EFEITO DO TEMPO DE MATURAÇÃO NO ph E COR DA CARNE BOVINA Josiane Sardella Godrim (PROIC/Fundação Araucária - UEL), Eder Paulo Fagan, Ana Beatriz Messas Rodrigues Pinto, Thales de Almeida Bitencourt Cardoso, Diogo Sendi Toshimitsu Kawagoe, Julio Cesar Farias de Morais, Ana Maria Bridi (Orientadora), e-mail: ambridi@uel.br Universidade Estadual de Londrina/ Ciências Agrárias/ Londrina- PR. Ciências Agrárias 5.00.00.00-4 Zootecnia 5.04.00.00-2 Palavras-chave: proteólise, refrigeração, resolução do rigor. Resumo Avaliou-se o efeito do tempo de maturação no ph e na cor da carne bovina. Após o abate, amostras do músculo longissimus dorsi foram identificadas individualmente, embaladas a vácuo e submetidas ao tempo zero, sete e quatorze dias de maturação à temperatura de 2±4 C. Foram analisados ph e cor. As variáveis apresentaram regressão quadrática e resultados dentro do intervalo da normalidade, respectivamente. Portanto, a carne estocada no período de até sete dias, sob temperaturas de refrigeração, obteve as boas características relacionadas á qualidade da carne. Introdução A qualidade da carne bovina, em particular suas características sensoriais como a maciez, sabor, suculência e cor são importantes para os produtores e comerciantes para satisfazer as preferências do consumidor. Estudos têm mostrado que a qualidade sensorial da carne depende não só de fatores de produção tais como raça, genótipo, idade, alimentação, peso ao abate, mas também de fatores tecnológicos, isto é, tempo de maturação, condições de abate e processo de cozimento. Maturação comercial consiste em manter a carne fresca em câmara de resfriamento a 4±2 o C de temperatura, rigorosamente controladas, com o objetivo de tornar a carne mais macia e aromática, sendo esta mudança devido às enzimas que agem nas proteínas causando proteólise. Logo depois da desossa essa carne é embalada a vácuo. Essa embalagem inibe a multiplicação dos microrganismos aeróbios, que representam a maioria dos contaminantes naturais da carne, mas propicia condições favoráveis ao desenvolvimento de bactérias láticas que reduzem o ph da carne, dando-lhe maior durabilidade. Portanto o objetivo
foi avaliar o ph e a cor da carne bovina submetida à maturação, nos tempos zero, sete e quatorze dias. Materiais e métodos Foram utilizados 38 bovinos inteiros, provenientes de cruzamento de Nelore x Charolês. Os animais foram abatidos em frigorífico comercial, localizado no município de Campo Mourão, PR. As meias carcaças foram identificadas e após a pesagem, mantidas em câmara fria por um período de 24 horas. Após a refrigeração, foram retiradas amostras da meia carcaça direita, do músculo Longíssimus dorsi a partir da 12ª costela. Foram coletadas 6 sub-amostras de 2 cm cada para análise de ph e cor, posteriormente identificadas e embaladas à vácuo (embaladora SELOVAC) em filme flexível de alta barreira Polifilm, específico para maturação de carnes e armazenados em câmara fria a 2±4 0 C, por um período de zero, 7 e 14 dias. Para a determinação do ph foi utilizado um potenciômetro digital, com sonda de penetração da marca Testo 205, e para a avaliação da cor usou-se um colorímetro portátil Minolta CR10, na qual componentes L*, a* e b* foram expressos no sistema de cor CIELAB*. O delineamento experimental utilizado foi inteiramente ao acaso. Os dados obtidos foram submetidos à análise da variância com derivação de polinômios (análise de regressão) utilizando-se o SAEG (UFV, 1997). Resultados e Discussão A maturação proporcionou efeitos significativos para as propriedades funcionais da carne relativas a ph e a cor (Tabela 1). O ph apresentou regressão quadrática, na qual seu ponto de mínima foi tempo 9 dias de maturação. A explicação para essa redução do ph pode ser a formação de ácido lático devido à degradação do glicogênio que provoca a queda do ph de 7,3 no músculo vivo, para valores próximos de 5,6 (ASGHAR; YEATES, 1978). Entretanto, após o nono dia de maturação o ph apresentou um leve aumento. Contudo, Silva (1985) afirma que a faixa de ph aceitável para boas características sensoriais e índices físico-químicos desejáveis, situa-se entre 5,6 e 6,0. A luminosidade (L*) é inversamente proporcional ao ph, e apresentou uma regressão quadrática, na qual seu ponto de máxima foi no tempo 5,56 dias de maturação. Uma vez que existe correlação negativa com o ph, a carne ficou mais clara indicando que quanto menor o ph maior o (L*), ou seja, mais claros se apresentam os músculos (MAGANHINI, et al., 2007). Porém, com o aumento do período de maturação, houve uma queda no
valor de L*. Fibras musculares com ph elevado ficam distendidas no meio cárneo, formando uma barreira à difusão de oxigênio e à absorção da luz, isto é, tornam a carne mais escura (SILVA SOBRINHO, et al., 1978). Tabela 1 - Médias observadas e desvios-padrão sobre os valores de ph e cor da carne bovina de acordo com o tempo de maturação. Maturação (dias) ph L* a* b* 0 5,95 ± 0,18 36,6 ± 2,50 14,50± 1,90 7,70 ± 1,30 7 5,68 ± 0,18 37,5 ± 3,40 16,70± 2,70 9,80 ± 2,50 14 5,75 ± 0,22 35,5 ± 3,10 13,20± 2,20 10,60 ± 1,78 Regressão Q 1 Q 2 Q 3 L 4 CV (%) 3,444 8,449 15,879 20,34 R2 1 1 1 0,93 1Y=5,94763-0,0626124x+0,0034666x2;2Y=36,5724+0,342609x-0,0307865x2;3Y=14,4121+0,744297x-0,0594544x 2; 4Y=7,635+0,404623x;(P 0,05); CV=coeficiente de variação. A intensidade de vermelho (a*) obteve regressão quadrática com seu ponto de máxima no tempo 6,26 dias de maturação. O aumento inicial de a* no tempo zero (14,50) a sete (16,70) dias de maturação pode estar relacionado à baixa atividade respiratória mitocondrial da carne, aumenta o oxigênio na superfície do corte, que origina a oximioglobina de cor vermelha brilhante. Como a variável a* está ligada também ao conteúdo de mioglobina no músculo, com o passar do tempo, essa pode ter extravasado junto com o exsudato da carne durante o armazenamento, diminuindo a intensidade da cor vermelha (FARIA, 2011). Outro fator que pode ter influenciado a queda do valor de a* é a mudança química do pigmento de mioglobina. Com o aumento do tempo de armazenagem, o ferro do pigmento tende a oxidar formando a metamioglobina, que possui uma cor marrom, contraponto a cor vermelho brilhante da oximioglobina (LAWRIE, 2005). A intensidade de amarelo (b*) elevou-se com o aumento do período de maturação, isto é, apresentou regressão linear crescente. No tempo zero de maturação (7,70) apresentou menor intensidade de amarelo em relação às carnes que passaram para o sete (9,80) e quatorze (10,60) dias de maturação. Em trabalho de revisão, Abularach, Rocha e Felício (1998) descrevem a intensidade de amarelo, b*<3,40 como baixa e b*>8,28 como alta. Assim, indicando alta a intensidade de amarelo nos tempos sete e quatorze dias de maturação. Sañudo (2004) relatou que com o decorrer do período do tempo de maturação a carne tende a ficar escura, ou seja, o teor de b* tende a ser maior, pois afirmado por Mancini, Hunt (2005), esse aumento da intensidade do amarelo pode ser atribuído ao fato dos pigmentos heme serem sensíveis à oxidação.
Conclusões O tempo de maturação de sete dias da carne de bovinos meio sangue Nelore x Charolês obteve melhorias significativas na cor e no ph da carne. Referências ABULARACH, M. L. S.; ROCHA, C. E.; FELÍCIO, P. E. Características de qualidade do contrafilé (m. L. dorsi) de touros jovens da raça Nelore. In: Ciência Tecnologia de Alimentos, v. 18, p. 205-210, 1998. ASGHAR, A.; YEATES, N.T.M. The mechanism for the promotion of tenderness in meat during the post-mortem process: a review. Critical Reviews. In: Food Science Nutrition, v. 10, n. 2, p. 115-145, 1978. FARIA, D. S., Estabilidade da cor da carne de bovinos armazenada sob refrigeração. IN: CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOTECNIA, 2011, Maceió. Anais... Maceió, 2011. LAWRIE, R. A. Ciência da carne. Porto Alegre: Artmed Editora. 2005. 384 p MAGANHINI, M. B.; MARIANO, B.; SOARES, A. L., et al. Carnes PSE (Pale, Soft, Exudative) e DFD (Dark, Firm, Dry) em lombo suíno numa linha de abate industrial. In: Ciência Tecnologia de Alimentos, Campinas, v. 27, supl., p. 69-72, Agosto, 2007. MANCINI, R. A.; HUNT, M. C. Review: Current research in meat color. Meat Science, v.71, p.100-121, 2005. SAÑUDO, C. Analisis sensorial Calidad organoléptica de la carne. In: CURSO INTERNACIONAL DE ANALISE SENSORIAL DE CARNE E PRODUTOS CÁRNEOS, 2004, Pelotas. Anais... Pelotas, 2004. p. 45-68. SILVA SOBRINHO, A. G., et al.,1978. Características de qualidade da carne de ovinos de diferentes genótipos e idades ao abate. Rev. Bras. Zootec. 34: 1070-1078. SILVA, A. M. Avaliação do estado de conservação da carne bovina ao nível de consumo. Niterói, 1985, 110 p. Dissertação (Mestrado). Faculdade de Veterinária, Universidade Federal Fluminense. Niterói, 1985.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA - UFV. SAEG - Sistema de Análises Estatísticas e Genéticas. Versão 7.1. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa, 1997. 150p.