdade, invertida. Sob esta ótica, o lazer é parte integrante inseparável das características da sociedade industrial. Assim, segundo Marcuse, as atividades praticadas como lazer, sejam elas atividades em grupo ou individuais, estão regidas pela sociedade, dominadas por seus interesses, manipuladas como meio de manutenção da dominação estabelecida. Em Eros e Civilização (1968), obra em que Herbert Marcuse, faz uma interpretação filosófica do pensamento de Freud, é feito um diagnóstico da chamada Sociedade Moderna semelhante ao que analisamos em A Ideologia da Sociedade Industrial O Homem Unidimensional (1982). Para Marcuse, o lazer, inserido no contexto da sociedade moderna, é o curto tempo livre dos indivíduos, no qual estes teriam o direito ao prazer. Porém, esse tempo livre é apenas uma parte menor na divisão do tempo diário, e ainda sofre com formas conscientes e inconscientes de controle nas quais o individuo é levado a desejar aquilo que se crê que deve desejar, e acreditar que são desejos autônomos. O autor afirma que a Indústria do Entretenimento controla diretamente o tempo de lazer. A observação do lazer concreto, tal como se manifesta, notadamente nas sociedades contemporâneas mais desenvolvidas, marcado, tanto quanto o trabalho, pela alienação e por conceitos de produtividade, faz com que os autores critiquem as duas esferas de atividade humana - o trabalho e o lazer. Destacando a produtividade, ligada ao princípio de desempenho como um dos mais protegidos valores da cultura moderna, Marcuse contrapõe-lhe a idéia do jogo: o jogo é improdutivo, é inútil precisamente porque anula as características repressivas e exploradoras do trabalho e do lazer. Em A Ideologia da Sociedade Industrial (1982), centrado na análise das tendências das sociedades contemporâneas mais altamente desenvolvidas, o mesmo autor distingue o lazer do tempo livre, cuja restrição é por ele considerada um dos fatores da ausência de liberdade no Estado de Bem Estar Social, argumentando que as horas de lazer vicejam na sociedade industrial desenvolvida, mas não são livres desde que são administradas pelos 4/5

negócios e pela política (MARCUSE, 1982). 5. Considerações Finais Conclui-se que os autores contribuem, dentro do contexto em que viveram e produziram suas obras, para a constituição de uma Teoria sobre o Lazer. O ponto que os une, nas obras investigadas, é notadamente a difusão e criação da cultura, e suas relações com a chamada indústria cultural. Os pontos divergentes dizem respeito à análise mais pessimista ou otimista no que diz respeito à contribuição da chamada "indústria cultural" para a emancipação humana, diante do quadro que se apresentava. Referências Bibliográficas ADORNO, T. W. Palavras e Sinais. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.. Prismas/ Crítica Cultural e Sociedade. São Paulo, Àtica, 1998. BENJAMIIN, W. Reflexões sobre a criança, o brinquedo e a educação. São Paulo, Summus, 1984.. Obras escolhidas. São Paulo, Brasiliense, 1995. HORKHEIMER, M.; ADORNO, T. W. Dialética do Esclarecimento: fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, Ed., 1985. MACEDO, C.C. Cultura In : VALLE, E. & QUEIROZ, J. (orgs.). A cultura do povo. São Paulo, EDUC, 1982. MARCELLINO, N.C. Lazer e educação.11ª. ed., Campinas, Papirus, 2004. SEVERINO, A.J. Metodologia do trabalho científico. São Paulo. Cortez, 1980. MARCUSE, H. Eros e Civilização, Rio, Zahar, 1968..A ideologia da sociedade industrial, 6ª ed., Rio de Janeiro, Zahar,1982. 5/5