Análise de um polo gerador de tráfego, edifício misto (lojas comerciais e de escritórios) de Belo Horizonte



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Transcrição:

Planejamento e concepção de sistemas / PGTs AN P Análise de um polo gerador de tráfego, edifício misto (lojas comerciais e de escritórios) de Belo Horizonte Túlio Silveira Santos E-mail: tulio.santos@transportes.mg.gov.br Ronaldo Guimarães Gouvêa E-mail: ronaldo@etg.ufmg.br Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG. Departamento de Engenharia de Transportes e Geotecnia - DETG O presente artigo trata da utilização do modelo de quatro etapas de modo a inferir sobre a avaliação do impacto na circulação viária ocasionado por um empreendimento misto composto de lojas comerciais e de escritórios. Será desenvolvido para o empreendimento denominado Edifício Comercial Matias Cardoso que está sendo implantado na rua Matias Cardoso, no bairro Santo Agostinho em Belo Horizonte. A previsão da demanda gerada pelo empreendimento é fundamental, seja para estabelecer a sua viabilidade financeira, seja para dimensionar suas instalações, seja também para definir as necessidades de espaço viário e de serviços de transportes, indispensáveis para os deslocamentos e as viagens adicionais ao local (Portugal & Goldner, 2003). Segundo Clemente (1994), o porte do empreendimento define a capacidade de produção de bens e/ou serviços que determinam um máximo de atendimento da demanda e, consequentemente, o total de viagens geradas e atraídas. O procedimento clássico para planejamento de transportes para essa região compreende inicialmente uma coleta de dados. De posse dos mesmos, parte-se para a fase de identificação da demanda futura de tráfego, utilizando-se para isto o modelo de quatro etapas que cumpre as funções de estimar a demanda de tráfego gerado, distribuí-la no espaço geográfico, dividi-la entre os modos de transporte disponíveis e alocá-la na rede de transporte, respectivamente. O relatório de impacto na circulação do empreendimento estudado visa avaliar o alcance e a intensidade dos impactos potenciais da implantação do empreendimento no sistema viário em sua área de influência. Com esta avaliação é possível ainda conceber as medidas mitigadoras e/ou compensatórias necessárias, caso os impactos sejam capazes de reduzir, de forma indesejável, a qualidade da circulação urbana nessa área. O artigo está estruturado da seguinte maneira: o item 1 apresenta o perfil do empreendimento, enquanto que a análise da capacidade da infraestrutura viária e do nível de serviço são feitas no item 2. No item 3, é feita a análise da circulação na área de influência na situação atual, sem o empreendimento. A previsão da demanda futura de tráfego, o cálculo das viagens adicionais ao sistema viário e a distribuição dos fluxos e alocação do tráfego adicional são descritos nos itens 4, 5 e 6, respectivamente. Os impactos gerados pelo empreendimento são feitos no item 7, seguindo-se as conclusões. Perfil do empreendimento Localização O empreendimento denominado Edifício Comercial Matias Cardoso está sendo implantado na rua Matias Cardoso, no bairro Santo Agostinho. O seu quarteirão é delimitado pela rua Ouro Preto e a rua Araguari na região central do município de Belo Horizonte. O empreendimento será construído perto de grandes corredores de tráfego e polos comerciais da região, o que garante uma grande acessibilidade principalmente no que tange aos sistemas de transporte público. O empreendimento comercial Matias Cardoso ocupará um terreno com uma área total de 1.680,00 m 2 sendo que o prédio terá 13.598,42 m 2 de área construída e 5.039,92 m 2 de área líquida. O prédio contará com um subsolo e um total de 12 pavimentos. Desse total de pavimentos, um será utilizado como loja, outro como pilotis, quatro como estacionamentos e seis como pavimentos comerciais além do andar técnico. Caracterização da área de influência A área de influência, do ponto de vista da circulação urbana, é aquela em cujos trechos e interseções os impactos decorrentes da operação do empreendimento são potencialmente significativos. Levando-se em conta a distribuição espacial da demanda e a atual configuração físicooperacional do sistema viário da região, delimitou-se a área de influência, do ponto de vista da circulação urbana, na qual se analisarão os impactos advindos do funcionamento do empreendimento. A figura 1 ilustra a localização do empreendimento assim como sua área de influência. De acordo com a Lei n 7.166, de 27/08/1996 e a Lei n 8.137, de 21/12/2000, de parcelamento, ocupação e uso do solo urbano do município de Belo Horizonte, o empreendimento será implantado na zona central de Belo Horizonte. As zonas centrais, conforme essa mesma lei, 71 72

Figura 1 Área de influência do empreendimento são regiões nas quais é permitido maior adensamento demográfico e maior verticalização das edificações, em razão de infraestrutura e topografia favoráveis e da configuração de centro. Ainda de acordo com a lei municipal, o empreendimento será acessado por vias classificadas como arteriais favorecendo a acessibilidade ao edifício tanto por meios individuais como pelo sistema público de transporte coletivo. Das vias que dão acesso à área, em relação a macroacessibilidade, foram criadas rotas de chegada e de saída ao empreendimento considerando a atual configuração físico-operacional do sistema viário da região, conforme ilustra a figura 2. Figura 2 Rotas de chegada e de saída ao empreendimento Análise da capacidade da infraestrutura viária e do nível de serviço Para análise das interseções diretamente impactadas pelo acréscimo de veículos devido à implantação do empreendimento, utilizar-se á o método de Webster, recomendado no roteiro da BHTrans, que utiliza a relação volume sobre capacidade (v/c) para avaliar os diversos cenários. Esta relação de volume sobre capacidade efetiva pode ser também denominada de grau de saturação. O roteiro da BHTrans indica também a relação entre a capacidade viária e do nível de serviço conforme é mostrado no quadro 1. Quadro 1 Análise da capacidade viária e do nível de serviço BH Grau de saturação Nível de serviço GS 0,20 A 0,21 GS 0,50 B 0,51 GS 0,65 C 0,66 GS 0,80 D 0,81 GS 0,90 E GS 0,91 F Para o cálculo do grau de saturação (GS) das interseções foram utilizados diferentes métodos conforme a característica da interseção: semaforizadas ou controladas por regra de prioridade. Análise da circulação na área de influência na situação atual, sem o empreendimento Na área de influência direta do empreendimento, identificaram-se quatro interseções essenciais que devem ser analisadas no que diz respeito à qualidade de operação, são elas: - Interseção 1: rua Matias Cardoso x rua Ouro Preto; - Interseção 2: rua Rodrigues Caldas x rua Ouro Preto; - Interseção 3: rua Rodrigues Caldas x rua Araguari; - Interseção 4: rua Rodrigues Caldas x avenida Álvares Cabral. Estas interseções são as mais significativas para a análise do impacto provocado pelo empreendimento, tendo em vista que elas são as mais carregadas do entorno e o tráfego gerado pelo empreendimento se diluirá principalmente nelas, sendo pouco expressivos os impactos fora da área delimitada. As interseções 1 e 2 são controladas por regra de prioridade enquanto que as interseções 3 e 4 são semaforizadas. A figura 3 ilustra a área de influência do empreendimento com a localização das interseções que foram analisadas. 73 74

Figura 3 Interseções analisadas A partir destes volumes foi procedida a análise, quanto ao grau de saturação em cada uma das interseções de interesse, conforme os valores apresentados na tabela 1. Tabela 1 Grau de saturação das interseções crítica Interseção Volume (VHP) Capacidade efetiva GS 1. Rua Matias Cardoso x 1.478 3.273 0,45 rua Ouro Preto 2. Rua Rodrigues Caldas x 1.178 2.637 0,45 rua Ouro Preto 3. Rua Rodrigues Caldas x 1.586 3.038 0,52 rua Araguari 4. Rua Rodrigues Caldas x av. Álvares Cabral 3.474 4.841 0,72 Para a análise da situação atual sem o empreendimento bem como o impacto futuro (com o empreendimento) nas interseções serão utilizados os resultados obtidos de Pesquisas de Contagem Volumétrica Classificada (CVC). Os valores dos volumes de tráfego na hora de pico (18:00-19:00 h) podem ser vistos conforme ilustra a figura 4. Figura 4 Volume de tráfego atual na hora de pico 18:00-19:00 h (VHP) Percebe-se que a região não apresenta maiores dificuldades de tráfego relacionadas à capacidade viária, sendo que, nas interseções 1 e 2, foram encontrados graus de saturação iguais a 45%; para a interseção 3, o grau de saturação possui valor de 52%; e a interseção 4 conta o maior valor, correspondente a 72%, não apresentando, contudo, problemas operacionais. No que tange ao atendimento de serviço de transporte coletivo foram selecionadas as linhas do sistema municipal e da Região Metropolitana de Belo Horizonte RMBH com itinerário nas proximidades do mesmo. A figura 5 apresenta as vias atendidas por estes na região de interesse e as respectivas linhas. Figura 5 Itinerários de transporte coletivo na área de estudo 75 76

As linhas apresentadas anteriormente operam pelo sistema de transporte público municipal de Belo Horizonte, sendo cinco linhas circulares e onze linhas bairro-bairro. Verificou-se ainda que, conforme dados de ocupação média das linhas de transporte coletivo no entorno do empreendimento, o sistema de transporte coletivo por ônibus possui capacidade instalada ociosa visto que a taxa de ocupação média das linhas descritas é 0,65. O número de lugares ociosos, que equivale à diferença entre a capacidade e a ocupação média pelo total de viagens dentro do intervalo de uma hora, é igual a 1.848 lugares. previsão da demanda futura de tráfego Tradicionalmente, os estudos da demanda de tráfego envolvem quatro etapas principais de desenvolvimento: geração, distribuição das viagens, divisão modal e alocação do tráfego, que cumprem as funções de estimar a demanda de tráfego gerado, distribuí-la no espaço geográfico, dividi-la entre os modos de transporte disponíveis e alocála na rede de transporte, respectivamente. Seleção do modelo de geração de viagens Para o cálculo do total de viagens geradas pelo empreendimento foram pesquisados modelos que subsidiassem a geração de viagens segundo cada um dos usos do empreendimento, ou seja, a geração de viagens pelas lojas e por prédios de escritório. Consta, na literatura especializada, o modelo proposto pela CET-SP para a determinação do número de viagens atraídas por prédios de escritórios, como o empreendimento ora em questão. Como não existe, na literatura, modelagem relativa a um pequeno núcleo comercial, ou de serviços, que pudesse ser aplicada às lojas do empreendimento ora analisado, cujo percentual da área das lojas é relativamente pequeno (5,45% da área construída computável total Acp total), adotou-se o mesmo modelo desenvolvido para prédios de escritórios, todavia com uma calibração que será explanada posteriormente. Aplicação do modelo Para quantificar o montante de viagens atraídas por dia pelo empreendimento, foi utilizado o modelo da CET-SP conforme mostrado a seguir: V= Acp/16 para Acp 10.800 m² (1) em que: V: número médio de viagens atraídas por dia [viagens atraídas/dia]; Acp: área construída computável [m 2 ]. Como a Acp do empreendimento é de 5.543,16 m² serão atraídas (e produzidas) 346 viagens por dia. Para a população flutuante, não existe um modelo específico para a determinação das viagens atraídas e, portanto, será considerado que cada cinco funcionários do edifício designados para o setor de escritórios atendam a um visitante por hora, e que, da população fixa total, 20% não atendem público externo. População flutuante = (população fixa/5) * 0,8 (2) Essa consideração atua a favor da segurança, uma vez que esta proporção atende ao momento crítico de geração de viagens por população flutuante e que, não necessariamente, ocorre durante o pico. Considerando a população fixa de 346 pessoas, a população flutuante gerará 55 viagens diárias a serem alocadas na hora pico do sistema. Considerando que o número de atendimentos é pequeno entre 18:00 e 19:00 h (hora pico), considerar-se-á que todas as viagens estão deixando o empreendimento (produção). A partir da divisão modal da CET/SP (Boletim n 36) para área de alta, média e baixa acessibilidade e do total de viagens atraídas por dia, é possível estimar as viagens pelos diferentes modos de transporte. Embora o empreendimento situe-se próximo a corredores com significativa oferta de linhas de ônibus, por medida de segurança, foram utilizados os valores médios para a divisão modal a ser estimada para o empreendimento, conforme pode ser observado na tabela 2 a seguir. Tabela 2 Divisão modal adotada para edifício de escritórios Nível de acessibilidade Automóveis Ônibus Outros Alta e média 28% 66% 6% Baixa 61% 36% 3% Valor médio 44% 51% 5% Empreendimentos como este (prédio de escritórios) possuem picos de movimentação de entrada e saída bem definidos, sendo estes em função do horário de entrada e saída dos funcionários. Desta maneira, considerou-se, de acordo com o Boletim CET n 36, que a atração de viagens na hora pico da manhã (chegada dos funcionários), correspondente a 70% do total diário, é igual à produção na hora pico da tarde (saída dos funcionários). Ou seja, para efeito de análise dos impactos gerados pelo empreendimento na hora pico da tarde, considerou-se que 70% do volume atraído diariamente pelo prédio de escritórios deixará o local entre 18:00 e 19:00 h. O cálculo para as viagens relativas às lojas também se deu a partir da equação (1), mas como esta não foi desenvolvida para este caso, utilizou-se um fator de correção para corrigir este valor. Este fator de cor- 77 78

reção foi baseado na recomendação da BHTrans. Considerando que a exigência de vagas para lojas é 1,4 vez maior que para escritórios, utilizou-se este valor para corrigir o número de viagens geradas pelas lojas. Dessa forma como o empreendimento só terá uma loja com ABL de 302,22 m², as viagens produzidas durante a hora pico do sistema será de 26 viagens. É sabido pela bibliografia especializada que a produção de viagens por centros comerciais no pico corresponde a 65% do atraído. Sendo assim, serão atraídas 41 viagens na hora em análise. As tabelas 3 e 4 mostram a geração de viagens por atividade e por modo de transporte, respectivamente. Tabela 3 Geração de viagens por atividade Viagens Lojas Escritórios População flutuante VHP Produção 26 243 55 324 Atração 41 0 0 41 Geração total 67 243 55 365 Outros modos A parcela de viagens referente a outros modos é pequena, apenas de 5%. Com base nisso, e ainda no fato de que estes outros modos podem ser principalmente, a pé, bicicleta e motocicletas, a influência destes no carregamento do sistema viário não foi considerada. Distribuição dos fluxos e Alocação do tráfego adicional A distribuição das viagens geradas pelo empreendimento foi feita considerando a sua proporcionalidade com a distribuição populacional da cidade de Belo Horizonte. Assim, para cada rota de chegada e saída do empreendimento (hora de pico da tarde) foi determinada uma área de influência correspondente às regiões de destino das mesmas como ilustra a figura 6. Figura 6 Área de influência das rotas Tabela 4 Geração de viagens por modo de transporte Viagens Auto (44%) Ônibus (51%) Outros (5%) Produção 143 165 16 Atração 18 21 2 Geração total 161 186 18 Ainda por segurança, considerar-se-á que a ocupação média de um automóvel na hora de pico é igual a 1 passageiro/veículo. Cálculo das viagens adicionais ao sistema viário O cálculo das viagens adicionais no sistema viário é dado nos itens a seguir conforme o tipo modal. Automóveis Haverá um total de 161 novas viagens pelo modo automóvel no sistema viário, das quais 143 são de produção e 18 de atração. Ônibus Visto que a demanda por transporte coletivo gerada pelo empreendimento no pico da tarde (186 viagens) não é superior ao total de lugares ociosos no mesmo horário apresentado, não haverá necessidade de oferta adicional de transporte público, já que a oferta ociosa é capaz de absorver a nova demanda. 79 80

Desta forma, foi possível determinar, para cada rota, a sua participação nas viagens geradas, sendo esse percentual proporcional à população encontrada na sua área de influência segundo os valores estabelecidos na última Pesquisa OD de Belo Horizonte realizada em 2001 pela Fundação João Pinheiro. Os valores percentuais encontrados são apresentados na tabela 5, assim como a distribuição das viagens. Tabela 5 Alocação dos volumes atraídos e produzidos pelo empreendimento na hora de pico Rotas Percentual Atraídos Produzidos 1 10% 2 15 2 18% 3 26 3 8% 2 12 4 63% 11 89 5 1% 0 1 Total 100% 18 143 Considerando esta distribuição, o tráfego gerado pelo empreendimento foi alocado nas interseções de interesse para determinação do impacto gerado pelo mesmo, conforme ilustra a figura 7. Figura 7 Tráfego alocado em VHP Impactos gerados pelo empreendimento Por sua facilidade de cálculo e pela ampla aceitação pelos analistas de tráfego, a determinação do grau de saturação nas diversas aproximações das interseções nas situações sem e com o empreendimento é bastante adequada para a avaliação do impacto relativo ao aumento do volume de tráfego em um sistema viário. Os volumes considerados para a avaliação do cenário atual, anteriormente expostos, foram expandidos para 2012, época de implantação do empreendimento, a uma taxa de crescimento de 2,00% ao ano, caracterizando a situação sem o empreendimento. A estes volumes expandidos, foi adicionado o tráfego gerado pelo empreendimento, após sua alocação, caracterizando a situação com o empreendimento. Na tabela 6 são apresentados os volumes e os graus de saturação nos diversos cenários analisados, assim como a variação entre estes, de forma a possibilitar a comparação dos mesmos e a avaliação do impacto causado pelo empreendimento. Tabela 6 Comparação de cenários Interseção Volumes (VHP) GS Variação de GS SE 1 Gerado CE 2 SE CE A-SE SE-CE 01 1.478 1.538 143 1.681 45,2% 47,4% 53,0% 2,2% 5,7% 02 1.178 1.226 128 1.354 44,7% 46,7% 51,6% 2,1% 4,9% 03 1.586 1.650 127 1.777 52,2% 54,3% 58,5% 2,1% 4,2% 04 3.474 3.615 101 3.716 71,8% 74,7% 76,8% 2,9% 2,1% 1. SE = sem o empreendimento. 2. CE = com o empreendimento. Como pode ser observado na tabela anterior, a implantação do empreendimento gera impacto relativamente pequeno para o tráfego, com os valores dos graus de saturação variando de 2% a 6% em relação à situação futura com empreendimento. A interseção 04 (avenida Álvares Cabral x rua Rodrigues Caldas) é a menos impactada pelo empreendimento, pois a variação do grau de saturação é pequena, de apenas 2,1%. Porém, esta mesma interseção é a que apresenta o maior valor do grau de saturação já na situação atual, igual a 71,8%, e é também a única que apresenta nível de serviço D nesta situação, conforme parâmetros da BHTrans. Para o restante das interseções a variação do grau de saturação é relativamente maior que a da interseção 04, porém todas apresentam nível de serviço C na situação futura com o empreendimento, não apresentando problemas operacionais de circulação. 81 82

Analisando-se mais detalhadamente a interseção 04, que já apresenta problemas de restrição de capacidade desde a situação atual, tem-se a situação apresentada na tabela 7. Tabela 7 Comparação de cenários para interseção 04 Interseção 04 - aproximações Volumes (VHP) SE 1 Gerado CE 2 GS SE CE Variação de GS Rua Rodrigues 1.503 1.564 101 1.665 99,9% 103,9%110,7% 4,1% 6,7% Caldas > av. Álvares Cabral Av. Álvares Cabral 1.971 2.051 0 2.051 59,1% 61,5% 61,5% 2,4% 0,0% > rua Rodrigues Caldas Valores globais 3.474 3.615 101 3.716 1. SE = sem o empreendimento. 2. CE = com o empreendimento. Como pode ser percebido pelos valores de variação do grau de saturação, o impacto na interseção é devido principalmente ao crescimento natural do tráfego. Porém, o empreendimento gera um impacto relativo no movimento da aproximação da rua Rodrigues Caldas sentido avenida Álvares Cabral. A tabela mostra que o grau de saturação sem o empreendimento já é elevado e chega a 110,7% com a implantação do empreendimento, que é um valor acima da capacidade teórica da aproximação. discussão e conclusões Definição das medidas mitigadoras e/ou compensatórias Deverão ser feitas adequações no sistema viário. Foi verificado que a interseção 04 (rua Rodrigues Caldas x avenida Álvares Cabral) é semaforizada e já apresenta problemas de restrição de capacidade desde a situação atual. Essa situação se agrava tanto nas situações futuras sem e com o empreendimento. Percebeu-se ainda que o maior valor de grau de saturação se deu na aproximação da rua Rodrigues Caldas sentido avenida Álvares Cabral. De forma a minimizar esse valor e aumentar a capacidade da aproximação, é recomendável retirar as vagas de estacionamentos paralelos do trecho da rua Rodrigues Caldas entre a rua Dias Adorno e avenida Álvares Cabral. Dessa forma, o trecho passa a ter quatro faixas de circulação sendo que uma delas passa a ser exclusiva de conversão a direita que, no caso da interseção em questão, é livre. A figura 8 ilustra um croqui da medida proposta. A- SE SE- CE 83 Figura 8 Medida mitigadora proposta na interseção 04 Conforme figura 8, percebe-se ainda que a remoção de obstáculo, no caso parte da calçada, propicia um prolongamento da 4ª faixa (2,40 metros de largura) na rua Rodrigues Caldas com a rua Professor Antônio Aleixo, o que evitaria conflitos e/ou choques para os veículos que trafeguem nessa faixa e que não desejam fazer a conversão livre a direita. Comparação de cenários O fato de implantar a 4ª faixa faz com que a capacidade efetiva da aproximação em questão aumente consideravelmente o seu valor. Se tal medida fosse adotada no exato momento, a configuração dos graus de saturação nessa aproximação já não seriam os mesmos, conforme mostra a tabela 8. Tabela 8 Análise de cenários com a proposta mitigadora na interseção 0 Situação Aproximações Rua Rodrigues Caldas > av. Álvares Cabral SE 1 Rua Rodrigues Caldas > av. Álvares Cabral CE 2 Rua Rodrigues Caldas > av. Álvares Cabral 1. SE = sem o empreendimento. 2. CE = com o empreendimento. 84 Fator ajuste total Fluxo de saturação Volume (VHP) Capacidade efetiva (VHP/h) GS 0,776 5.900,6 1.503,0 2.006,2 0,75 0,776 5.900,6 1.564,0 2.006,2 0,78 0,776 5.900,6 1.665,0 2.006,2 0,83 Como se pode perceber, a título de exemplificação, os graus de saturação teriam seus valores bem menores quando comparados aos valores calculados da situação atual e dos cenários futuros exemplifi-

cados anteriormente. Nessa nova configuração, observa-se que o tráfego estaria operando próximo a sua capacidade, entre os níveis de serviço D e E, porém, não estaria operando no limite da capacidade de tráfego, tal como se verificou no decorrer do texto. Conclusões A avaliação dos impactos no sistema viário e de transporte foi feita a partir da análise comparada da capacidade viária e do nível de serviço nas interseções estudadas das rotas de acesso (semaforizadas ou não), na hora de pico do empreendimento e do sistema viário, nos horizontes sem empreendimento e com empreendimento, na qual foram identificados os trechos viários e aproximações de interseção significativamente impactados pelo tráfego adicional e foram apresentadas conclusões sobre os impactos gerados, considerando as condições de acesso e de circulação de veículos e de pedestres na área de influência e levando-se em conta as interferências dos fluxos gerados pelo empreendimento nos padrões vigentes de fluidez e segurança de tráfego. REFERÊNCIAS Bibliográficas BHTRANS. Roteiro básico para elaboração de relatório de impacto na circulação. Belo Horizonte, 2008. CLEMENTE, A. Economia regional e urbana. São Paulo: Editora Atlas S.A., 1994. FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. Banco de dados da pesquisa origem e destino 2001/2002 da região metropolitana de Belo Horizonte. Belo Horizonte, 2003. LEI nº 7.166/1996 com alterações introduzidas pela Lei n 8.137/2000. Consolidação da Lei de Parcelamento, Ocupação e Uso do Solo do Município de Belo Horizonte. PORTUGAL, L. S. e GOLDNER, L. G. Estudos de polos geradores de tráfego e de seus impactos nos sistemas viários e de transportes. São Paulo, 2003. 85