Debate e formação de opinião: Uma sequência didática para o ensino de geografia da população

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Transcrição:

CCNEXT - Revista de Extensão, Santa Maria v.3 - n.ed. Especial XII EIE- Encontro sobre Investigação na Escola, 2016, p. 126 130 Revista do Centro de Ciências Naturais e Exatas - UFSM IISSN on-line: 2179-4588 Debate e formação de opinião: Débora Laís Freitas dl.freitas@live.com Resumo O presente relato trata da apresentação, análise e proposições da sequência didática proposta e trabalhada pela professora de Geografia no Ensino Médio para abordar o tema Teorias Demográficas, através de metodologias que estimulem a formação de opinião dos estudantes e aptidões importantes para a formação do cidadão social. Palavras chave: Sequência didática, Geografia, Formação cidadã.

CCNEXT v.3 Ed. Especial- XII EIE- Encontro sobre Investigação na Escola, 2016, p. 126 130 127 1. Contexto do relato O trabalho exposto neste relato refere-se a uma sequência didática empregada na disciplina de Geografia nos segundos anos dos turnos da manhã (210) e noite (213 e 214) da Escola Estadual de Ensino Médio Lilia Neves no primeiro semestre de 2013. A atividade está em processo de conclusão e as respostas foram variadas em cada turma em que foi aplicada. Tendo em vista o legado da educação tecnicista em relação à postura dos estudantes, que buscam respostas práticas e automáticas aos problemas levantados, o Projeto Pedagógico da escola possibilita a formação social do estudante, podendo os professores buscarem, assim, recursos que trabalhem com as habilidades mentais, culturais e sociais dos estudantes. O conhecimento dado pela educação não deve ser fragmentado, deve dar a compreensão do conjunto; trabalhar os métodos que permitam estabelecer as relações mútuas e as influências recíprocas entre as partes e o todo em um mundo complexo (MORIN, 2006). Ainda, a nova configuração do Ensino Médio Politécnico no Rio Grande do Sul, estimula a autonomia do aluno e o papel de mediador do professor no processo de busca e construção do conhecimento. Pensando no contexto atual da Educação, suas exigências e necessidades, procurou-se nessa sequência didática abordar os conteúdos da Geografia Humana trabalhada nesse período do Ensino Médio exercitando habilidades variadas que os estudantes precisam e devem fortalecer. Propus-me, como professora, a desenvolver com os estudantes textos argumentativos acerca de quatro das principais teorias a cerca da dinâmica de crescimento populacional mundial. De cada teoria, deveriam ser expostos em debates argumentos de defesa e de crítica, discutidos entre as turmas sua validade e opiniões. Nas turmas do turno da noite, os estudantes foram divididos em um grupo para cada teoria e assim discutiam entre si os aspectos positivos e negativos de cada teoria. Na turma da manhã, devido ao grande contingente de estudantes, os grupos tiveram de ser separados entre defensores e críticos, com a intenção de tentar manter a organização no momento da elaboração dos argumentos em sala de aula. 2. Detalhamento das atividades A proposta inicial da sequência didática era a construção de textos argumentativos de defesa de crítica a cada teoria analisada, buscando como objetivos os seguintes pontos: - Estimular o raciocínio, a escrita e a formação de opinião; - Elucidar sobre os diferentes posicionamentos (pontos de vista) em relação a um mesmo tema; - Apresentar de maneira dinâmica diferentes teorias demográficas; - Promover o debate e a oralidade dos alunos. Nas turmas da noite, cada grupo (contendo de 4 a 6 estudantes) recebeu textos sobre uma teoria, sendo elas a Teoria Malthusiana, a Teoria Neomalthusiana, a Teoria reformista ou Marxista e a Teoria da Transição Demográfica, reconhecidas como as que mais influenciaram e influenciam nas análises e nas medidas de controle de crescimento populacional. No turno da manhã, os grupos foram divididos, ainda, nos que iriam fazer a defesa e nos que iriam fazer a crítica, estabelecendo-se oito grupos com cerca de cinco estudantes cada. O processo de elaboração dos textos foi se passando ao longo das quatro ou seis aulas seguintes, dependendo do avanço das turmas em relação à discussão. Foram fornecidas as seguintes orientações:

128 Freitas: Debate e formação de opinião: Introdução: Inúmeras teorias foram elaboradas para tentar explicar o crescimento populacional. Dentre elas, é comum destacarem-se quatro, que estão profundamente inter-relacionadas: a Malthusiana, a Neomalthusiana, a Reformista e a da Transição Demográfica. Atividade da escrita: - Dividir a turma em quatro grupos (de 2, 4 ou 6 pessoas) - no caso do turno da manhã, 8 grupos; - Cada grupo tem em mãos informações sobre uma teoria demográfica citada. Metade do grupo deverá construir um texto argumentativo de defesa da teoria e a outra metade, de crítica; - Como? Será necessário ler e analisar o texto informativo: o Procure relacionar ou contrapor a teoria com aspectos da realidade estudados ou que você tenha alguma informação; o Destaque os pontos positivos ou negativos da teoria; o Justifique, apresentando, por exemplo, que medidas propostas pela teoria são utilizadas no mundo atual, ou quais não são aplicáveis. Durante as aulas, eu fazia a mediação e esclarecia os estudantes em relação a termos e ideias contidos no texto. Muitos encontraram dificuldade em se posicionar critica ou defensivamente em relação a teorias as quais suas concepções não condiziam com a postura que deveriam tomar. Procurei esclarecer que o exercício de buscar pontos positivos em algo no qual não simpatizamos, ou o oposto, contribuía para que conhecêssemos mais dos assuntos, das situações e das pessoas, e que isso não implica a mudança de opinião de quem busca o outro lado de uma informação. Sugeri que cada um lesse o texto vendo e analisando-o da maneira com que utilizariam o texto: aprovando ou discordando e também os lembrava sobre as instruções no quadro para a construção da argumentação. Percebi, também, dificuldade dos estudantes em compreender como deveriam construir a parte escrita do trabalho. Na verdade, a preocupação com a nota, muitas vezes faz com que os estudantes busquem a cópia dos textos que, a princípio, são os corretos por serem os apresentados pelo professor. Então, esclareci a eles que o objetivo principal era buscar relações das teorias com a realidade e que o momento do debate seria o mais importante e atrativo. Quando os grupos estavam mais esclarecidos em relação às teorias as quais deveriam discutir, vieram os debates nas aulas seguintes. Foi discutido o que era um debate e suas instruções e iniciaram-se as conversas. Nesse momento, eu, como professora, assumi o papel de mediadora do debate. Conforme os estudantes apresentavam seus argumentos de defesa, baseados nas informações dos textos e sua relação com a realidade, registrava no quadro os aspectos principais. Depois, a crítica argumentava, e, quase sempre, a discussão se acalorava, de uma maneira positiva, na sala de aula. Todo momento que as opiniões se confrontavam (e muitas vezes, estudantes de outros grupos se manifestavam), eu procurava esclarecer e compreender as ideias surgidas e buscar as ligações com diversos aspectos do mundo contemporâneo. Ao final do debate de cada teoria, os estudantes se posicionavam a respeito, se concordavam ou discordavam das ideias e propostas, e anotavam nos cadernos as informações obtidas do debate a cerca da teoria.

CCNEXT v.3 Ed. Especial- XII EIE- Encontro sobre Investigação na Escola, 2016, p. 126 130 129 3. Análise e discussão do relato O trabalho de construção dos textos, de uma maneira geral, não foi eficiente. Os momentos de esclarecimento, de explicação em grupos sobre cada teoria foi bastante produtivo. Pode-se observar a compreensão mais individualizada de cada um sobre do que tratava e priorizava a construção de cada teoria, o posicionamento dos estudantes e a busca por relações com a realidade de todos e de cada um na corroboração da teoria. Porém, o momento de registrar no papel a interpretação foi dificultoso. Ainda assim, estimulei-os a escrever na maneira mais confortável para eles, de maneira que os orientassem no momento de expor suas ideias. Ainda, na turma da manhã (210), não pude dar a devida atenção ao momento da elaboração do texto, por questões pontuais e administrativas comuns a uma escola: reuniões, mudanças de horários, etc. Entretanto, o principal objetivo da atividade, além de trabalhar o conteúdo das teorias demográficas e sua relação com o contexto atual, era elucidar sobre a importância do diálogo. O diálogo com o semelhante e com o estranho, exercitar a capacidade de compreender um argumento sem necessariamente se render a ele, mas utilizá-lo como contribuição para a reflexão de suas concepções e das concepções do mundo. A cada momento do debate em que os estudantes se confrontavam, estabelecia-se o momento ideal de fortalecer o raciocínio em relação à opinião do outro. Como mediadora, incentivava a reflexão: tem sentido lógico a fala do colega? Em que ela condiz com a realidade? Em que ponto vocês não concordam? O que ele disse está errado, ou vocês apenas não concordam? Quais os argumentos? Infelizmente, em uma das turmas do turno da noite (214), a atividade não pôde ser concluída com o debate, devido ao comportamento dos estudantes, tanto em relação ao andamento da atividade quanto ao número de alunos que nunca era o mesmo problema comum nas classes do Ensino Noturno, onde a evasão escolar é maior. Como as informações deveriam ser compartilhadas durante o debate, e este não ocorreu, um resumo de cada teoria foi fornecido durante duas aulas e discutido com os alunos presentes. Também foi um exercício interessante, que manteve os estudantes atentos ao conteúdo e estimulado a participação ao indagar sobre relações com a realidade vivida. Avaliando a proposta e sua aplicação em diferentes turmas, considero que a tendência de assimilação dos conhecimentos levantada por ARANHA (2006), que no processo de aprendizagem ideal deve ser mediado pelo professor, tenha sido verificada no trabalho de construção da argumentação. A apresentação de informações e a posterior formação do conhecimento e de opiniões é o que constitui o trabalho do professor mediador, que organiza os conteúdos considerados importantes para a formação dos alunos e os aplica apenas direcionando a produção do conhecimento do aluno, incentivando a compreensão e as conexões entre os conteúdos e a vida cotidiana. Oferecendo textos informativos sobre cada teoria e flexibilizando o tempo para que os estudantes pudessem buscar fontes alternativas para a compreensão do tema, foi um processo em que eles puderam trabalhar com autonomia e construir e reconstruir sua opinião em relação ao tema as deferentes explicações dadas ao processo de crescimento demográfico. Ponto polêmico no desenvolvimento da atividade foi o estabelecimento de uma postura crítica ou defensiva em relação ao texto. Pode-se perceber, no momento do debate, que os estudantes, a pesar da dificuldade de defender o que não concordo e criticar o que concordo, conseguiram expressar os pontos das teorias que eram condizentes com a realidade, mesmo que sua interpretação dos eventos não lhes mostrasse coerente, como, por exemplo, ao tratar da Teoria Neomalthusiana, mesmo discordando dos métodos de controle

130 Freitas: Debate e formação de opinião: populacional sugeridos pela corrente, os estudantes de defesa buscaram relações entre os países pobres como a Índia que possuem altíssima densidade demográfica, o que, nesse aspecto, corrobora com a teoria trabalhada. 4. Considerações finais A sequência didática teve seus resultados para além da Geografia. Além da compreensão das ideias principais e argumentos que cada Teoria Demográfica continha, como professora mediadora, busquei com os estudantes características e contextos que contribuíam para a construção de cada teoria; também, a identificação de questões que evidenciassem a consolidação das teorias em aspectos da realidade; discussões sobre política e economia no mundo globalizado também surgiram, principalmente, quando a Teoria Reformista foi tratada, fazendo com que os estudantes refletissem sobre a condição dos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento em relação ao contingente populacional e a destinação de recursos para estes. A dinâmica do debate proporcionou, ainda, interação entre os estudantes e uma aproximação maior com o conteúdo, a partir do momento em que eles tiveram que expressar uma opinião a respeito. O fato que mais me evidencia o relativo sucesso com a sequência didática foi que, ao final dos debates, os estudantes não tiveram unanimidade em relação a que teoria mais representava a realidade, o que mostra que a atividade não incentivou a padronização, a busca por uma resposta única. Entretanto, é necessário fazer ressalvas que qualificarão a atividade para posterior aplicação em outras oportunidades e, inclusive, em outros temas. O planejamento das atividades em conjunto com professores de outras áreas, com antecedência maior certamente contribuirá para melhores resultados, principalmente em referência ao trabalho da escrita (a construção do texto argumentativo), com o professor de Língua Portuguesa, em um exercício com maior tempo de aplicação e trabalho, além da parceria com outros componentes curriculares que possam contribuir com a busca de informações e mediação do conhecimento. O trabalho interdisciplinar se mostra, a cada projeto e atividade em que é considerado, sempre enriquecedor para a construção do estudante e cidadão com as aptidões necessárias para as diversas esferas sociais que o mundo abarca. É necessário um esforço cada vez maior em busca da eficiência para estimular e favorecer a interdisciplinaridade nas escolas: o tempo de planejamento em conjunto, a prática em conjunto e, indo além, a busca de uma estrutura curricular que suporte a conexão entre os temas e as necessidades exigidos no Ensino Médio. Referências ARANHA, M. Filosofia da educação. São Paulo: Moderna, 2006. MORIN,E. Os sete saberes necessários para a educação do futuro. 11ed. São Paulo: Cortez, 2006.