Em seu artigo Consciência Fonológica: relação entre desenvolvimento e escrita



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Transcrição:

A influência do elemento lúdico musical na aprendizagem da Língua Alemã como Língua Estrangeira por crianças de 4 a. e 5 a. séries falantes do Português Carin Beatriz Carreira Zachariadis O conceito de consciência fonológica Estudos recentes sobre a aquisição da linguagem escrita destacam o papel fundamental da consciência fonológica para o processo de aquisição da escrita. Os pesquisadores concentram seus estudos nas estratégias de leitura e escrita das crianças e na busca por uma relação entre essas estratégias e a língua em aprendizado. Em seu artigo Consciência Fonológica: relação entre desenvolvimento e escrita (COSTA 2003), a autora explica a importância do falante, no aprendizado de uma língua, compreender o sistema de escrita alfabético, no qual cada fonema corresponde a um grafema... e que tais fonemas (na fala) obedecem a uma seqüência na escrita, sendo que uma mudança nesta seqüência produzirá uma palavra diferente. A aprendizagem do sistema alfabético pressupõe a habilidade de refletir e manipular os sons da fala (COSTA 2003:138, apud SOARES/CARDOSO- MARTINS 1989). Assim, a autora define o termo, empregado em seu título e objeto de sua pesquisa, consciência fonológica como a consciência de que as palavras são formadas por diferentes sons ou grupos de sons e que elas podem ser segmentadas em unidades menores... Envolve não só a capacidade de reflexão..., mas também a capacidade de operar com esses fonemas ou sílabas... (COSTA 2003: 140, apud MOOJEN et al. 2003). O texto Estratégias de leitura fonológica e lexical em crianças bilíngües em português e alemão (CAPOVILLA et al. 2003) concentra-se nas habilidades cognitivas necessárias à aquisição da leitura e da escrita em alemão e em português. Os autores procuram compreender as estratégias de crianças bilíngües, alfabetizadas especificamente em português e em alemão, para a aquisição da leitura e da escrita. Segundo um estudo de ELLIS (1995) e ELLIS/YOUNG (1988), há duas rotas de

acesso para a leitura: o processo fonológico ou perilexical e o processo lexical ou ideovisual. Os autores ressaltam que o grau de regularidade grafofonêmica de uma língua é uma característica determinante da rota de acesso à leitura. Assim, a consciência fonológica e a consciência ortográfica surgem hora uma, hora outra como estratégia de aquisição da leitura na língua aprendida. Os níveis de escrita e a aplicação de testes em crianças falantes do Português COSTA (2003) investiga a relação entre o desempenho em consciência fonológica e a aquisição da escrita em crianças falantes do português brasileiro que estão iniciando o processo de alfabetização. A autora cita o crescente interesse dos pesquisadores pelo assunto e, amparada em RUEDA (1995), descreve os diferentes níveis que a consciência fonológica apresenta, segundo o grau de consciência e manipulação das unidades de palavras pelas crianças. Esses níveis podem repercutir na aprendizagem da leitura e da escrita e dividem-se, por ordem crescente de complexidade, em conhecimento ou sensibilidade à rima e à aliteração; conhecimento silábico; conhecimento intrassilábico; e conhecimento segmental ou fonêmico o qual depende do conhecimento do código alfabético. Esses níveis compõem uma seqüência que pode diferir de uma língua para outra. A autora afirma que no português a seqüência coincide com aquela descrita acima. Além disso, a criança passa por diversos estágios durante o processo de aquisição da linguagem escrita, a saber, pré-silábico, silábico, silábico-alfabético e alfabético. A autora afirma que a consciência fonológica desempenha um papel importante para a leitura e a escrita em cada um desses estágios. (cf. SALLES et al. (1999), CAPOVILLA/CAPOVILLA (2000), CIELO (2001) e RUSCHEL (2001)). A autora desenvolveu a sua pesquisa com dois grupos de crianças falantes do português que freqüentavam a última série da Educação Infantil e a primeira série do Ensino Fundamental. Nos dois grupos foram aplicados um teste de escrita e um teste de consciência fonológica, a partir dos quais pôde-se classificar as crianças quanto às hipóteses (aos níveis) de escrita e pôde-se analisar as habilidades adquiridas pelas crianças. 2

Foram obtidos resultados relevantes ao analisar as diferentes hipóteses de escrita separadamente. O teste foi capaz de predizer a pouca ou nenhuma ocorrência de erros fonológicos na escrita em todas as hipóteses de escrita que estavam acima da média. E foi capaz de prever a ocorrência de erros fonológicos nos sujeitos pré-silábicos que estavam abaixo da média. As estratégias de leitura e escrita e a aplicação ação de testes em crianças bilíngües, alfabetizadas especificamente em Português e em Alemão O estudo de CAPOVILLA/MACHALOUS/CAPOVILLA (2003) visa a compreender as estratégias de crianças bilíngües, alfabetizadas especificamente em português e em alemão, para a aquisição da leitura e da escrita. Os autores apontam duas rotas de acesso para a leitura: o processo fonológico ou perilexical e o processo lexical ou ideovisual. No primeiro, a pronúncia é construída pela correspondência dos segmentos ortográficos com os fonológicos. Quando isso ocorre, a formação do significado é mediada pela forma fonológica da palavra. No processo lexical, o significado é construído antes da pronúncia, obtida pelo reconhecimento visual do item escrito (cf. ELLIS1995 e ELLIS/YOUNG 1988). Os autores afirmam que diferentes ortografias favorecem o desenvolvimento de diferentes níveis de consciência fonológica e o uso de diferentes estratégias de leitura (CAPOVILLA/MACHALOUS/CAPOVILLA 2003: 37, apud GOSWAMI 1997). Ainda segundo GOSWAMI (1997), as ortografias regulares (que apresentam relações grafofonêmicas regulares) são mais facilmente aprendidas pelas crianças, provavelmente porque possibilitam um desenvolvimento mais sistemático da consciência fonêmica (CAPOVILLA et al. 2002). A língua inglesa concentra-se no extremo da irregularidade ortográfica, a língua alemã, no extremo da regularidade e a língua portuguesa apresenta relações grafofonêmicas relativamente regulares. Estudos de SCHULTE-KÖRNE/DEIMEL/REMSCHMIDT (1997) sugerem que na língua alemã a consciência fonológica é mais importante para a leitura do que a consciência ortográfica. Na pesquisa de CAPOVILLA/MACHALOUS/CAPOVILLA (2003) foi realizado um estudo com 204 crianças de 1 a. a 3 a séries do Ensino Fundamental, divididas em três 3

grupos: brasileiras (residentes no Brasil, alfabetizadas em português), alemãs (residentes na Alemanha, alfabetizadas em alemão), e bilíngües (residentes no Brasil, alfabetizadas, simultaneamente, nos dois idiomas). Foram aplicados o Teste de Compreensão de Leitura Silenciosa (TeCoLeSi), em português e em alemão, o Teste de Vocabulário por Imagens Peabody (TVIP), em alemão e o Teste de Vocabulário por Figuras USP (TVFUSP), em português. O TeCoLeSi é um instrumento para diagnóstico diferencial de distúrbio de aquisição de leitura e avaliação da competência de leitura silenciosa. Em sua pesquisa, os autores adaptaram o Teste para a Língua Alemã. O Teste compõem-se de oito tentativas de treino e sete tipos de pares, distribuídos aleatoriamente, com uma figura e uma palavra, cada tipo de par com dez itens. Os alunos devem marcar com um X os pares incorretos, indicando que não são aceitos na língua. O padrão de erros em cada tipo de item pode ser indicativo das estratégias de leitura usadas pela criança e daquelas com que ela tem dificuldade, desde que esse padrão se configure estatisticamente significativo. O TVIP avalia as habilidades de compreensão de vocabulário. Fornece avaliação objetiva do vocabulário receptivo auditivo em diversas áreas de conhecimento (pessoas, ações, qualidades, objetos, animais). Sua versão original em inglês (DUNN 1959) foi revisada (DUNN/DUNN 1981) e adaptada para outras línguas. No estudo de CAPOVILLA/MACHALOUS/CAPOVILLA (2003) foi utilizada a versão hispanoamericana de 125 itens adaptada, validada e normatizada no Brasil (CAPOVILLA et al. 1997). Os autores fizeram uma tradução para o alemão da versão brasileira, que contém cinco pranchas de prática seguidas de 125 pranchas de teste. Cada prancha é composta de quatro desenhos de linha preta em fundo branco. O teste é organizado de acordo com um modelo de múltipla escolha. A criança deve selecionar a figura que melhor representa a palavra falada pelo examinador. O TVFUSP é semelhante ao anterior, mas foi aplicado em sua versão original em português. Apresenta 139 itens de teste, cada um composto de cinco desenhos. Após a aplicação dos testes, os autores realizaram duas análises. A primeira análise teve como objetivo testar as versões do TeCoLeSi em português e em alemão em discriminar entre séries escolares sucessivas de crianças bilíngües e avaliar o efeito da ortografia sobre o desempenho das crianças. Houve efeito de série 4

escolar sobre os desempenhos das crianças bilíngües, o que mostra a eficiência do teste em discriminar entre séries sucessivas. Foi constatado também que o tipo de ortografia afeta a prevalência de diferentes estratégias de leitura. Pelos resultados dos testes, pôde-se confirmar que em português as crianças usaram a rota lexical, a leitura é feita de modo mais ideovisual em português do que em alemão. Quanto à ortografia alemã, as crianças tenderam a usar a rota fonológica (correspondência grafofonêmica). A segunda análise teve como objetivo verificar o efeito do bilingüismo sobre a aquisição de leitura, comparando o desempenho de crianças bilíngües com o de crianças monolíngües, considerando as diferentes séries escolares. Os resultados sugeriram que na leitura em português as crianças brasileiras apresentaram um desempenho melhor que as bilíngües. Mas na leitura em alemão, o desempenho das crianças bilíngües foi equivalente ao das crianças alemãs. Conclusão Em sua pesquisa, COSTA (2003) concluiu que baixos níveis de consciência fonológica podem afetar o desenvolvimento da escrita e um teste de consciência fonológica pode detectar as possíveis dificuldades na escrita e, portanto, possibilita a intervenção anterior ao surgimento da dificuldade por meio de atividades que estimulem as crianças a brincarem com sons, sílabas e palavras. O estudo de CAPOVILLA/MACHALOUS/CAPOVILLA (2003) concluiu que, uma vez que o processo de aquisição da leitura é modular e as estratégias de leitura variam em função das características da língua falada e escrita, é necessário estimular as crianças a desenvolver as diferentes estratégias de leitura e a descobrir como empregá-las de modo eficaz. A partir dessas leituras e da constatação pela sua experiência docente que alunos com dificuldades no aprendizado da Língua Alemã atuavam com desenvoltura e envolvimento ao interpretarem canções alemãs e ao participarem de atividades lúdicas, percebi o elemento lúdico musical como um potencial instrumento para motivar os alunos a manipularem sons, sílabas e palavras, a fim de desenvolver a sua consciência fonológica. 5

Os testes apresentados acima podem atuar como instrumentos capazes de detectar as possíveis dificuldades de crianças falantes do Português em processo de aprendizagem da Língua Alemã como Língua Estrangeira. A aplicação dos testes apresentados acima e a análise de seus resultados podem, portanto, possibilitar a intervenção anterior ao surgimento da dificuldade de leitura e escrita, por meio de elementos lúdicos musicais que estimulem as crianças a brincarem com sons, sílabas e palavras, promovendo o desenvolvimento de sua consciência fonológica. Bibliografia CAPOVILLA, F.C. / NUNES, L.R.O.P. /NOGUEIRA, D. / NUNES, D. / ARAÚJO, I. / BERNAT, A.B. / CAPOVILLA, A.G.S. Desenvolvimento do vocabulário receptivo-auditivo da pré-escola à oitava série: normatização fluminense baseada em aplicação coletiva do Peabody Picture Vocabulary Test. In: Ciência Cognitiva: Teoria, Pesquisa e Aplicação 1 (1997), 381-440,. CAPOVILLA, Alessandra / CAPOVILLA, Fernando. Problemas de Leitura e Escrita: como i- dentificar, prevenir e remediar numa abordagem fônica. São Paulo, Memnon, 2000. CAPOVILLA, F.C. / VIGGIANO, K.Q. / CAPOVILLA, A.G.S. / MAURICIO, A.C. / VILALBA, M. Como avaliar o vocabulário receptivo visual em sinais de escolares surdos de 7-33 anos: Teste de Vocabulário por Figuras Usp em libras. In: E.C MACEDO / M.J. Gonçalves / F.C. Capovilla / A.L. Sennyey (Hg.). Tecnologia em reabilitação cognitiva 2002: Um novo olhar para avaliação e intervenção). São Paulo, Sociedade Brasileira de Neuropsicologia, Edunisc, 2002, 284-296. CAPOVILLA, Alessandra Gotuzo SEABRA / MACHALOUS, Nora / CAPOVILLA, Fernando César. Estratégias de leitura fonológica e lexical em crianças bilíngües em português e alemão. In: Alessandra Gotuzo Seabra CAPOVILLA (Hg.). Avaliação e intervenção em habilidades metafonológicas e de leitura e escrita. São Paulo, Memnon, 2003. CIELO, Carla Aparecida. Habilidades em consciência fonológica em crianças de 4 a 8 anos de idade. Tese (Doutorado em Lingüística Aplicada) Faculdade de Letras, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul 2001. COSTA, Adriana Correa. Consciência fonológica: relação entre desenvolvimento e escrita. In Letras de Hoje 38 (2003), 137-153. DUNN, L.M. Peabody Picture Vocabulary Test. Circle Pines, American Guidance Service, 1959. 6

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