CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DE GERENCIAMENTO DE RISCOS EM EMPRESAS CONSTRUTORAS DE PEQUENO PORTE



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Transcrição:

CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DE GERENCIAMENTO DE RISCOS EM EMPRESAS CONSTRUTORAS DE PEQUENO PORTE Felipe de Souza Pinto Barreto (1) ; Paulo Roberto Pereira Andery (2) (1) Engenheiro Civil na CNEC WorleyParsons, e-mail: felipebarreto@ufmg.br (2) Professor do Departamento de Engenharia de Materiais e Construção da UFMG, e-mail: pandery@ufmg.br Resumo Estudos e técnicas de gerenciamento de projetos existentes são voltados preponderantemente a empresas de grande porte. Para a aplicação eficiente do gerenciamento de projetos, especificamente do gerenciamento de riscos, em empresas de pequeno porte, é necessário um estudo aprofundado do contexto, tanto interno quanto externo, no qual tais empresas estão inseridas. Foi realizado um estudo sobre diversas práticas em gerenciamento de riscos, tais como as propostas pelo PMBOK, ISO 31000, AS/NZS 4360 e NASA. Com base neste referencial teórico foi desenvolvido um modelo para gestão de riscos adaptado e condizente com os recursos, financeiros e humanos, que as construtoras de pequeno porte possuem. Por meio de uma pesquisa ação, fez-se um estudo prospectivo e diagnóstico dos processos de planejamento de empreendimentos de uma empresa de pequeno porte, e implementou-se na mesma o modelo acima referido, analisando as dificuldades, vantagens e resultados da implementação. Espera-se que, com o auxílio do roteiro proposto para a gestão de riscos, as empresas construtoras de pequeno porte adquiram a capacidade de prever, de maneira eficiente, os riscos aos quais os seus projetos estão expostos. Esta previsão permite planejar as respostas a cada um destes riscos, facilitando a mitigação e tratamento dos mesmos. Palavras-chave: Gerenciamento, Riscos, Construção. Abstract Studies and technical management of existing projects are geared mainly to large companies. For the efficient application of project management, specifically risk management in small businesses, you need a thorough study of the context, both internal and external, in which such businesses are located. A study was conducted on various risk management practices, such as those proposed by PMBOK, ISO 31000, AS/NZS 4360 and NASA. Based on this theoretical model was developed for risk adapted and consistent with the resources, financial and human, that the builders are small. Through an action research, it was a prospective study and diagnosis of the processes of planning projects in a small business, and implemented in the same model mentioned above, analyzing the difficulties, advantages and results of implementation. It is hoped that with the aid of the proposed guide for risk management, the small construction companies to acquire the ability to predict, effectively, the risks to which their 0623

projects are exposed. This prediction allows planning the answers to each of these risks, facilitating the mitigation and treatment of them. Keywords: Management, Risks, Construction. 1. INTRODUÇÃO Em um ambiente de grande concorrência, as empresas que possuem habilidade ao gerenciar seus projetos de maneira controlada e eficaz serão sempre as vencedoras. A falta de conhecimento em gerenciamento afeta a maioria das pequenas empresas no Brasil, em especial as empresas de construção. Com uma estrutura organizacional enxuta, composta por um pequeno grupo de funcionários, essas empresas demonstram dificuldade de implantar as práticas de gestão em seus projetos. O presente trabalho enfatiza o gerenciamento de riscos. Os principais objetivos do gerenciamento de riscos são aumentar a probabilidade e o impacto de eventos positivos e reduzir a probabilidade e o impacto dos eventos negativos. A gestão dos riscos durante o ciclo de vida do projeto é a função mais importante do gerente de projetos. Para melhorar a assertividade na previsão dos custos e do cronograma, o gerente de projeto possui ferramentas de análises qualitativa e quantitativa dos riscos. Estas análises funcionam como um termômetro que auxilia as tomadas de decisões. O desenvolvimento de um roteiro para identificar, analisar e classificar os riscos, condizente com os recursos disponíveis nas empresas construtoras de pequeno porte é uma peça fundamental para o alcance do sucesso em seus projetos. 2. GERENCIAMENTO DE RISCOS A meta dos processos relacionados ao risco é minimizar o impacto de eventos potencialmente negativos e obter total vantagem das oportunidades para melhoria (ISO 10006). Sendo assim, gerenciar riscos significa transformar ações reativas em proativas, valorizando a prevenção e a previsão dos eventos de riscos ao qual um determinado projeto está sujeito. No momento mais cedo do projeto deve se planejar o gerenciamento de riscos, estabelecendo a metodologia a ser adotada e os responsáveis por gerenciar os riscos do projeto. Após o planejamento deve ser feita uma identificação detalhada dos riscos que podem ocorrer durante o projeto. Técnicas como o Brainstorm e a EAR (Estrutura Analítica dos Riscos) podem ser utilizadas para identificação de riscos (PMBOK, 2008). Segundo o guia de gestão de riscos da NASA (2009), a identificação dos riscos depende fortemente tanto de uma comunicação aberta quanto de uma perspectiva de acompanhamento. Após a identificação deve ser feita uma análise qualitativa e quantitativa das consequências de cada risco sobre o projeto. Para realização de uma análise quantitativa dos riscos são necessárias informações e recursos que muitas vezes não estão disponíveis para empresas de pequeno porte. Este fator restringe a análise quantitativa para empresas que apresentam maior grau de maturidade em gestão. Para uma correta análise quantitativa é necessário um orçamento detalhado, histórico de projetos similares, medição de índices de produtividade, software de análise, etc. A análise qualitativa consiste basicamente na categorização de cada risco a partir da probabilidade de sua ocorrência e do seu impacto. Conforme Gray e Larson (2011), como 0624

resultado dessa análise é produzida uma matriz de riscos ou matriz de impacto e probabilidade, que será a linha de base para o gerenciamento de riscos durante todo o projeto. Com a análise qualitativa elaborada, o gerente de projetos deverá procurar então soluções para tratar os riscos, visando reduzir os impactos negativos e ampliar os impactos positivos, conforme dito anteriormente. A decisão em relação à resposta mais apropriada referente a um evento específico pode ser, de acordo com o PMBOK, eliminar o risco, mitigá-lo ou aceitá-lo. Após estas medidas deve ser analisada mais uma vez a matriz de riscos, obtendo então o impacto das medidas tomadas sobre os riscos. Após essa segunda análise o gerente de projeto pode decidir, por exemplo, por um plano de contingência ou reserva de contingência. O último processo definido pelo PMBOK é o de monitorar e controlar os riscos. Assim como em todas as outras áreas de gerenciamento, os riscos não são estáticos. Durante o projeto pode ocorrer o surgimento de novos riscos e riscos já identificados podem mudar sua probabilidade de impacto ou sua consequência. Logo, deve ser designada para cada risco, ou para um grupo de riscos uma pessoa responsável por acompanhar seu comportamento através de todo o ciclo de vida do projeto (PMBOK, 2008). O monitoramento e o controle de riscos é um processo intrínseco ao gerenciamento de projetos. 3. EMPRESAS CONSTRUTORAS DE PEQUENO PORTE As pequenas empresas de construção têm um papel de destaque no desenvolvimento social e econômico do Brasil, principalmente por sua grande capacidade de geração de emprego. Mesmo representando uma parcela significativa e contribuir imensamente para o crescimento do país, a maioria das micro e pequenas empresas ainda apresentam deficiências básicas em gestão e administração. Essas deficiências afetam a capacidade de alcançar o sucesso em seus projetos e, consequentemente, a credibilidade perante o mercado. Podem-se citar algumas dessas características: Estrutura organizacional inexistente, ou pelo menos flexível e não formalizada. Ocorre uma concentração do poder de decisão sobre o proprietário; Indefinição do nicho de mercado; Inexistência de planejamento estratégico; Dificuldades na implantação de SGQ (Sistemas de Gestão da Qualidade); Funcionários desempenham funções variadas dentro da empresa; Inexistência de mecanismos/formas de controle de processos. As dificuldades de tais empresas são, de certa maneira, justificadas pelos recursos limitados, tanto financeiros quanto humanos. Apesar de ser uma justificativa, tais limitações não podem ser tidas como paradigmas. Micro e pequenas empresas devem procurar soluções para desenvolver metodologias de trabalho ao mesmo tempo eficientes e viáveis. A tentativa de adaptação das práticas de grandes empresas é uma decisão errada e pode proporcionar uma experiência ruim para a empresa. As soluções devem ser, desde sua idealização, direcionadas a empresas de tal porte. Muitas micro e pequenas empresas na tentativa de implantar novas metodologias tentam copiar as grandes organizações. O resultado é invariavelmente insatisfatório. Esta experiência traumatiza a empresa, criando uma resistência a mudanças e a formas mais estruturadas e formais de trabalho. 0625

Dentro dessas empresas o fator mais importante para alcançar níveis superiores de maturidade é a liderança. A partir de uma liderança empenhada em desenvolver as forças, aproveitar oportunidades e minimizar os riscos, é possível transformar o ambiente organizacional, aumentar a credibilidade e por fim se destacar diante de um ambiente altamente concorrido. Como afirma Prado (2000), toda empresa toca projeto, o que as diferencia é a eficiência com que executam essa tarefa e o índice de sucesso de seus projetos. Em contraponto tais empresas apresentam capacidades distintas das empresas de médio e grande porte. Micro e pequenas empresas são: Ágeis perante a necessidade de mudança frente ao quadro de mercado; Flexíveis em relação ao número de funcionários; Flexíveis para assumir tipos distintos de empreendimentos (projetos); Apresentam equipe motivada. A indústria da construção é constantemente criticada como sendo incapaz de alcançar o mesmo nível de eficiência que a indústria da manufatura. Porém, de acordo com Melhado (2003), nas duas últimas décadas o Brasil enfrenta, dentro do ambiente da construção civil, um importante e complexo processo de transformação da configuração econômica e de competividade. Micro e pequenas empresas não fogem desta tendência. No entanto, diversos obstáculos se antepõem entre elas e a melhoria contínua. Dentre estes fatores pode-se mencionar a dificuldade para o acesso a financiamento, e consequentemente à tecnologia, consultoria e pesquisas; fragilidade perante o mercado, tanto no nível de fornecedores quanto de clientes; alta carga de impostos públicos. Segundo Freires e Pamplona (2005), mesmo sendo grandes empregadoras, estas empresas são as mais desprovidas de ferramentas, sejam elas financeiras, tecnológicas e de gestão, para enfrentar os desafios que o mercado lhes apresenta. Sendo assim, devem ser propostas soluções exclusivas para pequenas empresas. 4. ROTEIRO DE GERENCIAMENTO DE RISCOS EM EMPRESAS CONSTRUTORAS DE PEQUENO PORTE No caso de uma empresa construtora de pequeno porte, um dos fatores cruciais para alcance do sucesso na implantação é o apoio incondicional da Alta Administração. Através dessa política a Alta Administração confirma seu apoio à implantação, aplicação e desenvolvimento contínuo do Roteiro de Gerenciamento de Riscos em todos os projetos da empresa. O PMBOK define seis processos de gerenciamento de riscos, no entanto o autor decidiu pela introdução de mais dois processos e pela exclusão de outro. O primeiro é chamado Estabelecer o contexto interno e externo e segundo é o de Comunicar os riscos, ambos baseados na ISO 31000. Foi suprimido o processo de analisar quantitativamente os riscos, visto que apesar de seu grande benefício preventivo, a análise quantitativa não é sempre necessária (Risk Management, 2009). O roteiro para gerenciamento de riscos em empresas construtoras de pequeno porte foi definido observando-se os fatores descritos anteriormente. Os processos de gerenciamento de riscos que compõe este roteiro são mostrados a seguir. 4.1 Estabelecer o contexto 0626

De acordo com a ISO 31000 (2009), este processo evidencia a importância de estabelecer o contexto, tanto externo quanto interno ao qual a empresa e o projeto estão inseridos. Entender este contexto é uma medida crucial para realizar uma identificação dos riscos mais eficaz. Definir a relação entre a organização e o ambiente a que está inserida consiste em elaborar um quadro de forças, fraquezas, oportunidades e ameaças (AS/NZS 4360, 1999). 4.2 Planejar o gerenciamento de riscos O Framework de Gerenciamento de Riscos em conjunto com outros ativos organizacionais irão definir: Parâmetros para análise; Modelos de documentos; Nível de convivência com riscos; Atribuição de responsabilidades; Promover a cultura de gestão de riscos. 4.3 Identificar os riscos Neste ponto deve ser realizada uma Reunião de Identificação e Análise dos Riscos. É importante a participação das partes interessadas chave no projeto, como a alta administração da empresa, o cliente, especialistas em risco, fornecedores, o gerente do projeto, etc. Os riscos devem ser identificados descrevendo-se sua causa e sua provável consequência. Cada risco deve ser separado por categoria, possibilitando a criação de uma EAR (Estrutura Analítica dos Riscos). 4.4 Realizar a análise qualitativa dos riscos A análise qualitativa dos riscos deve ser iniciada ainda na Reunião de Identificação e Análise dos Riscos. Esta análise consiste basicamente na definição, para cada risco, da sua probabilidade de ocorrência e do grau de impacto daquele risco nos objetivos do projeto. São definidos os parâmetros de referência para probabilidade e impacto. O cruzamento destas duas informações resulta no nível do risco, o qual terá a função de priorizar ações e decisões a serem tomadas pelo gestor do projeto. Mesmo não sendo desenvolvida uma análise quantitativa de riscos, como por exemplo, a análise de Monte Carlo, é possível estabelecer uma contingência de prazo e custo para cada risco individualmente a partir do nível do risco definido na análise qualitativa. Para isso é necessário atribuir, também de forma individual, o valor de cada risco. A mensuração deste valor pode contar com o histórico de outros projetos ou com a experiências de especialistas. Esta análise, definida aqui como uma análise semi-quantitativa, pode proporcionar ao gerente do projeto uma perspectiva mais palpável dos riscos do projeto. Como produto da análise qualitativa haverá uma ampliação do documento de Registro de Riscos e a produção da Matriz de Riscos. Esta será uma matriz 5x5. Nas abcissas se encontrarão as consequências e nas ordenadas as probabilidades. 4.5 Planejar a resposta aos riscos 0627

Após a identificação e a primeira análise qualitativa dos riscos deve ser elaborado um plano de respostas aos riscos. Este plano deve ser coerente viável e eficiente, além disso, deve respeitar o nível convivência com os riscos que a empresa definiu em sua Framework de Gerenciamento de Riscos. Uma parte importante do plano de respostas aos riscos é a definição do Dono do Risco. Esta pessoa é a responsável por garantir a efetividade da resposta ao risco e por monitorar a variação dos parâmetros de impacto e probabilidade durante o ciclo de vida do projeto. Este processo deve atualizar novamente o documento de Registro de Riscos, inserindo desta vez informações sobre o plano de resposta para cada risco, o tipo de resposta a ser realizada. A decisão sobre o tipo de tratamento do risco pode ser feita na mesma Reunião de Identificação e Análise dos Riscos. Como neste roteiro o foco está nos riscos com impactos negativos sobre os objetivos do projeto, são possíveis quatro tipo de resposta, são elas: Eliminar; Mitigar; Compartilhar; Conviver. Após tratamento deverá ser realizada uma nova análise qualitativa. Com esta análise será possível visualizar o progresso dos riscos a partir de atualizações na Matriz de Risco. Para riscos de grande impacto ou alta probabilidade pode ser utilizada a ferramenta denominada Gráfico de Cachoeira, conforme descrito na revisão bibliográfica do presente trabalho. 4.6 Monitorar e controlar os riscos Este processo é responsável por reavaliar periodicamente cada risco, visando verificar se seu quadro (probabilidade e consequência) foi alterado. É importante a reavaliação do cenário do projeto. Modificações nos objetivos do projeto produzirão, invariavelmente, alterações no quadro de riscos. Além da alteração do quadro de riscos podem surgir, durante o desenvolvimento do projeto, novos riscos. Estes devem ser identificados o mais rápido possível, documentados e analisados de forma qualitativa. Para realizar as atividades descritas, os responsáveis por gerenciar os riscos devem trabalhar com o quadro de riscos elaborado no 3º processo (Identificar) e com a Matriz de Riscos definida no 4º processo (Análise Qualitativa). 4.7 Comunicar os riscos Informar todas as partes interessadas (Stakeholders) do projeto sobre os riscos. Este processo visa aprimorar a identificação de riscos através da participação de toda a equipe. Deve ser feita, no entanto uma diferenciação entre o que é comunicado internamente e externamente. A principal ferramenta utilizada neste processo é o De Olho no Risco. Através desta será realizado o treinamento dos funcionários e a criação da cultura de gerenciamento de riscos no ambiente da empresa. Gerar o envolvimento da equipe é uma decisão importante para mantêla motivada e gerar sinergia no gerenciamento de riscos. 5. CONCLUSÃO 0628

É possível concluir que as filosofias de gerenciamento de projetos difundidas pelo PMI através do seu guia PMBOK podem ser aplicadas de forma efetiva nas empresas construtoras de pequeno porte. No entanto, existe a necessidade evidente de se adaptar cada processo de gerenciamento, de forma que estes proporcionem mais benefícios que custos, ou seja, agreguem valor aos projetos que a empresa desenvolve. Por terem de sobreviver em ambientes de extrema concorrência, as construtoras de pequeno porte devem considerar a adoção de uma metodologia eficiente, porém enxuta, de gestão, como uma oportunidade de se destacar no mercado e elevar o índice de sucesso em seus projetos. Foi elaborado, considerando as características básicas das construtoras de pequeno porte, um roteiro completo de gerenciamento de riscos. O roteiro proposto possui considerável potencial de aplicação, se for considerado o grande número de pequenas construtoras existentes no Brasil. Com o atual crescimento da profissionalização, das exigências sobre qualidade e da redução das margens de lucro, possuir metodologias e técnicas de gestão é, além de um diferencial, um fator crucial para a sobrevivência e crescimento de tais empresas. Mesmo apresentando este grande potencial é necessário o comprometimento e apoio incondicional da alta administração da empresa no processo de implantação. Em tais empresas a figura do dono representa muito. O dono de uma pequena empresa é, acima de tudo, a sua principal referência, portanto o seu comprometimento o fator de sucesso principal na implantação do gerenciamento de riscos. 6. BIBLIOGRAFIA FREIRES, A.P.; PAMPLONA, E.D. Um enfoque no BDI de Empresas Construtoras de Pequeno Porte com a Utilização das Ferramentas de Custeio ABC/ABM. In: IX Congresso Internacional de Custos, 2005, Florianópolis. Anais do IX Congresso Internacional de Custos, 2005. p. 177. GRAY, C.F.; LARSON, E.W. Gerenciamento de projetos: o processo gerencial. 4ed. São Paulo: Ed. McGraw-Hill,2009. INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARZATION. ISO 31000:2009: Risk management- Guidelines for development and implementation of risk management. Geneva, Switzerland: International Organization for Standarzation, 2009. INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARZATION. ISO 10006:2003: Quality management Guidelines to quality in project management. Geneva, Switzerland: International Organization for Standarzation, 2003. MELHADO, S.B. Linking quality management, teamwork and integration to define a new model of design management for building construction. In: CIB W99. São Paulo, 2003. NATIONAL AERONAUTICS AND SPACE ADMINISTRATION. Guidelines for risk management. Washington, D.C. USA: National Aeronautics and Space Administration (NASA), 2009. PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE. Practice Standard for Project Risk Management. 1 ed. Pennsylvania: Project Management Institute, 2009. PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE. Um Guia do Conhecimento em Gerenciamento de Projetos (PMBOK Guide). 4 ed. Newtown Square, PA USA: Project Management Institute, 2008. PRADO, Darci. Gerenciamento de projetos nas organizações. 1ed. Belo Horizonte: Ed. de Desenvolvimento Gerencial, 2000. STANDARDS AUSTRALIA/STANDARDS NEW ZEALAND COMMITTEE. AS/NZS 4360:1999, Risk Management Standard. Sydney, Australia, 1999. 0629