estética & filosofia da arte



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Transcrição:

estética & filosofia da arte carlos joão correia 2012-2013 2ºSemestre

"A teoria é essencialmente a seguinte: alguns objectos, criados por mãos humanas, foram, por algum motivo, dotados com o poder de produzir uma emoção estética nos espectadores sensíveis. Estes objectos estão por todo o lado; e quando estamos interessados neles enquanto obras de arte é irrelevante quando foram feitos, quem os fez ou porquê. O poder para produzir uma emoção estética é inerente à forma significante. A forma significante é uma combinação de linhas, formas e cores em certas relações. Nem toda a forma é significante; mas se um objecto tem uma forma significante, tem-na por causa das relações entre essas linhas, formas e cores. A forma significante, defendeu Bell, é «a única qualidade comum a todas as obras de arte visual». A representação o que uma pintura pinta é irrelevante para a nossa apreciação das obras de arte como arte. Não se trata de Bell achar que existe algo de intrinsecamente errado com a representação; mas antes que o valor artístico da arte visual se encontra noutro lado" Warburton 2007: 22; 2003: 10

Que ninguém pense que a representação é má em si; uma forma realista pode ser tão significante, enquanto parte do desenho, como uma forma abstracta. Mas se uma forma figurativa tem valor, é como forma, não como representação. O elemento figurativo numa obra de arte pode ou não ser prejudicial, mas é sempre irrelevante. Pois para apreciar uma obra de arte não precisamos de nos fazer acompanhar de nada da nossa vida, nem de nenhum conhecimento das suas ideias e ocupações, nem de qualquer familiaridade com as suas emoções. A arte transporta-nos do mundo da actividade humana para o mundo da exaltação estética. Por um momento somos afastados dos interesses humanos; as nossas previsões e recordações são aprisionadas; somos elevados acima do fluxo da vida. Clive Bell 1949:25; 2009:31

No seu pior, as pinturas descritivas apenas transmitem informação e, se têm um efeito emotivo nos espectadores é porque sugerem emoções em vez de funcionarem como objectos de emoções. Este argumento surge na sua discussão de Paddington Station (1860-1862) de William Powell Frith, que Bell declara não se tratar de uma obra de arte, mas apenas de «um documento interessante e divertido». Nesta pintura, que mostra uma plataforma cheia de gente na estação de Paddington, [...] linhas e cores são usadas para contar histórias, sugerir ideias e indicar os maneirismos e costumes de uma época: não são usadas para provocar uma emoção estética. (18) Warburton 2007: 23-24; 2003: 11-12

william powell frith paddington station (1860-62)

Paddington Station é um aglomerado de pequenos quadros com o objectivo de intrigar. Por exemplo, o artista pintou-se a si próprio e à sua mulher e filhos num grupo familiar a dizer adeus a um rapaz que presumivelmente parte para o colégio interno; noutra parte da plataforma dois detectives londrinos de renome, Michael Haydon e James Brett, estão a prender um homem prestes a entrar no comboio; e o negociante de arte, Louis Victor Flatow, que encomendou a pintura, encontra-se representado a falar com o maquinista. A tela está repleta de tais interacções. Frith pintou provavelmente a cena a partir de uma série de fotografias, o que contribui para a composição algo desarticulada. Segundo Bell, o que o observador obtém de tal pintura é, na melhor das hipóteses, uma distracção agradável trazida por um avivar de memórias de emoções previamente sentidas. E assegura-nos que tal não é o objectivo da arte:" Warburton 2007: 23-24; 2003: 11-12 9

Bell usa «emoção estética» como um termo técnico: para ele não significa apenas qualquer emoção que possamos [sentir]. A emoção estética é própria da nossa apreciação da arte, e nos raros casos em que é despertada por objectos naturais isto é de certo modo derivado do seu significado primário. A beleza que reconhecemos e sentimos quando olhamos para as asas de uma borboleta ou para uma flor não é, para Bell, do mesmo tipo que a forma significante de uma pintura. A combinação de linhas e cores produzidas pelas mãos humanas pode despertar a emoção estética (...). As emoções que a beleza natural desperta são de tipo diferente. Warburton 2007:25; 2003: 12

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