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Transcrição:

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Sumário: I. A parte, sabendo da necessidade de produzir prova sobre facto por si alegado, não pode vir, no recurso, a suprir a junção de documento, que podia ter entregue até ao encerramento da discussão em 1.ª instância. II. Estando em causa o pagamento de uma quantia pecuniária muito significativa, não pode deixar de ganhar relevância instrutória a ausência de qualquer prova documental, quando é normal, nessas circunstâncias, haver um recibo de pagamento, assim como também é normal a existência de um escrito do empréstimo bancário. III. Nesse contexto, não se apresentando qualquer prova documental, pode aceitar-se como legítima a dúvida acerca da realidade do respectivo facto, não obstante a seriedade que possa ser atribuída a testemunha que tenha deposto sobre a matéria. ( Da responsabilidade do Relator) Decisão Integral: Acordam no Tribunal da Relação de Lisboa: I RELATÓRIO Anabela F, instaurou, em 15 de Outubro de 2007, no 8.º Juízo Cível da Comarca de Lisboa, contra Companhia de Seguros.., S.A., acção declarativa, sob a forma de processo sumário, pedindo que a Ré fosse condenada a pagar-lhe a quantia de 5 503,73, acrescida dos juros de mora à taxa legal, desde 19 de Novembro de 2004. Para tanto, alegou, em síntese, que, na sua qualidade de técnica oficial de contas, pagou à Dra. Anabela.., advogada, a quantia de 5 503,73, correspondente ao prejuízo sofrido por aquela em consequência de um lapso seu, impeditivo da entrega da declaração de IRS com base no regime da contabilidade organizada em vez do regime simplificado e que teria permitido um reembolso superior e pela diferença no valor referido, quantia que a Ré se negou a pagar-lhe, não obstante o contrato de seguro, formalizado pela apólice n.º..., cobrir o risco de responsabilidade civil decorrente da actividade de técnico oficial de contas. Citada, contestou a Ré, alegando fundamentalmente que o erro ou omissão não releva das funções de técnico oficial de contas e, por isso, não está protegido pelo referido contrato de seguro, para concluir pela sua absolvição do pedido. Realizada a audiência de discussão e julgamento, com gravação, foi proferida a sentença, que absolveu a R. do pedido. Não se conformando com a sentença, recorreu a Autora, a qual, tendo alegado, formulou essencialmente as seguintes conclusões: a) O artigo 23.º da petição inicial deveria ter sido dado como provado. b) O facto resultou provado do depoimento da testemunha Anabela Gonçalves e do documento ora junto. Pretende, com o seu provimento, a revogação da sentença recorrida e a sua substituição por decisão que condene a R. no pedido formulado. Contra-alegou a R., opondo-se designadamente à junção do documento apresentado com o recurso e concluindo pela sua absolvição do pedido. Corridos os vistos legais, cumpre apreciar e decidir. Nesta apelação, está em causa, para além da admissibilidade do documento apresentado com o Página 2 / 6

recurso, a impugnação da decisão sobre a matéria de facto e a efectivação da responsabilidade civil profissional, coberta por um contrato de seguro. II FUNDAMENTAÇÃO 2.1. Foram dados como provados os seguintes factos: 1. A A. é técnica oficial de contas e, nessa qualidade, encontra-se inscrita na Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas (CTOC). 2. A CTOC contratou com a R. um seguro de responsabilidade civil, apólice n.º..., destinado a cobrir situações de eventuais danos causados a clientes, decorrentes da actividade de técnico oficial de contas, apólice extensiva a todos os técnicos oficiais de contas inscritos. 3. Apólice que abrange também igualmente a actividade da A. e que cobre o risco de responsabilidade civil decorrente da actividade de técnico oficial de contas. 4. No âmbito da sua actividade profissional, a A. assumiu junto da Dra. Anabela.., advogada, as funções de técnica oficial de contas da mesma, desde 1986. 5. Tendo a A. analisado com a referida cliente quais as vantagens e desvantagens desta ter contabilidade organizada, a mesma optou pela contabilidade organizada, conforme o comunicou à A. 6. Em conformidade com o decidido pela cliente a 29 de Junho de 2001, a A. procedeu à entrega da declaração de alterações ao início da actividade, indicando a opção da sua cliente pela contabilidade organizada. 7. Em 18 de Fevereiro de 2002, a A. fez entrega de nova declaração de alterações mantendo a contabilidade organizada, através de formulário próprio para o efeito. 8. Era convicção da A. de que o tal formulário continha uma aplicação que permitia manter o regime escolhido pelo período de três anos, pelo que apesar de questionada pela cliente acerca da necessidade de entregar nova declaração, não o fez. 9. No início de 2004, quando a A. pretendeu proceder ao envio da declaração de IRS de 2003, deparou-se com a impossibilidade de aceitação pelo sistema da referida declaração com base na contabilidade organizada. 10. Constatou a A. que a sua cliente passou a estar sujeita ao regime simplificado por um período de três anos (entre 01/01/2003 e 31/12/2005). 11. Confrontada com tal facto, viu-se compelida a entregar a declaração de IRS de 2003 da sua cliente com base no regime simplificado. 12. Pela aplicação do regime simplificado, a cliente da A. foi reembolsada de imposto pago na quantia de 3 066,96 e pelo regime da contabilidade organizada, o montante de tal reembolso seria de 8 570, 69. 13. A A. veio accionar o seguro de responsabilidade civil junto da R. e com conhecimento à CTOC. 14. Pedido que obteve da R. resposta negativa. 15. Inconformada, a A. solicitou mais esclarecimentos junto da R., reiterando o que já tinha comunicado anteriormente. 16. Perante a posição da R., ao recusar assumir a responsabilidade na situação descrita pela A., esta solicitou a intervenção e parecer da Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas acerca da posição desta, bem como da existência de dois pareceres jurídicos que dão razão à Autora. 17. A Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas foi tomadora numa apólice com o n.º 49 704, cobrindo, durante o período de 1 de Julho de 2003 a 27 de Março de 2004, os riscos da responsabilidade civil profissional dos técnicos de contas inscritos naquela Câmara, no exercício Página 3 / 6

das suas funções, nos termos do n.º 4 do art. 52.º do DL n.º 452/99, de 5 de Novembro, que aprovou o Estatuto da Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas. 18. A citada apólice cobria um capital máximo por sinistro e por ano de 50 000,00 por aderente, com uma franquia de 10 % do valor da indemnização, no mínimo de 49,88. 19. Para o período de 10 de Novembro de 2000 a 30 de Junho de 2003, vigorou a apólice n.º 87/42 205. 20. Essa apólice cobria um capital máximo por sinistro e por ano de 10 024 100$00 ( 50 000,00) por aderente, com uma franquia de 10 % do valor da indemnização, no mínimo de 10 000$00. *** 2.2. Descritos os factos provados, importa então conhecer do objecto do recurso, delimitado pelas respectivas conclusões, e cujas questões jurídicas emergentes foram anteriormente especificadas. Com as alegações, a Apelante juntou o documento de fls. 231/232, que constitui um extracto de conta bancária, com a data de 31 de Março de 2005, para prova da matéria do artigo 23.º da petição inicial ( a Autora viu-se obrigada a ressarcir a sua cliente no montante de 5 503,73 ), com a justificação do julgamento proferido no Tribunal a quo. A Apelada opôs-se à sua junção, defendendo o seu desentranhamento, com fundamento no disposto no art. 706.º, n.º 1, 2.ª parte, do Código de Processo Civil (CPC). Tendo a acção sido instaurada antes de 1 de Janeiro de 2008, não se aplica aos presentes autos as alterações introduzidas no Código de Processo Civil pelo DL n.º 303/2007, de 24 de Agosto. Neste contexto, a junção de documentos com a apelação é regulada pelo n.º 1 do art. 706.º do CPC, segundo o qual as partes podem juntar documentos às alegações, nos casos excepcionais a que se refere o artigo 524.º ou no caso de a junção apenas se tornar necessária em virtude do julgamento proferido na 1.ª instância. No caso presente, não se invocou um documento superveniente ou um documento destinado a provar factos supervenientes (art. 524.º do CPC), mas antes a necessidade da sua junção por efeito do julgamento da 1.ª instância, ou seja, pelo fundamento constante da parte final do n.º 1 do art. 706.º do CPC. Todavia, o motivo invocado pela Apelante não integra, claramente, esse dispositivo normativo. Com efeito, a necessidade da junção do documento só tem justificação, quando, pela fundamentação da sentença ou pelo objecto da decisão, se torna necessário provar factos com cuja relevância a parte não podia razoavelmente contar antes da mesma ser proferida (ANTUNES VARELA, MIGUEL BEZERRA e SAMPAIO E NORA, Manual de Processo Civil, 2.ª edição. 1985, pág. 534). Sendo a junção já necessária, nomeadamente para fundamentar a acção, antes de ser proferida a sentença, não é possível juntar o documento com o recurso (ANTUNES VARELA, Revista de Legislação e de Jurisprudência, Ano 115.º, pág. 94). Na verdade, a situação prevista na lei não contempla o caso em que a parte, sabendo da necessidade de produzir prova sobre certo facto, obtém decisão desfavorável e pretende, depois, afastar o juízo antes formulado. Neste caso, podendo até a parte dispor de uma prova documental que entendeu não ser necessário utilizar, não se justifica abrir uma excepção à regra geral sobre a apresentação dos documentos inscrita no art. 523.º do CPC, para além de que a omissão resulta apenas de um comportamento imputável à própria parte. Por outro lado, estando o respectivo facto controvertido, não podia a parte considerar-se surpreendida com a decisão desfavorável, não relevando para o efeito o erro de previsão, nomeadamente quanto à suficiência da prova apresentada. Página 4 / 6

Ora, o pagamento da quantia pecuniária por parte da Apelante constitui um facto articulado na petição inicial e impugnado na contestação, integrando o conjunto da matéria controvertida, nos termos do n.º 1 do art. 511.º do CPC. Por isso, a Apelante sabia da necessidade de produzir a respectiva prova, não podendo vir agora, com o recurso, a suprir a junção do documento, que podia ter entregue até ao encerramento da discussão em 1.ª instância (art. 523.º do CPC). No mesmo sentido, decidiram os acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça, de 27 de Junho de 2000 (Colectânea de Jurisprudência, STJ, Ano VIII, T. 2, pág. 130), 22 de Novembro de 2007 (Processo n.º 07B3103) e 27 de Março de 2008 (Processo n.º 08B729), estes últimos acessíveis em www.dgsi.pt. Nesta conformidade, não pode admitir-se a junção do documento de fls. 231/232, devendo o mesmo ser desentranhado dos autos. 2.3. A Apelante impugnou a resposta negativa à matéria do artigo 23.º da petição inicial (foi dispensada a base instrutória), pretendendo uma resposta positiva, baseada nomeadamente no depoimento da testemunha Anabela Gonçalves. A decisão sobre a matéria de facto pode ser alterada nos casos previstos no n.º 1 do art. 712.º do CPC, sendo certo que, no caso, se procedeu à gravação dos depoimentos, pelo que é possível reapreciar a prova em que assentou a parte impugnada da decisão, nos termos determinados pelo n.º 2 do art. 712.º do CPC. A matéria em causa correspondia ao seguinte teor: A Autora viu-se obrigada a ressarcir a sua cliente no montante de 5 503,73? No despacho que fundamentou a decisão sobre a matéria de facto, consignou-se, para justificar a resposta negativa, que a Apelante não juntou aos autos qualquer suporte documental da realização do pagamento da quantia peticionada. Por outro lado, não obstante se tivesse reconhecido que a testemunha Anabela C.. depôs de forma isenta de forma a convencer a seriedade do seu depoimento considerou-se, também, que pese embora a testemunha ( ) ter referido que a A. lhe pagou integralmente a quantia de 5 503,73 e que para tal a A. terá contraído um empréstimo bancário, o que é certo é que não juntou qualquer suporte documental sobre tal facto, o que a acreditar nas palavras da testemunha da A. não seria difícil, pois haveria sempre o documento comprovativo do empréstimo bancário celebrado. Tendo-se procedido à audição do depoimento da referida testemunha, declarou a mesma, efectivamente, que a Apelante lhe pagou os valores devidos, que eram altos, ultrapassando os cinco mil euros, para o que terá contraído um empréstimo, e ter efectuado o pagamento através de transferência para a sua conta bancária. Depreende-se da motivação expressa pela 1.ª instância que a prova, para uma resposta positiva, foi insuficiente, por ausência de qualquer prova documental, quer do pagamento da respectiva quantia, quer do empréstimo bancário que terá sido contraído para aquele efeito. Na verdade, estando em causa o pagamento de uma quantia pecuniária muito significativa, não pode deixar de ganhar relevância instrutória a ausência de qualquer prova documental, quando é normal, nessas circunstâncias, haver um recibo do pagamento, para mais quando se pretende exercer, depois, um direito de regresso contra uma entidade seguradora, assim como também é normal a existência de um escrito do empréstimo bancário. Nesse contexto, não se apresentando qualquer prova documental, quando era mais que razoável admitir a sua existência, pode aceitar-se como legítima a dúvida acerca da realidade do respectivo facto, não obstante a seriedade que possa ser atribuída a testemunha que tenha deposto sobre a matéria. Página 5 / 6

Powered by TCPDF (www.tcpdf.org) Ora, existindo uma dúvida séria sobre a realidade de um facto, resolve-se tal dúvida contra a parte a quem o facto aproveita, em conformidade com o princípio plasmado no art. 516.º do CPC. Por isso, aproveitando o referido facto à Apelante, porque constitutivo do direito de crédito invocado na acção, a dúvida resolve-se contra a mesma Apelante. Assim sendo, apresenta-se como correcta a resposta negativa dada ao artigo 23.º da petição inicial, com a consequente improcedência da impugnação da decisão relativa à matéria de facto. 2.4. A alteração do enquadramento jurídico, com eventual efeito na decisão, tinha como pressuposto a modificação da decisão sobre a matéria de facto, nomeadamente no ponto que foi objecto de impugnação, pressuposto que, como acabou de se concluir, não se verificou, prejudicando qualquer outra pronúncia. Deste modo, a apelação só pode improceder. 2.5. Em conclusão, pode extrair-se de mais relevante: I - A parte, sabendo da necessidade de produzir prova sobre facto por si alegado, não pode vir, no recurso, a suprir a junção de documento, que podia ter entregue até ao encerramento da discussão em 1.ª instância. II - Estando em causa o pagamento de uma quantia pecuniária muito significativa, não pode deixar de ganhar relevância instrutória a ausência de qualquer prova documental, quando é normal, nessas circunstâncias, haver um recibo de pagamento, assim como também é normal a existência de um escrito do empréstimo bancário. III - Nesse contexto, não se apresentando qualquer prova documental, pode aceitar-se como legítima a dúvida acerca da realidade do respectivo facto, não obstante a seriedade que possa ser atribuída a testemunha que tenha deposto sobre a matéria. 2.6. A Apelante, ao ficar vencida por decaimento, é responsável pelo pagamento das custas, em conformidade com a regra da causalidade consagrada no art. 446.º, n.º s 1 e 2, do CPC, incluindo também as do incidente do desentranhamento do documento, neste caso, com a fixação da taxa de justiça no mínimo (art. 16.º, n.º 1, do Código das Custas Judiciais). III DECISÃO Pelo exposto, decide-se: 1) Desentranhar dos autos o documento de fls. 231/232. 2) Negar provimento ao recurso, confirmando a decisão recorrida. 3) Condenar a Apelante (Autora) no pagamento das custas do incidente, com o mínimo de taxa de justiça, e do recurso. Lisboa, 7 de Abril de 2011 Olindo dos Santos Geraldes Fátima Galante Ferreira Lopes Página 6 / 6