A MÚSICA NO FAZER PEDAGÓGICO UMA ESTRATÉGIA PRAZEROSA E MOTIVADORA



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A MÚSICA NO FAZER PEDAGÓGICO UMA ESTRATÉGIA PRAZEROSA E MOTIVADORA Lisiê Marlene da Silveira Melo Martins 1 UFRN RESUMO O homem é considerado um ser integral, que compreende razão e sensibilidade. A música constitui-se, assim, como um elemento extraordinário que abrange o âmbito corporal e intelectual dos indivíduos que está constantemente presente na vida humana. A partir da premissa de que a escola deve estar atenta para o desenvolvimento global dos alunos, procura-se analisar de que forma a música está presente no cotidiano escolar como instrumento didático para auxiliar esse trabalho pedagógico. Apresenta-se uma retrospectiva história da relação entre a música e a educação desde as sociedades primitivas até os dias atuais, observando-se que apesar dos vínculos históricos entre a música e a educação, a música continua sendo negligenciada nas escolas. A partir desta constatação, pesquisou-se de que forma a inserção da música na prática pedagógica, possibilita o desenvolvimento cognitivo, motor e sócio-afetivo dos alunos, trazendo ludicidade, motivação e alegria para a sala de aula. A pesquisa sustenta-se nos registros realizados durante o período do estágio supervisionado, momento em que se implementou uma proposta de utilização da música como estratégia pedagógica, buscando verificar o grau de aprendizado conceitual, procedimental e atitudinal dos alunos do Ensino Fundamental I de uma escola pública em Natal. A análise dos dados indicam que, em consonância com os estudos bibliográficos realizados, a música é realmente significante para o desenvolvimento dos aspectos cognitivo, motor e sócio-afetivo das crianças, bem como se mostra um valoroso instrumento a ser utilizado na prática escolar, tendo consigo o poder de transformação do fazer pedagógico. Diante desses resultados, esperamos que esta pesquisa contribua significativamente para que hajam novos estudos, debatendo e repensando a relação entre a música, a educação e o desenvolvimento infantil. Palavras-chaves: Música, Educação, Desenvolvimento Infantil e Ludicidade. INTRODUÇÃO A presença da música na vida dos seres humanos é incontestável. Ela tem acompanhado a história da humanidade exercendo as mais diferentes funções. Está presente 1 E-mail: lisiemel@yahoo.com.br

2 em todas as regiões do globo, em todas as culturas, em todas as épocas, ou seja, a música é uma linguagem universal, que ultrapassa as barreiras do tempo e do espaço. É capaz de fascinar, encantar e nos envolver. A música exerce grande influência sobre os indivíduos. Ela está presente em todas as fases da vida do homem, principalmente na infância, que é o momento em que a criança mais desenvolve a criatividade e descobre o prazer existente nas diversas sonoridades. Não se pode imaginar a infância sem sons, sem as alegrias da música. Além disso, ela também é importante do ponto de vista da maturação individual, isto é, do aprendizado das regras sociais por parte da criança. Quando brinca de roda, por exemplo, tem a oportunidade de vivenciar, de forma lúdica, situações de perda, de escolha, de decepção, de dúvida, de afirmação. Essas cantigas e muitas outras que nos foram transmitidas oralmente, através de inúmeras gerações, são formas inteligentes que a sabedoria humana inventou para vivenciarmos a vida adulta. Tratam de temas tão complexos e belos, falam de amor, de disputa, de trabalho, de tristezas e de tudo que a criança enfrentará no futuro, queiram seus pais ou não. São experiências de vida que nem o mais sofisticado brinquedo eletrônico pode proporcionar. Com esse fascinante elemento é possível que as crianças viagem em sua imaginação e desenvolvam inúmeras habilidades. Nessa perspectiva, Vygotsky (2000) ressalta que toda criança está imersa em um caldo cultural, que é formado não só pela sua família, mas também por todo o grupo social no qual ela cresce, e é nesse contexto que haverá as relações de troca entre os indivíduos e o meio, resultando, assim, na formação social dessa criança. Portanto, a família e a escola são os maiores responsáveis por desenvolver as habilidades musicais, mostrando e estimulando a apreciação dos sons. Para compreender de que maneira a música pode ser relevante no processo de ensino-aprendizagem e ainda no desenvolvimento global da criança, é necessário primeiramente o esclarecimento do termo desenvolvimento. Segundo o dicionário Houaiss (2002), desenvolvimento é um termo que apresenta muitas acepções. Escolhemos algumas delas: aumento de qualidades morais, psicológicas, intelectuais etc., crescimento, progresso, adiantamento. Tem-se a idéia de desenvolvimento da criança apenas em aspectos cognitivos, isto é, no que diz respeito ao aprendizado intelectual. É uma tendência natural em um contexto tão competitivo e técnico em que estamos inseridos. Contrapondo essa tendência, se pode compreender que o processo de desenvolvimento de uma criança, está muito além apenas de seus aspectos físicos ou intelectuais. Esse processo envolve outras questões, certamente tão complexas quanto às da maturação biológica, tais como os aspectos de amadurecimento afetivo e social, sem deixar de lado, obviamente, o aspecto cognitivo. Ao refletirmos sobre o ato de aprender ainda pautados em Alves (1998), podemos afirmar que só se aprende com prazer quando se gosta, quando se ama o que se estuda,

3 pensando dessa forma, caminhamos com a reflexão de uma educação voltada para a realização do ser. Tal como a arte musical, a educação também tem os seus méritos artísticos ao possuir o poder de tocar e transformar. É sabido que a partir da educação que se pode modificar a sociedade. O professor tem um papel fundamental nesse processo, o educar também é sua tarefa. Além disso, o mestre tem em suas mãos a possibilidade de apresentar ao educando as alegrias do mundo através da imensidão de possibilidades didáticas que existem. É pertinente, portanto, uma reflexão sobre a educação como um processo global, progressivo e permanente, que precisa compreender diversas formas didáticas em seu processo de ensino-aprendizagem para alcançar a complexidade que a cerca. Neste sentido, devem-se desencadear atividades que contribuam para o desenvolvimento global do educando. A exemplo disso têm-se as práticas ligadas à linguagem musical. Esse grandioso elemento é considerado uma fonte para transformar o ato de aprender em uma atitude que possibilite o prazer, a alegria e motivação tanto para o professor, quanto para o aluno. Acredito que música é uma expressão por si só, é Arte. E que o deleite nas melodias, campos harmônicos e estéticos, proporcianam o transcender, o fluir e o desenvolver dos. Como bem pontua Sekeff, [...] a música é uma atividade, uma fruição, um prazer, um movimento que se completa em nós, na escuta, e que nos mobiliza de forma única, singular, integrando sentidos, razão, sentimentos e imaginação. Mesmo porque é esse o jogo que sustenta sua prática caracterizada por uma ludicidade que motiva, entusiasma, educa. (SEKEFF, 2002, p.119-120) É importante ressaltar que a abordagem dessa pesquisa não trata da música, canto ou dança enquanto ensino da arte o que demandaria conhecimentos e pesquisas que fogem o escopo desse trabalho e sim ao uso da música como um instrumento didático na prática pedagógica e suas contribuições no processo de ensino-aprendizagem, favorecendo o desenvolvimento global das crianças. Enfatiza ainda, o uso da música como instrumento pedagógico a ser utilizado em uma sala de aula sendo, nesse contexto, um meio de expressão, elemento que propicia momentos lúdicos resgatando a motivação e o prazer dos professores e alunos. OBJETIVO O objetivo geral dessa pesquisa é analisar como a música pode favorecer a prática pedagógica desenvolvendo os aspectos cognitivo, motor, e sócio-afetivo das crianças, ainda trazendo consigo o prazer e motivação, no Ensino Fundamental I. A partir dessa análise, identificar o desenvolvimento das diferentes habilidades que a música possibilita na criança ao ser utilizada na sala de aula, verificar os motivos pelos quais a linguagem musical mostra-se um instrumento facilitador no processo de ensino aprendizagem e ainda, conhecer as diversas formas que a música pode estar presente na prática docente.

4 METODOLOGIA De acordo com as contribuições observadas na pesquisa que a música pode proporcionar ao desenvolvimento cognitivo, motor e sócio-afetivo das crianças e o poder de transformação da prática docente observadas na pesquisa bibliográfica realizada, buscou de utilização da música como estratégia pedagógica e lúdica na sala de aula desenvolvida no decorrer da prática pedagógica proposta pelo currículo do curso de pedagogia da UFRN. O experimento foi concretizado no período de março a junho de 2008, sendo vivenciado por um grupo de 24 alunos matriculados no 3º ano da rede pública de ensino no município de Natal/RN. As fases que nortearam a efetivação da pesquisa-ação foram: 1) a observação de determinados aspectos do campo empírico: o contexto socioeconômico, afetivo, pedagógico, institucional e profissional; 2) a fundamentação teórica por meio de leitura de diferentes autores; 3) a elaboração do projeto pedagógico a ser aplicado na sala de aula em questão; e, 4) a efetivação da mediação pedagógica. A experiência constituiu-se, metodologicamente, em duas etapas, além da pesquisa bibliográfica que a fundamentou. A primeira consistiu em observar o funcionamento da referida escola, diagnosticando a maneira como eram conduzidas as atividades dentro e fora da sala de aula e perceber se e como a música se fazia presente na prática escolar observada. A segunda etapa foi a regência, ou seja, a aplicação prática da proposta pedagógica que respaldaria nossa experiência. Compreendemos que esta pesquisa se enquadra no tipo qualitativa, que segundo Fiorentini (2006), é uma pesquisa subjetiva e que não busca dados numéricos e sim conhecer a complexidade do campo empírico. Consideramos ainda que a metodologia adotada para a realização desta atividade científica é a Pesquisa- ação. Essa modalidade de pesquisa constitui-se predominantemente pela ação-reflexão-ação. Como bem pontua Fiorentini: A pesquisa-ação é um tipo especial de pesquisa participante, em que o pesquisador se introduz no ambiente a ser estudado não só para observá-lo e compreende-lo, mas sobretudo para mudá-lo em direções que permitam a melhoria das práticas e maior liberdade de ação e de aprendizagem dos participantes.[...] Apresenta-se como transformadora provocando mudança de significados. (FIORENTINI, 2006, p. 112) Como espaço de síntese entre a cultura formal e a cultura experienciada, a escola deve possibilitar o desenvolvimento das capacidades cognitivas, operativas e sociais dos alunos, relacionando-o com os aspectos afetivos e subjetivos da sua formação. O aluno deve assimilar de forma ativa e consciente os conteúdos, para que a partir de seu potencial de pensamento, construa e reconstrua conceitos, habilidades, atitudes e valores e desenvolva suas capacidades cognitivas e afetivas para lidar com as situações da realidade. Estando cientes da responsabilidade da instituição escolar e a partir da observação do campo de estágio, buscamos oportunizar uma mediação pedagógica através de uma proposta

5 de ensino de significativa competência e coerência, pretendendo romper com o modelo de educação tradicional marcado pela passividade discente e autoridade docente. Para atender a esses objetivos, elaboramos como proposta pedagógica, um projeto com abordagem interdisciplinar dos conteúdos programáticos em consonância com o trabalho pedagógico da professora regente que se desenvolvia a partir da origem da cidade de Natal, incluindo a música como instrumento didático, visando uma atividade pedagógica motivadora a fim de desenvolver os educandos em sua totalidade. Como propõe Freinet (1998), o centro das preocupações das nossas propostas pedagógicas é a própria criança, ser afetivo, inteligente e social. Baseados nesse princípio que procuramos desenvolver esse projeto. Contribuindo para uma aprendizagem construtiva, propusemos atividades desafiadoras, lúdicas e dinâmicas, integrando as crianças e envolvendo-as no processo de ensino-aprendizagem, respeitando suas diversidades, necessidades e aptidões. Isso porque partimos também do princípio de que o professor tem a função de instigar nos alunos à sede pelo conhecer, viabilizar novas e ricas situações de aprendizagem, procurar constantemente estimular os educandos para que eles se sintam suscitados a aprender e passem a se dedicar com mais prazer e afinco ao processo de ensino-aprendizagem. RESULTADOS No decorrer do prática pedagógica, tivemos a oportunidade de trabalhar a linguagem musical em diversos momentos, tanto como próprio conteúdo da aula, como foi o exemplo do estudo sobre a música indígena, quanto fazendo uso dela como recurso didático. Em consonância com os estudos bibliográficos realizados para embasamento dessa pesquisa-ação, pudemos perceber no decorrer desse experimento, que a música é realmente importante para o desenvolvimento dos aspectos cognitivo, motor e sócio-afetivo das crianças, bem como se mostra um valoroso instrumento a ser desenvolvido na prática escolar, tendo consigo o poder de transformação do fazer pedagógico. As atividades propostas na regência em questão foram desenvolvidas de forma dinâmica e estimulando o prazer, atingindo os aspectos da música como instrumento lúdico, possibilitando a motivação, a alegria no fazer, a participação, a auto-confiança, autonomia, entre outros, trazendo a alegria que somente a música pode proporcionar aos professores e alunos. Quanto aos aspectos do desenvolvimento cognitivo, as atividades com a música mostraram-se facilitadoras no aprendizado do conteúdo, impulsionaram também o estímulo, a atenção e a concentração, promoveram ainda a apreciação de diversos tipos de sonoridades e da linguagem musical fazendo com que a estrutura mental da inteligência musical se desenvolvesse nas crianças.

6 Essas atividades também atingiram aspectos do desenvolvimento motor das crianças ao trabalhar o ritmo, o equilíbrio corporal e muscular, e também no desenvolvimento da coordenação motora fina e ampla. Proporcionaram, por fim, o desenvolvimento dos aspectos sócio-afetivos das crianças no que se refere à socialização no grupo, à compreensão, à participação e à cooperação, bem como trabalhou os aspectos afetivos das crianças no tocante ao sentimento de amizade e companheirismo e também à valorização dos sentimentos e emoções dos alunos. CONSIDERACOES FINAIS A reflexão sobre o importante momento que estamos vivendo. Momento de plantar, semear, para no futuro podermos colher. Como expressa Rubem Alves (2003, p. 145), assim é o educador uma bola de sementes-palavras onde se encontra o sonho que ele deseja plantar. Usando a sua metáfora, refletimos que para se plantar é preciso conhecimento, mas o conhecimento, sozinho, não faz ninguém desejar plantar. Por mais que busquem o conhecimento, os professores, por muitas vezes, sentem-se perdidos em suas salas de aula, sem se darem conta de que sementes estão plantando em seus alunos. É necessário que nasça em nós educadores o desejo de plantar sementes que façam germinar uma educação enraizada na alegria, na satisfação e no prazer. Embora o tema desse trabalho não tenha se esgotado, as reflexões que discorremos ao longo da pesquisa estão pautadas na defesa de uma educação voltada para uma prática pedagógica fundamentada nos pressupostos de que a música é um instrumento didático a ser utilizado no processo educativo, visando o desenvolvimento integral da criança, a ludicidade, o prazer e a motivação na ação pedagógica, tanto para o educando, quanto para o educador. Os fundamentos dessa pesquisa deram-se a partir da idéia de que o homem é um ser dinâmico e que está em constante mudança de estado, mudança essa que ocorre em função de suas interações com o meio no qual está inserido. No tocante ao seu processo de desenvolvimento ativo e criativo desde a escola, destacamos que a música possui grande funcionalidade visto que possui um importante papel educacional como atividade lúdica e que pode desenvolver os indivíduos nos aspectos cognitivo, motor e sócio-afetivo. Após o período de realização da pesquisa, ressaltamos a importância desse experimento para relacionarmos os fundamentos teóricos adquiridos em nossa formação acadêmica à prática cotidiana da sala de aula e de todo contexto escolar. Observamos e comprovamos que, apesar das dificuldades do sistema público de ensino, com um trabalho pautado nos pressupostos citados, é possível desenvolver uma proposta de ensino competente e coerente. Percebemos ainda que com uma mediação pedagógica lúdica com a linguagem musical é perfeitamente possível trabalhar os conteúdos escolares de forma interdisciplinar e significativa, possibilitando aos alunos um aprendizado desafiador, prazeroso e envolvente.

7 Dentro dessa perspectiva, os alunos corresponderam às nossas expectativas e objetivos, participando com afinco e interesse das atividades propostas, indo além da mera captação dos conteúdos. Foram autores criativos nas mais diversas situações de aprendizado em que estiveram presentes. Com a nossa mediação pedagógica, portanto, esperamos haver contribuído para o processo de desenvolvimento cognitivo, social e afetivo dos alunos, e, além disso, para a prática docente da professora cooperadora com sugestões pedagógicas em que a música, instrumento que pode possibilitar o prazer e a alegria, esteja aliada à aprendizagem das crianças. As que questões trabalhadas nessa pesquisa abordam apenas algumas das intensas e marcantes característica da Linguagem Musical. É importante ressaltar que temas como a desvalorização da música no ambiente escolar, a falta de preparo dos professores para fazerem uso dessa expressão artística em seu cotidiano e acima de tudo sobre a presença da música na escola enquanto Arte e representação estética, elemento propiciador do humanecer e autoconhecer, ainda precisam ser pesquisados, debatidos e repensados no meio acadêmico, podendo ser enfatizados em pesquisas posteriores. A música precisa ser valorizada no ambiente escolar para que os alunos possam ser incentivados à criatividade e ao desejo da alegria de viver porque todos nós precisamos de momentos em que nos sintamos mais livres, envoltos pela imaginação, embalados pelo ritmo que nos faz cantar e dançar descobrindo novas formas de expressão. Ainda porque precisamos sentir o outro e a nós mesmos, porque queremos sorrir juntos, em um sentimento de amizade e aproximação. E por fim, porque precisamos esquecer, nem que seja por alguns momentos, os problemas que nos cercam, e então nos humanescer, sentirmos o outro. Considerando o diálogo com os autores que fundamentaram esta pesquisa e os resultados demonstrados na experiência vivenciada com a música na sala de aula durante a pesquisa de campo, estamos convictos de que a expressão musical pode trazer novas cores, novos ares e novas canções à vida de cada estudante e professor, fazendo assim do processo de ensino-aprendizagem um concerto de infinitas alegrias. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, Rubens. Conversas com quem gosta de ensinar. Campinas: Papirus, 1998.. Concertos para corpo e alma. Campinas: Papirus, 2003. FIORENTINI, Dário; LORENZATO, Sérgio. Investigação em educação: percursos teóricos e metodológicos. Campinas, SP: Autores Associados, 2006. FREINET, Célestin. A Educação do Trabalho. São Paulo: Martins Fontes, 1998. HOUAISS. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Objetiva, 2002. SEKEFF, Maria de Lourdes. Da Música seus usos e recursos. São Paulo: Unesp, 2002.

8 VYGOTSKY, Levy. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 2000.