IMPACTOS TERRITORIAIS DO TURISMO EM ARACAJU SERGIPE BRASIL



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Transcrição:

IMPACTOS TERRITORIAIS DO TURISMO EM ARACAJU SERGIPE BRASIL Cristiane Alcântara de Jesus Santos Mestre em Geografia UFS cristie09@uol.com.br 1. INTRODUÇÃO O espaço urbano de Aracaju está em processo de reestruturação e qualificação em função do crescimento do fluxo turístico dos últimos anos. Essa reestruturação relaciona-se com a morfologia e conteúdo da cidade, proporcionando melhoria das condições sócio-econômicas da parcela da população diretamente envolvida, seja em termos de usufruir projetos de políticas públicas, ou mesmo, das iniciativas criadas pelo capital privado. Dessa forma, o estudo da atividade turística e sua influência no processo de reestruturação do espaço urbano de Aracaju, objeto desse estudo, envolve aspectos sociais, econômicos e culturais da cidade como um todo. Uma vez que a capitalização social da melhoria dos equipamentos sociais urbanos, ou mesmo, a criação de novos serviços, configura o processo de formação sócio-espacial atrelado às novas funções urbanas exercidas pela cidade, como a função turística potencial. As atividades culturais, econômicas e de lazer, onde incluem - se as várias formas de turismo, têm contribuído para patrocinar as mudanças espaciais necessárias de suporte à nova função. Segundo CARLOS (1996: 25 ), o espaço tem papel fundamental, uma vez que entra no âmbito da troca, como mercadoria. Desse modo, o solo urbano entra no circuito mercadológico, sendo apropriado privativamente com objetivo de servir como área de suporte das atividades desencadeadas pelo fluxo turístico. A exemplo dessa mercantilização, o surgimento e ampliação de hotéis, pousadas, restaurantes e serviços de recepção turística se configuram na territorialização de uma nova rede de decisões política capitalistas que têm no turismo a via para o desenvolvimento econômico. A natureza desse processo de reestruturação urbana apresenta-se dirigida, onde os lucros são previamente mensurados e apropriados por determinados agentes modeladores do espaço urbano, como o Estado e proprietários imobiliários.

Ao considerar o papel desses agentes, TRINDADE JÚNIOR (1998:32) afirma que não se pressupõe tratá-los de maneira isolada, como se cada ação correspondesse única e exclusivamente à realização de um interesse específico. Porém, as conexões criadas a partir desses empreendimentos turísticos também interagem em sentido oposto, visto que o próprio processo possibilita o aparecimento e a expansão de novos mercados de consumo e de mão-de-obra informal, gerando várias outras redes e territórios no mesmo espaço, como a rede dos vendedores de queijo assado, ou mesmo, dos guardadores de carros, subtraindo, também como sujeitos produtores do espaço, lucros líquidos da turistificação 1. Essa discussão apresenta-se baseada na percepção das categorias geográficas, onde traz à luz da critica da realidade, o lugar, a paisagem, as redes, o território e o próprio espaço através das relações sociais e espaciais de produção do cotidiano, os elementos fundamentais para o estudo do turismo na Geografia. O espaço do turismo deve ser entendido como condicionante econômico, social, político e cultural e não ser visto apenas como produto das relações sociais. Entretanto, a existência de territorialidades diferenciadas possibilita a organização desse espaço como fruto das relações sociais empreendidas pelo turismo. Nas ações de promoção do espaço turístico de Aracaju, além dos atrativos naturais, o Turismo de Eventos configura-se como principal responsável pelo fluxo turístico do Estado de Sergipe, e seu reflexo imediato tem se configurado na dotação de infra-estruturas receptivas e promocionais cada vez maiores na cidade. É certo que as políticas de captação de eventos e de investimentos no suporte dessa atividade, dirige-se para o incremento de áreas de interesse econômico, como os bairros próximos às praias. Segundo as diretrizes gerais do Plano de Desenvolvimento Urbano de Aracaju essas áreas de interesse para o desenvolvimento econômico serão dotadas de uma nova padronização urbana, dirigida tanto pelo capital público, através de projetos infraestruturais específicos, quanto pelas iniciativas do capital privado, que passa a modificar a fisionomia e os usos dessa parte da cidade. Tendo em vista esse aspecto, abre-se todo um leque de questionamentos a respeito das mudanças empreendidas pelo setor público e privado relacionadas as atividades turísticas e a reestruturação do espaço urbano de Aracaju.

2. ARACAJU: UMA BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO Ao longo dos seus 148 anos de vida, a cidade de Aracaju tem sido alvo de vários estudos, a exemplo dos realizados por DINIZ (1963), RIBEIRO (1989), MACHADO (1989) e FRANÇA (1999), a fim de analisar o papel desse centro urbano no contexto da economia sergipana, a sua reestruturação espacial e sua inserção no sistema urbano brasileiro. A cidade de Aracaju foi fundada em 17 de março de 1855 e passou a ser a capital do Estado de Sergipe substituindo a decadente cidade de São Cristóvão que até então exercia essa função. Aracaju está localizada no leste do Estado de Sergipe (Figura 1). Com uma área de 181 km 2 é o mais importante centro da rede urbana do estado de Sergipe destacandose por suas funções político-administrativa, comercial, industrial e prestação de serviços. FIGURA 1 SERGIPE LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO FONTE: Mapa Rodoviário de Sergipe, 2002. Estes papéis exercidos pela cidade de Aracaju resultam em uma crescente evolução da população, como mostram os dados do Censo Demográfico de Sergipe. (Tabela 1).

TABELA 1 ARACAJU EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO 1970 2000 ANOS POPULAÇÃO URBANA 1970 179.276 1980 287.934 1981 402.341* 2000 461.534 FONTE: IBGE, Censo Demográfico, Sergipe, 1970, 1980, 1991 e 2000. * Dados do município de Aracaju. A partir da década de setenta do século passado com a criação da EMSETUR (Empresa Sergipana de Turismo) através da Lei Estadual nº. 1.721 de 09 de dezembro de 1971, a cidade de Aracaju assume uma nova função a função turística -, uma vez que a criação desse órgão se constituiu num marco institucional de atuação do setor público no turismo sergipano e, sobretudo, na capital do Estado. 3. O TURISMO E A REESTRUTURAÇÃO DO ESPAÇO URBANO DE ARACAJU A complexa e permanente fragmentação do espaço urbano de Aracaju apresenta um mosaico de usos diferentes, distintos em termos da forma e conteúdo social. Todavia, o dinamismo temporal e espacial destes usos formam novos arranjos espaciais, cujos aspectos mais visíveis e fundamentais são os diferentes fluxos de pessoas, veículos e capitais, que segundo SANTOS (1988), revelam-se como elementos de destaque na organização espacial, integrando-se com os lugares (fixos), resultantes do trabalho social de vários agentes produtores do espaço. Neste contexto, um dos fatores responsáveis pela reestruturação do espaço urbano de Aracaju é o turismo, uma vez que uma série de espaços, equipamentos e serviços artificialmente fabricados, como a Nova Orla, passam a constituir a chamada oferta turística, ou seja, os núcleos receptores onde se dá o consumo consumptivo e o consumo produtivo do espaço, como observa SANTOS (1994: 147)... na realidade, a superposição dos efeitos do consumo consumptivo e do consumo produtivo contribui para ampliar a escala de urbanização e para aumentar a importância dos centros urbanos,

fortalecendo - os tanto do ponto de vista demográfico, quanto do ponto de vista econômico. De acordo com essas considerações, o fenômeno turístico em sua enorme complexidade, materializa-se territorialmente através das relações sociais inerentes ao seu processo, atenuando novas feições urbanísticas e novas demandas, a conceituada segunda natureza, empreendida pelo trabalho social, (CORRÊA, 1997:119) que também é criada artificialmente. Como exemplos dessa nova lógica, a revitalização da Praia de Atalaia através do Projeto Nova Orla, o projeto de revitalização do centro histórico de Aracaju, o projeto de restauração e ampliação do mercado central, ampliações do aeroporto e das vias de circulação entre as praias do litoral sul têm promovido novas articulações territoriais, em que os valores assumidos pela sociedade não mais respondem às características da população local, mas sintetizam atributos e usos aos territórios de acordo com os padrões impostos pela atividade propulsora das transformações sociais. 3.1 O PRODETUR/SE E AS INTERVENÇÕES NO ESPAÇO URBANO DE ARACAJU O PRODETUR (Programa de Desenvolvimento do Turismo) foi concebido pela SUDENE (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste) e EMBRATUR (Empresa Brasileira de Turismo) envolvendo o BNB (Banco do Nordeste do Brasil S.A), órgãos estaduais de turismo e de desenvolvimento regional. Este programa tem como objetivo fortalecer o turismo na região nordeste do Brasil, visando a consolidação do desenvolvimento da atividade como alternativa da oferta de emprego e do conseqüente aumento da renda per capita dos estados beneficiados. O PRODETUR tem seus investimentos aplicados, sobretudo, na infra-estrutura de apoio ao turismo e no caso específico de Sergipe, tais investimentos estão concentrados no município de Aracaju. A intervenção do estado através do PRODETUR/SE foi direcionada para os seguintes pontos: Saneamento básico; Construção, ampliação e melhoria do sistema viário; Recuperação e preservação do patrimônio histórico-cultural;

Expansão e modernização do aeroporto Santa Maria. Neste sentido, o estado torna-se o grande empreendedor responsável pelos equipamentos coletivos, promoção comercial e simbólica das novas fontes de receita e de emprego, como é o caso do projeto Nova Orla que produziu e produz comportamentos, novas estruturas e o marketing necessário ao mercado turístico de Aracaju. A seguir analisaremos dois projetos desenvolvidos com investimentos provenientes do PRODETUR. 3.1.1 O PROJETO NOVA ORLA A reestruturação urbana da Orla da Praia de Atalaia através do Projeto Nova Orla na década de 90, foi um dos projetos mais significativos desenvolvidos pelo Governo do Estado para alavancar o turismo Sergipe. Por ser um projeto grandioso foram construídas quadras polidesportivas, pista para a prática do skate, quadra de tênis, ciclovias, parques infantis, praça de eventos, sanitários e chuveiros públicos, postos salva-vidas e calçadão. Além disso, foram idealizadas uma boate e uma casa de forró. Estes empreendimentos não tiveram suas obras concluídas. Dos bares e restaurantes construídos, alguns já fecharam ou mudaram de proprietário, uma vez que devido ao número de estabelecimentos e a demanda atrelada a não disposição de renda por parte da população local não possibilitaram a manutenção, levando muitos a falência. É certo que o Estado assume o papel contraditório na perspectiva de possibilitar um desenvolvimento sócio-espacial pensado em bases que articulam identidades e culturas globais e locais produzindo na Orla da Praia de Atalaia a desterritorialização do consumo produtivo local, ao passo que cria novos territórios de consumo global tornando a praia um ambiente seletivo, onde alguns podem usufruir os bares e restaurantes padronizados entre outros serviços, enquanto que a maior parte da população utiliza apenas as amenidades naturais: sol. Areia e mar. A orla de Atalaia está localizada no bairro com o mesmo nome situado na zona sul da cidade de Aracaju. (Figura 2).

FIGURA 2 ARACAJU BAIRRO ATALAIA 2003 ATALAIA FONTE: Prefeitura Municipal de Aracaju O Bairro Atalaia caracteriza-se como área de expansão geográfica dos investimentos do capital incorporador, uma vez que a dinâmica espacial de construções residenciais e o status baseado nas amenidades litorâneas têm proporcionado mudanças não só nas características do bairro, mas nas relações deste com as demais localidades da cidade, resultando nos novos usos e acessibilidades diferenciadas. Com isso, a valorização imobiliária, fruto da interação entre determinações econômica, política e ideológica passa a impactar decisivamente na composição do espaço intra - urbano do bairro. Assim, justifica-se que a produção do espaço urbano do bairro Atalaia deriva de um processo complexo, que não é apenas determinado pela qualidade física, econômica e social, mas por atributos simbólicos criados e associados à sua localização. Atributos estes que contribuíram para que o bairro fosse considerado segundo os estudos da MONTOR/PMA (1972), SANDES (1982) e RIBEIRO (1989) como de alta renda.

Atualmente, o bairro Atalaia apresenta-se com uma certa heterogeneidade física representada pela presença de residências permanentes, segundas residências, estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços, que varia desde pequenas pousadas a hotéis cinco estrelas, além dos bares e restaurantes à beira mar. Dentro da política da EMSETUR, o bairro Atalaia foi escolhido para passar por uma reestruturação urbana, devido a um atrativo turístico natural localizado no bairro, a Praia de Atalaia. Desta forma, a partir de meados da década de oitenta há um crescimento do setor hoteleiro aracajuano e uma intensificação na década de noventa. De acordo com os dados do SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio a Pequena e Média Empresa) referente ao ano de 1999, Aracaju dispõe de 63 (sessenta e três) estabelecimentos hoteleiros, sendo que 55.5% desses empreendimentos estão localizados no bairro Atalaia, a exemplo do primeiro hotel cinco estrelas do Estado de Sergipe, Hotel Parque dos Coqueiros e o maior hotel de luxo do estado, Delmar Hotel. (Tabela 2). TABELA 2 PERFIL DA HOTELARIA ARACAJUANA HOTÉIS E POUSADAS CLASSIFICADAS E NÃO CLASSIFICADAS 1999 HOTÉIS Nº. DE HOTÉIS TOTAL Nº DE TOTAL CLAS. HNC. POUSADAS GERAL ARACAJU 14 12 26 37 63 BAIRRO ATALAIA 8 7 15 20 35 Fonte: SEBRAE Pesquisa direta Janeiro/1999. NOTA: CLAS.= Hotel Classificado. HNC= Hotel Não Classificado. Esses empreendimentos fixos de suporte da atividade turística, a partir da década de 90, são ampliados em função da crescente demanda da indústria do lazer e entretenimento que conecta manifestações culturais, religiosas, científicas e festivas ao calendário turístico do Estado de Sergipe. Reflexo do processo de produção espacial do capital privado associada às políticas públicas de desenvolvimento do turismo.

3.1.2. O PROJETO DE REVITALIZAÇÃO DO CENTRO HISTÓRICO DE ARACAJU O Projeto de Revitalização do centro Histórico de Aracaju foi elaborado em 1997 por uma empresa privada através de um convênio com a Secretaria de Planejamento do Governo do Estado de Sergipe. Segundo LOUREIRO (1999:8), o objetivo central desse projeto é transformar o centro em um local seguro, limpo, confortável [...] semelhante a um centro comercial. Além disso, um dos objetivos fundamentais do projeto é a idéia de impulsionar o turismo através do resgate da relação histórica entre o centro de Aracaju e o Rio Sergipe que margeia a cidade de Aracaju; a recuperação das edificações e das praças públicas. Com a execução do projeto, alguns pontos estratégicos do Centro Histórico de Aracaju sofreram modificações. Dentre eles podemos citar: Construção de rótulos com informações sobre os monumentos históricos e indicação de ruas; Reforma da Ponte do Imperador um dos principais pontos turísticos de Aracaju; Delimitação de setores especiais de turismo; Melhoria e ampliação de equipamentos coletivos, a exemplo de telefones e assentos públicos; Restauração de edificações antigas (Patrimônio Histórico-cultural). Essas intervenções influenciaram no novo perfil paisagístico do Centro Histórico da cidade de Aracaju. Atrelado ao Projeto de revitalização do centro Histórico foi desenvolvido um outro projeto que visou a restauração e ampliação do Mercado Municipal de Aracaju que está localizado no Centro Histórico de Aracaju. De acordo com LIBÖRIO (1994) uma das arquitetas envolvidas no projeto temos que resgatar a memória e a qualidade ambiental e apostar na zona do mercado como um ponto de atração turística para a cidade. O impacto desses projetos de intervenção sobre o espaço seja com o projeto Nova Orla ou com os projetos de recuperação e restauração do centro histórico de Aracaju mostra que por mais que os objetivos dos Governos locais (Municipal e Estadual) tenham sido atendidos com a melhoria da infra-estrutura geográfica dando suporte ao mercado

turístico, as conseqüências sócias são imensas, uma vez que os sujeitos envolvidos são variados e os interesses econômicos distintos. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS O processo de turistificação da cidade de Aracaju, envolve principalmente aspectos políticos, sociais, econômicos e culturais da população, promovendo uma reorganização espacial artificial, em nome do desenvolvimento local, à medida que esboça uma nova divisão espacial do trabalho através da produção e incorporação desses espaços às novas tendências de consumo e lógicas exteriores, baseadas numa reestruturação espacial global. Nesse sentido, a cidade como espaço do turismo, passa a desempenhar importância fundamental, sendo polarizador de um circuito de eventos; elemento favorável a um processo de desenvolvimento que apresenta vantagens e desvantagens na manutenção das autonomias e identidades locais atreladas às novas funções. É preciso considerar que o processo de reestruturação espacial da cidade de Aracaju não é apenas um produto das relações dos agentes hegemônicos, mas da ação concorrente de vários segmentos da sociedade local que se apropriam desses mesmos espaços, constituindo outras territorialidades. Entretanto, as questões baseadas na superposição dos novos territórios colocam o desenvolvimento local como a base das discussões de um processo de municipalização do turismo, nos possibilitando pensar a partir do local, perspectivas de desenvolvimento socioespacial, que não gere muitos impactos e, acima de tudo, sob os interesses da comunidade como um todo. NOTA: 1 Fenômeno induzido de dotação de características de usufruto, produção e consumo do espaço. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CARLOS, Ana Fani. (1996). (Re) Produção do Espaço Urbano, Edusp, São Paulo. CORRÊA, Roberto Lobato. (1997).Trajetórias Geográficas, Bertrand Brasil, Rio de Janeiro. DINIZ, José Alexandre Felizola. (1963). Aracaju Síntese de sua geografia Urbana. Departamento de Geografia/UFS, São Cristóvão/SE.

FRANÇA, Vera Lúcia Alves. (1999). Aracaju: Estado e Metropolização, Editora UFS, São Cristóvão/SE. MACHADO, E. V. (1989). Aracaju: paisagens e fetiches. Abordagem acerca do processo de seu crescimento recente, Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Santa Catarina. MONTOR/PMA. (1972). Plano de Desenvolvimento Local Integrado do município de Aracaju. SANDES, Berilo. (1982).Perfil do Aglomerado Urbano de Aracaju. SANTOS, Cristiane Alcântara de Jesus. (2000). Turismo de Eventos e Reestruturação do espaço Urbano do Bairro Atalaia. Departamento de Geografia/UFS, São Cristóvão/SE. SANTOS, Milton. (1988).Metamorfose do Espaço Habitado, Hucitec, São Paulo. SANTOS, Milton. (1994).Técnica, Espaço, Tempo Globalização e Meio Técnicocientífico informacional, Hucitec, São Paulo. RIBEIRO, Neuza Maria Góis. (1989). Transformações Recentes do Espaço Urbano: O Caso de Aracaju, Massangana, Recife. TRINDADE JÚNIOR, Saint-Clair Cordeiro da. (1998). Agentes, Redes e Territorialidades Urbanas. Revista Território, 5:31-50, jul/dez, Rio de Janeiro.