Número do 1.0702.08.426316-0/001 Númeração 4263160- Relator: Relator do Acordão: Data do Julgamento: Data da Publicação: Des.(a) Evangelina Castilho Duarte Des.(a) Evangelina Castilho Duarte 13/07/0017 21/07/2017 EMENTA: APOSENTADORIA POR INVALIDEZ - AUXÍLIO DOENÇA ACIDENTÁRIO - ACIDENTE - NEXO CAUSAL - REQUISITOS NÃO PREENCHIDOS - ÔNUS DA PROVA. Incumbe ao segurado da previdência social, nos termos do art. 333, inciso I, do CPC/1973, correspondente ao art. 373, CPC/2015, comprovar sua incapacidade laboral decorrente do acidente do trabalho e a impossibilidade de reabilitação, quando pleiteia aposentadoria por invalidez, ou seu caráter temporário, para o caso de auxílio doença. APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0702.08.426316-0/001 - COMARCA DE UBERLÂNDIA - APELANTE(S): INSS INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - APELADO(A)(S): EDVALDO FERNANDES TRINDADE A C Ó R D Ã O Vistos etc., acorda, em Turma, a 14ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, em DAR PROVIMENTO AO RECURSO, EM REEXAME NECESSÁRIO. DESA. EVANGELINA CASTILHO DUARTE RELATORA. DESA. EVANGELINA CASTILHO DUARTE (RELATORA) 1
V O T O Tratam os autos de concessão de aposentadoria por invalidez ou de auxílio acidente, movida pelo Apelado, com alegação de ter sofrido lesão nos olhos, razão pela qual está impossibilitado de retomar suas atividades laborais. Ressaltou que, devido à sua incapacidade total e permanente, encontrase impedido de exercer qualquer tipo de atividade laborativa. Colacionou jurisprudência que entende amparar seu direito. Requereu a procedência do pedido. A r. decisão recorrida julgou procedente o pedido inicial, condenando a autarquia previdenciária ao pagamento de aposentadoria por invalidez no percentual de 100% do salário de benefício, desde 22 de março de 2007, e das parcelas vencidas, com acréscimo de correção monetária e juros de mora de 0,5% ao mês até 30 de junho de 2009 e, após, com atualização na forma do art. 1º-F, da Lei n. 9.494/97, com incidência de correção monetária pelo IPCA. Determinou a dedução das parcelas referentes ao auxílio-doença e aos períodos de relação empregatícia do autor, condenando o Apelante ao pagamento de honorários de sucumbência, fixados em 10% sobre o valor da liquidação, calculados sobre as parcelas vencidas até a data da sentença. O Apelante pretende a reforma da decisão de 1º grau, alegando que não há comprovação de que o Apelado exercia atividade de operador de motosserra, ressaltando que consta da Carteira de Trabalho que seu emprego era de ajudante de eletricista. 2
Salienta que, se o suposto acidente ocorreu em meados de 1997, o autor não poderia ter trabalhado no período de 07 de agosto de 1997 a 01 de abril de 2004. Assevera que a visão monocular não o impediu de exercer outras atividades, não podendo ser considerada incapacitante. Sustenta que os juros de mora e a correção devem incidir com base no art. 1º-F, da Lei 11.960/09. Requer o provimento do recurso. Contrarrazões às f. 149/152, pela manutenção da sentença. O ilustre representante do INSS foi intimado da r. sentença em 20 de maio de 2016, f. 139v., vindo o recurso em 30 de maio, no prazo legal, sem preparo, em razão da dispensa legal. Houve remessa necessária. Estão presentes os requisitos para conhecimento do recurso. Antes de adentrar ao mérito, importante tecer algumas considerações acerca da competência para o julgamento da presente ação. O Apelado pretende o recebimento de aposentadoria por invalidez ou auxílio doença, ao argumento de estar incapacitado para o trabalho, em razão de lesões nos olhos. De conformidade com o art. 109, I, da Constituição Federal, compete aos juízes federais processar e julgar as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho. 3
Verifica-se que a Carta Magna exclui, expressamente, as causas relativas a acidentes do trabalho da competência da Justiça Federal. O caso em questão não trata de benefício acidentário pago em razão de acidente de trabalho, sendo certo que o benefício discutido pelo autor é de natureza previdenciária. Sendo assim, o presente processo não se adequa à hipótese excepcional do art. 109, I, da CF, restando configurada a competência da Justiça Federal. Assim já se manifestou este egrégio Tribunal: "AÇÕES VISANDO À CONCESSÃO OU REVISÃO DE BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS - COMPETÊNCIA. APOSENTADORIA POR ACIDENTE DO TRABALHO - CONCESSÃO ANTES DA CF/88 - REVISÃO - CORREÇÃO DOS SALÁRIOS-DE-CONTRIBUIÇÃO PELA VARIAÇÃO NOMINAL DA ORTN/OTN - IMPOSSIBILIDADE - DECRETO 83.080/79, ART. 37, I - VEDAÇÃO LEGAL. A Justiça Comum é a competente para processar e julgar ações endereçadas contra o Instituto Nacional do Seguro Social - INSS - visando à concessão ou revisão de benefícios previdenciários decorrentes de acidente de trabalho, não obstante ser este autarquia federal. A renda mensal inicial dos benefícios de auxílio-doença, aposentadoria por invalidez, pensão e auxílio-reclusão, concedidos antes da CF/88, deve ser calculada com base na média aritmética dos 12 (doze) últimos salários-decontribuição imediatamente anteriores ao mês do afastamento da atividade, apurados em período não superior a 18 (dezoito) meses, consoante expressa previsão do art. 37, inciso I, do Decreto 83.080/79, sendo vedada, portanto, a correção ditada pela variação da ORTN/OTN. V.v. É de ser afastada a competência da Justiça Estadual nas hipóteses em que se postula a concessão ou revisão de benefício previdenciário, tendo em vista o disposto nos 3º e 4º do artigo 109 da Constituição Federal." (TJMG - Ap. n. 1.0024.05.684264-4/001 - Décima Quinta Câmara Cível - Rel. Des. Mota e Silva - DJ 06/03/2007). 4
Contudo, os autos foram remetidos à Justiça Estadual, tendo o magistrado de primeiro grau desistido de suscitar conflito negativo de competência, conforme f. 133. Logo, deve-se considerar que o benefício pleiteado pelo autor decorre de acidente de trabalho, como reconhecido pelo Juízo da Justiça Federal, f. 131, mantendo-se a competência da Justiça Estadual. O pedido formulado deve ser examinado com base na Lei n. 8.213/91, que preceitua, em seu art. 42, que a aposentadoria por invalidez será devida ao segurado que, estando ou não em gozo de auxílio-doença, for considerado incapaz e insusceptível de reabilitação para o exercício de atividade que lhe garanta a subsistência. O auxílio-doença, por seu turno, será concedido ao segurado que ficar incapacitado para o seu trabalho ou para a sua atividade habitual, por mais de 15 dias consecutivos, nos termos do artigo 59 da referida lei. E mais, o art. 60, da lei de benefícios, prescreve que o auxílio-doença perdurará enquanto o segurado permanecer incapacitado. Nos termos do art. 373, CPC/2015, compete à parte comprovar o fato constitutivo do seu direito; no caso concreto, a incapacidade laboral decorrente do acidente do trabalho e a impossibilidade de reabilitação, para o caso de aposentadoria por invalidez, ou seu caráter temporário, para o caso de auxílio doença. No presente caso, entretanto, não restou demonstrado nexo de causalidade entre a doença do Apelante e a atividade laboral que exercia. Na petição inicial, o Apelante não discorreu acerca dos fatos que o levaram a perder a visão total de uma dos olhos e a visão parcial do outro, não tendo sequer mencionado a ocorrência de acidente de 5
trabalho. Ressalte-se que o Apelante sequer apresentou a Comunicação de Acidente do Trabalho (CAT), tendo o perito oficial enquadrado a hipótese dos autos como acidente de trabalho, por ter o Apelante informado que "[...] apresentou o trauma no olho direito quando trabalhava em uma firma de motosserra, quando bateu tronco em seu olho há 12 anos [...]", f. 48. Mister frisar que, na CTPS do autor, não há registro de que tenha laborado na "firma de motosserra", havendo registro apenas do exercício da atividade de ajudante de eletricista, com admissão em 2005, vários anos após a ocorrência do suposto acidente. Ademais, de acordo com o documento de f. 14, o Apelante formulou requerimento de auxílio-doença previdenciário, em 04 de agosto de 2006, não havendo menção da ocorrência de qualquer acidente. Não sendo, portanto, comprovado o nexo de causalidade entre a incapacidade permanente e a atividade laboral do Apelante, não há direito ao recebimento da aposentadoria por invalidez ou do auxílio doença acidentário. Este é o entendimento deste egrégio Tribunal: "APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE RESTABELECIMENTO DE AUXÍLIO DOENÇA OU CONCESSÃO DE APOSENTADORIA POR INVALIDEZ - INSS - ACIDENTE DE TRABALHO - FALTA DE NEXO CAUSAL - INDEFERIMENTO DO BENEFÍCIO ACIDENTÁRIO. Não restando comprovado nos autos que a incapacidade laborativa decorreu de nexo de causalidade com o acidente do trabalho, impõe-se o indeferimento do benefício acidentário pleiteado". (TJMG - 17ª Câmara Cível - Apelação Cível 1.0024.10.120445-1/003 - Desembargador Relator Luciano Pinto - DJ 28.11.2013). Com tais considerações, deve ser reformada a decisão recorrida, 6
julgando-se improcedente o pedido inicial. DIANTE DO EXPOSTO, dou provimento ao recurso apresentado por INSS INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL, reformando a sentença recorrida, para julgar improcedente o pedido de EDVALDO FERNANDES TRINDADE, condenando-o ao pagamento de custas e honorários de sucumbência, fixados em R$ 1.000,00, já considerada a majoração prevista no art. 85, 11, do NCPC, suspensa a exigibilidade, por ser o autor beneficiário da justiça gratuita, f. 15. Custas recursais pelo Apelado, suspensa a exigibilidade. DES. CLÁUDIA MAIA Acompanho o voto proferido pela eminente Desembargadora Relatora, tecendo as considerações seguintes. Não obstante tenha entendimento de que, em casos em que não há demonstração de que a lesão sofrida pelo autor seja decorrente de acidente de trabalho, deve ser reconhecida a incompetência absoluta da Justiça Estadual, com a remessa dos autos à Justiça Federal, no caso específico dos autos, tenho que o presente recurso deve ser processado e julgado neste Tribunal de Justiça. Isso porque o Juiz a quo, reconhecendo a sua competência, deixou de suscitar conflito negativo em face da Justiça Federal, onde o feito tramitou orignalmente, e proferiu sentença. DES. ESTEVÃO LUCCHESI Acompanho a Douta Relatora para julgar improcedente o pedido inicial, com as considerações da Primeira Vogal. SÚMULA: "DAR PROVIMENTO AO RECURSO, EM REEXAME 7
NECESSÁRIO." 8