RELATO DE EXPERIÊNCIA: PROJETO CAMINHAPA

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1 RELATO DE EXPERIÊNCIA: PROJETO CAMINHAPA Rafael da Silva Tangerina 1 - PNFM Lawrence Mayer Malanski 2 - PNFM Marcelo Domingos Leal 3 - PNFM Grupo de trabalho: Educação e Meio Ambiente Agência financiadora: não contou com financiamento Resumo No ano de 2014, o Parque da Ciência Newton Freire Maia, em parceria com outras instituições públicas do Estado do Paraná, desenvolveu o Projeto CAMINHAPA, que atendeu cerca de 800 pessoas entre estudantes do nono ano do Ensino Fundamental, Ensino Médio e professores de escolas públicas estaduais do Paraná, localizadas, num primeiro momento, na Área de Proteção Ambiental do Iraí nos municípios de Pinhais, Quatro Barras e Colombo. O objetivo desse projeto foi desenvolver atividades práticas e interativas de divulgação científica, de popularização da ciência e de arte-educação com temática ambiental. Os conteúdos trabalhados no projeto abrangeram diferentes áreas do conhecimento escolar, tais como Geografia, História, Biologia, Química e Arte desenvolvidos em três partes com atividades diversas que envolveram a percepção espacial, observação da paisagem, contextualização socioeconômica da APA do Iraí e da Bacia Hidrográfica do Iguaçu, análise química da qualidade da água e a representação artística dos conteúdos trabalhados. Mesmo diante de algumas adversidades encontradas em questões operacionais e administrativas, o objetivo proposto no projeto foi alcançado, o que se constata nos relatos de professores e estudantes participantes e da equipe pedagógica responsável pelo seu desenvolvimento. Assim, de um modo geral, a experiência com o projeto CAMINHAPA possibilitou o entrelaçamento entre ciência e arte com resultados positivos, significativos e interessantes na sociedade e nas práticas educativas. Devido a isto, a perspectiva é que o projeto se desenvolva no ano de 2015 com estudantes e professores do 6 e 7 ano do Ensino Fundamental das escolas públicas estaduais localizadas na APA do Iraí. Palavras-chave: Educação ambiental. APA do Iraí. Projeto CAMINHAPA. 1 Diretor Auxiliar do Parque da Ciência Newton Freire Maia. Endereço: Estrada da Graciosa, 7400, Pinhais, Paraná. Analista Ambiental. Aluno do curso de mestrado em geografia da Universidade Federal do Paraná. E- mail: rafaeltangerina@parquedaciencia.pr.gov.br. 2 Coordenador de Ciências Humanas do Parque da Ciência Newton Freire Maia. Aluno do curso de doutorado em geografia da Universidade Federal do Paraná. lawrence_mayer@parquedaciencia.pr.gov.br. 3 Coordenador de Ciências Naturais do Parque Newton Freire Maia, Pinhais, Paraná. Licenciado em biologia pelo Centro Universitário Campus de Andrade. Técnico em Meio Ambiente. marceloleal@parquedaciencia.pr.gov.br. ISSN

2 11388 Introdução O presente relato tem por objetivo socializar experiências pedagógicas obtidas no contexto da educação ambiental com estudantes e professores da rede pública de ensino do estado do Paraná representada por estabelecimentos de ensino situados na Área de Proteção Ambiental do Iraí (APA do Iraí). Esta APA possui importância significativa para o abastecimento de água de alguns municípios pertencentes à Região Metropolitana de Curitiba (RMC). Assim, no ano de 2014, professores do Parque da Ciência Newton Freire Maia (PNFM), em parceria com profissionais de outras instituições, elaboraram e desenvolveram o projeto intitulado CAMINHAPA com o propósito de propiciar à comunidade escolar atendida uma melhor compreensão do seu espaço cotidiano. Com o projeto CAMINHAPA buscou-se, também, a valorização da educação ambiental. Mais do que um componente essencial e permanente da educação nacional (Lei nº de abril de 1999) (BRASIL, 1999), a educação ambiental é um processo de ensino e aprendizagem capaz de desenvolver conhecimentos referentes ao meio ambiente tendo em vista realidades distintas (PACHECO; FARIA, 1992). Assim, para o desenvolvimento significativo da educação ambiental deve-se considerar o contexto social local das escolas e de suas comunidades (Ibid.). Para tanto, o referido projeto apresentou como principal recurso metodológico a aula de campo. De acordo com as Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Estado do Paraná - Geografia (PARANÁ, 2008), entende-se que a aula de campo é um importante encaminhamento metodológico para análise de uma determinada área de estudo, de modo que o aluno possa compreender e comparar fenômenos em distintas escalas de estudo do meio físico e social. Durante as aulas de campo realizadas ao longo do desenvolvimento do projeto foram oferecidas diferentes atividades de caráter inter e transdisciplinar aos participantes, buscando proporcionar a eles o reconhecimento do espaço cotidiano por meio de diferentes perspectivas científicas, sociais e artísticas. Deste modo, o projeto CAMINHAPA foi elaborado e desenvolvido buscando oferecer educação ambiental com consciência e cidadania próxima das comunidades, objetivando contribuir para a formação de pessoas e grupos sociais conscientes e preocupados com a sociedade, o meio ambiente e seus problemas em busca de melhor qualidade de vida.

3 11389 O Projeto CAMINHAPA O projeto CAMINHAPA foi elaborado e desenvolvido por professores do PNFM durante o ano letivo de 2014 em parceria com profissionais de outras instituições. O PNFM é um centro interativo de divulgação científica e tecnológica vinculado à Secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED), localizado na APA do Iraí, no município paranaense de Pinhais. Já a APA do Iraí localiza-se na porção nordeste da RMC, possui uma área aproximada de ha e abrange áreas dos municípios de Colombo, Pinhais, Piraquara, Quatro Barras e Campina Grande do Sul. Essa APA foi criada em 1996 para "a proteção e a conservação da qualidade ambiental e dos sistemas naturais ali existentes, em especial a qualidade e quantidade de água para fins de abastecimento público [...]" conforme consta no artigo 2º do Decreto Estadual nº 1.753/96 (PARANÁ, 1996). Ela abrange quatro rios principais: Canguiri, Timbu, Cercado e Curralinho, além da nascente do rio Iraí, um dos mais importantes rios da bacia hidrográfica do Iguaçu. A APA do Iraí caracteriza-se pela diversidade paisagística e ambiental, na qual se destacam a Serra do Mar e os campos de várzea. A Barragem do Iraí, por sua vez, foi inaugurada em agosto de 2000 com o propósito de fornecer água para cerca de 1,5 milhões de habitantes da RMC. Dada a importância e o contexto da educação ambiental nas escolas brasileiras, o projeto CAMINHAPA teve por objetivos principais desenvolver atividades práticas e interativas, em campo, de divulgação científica e popularizar a ciência e a arte-educação com temática ambiental com instituições de ensino públicas da rede estadual do Paraná localizadas na área da APA do Iraí. Especificamente, buscou-se, também, estimular tanto os alunos quanto os professores participantes em relação à iniciação científica; promover a inclusão e divulgação científica além do ambiente escolar; ampliar e diversificar o público alvo atingido pelas ações do PNFM; sensibilizar a comunidade para a utilização sustentável dos recursos naturais e a conservação dos ecossistemas; realizar caminhadas ecológicas em trilhas interpretativas; desenvolver oficinas de modelagem e cerâmica em instalações localizadas às margens da represa do Iraí. A experiência com o projeto CAMINHAPA no ano de 2014 será relatada a seguir. Para a execução do projeto CAMINHAPA o PNFM, enquanto instituição, disponibilizou parte de sua estrutura física e de sua equipe pedagógica multidisciplinar formada por professores licenciados e acadêmicos e articulou parcerias com outras instituições instaladas na APA do Iraí com intuito de fortalecer o desenvolvimento conjunto e,

4 11390 sobretudo, as relações profissionais. Instituições tais como: o Centro Estadual de Educação Profissional Newton Freire Maia, com cerca de 400 estudantes que frequentam cursos ligados à área ambiental, agricultura orgânica e turismo e a Companhia Paranaense de Saneamento (SANEPAR), responsável pela gestão da represa do Iraí e pelo espaço do antigo centro de educação ambiental, onde ocorreram as atividades do projeto. No ano de 2014, foram atendidas com o projeto CAMINHAPA cerca de 800 pessoas entre estudantes do 8 e 9 ano do Ensino Fundamental, Ensino Médio e professores de cinco escolas públicas estaduais localizadas na APA do Iraí. São elas: do município de Colombo Colégio Estadual Rui Barbosa; do município de Pinhais Centro Estadual de Educação Profissional Newton Freire Maia; do município de Quatro Barras Colégio Estadual Elias Abraão; Colégio Estadual Arlinda Creeplive; Colégio Estadual André Andreatta. No ano de 2014, o projeto se desenvolveu as segundas-feiras pela manhã. Para a elaboração do projeto destacou-se um dos grandes desafios colocados atualmente aos educadores na prática educacional: o de romper com a visão fragmentada e reducionista do conhecimento, que ao longo do tempo inibe a liberdade de pensamento e restringindo fenômenos de uma dimensão complexa (como a questão ambiental) em discursos simplistas e factuais. Na contramão dessa linha de pensamento, no projeto procurou-se lançar mão das ideias de Edgard Morin (2001) sobre o pensamento complexo e Henrique Leff (2001) sobre o diálogo entre os saberes. Morin (2001), auto intitula-se um contrabandista dos saberes por transitar nas diversas áreas promovendo o diálogo entre as ciências e a busca das relações entre todos os tipos de pensamento. De acordo com o autor esse é o papel de uma educação que se pretende complexa, ética e solidária (Ibid.). Ainda, Leff (2001) esclarece que a educação escolar, com seu sistema disciplinar e compartimentalizado de áreas, cursos e departamentos, não considera a urgência de uma reforma de pensamento para a emancipação do sujeito. Nesse contexto, o projeto CAMINHAPA envolveu conteúdos programáticos trabalhados por diferentes áreas do conhecimento escolar, tais como: Geografia a paisagens (e sua percepção através dos sentidos), bacia hidrográfica (nascentes, rio principal, afluentes, margem e divisores de água), relevo (ênfase na Serra do Mar e Primeiro Planalto Paranaense), meio ambiente e recursos hídricos; Biologia biodiversidade, fauna e vegetação (ênfase na Floresta Atlântica, Mata com araucárias e floresta ciliar); Química água (análise química e tratamento); e Arte representação através da modelagem (em argila) e desenho (PARANÁ, 2014).

5 11391 As atividades do projeto em questão foram desenvolvidas em campo, no antigo centro de educação ambiental da SANEPAR, localizado na margem da represa do Iraí. Assim, os alunos e professores das instituições de ensino participantes deslocaram-se até o local. Sobre as aulas de campo Oliveira e Assis (2009) as entendem como atividades extrasala/extraescolar que envolvem, simultaneamente, conteúdos escolares, científicos (ou não) e sociais com a modalidade espacial e social. Assim, a aula de campo é uma alternativa concreta para executar ou praticar a observação da realidade e exercitar a prática teórica (THOMAZ JUNIOR, 1992). Assim, de forma contextualizada e buscando alcançar a inter e transdisciplinaridade, as atividades programadas permearam assuntos de relevância para a Geografia, História, Ciências (Química e Biologia) e Arte, nas quais os participantes puderam expressar suas experiências ao longo do projeto por meio da interlocução com os professores do PNFM que, por sua vez, contaram com o auxílio de mapas temáticos, maquetes, trilhas sensoriais, atividades experimentais, modelagem em argila e desenho. Além disso, o próprio potencial paisagístico do local propiciou uma atmosfera instigante para a sensibilização ambiental, coadunando assim, com a potencialidade das condições de aprendizagem em campo em um espaço extraescolar. Um desafio instigante para a elaboração do projeto foi alinhá-lo de modo a promover a relação entre arte e ciência nas questões ambientais. Partiu-se da necessidade de uma perspectiva que contemplasse o conhecimento humano como plural, evolutivo e interconectado, assim como define Morin (2001), onde buscou-se tratar a relação entre a arte e a ciência como duas componentes da atividade humana e criativa. Enfatiza-se que ambas são formas de expressão do conhecimento, individual ou coletivo e a relação entre elas pode resultar numa abertura de mentes, na tentativa de pensar, sentir e explicar o mundo a partir de perspectivas diferenciadas, mas que podem se complementar (ALCÂNTARA; PORTO, 2011). Nesse contexto, os conteúdos selecionados para o projeto foram desenvolvidos ao longo de três partes que envolveram atividades diversas. São elas: Primeira parte: Atividade 1 Maquete da APA do Iraí : utilizou-se uma maquete como recurso didático para situar o participante quanto às características gerais da APA (FIGURA 1).

6 11392 Figura 1: Maquete da APA do Iraí Fonte: os autores, o Atividade 2 Trilha interpretativa: percepção e caminhada : atividade desenvolvida por meio da estimulação dos sentidos e da percepção. Entretanto, a visão foi bloqueada com o objetivo de valorizar a percepção pelo tato, olfato e audição. Em seguida, com a visão retomada, os estudantes foram conduzidos em uma caminhada por uma trilha com o propósito de observação e identificação da biodiversidade local (FIGURA 2). Figura 2: Trilha interpretativa Fonte: os autores, o Atividade 3 A APA em quebra- cabeça : atividade na qual os participantes utilizaram um mapa da APA do Iraí em formato de quebra-cabeça como recurso para a inserção na área de estudo. Após a montagem do quebra-cabeça, os participantes localizaram nele a escola que frequentavam com o intuito de demonstrar a importância da comunidade escolar na dinâmica local (FIGURA 3).

7 11393 Figura 3: A APA em quebra- cabeça Fonte: os autores, Segunda parte: o Atividade 1 Mapa do Paraná : utilizou-se um mapa do Paraná construído no chão com petit-pavé para contextualizar a APA do Iraí na Bacia Hidrográfica do rio Iguaçu, destacando a relevância desta bacia para o desenvolvimento socioeconômico regional (figura 4). Figura 4: Mapa do Paraná Figura: os autores, o Atividade 2 Mirante : no alto de um mirante os participantes foram instigados a observar o entorno com auxilio de binóculos de modo a identificar elementos que o formam, como relevo, vegetação e edificações. Foi dada ênfase a formação geomorfológica da Serra do Mar e sua relevância para a formação dos rios que compõem a APA do Iraí, assim como a transformação da paisagem pelo viés da sucessão vegetacional e ocupação humana (figura 5).

8 11394 Figura 5: Mirante Fonte: os autores, o Atividade 3 Análise química da água : nas margens da represa do Iraí os participantes coletaram água com o objetivo de determinar sua turbidez, temperatura e ph. A partir dos resultados dos experimentos discutia-se com os participantes a respeito da importância do monitoramento da qualidade da água disponível para o consumo (figura 6). Figura 6: Análise química da água Fonte: os autores, Terceira parte: o Atividade Arte e educação: modelagem em argila e desenho : por fim, através de linguagens artísticas, os participantes expressaram suas experiências ao longo do projeto. Esta atividade teve como estratégias principais a utilização da modelagem em argila e o desenho como recursos didáticos para o processo de sensibilização ambiental. Considerações Finais Mesmo diante de algumas adversidades encontradas no que diz respeito a questões operacionais e administrativas até mesmo pelo caráter piloto do projeto de base interinstitucional entendeu-se que os objetivos principais foram alcançados, haja vista

9 11395 relatos e depoimentos de professores e estudantes participantes da atividade, assim como da avaliação positiva da equipe pedagógica executora. Professoras das escolas envolvidas salientaram que pós experiência com o projeto, o tema foi retomado em sala de aula por professores que lecionavam disciplinas diversas e que o envolvimento dos estudantes nas discussões ocorreu de forma salutar. Acredita-se que a experiência obtida com o desenvolvimento do Projeto CAMINHAPA no ano de 2014 foi significativa e atendeu ao objetivo proposto. Também, foi possível entrelaçar de modo satisfatório diferentes áreas da ciência com a Arte atingindo resultados positivos, significativos e interessantes. Dificuldades surgiram, sobretudo, no que coube a questões operacionais e administrativas devido ao fato do projeto ainda estar em fase experimental e contar com a participação de diferentes instituições. Por fim, para o ano de 2015, a perspectiva é que o Projeto CAMINHAPA atenda também estudantes e professores do 6 e 7 ano de escolas da rede pública estadual localizadas na APA do Iraí. REFERÊNCIAS ALCÂNTARA, Mariana Menezes; PORTO, Cristiane de Magalhães. A Relação entre a Arte e a Ciência para a Popularização do Conhecimento. Diálogos & Ciência Revista da Faculdade de Tecnologia e Ciências, Ano 9, n. 25, mar Disponível em: < Acesso em 04 mar BRASIL. Decreto-lei 9.795, de 27 de abril de Brasília, Disponível em: < >. Acesso em 01 set LEFF, Enrique. Epistemologia ambiental. São Paulo: Cortez, MORIN, Edgar. Introdução ao pensamento complexo. 3. ed. Lisboa: Instituto. Piaget, p. OLIVEIRA, Christian Denys Monteiro de; ASSIS, Raimundo Jucier Souza de. Travessias da aula em campo na geografia escolar: a necessidade convertida para além da fábula. Educação e pesquisa, São Paulo, v. 35, n. 1, p , Disponível em: < Acesso em: 01 set PACHECO, Emília Batista; FARIA, Ricardo de Moura. Educação ambiental em foco. Belo Horizonte: Lê, PARANÁ. Decreto-lei 1.753, de 06 de maio de Curitiba, Disponível em: < >. Acesso em 01 set

10 11396 PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes curriculares da Educação Básica Geografia. Curitiba, Disponível em: < Acesso em: 01 set PARANÁ. Parque Newton Freire Maia. Projeto CAMINHAPA. Pinhais, THOMAZ JUNIOR, Antônio. Trabalho de campo: o laboratório por excelência do geógrafo. In. Geografia passo-a-passo: ensaio crítico dos anos. Presidente Prudente: Centelha, Disponível em: < Acesso em: 01 set