PESQUISA DO GÊNERO Mycobacterium EM AMOSTRAS DE SECREÇÕES DE VIAS AÉREAS DE ORIGEM HOSPITALAR Santo, H. M. S.; Basagni, N. S.; Canettieri, A.C.V.; Khouri, S. Faculdade de Ciências da Saúde, Curso de Biomedicina, NUFABI (Núcleo de Estudos Farmacêuticos e Biomédicos), Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP), Brasil, Fone: +55 12 3947 1000 Ramal: 2056 1bertosouza@gmail.com, nathyy@gmail.com, acanettieri@gmail.com, soniak@univap.br Resumo - A tuberculose (TB) é uma doença infecciosa, provocada por espécies diferentes de bacilos do gênero Mycobacterium. O Brasil situa-se entre os países com maiores taxas de mortalidade, ocupando o 15º lugar no ranking de 22 países com mais de 80% dos casos. A Organização Mundial da Saúde declarou a TB como uma doença de emergência mundial. Um terço da população está infectada pelo M. tuberculosis e grande parte poderá desenvolver e transmitir a doença para a comunidade. A baciloscopia é o exame básico para o diagnóstico, especialmente na forma pulmonar, sendo uma técnica rápida, fácil e de baixo custo. A cultura foi realizada em meio Löwenstein-Jensen, pelo método de Ogawa. Amostras de pacientes com suspeita clínica provenientes de um hospital público, foram cedidas pelo Laboratório Central de São José dos Campos - SP; onde verificou-se o índice de positividade das amostras para baciloscopia e cultura de Mycobacterium sp. Foram analisadas 562 amostras do período de março a julho de 2009, sendo 525 (93,4%) negativas e 37 (6,6%) positivas para o gênero Mycobacterium. Observou-se que a maioria dos casos de TB concentra-se na faixa etária de 20 a 60 anos sendo prevalente no sexo masculino. Palavras-chave: tuberculose, epidemiologia, diagnóstico. Área do Conhecimento: Biomedicina Microbiologia Introdução A tuberculose é (TB) uma doença infecciosa que atinge o homem e animais, sendo provocada por espécies diferentes de bacilos álcool ácido resistentes do gênero Mycobacterium. O Brasil situa-se entre os países com maiores taxas de mortalidade por tuberculose tendo registrado anualmente cerca de 85.000 casos novos e 6.000 óbitos ocupando assim, o 15º lugar no ranking dos 22 países que concentram mais de 80% da mortalidade mundial por tuberculose (LINDOSO et al., 2008). Sabe-se que cerca de 95% dos casos de tuberculose ocorrem no terceiro mundo, e, aí ocorrem 98% dos óbitos (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1998). A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a tuberculose uma emergência mundial em 1993. Desde então, tem havido mobilização para combate dessa antiga doença que incide e mata milhões de pessoas, principalmente de países e regiões com condições sócio econômicas precárias. A interação com a AIDS e a emergência de bacilos multirresistentes, aliados à desorganização dos serviços de saúde, são os desafios atuais para o seu controle (HIJJAR, 2005). Um terço da população mundial está infectada por Mycobacterium tuberculosis e grande proporção dela poderá desenvolver e transmitir a doença para a comunidade. Ainda não existe uma vacina 100% eficaz contra a TB e o diagnóstico ainda depende da baciloscopia, que tem apenas 60% a 70% de sensibilidade. O longo tempo necessário de incubação da cultura para micobactéria e os esquemas atuais de tratamento, tanto da doença quanto da infecção latente, são insatisfatórios por serem prolongados e apresentarem efeitos adversos em diferentes populações (KRITSKI et al.,2007). As micobactérias, pertencentes ao gênero Mycobacterium, apresentam - se como bacilos em forma de bastão, com aproximadamente 1,0 mm a 10,0 mm de comprimento. Possui a propriedade de álcool ácido resistência, a qual é fundamental para seu diagnóstico. A partir das amostras cedidas pelo Laboratório Central, do município de São José dos Campos, serão verificadas as proporções de positividade das mesmas para baciloscopia e cultura de Mycobacterium sp., tendo como objetivo a avaliação do perfil da incidência dos casos de tuberculose pulmonar hospitalar registrados no período de março a julho de 2009, na cidade. Metodologia O presente trabalho foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da UNIVAP, com o número de protocolo H-115/CEP 2009. Foram utilizadas 562 amostras de pacientes com suspeita clínica (sintomáticos 1
respiratórios), provenientes do Hospital Municipal de São José dos Campos. Neste trabalho utilizou-se a técnica de Ziehl-Neelsen a qual evidencia a propriedade de álcool ácido resistência do bacilo. A fucsina fenicada, atuando a quente, cora todas as células bacterianas e outras estruturas presentes no esfregaço de vermelho. O calor utilizado no processo de coloração derrete os lípidos da parede da micobactéria, tornando-a permeável ao corante. O ácido diluído em álcool, aplicado posteriormente, descora todas as bactérias exceto as ácido-álcool resistentes, que permanecem coradas de vermelho pela fucsina. Assim, ao serem observadas após coloração e contraste, com azul de metileno, encontra- se: - Bactérias ácido-álcool resistentes: coradas de vermelho. - Bactérias não ácido-álcool resistentes: coradas de azul. Também se coram em azul os demais elementos presentes no escarro como leucócitos, muco, células do trato respiratório. Após a secagem do esfregaço, é realizada a baciloscopia. O bacilo de Koch é um pequeno bacilo curvo ou reto que se cora de vermelho. Os resultados serão interpretados da seguinte maneira (SILVA, 1999): (-) Negativo não foram encontrados BAAR em 100 campos microscópicos observados. (+) Positivo: menos de 1 BAAR por campo, em 100 campos microscópicos observados. (++) Positivo: de 1 a 10 BAAR por campo, em 50 campos microscópicos observados. (+++) Positivo: mais de 10 BAAR por campo, em 20 campos microscópicos observados. O método utilizado para a descontaminação das amostras foi o de Ogawa (CASTILHO et al., 2007). Os espécimes que provém de cavidade aberta podem estar contaminados, ou seja, aqueles que apresentam microbiota associada, como escarro, lavados e aspirados. Tais espécimes devem ser tratados com a finalidade de eliminar microrganismos contaminantes, que por se desenvolverem mais rapidamente que as micobactérias, impedem a multiplicação dessas. Para os espécimes provinientes de cavidade fechada, como os líquidos orgânicos, e outros materiais, não é necessária a descontaminação. Nesse método, swab estéril impregnado com o material clínico foi introduzido em um tubo contendo Hidróxido de Sódio a 4% (NaOH), em quantidade suficiente para cobrir toda parte de algodão dos swab. Aguardou - se à temperatura ambiente por 2 minutos e, em seguida, retirou-se o swab sem esgotar o material nas paredes do tubo, e semeou o material no meio de Löwenstein- Jensen, através de movimentos rotatórios realizando pressão sobre o meio. O meio de Löwenstein-Jensen é um meio sólido a base de ovo, que contém glicerol e asparagina como fontes de carbono e nitrogênio, respectivamente, facilitando o crescimento. Após a semeadura, as placas foram incubadas à 35-37 C. Nas primeiras 48 horas observou-se se havia contaminação e, em seguida, foram realizadas leituras semanais até a 8 semana de incubação. Na análise estatística foi utilizada a incidência para avaliar o número de novos casos surgidos em um determinado intervalo de tempo e os dados foram apresentados em tabelas comparando a faixa etária e sexo com os índices encontrados. Resultados Foram analisadas 562 amostras, sendo 357 homens (63,5%) e 205 mulheres (36,5%) e através da baciloscopia diagnosticados 93,4% dos casos negativos e 6,6% positivos, ou seja, das 562 amostras investigadas, 37 amostras foram positivas para o gênero Mycobacterium. As amostras positivas de baciloscopia para o gênero Mycobacterium apresentaram em sua maioria duas cruzes (++) o que significa que foram encontradas cerca de 1 a 10 bacilos por campo, em 50 campos microscópicos observados. TABELA 01 Resultados da baciloscopia conforme a faixa etária no período de março a julho de 2009. NÚMEROS DE CASOS OBTIDOS ATRAVÉS DA BACILOSCOPIA Faixa Etária Negativo Positiva 0-20 anos 40 4 21-40 anos 198 20 41-60 anos 181 11 61-80 anos 91 1 > 80 anos 15 1 Total de Casos 525 (93,4%) 37 (6,6%) TABELA 02 Distribuição da freqüência de casos registrados por mês. Março Abril Maio Junho Julho N casos 99 95 142 77 149 Negativos % 92 (93%) 86 (90%) 135 (95%) 75 (97%) 136 (91%) Positivos % 7 (7%) 9 (10%) 7 (5%) 2 (3%) 13 (9%) Todas as 37 amostras positivas para baciloscopia foram semeadas em meio de cultura específico, e em todas elas houve crescimento de colônias características do gênero, ou seja, as 37 2
amostras tiveram sua positividade confirmada pela cultura, havendo uma correlação de 100% entre as técnicas empregadas. Das 37 amostras positivas para baciloscopia 28 correspondem ao sexo masculino sendo a freqüência percentual de 75,7% e 9 correspondem à pacientes do sexo feminino com uma freqüência percentual de 24, 3%. TABELA 03 Distribuição de acordo com a faixa etária e o sexo. Distribuição dos pacientes com baciloscopia positiva segundo sexo e idade Sexo dos Pacientes Idade Masculino Feminino Total 0-20 2 2 4 21-40 16 4 20 41-60 9 2 11 61-80 0 1 1 > 80 anos 1 0 1 Total 28 9 37 Discussão A tuberculose pulmonar ainda hoje é um grave problema de saúde pública (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1996). Tal patologia afeta quase todos os órgãos do corpo, mas a forma pulmonar é predominante e tem importância epidemiológica preponderante por sua transmissibilidade. Por este motivo, o principal material biológico investigado é o escarro de sintomáticos respiratórios (pessoas com tosse e expectoração por três semanas ou mais), grupo de grande interesse, pois oferece maior rendimento na descoberta de casos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002). A baciloscopia é um dos métodos de diagnóstico utilizados em saúde pública (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002) que se mostra eficaz tanto pela rapidez quanto pelo custo. No entanto, apresenta limitações, pois a positividade do exame só é alcançada com uma contagem significante de BAAR (5.000 cm³), o que acarreta uma grande probabilidade da ocorrência de falsonegativo (FERREIRA et al., 2005). A negatividade desse método diagnóstico pode apresentar-se tanto em função do estágio inicial da doença, tendo em vista que o bacilo apresenta um crescimento lento, quanto devido à imunidade do indivíduo, que pode manter os níveis de infecção sob controle. Apesar de ser menos utilizado, o método de diagnóstico considerado padrão para confirmação da tuberculose é a cultura. No entanto, o diagnóstico tardio pode favorecer a transmissão, propagação e severidade da doença (ROSSETI et al., 2002). O isolamento de micobactérias em meio de cultura é o método bacteriológico mais sensível e específico para o diagnóstico da tuberculose pulmonar. O diagnóstico através da cultura pode ser realizado a partir de 10 bacilos por mililitro de escarro. O cultivo também possibilita a identificação da micobactéria isolada, assim como a realização do teste de sensibilidade. A tuberculose não é uma doença sazonal, porém no inverno o número de casos suspeitos aumenta. Foi verificado que o número de suspeita clínica aumentou em julho, mas no número de casos positivos não houve um aumento tão significativo, sendo 13 positivos, contra 7 e 9 de março e abril, respectivamente. Segundo dados do Centro de Vigilância Epidemiológica do Estado de São Paulo, 60% dos casos de tuberculose são diagnosticados em hospitais gerais. No presente trabalho utilizamos amostras com suspeita clínica proveniente do hospital municipal da cidade. Com relação ao gênero dos casos positivos, a razão masculino:feminino apresentou distribuição próxima à do Estado de São Paulo com relação de 3:1 (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1998). Em um estudo semelhante realizado na cidade de Ribeirão Preto- SP, os casos de tuberculose hospitalar encontraram - se na mesma proporção de positividade bem como a faixa etária onde foram diagnosticados o maior número de casos, que foi dos 20-49 anos (WATANABE et al., 2001). O mesmo ocorreu também no município de Umirim - Ceará, no ano de 2001, onde um estudo verificou que a faixa etária mais acometida pela doença foi de 30 40 anos e a média de idade 35,5 anos (MENEZES et al., 2006) Em ambos estudos houve prevalência de positividade no sexo masculino. Neste estudo, observou - se dados muito semelhantes, onde a maioria dos casos de TB ocorreu na faixa etária de 20-40 anos, seguida de 41-60 anos. A média de idade foi de 37,6 anos (moda de 34 anos), sendo prevalente no sexo masculino. Menezes et al. (2006), obteve uma freqüência de positividade de 6,3% em seu estudo, muito próximo de nosso índice encontrado que foi de 6,6%. No estado de São Paulo a incidência de tuberculose é da ordem de 57,6 casos por 100.000 habitantes. Em uma análise feita por Costa (2002), em amostras de escarro de pacientes de um hospital psiquiátrico, foi possível identificar o bacilo com facilidade através da coloração de Ziehl- Neelsen, sendo o gênero e espécie confirmados por PCR. Souza et al. (2002) afirma que a baciloscopia, por ser rápida, fácil e de baixo custo, é o exame básico para se estabelecer o 3
diagnóstico da tuberculose, além de identificar as principais fontes de infecção: os bacilíferos. Durante a realização deste trabalho pode-se constatar a qualidade da técnica empregada pois em todos os casos positivos a baciloscopia foi confirmada pela cultura, ou seja além de concordar que a baciloscopia é uma técnica rápida e de baixo custo, foi possível verificar que é uma boa e confiável forma de diagnóstico rápido, o que é muito importante quando se trata de TB. Conclusão O diagnóstico precoce é fundamental na identificação do quadro de TB, a fim de amenizar o número de internações. Observa-se que a duração da internação por TB é alta e seus custos para o SUS são significativamente consideráveis, por isso uma atenção básica, que consiga sanar os problemas da população no seu início, pode ser considerada um requisito fundamental e somente assim se obterá êxito no controle de uma doença que há séculos debilita e mata uma grande parte da população brasileira. Se a própria população não abandonasse o tratamento ou buscasse os Serviços de Saúde Pública para prevenção, o número de casos seria menor, pois a prevenção e a conscientização da população ainda são as maiores armas para uma saúde pública de qualidade. Nos meses em que a temperatura foi mais baixa o número de casos suspeitos aumentou. O mês de julho teve o maior índice de casos positivos; isso talvez porque no inverno, as pessoas se aglomeram em ambientes fechados, fazendo com que a incidência de tuberculose aumente. Verificou - se a qualidade da técnica empregada atualmente para pesquisa do bacilo, bem como o perfil do índice de positividade para os casos suspeitos de tuberculose de origem hospitalar. Agradecimentos À farmacêutica Vera Lúcia Kater, responsável pelo setor de Micobactérias do Laboratório Central de São José dos Campos e ao Núcleo de Estudos Farmacêuticos e Biomédicos (NUFABI) da Faculdade de Ciências da Saúde- UNIVAP pelo apoio. Referências - CASTILHO, A. L. et al. Avaliação preliminar do diagnóstico laboratorial da tuberculose pulmonar pelo método Ogawa-Kudoh em laboratório de referência para a tuberculose na 15ª Regional de Saúde de Maringá, Paraná. Arquivos do Mudi. 2007; 11(Supl 1): 110. - COSTA, H. C. G. Isolamento do Mycobacterium tuberculosis entre os pacientes internados no Sanatório Psiquiátrico de Rio Verde- GO, preconizando a técnica de Kudoh & Kudoh. Resumos do XXIX Congresso Brasileiro de Análises Clínicas. Fortaleza. Revista Brasileira de Análises Clínicas p.48b, 2002. - FERREIRA, A. A. A. et al. Os fatores associados à tuberculose pulmonar e a baciloscopia: uma contribuição ao diagnóstico nos serviços de saúde pública. Revista Brasileira de Epidemiologia. São Paulo, v. 8, n. 2, jun. 2005. - HIJJAR, M. A. Tuberculose: desafio permanente. Cad. Saúde Pública. Rio de Janeiro, 21(2): 348-349 mar-abr, 2005. - KRITSKI, A. L et al. Duas décadas de pesquisa em tuberculose no Brasil: estado da arte das publicações científicas. Rev. Saúde Pública. 2007; 41(Supl. 1): 9-14 - LINDOSO, A. A. B. P. et al. Perfil de pacientes que evoluem para óbito por tuberculose no município de São Paulo, 2002. Rev. Saúde Pública. Out. 2008, vol.42, no. 5, p.805-812. - MENEZES et al. Incidência de tuberculose Pulmonar Bacilífera no Município de Umirim- Ceará, no ano de 2001. Newslab, edição 74 p. 82-90, 2006 - MINISTÉRIO DA SAÚDE - COORDENAÇÃO NACIONAL DE DST/AIDS. Boletim Epidemiológico AIDS, n. 02, março a maio, 1998. - MINISTÉRIO DA SAÚDE. Manual de Administração/ Programa Nacional de Controle da Tuberculose. Boletim de Pneumologia Sanitária 4:7-56, 1996. - MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria Nacional de Programas Especiais de Saúde. Divisão de Pneumologia Sanitária. Campanha Nacional contra a Tuberculose. Controle da tuberculose: uma proposta de integração ensino-serviço. 5ª ed. Brasília (DF); 2002 - MINISTÉRIO DA SAÚDE. Vigilância Epidemiológica. Tuberculose Guia de vigilância epidemiológica. 2002; Brasília, 12-13 - ROSSETI, M. L. R. et al. Tuberculose resistente: revisão molecular. Rev. Saúde Pública. 2002; 36: 525-32. 4
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