CONSPIRAÇÃO DO SILÊNCIO

Documentos relacionados
I Fórum de Cuidados Paliativos do CREMEB

COMUNICAR BOAS E MÁS NOTÍCIAS EM ONCOLOGIA. 21 de novembro de 2015 Paula Soares Madeira

PROTOCOLO DE COMUNICAÇÃO DE MÁS NOTÍCIAS EM EVENTO CRÍTICO (PCMNec)

Comunicar (n)a Morte

A Perceção da Autoestima e dos Sentimentos de Solidão. Anexos

Comunicação Definição: A comunicação humana é um processo que envolve a troca de informações e utiliza os sistemas simbólicos como suporte para este f

PROGRAMA de FORMAÇÃO CONTÍNUA em CUIDADOS PALIATIVOS 2014

COMO AJUDAR ALGUÉM COM RISCO DE SUICÍDIO

O Impacto Psicossocial do Cancro na Família

O PAPEL DO MÉDICO NA NOTÍCIAS COMUNICAÇÃO DE MÁS PROF.ª DR.ª FLÁVIA A. F. MARUCCI DALPICOLO PSICOLOGIA MÉDICA RCG 0382 JUNHO 2019

Treinando dar más notícias. Oficineiro: Fernando Amorim

Acompanhamento Psicoterapêutico

Escrita. Por Ricardo Fonseca

Ansiedade Generalizada. Sintomas e Tratamentos

Sinais visíveis de transtornos psicológicos: como identificar e lidar com estes pacientes?

Cuidados paliativos pediátricos. Nos séculos XVIII e XIX. Evolução da mortalidade infantil 10/10/2018. Ferraz Gonçalves

Curso Intensivo em Medicina Paliativa

Aprenda a fazer uma campanha atrativa de Marketing Digital para sua loja

Unidade IV MARKETING DE VAREJO E. Profa. Cláudia Palladino

Código de Ética para Estudantes de Medicina

coleção Conversas #21 - ABRIL e t m o se? Respostas perguntas para algumas que podem estar passando pela sua cabeça.

Startup emocional: Estratégias emocionais para a vida e para os negócios

GUIA DO ESTUDO PERFEITO. 8 passos infalíveis para alcançar a aprovação \o/

Mitos e Verdades sobre a Adaptação Escolar

Desafiar as Convenções

QUIZ: QUAL SEU NÍVEL DE INTELIGÊNCIA EMOCIONAL?

Cuidar-se para Cuidar

Será Culpa ou Vergonha?

O diagnóstico da criança e a saúde mental de toda a família. Luciana Quintanilha, LCSW Assistente Social e Psicoterapeuta Clínica

Suicídio. Saber, agir e prevenir.

VOCÊ SABE LIDAR COM SUAS EMOÇÕES?

Como Prevenir o Suicídio?

CANCRO DO PANCREAS - ABORDAGEM PALIATIVA. Sara Gomes; Enfermeira - Serviço de Cuidados Paliativos

3.15 As psicoses na criança e no adolescente

Como Enfrentar o Câncer

Perfil do Co-Dependente: Comportamentos, Pensamentos e Estados Emocionais

Comunicação de Más Notícias em Recursos Humanos Ana Silva Cristiana Ramos Isa Viamonte

Quando os nossos doentes. diferentes! André dos Santos Rocha Catarina Avillez de Basto

Solteira, sem filhos, 22 anos, estudante e empresaria Estudante de Arquitetura e Urbanismo 2 anos 8 meses Entrei na Mk em Busca de uma renda extra,

Evelin Franco Kelbert Psicóloga. Como preparar os filhos para a chegada do(a) irmãozinho(a)?

Ansiedade de Separação: O que é isso???

Kinesiologia. Na Kinesiologia vamos mais à frente, estudamos o funcionamento de cada músculo e a sua relação com o TODO.

Nossas 12 Vulnerabilidades:

CURSO BÁSICO DE CUIDADOS PALIATIVOS

Importância dos Serviços de Saúde na Articulação com a Família e Escola da Criança/Adolescente com Doença Crónica


GUIA DE ENCAMINHAMENTO DERMATOLÓGICO

Mal-me-quer, Bem-me-quer!

Encontro Nacional Boas Práticas em Apoio Psicossocial

Treinamento vivencial. Gestão Pessoal e Inteligência Emocional ODISSEYA I

TERAPIA DO ESQUEMA PARA CASAIS

Psicologia do Adulto e do Idoso 2

2º Ciclo de Estudos Mestrado em Comunicação Clínica

CONFLITO. Processo onde as partes envolvidas percebe que a outra parte frustrou ou irá frustrar os seus interesses.

1 Abertura (2 minutos)

Competência Emocional no Ensino Superior

A Liberdade Interior

Doses De Autoconfiança PLANO DE AÇÃO Você No Topo Em Apenas 30 Dias

Apoio Psicossocial às vítimas de acidentes aquáticos

INFORMAÇÃO AO PARTICIPANTE

Alexandra Paúl Oncologia Pediátrica, Hospital Pediátrico de Coimbra

SAÚDE MENTAL: ACOLHIMENTO DA QUEIXA, NECESSIDADE E DEMANDA. Psic. Felipe Faria Brognoli

CURSO BÁSICO DE CUIDADOS PALIATIVOS

ALTA INTELIGÊNCIA EMOCIONAL 9 HÁBITOS DE PESSOAS COM

Realização de um teste de VIH

Este livro é o segundo de uma série de materiais desenvolvidos para a população pediátrica, familiares e equipes de saúde. Surgiu da experiência do

O processo de retirada de fraldas na escola

Entrevista Jessica

VOCÊ PODE! Esforça-te e tem bom animo, porque tu farás a este povo herdar a terra que jurei ao seus pais lhe daria!

CÓDIGO DE ÉTICA PARA ESTUDANTES DE MEDICINA

7 GERAL DA RELAÇÃO Duas cartas que representam a essência da relação, a energia envolvida no relacionamento de ambas as partes.

DAMOS AS NOSSAS MÃOS POR ELES

2º Congresso Hispano-Português de Psicologia de Setembro de 2004, Lisboa

Você tem os componentes necessários para ser um expert em vendas difíceis, ou só tira pedidos fáceis?

Manual do Profissional de Vendas

Interação Social e Vida Cotidiana. Giddens Capítulo 4

ENTREVISTA COM FAMÍLIAS. Como conduzir a entrevista com famílias

REGULAMENTO EQUIPA INTRA-HOSPITALAR DE SUPORTE EM CUIDADOS PALIATIVOS

Fundamento éticos das decisões de fim de vida. António Jácomo/2017

"A "A G ESTÃO Ã D E D C O C NFL F I L TO T S - CO C MO M O GESTO T R R D E D VE V E STA T R A R P RE R PA P R A A R D A O D " Susane Zanetti

CURSO BÁSICO DE CUIDADOS PALIATIVOS

Workbook Aula 1 AULA 2. Compulsão alimentar! O que é e como tratar. Semana Gratuita de Emagrecimento. carolferrera.com.br

O conhecimento é a chave da vida!

Resiliência: Superando sua dificuldades. Kaique Mathias Da Silva Wendel Juan Oliveira Reolon

QUESTIONÁRIO DE AUDIÇÃO AO ALUNO DE FISIOTERAPIA. Indique com uma cruz (X) a resposta que mais se adequa à sua pessoa.

Como explicar a Morte às Crianças?

Automotivação. Resistência a Mudança

Pequeno compêndio. Conversa espiritual

TEA Transtorno do Espectro Autista Síndrome de Asperger

Objetivo: Capacitar os profissionais envolvidos no atendimento do nosso cliente, além de aproximar e integrar a operadora e sua rede de prestadores.

Qualo papeldos doentesno seupróprio tratamento?

Questionário de avaliação da qualidade de vida no trabalho QWLQ-78

Método Clínico Centrado na Pessoa: a evolução do método clínico. Bruno Guimarães Tannus

O Luto como Vivemos: Educação para Morte 1

Manual de Atendimento Faça a Diferença

COMUNICAÇÃO INTERPESSOAL E ASSERTIVIDADE

DINÂMICA: Patinho Feio PARTICIPANTES: 38 alunos. TEMPO: 40 MATERIAL: Etiquetas autocolantes com frases como:

INICIAÇÃO: A CHAVE DO SUCESSO!

Transcrição:

PEDIDO DE COMO LIDAR Psicóloga Clínica ECCI do Centro de Saúde de Odivelas ACES Odivelas SUMÁRIO O que é? Como se apresenta? Como lidar? Porquê?

O QUE É? Pedido para ocultar informação, normalmente relacionada com o diagnóstico e/ou prognóstico. Tem como objectivo fundamental proteger o outro, sobretudo quando este é visto como vulnerável. A conspiração do silêncio torna-se numa fonte de tensão. Bloqueia a discussão aberta sobre o futuro e os preparativos para a separação. Se não for resolvida, é frequente que as pessoas em luto sintam grandes remorsos. (Twycross-Cuidados Paliativos 2003)

DOENTE NÃO SABE SABE e não quer que o doente saiba CONSPIRAÇÃO DO SUSPEITA SABE e não quer que o doente saiba FAMILIA Porquê o pedido da família? Tentativa de proteger o familiar Medo que o familiar não suporte a verdade Dificuldade da própria família em lidar com a situação Sentimento de abandono por parte dos profissionais

DOENTE SABE e não quer que o outro saiba CONSPIRAÇÃO DO SABE que o outro sabe FAMILIA Porquê do pedido? Desejo de não reconhecer a situação Faz de conta que ninguém sabe - não se tem de falar do assunto Evitar situação difícil e percepcionada como destrutiva Medo do sofrimento

A realidade A maioria das vezes o doente sabe que algo se passa O doente vive a situação sozinho Não se permite que ele se expresse Como lidar? Reconhecer a sua existência, sem julgar as razões, aceitá-las e legitimá-las Perceber os motivos para esta decisão Perceber o que entendem do estado da doença

Como lidar? Mostrar interesse pelas repercussões desta atitude sobre o próprio Averiguar se existe contexto particular (pessoal, religioso, social, etc.) Reconhecer o direito do doente à verdade Como lidar? Princípio da honestidade (não dizer nada que o doente não queira saber) Estabelecer os custos da conspiração do silêncio (emocionais, físicos, etc)

Como lidar? Pedir para falar com o doente para averiguar o que ele sabe (protocolo de más noticias) Depois de falar com o doente, disponibilizar-se para falar novamente com a família Como lidar? Mostrar sempre disponibilidade para dar apoio Realizar conferências familiares Dar tempo para elaborar toda a informação

Adaptativa - pode ser mantida se o doente se encontra em negação Não adaptativa deve ser desmontada porque: - prolonga processos de agonia - impede as despedidas - é um obstáculo à comunicação DOENTE SABEM e falam sobre o assunto CONSPIRAÇÃO PROFISSIONAL DO SABEM e falam sobre o assunto FAMILIA

Porquê? OS PROFISSIONAIS TÊM DIFICULDADE EM LIDAR COM A SITUAÇÃO Porquê? Situação ansiogénica Dificuldade em transmitir más noticias Dificuldade em lidar com as emoções dos outros e do próprio Dificuldade em separar os papeis pessoal / profissional

Investigações 80% das pessoas desejam ser informadas 15% dos médicos dizem que se deve dizer a verdade, 30% dizem que não se deve dizer 55% tem dúvidas Investigações 85,77% dos médicos desejam ser informados se fossem eles os afectados 8,09% não deseja saber Só 58,67% informa habitualmente. (Inquiridos: 6.783)

Investigações Uma pesquisa mostra que 62% dos médicos inquiridos referem ter obtido uma resposta melhor da que esperavam do doente depois de lhe comunicar a doença e o seu prognóstico Em conclusão Traduzido e adaptado de AUER A., El médico y la verdad Para Auer, o profissional necessita de coragem para fazer frente à verdade e estabelecer um paralelismo entre a sua atitude e a que exige ao doente:

Significa, que o profissional se enfrente pessoalmente com perguntas fundamentais acerca do sentido da vida e da morte humanas. Só a sua confrontação existencial com os problemas básicos da existência, o torna capaz de renunciar a fórmulas convencionais de rotina e comunicar-se com o doente de forma a ajudá-lo eficazmente. ( ) ( ) o profissional deve preparar o doente para a participação da verdade. Isto supõe, em muitos casos, um longo processo interior, durante o qual as palavras irão saindo cada vez mais do seu esconderijo, até que chegue a hora da verdade plena. Só raras vezes um doente se apresentará ao profissional desde o princípio inteiramente disponível. Em geral, a verdade requer tempo se, realmente, tem de fazer o homem livre. ( )

e finalmente, que o profissional se solidarize no seu mais íntimo com o doente. Isto exige sempre muito esforço e, muitas vezes, também muito tempo: só poderá empregar ambas as coisas o profissional que tomou a decisão radical de consagrar a sua vida aos seus doentes. Doutor, diga-me a verdade! Tem a certeza? Bem minta-me sem que eu dê conta!!! OBRIGADA!