Parte II VIVÊNCIAS, MEMÓRIAS E NARRATIVAS DO SUJEITO TUTOR
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- Nathalia Affonso Benevides
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1 Parte II VIVÊNCIAS, MEMÓRIAS E NARRATIVAS DO SUJEITO TUTOR
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3 3 CAPÍTULO ARGUMENTAÇÃO MEDIADA POR APLICATIVOS DE CONVERSA SÍNTESE DO PERCURSO ALISSON MICHEL SILVA VALENÇA Iniciei meu percurso acadêmico/profissional com minha entrada no curso de História EaD na UFRPE e, menos de um ano depois, me transferi para o curso de Psicologia da UFPE. Ao longo da minha graduação participei de três projetos de extensão, dois estágios e um projeto de pesquisa em áreas que envolveram as relações da psicologia e a educação. Em 2016 ingressei no mestrado em Psicologia Cognitiva da UFPE. Nesse capítulo, relatarei um pouco da minha pesquisa. O MODELO DE DEBATE CRÍTICO ADAPTADO PARA SALA DE AULA VIRTUAL: UMA EXPERIÊNCIA COM O USO DO WHATSAPP E DO FACEBOOK NO MESTRADO EM PSICOLOGIA COGNITIVA DA UFPE Tenho trabalhado, em minha pesquisa de mestrado, a argumentação através de debates estruturados via Whatsapp e Facebook. A argumentação, para Leitão (2007), é definida como sendo uma atividade cognitivo-discursiva em que sujeitos com pontos de vista diferentes buscam estratégias para defender suas perspecti-
4 44 Tutor EaD e o processo da Tutoria na Universidade Aberta do Brasil vas. Leitão (2007) acrescenta que, no processo argumentativo, os sujeitos, ao se depararem com perspectivas contrárias as suas, revisam sua própria perspectiva podendo transformá-la e/ou ressignificá-la. A partir dessa revisão de perspectiva emerge a construção de conhecimentos própria do contexto argumentativo. Com a proposta de trabalhar a argumentação como meio para a resolução de controvérsias Cláudio Fuentes cria, em 1997, o Modelo de Debate Crítico (MDC) em Santiago (Chile) (LEITÃO, 2012). Assim, em resposta a uma demanda educativa do governo do Chile, surgiu o Torneo Interescolar de Debates em que equipes de representantes de diversas escolas debatem a respeito de questões de interesse nacional. Participam, por debate, representantes de 4 escolas que executam as funções de debatedores (dois grupos), investigadores (um grupo) e juízes (um grupo). Os debates ocorrem com base num script pré-estabelecido. Os grupos debatem sobre assuntos de relevância social apresentando e analisando os argumentos postos. Alguns professores das escolas atuam como instrutores na preparação dos alunos antes dos debates (LEITÃO, 2012). Objetivando utilizar o MDC como recurso para o ensino-aprendizagem, Leitão (2012) apresenta a adaptação desse modelo para a sala de aula através de uma experiência realizada num componente curricular de um curso de graduação em Psicologia. Nessa proposta a disciplina é dividida em cinco ciclos em que ocorrem quatro etapas sendo elas: introdução ao tópico, retomada do tópico, debate e fechamento. Além do objetivo voltado para aprendizagem, outras características diferenciam o MDC para sala de aula do modelo chileno, tais como o tópico de debate que seria o próprio conteúdo curricular na experiência de Leitão (2012) e não necessariamente uma questão de interesse nacional. E, também, não necessariamente a quantidade de participantes sendo na proposta inicial apenas os representas de algumas escolas que participam, na proposta brasileira, todos os alunos de uma mesma turma participam de algum modo dos debates, divididos em três grupos: sendo dois grupos de debatedores e um grupo que acumula as funções de investigadores e juízes. Partindo do meu interesse por atividades ensino-aprendizagem virtuais, ancorado na perspectiva teórica da cognição situada e em trabalhos como o de Asterhan e Schawarz (2016) que apontam para necessidade de estudos a respeito da argumentação mediada por computador, em minha pesquisa de mestrado propus uma experiência que foi executada com 12 alunos de componente curricular da pós-graduação em Psicologia Cognitiva da UFPE. Baseado no MDC adaptado para sala de aula ocorreram três ciclos durante a disciplina em questão. Os discentes foram divididos aleatoriamente em três grupos (com 4 alunos cada) que se revezaram nas funções do debate (um grupo de juízes e dois grupos de debatedores). Os alunos tinham a aula (presencial) do componente curricular, sendo essa a etapa de introdução ao tópico. A pergunta
5 Argumentação mediada por aplicativos de conversa 45 que movia o debate partia de alguma controvérsia sobre tópico de aula que permitisse, pelo menos, duas posições distintas e era apresentada ao final da aula. Assim, por exemplo, na aula cujo tema foi inteligência emocional a pergunta proposta foi a inteligência emocional é um processo cognitivo?. Além de apresentar essa pergunta em sala, ela também era postada no grupo do Facebook, criado especificamente para esse componente curricular. Além disso, a organização geral do debate e as informações sobre qual função cada grupo exerceria naquele ciclo também eram postadas nesse grupo. A etapa de retomada do tema ocorria de maneira virtual através dos chats do Facebook (Facebook Messenger) com os três grupos separadamente. Cada grupo era estimulado a elaborar argumentos a respeito da posição que iriam defender no debate e, a partir da aula, dos textos sugeridos e de outros materiais, os grupos construíam seus argumentos através do chat ao longo da semana que precedia o debate. O debate estruturado ocorria via Whatsapp, e era facilitado por mim, no qual os alunos usavam prioritariamente a função de áudio do aplicativo para participar dessa atividade. Antes da realização do primeiro debate virtual os alunos participaram de um debate presencial, seguindo o MDC. A estrutura do debate foi semelhante à usada por Leitão (2012). Ou seja, o debate era dividido em quatro momentos, um momento inicial em que os grupos debatedores traziam seus argumentos, contra-argumentos e respostas (etapa dos turnos), um segundo momento em que os grupos podia fazer perguntas uns aos outros (etapa das perguntas), após isso ocorria a etapa de fechamento com a conclusão das equipes e, por fim, a etapa de avaliação dos juízes. Ao longo do debate haviam também alguns momentos de reunião entre as equipes. A TUTORIA E SEUS DESAFIOS A função mediadora da Tutoria, em experiências como essas, é ratificada durante as atividades através da facilitação das relações dos alunos e dos docentes, e também da mediação entre alunos e as próprias atividades. Tanto em atividades presenciais (através dos monitores e estagiários em docência) quanto em atividades da EaD (através dos Tutores) mediar as relações dos discentes com os professores e com as atividades, requer uma atenção às demandas específicas desses alunos, bem como a forma com que eles constroem o conhecimento nesse contexto. Na experiência em questão, essa atenção fora ampliada por conta da intensidade de informações compartilhada entre os alunos nos pequenos grupos. Além disso, como o ambiente utilizado foi um aplicativo de conversa, que não é exclusivo para fins educacionais, havia também o desafio de manter as atividades da disciplina mesmo com a concorrência dos grupos pessoais de cada aluno nessas plataformas.
6 46 Tutor EaD e o processo da Tutoria na Universidade Aberta do Brasil FATOS MARCANTES Enquanto fato marcante dessa experiência destaco a possibilidade de acompanhar os grupos na preparação para o debate ao longo da semana nos chats no Facebook. Nessa preparação os alunos compartilharam com seus grupos suas impressões a respeito dos textos lidos objetivando construir argumentos em prol da tese que eles defenderiam na semana seguinte. A relevância desse fato reside em poder perceber ao longo da semana a construção dos conhecimentos sobre determinado assunto que são partilhados entre os alunos. Na educação presencial perceber esse processo de preparação (ao longo da semana) para as aulas torna-se inviável visto que o único momento de encontro com os alunos é justamente no horário de aula. Outro fato a ser destacado foi a participação ativa dos alunos nos debates e na preparação para esse momento. Estimular a participação ativa dos estudantes é um desafio constante no âmbito educacional seja a distância ou presencial, na experiência em questão com o uso do MDC foi possível perceber um significativo engajamento do coletivo dos discentes. REFERÊNCIAS ASTERHAN, C. S. C.; SCHWARZ, B. B. Argumentation for Learning: Well-Trodden Paths and Unexplored Territories. Educational Psychology, v. 51, n. 2, p , DOI: / LEITÃO, S. Processos de construção do conhecimento: a argumentação em foco. Próposições, v. 18, n. 3(54), p , LEITÃO, S. O trabalho com argumentação em ambientes de ensino-aprendizagem: um desafio persistente. Uni-pluri/versidad, v. 12, n. 3, p , 2012.
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