EDUCAÇÃO COMO INICIATIVA DE TRANSFORMAÇÃO NO TRABALHO DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA NA COMUNIDADE TERAPÊUTICA CASA DE RESGATE NO MUNICIPIO DE COARI-AM RESUMO Fábio Gomes da Silva Ademar Vieira dos Santos Keliane Queiroz da Silva *** Joilson Souza da Silva **** As condições da dependência em que esses jovens se encontravam exigiu de nossa parte como professores formadores dos professores voluntários, competência didática para estabelecer um horário e um tipo de conteúdo diferenciado das escolas regulares, isto é, que estivesse de acordo com a realidade socioeduacacional daqueles jovens dependentes. Assim procurou-se desenvolver com os professores formadores voluntários estratégias de ensino aprendizagem; Empreender ações práticas capazes de sensibilizar os estudantes a superação de suas condições de dependência química. As atividades foram realizadas durante as sextas-feiras, considerando-se o dia mais adequado para reunir os professores. A avaliação das atividades foi realizada de forma dialogal onde todos tiveram a oportunidade de relatar e refletir sobre o que aprenderam e as perspectivas de ampliação de suas práticas educativas. Cada atividade teve a duração de 04 (quatro) horas, dos 50 alunos que frequentaram as aulas durante todo o período de desenvolvimento do projeto, 39% deles foram aprovados. Isto no nosso entendimento se deve ao desempenho dos professores em se capacitar para ensinar e também em sensibilizar os aprendizes daquela casa no sentido de frequentar as aulas e estudar os assuntos ensinados com mais determinação. Uma vez que levar conhecimento para aquelas pessoas, significou para nós estar contribuindo com o processo de inclusão social das classes menos favorecidas. Palavras-chave: Educação, inclusão social e Coari. INTRODUÇÃO Este projeto se justifica pela necessidade que urge de através de ações, palestras e oficinas, de forma dialogal realizada por professores universitários também colaboradores convidados, ampliar os conhecimentos e as práticas educativas dos professores e professoras formadores voluntários que se dispõem a alfabetizar e recuperar jovens dependentes químicos e alcoólatras da Fundação Casa de Resgate na cidade de Coari. Como metodologia orientadora das ações será utilizada a pesquisa-ação participativa. Este projeto é relevante por poder através das ações sensibilizar os jovens dependentes a mudarem suas condições de vida. Objetivos: Estudante de Biologia e Química pela Universidade Federal do Amazonas. Fabio.tecseg.bc@hotmail.com ** Formado em Pedagogia e professor da Universidade Federal do Amazonas; avsantos2013@gmail.com ***Estudante do Curso de Matemática e Física pela Universidade Federal do Amazonas. Fabio.tecseg.bc@hotmail.com **** Estudante do Curso de Matemática e Física pela Universidade Federal do Amazonas. Fabio.tecseg.bc@hotmail.com.
Geral: Interagir com os professores formadores voluntários com o propósito de sensibilizá-los a melhorias de suas práticas educativas e, por conseguinte a recuperação social dos seus aprendizes. Específicos: Verificar as dificuldades que os professores formadores voluntários têm em elaborar conteúdos condizentes com a realidade dos seus aprendizes; Analisar as dificuldades que os formadores voluntários têm em promover a recuperação social dos jovens; Desenvolver com os professores formadores voluntários estratégias de ensino aprendizagem onde os estudantes possam se sentir como sujeitos partícipes do processo de aprendizagem; Empreender juntamente com os formadores voluntários ações práticas capazes de sensibilizar os estudantes a superação de suas condições de dependência química, e, por conseguinte a cidadania. Procedimentos Metodológicos Para o trabalho com os professores formadores voluntários dos estudantes foi utilizado como metodologia, a realização de palestras, oficinas temáticas que foram programadas de acordo com a participação deles, e, por conseguinte dos professores formadores convidados a colaborar com o projeto na formação dos professores voluntários. As atividades foram realizadas todas as sextas-feiras, considerando-se o dia mais adequado para reunir os professores voluntários. A avaliação das atividades foi realizada de forma dialogal onde todos tiveram a oportunidade de relatar e refletir sobre o que aprenderam e as perspectivas de ampliação de suas práticas educativas. Cada atividade teve a duração de 04 (quatro) horas. Todas as atividades foram registradas através de fotografias sem fins lucrativos. A participação dos professores voluntários foi registrada através de relatórios de frequência. Como perspectiva de abordagem foi utilizada a pesquisa-ação participativa, como metodologia orientadora das ações, visto que em parte o conhecimento foi produzido a partir dos conteúdos selecionados de acordo com a realidade dos estudantes e do resultado da ação participativa de todos os envolvidos. A participação é dessa forma a categoria determinante do processo de conhecer e de produzir mudanças. O conhecimento foi produzido em parte a partir das ações e das novas estratégias de aprendizagem praticadas no cotidiano. Resultados Em suas aulas os professores utilizaram os seguintes materiais: - Apostilas, Quadro branco, Pinceis para quadro branco, Filmes Educativos (relacionado á drogas e a disciplina ministrada), Televisão, DVD, Notebook e Data show. Para ajudar os professores em seu trabalho voluntário foi necessário proceder a elaboração de apostilas, nelas se procurou conceituar e retratar o significado de dependência química. O que leva o indivíduo a consumir drogas, qual o caminho percorrido por um dependente químico, como é a vida de um dependente químico e como se encontra a mente de um dependente químico, ou seja, se o mesmo está pronto ou não para se dedicar aos estudos novamente. É importante que o professor saiba com quem ele vai trabalhar e como deve agir
em determinadas situações. Após o estudo da apostila os professores passaram a aplicar as teorias estudadas na sala de aula, sendo que as disciplinas distribuídas a eles foram Ciências Naturais, Português, Matemática e Geografia. Cada professor utilizou uma metodologia que a seu ver fornecia um melhor aprendizado ao aluno. Como todos sabem o primeiro dia de aula é um desafio tanto para o professor quanto para o aluno ainda mais em uma sala de aula com 50 estudantes, além do mais quando se trata de dependentes químicos, para uma pessoa que nunca lecionou isso é assustador. No primeiro dia de aula nos encarregamos de separar na sala de aula os analfabetos, os de Ensino Fundamental e Médio. Como poderíamos dar aula para uma turma de 50 alunos se os mesmos não possuem o mesmo nível de aprendizagem? Então a turma ficou divida da seguinte maneira: - 20 Analfabetos; - 18 Ensino Fundamental; - 12 Ensino Médio (1 ao 2 ano); Os analfabetos ficaram com os professores de português e matemática, onde a mesma programou uma aula especial onde só os mesmos frequentavam duas vezes por semana, nas sextas e nos sábados. As aulas eram ministradas no turno da tarde onde cada professor (Português e Matemática) dividiam os horários. A aula de português era ministrada das 13:00 ás 13:45 e a aula de matemática das 14:00 ás 14:45. Os alunos do Ensino Fundamental recebiam aula nas segundas e terças, onde recebiam aula de Português, Matemática, Ciências e Geografia. As aulas eram ministradas durante a tarde. No Ensino Médio algumas coisas foram modificadas, já não se lecionava mas Ciências Naturais e sim Biologia, porém as outras disciplinas continuaram a ser ensinadas. As aulas eram ministradas nas quartas e quintas. Nosso projeto apresentou algumas dificuldades, cada professor voluntário mostrou desempenho para encarar cada uma delas. A organização e separação das turmas, sala de aula desestruturada (sem quadro, poucas cadeiras, inundação por conta de chuvas), falta de material escolar. Para educar os alunos a equipe de professores voluntários teve que suprir todas essas necessidades, o quadro, as cadeiras, livros didáticos e alguns materiais escolares, foram doados por algumas escolas do município. O problema da inundação foi resolvido pelos professores e alunos que formaram uma equipe e deram uma pequena reformada na sala de aula. Outra dificuldade foi a recaída de alguns residentes. Sabe-se que o professor que ama o seu trabalho se adéqua com facilidade a qualquer turma, conosco não foi diferente, porém, alguns não permaneciam por muito tempo, mesmo assim, procurávamos manter contanto com aluno, fazer algumas visitas e se por acaso algum voltasse a ser morador de rua o objetivo seria trazê-lo de volta como fizemos com alguns que saíram. A saída do aluno não afetava apenas o alto estima do professor mas também a turma que ficava desmotivada, esta situação prejudicava a todos. Outro problema eram as intrigas que alguns alunos mantinham uns com os outros. Uma Casa de Recuperação é um local de tratamento, mas nem todos que estão dentro da comunidade procuram a cura, alguns estão sendo forçados por suas famílias a procurar o tratamento, outros obrigados pela justiça entre outros casos, o problema apresentado não eram briguinhas de colegial, pois tais pessoas se comportavam como se estivessem na cadeia e muitas vezes isso era assustador, porém, o presidente da comunidade sabia muito bem como
controlar esse tipo de coisa. Outra dificuldade apresentada foi ministrar para um aluno com deficiência auditiva, por sorte ele já sabia ler e escrever, mas infelizmente não podia nos ouvir, apesar de tudo não excluímos ele dos outros alunos, pois ele também possuía o direito de aprender. Mesmo com as tamanhas dificuldades encontradas, os professores voluntários conseguiram alcançar sua meta e obter bons resultados, mas a experiência mais importante foi descobrir como é bom conceder uma nova chance para alguém que realmente quer voltar e se inserir na sociedade. RENDIMENTO ESCOLAR DOS RESIDENTES: ALFABETIZAÇÃO: - DISCIPLINAS: ENSINO FUNDAMENTAL: - DISCIPLINAS:
ENSINO MÉDIO: - DISCIPLINAS:
RENDIMENTO GERAL:
Considerações Finais Este projeto nos possibilitou perceber de forma mais crítica a importância da educação na vida dos dependentes químicos. Todo ser humano tem direito de aprender, obter conhecimento e ter um futuro melhor, independente de quem ele foi ou do que fez durante sua vida. A educação faz parte da vida de todos aqueles que a querem e a buscam. Levar conhecimento para aquelas pessoas, significa passar por cima de todos os obstáculos, principalmente quando se trata de pessoas que a própria sociedade colocou as margens. Referências BRASIL. A Prevenção do Uso de Drogas e a Terapia Comunitária. Brasília: Secretaria Nacional Antidrogas, 2006. BRASIL. Inovação e Participação. Relatório de Ações do Governo na Área da Redução da Demanda de Drogas. Brasília: Secretaria Nacional Antidrogas, 2006. BRASIL. Política Nacional sobre Drogas. Brasília: Presidência da República, Secretaria Nacional Antidrogas, 2005. NAPPO S; Noto AR. Anfetaminas e análogo. In: Dependências de drogas. Seibel SD, Toscano Jr. A. (Ed). São Paulo: Editora Atheneu, pp. 10-119, 2001. RANG HP; Dale MM; Ritter JM; Flower RJ. Farmacologia. Tradução de Raimundo Rodrigues Santos e outros; Rio de Janeiro, Elsevier, p.830,2007. KAPLAN HI, Sadock BJ, Grebb JÁ. Compêndio de Psiquiatria: Ciências do comportamento e Psiquiatria clínica. Sétima Edição, Artes Médicas, São Paulo, 1997. BAUS J, KUPEK E & PIRES M. Prevalência e fatores de risco relacionados ao uso de drogas entre escolares. Revista de Saúde Pública 2002; 36 (1): 40-6, 2002.