TÂMARAS: Aspectos da produção, consumo e mercado de um fruto de tradição milenar Autor - Ildo Eliezer Lederman Pesquisador aposentado da EMBRAP/IPA (ielederman@gmail.com) Introdução A tamareira, Phoenix dactylifera (L.), é conhecida pela humanidade desde os tempos antigos e tem sido cultivada pelo homem por mais de cinco mil anos. Até hoje, o fruto constitui-se um elemento importante na dieta alimentar da população em muitos países em particular nos países do Oriente Médio e do norte da África, devido às suas propriedades nutricionais e medicinais únicas, sem mencionar seu sabor delicioso. Seu consumo traz muitos benefícios para a saúde. É rico em minerais e fibras e, pelo seu alto teor de carboidratos, principalmente açúcares, é bastante energético. A tâmara, por ser um fruto com baixo conteúdo de umidade, tem alta capacidade de conservação e pode ser armazenada por longo período. É considerada árvore sagrada entre as três principais religiões do mundo e, devido a sua conexão com as tradições do cristianismo, islãmismo e judaísmo, o fruto apresenta uma alta demanda durante as festividades e cerimônias religiosas como a Páscoa, o Natal, o Ramadã e a festa dos tabernáculos, entre outros. A tamareira é cultivada em regiões áridas e semiáridas que se caracterizam por verões longos e quentes, com pouca ou sem chuvas e níveis de umidade relativa muito baixos durante o período de maturação do fruto. Por essa razão, seu cultivo e disseminação estão sempre associados às regiões e paisagens desérticas, sobrevivendo em condições adversas, como seca prolongada, altos níveis de salinidade e temperaturas extremas (Figura 1). Figura 1 Tâmaras cultivadas em região desértica nas proximidades do Mar Morto (Israel).
Embora as tamareiras sejam, principalmente, cultivadas em regiões áridas, elas também podem ser cultivadas em muitos outros países, como nas Américas, o sul da Europa, a Ásia, a África e a Austrália, como alimento ou como planta ornamental. No Brasil, a região semiárida do Nordeste brasileiro apresenta condições climáticas favoráveis ao seu cultivo, e alguns esforços e investimentos em pesquisas têm sido alocados na tentativa de torná-lo comercialmente viável. Algumas Características e Singularidades: A tamareira é uma planta dioica, ou seja, flores femininas e masculinas são produzidas em palmeiras separadas. Apenas as plantas femininas produzem frutos, mas, para que eles sejam produzidos, é fundamental a presença, nas redondezas, de plantas masculinas- fornecedoras de grãos de pólen, para uma polinização efetiva. Daí, para obter-se um rendimento de alta qualidade, é importante selecionar a tamareira masculina adequada para a polinização, devido ao efeito metaxênico do pólen de tamareira na qualidade e na maturidade dos frutos. Como resultado da propagação natural por meio de sementes, existem milhares de variedades e cultivares masculinas e femininas distribuídas nos países produtores de tâmaras. Contudo, na implantação de uma área de produção comercial, são utilizadas, apenas, mudas do tipo rebento (propagação vegetativa), que são produzidas pelas tamareiras (Figura.2). Figura 2 Rebentos de tamareira utilizados para plantio antes de sua separação da plantamãe. Os frutos são consumidos frescos ou secos, e o principal diferencial da tâmara em relação aos demais frutos secos é que ele é seco na própria árvore. As tâmaras distinguem-se, portanto, da maioria das outras frutas, por possuírem uma maturidade botânica e pelo menos três níveis distintos de maturação comercial: o khalaal doce, o rutab e o estágio tamr ( Figura 3).
Khalaal (doce): tâmaras, fisiologicamente maduras, duras e crocantes, com cerca de 50% de teor de umidade e mais amarelo vivo ou vermelho, perecíveis. rutab: parcial ou totalmente dourada, teor reduzido de umidade (média 30-35%), fibras amolecidas, suculentas, perecíveis. tamr: cor âmbar a castanho-escuro, azulada ou quase preta, teor de umidade ainda mais reduzido (abaixo de 25% para 10% e menos), textura de macia e flexível para firme. Essas denominações, em lingua árabe, correspondem na prática, a sua classificação em frutos macios (úmidos), semisecos e secos, respectivamente. Leva cerca de 200 dias, a partir da polinização, para se atingir a maturação completa, podendo, no entanto, variar em função da variedade, da região e das condições de cultivo (Figura 4). Khalaal rutab Tamr Figura 3 - As três principais etapas da maturação do fruto em que as tâmaras são consumidas.
Figura 4 Cachos de tâmaras em estágio final de desenvolvimento e maturação. Variedades Existem centenas de variedades de tâmaras que se enquadram nessas três subclassificações de maturação do fruto, sendo que a escolha do tipo de colheita em um ou em qualquer outro estágio depende das características varietais, das condições climáticas e da demanda do mercado. A seguir, as principais variedades de tâmaras cultivadas em Israel e suas características: Medjoul: fruto suculento e de textura suave, carnoso e doce. A origem do Medjoul é o Marrocos, sendo esta variedade conhecida como rei das tâmaras, devido ao seu tamanho e sabor. Seu peso varia de 16-35g e sua forma é alongada. Tem uma cor castanho-clara a escura, em tonalidade mogno (Figura 5). A Califórnia é o maior produtor mundial desta tâmara premium, e Israel, o maior exportador, tendo sido responsável pela exportação, em 2015, de aproximadamente 60% do total exportado desta variedade. Atualmente, em razão da grande demanda do mercado internacional e, em particular, dos países da União Europeia, as áreas de expansão do cultivo da tamareira em Israel é feita com a variedade Medjoul.
Figura 5 Variedade Medjoul, o Rei das tâmaras. Hallawi - é uma tâmara seca, doce e rica em fibras e sabor caramelado. A origem do Hallawi é o Egito. Seu tamanho é 7-12 g, sua forma é alongada e fina, e de cor marron-escura (Figura 6). Figura 6 Variedade Hallawi Deglet Nour é caracterizado pela sua pele brilhante, tom âmbar e sabor de nozes. É semisseco, ligeiramente enrugado e sua cor varia de castanho dourado claro a escuro. A origem do Deglet Nour é a Tunísia. Seu tamanho é 9-12 g, e sua forma é alongada (Figura 7). A Tunísia e a Argélia são responsáveis por 90% das exportações mundiais dessa fruta, embora os EUA e Israel também tenham lugares importantes no mercado. Essa variedade é a favorita tradicional da Europa.
Figura 7 Variedade Deglet Nour Ameri - Com alto teor de fibras e açúcar, tem frutos grandes (pesa 15-23g) e de forma oblonga. Tipificado pela sua cor marrom avermelhada, esta tâmara é consumida seca e enrugada, sendo muito apreciada no Egito (Figura 8).. Figura 8 Variedade Ameri Deri Tem o fruto macio, carnoso e doce, com uma cor marron escura que lembra o chocolate. A origem desta variedade é o Iraque. Seu tamanho é 7-12 g, pequeno e de forma larga (Figura 9). Figura 9 Variedade Deri
Produção de tâmaras - A produção mundial de tâmaras apresenta uma tendência constante de alta. De acordo com os dados divulgados pela FAO, em 20 anos - entre 1994 e 2014, a área de produção aumentou 46%, tendo atingindo, em 2014, cerca de 1,1 milhão de hectares. Neste mesmo ano, a produção mundial atingiu a cifra de 7,6 milhões de toneladas, aumento de 66% em relação à produção alcançada em 1994 (Figura10).
Exportação de tâmaras Os países líderes na produção de tâmaras são, tradicionalmente, grandes consumidores do fruto, assim na maioria dos casos, a quase totalidade da produção é destinada ao mercado interno, a exemplo do Egito, Irã, Arábia Saudita e Argélia (Figura 11). Tabela 1. Distribuição da produção e área de cultivo nos países produtores de tâmara(2014). Produção País (mil ton.) Percentagem da área de produção mundial (%) Percentagem da produção mundial (%) Percentagem do total das exportações (%) Egito 1.465 4 19 4 Irã 1.160 13 15 13 Arábia Saudita 767 9 10 13 Argélia 934 15 12 3 Iraque 662 21 8 2 Paquistão 537 8 7 12 Sudão 439 3 6 ----- Omã 328 3 4 1 Emirados 255 2 3 31 Árabes Tunísia 199 4 3 8 Israel 41 0.3 0.5 6 Outros 973 18 13 7 TOTAL 7.760 100 100 100
É importante salientar que, países como os Emirados Árabes, Tunísia e Israel que, em 2014, juntos, produziram o equivalente a 6,5% da produção global, foram, em contrapartida, responsáveis por 45% das exportações daquele ano, sendo que, deles, 31% foram provenientes dos Emirados Árabes (Tabela 1). Por outro lado, segundo dados da FAO, as importações de tâmaras giram em torno de 800 mil toneladas/ano (cerca de 10% do total produzido em 2014), destacando-se a Índia como o maior importador, com um volume de 312 mil ton., seguida do Marrocos (41,5 mil ton.) e França (32,1 mil ton.). Na Tabela 2, estão apresentados o consumo médio do fruto em diferentes países, sendo a Argélia (18.1 kg/habitante/ano), Egito (15.3 kg/hab./ano) e Irã (11.1 kg/hab./ano), os países que apresentam os maiores consumos per capita. Esses dados enfatizam a importância que exerce a tâmara na dieta alimentar da população desses países, constituindo-se um dos seus principais alimentos de subsistência. Tabela 2. Consumo (kg/habitante/ano) de tâmaras em diferentes países. PAÍS Consumo médio (kg/hab./ano) Argélia 18.1 Egito 15.3 Irã 11.1 Albânia 3.7 Marrocos 3.1 Israel 2.9 Paquistão 2.5 Islândia 0.7 Turquia 0.6 Dinamarca 0.5