A doença meningocócica na região de Sorocaba, São Paulo, Brasil, no período de 1999 a 2008



Documentos relacionados
Capacitação. em Eventos. Situação Epidemiológica das. Meningites no Brasil. Área de Produção Editorial e Gráfica Núcleo de Comunicação

Boletim Epidemiológico Julho/2015

B O L E T I M EPIDEMIOLÓGICO HEPATITES VIRAIS. ano III nº 01

Palavras- chave: Vigilância epidemiológica, Dengue, Enfermagem

BOLETIM INFORMATIVO nº 04 HIV/AIDS 2015

Informe Epidemiológico CHIKUNGUNYA N O 03 Atualizado em , às 11h.

Informe Técnico Sarampo nº 9 - ALERTA SARAMPO. Novos casos confirmados de sarampo (Genótipo D4), residentes no Estado de São Paulo.

Revista de Saúde Pública ISSN: Universidade de São Paulo Brasil

Boletim Epidemiológico Secretaria de Vigilância em Saúde Ministério da Saúde Influenza: Monitoramento até a Semana Epidemiológica 37 de 2015

Perfil Epidemiológico da Meningite Brasil & Mundo

Salários na Construção Civil nos anos 2000: entre a formalização e a rotatividade

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Hanseníase no Brasil DADOS E INDICADORES SELECIONADOS

Caracterização dos acidentes escorpiônicos em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil, 2005 a 2009

Informe Técnico - SARAMPO nº2 /2010 Atualização da Situação Epidemiológica

Diminui a mortalidade por Aids no Estado de São Paulo

PNAD - Segurança Alimentar Insegurança alimentar diminui, mas ainda atinge 30,2% dos domicílios brasileiros

Briefing. Boletim Epidemiológico 2010

Boletim Epidemiológico Secretaria de Vigilância em Saúde Ministério da Saúde Influenza: Monitoramento até a Semana Epidemiológica 29 de 2014

Informe Técnico SARAMPO nº 5 Sarampo no Estado de São Paulo

Mudanças no Padrão da Mortalidade por Aids no Estado de São Paulo *

Saúde. reprodutiva: gravidez, assistência. pré-natal, parto. e baixo peso. ao nascer

A agenda demográfica e de políticas públicas do Estado de São Paulo

Gastos com medicamentos para tratamento da Doença de Alzheimer pelo Ministério da Saúde,

NOTA TÉCNICA 2. Investigação de casos de Encefalite Viral de Saint Louis, notificados no município de São José do Rio Preto SP, agosto de 2006.

HIV/aids no Brasil

Avaliação da oportunidade do sistema de vigilância de doenças de notificação compulsória no Brasil no período de

SITUAÇÃO DOS ODM NOS MUNICÍPIOS

A INSERÇÃO DOS NEGROS NOS MERCADOS DE TRABALHO METROPOLITANOS

Relato de Experiência: Enfrentamento do Surto de Meningite Viral em Pernambuco pelo Núcleo de Epidemiologia do Hospital Correia Picanço

ESTUDO DE CASOS DAS DOENÇAS EXANTEMÁTICAS

Informe Técnico: Vigilância das Meningites no Estado de Santa Catarina

Melhoria da qualidade da informação dos dados nacionais de Hepatites Virais do Brasil

A CARGA DE DOENÇA POR AIDS EM FLORIANÓPOLIS SC NO ANO DE 2009

DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DAS MENINGITES BACTERIANAS

Epidemiology of Meningococcal Disease in Brazil

GRUPO HOSPITALAR CONCEIÇÃO SERVIÇO DE SAÚDE COMUNITÁRIA APOIO TÉCNICO EM MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO

AVALIAÇÃO DA EPIDEMIA DE AIDS NO RIO GRANDE DO SUL dezembro de 2007

OS CAMINHOS DA FEBRE AMARELA NO TEMPO E NO ESPAÇO

CENTRO DE APOIO OPERACIONAL DE DEFESA DA SAÚDE CESAU

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DO HIV/AIDS E COINFECÇÕES NO ESTADO DE GOIÁS

Criminalidade. Luciano Nakabashi Juliano Condi

LUIZ HENRIQUE DA SILVEIRA Governador do Estado. EDUARDO PINHO MOREIRA Vice-Governador. CARMEM EMÍLIA BONFÁ ZANOTTO Secretária de Estado da Saúde

MORBIDADE. As tabelas foram feitas no software Excel, de forma a disponibilizar os dados utilizados na construção dos mapas e indicadores.

Panorama de 25 anos da mortalidade por Aids no Estado de São Paulo

Monitoramento das Doenças Diarréicas icas Agudas

ANÁLISE DA MORTE VIOLENTA SEGUNDO RAÇA /COR

SISCOLO RELATÓRIO PRÁ-SABER DIGITAL: Informações de Interesse à Saúde SISCOLO Porto Alegre 2008

Epidemiologia da Infecção Meningocócica

B O L E T I M EPIDEMIOLÓGICO ISSN AIDS DST. ano VIII nº 01

Vigilância Epidemiológica da aids e mortalidade

I n f o r m e E p i d e m i o l ó g i c o D S T - A I D S 1

PREVENÇÃO DE DST/AIDS APÓS VIOLÊNCIA SEXUAL AVALIAÇÃO DOS CASOS NOTIFICADOS À SES/RS.

c Taxas por milhão, ajustadas pela população padrão mundial, Câncer na Criança e no Adolescente no Brasil

AVALIAÇÃO DA EPIDEMIA DE AIDS NO RIO GRANDE DO SUL dezembro de 2007

Sumário Executivo Pesquisa Quantitativa Regular. Edição n 05

Tabela 1 - OPERACOES DE CREDITO (milhões de R$) Ano I Nov/13. Fonte: ESTBAN, Banco Central do Brasil

PROGRAMAÇÃO DAS AÇÕES DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE /2009

Gráfico 01: Número de EAS que notificaram mensalmente dados de IRAS no SONIH em 2013:

Sistema de Informação/Vigilância epidemiológica

Boletim Epidemiológico Volume 01, Nº 2, 04 de Julho 2013.

Sumário PNAD/SIMPOC 2001 Pontos importantes

Pesquisa de Condições de Vida Gráfico 24 Distribuição dos indivíduos, segundo condição de posse de plano de saúde (1) Estado de São Paulo 2006

ALERTA SARAMPO VACINAR, VACINAR e VACINAR ATUALIZAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA, ABRIL DE 2015

Estado de São Paulo mantém tendência de queda da Mortalidade Infantil

A POLÍTICA DE DST/AIDS NA VISÃO DE UM TRABALHADOR DO SUS. SORAIA REDA GILBER Farmacêutica Bioquímica LACEN PR

Resolução da Questão 1 Texto Definitivo

Pesquisa Mensal de Emprego PME. Algumas das principais características dos Trabalhadores Domésticos vis a vis a População Ocupada

Sumário Executivo. Amanda Reis. Luiz Augusto Carneiro Superintendente Executivo

OMS: Segundo relatório da situação sobre o Roteiro de Resposta ao Ébola, 5 setembro 2014

Informe Epidemiológico EBOLA N O 14 Atualizado em , às 14h

DOENÇA DIARREICA AGUDA. Edição nº 9, fevereiro / 2014 Ano III. DOENÇA DIARRÉICA AGUDA CID 10: A00 a A09

ALERTA SARAMPO Atualização da Situação Epidemiológica, Setembro 2014:

Pequenas e Médias Empresas no Canadá. Pequenos Negócios Conceito e Principais instituições de Apoio aos Pequenos Negócios

GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA Secretaria da Saúde do Estado da Bahia Superintendência de Vigilância e Proteção da Saúde

Informe Epidemiológico EBOLA N O 13 Atualizado em , às 14h

MENINGITE. Lucila T. Watanabe. Coordenação das Doenças Imunopreveníveis e Respiratórias

ATUALIZA ASSOCIAÇÃO CULTURAL ENFERMAGEM EM EMERGÊNCIA ÍRIA CRUZ PIMENTEL

INCIDÊNCIA DA DOENÇA MENINGOCÓCICA, NO PERÍODO 2010 A 2014, NO ESTADO DE SÃO PAULO

10 anos do Estatuto do Desarmamento

BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO HIV/ AIDS ESTADO DE GOIÁS

Boletim Epidemiológico

Pesquisa Mensal de Emprego

DESAFIOS NO DIAGNOSTICO LABORATORIAL DO SARAMPO NA FASE DE ELIMINAÇÃO. Marta Ferreira da Silva Rego

Diarreicas Agudas e CóleraC

SENDI 2004 XVI SEMINÁRIO NACIONAL DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA

Câncer de Próstata. Fernando Magioni Enfermeiro do Trabalho

Pesquisa Mensal de Emprego - PME

B O L E T I M EPIDEMIOLÓGICO ISSN HIV AIDS. Brasília

Vigilância em Saúde. Perfil do Tétano em Alagoas de 2007 a Nesta Edição: ANO 4 Nº 01 ANUAL JANEIRO 15

QUEDA NO NÍVEL DE ENDIVIDAMENTO DO CATARINENSE É ACOMPANHADA POR PEQUENA DETERIORAÇÃO DA QUALIDADE DAS DÍVIDAS

Brasil é 2º em ranking de redução de mortalidade infantil 3

Por que esses números são inaceitáveis?

INCIDÊNCIA DE AIDS POR SEXO NO ESTADO DE MINAS GERAIS, NO PERÍODO DE 2007 A AIDS INCIDENCE BY SEX IN STATE OF MINAS GERAIS, FROM 2007 TO 2010.

5.4 Transplantes. 1 Rim. Os dados dos transplantes serão analisados por grupos de órgãos.

Epidemiologia da Transmissão Vertical do HIV no Brasil

O Sr. CELSO RUSSOMANNO (PP-SP) pronuncia o. seguinte discurso: Senhor Presidente, Senhoras e Senhores

Transcrição:

NOTA RESEARCH NOTE 2397 A doença meningocócica na região de Sorocaba, São Paulo, Brasil, no período de 1999 a 2008 Meningococcal disease in the Sorocaba region, São Paulo State, Brazil, 1999-2008 Miriam Vannucchi Leme 1,2 Dirce Maria Trevisan Zanetta 2 Abstract Introdução 1 Instituto Adolfo Lutz, Sorocaba, Brasil. 2 Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil. Correspondência M. V. Leme Instituto Adolfo Lutz. Rua Júlio Hanser 49, Sorocaba, SP 18031-000, Brasil. miriamvannucchi@usp.br The objective of this study was to describe the occurrence of meningococcal disease reported to the Regional Health Department in Sorocaba, São Paulo State, Brazil, from 1999 to 2008. Annual incidence of the disease was two cases per 100,000 inhabitants, with an increase from 2006 to 2008. Annual incidence rates were highest in the 0 to 4 year age bracket. Case-fatality was 21.8%, higher in the 0 to 4 year age bracket (26.4%), which also showed the highest incidence of the disease, and in the over 30-year age bracket (28%). Diagnosis was confirmed by laboratory test in 71% of cases (culture in 45.3%) and by clinical and epidemiological criteria in 22%. Serological groups were B in 45.7%, C in 47.3%, W135 in 3.7%, and Y in 1.5% of the identified cases, with a predominance of B from 1999 to 2003 and C from 2004 to 2008. The most frequent phenotypes were B:4,7:P1.19,15 and C:23:P1.14-6. The results emphasize the need for regional surveillance of trends in the disease for early detection of outbreaks and monitoring circulating strains. Meningococcal Meningitis; Meningococcal Infections; Lethality; Epidemiological Surveillance A doença meningocócica é um importante agravo de Saúde Pública pelo seu potencial epidêmico e letalidade; além disso, deixa sequelas significativas 1. Os sorogrupos B e C são os responsáveis pela maior parte dos casos 2. No Brasil, a incidência média anual da doença meningocócica entre os anos de 1990 e 1999 foi de quatro casos por 100 mil habitantes, duas vezes os valores dos países desenvolvidos. A partir do ano de 2000, até 2009, a incidência no Brasil foi de 3,28 casos por 100 mil habitantes, por ano 3. No Estado de São Paulo, no ano de 1975, houve um pico (35,7 casos por 100 mil habitantes). De 1978 a 1987, a incidência permaneceu baixa, com dois casos por 100 mil habitantes por ano, mas, a partir de 1988, houve um aumento, iniciando um ciclo epidêmico que se prolongou até 2005. Entre 2000 e 2009, a incidência no Estado de São Paulo ficou em torno de 3,1 casos por 100 mil habitantes, por ano 3. Este estudo visou a descrever a incidência, bem como a letalidade total e por faixa etária, da doença meningocócica, sua distribuição por sorogrupo e os fenótipos predominantes, de 1999 a 2008, na região de Sorocaba, Departamento Regional de Saúde XVI (DRS-XVI) do Estado de São Paulo.

2398 Leme MV, Zanetta DMT Metodologia Foram analisados os casos da doença meningocócica confirmados no DRS-XVI, de janeiro de 1999 a dezembro de 2008. Essa região compreende 48 municípios e uma população de 2,1 milhões de habitantes. As seguintes informações foram obtidas nas fichas epidemiológicas ou no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN): idade do paciente, data da notificação, local de residência, desfecho do caso e classificação da doença. Dos registros do Instituto Adolfo Lutz (Laboratório I, de Sorocaba), extraíram-se os dados relativos a data de entrada da amostra, exame realizado, tipo de amostra utilizada e sorogrupo identificado. No Instituto Adolfo Lutz (Central, de São Paulo), foram obtidas as informações de sorotipagem e subtipagem por métodos sorológicos. Os dados populacionais são da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Fundação SEADE). A análise dos dados foi feita para a região, para o Município de Sorocaba e para os outros 47 municípios do DRS-XVI agrupados. Nos cálculos das incidências por faixa etária, foram considerados os grupos: 0-4 anos, 5-9 anos, 10-19 anos, 20-29 anos e 30 anos ou mais. A doença meningocócica foi classificada de acordo com a manifestação: meningococcemia (MCC), meningite meningocócica (MM) e meningite meningocócica com meningoccemia (MCC+MM). Foram estimadas as distribuições por manifestação. Os critérios de confirmação diagnóstica foram classificados em laboratoriais, clínico-epidemiológico, por necropsia e atestado de óbito. Os casos diagnosticados por critério laboratorial foram classificados segundo o exame utilizado: por cultura, contraimunoeletroforese, aglutinação pelo látex e bacterioscopia e, a partir de 2007, pela técnica do RT-PCR, realizada pelo Instituto Adolfo Lutz (Central). Resultados Entre 1999 e 2008, ocorreram 490 casos de doença meningocócica confirmados na região do DRS-XVI, registrados pelo Grupo de Vigilância Epidemiológica XXXI (GVE-XXXI). Os valores da incidência são mostrados na Figura 1. Em 1999 e 2000, as incidências estavam acima de três por 100 mil; a partir de 2001, ficaram em torno de dois até o final do período de estudo. Até 2005, as incidências em Sorocaba e nos outros 47 municípios foram semelhantes, porém, a partir de 2006, a cidade apresentou incidência maior que as outras, 5,5 por 100 mil habitantes no ano de 2008, contra 0,9, respectivamente. Figura 1 Incidência anual da doença meningocócica no Município de Sorocaba, São Paulo, Brasil, e nos outros 47 municípios do Departamento Regional de Saúde XVI (DRS-XVI), Sorocaba, São Paulo, Brasil, no período de 1999 a 2008.

DOENÇA MENINGOCÓCICA NA REGIÃO DE SOROCABA 2399 A Tabela 1 mostra as incidências por 100 mil habitantes, por faixa etária, podendo ser observado o predomínio da ocorrência da doença em crianças de até quatro anos. A distribuição por faixa etária foi de 43,3% para 0-4 anos; 17,3% para 5-9 anos; 18% para 10-19 anos; 11,2% para 20-29 anos e 10,2% para 30 anos ou mais. Quanto à manifestação clínica, a MM predominou, atingindo 45,1% dos casos; a forma mais grave, MCC, ocorreu em 21,4% dos casos e MM+MCC, em 33,5% dos casos. A distribuição das formas de manifestação clínica foi semelhante nos 47 municípios agrupados (49,1%, 18,8% e 32,1%, para MM, MCC e MM+MCC, respectivamente). No Município de Sorocaba, houve maior proporção de MCC (36,4%, 27,3% e 36,4%, respectivamente). A letalidade foi de 21,8%, oscilando entre 8,1% e 34,8%. A letalidade por faixa etária foi de 26,4% para 0-4 anos de idade; 10,6% para 5-9 anos; 18,2% para 10-19 anos; 21,8% para 20-29 anos e 28% para 30 anos ou mais. Dos 490 casos, 71% foram diagnosticados por critérios laboratoriais, 22% de acordo com critérios clínico-epidemiológicos e 7% por resultados de necrópsias e atestados de óbito. Dos 350 casos diagnosticados laboratorialmente, cultura foi realizada em 63,4%, contraimunoeletroforese ou aglutinação pelo látex, em 22%, e bacterioscopia, em 14,6%. O percentual de sorogrupagem foi de 55,7% (273 de 490 doenças meningocócicas notificadas). Dentre as 273 amostras analisadas, o sorogrupo B ocorreu em 45,7%; o C, em 47,3%; o W135, em 3,7%; o Y, em 1,5%; e em 1,8% o sorogrupo não foi identificado. No início do período de estudo, o sorogrupo B era o mais frequente; a partir de 2004, ocorreu uma substituição do sorogrupo B pelo C (Figura 2). Das 273 cepas cujo sorogrupo foi identificado, 142 (52%) tiveram seu fenótipo descrito, com sorotipos e sorossubtipos identificados. Considerando-se as 125 cepas identificadas como de sorogrupo B, 78,4 % tiveram seu fenótipo descrito, predominando o fenótipo B:4,7:P1.19,15 (46,7%), que ocorreu em todos os anos, exceto em 2008. Os 13 fenótipos B:4,7:P1.15 descritos (13,3%) ocorreram em 1999. Nos outros 39 casos (39,8%), cada um dos diferentes fenótipos identificados ocorreu uma ou duas vezes. Das 129 cepas do sorogrupo C, 78 (60%) tiveram seu fenótipo descrito, predominando o C:23:P1.14-6 (61,5%, n = 48). Tabela 1 Incidência anual da doença meningocócica por faixa etária e total por 100 mil habitantes. Região do Departamento Regional de Saúde XVI (DRS-XVI), Sorocaba, São Paulo, Brasil, no período de 1999 a 2008. Ano Faixa etária (anos) Total 0-4 5-9 10-19 20-29 30 ou mais 1999 8,2 2,7 1,5 0,7 0,4 3,3 2000 7,8 1,8 1,3 1,3 0,2 3,7 2001 3,4 0,9 1,3 0,4 0,2 2,6 2002 3,0 0,9 0,8 0,9 0,0 1,8 2003 3,1 0,9 0,6 0,2 0,0 1,6 2004 3,9 1,7 0,4 0,4 0,2 2,2 2005 3,9 1,3 0,6 0,6 0,1 2,1 2006 6,4 1,7 1,0 0,8 0,5 2,8 2007 5,9 0,8 1,4 0,8 0,1 1,7 2008 * 4,6 1,7 1,0 0,8 0,3 2,1 * Dados de 2008 não consolidados. Discussão A incidência no DRS-XVI foi semelhante à do Estado de São Paulo, de 4,62 casos por 100 mil habitantes no final dos anos 1990 e início nos anos 2000, declinando para 2,62 casos por 100 mil habitantes na metade da década de 2000 4. Em 2008, observou-se aumento, iniciado em 2006, no Município de Sorocaba. Nesse mesmo período, surtos da doença foram reportados por diversos órgãos de saúde: Porto Seguro, Bahia (2009); Búzios, Rio de Janeiro (2008); Rio Verde, Goiás (2008); Guarujá, São Paulo (2008); São José do Rio Preto, São Paulo (2008); Campinas, São Paulo (2007); São Paulo (2007) e Sete Lagoas, Minas Gerais (2007) 4,5,6. Na região do DRS-XVI, cerca de 20% dos casos foram de MCC, forma associada à maior letalidade da doença meningocócica 4. A letalidade média foi semelhante à relatada para Campinas nos anos de 1997 e 1998 4. Em alguns anos, o DRS-XVI apresentou valores preocupantes, como 35% em 2004. Nesse ano, ocorreu um surto em Itapeva, com incidência de 10,4 casos por 100 mil habitantes e letalidade de 50%. As incidências por faixa etária foram maiores para crianças entre 0-4 anos, como tem sido relatado na literatura, correspondendo a cerca de 50% dos casos. As faixas etárias de maior letalidade foram de 0-4 anos e de mais de 30 anos, com valores acima de 20%, superiores à média de 17% para todo o território brasileiro 7. Esses dados reforçam a importância da vacinação para crianças de até quatro anos. Para as populações

2400 Leme MV, Zanetta DMT Figura 2 Ocorrência de sorogrupos B e C nos casos de doença meningocócica com cepas identificados na região do Departamento Regional de Saúde XVI (DRS-XVI), Sorocaba, São Paulo, Brasil, no período de 1999 a 2008. 80 70 Sorogrupo B Sorogrupo C 60 50 40 30 20 10 % 0 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Ano acima de trinta anos, a incidência não é muito alta, mas a letalidade o é, indicando necessidade de atenção. A confirmação por diagnóstico laboratorial é essencial no controle da doença, indicando a qualidade do sistema de vigilância epidemiológica 4. O percentual de casos analisados laboratorialmente no DRS-XVI foi de 72% e, em um ano crítico em termos de incidência (2008), não chegou a 60%. Entre os casos com diagnósticos confirmados laboratorialmente, 63% foram por cultura. Na região de Campinas 4, entre 1993 e 2002, 80% dos casos tiveram confirmação laboratorial, sendo 70% por cultura. Na região de Santos, São Paulo, 32% das ocorrências confirmadas foram igualmente identificadas por cultura 8. Quanto aos sorogrupos isolados, houve predominância de B e C. Esses achados concordam com os dados relativos ao Estado de São Paulo e ao Brasil 8. Como em todo o país, houve, na primeira metade da década de observação, o predomínio do sorogrupo B. A partir de 2004, deu-se uma inversão, com as ocorrências do sorogrupo C aumentando, e as do tipo B diminuindo. Esse resultado foi compatível com o descrito para a Grande São Paulo, onde, entre 1990 e 2002, 59% dos casos de doença meningocócica eram do sorogrupo B e 36%, do sorogrupo C; de 2003 em diante, houve predominância de sorogrupo C, com 65% dos casos. Nas cepas do sorogrupo B, houve predomínio de fenótipo B:4,7:P1.15, assim como na região de Santos 8. Para as cepas de sorogrupo C, o fenótipo C:23:P1.14-6 foi o mais prevalente, como na região da grande São Paulo.

DOENÇA MENINGOCÓCICA NA REGIÃO DE SOROCABA 2401 Resumo O objetivo do estudo foi descrever a ocorrência da doença meningocócica notificada no Departamento Regional de Saúde XVI, Sorocaba, São Paulo, Brasil, no período de 1999 a 2008. Em Sorocaba, a incidência anual da doença foi de cerca de dois casos por 100 mil habitantes, com aumento entre 2006 e 2008. As incidências anuais foram maiores entre 0 a 4 anos de idade. A letalidade no período foi de 21,8%, maior nas faixas etárias de 0 a 4 anos (26,4%), na qual se deu a maior incidência da doença, e com idade superior a 30 anos (28%). A confirmação diagnóstica foi laboratorial em 71% dos casos (cultura em 45,3%) e por critérios clínico-epidemiológicos em 22%. O sorogrupo B ocorreu em 45,7%; o C, em 47,3%; o W135, em 3,7%; e o Y, em 1,5% dos casos identificados, com predomínio do sorogrupo B, entre 1999 e 2003, e do C, entre 2004 e 2008. Os fenótipos B:4,7:P1.19,15 e C:23:P1.14-6 predominaram. Os resultados reforçam a necessidade de acompanhamento, de forma regional, da tendência da doença para a detecção de surtos precocemente e monitoramento de cepas circulantes. Colaboradores M. V. Leme e D. M. T. Zanetta trabalharam na concepção, delineamento e redação final do artigo. M. V. Leme coletou e analisou os dados. Agradecimentos À pesquisadora A. P. S. Lemos, do Instituto Adolfo Lutz de São Paulo, por nos fornecer dados dos fenótipos das cepas analisadas no período de estudo na região DRS- XVI. Meningite Meningocócica; Infecções Meningocócicas; Letalidade; Vigilância Epidemiológica Referências 1. Schwartz B, Moore PS, Broome CV. Global epidemiology of meningococcal disease. Clin Microbiol Rev 1989; 2 Suppl:S118-24. 2. Requejo HIZ. A meningite meningocócica no mundo: dois séculos de história das epidemias. São Paulo: Edições Inteligentes; 2005. 3. Coordenadoria de Controle de Doenças, Centro de Vigilância Epidemiológica Prof. Alexandre Vranjac, Governo do Estado de São Paulo. Informe técnico: vacina conjugada contra o meningococo C. São Paulo: Governo do Estado de São Paulo; 2010. 4. Donalisio MRC, Kemp B, Rocha MMM, Ramalheira RMF. Letalidade na epidemiologia da doença meningocócica: estudo na região de Campinas, SP, 1993 a 1998. Rev Saúde Pública 2000; 34:589-95. 5. Diretoria de Vigilância Epidemiológica, Superintendência de Vigilância e Proteção da Saúde. Situação epidemiológica das meningites na Bahia/2011. Boletim Epidemiológico BA 2011; Ano 5, no. 5. 6. Subsecretaria de Vigilância em Saúde de Minas Gerais. Generalidades sobre a doença e situação epidemiológica das meningites em Minas Gerais até setembro de 2009. Belo Horizonte: Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais; 2009. (Boletim Informativo Meningites). 7. Centro Nacional de Epidemiologia. Evolução temporal das doenças de notificação compulsória no Brasil de 1980 a 1998. Boletim Epidemiológico 1999; Ano III, Edição Especial. 8. Arreaza ALV. Avaliação da elucidação diagnóstica das ocorrências notificadas de doença meningocócica no sistema de vigilância da Baixada Santista, entre 1998 a 2002 [Dissertação de Mestrado]. São Paulo: Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo; 2006. Recebido em 02/Jul/2012 Versão final reapresentada em 10/Set/2012 Aprovado em18/set/2012