A Projeção do Investimento em Capital de Giro

Documentos relacionados
A Projeção de Investimento em Capital de Giro na Estimação do Fluxo de Caixa

Contabilidade Avançada Prof. João Domiraci Paccez Exercício Nº 17

Finanças. Prof. Milton Henrique

Administração de Materiais I

Demonstração de Fluxo de Caixa (DFC) Contabilidade Intermediária II Fucamp/2017

EM NEGÓCIOS DOIS CONCEITOS SÃO FUNDAMENTAIS

Alfredo Preto Neto Complexo Hospitalar Edmundo Vasconcelos

Orçamento 29/08/2016. Orçamento de Vendas. Orçamento de Produção. Orçamento de Estoque Final. Orçamento de custos indiretos de fabricação

Capítulo 12. Tema 10: Análise das demonstrações contábeis/financeiras: noções iniciais. Noções de Contabilidade para Administradores EAC 0111

Exercício I Calcule a depreciação anual em cada situação abaixo.

AS DÚVIDAS MAIS FREQUENTES SOBRE A PROJEÇÃO DO CAPITAL DE GIRO

Balanço Patrimonial da Cia Salve&Kana

Análise Vertical Cia Foot S/A

Prova laboratorio contabil II unifran

Balanço Patrimonial. Circulante Compreende obrigações exigíveis que serão liquidadas até o final do próximo exercício social.

Contabilidade Avançada Prof. João Domiraci Paccez Exercício Nº 13

Contabilidade. Resumo

Quais são os objetivos do tópico... TEMA II. DETALHAMENTO DOS REGISTROS CONTÁBEIS. 05. Estoque

ORÇAMENTO EMPRESARIAL Unidade Orçamento Empresarial Valor: 1,0 /

ORÇAMENTO EMPRESARIAL Unidade Orçamento Empresarial Valor: /

REPRESENTAÇÃO GRAFICA; TERMINOLOGIA CONTÁBIL; E TIPOS DE CAPITAL. PROFª: Gitano Souto Silva

Aula 7. Fluxo de caixa. Professor: Cleber Almeida de Oliveira. slide 1

Faculdades Integradas de Taquara

Fábio Figueiredo Supervisor. Suporte

5 Esquema Básico da Contabilidade de Custos (I)

CONTABILIDADE GERAL. Balanço Patrimonial. Estoques Parte 2. Prof. Cláudio Alves

2 Os estoques são apresentados na seguinte ordem do balanço patrimonial:

Elementos de Custos Conceitos e aplicabilidade dos principais componentes de custos: Custos Diretos Indiretos 1 2 Produto A Produto B Produto C Estoqu

Ciclo Econômico, Operacional e Financeiro. Análise Empresarial e Financeira Prof: Fernando Aprato

1T06 1T05 Var % 491,7 422,4 16,4% 37,7 27,2 38,5%

7. Análise da Viabilidade Econômica de. Projetos

TIPOS DE INVESTIMENTOS IMPORTANTES NA ELABORAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA- PARTE ll

Análise do Capital de Giro. Administração Financeira 4º Sem. Unipampa Prof. Silvia Flores

ORÇAMENTO - 12 MESES a) De Rentabilidade ou Econômico. b) De Caixa ou Financeiro

Mini case #5. Cia Industrial Lemos Machado S. A. Solução

ANALISE DAS DEMONSGTRAÇÕES CONTÁBEIS

Fluxo de Caixa - Estimativas Fonte: Adaptado de Avaliação de Projetos de Invest., J.C. Lapponi, 2007

Francisco Cavalcante Alocação dos gastos fixos para o contrato. Alocação da meta de lucro para o contrato

Instituto de Economia - UFRJ IEE Economia do Empreendedorismo Professora: Renata La Rovere Tutor: Guilherme Santos

Balanço Patrimonial consolidado Cia Camilo e Santos S.A e Cia Silva e Silva S.A 31/3/2016 Em R$ Controladora Cia Camilo e Santos S.

CONTABILIDADE GERAL. Demonstração do Resultado do Exercício. Custo das Mercadorias Produtos Vendidos Custo dos Serviços Prestados Parte 1

PROCESSO DE PLANEJAMENTO FINANCEIRO


ORÇAMENTO EMPRESARIAL

TCU - Aula 03 C. Geral III

Variações do Patrimônio Líqudio

Financiamento do capital de giro*

Plano Financeiro. Projeto Empreendedor Redes de Computadores

Unidade IV CONTABILIDADE. Prof. Jean Cavaleiro

A U L A 15 O BALANÇO PATRIMONIAL

Aula FN. FINANÇAS Professor: Pedro Pereira de Carvalho Finanças para Empreendedores Prof. Pedro de Carvalho

Curso Fluxo de Caixa Realizado

UP-TO-DATE. ANO I. NÚMERO 19

Contabilidade Avançada Prof. João Domiraci Paccez Exercício Nº 7

Curso: Administração Período: 4º Professor: Hiago Ricardo de Mello Francisco Disciplina: Administração Financeira e Orçamentária II.

QUAL O RESULTADO DO MEU NEGÓCIO?

Exercício 1. Classifique os gastos abaixo:

DEMONSTRAÇÃO DAS ORIGENS E APLICAÇÕES DE RECURSOS

Mini case 5. Cia Industrial Pitanga Siqueira S. A. Solução

Prof Flávio S. Ferreira

Medindo custos logísticos e desempenho

COMO TRATAR O SALDO PELAS MÉDIAS NUMA ANÁLISE ECONÔMICA

Resultados das Operações no 1T05

Pessoa Jurídica - Tamanho

Sumário. Prefácio à 11 a edição, xvii. Prefácio à 10 a edição, xix. Prefácio à 9 a edição, xxi

Entendendo o Fluxo de Caixa Guia prático para elaboração e interpretação da Demonstração dos Fluxos de Caixa de acordo com a nova legislação

Sumário. Parte I Administração Financeira e Mercados Financeiros, 1

CIÊNCIAS CONTÁBEIS QUESTÕES DISCURSIVAS

CONTABILIDADE GERAL. Demonstrações Contábeis. Demonstração do Fluxo de Caixa Parte 2. Prof. Cláudio Alves

Análise do fluxo de caixa da empresa 19/08/2016. Prof. Dr. Osiris Marques

Lucratividade: Crescer, Sobreviver ou Morrer

Custos Industriais. Introdução. Introdução. Introdução à Contabilidade de Custos

CQH. 2ª Reunião do Grupo de Indicadores Financeiros Hospitalares

O SEBRAE E O QUE ELE PODE FAZER PELO SEU NEGÓCIO

GUIA DE EXERCÍCIOS. Análises e Índices de Empresas

Decisões de Financiamento Curto Prazo. Capital Circulante Líquido

Conta Classificação Registra Natureza do saldo caixa ativo circulante dinheiro e cheques no estabelecimento da devedora

EXAME DE SUFICIÊNCIA - 01/2000 I - CONTABILIDADE GERAL

SEM0530 Problemas de Engenharia Mecatrônica II

Antecipar o Problema

AdTranz Sistemas Eletromecânicos Ltda. Balanços patrimoniais (em Reais)

Ciclo Operacional e Ciclo de Caixa. Prof. Marcelo Delsoto

CONTABILIDADE. O OBJETO da Contabilidade é o patrimônio das entidades. Patrimônio administrável e em constante alteração.

[Ano] Análise de Curto Prazo. Campus Virtual Cruzeiro do Sul

LAUDO ECONÔMICO-FINANCEIRO OFFICE SHOP - INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE MÓVEIS LTDA.

RESULTADOS FINANCEIROS E PRODUTIVIDADE

EXERCÍCIOS TEORIA DA CONTABILIDADE Prof. Valbertone Fonte CFC. RESPONDA AS QUESTÕES ABAIXO: 1 - Podemos considerar como fato permutativo a transação:

Análise vertical e horizontal Análise por índices

FEA- USP, 30 de setembro de AVALIAÇÃO INTERMEDIÁRIA: EAE 422 Análise e Elaboração de Projetos Prof. Dr. Eduardo Luzio. Nome:

Unidade I CONTABILIDADE AVANÇADA. Prof. Walter Dominas

Prof. Esp. Salomão Soares

Exercícios Ponto de Equilíbrio - CORRIGIDO

CONTABILIDADE GERAL CONCEITO

1. Elaborar a Demonstração dos Fluxos de Caixa (Método Direto e Indireto). BALANÇO PATRIMONIAL Ativo X1 X2 Variação ATIVO CIRCULANTE

DFP - Demonstrações Financeiras Padronizadas - 31/12/ AMBEV S.A. Versão : 1. Composição do Capital 1. Proventos em Dinheiro 2

O QUE É UMA PROJEÇÃO DE DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS - PARTE III

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE DEPARTAMENTO DE CONTABILIDADE E ATUÁRIA

DFP - Demonstrações Financeiras Padronizadas - 31/12/ AMBEV S.A. Versão : 1. Composição do Capital 1. Proventos em Dinheiro 2

Modelos de Administração de Caixa. O giro de caixa é obtido pela divisão de 360 pelo ciclo de caixa, também chamado de ciclo financeiro.

Transcrição:

Capital de Giro A Projeção do Investimento em Capital de Giro O conceito de capital de giro (em inglês, working capital) utilizado aqui inclui as contas ativas e passivas, de curto prazo, de natureza operacional. Embora o capital de giro às vezes seja chamado de ativo circulante, o conceito utilizado aqui é: Mais amplo, pois considera tanto as contas ativas como as passivas. O que importa é o investimento líquido que a empresa deverá fazer no seu capital de giro, ou seja, quanto capital deverá empregar para financiá-lo. Se os estoques e o contas a receber puderem ser integral ou parcialmente financiados pelos fornecedores, tanto melhor. Neste sentido, o capital de giro (líquido) assemelha-se ao conceito de capital circulante líquido. Mais estrito, pois considera apenas as contas de natureza operacional, como contas a receber de clientes, estoques, fornecedores e outras contas a pagar. Não considera contas de origem não operacional, como as decorrentes de caixa excedente, empréstimos concedidos ou recebidos pela empresa. Se a empresa precisa de recursos de terceiros, é porque os sócios não têm capital suficiente e não uma necessidade da empresa em si. Formalmente, o curto prazo inclui as contas que vencerão no próximo exercício, usualmente em um ano. Gerencialmente, o prazo pode ser diferente, a critério dos administradores, usualmente mais curto. No caso de contas a receber ou a pagar a longo prazo, desde que decorrentes das operações, o tratamento é análogo ao do investimento em capital de giro. Por uma questão de coerência contábil, podem ser tratadas em separado, mas nunca ignoradas. Também haverá quem, por uma questão de simplicidade, as inclua como parte do capital de giro. Dimensionamento de Estoques O componente do capital de giro de compreensão mais intuitiva, por ser físico, é o estoque. A seguir são descritas algumas de suas formas: Estoque de matérias primas. É o material que, em uma indústria, sofrerá transformação para compor o produto acabado. Em uma metalúrgica, são as chapas e tarugos de aço que entram na produção. Em uma fornecedora de comida congelada, são os a- limentos in natura, que ainda serão transformados em pratos. As embalagens podem ser incluídas aqui ou compor em um item separado. Este estoque tende a ser maior quando o fornecimento é demorado ou incerto. O seu dimensionamento é feito a partir das necessidades da produção. Estoque de produtos em elaboração. Refere-se a uma parcela da matéria prima que já entrou em produção, mas que ainda não foi integralmente transformada em produto acabado. Em geral, é mais importante quando o ciclo de produção é longo, como na Prof. Dr. Roy Martelanc Pág. 1

construção (civil, naval, aeronaves) ou em processos em que o tempo seja um fator de produção (envelhecimento de bebidas, secagem de madeira). Estoque de produtos acabados. Termo utilizado na indústria, inclui os produtos que já estão prontos, apenas aguardando a venda. Na metalúrgica, são as peças já fabricadas; na fornecedora de congelados, são os pratos prontos. É tanto maior quando o volume comprado pelos clientes oscila muito e quando os lotes de produção devem ser elevados para diluir os custos fixos. Estoque de mercadorias. Em uma empresa comercial, só há estoque de material comprado pronto para a venda, denominado de mercadoria. Tanto as condições apresentadas para a matéria prima quanto as dos produtos acabados aumentam o estoque de mercadorias. Estoque de material de apoio. Inclui itens utilizados para apoiar a operação, seja industrial, comercial ou de serviços. Exemplos são peças de manutenção, material de controle de qualidade e material de escritório. Em geral é fixo e pouco expressivo. Seja qual for o tipo de estoque, seu dimensionamento tipicamente segue uma expressão como a apresentada a seguir: estoque = ( fluxo) x ( período de estocagem) A tabela a seguir especifica qual o conceito de fluxo correspondente a cada tipo de estoque: Estoque Matéria prima Produtos em elaboração Produtos acabados Mercadorias Almoxarifado Fluxo Uso do material na produção. Pode ser a porcentagem do CPV atribuídas ao material utilizado. De acordo com a programação de produção. CPV custo dos produtos vendidos. CMV custo das mercadorias vendidas. Uso do material, mas em geral é considerado um estoque fixo. Com freqüência, o período de estocagem é dado em uma unidade (dias) e o fluxo em outra (mensal, trimestral ou anual). Para homogeneizar as variáveis usadas, pode haver necessidade de dividir o produto da equação acima por uma constante (30, 90 ou 360, respectivamente). O período de estocagem é obtido a partir da política de programação de produção ou de compras. Também se pode pensar em um estoque com um dois componentes: um fixo (independente do volume de vendas) e um variável (mais alguns dias de vendas). Isto reproduz os ganhos de produtividade que podem ser conseguidos a partir do aumento da escala de produção. Com uma produção mais volumosa, o poder de negociação frente a consumi- Prof. Dr. Roy Martelanc Pág. 2

dores e clientes aumenta e compensa dedicar mais atenção à programação da produção. Isto se traduz em estoques menores. É importante notar que os estoques são calculados a preço de compra, e não de venda. Portanto, estas saídas também devem ser a preços de compra, portanto são custos. Para que os estoques possam ser dimensionados com base nas vendas, é necessário eliminar o efeito da margem bruta, como em: custo = ( receita líquida) x ( 1- margem bruta) Dimensionamento de Outras Contas do Capital de Giro As demais contas mais importantes do capital de giro são descritas a seguir. Clientes. É o investimento feito no prazo concedido aos clientes da empresa. Esta conta pode ser compreendida como um empréstimo concedido aos clientes. As vendas são feitas pelo preço brutos, que inclui todos os impostos. Portanto, a conta clientes deve ser dimensionada com base na receita bruta. As contas a receber de clientes são dimensionadas pelo produto do prazo médio de recebimento pela receita bruta. Fornecedores. Corresponde ao financiamento espontâneo recebido dos fornecedores. Como as compras são feitas a preço de custo, esta dívida deve ser comparada com o custo de material, seja de matérias primas, seja de mercadorias. Dimensiona-se pelo produto das compras pelo prazo médio de pagamento. Como as compras nem sempre estão explicitadas, freqüentemente são aproximadas pelo CMV, no caso de atividades comerciais, ou por uma porcentagem do CPV, nas industriais. Outras contas a pagar. São as contas a pagar que não são associadas aos fornecedores. Seu dimensionamento se dá pela multiplicação de um prazo médio de pagamento pelo volume de outros itens de custos e despesas (exceto fornecedores) que as geraram. Caixa operacional. É um volume de caixa considerado necessário para o funcionamento normal da empresa. Como a empresa costuma ter um volume de caixa maior ou então dívidas de curto prazo, este número costuma ficar mascarado. Seu dimensionamento é feito a partir do conhecimento dos ciclos mensais de caixa na empresa. Para tal projeta-se o fluxo de caixa diário de um mês padrão, adiciona-se alguma margem de incerteza e estima-se o caixa operacional em um valor que permita pagar as contas sem sobressaltos. Uma alternativa mais simples, porém muito usada, é apenas tomar alguns dias (uns cinco ou dez) de custos mais despesas (ou de receitas). Da mesma forma que com os estoques, pode haver necessidade de homogeneizar a unidade de tempo do prazo (de recebimento ou pagamento) com o do fluxo (receitas ou custos). Prof. Dr. Roy Martelanc Pág. 3

Investimento em Capital de Giro Uma vez dimensionadas as contas do capital de giro, passa ser necessário calcular o investimento a ser feito nelas. Para facilitar, será usado o exemplo, tome-se uma loja de autopeças. A tabela a seguir mostra as vendas, o custo, o saldo e o investimento nas principais contas do capital de giro: mês 0 mês 1 mês 2 mês 3 mês 4 receita bruta 100.000 120.000 120.000 120.000 custo (= compras) 75.000 90.000 90.000 90.000 Caixa Operacional dias de receita 10 dias 10 dias 10 dias 10 dias saldo 33.333 40.000 40.000 40.000 investimento 33.333 6.667 0 0 Contas a Receber dias de receita 30 dias 30 dias 30 dias 30 dias saldo 100.000 120.000 120.000 120.000 investimento 100.000 20.000 0 0 Estoque dias de custo 45 dias 45 dias 45 dias 30 dias saldo 112.500 135.000 135.000 90.000 investimento 112.500 22.500 0 (45.000) Contas a Pagar dias de custo 0 dias 0 dias 21 dias 21 dias saldo (passivo) 0 0 63.000 63.000 investimento 0 0 (63.000) 0 Total saldo 245.833 295.000 232.000 187.000 investimento 245.833 49.167 (63.000) (45.000) Tome-se como exemplo o caso do estoque. No primeiro mês é de $112,5 mil [= 75.000 x 45/30]. O investimento necessário para formar este primeiro estoque também é de $112,5 mil. No segundo mês, as vendas aumentam e o estoque passa a $ 135 mil [= 90.000 x 45/30]. O investimento, no segundo mês, é de $ 22,5 mil [= 135-112,5], pois apenas esta quantia é necessária para aumentar o nível de estoque. Note-se que a empresa vende (a preço de custo) $ 90 mil neste mesmo mês. No terceiro mês não há alteração no nível de estoque, não havendo novo investimento. No quarto, o prazo de estoque pode ser reduzido, pois a empresa aprende a trabalhar com maior eficiência. O novo volume de estoque passa a ser de $ 90 mil [= 90.000 x 30/30], o que permite um desinvestimento de $ 45 mil [= 90.000 135.000]. É dinheiro que pode ser retirado da empresa e utilizado em qualquer outra atividade, pois não é mais necessário à produção de riqueza aqui. Prof. Dr. Roy Martelanc Pág. 4

Caso semelhante é o das contas a receber de clientes. O seu saldo é proporcional à receita bruta. No primeiro mês é de $ 100 mil [= 100.000 x 30 / 30], equivalentes a um mês de vendas. Para se conseguir este nível de contas a receber, é necessário investir os $ 100 mil, pois são como um empréstimo concedido aos clientes. No segundo mês, as vendas aumentam e com elas o contas a receber, que vai para $ 120 mil [= 120.000 x 30 / 30]. Para tal, são investidos mais $ 20 mil. Nos dois meses seguintes, não há alteração das vendas, nem necessidade de investir no financiamento aos clientes. Uma outra forma de entender esta mesma saída de caixa é exemplificada na tabela a seguir. Se forem considerados os recebimentos efetivamente ocorridos (método direto), o fluxo de caixa de recebimentos ocorre somente 30 dias após as vendas, ou seja, um mês depois. mês 0 mês 1 mês 2 mês 3 mês 4 mês 5 receita bruta 100.000 120.000 120.000 120.000 120.000 custo (= compras) 75.000 90.000 90.000 90.000 90.000 Contas a Receber dias de receita 30 dias 30 dias 30 dias 30 dias 30 dias saldo 100.000 120.000 120.000 120.000 120.000 investimento 100.000 20.000 0 0 0 Método Direto fluxo de caixa 0 100.000 120.000 120.000 120.000 Método Indireto: Receita + Contas a Receber receita bruta 100.000 120.000 120.000 120.000 120.000 investimento (100.000) (20.000) 0 0 0 fluxo de caixa 0 100.000 120.000 120.000 120.000 Quando o mesmo fluxo de caixa é calculado a partir do lucro (método indireto), a receita é contada no mês em que são feitas as vendas. O fluxo de caixa decorrente das vendas é esta receita menos o investimento necessário em contas a receber. Pode se ver, do exemplo, que o fluxo de caixa é igual pelos dois métodos. O mesmo raciocínio é aplicado ao caixa operacional e aos fornecedores. Só que neste último caso, o sinal é invertido, pois trata-se de uma dívida. Quanto maior o prazo recebido, menor a necessidade de investir na formação de capital de giro próprio. Prof. Dr. Roy Martelanc Pág. 5