Tribunal de Contas da União Dados Materiais: Decisão 392/96 - Segunda Câmara - Ata 37/96 Processo TC 350.300/95-0. Responsável: Durval Ribeiro Alves. Entidade: Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Maranhão - EMATER/MA. Relator: Auditor Lincoln Magalhães da Rocha. Representante do Ministério Público: Procuradora Dra. Maria Alzira Ferreira. Unidade Técnica: SECEX/MA. Especificação do "quorum": Ministros presentes: Fernando Gonçalves (Presidente), Adhemar Paladini Ghisi, Paulo Affonso Martins de Oliveira e Iram Saraiva. Assunto: Tomada de Contas Especial. Ementa: Tomada de Contas Especial. Convênio. MARA. EMATER/MA. Impossibilidade de recolhimento do saldo do convênio em virtude de bloqueio determinado pela Justiça do Trabalho. Análise da matéria. Contas iliquidáveis. Arquivamento. Data DOU: 30/10/1996 Página DOU: 22264 Data da Sessão: 17/10/1996 Relatório do Ministro Relator: Grupo I - Classe II - 2ª CÂMARA. -TC 350.300/95-0. -Natureza: Tomada de Contas Especial. -Entidade: Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Maranhão - EMATER/MA. -Responsável: Durval Ribeiro Alves.
-Ementa: Tomada de Contas Especial. Recursos repassados pelo Ministério da Agricultura e Reforma Agrária - MARA, mediante convênio. Indisponibilidade de uma parcela em virtude de bloqueio determinado pela 1ª Junta de Conciliação e Julgamento de São Luís/MA, em processo de Reclamação Trabalhista. Contas iliquidáveis ante a impossibilidade material de julgamento de mérito. Trancamento. Arquivamento. Comunicação à Advocacia-Geral da União para as medidas que entender cabíveis. Adoto, como relatório, o lúcido parecer de fls. 99/102, emitido nos autos pela Diretora da SECEX/MA, Dra. Ana Cristina Bittencourt Santos, cujos termos foram devidamente endossados pelo Secretário daquela Regional e pelo douto órgão do Ministério Público junto ao Tribunal: "Trata-se de Tomada de Contas Especial elaborada pela Coordenação-Geral de Fiscalização e Controle da Secretaria de Controle Interno do Ministério da Agricultura, do Abastecimento e da Reforma Agrária, após solicitação do Coordenador-Geral de Serviços Gerais/MARA, em decorrência da falta de comprovação do saldo no valor de Cr$ 6.103.449,73 (seis milhões, cento e três mil, quatrocentos e quarenta e nove cruzeiros e setenta e três centavos), referentes aos recursos repassados à Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Maranhão - EMATER/MA, pelo então Ministério da Agricultura e Reforma Agrária - MARA, no total de Cr$ 18.234.000,00 (dezoito milhões, duzentos e trinta e quatro mil cruzeiros), através do Convênio nº 140/89, tendo como objetivo a prestação de assistência técnica e extensão rural para pequenos produtores em áreas de reforma agrária. 2. Através do Ofício/COAFI-109/92, fl. 01, a EMATER/MA informou à Coordenação-Geral de Serviços Gerais - CGSG/MARA, da impossibilidade de recolher o saldo do Convênio, pois o mesmo estava bloqueado pela Justiça do Trabalho. 2.1. A CGSG/MARA, solicitou, então, pronunciamento da CISET/MARA sob o fato alegado, lembrando que o Órgão já havia prestado contas de parte dos recursos a ele alocados. 2.1.1. O Secretário de Controle Interno/MARA posicionou-se da seguinte maneira, fl. 15: 'Apesar do ocorrido, s.m.j., o fato não isenta a EMATER/MA das obrigações assumidas com a assinatura do Convênio, pois trata-se de problemas internos da Empresa'. 2.1.2. Pelos Ofícios CSG/SAG/MARA, nºs 310/92, fls. 20 e 391/92, fl. 22, foi solicitado ao Presidente da EMATER/MA o
recolhimento da importância devida. 2.1.3. Após o encaminhamento do processo à DRTN/DF com o propósito de formalização da Tomada de Contas Especial pelo Ofício/SAG/nº 537/93, fl. 28, técnicos do MARA vieram a São Luís - MA a fim de analisar três Convênios celebrados entre a EMATER/MA e o referido Ministério. Quanto ao Convênio em questão, foram feitos os seguintes esclarecimentos, fls. 31/32: `I. No primeiro momento, a Convenente deveria fazer uma Petição Judicial objetivando o desbloqueamento dos recursos retidos pela Justiça do Estado e enviado a documentação comprobatória da Ação Judicial impetrada, suficiente para suspensão provisória da inadimplência. II. Se a Justiça negar o provimento, a Convenente deveria informar imediatamente a Unidade Gestora que liberou os recursos, sendo que, a Convenente recorreria da Decisão Judicial, colocando uma garantia, em substituição aos recursos retidos deste Convênio; III. Caso permaneça a negação da Justiça, o compromisso pelos recolhimentos dos recursos em débito seria de responsabilidade da EMATER/MA, sob pena da Convenente voltar à situação de inadimplência; e IV. Foi esclarecido que, somente após o recolhimento, devidamente corrigido, aquela Empresa poderia pleitear a suspensão da Tomada de Contas Especial'. 2.1.3.1. Através do Ofício PRESI/409/94, fl. 34, a EMATER/MA comunicou à CGSG/MARA da Petição impetrada na Justiça do Trabalho, fls. 35/41, com o fim de 'retificação dos cálculos de liquidação e conseqüentemente o desbloqueio dos bens excedentes ao valor da penhora, em especial a liberação da importância em epígrafe', pois, segundo o Órgão, o valor dos bens penhorados e contas bloqueadas é superior ao requerido na Reclamação Trabalhista nº 1010/90. 2.1.4. À vista da suspensão da inadimplência, comunicada à DRTN/DF, fls. 29/30, a CSG voltou a pronunciar-se na Informação nº 17/95, fls. 45/48, persistindo na continuação da TCE em atenção ao disposto no art. 3º, 3º da IN/STN nº 02/93, o que ensejou a emissão do Relatório de Auditoria de Tomada de Contas Especial nº 105/95, fls. 72/73 e do Certificado de Auditoria nº 097/95, fl. 74. 2.1.5. Chegando os autos a este Tribunal e após autorização do Exmº Sr. Bento José Bugarin, Ministro-Relator deste processo, o responsável foi citado pelo Ofício nº 937/95, fl. 84, e apresentou defesa constituída pelos documentos de fls. 85/96, onde alega, em
síntese, a aprovação das parcelas por ele utilizadas e a sua exoneração, a pedido, antes do bloqueio dos recursos. 3. Ao analisar esta TCE, verificamos que, de fato, os recursos do Convênio nº 140/89 foram bloqueados por determinação da 1ª Junta de Conciliação e Julgamento de São Luís - MA, em Decisão firmada no processo de Reclamação Trabalhista nº 1010/90, após serem transferidos pelo Banco do Brasil, em 06.08.91, da conta-corrente nº 148.501-6, para a poupança nº 100.148.475-1, fl. 02, onde se encontram até hoje, e, juntamente com os juros e correções monetárias, perfazem o montante de R$ 38.378,86 (trinta e oito mil, trezentos e setenta e oito reais e oitenta e seis centavos) - valor em 15.12.95, conforme demonstrativo bancário à fl. 98. 3.1. Observamos também que a EMATER/MA, seguindo orientação do MARA, acionou a Justiça mas não conseguiu a liberação dos recursos. 3.2. Ao apreciarmos os extratos bancários fls. 52/60, verificamos que os mesmos foram depositados em 18.01.91 na conta-corrente nº 77.812-5, específica do Convênio, porém transferidos em 29.01.91 à conta 148.501-6, também da EMATER/MA em conjunto com o MARA. Constatamos também que os recursos iam sendo utilizados pelo Órgão que posteriormente depositava tais valores em restituição. Sobre estes saques irregulares justificou-se o Sr. Francisco José Martins Caldas à fl. 50: 'Contigencialmente tivemos que remanejar recursos da conta específica do Convênio C/148.501-6/B.B. para a conta PPE-EMATER/MA, nº 015.609-6/BEM, para atender situação emergencial da própria Empresa. Os recursos remanejados foram devolvidos à conta original'. 3.2.1. A realidade para a presente TCE é que os recursos repassados ao Convênio, no final, estavam sendo utilizados no seu objeto, visto que a prestação de contas de duas parcelas, nos totais de Cr$ 5.417.253,27 e Cr$ 6.713.297,00, foram aprovadas, respectivamente, em 18.03.92 e 24.03.92 e o saldo ainda a ser utilizado, pois a vigência do Convênio acabaria em 31.12.91, estava na conta-corrente em 06.08.91, quando foi bloqueado. 3.2.2. Logo, contrariamente à posição da CISET/MARA, acreditamos que a EMATER/MA não é responsável pela restituição deste valor à União, independentemente de sua liberação, pois o mesmo não foi utilizado nem indevidamente nem em proveito próprio de seus gestores. Pelo contrário, os Cr$ 6.103.449,73 não foram sequer gastos por impossibilidade do Órgão em movimentá-los diante da Decisão Trabalhista.
3.2.2.1. Como poderíamos, portanto, falar em débito, se os responsáveis pelo Órgão não incorreram em dano ao Erário? Os problemas internos existiam, é óbvio, tanto que seus servidores foram procurar a tutela jurisdicional do Estado que, para resguardar seus direitos, determinou o bloqueio das contas e a penhora dos bens da EMATER/MA. 3.2.2.1.1. Neste ponto, é estranho que a justiça tenha bloqueado os recursos do Convênio, pois eles não são da EMATER/MA e sim da União. Conseqüentemente, não poderiam ser utilizados como garantia em uma ação dos Servidores contra a Empresa. 3.2.2.2. A EMATER/MA está impossibilitada de agir no tocante à devolução dos recursos. Sua alternativa seria provar à Justiça que eles pertencem a terceiros, no caso, à União. Neste sentido, acreditamos que seria mais prático a própria União requerer seu pertence, através da Advocacia-Geral da União, em forma de Embargo à Decisão Trabalhista ou outro tipo de ação, de acordo com a sua esfera de competência. Desta forma, como não há débito e em conseqüência, não há responsáveis, este processo seria encerrado. Ante o exposto, submetemos os autos à consideração superior para posterior encaminhamento ao Ministro-Relator, Exmº. Sr. BENTO JOSÉ BUGARIN, propondo ao Tribunal que decida por: a) comunicar à Advocacia-Geral da União as informações e considerações feitas neste processo com o fim de que ela proceda ao desbloqueio da poupança nº 100.148.475-1, Agência 0020-5 (São Luís - Centro), do Banco do Brasil S/A e promova a restituição do valor nela existente ao Tesouro Nacional; b) considerar as presentes contas iliqüidáveis, nos termos do art. 20 da Lei nº 8.443/92, por ser materialmente impossível o julgamento de mérito; e c) ordenar o trancamento das presentes contas, nos termos do art. 21 da Lei nº 8.443/92 e o conseqüente arquivamento do processo." Voto do Ministro Relator: PROPOSTA DE DECISÃO Depreende-se dos autos que os recursos do Convênio nº 140/89 foram bloqueados por determinação da 1ª Junta de Conciliação e Julgamento de São Luís/MA, em Decisão firmada no processo de Reclamação Trabalhista. 2. Verifica-se, também, que os recursos repassados estavam
sendo utilizados no seu objeto, tanto é que as prestações de contas de duas parcelas, nos totais de Cr$ 5.417.253,27 e Cr$ 6.713.297,00, foram aprovadas e o saldo encontrava-se na conta-corrente em 06.08.91, quando foi decretado o bloqueio. O mencionado saldo foi transferido pelo Banco do Brasil, da conta-corrente para uma poupança, onde se encontra até hoje, perfazendo, juntamente com os juros e a correção monetária, um montante de R$ 38.378,86, conforme demonstrativo bancário à fl. 98. 3. A decisão advinda da justiça, embora respeitável, não me parece apropriada, nem aconselhável. Os recursos do convênio não são da EMATER e sim da União, conseqüentemente não poderiam ser utilizados como garantia em uma ação dos servidores contra a Empresa. 4. Ressalte-se, então, que a EMATER não responde, por vontade própria, pela restituição deste valor à União, considerando que o mesmo não foi utilizado nem indevidamente nem em proveito próprio de seus gestores. O bloqueio dessa parcela, teve, como conseqüência adicional a não execução do objeto pactuado. 5. Nesse contexto, temos que assiste razão à zelosa SECEX/MA, pelos argumentos que apresenta e pela conclusão que firma: "Tratando-se de recursos da União impõe-se seja acionada a Advocacia-Geral da União para, em forma de Embargo à Decisão Trabalhista, requerer seu pertence." 6. A esse propósito, é conveniente trazer à lume a norma inscrita no art. 131 da Constituição Federal, que diz expressamente: "Art. 131. A Advocacia-Geral da União é a instituição que, diretamente ou através de órgão vinculado, representa a União, judicial e extrajudicialmente, cabendo-lhe, nos termos da Lei Complementar que dispuser sobre sua organização e funcionamento, as atividades de consultoria e assessoramento jurídico do Poder Executivo." 7. Além disso, a Lei Complementar nº 73, de 10 de fevereiro de 1993, que veio disciplinar a matéria, em seu art. 1º e parágrafo único, assim dispõe: "Art. 1º. A Advocacia-Geral da União é a instituição que representa a União judicial e extrajudicialmente. Parágrafo único. À Advocacia-Geral da União cabem as atividades de consultoria e assessoramento jurídico do Poder Executivo, nos termos desta Lei Complementar." Assim, é que manifestando minha inteira concordância com os
pareceres emitidos nos presentes autos, proponho que esta E. 2ª Câmara adote a Decisão que ora submeto à sua elevada deliberação. Decisão: O Tribunal, por sua 2ª Câmara, diante das razões expostas pelo Relator e com fundamento nos arts. 20 e 21 da Lei nº 8.443/92, DECIDE: 1 - Considerar iliquidáveis as presentes contas, determinando o seu trancamento e conseqüentemente o arquivamento do processo; e 2 - Enviar cópia desta Decisão, bem como do Relatório e Proposta que a fundamentam, à Advocacia-Geral da União, para conhecimento e providências que julgar necessárias. Indexação: Tomada de Contas Especial; Convênio; MAARA; Contas Iliquidáveis; Ação Judicial; Reclamação Trabalhista; Bens Penhoráveis;