A DISCIPLINA DE LITERATURA NO ENSINO MÉDIO E SUA AVALIAÇÃO NO VESTIBULAR. Mariana Ferraz¹; Rosilene Frederico Rocha Bombini²

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Transcrição:

A DISCIPLINA DE LITERATURA NO ENSINO MÉDIO E SUA AVALIAÇÃO NO VESTIBULAR Mariana Ferraz¹; Rosilene Frederico Rocha Bombini² ¹Graduanda em Letras Português-Inglês Centro de Ciências Humanas da - Grupo de Pesquisa Ensino de Língua e Literatura ferraz-mariana@hotmail.com; ²Orientadora - Professora doutora do Centro de Ciências Humanas da Grupo de Pesquisa Ensino de Língua e Literatura rosilene.bombini@usc.br RESUMO A pesquisa em questão intitulada A disciplina de literatura no Ensino Médio e sua avaliação no Vestibular, visa analisar e discutir se a literatura avaliada no processo seletivo para ingresso no Ensino Superior, o chamado vestibular, está adequado ao que é desenvolvido nos estudos da área de literatura no Ensino Médio. Mesmo com as orientações apresentadas nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, sabe-se que o atual processo de leitura de Literatura não propicia um aproveitamento adequado da Literatura como fenômeno artístico, já que, muitas vezes, prioriza o ensino da história da Literatura ou o trabalho com fragmentos de obras literárias consideradas canônicas, não estimulando, dessa forma, o jovem estudante à prática da leitura literária. A escola deve oferecer condições apropriadas para que o aluno possa ter conhecimento da literatura, não só para um bom resultado em exames, mas também para a formação estética do leitor. Diante disso, pergunta-se: Será que o nível de conhecimento literário imposto pelos vestibulares é compatível com o que está sendo orientado e desenvolvido no ensino da literatura durante o Ensino Médio? Esta pesquisa pretende analisar as questões de literatura do vestibular mais concorrido do Brasil, ou seja, o vestibular da Fundação Universitária para o Vestibular (FUVEST), e a forma como esse conhecimento está sendo avaliado ao final da educação básica. Na sequência, os resultados serão comparados com as orientações das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio em relação ao ensino da literatura. Palavras-chave: Formação de leitor. Literatura. Ensino médio. Vestibular. INTRODUÇÃO Todos os anos, milhares de estudantes brasileiros são submetidos a vestibulares por todo o país para ingressar em um curso superior. O conteúdo programático é ensinado em sala de aula e estudado durante o ensino médio como preparação para essas provas. Alguns vestibulares divulgam listas de leituras obrigatórias da literatura, e as questões da prova solicitam, em geral, uma interpretação bem profunda das obras. Em alguns casos, é cobrado também que o estudante estabeleça conexões entre as produções literárias. Esta pesquisa justifica-se pela discussão que pretende realizar sobre a forma como a literatura é avaliada no processo seletivo para ingresso no Ensino Superior, o chamado vestibular. Questiona-se se a maneira como a literatura é atualmente cobrada no vestibular 637

está adequada ao que é desenvolvido nos estudos da área de literatura durante o Ensino Médio. Dada sua importância, a leitura deixa em cada leitor experiências que refletem na formação humana e profissional. A escola deve oferecer condições apropriadas para que o aluno possa ter conhecimento da literatura, não só para um bom resultado em exames, mas principalmente para contribuir com a formação estética do leitor. Deve-se instigar a busca pelas diversas leituras que são permitidas ao texto literário, como instrumento de pluralidade de significações. Diante disso, questiona-se: Será que o nível de conhecimento literário imposto pelos vestibulares é compatível com o que está sendo orientado e desenvolvido no Ensino Médio? Para responder a este questionamento, a presente pesquisa pretende analisar as questões de literatura do vestibular mais concorrido do Brasil, ou seja, o vestibular da Fundação Universitária para o Vestibular (FUVEST), e a forma como esse conhecimento está sendo avaliado ao final da educação básica. Na sequência, os resultados serão comparados com as orientações dadas pelos documentos oficiais: os Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio PCNEM (1999), os Parâmetros Curriculares Nacionais+: Ensino Médio Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais (2002): PCN+ e as Orientações Curriculares para o Ensino Médio (2006): OCN quanto ao ensino da literatura. Esta pesquisa tem como interesse principal discutir o nível de conhecimento literário imposto pelos vestibulares e sua adequação ou não ao que está sendo orientado e desenvolvido nos anos finais da educação básica. A pesquisa ainda propõe analisar as questões de literatura do vestibular da Fundação Universitária para o Vestibular (FUVEST), e a forma como esse conhecimento está sendo avaliado neste concorrido exame. Na sequência, os resultados serão comparados com as orientações das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio em relação ao ensino da literatura. METODOLOGIA A fim de discutir a temática proposta, este trabalho será executado por meio de pesquisa bibliográfica, baseando-se na documentação direta e indireta, visto que permitirá um aprofundamento da questão a ser estudada e a comprovação das hipóteses. Para este propósito, utilizar-se-ão livros e materiais disponíveis em bibliotecas, bem como outros já possuídos, além de artigos e trabalhos acadêmicos disponibilizados na internet. Como documentação direta, serão analisadas as provas dos três últimos anos do vestibular da Fundação Universitária para o Vestibular - Fuvest. Essa análise terá como foco as questões de literatura e suas relações com a teoria literária e os estudos literários que são realizados no Ensino Médio. A pesquisa será dividida em três partes, em que serão investigados e discutidos os assuntos correlacionados, com o intuito de alcançar o objetivo proposto. Na primeira parte serão abordados e discutidos os conceitos de literatura e cânone, além da questão do ensino da literatura e o trabalho com o texto literário no Ensino Médio. Na segunda parte do trabalho, serão apresentadas as questões selecionadas das provas de literatura da Fuvest (anos de 2015 a 2017) com as respectivas análises quanto ao conteúdo e forma como a literatura foi cobrada. Na terceira e última parte, será desenvolvida uma análise comparativa entre as orientações dadas pelos documentos oficiais - os Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino 638

Médio PCNEM (1999), os Parâmetros Curriculares Nacionais+: Ensino Médio Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais (2002): PCN+ e as Orientações Curriculares para o Ensino Médio (2006): OCN - para o ensino da literatura e as análises feitas das questões de prova selecionadas. As análises serão fundamentadas na Teoria Literária e no método da análise comparativa. Também serão consideradas discussões de estudiosos sobre o ensino da literatura para embasar o estudo e análise dos resultados. RESULTADOS E DISCUSSÃO PARCIAIS A cobrança de questões de literatura nos exames ao fim do Ensino Médio vai muito além da mera compreensão da obra, isto é, o entendimento do enredo, pois pode envolver contexto histórico, comparação entre obras, características dos personagens e do autor e também a interpretação das ideias gerais e valores do texto literário. Espera-se uma análise crítica da obra e até que o aluno seja capaz de estabelecer uma relação entre obras. Um grande problema é que, às vezes, os livros são apresentados aos alunos sem um trabalho significativo com a linguagem, não explorando certas habilidades de análise e interpretação de textos literários, tais como marcas textuais, relação entre a forma e o conteúdo do texto, elementos internos e externos, contexto sócio-histórico, além de relações com outras leituras. Sobre o texto literário, D Onofrio (2002) alega que a literatura é plurifuncional, isto é, não possui apenas uma função estética (arte da palavra e expressão do belo), mas também é capaz de favorecer a função lúdica (provocando prazer), função cognitiva (conhecimento de uma realidade objetiva ou psicológica), função catártica (purificação de sentimentos) e a função pragmática (pregação de uma ideologia) entre outras. Para Pound, a literatura é linguagem carregada de significado (POUND, 1990), significados que são revelados à medida que o leitor desenvolve suas habilidades de letramento literário, desenvolvidas ao longo de sua formação. As descobertas encontradas em uma obra literária podem variar de acordo com o leitor e sua interpretação, seja alguma informação ou frase que já sabia, mas desconhecia a origem, aprender palavras novas, se situar em contextos históricos políticos, econômicos e sociais, a forma que é conduzido o texto (prosa ou poesia, linguagem cotidiana ou erudita, linguagem figurada ou não) e também conhecer mais sobre o autor e sua forma de escrita. Segundo Schopenhauer (2015), nenhuma qualidade literária será adquirida apenas com a leitura do texto, todavia, desde que estimuladas, as habilidades de comparação, interpretação, contraste, persuasão, concisão ou até descritivismo aumentarão conforme as experiências literárias. Um texto literário é constituído por metáforas, metonímias, sonoridades, ritmos, narratividade, descrição, personagens, símbolos, ambiguidades e alegorias, isto é, recursos gramaticais, semânticos e fônicos. Tudo é ficção, matérias da imaginação da realidade. O texto literário é artístico, tem uma função estética, provocando diferentes emoções no leitor, sendo assim, nem sempre está ligado à realidade. De acordo com Martins (1989, p.32), o ato de ler é considerado um processo de compreensão de expressões formais e simbólicas, por meio de qualquer linguagem. A literatura, em um universo fictício ou real, auxilia no progresso da concentração, imaginação, senso crítico, sensibilidade, aspectos linguísticos e cognitivos, em conjunto com 639

conhecimentos históricos, abertos para novos olhares e possibilidades diante da vida humana, além de contribuir para a formação social. Muitos alunos leem os títulos indicados na escola apenas pela exigência do professor, que segue um plano de ensino com foco em apresentar uma cronologia literária, entre períodos literários, principais autores de cada época e fragmentos de textos em suas aulas para uma possível identificação das obras estudadas. Cosson (2011) afirma que, se o aluno sai da escola não gostando de leituras da ordem da ficção literária, a adoção dessa prática cultural em sua vida acaba tornando-se incerta ou, por vezes, inexistente. A leitura na escola, em grande parte das vezes é pouca e com fins didáticos, lê-se para preparar-se para o vestibular, fazer trabalhos, analisar textos, causando ainda mais incompreensão e desinteresse aos possíveis leitores, e até mesmo banalizando uma obra literária de grande valor. Segundo o autor, é importante que se desenvolva no estudante o letramento literário. As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) apresentam orientações importantes para a Educação Básica quanto ao planejamento curricular das escolas e sistema de ensino; são discutidas, desenvolvidas e fixadas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE). Mesmo com essas orientações, sabe-se que o atual processo de leitura de textos literários não propicia um aproveitamento adequado da literatura como fenômeno artístico, já que, muitas vezes, prioriza o ensino da história da literatura ou o trabalho com fragmentos de obras literárias consideradas canônicas, não estimulando, dessa forma, o jovem estudante à prática da leitura literária. Os grandes vestibulares do país divulgam, a cada novo processo seletivo, as listas de leituras obrigatórias para os vestibulandos. As obras solicitadas para esses exames influenciam indiretamente a seleção de leituras integrais. O professor não pode submeter seu programa focado totalmente ao programa do vestibular, mas os alunos precisam estudar todo o conteúdo demandado nesses exames em um período de três anos. O maior vestibular brasileiro, em nível de inscritos, o realizado pela Fundação Universitária para o Vestibular (FUVEST), publica todos os anos um manual do candidato, dividido por temas e conhecimentos que serão exigidos nesse exame. A prova de Português visa avaliar o candidato para ler, compreender e interpretar textos literários ou não literários, bem como conhecimentos linguísticos na produção de textos (adequação, correção, coesão e coerência). No que se refere à intertextualidade, espera-se o conhecimento das obras representativas de diferentes períodos da literatura brasileira e portuguesa. Os textos literários de leitura obrigatória fazem parte de uma lista divulgada anualmente para a realização do exame. Atualmente, a lista de leituras obrigatórias da Fuvest contém nove obras, de diversos movimentos literários. São elas: Iracema José de Alencar; Memórias póstumas de Brás Cubas Machado de Assis; O cortiço Aluísio Azevedo; A cidade e as serras Eça de Queirós; Minha vida de menina Helena Morley; Vidas secas Graciliano Ramos; Claro enigma Carlos Drummond de Andrade; Sagarana João Guimarães Rosa; Mayombe Pepetela. Subentende-se, daí, que todas essas obras, além de outras, devem ser estudadas ao longo do Ensino Médio por aqueles candidatos que desejam ter bom desempenho e serem aprovados no concorrido exame. CONCLUSÕES PARCIAIS 640

O valor da literatura canônica é inquestionável. Diversos estudiosos do assunto argumentam sobre essa questão. Italo Calvino, em sua obra Por que ler os clássicos, apresenta vários motivos para que os clássicos sejam lidos. Um desses motivos fica explícito quando o autor afirma que Os clássicos são livros que exercem uma influência particular quando se impõem como inesquecíveis e também quando se ocultam nas dobras da memória, mimetizando-se como inconsciente coletivo ou individual (CALVINO, 2007, p.10). Já a autora de Como e por que ler os clássicos desde cedo, Ana Maria Machado (2002), argumenta em defesa não apenas da leitura dos clássicos, mas também, que esse contato seja iniciado na infância, como o próprio título do livro expõe. Para Machado (2002, p.15), Clássico não é livro antigo e fora de moda. É livro eterno que nunca sai de moda. Enfatizando a discussão sobre o ensino de literatura, é possível constatar que os especialistas responsáveis pelo tema da literatura nas Orientações Curriculares para o Ensino Médio publicadas pelo MEC, em 2006, ressaltam as especificidades do texto literário. Essas orientações partem do conceito de letramento da pesquisadora Magda Soares, ao afirmar que o letramento é o estado ou condição de quem não apenas sabe ler e escrever, mas cultiva e exerce as práticas sociais da escrita (SOARES, 2004, p.47). As obras literárias possuem linguagem rebuscada, com vocabulário que retrata o período e o estilo em que foram produzidas e, muitas vezes, não são compreendidas pelo estudante do ensino médio. Normalmente, isso causa desinteresse pela dificuldade encontrada no contato com a linguagem e dificulta a compreensão. REFERÊNCIAS AMORA, Antônio Soares. Teoria da Literatura. São Paulo: Editora Clássico Científica, 1969. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Brasília: MEC/SEMTEC, 1999. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros curriculares nacionais: Ensino Médio - Orientações Educacionais complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Linguagens, códigos e suas tecnologias. Brasília: Ministério da Educação/Secretaria de Educação Média e Tecnológica, 2002. CALVINO, Italo. Por que ler os clássicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1993. COSSON, Rildo. Letramento Literário. São Paulo: Editora Contexto, 2016. D' ONOFRIO, Salvatore. Teoria do texto. São Paulo: Editora Ática, 2002. LAJOLO, Marisa. Literatura: Leitores & Leitura. São Paulo: Editora Moderna, 2001. MACHADO, Ana Maria. Como e por que ler os clássicos universais desde cedo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002. 145 p. 641

MARTINS, Maria Helena. O que é leitura. São Paulo: Brasiliense, 1989. POUND, Ezra. Abc da Literatura. São Paulo: Cultrix, 1990. PROENÇA FILHO, Domício. A linguagem literária. 5. ed. São Paulo: Editora Ática, 1995. SAMUEL, Roger. Novo Manual de Teoria Literária. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2002. SARAIVA, Juracy Assmann. (Org.). Literatura e alfabetização: do plano do choro ao plano da ação. Porto Alegre: Artmed, 2001. SCHOPENHAUER, Arthur. A arte de escrever. Porto Alegre: L&PM, 2015. SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte, Autêntica, 2004. TERRA, Ernani. Leitura do texto literário. São Paulo: Editora Contexto, 2014. 642