PECUÁRIA DE CORTE Impactos ambientais e emissões de gases efeito estufa (GEE)
Equipe Técnica Daniela Bartholomeu Bacchi doutora em economia aplicada, especialista em economia de recursos naturais CEPEA/ESALQ/USP; Matheus H. Scaglia mestrando em economia aplicada desenvolvendo pesquisa em economia de recursos naturais na produção pecuária CEPEA/ESALQ/USP; Luis Gustavo Barione doutor em nutrição animal desenvolve pesquisas para técnicas de mitigação EMBRAPA/Cerrados; Sergio De Zen doutor em economia aplicada coordenador do grupo de pesquisa em economia da produção pecuária CEPEA/ESALQ/USP.
Sumário da Apresentação 1. Contextualização da pecuária no debate ambiental; 2. Emissões de GEE e problemas da metodologia seqüestro de carbono por pastagens; 3. Estratégias de mitigação; 4. Projeção de emissões; 5. Conclusões e Recomendações.
Motivações do Trabalho Definir o problema de acordo com a literatura disponível; Tomar parte nas discussões futuras sobre o tema; Criar uma rede multi-institucional para dar suporte à pesquisa e discussão nacional; Mostrar os caminhos para mitigação diante das tecnologias disponíveis e os impactos sobre os custos da cadeia; Fomentar políticas que permitam a adequação do sistema produtivo com meios econômicos viabilizados por linhas especiais; Traças linhas de pesquisas prioritárias para o tema.
Retrato Atual 185 milhões de cabeças de gado (+11% em relação ao último censo) 172 milhões de ha com pastagem (-3%); 77 milhões de ha com lavouras, e 100 milhões com matas e florestas. Devido a grande área ocupada, pode causar um grande impacto ao meio ambiente se não bem manejado.
Importância Econômica Impostos: R$ 37,8 bilhões em 2007; Empregos diretos: Cerca de 400 mil dentro da porteira; Cerca de 1,2 milhões na industria e distribuição. Promove a interiorização da economia; Abastecimento do mercado interno; 70% da produção 6,88 milhões toneladas. Abastecimento do mercado externo: 30% da produção receita total em 2007: US$ 4,5 bilhões.
Possíveis Impactos Ambientais da Pecuária Destruição de ecossistemas: Necessidade de grandes extensões de terra (baixa lotação animal = 1 cab/ha) Degradação do solo: Manejo inadequado, superlotação, baixo índice de reforma de pastagens em áreas danificadas Poluição de recursos hídricos; Redução da biodiversidade; Emissão de gases efeito estufa (GEE): Metano (CH 4 ): fermentação entérica ruminal + dejetos; Óxido Nitroso (N 2 O): dejetos (urina).
Emissões de GEE No Mundo (2004): 13,5% das emissões globais geradas pelo homem provém da criação de animais; 61% das emissões do setor agropecuário são creditados à bovinocultura. No Brasil (1994): 68% das emissões de metano (CH 4 ) vêm da fermentação entérica de ruminantes; 43% das emissões de óxido nitroso (N 2 O) vieram da deposição dos dejetos dos animais nas pastagens Fonte: Mundo FAO (2006). Livestock Long Shadow; Brasil MCT (2004): Inventário Nacional de Emissões.
Emissões de GEE 250 200 150 100 50 0 Gado Corte Transporte Siderurgia OutAgrícolas Gado Leite Gasoalcool SIUP OutAnimais Soja FabMinNonMet IndQuimica Arroz CanaAcucar Silvicultura Outros Emissões totais das principais atividades econômicas no Brasil, em Gg de CO 2equivalente -50-100 Fonte: FERREIRA e ROCHA (2004), com dados de MCT (2004): Inventário Nacional de Emissões. Mil Gg
Problemas da Metodologia Metodologia de cálculo: Os números apresentados pelo MCT são referentes aos anos de 1990 a 1994 e foram calculados de acordo com a metodologia recomendada pelo IPCC. Problemas: Dados com base no rebanho de 1996; Coeficientes técnicos definidos para outros países não para o Brasil; Não consideram seqüestro por pastagens.
Imprecisões da Metodologia Incertezas Variabilidade nas fontes Indisponibilidade de dados Relevância Observação Consumo de alimento X Alta De difícil precisão em animais a pasto Taxa de conversão do CH 4 X Alta Uso da recomendação do IPCC Digestibilidade X Alta Varia de acordo com a região e épocas do ano Taxa de prenhez X Média Fonte: CEPEA (2008) Elaboração dos autores.
Seqüestro por Pastagens Existe a possibilidade de seqüestro de carbono, que é estocado na MOS (matéria orgânica do solo); Emissões + 1,18 Mg CO 2 eq/ha/ano Seqüestro Balanço - = 0,78 Mg CO 2 eq/ha/ano 0,40 Mg CO 2 eq/ano/ano Seqüestro não é contabilizado na metodologia do IPCC; São primeiras estimativas, mais estudos são necessários. Fonte: CEPEA/USP (2008).
Emissões Líquidas por Setor Emissões totais e emissões líquidas das principais atividades econômicas no Brasil, em Gg de CO 2equivalente 250 Milhares de Gg 200 150 Emissão Bruta Emissão Líquida esperada 100 50 0-50 -100 Gado Corte Transporte Siderurgia OutAgrícolas Gado Leite Gasoalcool SIUP OutAnimais Soja FabMinNonMet IndQuímica Arroz Cana-de- Açúcar Silvicultura Outros Fonte: FERREIRA e ROCHA (2004), com dados de MCT (2004): Inventário Nacional de Emissões. Adaptado pelos autores.
Estratégias de Mitigação Propostas em genética: Seleção de matrizes que emitam menos metano, assim como é feito na questão de ganho de peso de difícil acompanhamento; Inibição da metanogênese: uso de promotores de crescimento (proibidos na UE) e uso de extrato de plantas como óleo de côco e alho; Imunização contra agentes metanogênicos (vacinas) efeitos apenas no curto prazo.
Estratégias de Mitigação (II) Propostas em alimentação: Além da redução da emissão de GEE, pode diminuir os demais impactos ambientais. É visto como o melhor meio de ação. Busca de maior eficiência alimentar e do capital terra. Pode também ser visto como mudança no sistema produtivo, uma vez que a intensificação pode mudar todo o manejo do gado.
Sistemas Produtivos 1. Melhoria de pastagens: Ajuda a controlar todas as externalidade negativas da pecuária, pois aumenta a produtividade do fator terra; Pode liberar entre 30 e 70 milhões de hectares para outras atividades. 2. Sistemas Silvipastoris; 3. Pesquisas e Transferências de Tecnologia: Pesquisas em intensificação da produção já apresentam várias alternativas; São necessários estudos comparativos de economicidade das alternativas (em âmbito regional)
Extensivo vs Intensivo Estudos preliminares indicam que em comparação com outros sistemas pecuários, a pecuária no Brasil emite cerca da mesma quantidade que sistemas intensivos e semi-intensivos, com a observação de que estes últimos não possuem seqüestro de carbono por pastagens. Emissões de CO 2equivalente por 100kg de carne adicionado 2500 2000 Feed and Forage Manure (NO2) Manure (CH4) Enteric fermentation (CH4) 1500 1000 500 0 AT-25F AT-35 AT-120 AT-150T DE-230 DE-260 DE-280 DE-800 DE-525T FR-90A FR-90B IT-910 IT-2880T SE-160 AR-800 AR-2200 BR-140 BR-240 BR-340 BR-600 PE-1100 AU-27K ZA-75K Fonte: agri benchmark (2008) não publicado.
Projeção das Emissões Ano Número de vacas (milhões) Efetivo (milhões) Abate (milhões) Produção de Carne (MMTCE) Emissões (MMTCH 4 ) CH 4 /CE 2007 64,3 208,0 43,0 8,83 9,56 1,08 2011 63,3 209,8 45,1 9,20 9,55 1,04 2015 63,0 214,0 48,0 9,73 9,65 0,99 2019 62,6 217,9 51,1 10,29 9,74 0,95 2023 62,1 221,4 54,1 10,81 9,80 0,91 2025 62,0 223,4 55,6 11,08 9,84 0,89 Variação - 3,6% + 7,4% + 29,3% + 25,4% + 2,9% - 18,0% Fonte: Barioni et al. (2007). Obs: projeção realizada com os dados da PPM, antes do Censo 2006/07.
Ganhos de Produtividade Kg.eq.carc/cabeça 50 48,1 45 42,8 43,8 45,5 47,7 40 39,0 36,7 38,5 40,7 39,4 40,2 35 30 28,0 29,5 32,5 31,3 30,6 34,2 35,5 37,6 25 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008* Fonte: IBGE. Elaboração: Fórum Nacional da Pecuária do Corte e SUT/CNA.
Conclusão Principal Desafio do setor é continuar sua expansão sobre base de melhor intensidade tecnológica, gerando benefícios econômicos e ambientais; Investir recursos públicos e privados em recuperação de pastagens e adoção de melhores tecnologias de manejo é a resposta mais eficaz para neutralizar os impactos ambientais da atividades
Outras Conclusões A magnitude das externalidades causada pela pecuária bovina se da pelo caráter de baixa intensidade tecnológica da mesma. Boa parte destas externalidades pode ser resolvida com a simples prática de melhoria de pastagens e de técnicas de manejo, por exemplo. De acordo com Barioni (2007) as emissões de GEE deve se manter constante nos próximos 15 anos. Caso sejam adotadas políticas de melhoria da produção, esse cenário poderia ser melhor.
Outras Conclusões Existem incertezas quanto a emissão de GEE pela pecuária. No entanto, é difícil que a correção destas leve a pecuária a uma posição melhor no ranking brasileiro de emissões. Se considerado todo o ciclo do carbono, no entanto, a fixação de carbono pela pastagem pode mudar esse cenário.
Análise de Benefício Custo Análise Benefício/Custo - SIMULAÇÃO Area de pastagem - hectares 170.000.000 Área recuperada - hectares 100.000.000 Rebanho - cabeças 180.000.000 Rebanho em UA 135.000.000 Lotação atual ua/ha 0,79 Lotação recuperada ua/ha 1,35 Custo anual de recuperaçao - R$/ha R$ 700 Investimento anual de recuperaçao - 20% da área ao ano R$ 56.000.000.000 Manutençao - R$/ha R$ 30 Investimento anual de manutençao - 80% da área ao ano R$ 2.400.000.000 Total dos gastos com investimento em pastagens R$ 58.400.000.000 Riqueza Gerada pela pecuária R$ 110.000.000.000 Relação Benefício/Custo - situação atual 1,88
Análise de Benefício Custo Benefícios não Mensurados 1. Receita gerada pela área liberada para outras atividades 2. Aumento da produtividade 3. Redução do ciclo de vida dos animais 4. Aumento da competitividade 5. Redução das pressões por novas áreas 1. Custos com benfeitorias Custos não Mensurados
Recomendações 1. Destinar recursos linhas de financiamento de projetos de adequação ambiental para pecuária; 2. Explorar linhas de financiamento do BNDES em recuperação de pastagens; 3. Aumentar recursos para investimento em pesquisa em: Desenvolvimento de metodologias de contabilidade ambiental que melhor retratem a realidade brasileira; Estudos comparativos de economicidade das alternativas de mitigação. Pesquisa de variedades de forragens mais produtivas; Pesquisa em sistemas de manejo integração pecuária/lavoura. Investir em pesquisa do ciclo do carbono nos solos e sistemas produtivos brasileiros.