PROGRAMAS DE CONTROLE DO PESO CORPORAL: ATIVIDADE FÍSICA E NUTRIÇÃO



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ARTIGO PROGRAMAS DE CONTROLE DO PESO CORPORAL: ATIVIDADE FÍSICA E NUTRIÇÃO Dartagnan Pinto Guedes* O controle do peso corporal constitui importante preocupação para a sociedade atual. Estudos epidemiológicos realizados recentemente apontam que cerca de 30-35% dos indivíduos acima de 20 anos e por volta de ¼ das crianças e dos adolescentes que vivem em sociedades industrializadas apresentam sobrepeso ou são considerados obesos (KUCZMARSKI, 1994). A proporção de indivíduos com sobrepeso e obesos, obviamente, não vem aumentando nos últimos tempos porque eles estão, de maneira consciente, procurando ganhar peso corporal. Pelo contrário, proporção significativa da população vem tentando manter o peso corporal dentro dos limites desejáveis, seja com finalidades estéticas ou com objetivos de manutenção e promoção da saúde. Paradoxalmente, ao mesmo tempo em que a prevalência do sobrepeso e da obesidade aumenta, maior número de indivíduos tem se envolvido com programas de controle do peso corporal. Contudo, desde que se continue a optar por assumir estilo de vida em que prevaleçam modelos de hábitos alimentares de elevado aporte calórico e de exercitar-se de maneira insuficiente, o combate ao excesso de peso corporal não se torna tarefa fácil. Com o intento de controlar o peso corporal, a falta de informações tem levado muitos indivíduos a se deixar enganar por produtos e métodos inovadores que prometem redução do peso corporal com rapidez, acompanhada por facilidades muito convidativas e, por vezes, assegurando vantagens à saúde sem o equivalente respaldo do conhecimento científico. O curioso é que, quanto mais se intensifica a indústria do controle do peso corporal, com a comercialização de produtos como pílulas para emagrecimento, adoçantes artificiais, bebidas e alimentos dietéticos, livros e outras publicações sobre dietas e exercícios físicos de efeito imediato, além de serviços como massagens para queimar gordura, ginástica sem esforço, etc., menor número de indivíduos tem conseguido reduzir o peso corporal para níveis desejáveis, e aqueles que conseguem não os mantêm por mais que algumas semanas. *Universidade Estadual de Londrina. 64

Estimativas realizadas em alguns países dão conta de que milhões de dólares são gastos a cada ano com produtos e serviços direcionados ao controle do peso corporal, com pouco ou nenhum resultado efetivo. Naturalmente, além do aspecto financeiro, não se pode deixar de incluir os custos psicoemocionais que programas ineficientes de controle do peso corporal podem trazer ao indivíduo. Alguns estudos destacam desde frustrações pessoais, que levam à diminuição da auto-estima, à depressão e ao isolamento pessoal, até os mais sérios distúrbios psicológicos associados à alimentação, como a anorexia e a bulimia (WADDEN, 1996; WILSON, 1993). A despeito dos esforços na área para procurar aumentar a eficácia dos programas de controle do peso corporal, ainda não surgiu nenhum produto ou método que possa substituir, de maneira eficiente e segura, a redução no consumo calórico por intermédio de orientações dietéticas e o aumento da demanda energética mediante a prática de atividades físicas, ou, preferencialmente, por ambos. Programas que prometem resultados sem modificações dos hábitos alimentares e da prática de atividades físicas poderão aparentemente apresentar alguma redução imediata do peso corporal; contudo, têm sido ineficazes a médio e a longo prazo. Recursos Utilizados nos Programas de Controle do Peso Corporal Desde que o sobrepeso e a obesidade surgem em conseqüência de desproporções cronicamente estabelecidas entre o suprimento alimentar e a demanda energética, o princípio fundamental dos programas de controle do peso corporal deverá ser a disponibilização do equilíbrio energético negativo. Logo, podem-se identificar três maneiras de se alcançar o déficit calórico: por reduções na ingestão calórica, mediante orientações dietéticas; por elevações na demanda energética, mediante modificações nos níveis de prática da atividade física; e pela combinação de ambas, orientação dietética e atividade física. Programas de controle do peso corporal que prometem resultados sem envolvimento de dietas hipocalóricas ou de incremento das atividades físicas deverão certamente ser ineficazes a médio e longo prazo, além de colocarem em risco o funcionamento orgânico. Indivíduos que necessitam reduzir o peso corporal têm à disposição grande variedade de opções a escolher, desde grupos comunitários de controle de calorias ingeridas (Vigilantes do Peso) até centros altamente sofisticados de atendimento multidisciplinar, como é o caso das clínicas de emagrecimento, passando por academias de aprimoramento da condição física. No entanto, em R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 10, n. 1, p. 64-90, 2002 65

um ponto todos convergem em uma mesma direção: estabelecimento do equilíbrio energético negativo, seja por uma, por outra, ou por ambas as alternativas. A despeito da grande evolução que se verificou nessa área nas últimas décadas - comprovada mediante a produção de novos conhecimentos quanto à relação consumo-demanda energética, o surgimento e aprimoramento de equipamentos voltados à prática de exercícios físicos e alternativas da indústria alimentícia que oferece cada vez melhor sabor e menor aporte calórico - estudos apresentados na literatura demonstram, a princípio, um quadro preocupante: entre aqueles indivíduos que apresentam reduções ponderais significativas ao completarem os programas de controle do peso corporal, 70% deles recuperam os valores iniciais de peso corporal no espaço de um ano, e quase todos eles em cinco anos (NATIONAL INSTITUTES OF HEALTH, 1993). Essa situação evidencia que o escopo do controle do peso corporal é complexo e não se limita à simples redução de seus valores, como resultado do equilíbrio energético negativo estabelecido enquanto durar o programa. É necessário, fundamentalmente, estabelecer modificações comportamentais que venham a auxiliar os indivíduos a identificar peculiaridades dos problemas associados ao sobrepeso e à obesidade, procurando interferir de maneira efetiva e permanente nos hábitos de vida. Nesse particular, é apropriado afirmar que os programas de controle do peso corporal não podem ser considerados como um fim em si, mas, sobretudo, como recurso terapêutico que visa a recompor a constituição corporal e a preparar o indivíduo para adotar novo estilo de vida. Portanto, a redução do peso corporal deverá ser encarada apenas como um dos objetivos a ser alcançado nos programas de controle do peso corporal: é importante principalmente que se alcancem modificações comportamentais na tentativa de se estabelecerem novos hábitos alimentares e de prática de atividades físicas. O sucesso dos programas de controle do peso corporal também está associado à fase da obesidade. A primeira fase, a chamada fase ativa, é aquela em que o indivíduo inicia o período de equilíbrio energético positivo e, portanto ganha peso corporal. No final dessa fase, quando o peso corporal se estabiliza por algum tempo, inicia-se a fase passiva. Os programas de controle do peso corporal deverão apresentar maior probabilidade de sucesso na fase ativa da obesidade, quando ainda se observam mudanças na velocidade de ganho de peso corporal. As alterações do peso corporal se tornam mais difíceis quando na fase passiva, tanto pelos hábitos alimentares e de prática da atividade física já incorporados como pelas alterações metabólicas que, se já eram facilitadoras do maior acúmulo de peso corporal, se tornaram inimigas para a sua regressão. 66

O equilíbrio energético negativo necessário aos programas de controle do peso corporal deverá se dar de forma gradual, procurando fazer os déficits calóricos se tornarem viáveis e toleráveis a cada indivíduo, de acordo com as condições individuais. A imposição de programas rígidos e preestabelecidos, de forma generalizada, é contra-indicada pela própria ineficiência, já comprovada por causa das dificuldades de adesão (DISHMAN, 1991; FOREYT, 1994). Orientação Dietética Intervenções dietéticas nos programas de controle do peso corporal requerem elaboração de planos de dietas que venham a oferecer diminuição no consumo calórico total. Dessa forma, o organismo passa a receber menor aporte calórico do que precisa; em conseqüência, vai buscar as demais calorias necessárias em seus depósitos energéticos, tanto mais quanto maior for o dispêndio de energia requerido para atendimento das solicitações biológicas. A efetividade, a curto prazo, das dietas hipocalóricas é indiscutível, o que talvez as torne tão comuns. No entanto, o índice de sucesso desse método, a médio e a longo prazo, parece ser bastante fraco por duas razões fundamentais. Primeiro, porque sua efetividade diminui à medida que passa o tempo. A restrição calórica induz à diminuição da taxa metabólica de repouso, em conseqüência de mecanismos compensatórios do organismo, que tenta otimizar os escassos recursos energéticos de que dispõe mediante melhora no rendimento dos processos bioquímicos e diminuição na demanda energética por intermédio de reduções inconscientes da atividade física voluntária. Em segundo lugar, porque somente entre 50 e 70% do peso corporal que se perde é gordura: o restante é massa muscular (proteína, água, eletrólitos, glicogênio, vitaminas e sais minerais) ou massa óssea (KRAMER et al., 1989) Estudos apontam que somente por volta de 10 a 30% dos indivíduos que conseguem reduzir o peso corporal apenas com dietas permanecem nessa situação por mais que 90 dias. Os demais tendem a recuperar o peso corporal inicial ou passam a apresentar grau de sobrepeso e obesidade ainda mais elevado (SARIS, 1983) Portanto, para que se possa induzir a reduções significativas do peso corporal e mantê-lo em valores próximo aos desejáveis, as dietas devem ser incorporadas como condução de apoio e não como única forma de solução. Tipos de dietas hipocalóricas Existe grande variedade de dietas direcionadas à redução do peso corporal, desde restrições calóricas drásticas próximas à inanição, e que, portanto R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 10, n. 1, p. 64-90, 2002 67

exigem vigilância constante de equipe multidisciplinar de profissionais, até modismos alimentares estabelecidos pela imaginação de alguns com finalidades comerciais. De maneira geral, os planos de dietas que apresentam respaldo de evidências científicas, aceitas pela comunidade de estudiosos da área, são classificados em três categorias: I - dietas de déficit calórico balanceado; II - dietas de baixo aporte calórico; e III - dietas de muito baixo aporte calórico. A definição das dietas hipocalóricas baseia-se na quantidade de calorias por kg de peso corporal desejável e na distribuição das proporções nutricionais prescritas. O princípio básico das dietas de déficit calórico balanceado é tãosomente redução do aporte calórico para níveis entre 20 e 30 kcal/dia por kg de peso corporal desejável, procurando atender às proporções nutricionais recomendadas para as gorduras, os carboidratos e as proteínas. Assim, para um homem com peso corporal esperado de 75 kg, uma dieta de déficit calórico balanceado deverá proporcionar entre 1.500 e 2.250 kcal/dia, mediante ingestão adequada das proporções dos nutrientes energéticos. Esse tipo de dieta é indicado para os casos em que a quantidade de peso corporal a ser removido é relativamente baixa (IMC < 30 kg/m 2 ) e as disfunções metabólicas e crônico-degenerativas provenientes do excesso de gordura corporal ainda não se instalaram de maneira mais efetiva no organismo. Portanto, nesses casos, deverá haver preocupação com que os alimentos oferecidos possam satisfazer gastronomicamente o indivíduo, sobretudo quando for necessário manter o déficit calórico por meses. As dietas de baixas calorias são estabelecidas mediante aporte calórico de aproximadamente 10 a 20 kcal/dia por kg de peso corporal. Uma dieta típica com essas características deverá ser prescrita com a finalidade de fornecer não mais que 20% de calorias à custa de gorduras, elevando o aporte calórico proveniente dos carboidratos e das proteínas. Entretanto, muitas vezes se encontram dificuldades em alcançar e manter proporção de consumo tão baixa de gorduras nos alimentos regulares. Desse modo, torna-se necessário recorrer ao uso de formulações especialmente preparadas e de alimentos dietéticos para compor esse tipo de dieta. Ainda, uma restrição calórica dessa magnitude, associada apenas aos alimentos regulares, deverá solicitar suplementação vitamínica e de minerais para atender às necessidades nutricionais do indivíduo. Dietas estabelecidas com essas características, assim como qualquer um dos tipos de dietas hipocalóricas, devem ser encaradas como uma passagem 68

de tempo limitado e prescritas com finalidades de reparação e recuperação do estado de equilíbrio energético. Por mais equilibradas que sejam, a natureza artificial e as restrições nas escolhas dos alimentos fazem dietas de tão baixo aporte calórico se tornarem uma situação anômala, e, portanto, são inadequadas por longo prazo. As dietas de muito baixo aporte calórico são estabelecidas para que forneçam menos que 10 kcal/dia por kg de peso corporal desejável; portanto, muito raramente são compostas por alimentos regulares. Pelo nível de agressão ao organismo, esse tipo de dieta deverá ser acompanhada, necessariamente, por equipe multidisciplinar que inclua médicos, nutricionistas, psicólogos, fisiologistas e enfermeiras. As dietas de muito baixo aporte calórico mais comuns são elaboradas para fornecer não mais que 45-100 gramas/dia de proteínas de alto valor biológico, o que corresponde a 0,8-1,5 g/kg de peso corporal; 100 gramas/dia de carboidratos; um mínimo de gorduras; e as proporções recomendadas de vitaminas, minerais e eletrólitos (NATIONAL TASK FORCE,1993) A utilização desse tipo de dieta deverá ser limitada aos indivíduos que apresentam obesidade mórbida ou elevada e não conseguem obter resultados satisfatórios com os métodos convencionais. Por apresentar maior e mais rápida redução do peso corporal, via de regra é reservada para indivíduos cuja obesidade os coloca em risco de maior morbidade e mortalidade (IMC > 35 kg/m 2 ). Melhora do controle glicêmico, diminuição da pressão arterial e redução nas concentrações de lipídios e de lipoproteínas plasmáticas podem ser obtidas em até três semanas (KANDERS et al.,1993). Implicações no uso de dietas hipocalóricas Em termos gerais, a quantidade e a velocidade de redução do peso corporal são proporcionais às restrições calóricas oferecidas pelas dietas: indivíduos submetidos a dietas de muito baixo aporte calórico deverão apresentar reduções no peso corporal de maneira mais rápida e em proporções mais elevadas se comparados com aqueles que recorrerem às dietas de déficit calórico balanceado. No entanto, as dietas de baixo e de muito baixo aporte calórico não são desprovidas de riscos mesmo quando acompanhadas por profissionais da área. O Quadro 1 relaciona algumas complicações induzidas por dietas com essas características. R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 10, n. 1, p. 64-90, 2002 69

Quadro 1 - Complicações provenientes das dietas de baixo e muito baixo aporte calórico Sistema Nervoso Central Cefaléia, dificuldades de concentração Cardiovasculares Hipotensão postural, arritmias cardíacas, atrofia miocárdica. Gastro-intestinais Náuseas, vômitos, constipação, diarréia, desconforto abdominal, exacerbação de patologias da vesícula Geniturinárias Irregularidades menstruais, perda da libido, cálculos renais de ácido úrico Gerais Letargia, fadiga, perda de vigor, intolerância ao frio, halitose, fome, pele seca, queda dos cabelos, gota aguda, anormalidades dos sais minerais e eletrólitos A contribuição relativa das proporções de gordura e de massa isenta de gordura na redução do peso corporal também varia consideravelmente, dependendo do tipo de dieta utilizada. Estudos envolvendo modernas técnicas de determinação da composição corporal têm possibilitado acompanhamento mais detalhado das adaptações dos componentes de gordura e de massa isenta de gordura de indivíduos submetidos a diferentes tipos de dietas (MILLER, 1991) Seus resultados demonstram que a magnitude de redução de cada um desses componentes depende basicamente de dois fatores: conteúdo inicial de gordura no organismo e dimensão do déficit calórico induzido pela dieta. Os depósitos de gordura do organismo têm importante função no momento de privação calórica. Indivíduos com menores quantidades de gordura corporal apresentam perda de nitrogênio por kg de redução do peso corporal maior que a dos obesos. Logo, a proporção de perda de massa isenta de gordura também deverá ser maior. Experimentalmente, tem-se verificado que, em dietas balanceadas com aporte calórico entre 1.400 e 1.900 kcal/dia, a massa isenta de gordura pode representar até metade da redução total do peso corporal em indivíduos magros e somente por volta de 20% nos obesos 10. O segundo fator é igualmente importante: para qualquer conteúdo inicial de gordura, a relação massa isenta de gordura-peso corporal é diretamente 70

associada à magnitude do déficit calórico. Esse quociente torna-se mais elevado nas dietas de muito baixo aporte calórico e, por sua vez, diminui de forma progressiva, ou seja, mantém maior quantidade de massa isenta de gordura por kg de redução do peso corporal à medida que adiciona quantidades crescentes de calorias à dieta. Torna-se impossível conservar o nitrogênio orgânico e a massa isenta de gordura por completo quando se prescrevem dietas de baixas calorias; entretanto, as perdas tendem a diminuir com o tempo de exposição à privação calórica, o mesmo ocorrendo com a velocidade de redução do peso corporal. Uma opção bastante empregada para se aproximar do equilíbrio de nitrogênio e limitar a perda de massa isenta de gordura nas dietas hipocalóricas é procurar conter adequado aporte protéico. O modo mais seguro de se reduzir o peso corporal, mediante orientações dietéticas, é à base de restrições na ingestão calórica, seguindo, ao mesmo tempo, dieta balanceada. As dietas que ignoram proporções adequadas dos nutrientes, restringindo em demasia a ingestão de carboidratos, gorduras ou proteínas, deixam o organismo vulnerável a uma série de repercussões nutricionais negativas. Dietas que limitam excessivamente a ingestão de carboidratos deverão ocasionar rápida redução do peso corporal, porém podem levar ao surgimento de fadiga excessiva, hipoglicemia e cetose. Quando a ingestão de carboidratos é baixa, as reservas de glicogênio nos músculos se esgotam rapidamente. Para cada grama de carboidrato, existem três gramas de água armazenada no organismo. Portanto, quando as reservas de glicogênio diminuem, a perda de água conduz a significativa e imediata redução do peso corporal. Essa rápida perda de peso corporal pode suscitar falsas expectativas de obtenção, a curto prazo, do peso corporal desejável. No entanto, ao retornarem as proporções normais de ingestão de carboidratos, o peso corporal se recupera rapidamente. A baixa ingestão de carboidratos também está associada à hipoglicemia e à cetose. Na tentativa de remediar os baixos níveis de glicose na corrente sangüínea, o fígado transforma os ácidos graxos em cetonas. Essa maior produção de cetonas pode superar a capacidade do organismo em metabolizálas, levando à cetonemia, com excreção de cetonas no hálito e na urina. A excreção de íons negativamente carregados é acompanhada pela excreção de cátions, que tende a promover a diurese e a diminuição, em níveis perigosos, do ph sangüíneo. Outra característica negativa das dietas com baixos teores de carboidratos é a perda do efeito conservador das proteínas. Quando as reservas de glicogênio diminuem, as necessidades de glicose do organismo se satisfazem R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 10, n. 1, p. 64-90, 2002 71

mediante a decomposição das proteínas musculares. Dessa forma, deverá ocorrer perda do tecido magro em vez de perda de tecido gordo. Dietas de alto conteúdo protéico com ingestão de carboidratos demasiadamente baixa favorecem a perda de tecido muscular. É necessário aproximadamente 0,9 grama por kg do peso corporal de proteína para satisfazer as exigências cotidianas do organismo. As ingestões de proteínas superiores a essa quantidade não podem ser armazenadas. Portanto, os aminoácidos a mais são convertidos em gordura, e o excesso de nitrogênio é eliminado pela urina. Dietas ricas em proteínas requerem a ingestão de grandes quantidades de água, na tentativa de impedir a desidratação por excesso de produção de uréia e auxiliar na eliminação das cetonas. Dietas que permitem consumo ilimitado de gordura deverão produzir altos níveis plasmáticos de colesterol e de triglicerídios, tornando-se potencialmente perigosas à saúde. As gorduras produzem alta quantidade de calorias se comparadas com os carboidratos e as proteínas, elevando o aporte calórico da dieta. Portanto, quando a ingestão de calorias for idêntica, a quantidade total de alimentos a ser consumida com conteúdo elevado de gorduras deverá ser inferior à de dietas que procuram equilibrar os nutrientes. Além disso, dado o fato de que o organismo não apresenta caminhos metabólicos para sintetizar a gordura em glicose, o excesso de gordura contido nesse tipo de dieta deverá ser armazenado no tecido adiposo. Em algumas dietas é recomendado suprimir refeições com a intenção de restringir a ingestão de calorias, em vez de limitar sua quantidade e utilizar várias refeições ao longo do dia. Quando o organismo se vê privado de alimentos por longo período, reage mediante maior produção das enzimas responsáveis pela assimilação lipídica, elevando sua capacidade de depósito e armazenamento de gorduras. Ao se realizar uma única refeição ao dia, o organismo se coloca em situação de jejum por aproximadamente 23 horas, e em aproximadamente uma semana adapta-se a este processo e aumenta a quantidade de alimentos absorvidos pelo intestino delgado. Nessas condições, maiores proporções de carboidratos e de proteínas deverão ser metabolizadas e armazenadas na forma de gorduras. Além do mais, sentir fome evidentemente é desagradável e desencorajante para o indivíduo envolvido no programa de controle do peso corporal e, o que é pior, pode acarretar reduções perigosas nos níveis sangüíneos de glicose. O organismo abastece de energia todas as suas estruturas com glicose. Em situação de escassez de alimentos, ou de refeições muito distanciadas, os níveis glicêmicos ficam sacrificados, apesar de o organismo 72

recorrer à destruição de proteínas estruturais (pele, matriz óssea, músculos, órgãos, etc.) para transformá-las na imprescindível glicose pela neoglicogênese. Portanto, suportar a fome é duplamente contraproducente e indesejável aos programas de controle do peso corporal mediante orientação dietética, pois desorganiza a associação componentes nutricionais-produção de energia e inviabiliza a manutenção das funções vitais. Prática de Atividade Física O incremento da prática de atividades físicas constitui outra opção de que se dispõe para intervir no controle do peso corporal. Algumas vezes, tentase subestimar a participação dos exercícios físicos nos programas de controle do peso corporal, ao limitar sua contribuição exclusivamente à demanda energética do trabalho mecânico realizado. No entanto, é preciso levar em conta que esta se constitui apenas em uma fração do custo energético total advindo da realização dos exercícios físicos e, ainda, não se pode ignorar que ocorrem várias outras adaptações metabólicas interessantes à redução do peso corporal à custa de prática mais intensa de atividades físicas. Embora uma única sessão de exercícios físicos, se comparada com dietas mais rigorosas, possa resultar em menor participação de demanda energética, um programa regular de exercícios físicos deverá induzir a diferenças substanciais ao longo de algum tempo, podendo levar a reduções de aproximadamente 10 kg de peso corporal em um ano, mesmo com o consumo energético permanecendo constante. Por outro lado, via de regra, tem-se comprovado que os indivíduos com sobrepeso e obesos são mais freqüentemente hipoativos que hiperconsumidores de alimentos, o que destaca a inatividade física como o fator mais importante na explicação do excessivo aumento e na manutenção do peso corporal em níveis elevados. Além do mais, resultados de estudos prospectivos sugerem que níveis de prática de atividade física e de aptidão física estão associados a menores índices de mortalidade em indivíduos com sobrepeso ou obesos ativos quando comparados com seus pares sedentários (BARLOW, 1975). Dessa forma, embora a prática de atividade física não consiga tornar todos os indivíduos magros, ser ativo pode apresentar importantes benefícios à saúde, ainda que permaneçam obesos ou com sobrepeso. A literatura tem apresentado estudos quanto à relação atividade físicaredução do peso corporal. Seus resultados são muito claros: exercícios físicos regulares constituem-se no componente central dos programas de controle do R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 10, n. 1, p. 64-90, 2002 73

peso corporal. Em vista disso, estudiosos na área têm insistentemente condicionado o sucesso dos programas de controle do peso corporal à inclusão de rotinas de exercícios físicos. Mediante análise dos achados de dois importantes estudos publicados recentemente DIPETRO, 1995 e STEFANICK, 1993, em que foram revisados dezenas de experimentos, torna-se possível concluir que: I - a atividade física induz a adaptações favoráveis no peso corporal, mediante reduções da quantidade de gordura corporal, enquanto preserva a massa isenta de gordura; II - o índice de redução do peso corporal é positivamente relacionado à freqüência e à duração das sessões de exercícios físicos, assim como a duração dos programas de exercícios físicos, sugerindo relação de dose-resposta; e III - apesar de o índice de redução do peso corporal em conseqüência da atividade física ser relativamente menor que o das dietas hipocalóricas, a longo prazo é uma estratégia mais efetiva na manutenção do peso corporal que as dietas hipocalóricas. A atividade física apresenta também importante participação na manutenção do peso corporal em limites desejáveis por longo tempo. Se, por um lado, a atividade física demonstra modesta influência no início do processo de redução do peso corporal, diferentemente das dietas hipocalóricas, que demonstram ser extremamente efetivas nesse momento, por outro, ao longo do tempo, passa a demonstrar papel preponderante (GRILO, et al., 1993) Quando os indivíduos são acompanhados por um ou dois anos é que os efeitos da atividade física no controle do peso corporal se evidenciam mais claramente. Em interessante estudo foram analisados indivíduos que eram obesos e haviam conseguido reduzir o peso corporal permanecendo nessas condições por algum tempo, comparativamente com indivíduos que também eram obesos e que, apesar de terem reduzido o peso corporal temporariamente, permaneciam na condição de obesos. Dos que conseguiram se manter com o peso corporal próximo aos limites desejáveis, 90% se exercitavam regularmente, enquanto dos que voltaram a apresentar sobrepeso somente 34% se diziam ativos fisicamente ( KAYMAN et al., 1990). Outro estudo, desenvolvido por PAVLOU et al. (1989) é digno de nota em razão do delineamento experimental utilizado. No estudo, indivíduos moderadamente obesos foram submetidos a quatro condições de dietas, cada uma delas acompanhada ou não por programas de exercícios físicos. As condições de dieta variavam consideravelmente quanto à composição dos nutrientes e ao conteúdo calórico, enquanto os programas de exercícios físicos 74

consistiam de 90 minutos de esforços físicos supervisionados, três vezes/semana. Os indivíduos foram submetidos as condições de dietas por oito semanas, ao passo que o programa de exercícios físicos, para o grupo dos ativos, teve duração de 18 meses. Como mostra a Figura 1, os resultados revelam que a redução do peso corporal, entre os indivíduos que se submeteram às condições de dieta versus dieta e exercício físico, diferiram muito pouco após oito semanas de tratamento experimental; contudo, os grupos compostos pelos indivíduos ativos diferiram extraordinariamente dos não-ativos após 18 meses de estudo. Entre aqueles indivíduos que não se envolveram com programas de exercícios físicos, verificou-se similaridade bem acentuada entre o peso corporal inicial e após 18 meses, independentemente do tipo de dieta utilizada para redução do peso corporal. Perda/Ganho de Peso Corporal (Kg) 0 2 4 6 8 10 12 14 Sem Exercício Exercício Dieta Balanceada (1000 Kcal/dia) Dieta sem Gorduras (800 Kcal/dia) Dieta sem Gorduras (420 Kcal/dia) Dieta sem Carboidratos (1000 Kcal/dia) 0 1 2 3 4 5 6 7 8 8 18 Tratamento (Semanas) Pós-Tratamento (Meses) Figura 1 - Prática de exercícios físicos como complemento nos programas de controle do peso corporal (adaptado de Pavlou et al., 1989). R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 10, n. 1, p. 64-90, 2002 75

Aspecto importante demonstrado no estudo é o fato de que os indivíduos que interromperam os programas de exercícios físicos ao final do tratamento experimental demonstraram forte tendência para retornar ao peso corporal inicial após alguns meses, ao passo que aqueles que continuaram ou iniciaram programas de exercícios físicos após o final do tratamento mantiveram a redução do peso corporal obtida após as oito semanas iniciais. Esses resultados sugerem que a introdução dos exercícios físicos nos programas de controle do peso corporal cria efeito benéfico extremamente importante, tanto a curto como a longo prazo, tornando-se portanto condição mandatória para sua efetividade. Ao se admitir que qualquer trabalho físico deverá exigir equivalente gasto de energia, não só o envolvimento em rotinas de exercícios físicos, mas também tornando o dia mais ativo fisicamente, deverá aumentar a demanda energética, auxiliando na promoção do equilíbrio energético negativo necessário aos programas de controle do peso corporal. Para equivalente consumo energético, indivíduos ativos deverão apresentar equilíbrio energético negativo maior que similares indivíduos sedentários. Mais recentemente, a literatura tem procurado propor valores de custo energético para vários tipos de esforços físicos, o que possibilita estabelecer estimativas quanto à demanda energética dos programas de exercícios físicos (AINSWORTH, 2000). No entanto, o impacto dos exercícios físicos na demanda energética não deverá se restringir ao período de realização dos esforços físicos em si. Sua realização requer também gasto de energia acima dos níveis de repouso por algum período pós-esforço. O chamado equilíbrio energético pós-esforço ocorre em razão de os esforços físicos, durante sua ação, necessitarem de respostas metabólicas que venham a mobilizar os substratos energéticos necessários à produção de ATPs que, muitas vezes, pode alcançar valores entre 10 e 15 vezes maiores que os índices de repouso. Contudo, após sua realização, é necessária quantidade significativa de energia que venha: I - recuperar os níveis de fósforo-creatina; II - repor as reservas energéticas; III - atender à mais elevada síntese protéica dos músculos; e IV - restabelecer os níveis hormonais alterados pelos esforços físicos. Além disso, existe necessidade de levar em conta que, para executarem o mesmo esforço físico, indivíduos mais pesados utilizam maior quantidade de energia que os de peso corporal menor. Isso ocorre em razão de ser necessária mais energia para mover a massa corporal extra, o que reforça a posição de enfatizar os exercícios físicos em indivíduos com sobrepeso ou obesos. 76

A associação entre mais elevado nível de prática de atividade física e redução do peso corporal não resulta simplesmente da demanda energética direta. A atividade física deverá interferir também na redução do peso corporal mediante adaptações que ocorrem nos campos metabólico, fisiológico e psicológico. Assim, além da quantidade de calorias necessária para atender aos custos energéticos durante a realização dos esforços físicos, as vantagens dos exercícios físicos no controle do peso corporal incluem aumento da taxa metabólica de repouso, preservação da massa isenta de gordura, controle do apetite, manutenção de melhor estado psicológico, minimização dos efeitos cíclicos do sobrepeso, melhora da condição física, perfil favorável de distribuição da gordura e interferência positiva no estado de saúde independentemente da perda de peso corporal. Aumento da taxa metabólica de repouso Restrições ao consumo energético, provenientes de programas de controle do peso corporal que utilizam dietas hipocalóricas, podem induzir a reduções na taxa metabólica de repouso de até 20%, permanecendo estas em níveis inferiores por longo tempo, mesmo após restabelecer a ingestão calórica para patamares de normalidade. Esse declínio se torna extremamente preocupante, uma vez que a taxa metabólica de repouso se caracteriza como responsável por 60-70% da demanda energética total nos indivíduos adultos. Portanto, esse ajuste metabólico em conseqüência das dietas hipocalóricas tem sido postulado como importante obstáculo à efetividade dos programas de controle do peso corporal. Apesar de os mecanismos que regulam menor taxa metabólica de repouso em situação de baixo consumo calórico não estarem totalmente esclarecidos, sabe-se que seu decréscimo é proporcional à perda de tecido metabolicamente ativo no organismo. A magnitude da extensão dos programas de exercícios físicos na taxa metabólica de repouso tem apresentado algum desencontro na literatura, em razão de diferenças quanto ao tipo, à intensidade e à duração dos esforços físicos. No entanto, evidências sugerem que a inclusão de exercícios físicos nos programas de controle do peso corporal pode minimizar a redução da taxa metabólica de repouso, que ocorre por causa das dietas hipocalóricas (BALLOR, 1990). O ritmo de redução do peso corporal diminui em fases mais avançadas das dietas hipocalóricas por causa da diminuição da taxa metabólica de repouso. Essa diminuição parece ser uma adaptação metabólica na tentativa de poupar R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 10, n. 1, p. 64-90, 2002 77

energia para os períodos prolongados de restrição calórica. Em indivíduos com excesso de peso corporal, constata-se que dietas hipocalóricas ocasionam reduções significativas na taxa metabólica de repouso imediatamente após algumas semanas de restrição calórica. Contudo, a inclusão de exercícios aeróbicos no programa de controle do peso corporal tende, a curto prazo, a compensar as adaptações metabólicas negativas induzidas pelas dietas e a devolver a taxa metabólica de repouso aos níveis prévios de início das dietas. A prática de exercícios físicos pode contribuir também para a redução do peso corporal mediante o aumento da taxa metabólica de repouso posterior à sua realização. Estudos demonstram que as alterações na taxa metabólica de repouso podem persistir por até 12 horas após o término dos exercícios físicos e que a magnitude de sua elevação pós-esforço está associada à intensidade e à duração dos exercícios físicos (BREHM, 1988). Preservação da massa isenta de gordura A redução do peso corporal, induzida por dietas de baixo aporte calórico, deverá ocasionar diminuição simultânea tanto da gordura como do componente de massa isenta de gordura. Quanto maior a restrição calórica, mais se eleva a relação de perda massa isenta de gordura-gordura. Levando-se em conta que a massa isenta de gordura apresenta mais elevado custo energético que a gordura, a preservação do tecido magro deverá repercutir positivamente não somente durante o processo de emagrecimento, mas sobretudo na conservação do menor peso corporal após sua redução. Programas de controle do peso corporal com prática de exercícios físicos, acompanhados ou não de dietas hipocalóricas, estão associados a índices mais favoráveis de perda de massa isenta de gordura. Vários estudos revelam que a prática regular de exercícios aeróbicos, mesmo mediante restrições calóricas, pode produzir significativas reduções na quantidade de gordura corporal com mínimo de perda de massa isenta de gordura. Exercícios com atividades de força/resistência muscular também têm sido utilizados como estratégia de manutenção da massa isenta de gordura em programas de controle do peso corporal. Pavlou et al. (1985); estudaram experimentalmente a contribuição do exercício físico na conservação da massa isenta de gordura, em homens moderadamente obesos submetidos a dietas hipocalóricas. O grupo ativo, além da dieta, participou de programas de caminhada/corrida de oito semanas de duração, três vezes por semana; já o grupo não-ativo se limitou apenas as 78

dietas hipocalóricas. Apesar de a redução média do peso corporal total do grupo ativo (11,8 kg) e do grupo não-ativo (9,2 kg) ter sido similar, a natureza da perda do peso corporal diferiu significativamente. O grupo ativo praticamente manteve a massa isenta de gordura inicial (-0,6 kg), ao passo que o grupo nãoativo perdeu quantidade considerável de massa isenta de gordura (3,3 kg). Portanto, no grupo dos não-ativos, somente 64% da redução do peso corporal pode ser atribuída à gordura, em comparação com os 95% dos sujeitos ativos. À luz desses resultados, seus autores concluíram que a inclusão de exercícios físicos nos programas de controle do peso corporal, além de preservar a massa isenta de gordura existente, pode aumentar a utilização das gorduras para produção de energia, tornando-se portanto mais efetiva na redução do peso corporal que as dietas hipocalóricas isoladamente. Mediante estudo de meta-análise, em que foram envolvidas inúmeras outras pesquisas quanto à relação exercício físico-dieta hipocalórica-redução do peso corporal, verificou-se que, para redução de 10 kg de peso corporal, a perda de massa isenta de gordura é de 2 a 3 kg menor no grupo dos indivíduos ativos fisicamente (GARROW e SUMMERBELL, 1995). Efeitos anorexigênicos dos exercícios físicos Quanto à associação entre atividade física e controle do apetite, falso conceito costumeiramente estabelecido é que a realização regular de exercícios físicos deverá levar ao aumento no consumo de alimentos e, desse modo, não promover os benefícios necessários à redução do peso corporal. No entanto, evidências têm apontado justamente o oposto: a inatividade física está associada ao paradoxal aumento no consumo voluntário de alimentos. Apesar de alguns estudos terem mostrado, em determinados casos, consumo voluntário de alimentos mais elevado com o incremento da prática de atividade física, sobretudo entre mulheres, este não se eleva na mesma proporção que a demanda energética equivalente ao maior esforço físico (WOO e PI- SUNYER, 1985). Dados experimentais envolvendo indivíduos de diferentes pesos corporais atestam que, via de regra, a atividade física de baixa a moderada intensidade tende a diminuir o consumo voluntário de alimentos, sugerindo ser ela provável inibidora do apetite, ao passo que esforços físicos mais vigorosos podem induzir a aumento na quantidade de ingestão de alimentos (GRILO et al., 1993). Portanto, parece ser possível inferir que os exercícios físicos realizados nos níveis de intensidade necessários à redução e à conservação do peso corporal inibem o maior consumo voluntário de alimentos. R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 10, n. 1, p. 64-90, 2002 79

Manutenção de melhor estado psicológico O nível de prática de atividade física e o bem-estar psicológico parecem estar positivamente associados. Estudos têm demonstrado que o exercício físico pode aumentar a disposição de ânimo e diminuir a tensão provocada por situações estressantes, especialmente logo após sua realização, bem como promover a auto-estima, o autoconceito e a autoconfiança. Ainda, o exercício físico pode controlar o nível de ansiedade e a depressão (STEPTOE e COY, 1988). Essas alterações psicológicas atribuem ao exercício físico importante papel nos programas de controle do peso corporal, uma vez que pode interromper muitos aspectos negativos que freqüentemente acompanham a restrição de alimentos. Se, por um lado, menor disposição de ânimo e maior tensão emocional representam situações que se associam às dietas hipocalóricas, por outro, a promoção da auto-estima, do autoconceito e da autoconfiança pode servir de fator motivacional para se continuar no programa. Portanto, tornar os indivíduos mais ativos fisicamente pode auxiliá-los na opção pelas dietas hipocalóricas. Minimização dos efeitos cíclicos do sobrepeso Embora sejam presumíveis, porém somente parcialmente substanciados, os efeitos cíclicos do sobrepeso e da obesidade (repetidos ciclos de perda e de ganho do peso corporal) podem gradativamente diminuir a taxa metabólica de repouso, aumentar a preferência por dietas ricas em gorduras e modificar os aspectos metabólicos favoráveis ao maior acúmulo de gordura corporal. Ainda, variações freqüentes do peso corporal podem oferecer conseqüências negativas realmente preocupantes ao melhor funcionamento orgânico. Estudos têm mostrado que o exercício físico contribui para isso mediante a minimização das agressões metabólicas associadas aos repetidos ciclos de perda e de ganho do peso corporal e às modificações nos hábitos alimentares relacionados à menor ingestão de gorduras (VAN DALE e SARIS, 1989). Melhora da condição física Uma outra vantagem dos exercícios físicos nos programas de controle do peso corporal é a promoção da condição física aeróbica do indivíduo. Durante a realização de exercícios aeróbicos deverá ocorrer aumento nos níveis circulantes de adrenalina e noradrenalina, o que estimula a mobilização da 80

gordura armazenada e ativa a enzima lipase, responsável pela síntese dos triglicerídios em ácidos graxos livres. Melhor capacidade aeróbica deverá aumentar a proporção de utilização dos lipídios como fonte de energia na realização de esforços submáximos, auxiliando na redução dos depósitos de gordura e, por sua vez, do peso corporal. Exercícios aeróbicos deverão promover melhorias também no limiar anaeróbico, definido como o ponto, durante a realização de esforços físicos, em que os níveis de lactato aumentam desproporcionalmente. Considerando que o metabolismo dos ácidos graxos é inibido pela maior concentração de lactato, o aumento do limiar anaeróbico deverá permitir que maior quantidade de gordura seja metabolizada na produção de energia durante os esforços físicos. À medida que o nível de condicionamento aeróbico do indivíduo aumenta, mediante a prática de exercícios físicos, a quantidade de trabalho físico que pode ser realizado a uma freqüência cardíaca submáxima também aumenta. Assim, os indivíduos de melhor condição aeróbica deverão utilizar energia em ritmo mais elevado que os de menor condição aeróbica. Para freqüência cardíaca de 150 bat/min, estima-se que o ritmo de demanda energética seja de ximadamente 10 e 15 kcal/min, para níveis de condição aeróbica regular e superior, respectivamente (SHARKEY, 1997). Perfil favorável de distribuição da gordura Alguns estudos procuraram analisar as respostas dos diferentes depósitos de gordura regional na redução do peso corporal associada à prática de exercícios físicos. Os resultados têm sugerido que exercícios aeróbicos deverão induzir à maior mobilização da gordura localizada na região abdominal, sobretudo entre homens. A prática regular de exercícios físicos estabelece mecanismos de proteção contra o maior acúmulo de gordura corporal na região do tronco, próprio das idades mais avançadas. Essa adaptação favorável na redução da gordura corporal é atribuída à variação regional associada às atividades metabólicas do tecido adiposo, traduzida por atividade lipolítica mais elevada nos depósitos de gordura da região de tronco, em comparação com as extremidades (OSTERMAN et al., 1979). Diante da perspectiva de que o excesso de gordura na região abdominal está associado a inúmeros fatores de risco predisponentes ao aparecimento e ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares, a mobilização preferencial da gordura localizada nessa região mediante a prática de exercícios aeróbicos deverá se caracterizar como mais um importante motivo para inclusão da atividade física nos programas de controle do peso corporal. R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 10, n. 1, p. 64-90, 2002 81

Estado de saúde Outra razão importante para inclusão dos exercícios físicos nos programas de controle do peso corporal é sua contribuição ao melhor estado de saúde. Os programas de exercícios físicos podem reduzir os índices de morbidade e de mortalidade mediante efeitos positivos na pressão arterial, nos níveis plasmáticos de lipídios, no perfil das lipoproteínas e na função cardiovascular. Considerando que essas condições clínicas apresentam prevalência bem elevada nos indivíduos com sobrepeso ou obesos, o seu controle, independentemente da redução do peso corporal, deverá oferecer grandes vantagens ao melhor estado de saúde. Estudos epidemiológicos e experimentais têm revelado que modestos níveis de exercícios físicos já são suficientes para promover benefícios significativos à saúde. Em interessante estudo, BLAIR et al. (1989), após controlar outros fatores de risco, como idade, fumo, níveis de colesterol, pressão arterial, níveis de lipídios sangüíneos e histórico familiar de doenças cardiovasculares, observaram forte relação inversa entre níveis de aptidão física e índices de mortalidade. Foram acompanhados por volta de 13 mil indivíduos por um período de oito anos, classificados de acordo com o nível de aptidão física: nível 1, menos apto, e nível 5, mais apto fisicamente. A Figura 2 resume os resultados encontrados. A maior redução no risco relativo de morte foi verificada entre indivíduos que apresentam muito baixo e moderado nível de exercício físico. Os benefícios adicionais constatados entre indivíduos extremamente ativos versus moderadamente ativos foram inexpressivos. Os resultados encontrados nesse estudo, e confirmados por vários outros, têm oferecido subsídios para desmistificar o conceito de que são necessários exercícios físicos vigorosos para se obter alguma vantagem à saúde. Esse fato é particularmente importante para indivíduos com sobrepeso ou obesos, para quem a melhor opção é por exercícios de baixa a moderada intensidade. 82

Risco Relativo de Morte 5 4 3 2 1 0 4,7 3,4 2,4 1,4 1,4 1,4 Mulheres Homens 1 2 3 4 5 Nível de Aptidão Física 0,8 1,2 1,0 1,0 Figura 2 - Relação entre níveis de aptidão física e índices de mortalidade (adaptado de BLAIR et al., 1989) Princípios Norteadores dos Programas de Controle do Peso Corporal Como já mencionado, o excesso de gordura e de peso corporal resulta da interação entre suprimento e demanda energética, além da eficiência do organismo para converter em energia gasta a energia ingerida. Dessa forma, programas direcionados ao controle do peso corporal, necessariamente, deverão combinar ações associadas à restrição moderada do consumo energético e à realização de exercícios físicos específicos que possam elevar a demanda energética. A primeira forma de interferir no sobrepeso e na obesidade se processa na ingestão calórica, por meio de prescrição de dietas hipocalóricas adequadas. Os exercícios físicos terão a função de aumentar os gastos energéticos, levando ao desejado equilíbrio calórico negativo, além de auxiliar na promoção de melhor estado de saúde, mediante controle mais eficiente dos sistemas metabólico e funcional. O argumento mais empregado por aqueles que desejam desprestigiar o exercício físico como parte integrante dos programas de controle do peso corporal é sua cinética energética. Está claro que, a curto prazo, a restrição ao consumo calórico é mais efetiva no equilíbrio energético que o aumento na demanda calórica. Exemplificando: um indivíduo que necessita de 2.500 kcal/ dia para manter o equilíbrio energético, ao reduzir seu aporte calórico em 1.000 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 10, n. 1, p. 64-90, 2002 83

kcal/dia, o que é perfeitamente possível mediante dietas hipocalóricas, após uma semana deverá acumular um déficit energético de 7.000 kcal, o que corresponde a reduções por volta de 1 kg de peso corporal. Se esse mesmo indivíduo iniciar programa convencional de caminhada/corrida, três sessões por semana, com duração aproximada de 45-60 minutos por sessão, a demanda energética extra durante uma semana deverá ser da ordem de 1.000 kcal, e, portanto, serão necessários cerca de dois meses para reduzir 1 kg de peso corporal. Ingenuamente, algumas vezes, esse raciocínio tem sido desenvolvido para estabelecer programas de controle de peso corporal. No entanto, nesse caso, têm-se ignorado três pontos básicos: a não-ocorrência de adaptações metabólicas necessárias à manutenção do peso corporal em limites desejáveis; os prejuízos marginais que acompanham as restrições dietéticas; e, fundamentalmente, o fato de que a redução do peso corporal tem pouco significado se não ocorrerem alterações na conduta que levam ao sobrepeso e à obesidade, ou seja, nos hábitos alimentares indesejáveis e no menor nível de prática da atividade física. A verdade é que, quando orientações dietéticas são combinadas com exercícios físicos, o índice de redução do peso corporal é fortemente influenciado pelas restrições calóricas; no entanto, a literatura é unânime em afirmar que os exercícios físicos devem ser utilizados como complemento imprescindível. Dependendo do estado inicial entre o peso corporal real e o esperado, restrições quanto ao aporte calórico se caracterizam como componente essencial nos programas de controle do peso corporal. Entretanto, a médio e a longo prazo esses programas estão condenados ao fracasso se os indivíduos permanecerem fisicamente inativos. Restrições calóricas sem a prática de exercícios físicos podem repercutir negativamente nos aspectos metabólico, funcional e psicológico. Outra vantagem dos exercícios físicos nos programas de controle do peso corporal é o fato de as calorias utilizadas nos esforços físicos permitirem que os indivíduos tenham consumo energético maior em suas dietas e, ainda assim, percam peso corporal, incentivando-os dessa maneira a permanecer no programa por tempo mais prolongado. A participação de exercícios físicos nos programas de controle do peso corporal permite que as restrições dietéticas possam ser minimizadas, e, com isso, o organismo apresenta menores riscos de ser privado de adequado aporte nutricional. Restrições mais sérias ao consumo calórico podem limitar a ingestão de determinados nutrientes e ocasionar distúrbios metabólicos que venham a comprometer o melhor funcionamento orgânico. 84