Desempenho, sintomas de deficiência de cálcio e sensibilidade ao pendoamento de quatro cultivares de alface crespa em cultivo hidropônico.

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1 GARCIA VC; MENDONÇA RM Desempenho, sintomas de deficiência de cálcio e sensibilidade ao Desempenho, sintomas de deficiência de cálcio e sensibilidade ao pendoamento pendoamento Horticultura Brasileira 28: S285- S291. Desempenho, sintomas de deficiência de cálcio e sensibilidade ao pendoamento Verônica Cintra Garcia 1 ; Ricardo Moreira Mendonça 2 1 Graduanda do curso de Agronomia pela FAZU Faculdades Associadas de Uberaba, Av Tutuna, 720, bairro do Tutunas. CEP BR, Uberaba-MG. 2 Professor do curso de Agronomia da FAZU; cintra94@hotmail.com, ricardo@fazu.br. RESUMO O consumo de hortaliças tem aumentado não só pelo crescimento da população, mas também pela tendência de mudança no hábito alimentar do consumidor, tornando-se inevitável o aumento da produção. O consumidor de hortaliças tem se tornado mais exigente, havendo necessidade de produzi-las em quantidade e qualidade, bem como manter o seu fornecimento o ano todo. Para garantir o fornecimento e assegurar a qualidade dos produtos, o cultivo hidropônico tem se mostrado bastante eficiente. A alface é a hortaliça folhosa mais comercializada no Brasil e a planta cultivada em maior escala pela técnica do fluxo laminar de nutrientes. Por esse motivo avaliou-se o desempenho de quatro cultivares de alface crespa em cultivo hidropônico, bem como a sensibilidade ao florescimento precoce e a incidência de queima dos bordos das folhas. O experimento foi conduzido no Setor de Hortaliças das Faculdades Associadas de Uberaba, no período de 12 de novembro a 23 de dezembro de 2009, em uma estufa com 126 m 2 de área total. O ensaio constituiu-se de 4 tratamentos, representados pelas cultivares Bruna, Vanda, Vera e Verônica distribuídas em três blocos, com duas repetições por bloco. Os resultados demonstraram que para as características de massa fresca total, número de folhas por planta, porcentagem de massa seca e diâmetro da parte aérea não houve diferença estatística entre as cultivares. A cultivar Bruna mostrou-se mais sensível a deficiência de cálcio, apresentando sintomas bem acentuados, o que limita sua utilização nos meses mais quentes do ano. Em relação ao florescimento precoce, a cultivar Bruna foi a que apresentou menor sensibilidade, não havendo diferenças entre as demais. Palavras-chave: hidroponia, Lactuca sativa, pendoamento. ABSTRACT Performance, occurrence of tip burn and sensitivity to bolting of four cultivars of lettuce grown in hydroponic nft system. The vegetables consumption has increased not only by increasing the population, but also by the trend of change in the dietary habits of consumers, making it inevitable to increase production. The consumer of vegeteble has become more demanding, requiring produce it in quantity and quality, and maintain their supply throughout the year. To ensure supply and to ensure product quality hydroponic cultivation has been quite efficient. Lettuce is the most commercialized leafy vegetable plant grown in Brazil and on a larger scale by the nutrient film technique (NFT). Therefore the objective was to evaluate the performance of four cultivars of lettuce in a hydroponic conditions, as well as sensitivity to early flowering and Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S 285

2 the incidence of tip burn. The work was installed in the Horticultural Sector of Associated Colleges of Uberaba, in the period from November 12 to December 23, 2009, in a greenhouse with 126 m² of total area. The experiment consisted of four treatments represented by cultivars Bruna, Vanda, Veronica and Vera, distributed in three blocks with two replications per block. The results showed that for the characteristics of total fresh weight, leaf number per plant, percentage of dry weight, diameter of the shoot and no statistical difference among cultivars. Bruna cultivar was more sensitive to calcium deficiency symptoms were well marked, which limits their use in the warmer months of the year. Regarding the early flowering cultivar, Bruna was the one with lower sensitivity, with no difference between the others. Keywords: Lactuca sativa., hydroponic, flowering O consumo de hortaliças tem aumentado não só pelo crescente aumento da população, mas também pela tendência de mudança no hábito alimentar do consumidor, tornando-se inevitável o aumento da produção. Por outro lado, o consumidor de hortaliça tem se tornado mais exigente, havendo necessidade de produzi-la em quantidade e qualidade, bem como manter o seu fornecimento o ano todo. Devido a essa tendência do mercado hortícola é que o cultivo protegido (túneis e estufas) vem aumentando a cada ano, assim como o cultivo hidropônico. Esse sistema, apesar de recente no país, tem apresentado um acréscimo no número de usuários, principalmente próximo aos grandes centros consumidores (Ohse. et al. 2001). A técnica de hidroponia conhecida como NFT (Nutrient Film Technique), que consiste em promover o crescimento da planta na ausência de substrato, contribuiu para disseminar o cultivo hidropônico em todo o mundo e já é utilizada para produção de diversas hortaliças em escala comercial (Moraes, 1999). Segundo Lopes et al. (2003), a alface é a hortaliça folhosa mais comercializada no Brasil, sendo boa fonte de vitaminas e sais minerais, destacando-se pelo seu elevado teor de vitamina A. É adaptada a clima ameno, sendo própria para cultivo no inverno quando atinge as maiores produções. A limitação do cultivo no verão e a baixa qualidade do produto que eleva o preço nesse período (Delistoianov, 1997, citado por Mendonça & Garcia, 2008). A alface (Lactuca sativa L.) é a planta cultivada em maior escala pela técnica do NFT. Isso se deve à sua fácil adaptação ao sistema, no qual tem revelado alto rendimento e reduções de ciclo em relação ao cultivo no solo. É também uma das mais sensíveis as altas temperaturas e isso se torna fator limitante para sua produção. Com ocorrência de temperaturas elevadas a planta emite o pendão floral precocemente, interrompendo a fase vegetativa e comprometendo o paladar devido ao aumento da produção de látex (Cásseres, 1980). Atualmente existem algumas cultivares, originadas de trabalho de melhoramento genético com boa adaptabilidade ao verão brasileiro. Este avanço tecnológico permitiu que a cultura da alface, que originalmente era típica do outono-inverno no centro-sul do país, pudesse apresentar cultivares adaptadas à primavera e verão, permitindo a sua produção durante todo ano e em todo território nacional (Borchartt et al., 200?). O cálcio é fundamental para a estrutura e funcionamento de membranas celulares, absorção iônica, constituinte do pectato (lamela média) e como constituinte ou ativador enzimático, como na ATPase (apirase). É um eventual causador do tip burn (queima dos Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S 286

3 bordos das folhas) na cultura de alface (quando constatada a sua deficiência), descrito por Malavolta et al. (1997). Causando a depreciação do produto, muitas vezes inviabilizando sua comercialização. Com base nessas informações, objetivou-se testar quatro das principais cultivares de alface crespa em cultivo hidropônico com relação à massa fresca total, número de folhas por planta, percentagem de massa seca, incidência de queima dos bordos e tendência ao pendoamento precoce no município de Uberaba-MG, durante o cultivo primavera-verão. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado no Setor de Hortaliças das Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU), município de Uberaba-MG, instalado em 12 de novembro de 2009, em uma estufa com 126 m 2 de área total e capacidade para produção de 1000 plantas de alface por ciclo de cultivo. O delineamento experimental constituiu-se de 4 tratamentos, representados pelas cultivares Bruna, Vanda, Vera e Verônica distribuídas em três blocos, com duas repetições por bloco. As mudas de alface foram produzidas em espuma fenólica, sendo semeada uma semente por célula. Seis dias após a semeadura, as mudas foram transferidas para o berçário, em perfis de tamanho pequeno (40mm de diâmetro) até atingirem três pares de folhas, o que ocorreu por volta dos dezoito dias. Em seguida foi feito o transplante para as bancadas definitivas. Durante o experimento, a condutividade elétrica da solução foi mantida entre 1,5 e 1,8 ms/cm e o ph foi ajustado diariamente para a faixa entre 5,5 e 6,5. A colheita ocorreu 21 dias após o transplante para a bancada definitiva. Foram coletadas dez plantas de cada parcela, descartando cinco plantas da base inferior das bancadas, onde foram tomadas as seguintes características: massa fresca total, porcentagem de massa seca, obtidas pela secagem em estufa a 60º C por 2 dias; número de folhas por planta, diâmetro da parte aérea (medidas com auxílio de um paquímetro), presença de sintomas de queima dos bordos e número de plantas pendoadas. Para avaliar a incidência de queima dos bordos, adotou-se nota de 0 a 3 de acordo com a intensidade dos sintomas: 0 = nenhum sintoma; 1 = numero de plantas com queima de bordas leve (apenas os folíolos centrais mostram pequenas manchas, podendo haver recuperação dos sintomas sem prejuízos econômicos); 2 = número de plantas com queima de bordas média (algumas folhas mais velhas e o meristema tem pequenas necroses, com pequenas manchas e margens das folhas enegrecidas e disformes); 3 = número de plantas com queima de bordas severa e ocorrência de folhas malformadas, conforme ilustra a Figura 1. Na determinação do índice de pendoamento, foi realizada a contagem diária do número de plantas pendoadas por parcela, adotando-se a seguinte equação: SP= PP 21º dia + PP 22º dia + PP 23º dia onde: SP = Sensibilidade ao pendoamento; PP 21º dia = número de plantas pendoadas por parcela no 21º dia após o transplante para a bancada definitiva; PP 22º dia = número de Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S 287

4 plantas pendoadas por parcela no 22º dia após o transplante; PP 23º dia = número de plantas pendoadas por parcela no 23º dia após o transplante. RESULTADOS E DISCUSSÃO Em relação à massa fresca total, porcentagem de massa seca, diâmetro da parte aérea e número de folhas por planta não houve diferença significativa entre os quatro tratamentos, conforme ilustra a Tabela 1. A cultivar Vanda apresentou maior média em relação ao número de folhas por planta (23,35), não diferindo estatisticamente das demais cultivares avaliadas. A média de massa fresca total também foi maior nessa cultivar (372,312 g) mas sem diferença estatística em relação a cultivar Vera, que apresentou a menor média (309, 728 g). Sediyama et al. (2009) testando diversas cultivares de alface do grupo crespa para as condições de verão na região de Viçosa-MG, em cultivo hidropônico, também não encontrou diferenças para a produção de massa fresca. No entanto, as cultivares Brisa (25,7) e Salada Bowl (25,1) apresentaram o maior número de folhas por planta, enquanto a cultivar Vera (17,6) foi a que apresentou o menor desempenho para essa característica. Dados semelhantes foram obtidos por Gualberto et al. (2009), na região de Marília-SP, no final da primavera. Sendo assim, parece não haver uma estreita correlação entre o número de folhas por planta e a produção de massa fresca em alface crespa, cultivadas em hidroponia, muito embora esses parâmetros façam parte de quase todos os ensaios envolvendo a cultura da alface. Em relação à incidência de queima dos bordos, a cultivar Bruna apresentou os sintomas mais severos, com índice médio 2,8, bem próximo da nota limite (3,0). As demais cultivares não apresentaram diferenças significativas, apesar da cultivar Vanda ter apresentado uma menor incidência de queima dos bordos nas plantas amostradas, conforme demonstrado na Tabela 2. Estudando os aspectos nutricionais causadores dos sintomas de queima dos bordos em alface hidropônica, Pereira et al. (2005) identificaram que o zinco foi o elemento responsável pela desordem nutricional, enquanto os níveis de cálcio apresentavam-se normais, vislumbrando a necessidade de maiores estudos que envolvam a interação desses nutrientes e sua influência nesse distúrbio nutricional. A severidade dos sintomas de queima dos bordos apresentada pela culltivar Bruna pode limitar a sua produção em cultivos hidropônicos sob condições ambientais que favoreçam esse problema, como em regiões ou épocas do ano mais quentes, ou mesmo em estufas ou túneis mais baixos e/ou mal ventilados. Sobre o florescimento precoce, a cultivar Bruna demonstrou menor sensibilidade ao pendoamento que as demais cultivares, com um índice de 2,44. As demais cultivares não diferiram entre si estatisticamente, como pode ser observado na Tabela 3. As cultivares Vera e Verônica aparecem em quase todos os ensaios envolvendo o cultivo de alface, provavelmente por serem consideradas referências de mercado. Segundo Feltrim et al. (2009), Vera é uma cultivar derivada da Verônica, lançada comercialmente por ser ainda mais resistente ao pendoamento precoce. Comparando essas duas cultivares, Sediyama et al. (2009) encontrou diferença significativa quanto ao comprimento do caule, Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S 288

5 sendo que a cultivar Verônica apresentou maiores médias, e, por conseqüência, maior predisposição ao pendoamento. No entanto, nas condições do presente estudo, essa maior resistência ao pendoamento da cultivar Vera não foi constatada, semelhante aos resultados encontrados por Gualberto et al. (2009), onde a cultivar Verônica apresentou ampla adaptabilidade às condições de cultivo. REFERÊNCIAS BLAT SF; SANCHES SV; ARAÚJO de JAC; CRUZ CLCV. 200?. Desempenho de cultivares de alface crespa, em dois ambientes de cultivo no sistema hidropônico-nft, em Ribeirão Preto-SP. Disponível em:< trabalhos/ev 1/A117 T53_ Comp.pdf> Acessado em 05 de junho de BORCHARTT L; CECILIO FILHO AB; REZENDE BLA; BRANCO RBF Produção hidropônica de cultivares de alface no período chuvoso, em Rondônia. Disponível em < / Biblioteca/46_0065.pdf>.Acessado em 27 de março de CÁSSERES E Producción de hortalizas. Instituto Interamericano de Ciências Agrícolas. FELTRIM AL; CECÍLIO FILHO AB; REZENDE BLA; BRANCO RBF Produção de alface crespa em solo e hidroponia, no inverno e verão, em Jaboticabal SP. Científica, Jaboticabal 37:9-15. GUALBERTO R; OLIVEIRA PSR; GUIMARÃES AM Adaptabilidade e estabilidade fenotípica de cultivares de alface do grupo crespa em cultivo hidropônico. Horticultura Brasileira 27: LOPES MC; FREIER M; MATTE JD; GARTNER M; FRANZENER G; CASSIMIRO ELN; SEVIGNANI A Acúmulo de nutrientes por cultivares de alface em cultivo hidropônico no inverno. Horticultura Brasileira 21: MALAVOLTA E; VITTI GC; OLIVEIRA SA Avaliação do estado nutricional das plantas: princípios e aplicações. 2ed. Piracicaba: POTAFÓS, 319p. MENDONÇA RM; GARCIA CC; AGUIAR JÁ Uso da água imantada em cultivo de alface em sistema hidropônico NFT. FAZU em revista 5: MORAES CAG. de Como cultivar tomates em sistema NFT (técnica do fluxo laminar de nutrientes). Jundiaí, SP: DISQ. 148p. OHSE S; DOURADO NETO D; MANFRON PA; SANTOS OS Qualidade de cultivares de alface produzidos em hidroponia. Scientia Agrícola 58: PEREIRA, C.; JUNQUEIRA, A.M.R.; OLIVEIRA, S.A. Balanço nutricional e incidência de queima de bordos em alface produzida em sistema hidropônico NFT. Horticultura Brasileira, Brasília, v.23, n.3, p , jul-set SEDIYAMA NAM; PEDROSA MW; SALGADO LT; PEREIRA PC Desempenho de cultivares de alfase para cultivo hidropónico no verão e no inverno. Científica 2: Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S 289

6 Tabela 1. Comparação da massa fresca total, porcentagem de massa seca, número de folhas por planta e diâmetro da parte aérea entre as quatro cultivares de alface crespa. Comparison of the total fresh weight, percentage of dry matter, leaf number per plant and diameter of the shoot among four cultivars of lettuce. FAZU, Uberaba, Características avaliadas Cultivares Massa fresca Massa Número Diâmetro total,em g seca % de folhas (cm) Bruna a 17,78 a 22,33 a 47,80 a Vanda a 15,77 a 23,35 a 45,13 a Vera a 16,87 a 20,70 a 43,78 a Verônica a 15,75 a a 44,89 a CV%= 12,06 CV%=13,9 CV%=12,36 CV%=6,79 *Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade de erro Tabela 2. Incidência dos sintomas de queima dos bordos em quatro cultivares de alface crespa. Incidence of symptoms of tip burn in four cultivars of lettuce. FAZU, Uberaba, Cultivares Queima dos bordos (nota de 0 a 3) Bruna Vanda Vera Verônica 2,80 a 0,75 b 1,25 b 1,57 b CV%= 34,93 *Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade de erro Tabela 3. Sensibilidade ao pendoamento entre quatro cultivares de alface crespa em sistema hidropônico. Sensitivity to bolting from four cultivars of lettuce grown in hydroponic system. FAZU, Uberaba, Cultivares Bruna Vanda Vera Verônica Sensibilidade ao pendoamento 2,44 b 3,94 a 4,19 a 3,81 a CV%= 19,08 * Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade de erro. Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S 290

7 Nota 1 Nota 2 Nota 3 Figura 1. Fotos demonstrando as três categorias de sintomas utilizadas para o índice de queima de bordas. Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S 291