Dossiê. conhecimento para a sustentabilidade. Fabián Echegaray*

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Transcrição:

Consumo Responsável: Tendências, riscos e oportunidades Fabián Echegaray* Como entender o momento do movimento de responsabilidade so cial corporativa no ano da crise tida como a maior dos últimos 80 anos? Qual é o balanço que pode ser fei to sobre o modo como o consumidor bra si lei ro percebe o papel das empresas e avalia seu desempenho como agentes indutoras de mudanças cidadãs? E até que ponto o Brasil é um caso singular no mundo, em termos das rea ções e expectativas de seus consumidores ante as responsabilidades e tarefas do universo corporativo? Nas páginas seguintes, este Dossiê apresenta o cenário e os rumos futuros nos quais se en cai xa o debate sobre cidadania corporativa a partir da perspectiva de um consumidor em carne e osso. Para tanto, ba seia- se na série histórica e única de pesquisas anuais rea li za das no Brasil, pela empresa de pesquisa Market Analysis, acerca das percepções e comp o r t a m e n t o s d o s i nd iv íd u o s d i a nt e d a atua ção das grandes empresas. O estudo Monitor de Responsabilidade So cial permite acompanhar a evolução, desde o início Divulgação desta década, na ma nei ra de refletir, pensar e agir dos bra si lei ros sobre as questões- chave do investimento so cial privado e da sustentabilidade em pre sa rial. Graças à parceria da Market Analysis com a rede GlobeScan, de origem canadense, mas com atua ção mun dial, foi possível, além do mais, elencar dados comparativos exclusivos sobre como consumidores em diferentes paí ses rea gem a idênticos assuntos, o que permite identificar em que si tua ções e dian te de quais tópicos o bra si lei ro se sobressai como um consumidor es pe cial. O estudo vale destacar foi rea li za do em mais de 0 paí ses. Em 009, estendido a um universo de 3. No entanto, algumas evoluções históricas só existem para um grupo reduzido de nações Convém ini ciar recapitulando o panorama da opi nião e percepção dos consumidores do mundo sobre Responsabilidad e S oc i a l E mp r es ar i a l (RSE) até mea dos de 008 em pleno auge da economia, do crédito e do consumo, instantes antes do início da tempestade fi nan cei ra que *Fabián Echegaray é o diretor geral da Market Analysis, instituto de pesquisas especializado em responsabilidade social, sustentabilidade e consumo. Ele é doutor em Ciência Política pela Universidade de Connecticut (EUA) e consultor do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Nota sobre o dossiê Este dossiê é resultado da parceria entre Ideia Sustentável, a empresa que edita a revista I d e i a S oc i o a mb i e nt a l, e a Market Analysis, especializada em pesquisa de mercado. Com 0 anos de ex pe riên cias em estudos na cio nais e em paí ses da América, a Market Analysis reali za, entre ou tros importantes estudos regulares, dois que se afinam com os temas tratados na revista: o Monitor de Responsabilidade Social Corporativa e o Barômetro Ambien tal. O Monitor é uma pesquisa anual sobre percepções, expectativas e atitudes dos consumidores bra si lei ros a res pei to de temas do universo da sustentabilidade. E o Barômetro consiste em um estudo, também anual, que aborda opi niões e rea ções do público consumidor frente às mudanças climáticas e a crise ambiental. Pela parceria, a revista se propõe a publicar, de modo inédito, dados mais específicos dos estudos da Market Analysis, utilizando- os como mote para ma té rias es pe ciais, entrevistas, artigos e encartes espe ciais como este. SETEMBRO 009 Ideia Socioambiental 75

abalou os mercados. O que pensava a opinião pública sobre cidadania corporativa naquele momento? Em todo mundo, apesar do avanço nas ações de sustentabilidade e programas de investimento so cial, a ava lia ção sobre o desempenho responsável da grande maioria dos setores da economia permanecia sob olhar crítico dos consumidores. A média das notas dadas a 0 segmentos diferentes oscilava entre estável ou em queda, a des pei to do maior número de empresas publicamente compromissadas com o concei to. Esse compromisso se manifestava de variadas formas, desde a maior adesão aos padrões exigentes de re la tó rios da Global Reporting Initiative (GRI), até o maior alinhamento com as diretrizes do Global Compact, das Nações Unidas, até mesmo a redução nos casos de escândalos corporativos. Am pliou- se a distância entre as expectativas públicas quanto à atua ção empre sa rial e a percepção da performance do universo corporativo em matéria so cioambien tal, dando con ti nui da de a um fenômeno que não parou desde 00, quando o Monitor ini ciou suas medições. Ao mesmo tempo, como consequência, completava este quadro o interesse crescente dos consumidores pela questão so cioam bien tal. Ano após ano, eles vêm adotando cada vez mais a prática de usar cri té rios éticos ou políticos em suas compras, visando in fluir nas decisões fi nais das empresas quanto a investimentos sociais e mudanças de processos produtivos. Chama a atenção esse ativismo a partir do consumo, em expansão nos últimos anos, na medida em que indica uma integração cada vez mais próxima entre valores ou pre fe rên cias e condutas fi nais, fortalecendo a evolução do chamado consumo ético ou responsável. Tal cenário ensejava uma lei tu ra do tipo meio copo cheio ou meio copo vazio : o boom de expectativas sobre a atua ção em pre sa rial e o endosso a um p a p e l s oc i o a mb i e nt a l p r ó - at iv o p a r a a s grandes com pa nhias, assim como um maior engajamento dos in di ví duos no ponto de venda, po diam significar oportunidades inigualáveis para o exercício (e a pre mia ção pelos consumidores) de comportamento sustentável. No entanto, considerando que este fato positivo coe xis tia com uma percepção mui to crítica da atua ção corporativa caracterizada, entre ou tros si nais, por descrença em relação à comunicação ins ti tu cio nal das empresas, o quadro de pos sí veis vantagens significava, para algumas, ganhos remotos e problemas ime dia tos. Pior ain da para os par tidá rios do pessimismo: a pou ca con fia bi lida de nas campanhas de divulgação sobre RSE foi se somando ao interesse cada vez mais claro do público por aprender e saber mais sobre a atua ção corporativa. Assim, 008 encerrou oferecendo um espaço Érico Hiller 76 Ideia Socioambiental SETEMBRO 009

de legitimidade crescente para o exercício ativo da cidadania em pre sa rial, mas em um contexto de ceticismo e relativa revolta dos consumidores. Esse era o cenário até há pou co mais de um ano. Mas o que aconteceu entre o final de 008 e o início de 009? Quais mudanças a crise fi nan cei ra provocou entre os consumidores das prin ci pais eco no mias mun diais? Quais características passou a ter o contexto atual em que as empresas devem interagir com os seus consumidores, as suas expectativas e cobranças de comportamento cidadão? Uma seleção dos prin ci pais achados do Monitor 009 e dos dados in ter nacio nais coletados em ou tros 3 paí ses, além do Brasil, contribui para identificar o efei to da crise e o rumo tomado pelo humor dos consumidores sobre as perspectivas da RSE. Em todo o mundo, a crise econômica estava plenamente instalada. Com ela, vie ram a recessão, desemprego, pobreza, miséria. Alguns de seus efei tos mais imedia tos, como o au men to da fome e criminalidade, não dei xa ram de ser percebidos pelos consumidores. O Gráfico sintetiza o contexto das relações consumidor- empresa e da interação em torno das questões de sustentabilidade so cial e am bien tal, caracterizando o pri mei ro semestre de 009. De forma inconfundível, a crise e suas manifestações de desordem econômico- financeira global marcaram a fogo a agenda dos consumidores no mundo. Seus impactos imedia tos percebidos se refletiram em menos di nhei ro no bolso (e sob este rótulo são O período da coleta no Brasil ocorre todos os anos entre meados de novembro até a segunda semana de dezembro. Nos outros países, costuma se estender até finais de fevereiro. Para efeito da análise dos dados de 009, isso significa que em todas as sociedades consultadas os consumidores respondiam já sob efeito da crise financeira. Os países onde parte ou todas as perguntas feitas no Brasil foram reproduzidas incluem: Argentina, Chile, Peru, Panamá, Costa Rica, El Salvador, Nicarágua, Honduras, Guatemala, México, EUA, Canadá, Reino Unido, França, Alemanha, Espanha, Portugal, Itália, Grécia, Turquia, Rússia, China, Índia, Japão, Coréia do Sul, Filipinas, Indonésia, Austrália, Nigéria, Quênia e Gana. Problemas econômicos Gráfico Principal problema do país Países desenvolvidos vs. emergentes Desemprego Problemas políticos Meio ambiente* Pobreza/Sem teto Educação Saúde Terrorismo/Guerra Falta de valores/moral Falta de assistencialismo Crime/Violência Fome/Falta de alimentos Superpopulação 3 0 0 0 fei tas menções que vão de perdas na poupan ça ou nos investimentos até súbitos cortes em gastos pes soais como resultado do crédito curto, passando pela admissão de uma recessão econômica), mas também na amea ça de desemprego. Ambos os fatores ultrapassam com folga mais da metade das preo cu pa ções do mundo. Não é menos interessante reconhecer o modo pe cu liar como os he mis fé rios Norte e Sul foram diferentemente afetados. Entre os paí ses emergentes, as dificuldades econômicas de ordem genérica impactaram menos do que no centro do capitalismo, concentrando o foco mui to mais em questões so ciais resultantes da crise, mas não na própria crise, tais como o desemprego, a pobreza, o encarecimento ou falta de alimentos e a criminalidade. A percepção dos bra si lei ros é muito clara a este res pei to. Eles começaram o ano exibindo certa consideração pelas oscilações da economia mun dial e local. 5 6 6 6 7 7 8 9 3 5 8 3 Países desenvolvidos Países emergentes Brasil 9 *Inclui contaminação, poluição, mudança climática e desastres naturais 9 Pergunta: No geral, para você qual é o principal problema do nosso país hoje em dia? Mas nem de longe experimentaram o pânico dos paí ses desenvolvidos. Entre os bra si lei ros (assim como em mui tos paí ses emergentes), a rea ção tem sido estimulada menos por eventos de curto prazo (falta de crédito ou a brusca recessão) e mais por fatores con tí nuos (não súbitos) e de longo prazo, como criminalidade, pobreza, au sên cia de educação e saú de apro pria das ou a falta de comida. Abrindo parênteses na agenda in terna cio nal gerada pela crise, que, de modo com preen sí vel, passou a pau tar a vida das empresas, é relevante notar o lugar destacado das preo cu pa ções am bien tais entre os consumidores. Observou- se uma clara apreen são ante a rea ção ime dia ta de governos e empresas de prio ri zar o combate à recessão sem exigir contrapartidas verdes ou ecoe fi cien tes. Mas, então, o que a crise tem representado em termos de consequências diretas para o indivíduo e seu círculo SETEMBRO 009 Ideia Socioambiental 77

Gráfico Impactos negativos recentes na situação pessoal e familiar Subida no preço dos alimentos Recessão econômica mundial Queda na disponibilidade de crédito Mundo Espaço em branco representa NS/NR. Brasil Mundo Brasil Mundo Brasil 5 3 3 Muito Em parte Pouco Nada Pergunta: Algum dos seguintes acontecimentos econômicos recentes teve alguma influência negativa em você e na sua família? Para cada um, por favor, me diga se teve uma influência negativa muito grande, razoavelmente grande, pouca ou nenhuma influência negativa pra você e pra sua família. 7 56 3 7 3 7 9 9 3 5 35 5 0 7 7 9 familiar? O gráfico compara o impacto de três efei tos adversos dela no bolso do consumidor. De longe, lá fora e no Brasil, pegou mais o consumidor a inflação de preços da cesta básica e, portanto, da dificuldade de comprar alimentos. Empresas que agiram para neu tra li zar esse impacto conseguiram se po si cio nar de forma efet i v a c o m o s oc i a lm e nt e r e sp o ns áv e i s a o s olhos do consumidor. No curto prazo, o laço emo cio nal de proximidade, sensibilidade e cumplicidade com o consumidor (tão vi tais para a construção du ra doura da força da marca) deve se mostrar, na prática, um elemento facilitador do acesso aos bens necessitados ou desejados. Na crise, res pei to e flexibilidade são respostas valorizadas pelo consumidor. Isso é algo extremamente prático e relevante para a indústria alimentícia, mas também para empresas com atua ção no varejo de alimentos, bebidas e produtos farmacêuticos. Érico Hiller 78 Ideia Socioambiental SETEMBRO 009

A brecha entre expectativas e resultados Analisando os dados, o Monitor 009 confirma uma tendência observada na última década, de dis tan cia men to entre o que o consumidor espera da empresa e a percepção sobre o quanto esta efetivamente tem fei to. Para ilustrar o descompasso, o estudo da Market Analysis se ba seia em duas de suas métricas históricas: a opinião sobre quanto uma série de obrigações de atua ção deveria constar entre as prin ci pais responsabilidades de grandes empresas e a ava lia ção da qualidade do desempenho de 0 setores da economia em matéria de RSE. Ao observar graficamente as curvas de evolução de ambos os indicadores, sobressalta a imagem de um consumidor que deposita mais responsabilidades nas corporações, embora se mostre crescentemente mais de cep cio na do com a sua atua ção. A consequência mais natural desse quadro é um misto de estranhamento e frustração. Em um momento de retomada do ativismo dos consumidores, movido por razões éticas e so cioam bien tais, isso deve ser visto por empresas como um sinal vermelho. Ou uma janela de oportunidades para quem estruturar de forma contínua, coeren te e estratégica um programa de cidadania corporativa sensível às necessidades e cobranças da so cie da de. No inicio da década (00), segundo os dados de 5 paí ses monitorados, 50% dos consumidores apontavam alta responsabilidade por parte das empresas para uma série de atividades à parte de suas ha bi tuais obrigações corporativ a s. Ta r e f a s t r ad ic i on a lm e nt e r e al iz ad a s pelo Estado, Igreja, organizações da socie da de civil e organismos mul ti la terais, como estabilizar a economia, reduzir as vio la ções aos di rei tos humanos e a desigualdade so cial, assim como ajudar no combate às mazelas so ciais decorrentes desses fenômenos, precisam ser Além do Brasil, são monitorados nessas questões os seguintes países: Alemanha, Austrália, Canadá, Chile, China, Coréia do Sul, Estados Unidos, França, Itália, México, Nigéria, Reino Unido, Rússia e Turquia. No total, estes 5 países respondem por 65% do PIB mundial. assumidas, na visão de metade dos entrevistados, pelas grandes corporações. Como esses mesmos consumidores julgavam o desempenho de 0 dos prin cipais segmentos da economia e indústria na sua capacidade de absorver com eficiên cia essas tarefas e implementar políticas de responsabilidade so cioam biental? Essa é uma pergunta relevante para este Dossiê. Em média, a análise da conduta em pre sa rial se mostrava levemente positiva: 6% 3. A distância de pontos per cen tuais entre expectativas e resultados não dei xa de im pres sio nar. Por ou tro lado, nada mais natural aos seres humanos do que esperar sempre mais do que efetivamente recebem (ou percebem receber). A moral da história aqui, entretanto, é ou tra: a brecha de pontos foi 3 Como a pergunta é feita usando uma escala de cinco pontos, na qual as duas notas mais baixas representam um avaliação desfavorável e as duas notas mais altas, um julgamento favorável, esse percentual representa a diferença agregada deste tipo de opinião entre todos os consumidores, simbolizando a vantagem positiva dos setores em termos de imagem em RSE. 00 80 60 0 0 0-0 Gráfico 3 Expectativas vs Desempenho em RSE Valor médio para 5 países (Mundo) e para Brasil, 00 009 63 50 8 6 Expectativas em RSE Mundo* Expectativas em RSE Brasil* Desempenho em RSE Mundo** Desempenho em RSE Brasil** o momento de ouro da cidadania corporativa aos olhos dos consumidores nos anos 000! De lá para cá, como bem ilustra o Gráfico 3, a brecha só se aprofundou. E isso se deu menos em decorrência de uma explosão de expectativas, e mais por causa de uma queda drástica na ponderação sobre o comportamento em pre sa rial. Com o au men to do número de com pa nhias que passaram a abraçar ins ti tu cio nal ou publicitariamente a mensagem da responsa - bilidade so cial, e, portanto, com a maior visibilidade que ganhou o tema, am pliaram- se não só as exi gên cias mas também o olhar agudo e crítico sobre as palavras e os fatos das ações em pre sa riais em sustentabilidade. Em 003, a queda na atua ção percebida das com pa nhias (de +6% para %) é quase pro por cio nal ao incremento nas expectativas (de 50% para 57%). Por quê? Porque é o momento da enxurrada ou comprovação dos escândalos corporativos, como os emblemáticos casos de Enron, WorldCom ou Arthur Andersen nos EUA, e do Royal Ahold e Parmalat, 00 003 005 007 009 Inclui Alemanha, Austrália, Brasil, Canadá, Chile, China, Coréia do Sul, Estados Unidos, França, Itália, México, Nigéria, Reino Unido, Rússia e Turquia. *Expectativas de atuação das empresas em 0 responsabilidades diferentes **Avaliação do desempenho em RSE de 0 setores da economia 75 55 9 SETEMBRO 009 Ideia Socioambiental 79

Érico Hiller na Europa, com respingos importantes no Brasil. Vale ressaltar, como fatos relevantes, a série local de escândalos vinculados às privatizações das operadoras telefônicas como a es pio na gem fei ta pela Kroll e o banco Opportunity, envolvendo a Telecom da Itália. A interação, portanto, entre expectativas e percepção de atua ção marca uma via de duas mãos: a da erosão de con fian ça na atua ção em pre sarial e a duplicação das exi gên cias por um comportamento ético e so cial por parte das grandes com pa nhias. Entre 005 e 009, as expectativas se estabilizaram. Ficaram menores se comparadas com 003. Em expansão constante, a percepção de que as empresas dei xam a desejar no seu comportamento am pliou a brecha para 63 pontos per centuais, a maior desde o início do estudo. Se por um lado se mantém alta a atri bui ção de responsabilidades so ciais e am bien tais ao mundo corporativo, isso ocorre junto com a redução na fé de que as empresas possam ser agentes eficazes de mudança. Uma das lei tu ras retrospectivas que o mundo faz da crise de 008 é que as grandes empresas, como símbolo do mercado, 80 Ideia Socioambiental SETEMBRO 009 fracassaram na sua autorregulação, no cumprimento dos quesitos ope ra cio nais e cidadãos mais básicos em termos de responsabilidades so ciais e na execução das promessas de sustentabilidade. E isso se expressa claramente no olhar crítico sobre todos os setores, em 009. E no Brasil? Aqui a história da interação entre expectativas e desempenho tem características pe cu lia res. Em 00, o movimento da RSE i n st it uc i on al iz ad a era apenas em brio ná rio, a publicação de balanços so ciais cons ti tuía uma raridade e o assunto mal frequentava as páginas dos jor nais. Os consumidores bra si lei ros, mesmo assim, depositavam altas esperanças na resolução de problemas pelo engajamento das empresas e, comparado ao resto do mundo, enxergavam com mui to mais simpatia a atua ção so cial dos agentes do mercado. Contudo, a diferença entre umas e ou tras era a mesma que no resto do mundo. O que aconteceu de 00 para os dias de hoje? Mais do que os de ou tros paí ses, o consumidor bra si lei ro mostrou- se bem mais sensível à ideia de pre miar ou punir as empresas, oscilando entre momentos de intenso questionamento e lapsos de redenção do universo corporativo. Se nos pri mei ros anos da década, o tamanho da brecha fora e dentro do Brasil era quase o mesmo, de 005 em dian te o consumidor local começa a se desalinhar da tendência in ter na cio nal. Aumenta no país o fosso entre o que a atua ção em pre sarial deveria fazer e os resultados percebidos. Em 009, essa lacuna entre expectativas e desempenho atingiu no Brasil 87 pontos per cen tuais! Isso significa um au men to de mais de um terço su pe rior ao registrado no resto do mundo. Fei to esse resumo, cabe a seguinte pergunta: quais as implicações desses achados para o futuro? Há três respostas seguras: () as demandas sobre as empresas con ti nua rão crescendo; () a necessidade de se di fe ren ciar em termos de como os consumidores ava liam a performance da própria empresa será cada vez mais importante; (3) as percepções, muitas vezes, irão além do que pedaços de informação objetivos possam sugerir. Assim, mesmo que nos últimos anos tenha se multiplicado o número de empresas publicando balanços so ciais de

O Pano de Fundo: O que os Consumidores do Mundo Pensavam até 008 sobre RSE Crescente legitimidade para um papel socioambiental propositivo para as grandes empresas; desafios e problemas públicos (como crime, falta de educação, degradação ambiental) passam a ser incorporados à agenda corporativa; Pouca alteração ou mudança para pior nas avaliações feitas do desempenho das grandes empresas em matéria socioambiental; Brecha contínua entre expectativas e desempenho percebido em responsabilidade social, gerando pressão sobre certos setores da economia; O meio ambiente e as mudanças climáticas assumiram um lugar cada vez mais destacado entre as preocupações dos consumidores; O consumo ético ganhou força, tanto em mercados maduros como na Europa e América do Norte, quanto em mercados emergentes, principalmente na Ásia, mas também em alguns países latino-americanos; Desencanto do consumidor em relação às propostas do mundo empresarial em RSE: perda de audiência como resultado da baixa confiabilidade na comunicação sobre atuação cidadã e reversão nos níveis de interesse por conhecer mais sobre o comportamento ético e socioambiental das empresas. Gráfico RSE: Os Indicadores Operacionais Empresas Deveriam ter total responsabilidade sobre isso, Países desenvolvidos vs. emergentes, 009 Não prejudicar o meio ambiente Tratar os funcionários de forma justa Garantir a sustentabilidade em todo o processo produtivo Fornecer produtos e serviços de boa qualidade pelo menor preço possível Aplicar mesmos padrões elevados a nível mundial Países desenvolvidos Países em desenvolvimento Pergunta: Agora vou ler uma lista de coisas que algumas pessoas dizem que deveriam fazer parte da responsabilidade das grandes empresas. Para cada uma, diga até que ponto você acha que as empresas deveriam ter esta responsabilidade. Para responder, utilize uma escala de a 5, em que significa não deveriam ter essa responsabilidade, 3 significa deveriam ter parte dessa responsabilidade e 5 significa deveriam ter total responsabilidade sobre isso. acordo com os cri té rios mais estritos do GRI, mesmo que as equipes internas encarregadas das atividades de RSE tenham atingido um nível de pro fis sio na li za ção e ins ti tu cio na li za ção ja mais visto antes, e mesmo que o volume global de despesas tenha crescido em comparação com o início da década, a batalha pela mente e pelos corações dos consumidores seguirá firme. Seu teste- chave será a confluên cia entre execução e comunicação pela empresa e a interpretação e rea ções dos consumidores. Nesse sentido, os resultados apontam uma boa notícia para quem dei xou o discurso rumo à prática. Com pa nhias que, nesse pe río do, implementaram ações efetivas de RSE conseguiram comunicá- las de modo efi cien te obtiveram ganho estratégico. Em um cenário de críticas e pressões cada vez maio res, suas ini cia ti vas so cioam bien tais vão se tornar grandes diferenciadores de sucesso. Velhas e novas expectativas: das preocupações operacionais à iniciativa cidadã É certo que os consumidores acumulam uma série de cobranças quanto ao comportamento socioambientalmente res - ponsável de empresas. Mas, de concreto, quais são as dimensões nas quais se espera que elas ajam com efetividade? Ao longo dos últimos anos, o Monitor tem identificado dois ei xos cen trais capazes de articular o conjunto de atividades demandadas das empresas: as responsabilidades de índole ope ra cio nal e as de natureza cidadã. Entre as pri mei ras, figuram aquelas atividades que caem dentro do controle da própria organização, re la ciona das a como os produtos são fabricados, ao impacto am bien tal da produção, às consequências de consumir os produtos e ao que acontece com os fun cio ná rios e fornecedores por trás dos produtos. Essas são atividades que a maio ria dos consumidores aponta sistematicamente como principais responsabilidades das empresas. Mesmo quando a intensidade da expectativa sobre as responsabilidades ope ra cio nais é mui to maior nas so cie da des desenvolvidas do que nos países emergentes, elas cons ti tuem o tipo de obrigação percebida como primária. Observando os dados de 009, ilustrados no Gráfico, a minimização do impacto am bien tal provocado pela empresa surge como a atri bui ção corporativa de maior consenso para os consumidores: 7% nos paí ses cen trais concordam que essa tarefa deveria ser total responsabilidade das 57 58 57 56 56 6 66 68 7 SETEMBRO 009 Ideia Socioambiental 8

Gráfico 5 RSE: Os Indicadores Cidadãos Empresas Deveriam ter total responsabilidade sobre isso, Países desenvolvidos vs. emergentes, 009 Aumentar a estabilidade econômica no mundo Reduzir violações de direitos humanos Ajudar a reduzir a distância entre ricos e pobres Apoiar projetos comunitários e de caridade Resolver problemas sociais Apoiar políticas e leis favoráveis à maioria da população grandes com pa nhias. Nos paí ses emergentes, 6% pensam da mesma forma. O ou tro grupo de responsabilidades, denominadas cidadãs, não tem relação com o processo produtivo, nem está sob controle interno da empresa. São ini ciati vas vo lun tá rias relativas ao valor so cial Países desenvolvidos Países emergentes G.t Agora vou ler uma lista de coisas que algumas pessoas dizem que deveriam fazer parte da responsabilidade das grandes empresas. Para cada uma, diga até que ponto você acha que as empresas deveriam ter esta responsabilidade. Para responder, utilize uma escala de a 5, em que significa não deveriam ter essa responsabilidade, 3 significa deveriam ter parte dessa responsabilidade e 5 significa deveriam ter total responsabilidade sobre isso. 7 0 0 0 38 37 39 agregado que a empresa pode oferecer à so cie da de. São, sobretudo, tarefas novas para as com pa nhias, que permitem di feren ciar uma empresa do restante do setor ou do mercado. Nos mercados emergentes, entretanto, a demanda por atua ção so cial e cidadã das empresas tem in cluí- 33 3 36 0 7 do rapidamente cobranças fun cio nais em torno de produtos, de práticas co mer ciais e de gestão. Como é previsível, segundo os consumidores emergentes, a cobrança pelo a ss i st e nc i al i sm o d e g r u p o s e xc l u íd o s o u em desvantagem, por meio de alternativas filantrópicas, deve integrar a agenda corporativa cidadã. Porém, essa expectativa está longe de se limitar a ações que envolvam apenas um au men to das despesas so ciais das grandes empresas. Espera- se das corporações, por exemplo, que estejam alinhadas com uma agenda progressista, aderindo ou capitaneando inicia ti vas le gais (ou pas sí veis de virar lei) fa vo rá veis à maio ria da população. No Brasil, o apoio à legislação em favor de uma licença maternidade mais longa foi estranhamente desperdiçado como cau sa de RSE, por muitas companhias multina - cio nais que, na prática, já exer ciam essa política para seus funcionários. Qual a lição que esses dados permitem formular? () Que existe um horizonte extremamente plural para planejar e trabalhar o portfólio de atua ção socioam bien tal, mesmo quando se identifica uma hie rar quia de prio ri da des; () Que Érico Hiller 8 Ideia Socioambiental SETEMBRO 009

Érico Hiller não adian ta uma empresa erguer ban deiras cidadãs se continua tendo problemas na esfera ope ra cio nal; (3) Que nem sempre é fácil p e n s a n d o n a s m u lt in ac i on a i s bra si lei ras ou es tran gei ras definir um único programa estratégico para a matriz igualmente aplicável em todas as partes do mundo onde a empresa opera. Sinais amarelos no balanço da reputação socioambiental O lado complementar da brecha em RSE é representado pela percepção do desempenho de diferentes in dús trias no que diz à qualidade da sua cidadania corporativa. O monitoramento de 0 segmentos da economia revela quedas e um relativo estancamento na ava lia ção popular, mesmo com a considerável multiplicação dos volumes de investimento so cial ao longo desses quase 0 anos. Nenhum dos setores analisados apresentou uma melhora. A mensagem dos consumidores às empresas parece clara: queremos mais e melhor!. Gráfico 6 Desempenho em RSE de Setores da Economia Diferença liquida*, Média histórica para países Setores que sofreram quedas de 00 a 009 0 0 0 0 0 TI/Computação Alimentos Telecomunicações Cerveja Energia Elétrica Farmacêutica Vestuário Automotiva Bancos/Financeira Petróleo *Diferença líquida representa a diferença entre opiniões positivas (Setor entre os melhores e Acima da média em RSE) menos opiniões negativas (Setor abaixo da média e Entre os piores em RSE) Pergunta: Avalie cada tipo de indústria em relação a quanto cumpre bem suas responsabilidades sociais. Comparado a outros setores da economia, você diria que (INDÚSTRIA) está/ estão...? 3 3 0 7 6 00 003 005 007 009 9 SETEMBRO 009 Ideia Socioambiental 83

Gráfico 7 - Consumo de premiação Recompensou empresas percebidas como socialmente responsáveis, 009 América do Norte Oceania Europa Ásia África América do Sul América Central Espaço em branco representa NS/NR. Segundo a percepção dos consumidores, alguns segmentos econômicos são vistos como mais sen sí veis às questões so cioam bien tais. Os resultados agregados para os paí ses, in cluin do o Brasil, onde o Monitor acompanha as ten dên cias, desde 00, apontam o setor de tecnologia e informática como aquele com maior capital re pu ta cio nal em matéria de sustentabilidade. Mesmo enfrentando menos prestígio so cioam bien tal do que detinha no início da década, a indústria de TI e computação consegue manter uma folgada liderança em comparação com os ou tros setores. Por que semelhante vantagem? Em grande medida, ela decorre da convicção sobre seu bai xo impacto am bien tal, mas também de uma percepção cria da de que esse setor observa uma ética de investimento no fun cio ná rio, contribui para a redução de despesas e está alinhado com uma das frentes nas quais se concentram as maio res expectativas de engajamento em pre sa rial: a educação e a inclusão na modernidade. Por ou tro lado, o jogo não pode ser considerado ganho. Se não apresentar respostas convincentes para questionamentos sobre a 56 0 3 5 9 9 7 5 3 36 8 8 65 7 65 Fez Pensou, mas não fez Não fez Pergunta: Agora eu gostaria de saber se no último ano você fez alguma das seguintes ações ou pensou em fazer? Recompensar uma empresa que você achasse socialmente responsável, comprando seus produtos ou falando bem da empresa para outras pessoas. Érico Hiller responsabilização pela coleta e reciclagem dos equipamentos, sua imagem de polidez am bien tal poderá sofrer abalos. São os mesmos motivos que moldam as opi niões dos ou tros setores? Não. Na ou tra ponta desse quadro de ten dên cias encontra- se a indústria petrolífera. Em relação a ela, são as questões de saúde, segurança e impacto am bien tal que governam a atitude do consumidor. A consolidação do consumidor responsável Em todo o mundo, cresce a cons ciên cia de que, com suas escolhas de compra, os consumidores definem o sucesso das empresas. Com as suas opi niões transmitidas via boca- a-boca, real ou virtual, levantam ou afundam reputações. Como em nenhum ou tro tempo, dispõem de poder de barganha su fi cien te para i nf l u e nc i a r a s a ç õ e s e mp r es ar i a i s c o m alcance coletivo. O ativismo dos consumidores continua em alta. Mas isso ocorre principalmente fora do Brasil, onde os movimentos de boi co te e buycot (compras pre mian do uma empresa pela sua atuação pública) existem há décadas. Observando os resultados da medição de 009, por exemplo, identifica- se uma correlação quase per fei ta entre ativismo de recompensa e o quanto cada re gião do planeta integra a vanguarda ou a retaguarda do movimento de RSE. Por ou tro lado, ao monitorar a evolução da compra responsável em termos punitivos fica claro que o ativismo consumidor não é um fenômeno restrito aos paí ses desenvolvidos, podendo ser verificado em algumas eco no mias emergentes. Mais ain da, os anos mais recentes do gráfico 7 revelam a ver da dei ra aceleração das compras motivadas pela ética e pela responsabilidade so cioam bien tal, com um 8 Ideia Socioambiental SETEMBRO 009

Gráfico 8 Consumo de retaliação Puniu empresas percebidas como socialmente irresponsáveis Países onde houve aumento: 00 009 70 60 50 0 30 0 0 Pergunta: Agora eu gostaria de saber se no último ano você fez alguma das seguintes ações, pensou em fazer - mas não fez, ou nem fez nem pensou em fazer? Punir uma empresa que você não achasse socialmente responsável, deixando de comprar seus produtos ou criticando a empresa para outras pessoas. 6 57 7 6 0 39 37 3 3 999 00 003 005 007 009 EUA Canadá Itália Reino Unido Turquia Coréia do Sul Espanha China Japão Esses consumidores res pon sá veis são de pelo menos 3 tipos: O consumidor ético, aquele que exerce sistematicamente uma compra sustentável, punindo e pre mian do empresas em decorrência da sua atua ção pública. Representa uma minoria de 7% dos consumidores; O consumidor de recompensa, aquele que prefere pre miar e evita punir empresas, mantendo uma indução positiva entre as com pa nhias sobre seu engajamento so cioam bien tal. Soma 5% dos consumidores; O consumidor de re ta lia ção, aquele que escolhe punir e não pre miar empresas como forma mais eficaz de influir no mercado. Totaliza 8% dos consumidores. Conclusões O ano de 009, longe de significar o momento em que os consumidores trocar a m p r i or id ad e s s oc i o a mb i e nt a i s p e l a sobrevivência econômica, como mui tos salto considerável es pe cial men te de 007 para 009, isto é, de um ano de auge para ou tro de colapso econômico. A mensagem que surge desse dado é cristalina: quem não estiver preparado para defender de ma nei ra pró-a ti va e coe ren te suas ações de sustentabilidade, corre o risco de enfrentar a fúria do consumidor. Con tra ria men te ao sugerido por alguns, no calor da crise, prio ri zar a saú de fi nan cei ra das com pa nhias em detrimento dos investimentos so ciais parece mais um tiro no pé. Congelar as ações de sustentabilidade, em cenário de restrição econômica, contribui apenas para disseminar uma imagem de oportunismo ou falta de comprometimento real com a so cie da de e o meio am bien te. Mobilizar contra si os consumidores mais ativos só vai acelerar a perda de mercado e au mentar seus problemas financeiros. No Brasil, como já men cio na do, o ativismo ain da é tímido entre os consumidores. Entretanto, um em cada 3 bra si lei ros rea li za compras motivadas com base na informação sobre o comportamento socioam bien tal das empresas. PREMIAR Nem pensou Pensou fazer Fez Gráfico 9 Comportamento responsável: tipologia Brasil 009 Consumo de Recompensa 5, Consumo Indiferente 59,3 Consumo Demagogo 0, Consumo Ético Consumo de Retaliação Nem pensou Pensou fazer Fez PUNIR Pergunta: Agora eu gostaria de saber se no último ano você fez alguma das seguintes ações, pensou em fazer? Recompensar uma empresa que você achasse socialmente responsável, comprando seus produtos ou falando bem da empresa para outras pessoas; Punir uma empresa que você não achasse socialmente responsável, deixando de comprar seus produtos ou criticando a empresa para outras pessoas. 7, 8, SETEMBRO 009 Ideia Socioambiental 85

A realidade de 009: as principais tendências Consumidores reagem à crise econômica, mas no mundo emergente e no Brasil são os problemas estruturais como crime, educação, pobreza e saúde os que preocupam mais; Contudo, a crise elevou duas pressões no plano individual dos consumidores: a crescente dificuldade em ter acesso aos alimentos e a sombra do desemprego são essas, portanto, as dimensões mais sensíveis aos olhos do consumidor, com base nas quais as grandes empresas precisam, hoje, reconstruir ou relançar sua plataforma de ação socioambiental; Em todo o mundo, a brecha entre expectativas e resultados continua se ampliando; Mas, no Brasil, essa brecha atinge um verdadeiro recorde, soando o alarme para o movimento de RSE. O consumidor está enviando uma mensagem muito clara: as empresas deveriam fazer mais e o que estão fazendo não é satisfatório; A legitimidade para agir em mais áreas continua forte no mundo, e isso é mais intenso em relação às responsabilidades operacionais; Entre os mercados emergentes, a demanda por atuação social e cidadã das empresas passa a incluir cobranças sobre minimizar o impacto ambiental da produção, garantir segurança e saúde nos produtos e controlar a sustentabilidade da cadeia de valor; As críticas ao desempenho em RSE afetam, inclusive, setores com alto impacto na economia e empregos, líderes em inovação e segmentos até há pouco tempo campeões de reputação; Aumentam as críticas contra a indústria automobilística e o setor bancário-financeiro. Já as companhias de tecnologia e informática embora tenham observado uma queda ainda continuam sendo percebidas de maneira favorável; O ativismo dos consumidores segue em alta principalmente fora do Brasil. No país, ele se traduz em três tipos de consumo responsável: o ético, o de recompensa e o de retaliação; Ao todo, um em cada três brasileiros pratica o consumo responsável, isto é, com base na informação sobre o comportamento socioambiental das empresas. antecipavam, está representando o instante em que a ban dei ra da responsabilidade so cioam bien tal passou triun fan te por um teste de fogo, tendo os consumidores como grandes alia dos. Durante este ano, ten dên cias identificadas, originalmente, em 00, não perderam força. Ao contrário, ganharam impulso e se consolidaram, fun cio nando como incentivo de peso para a conti nui da de e aprofundamento dos trabalhos rea li za dos por aquelas corporações ge nui na men te engajadas na sustentabilidade. Os consumidores, vale reforçar, estão mais atentos e, portanto, mais preparados para desmascarar as empresas que investem apenas por orienta ção de mar ke ting e que hoje fazem competição des leal para as com pa nhias r e sp o ns áv e i s. Os dados do estudo Monitor de Responsabilidade So cial legitimam, assim, a relevância do trabalho contínuo e ancorado nas necessidades da população feito por aquelas com pa nhias que colocam a RSE no coração das suas es tra té gias. São evi dên cias importantes do benefício que tal atua ção pode resultar tanto para o capital re pu ta cio nal, como para seu lugar no mercado. NA CABECEIRA A natureza de Da Vinci Leo nar do da Vinci foi provavelmente um dos maio res gê nios da Renascença, com projetos que até hoje são referência em áreas tão distintas quanto artes plásticas, arquitetura e anatomia humana. Em seu livro A Ciên cia de Leo nar do da Vinci Um mergulho profundo na mente do grande gênio da Renasceça, Fritjof Capra apresenta uma visão coe ren te do método cien tí fi co e das rea li zações do ícone renascentista que tanto in fluen ciou seu trabalho. O au tor utiliza elementos retirados de teo rias de Da Vinci para questionar como devemos utilizar o po ten cial humano em pleno século XXI para solu cio nar impasses e promover o desenvolvimento em equilíbrio com o planeta. Para isso, Capra ressalta a importância da atua ção dos in di ví duos como intérpretes da natureza, interligando observações e ideias de diferentes disciplinas a fim de reconhecer a interdependência fundamental dos fenômenos na tu rais e rees ta be le cer a conexão do homem com a Terra. A Ciência de Leonardo da Vinci Um mergulho profundo na mente do grande gênio da Renascença Fritjof Capra Editora Cultrix R$ 5,00 86 Ideia Socioambiental SETEMBRO 009