VARIAcAo LINGOiSTICA CORRELACIONADA A USOS:
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- Matheus Monteiro Henriques
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1 VARIAcAo LINGOiSTICA CORRELACIONADA A USOS:, A varia~io linga18tica tem 8ido e8tudada em varias dimensoes. Ji 8ao hem conhecidos estudos de varia~ao diacronica, diatopica e diastritica que tratam de correla~oes com 0 tempo, espa~o geografico e espa~o social, respectivamente. Para esses estudos ja hi uma metalinguagem consensual e unidades anal!ticas reconhecidas como: diale~o, lingua, sotaque; socioleto, etoleto, sexoleto. Ao contririo destes estudos de correla~oes com tipos de usuirios, os estudos das correla~oes com tipos de usos lingft!sticos nao estao tao avan~ados, 0 que pode ser percebido pela falta de consenso ate com rela~ao ao rotulo a ser adotado para o tipo de varia~ao: varia~ao diat!pica/diafasica. Alern disso, observamos algumas coocorrencias que tern pouco em comum como: registro da propaganda, registro academico, registro de estogistro jornal!stico, registro jur!dico, discurso materno que nos dao a impressao que REGISTRO e um termo vazio, um sinonimo *Professora Adjunto do Departamento de LingUistica, Letras Classicas e Vernaculas da Universidade Federal do Parana.
2 ta~ao: que sintonizam a linguagem com usos bem especificos. Observando com mais vagaras coocorrencias acima citadas vamos perceber que por detras desse aparente caos ha urn esquema, ha urna ordena~ao. Porern nao e urn esquema simples, mas sim urn esquema de muitos pianos, todos eles variaveis. Cada urna das coocorrencias acima citadas destaca urn dos pianos que tern que ser levados em considera~ao no estudo do Registro: a. registro jurldico - revela varia~ao correlacionada com assunto, area de conhecimento culturalmente relevante: b. registro academtco - revela varia~ao do continuo que vai do mais tecnico-cientlfico para 0 menos tecnico/cientifico: c. registro escrito - revela a varia9ao em rela9ao ao meio de expressao formal: escrito ou falado: d. registro oral - revela varia9ao em rela~ao ao meio de realiza~ao: grafado ou oral: e. registro formal - revela varia9ao de acordo com ograu de formalidade: f. registro materna revela varia9ao ca acordo com grau de solidariedade: g. registro de estorias infantis - revela a varia9ao de acordo com 0 genero (tipo de texto): h. registro da propaganda - revela varia9ao segundo a fun9ao comunicativa do texto: referencial, conativa, expressiva, etc. Com a identifica9ao das escolhas feitas nesses p~anos em um determinado discurso podemos classificar cada realiza9ao de 433
3 urnregistro, pois cada uso requer urna escolha adequada de cada urndesses requisitos. Por exemplo, alguem que e convidado para participar de urn congresso podera fazer as seguintes escolhas: preparara urn texto escrito com estrutura de oonferencia, de urn determinado assunto, com enfase na fun~ao referencial; e 0 apresentara oral- -.ente em tom fodla1 e nao-solidirio. Ao final de sua conferencia, aberto 0 debate, automaticamente seu discurso sofrera adequa~oes. Continuara fa lando sobre o mesmo assunto mas pas sara para uma linguagem puramente oral, falada. Podera se tornar mais info~l e ate tornar sua fala mai s oonati va sem se tornar solidario. Ao final do debate, conduzido ao cafezinho, podera mudar de assunto, falar sobre a copa do aundo, numa conversa informal, fatica. Mais tarde esta mesma pessoa pode telefonar para amigos para ter noticias deles e de suas familias. Falara ao telefone de modo informal, solidario misturando fun~oes: expressiva, 00- nativa, referencial e fatica. Mandando urn cartao postal para sua familia produzira um texto adequado para cartao postal, dizendo da viagem, em linguagem oral, apesar de grafada, em estilo informal-intima, solidario e expressivo. Os exemplos evidenciam que no processo de adequa~ao da linguagem ao uso e necessario que se fa~am escolhas em todos esses niveis. Em cada ocasiao 0 resultado das escolhas e sempre uma intersec~ao de pontos de varios pianos.
4 Diante desta constata9ao podemos definir REGISTRO como sendo 0 resultado final dessas oito escolhas? 0 resultado da intersec9ao desses oito planos? De certa forma sim: do ponto de vista da substancia, da realiza~ao caso a caso. Do ponto de vista formal, no entanto, para que se tenha clara a n09ao de REGISTRO e precise verificar qual dessas oito variaveis e mais constante, e mais resistente as mudan~as que possam ocorrer as demais variaveis. Esta seria a dimensao definidora da no~ao de REGISTRO. A formalidade, solidariedade, tecnicalidade sac afastadas ja de inicio por serem relativas. As marc as de formalidade, tecnicalidade, solidariedade nao sac absolutas. Elas variam de momenta para momenta, de situa~ao para situa~ao. A variavel escrita/falada tambern pode ser descartada com facilidade ja que todos os usos podem ser realizados por estes dois meios, com maior ou menor naturalidade. Genero e fun~ao nao sac tao claramente afastados ambos ternmarcas lingaisticas mais permanentes, como e 0 da estoria infantil e da propaganda. No entanto, verificamos em qualquer lingua que ha maia usos do que a soma dos generos e das fun90es realizaveis na cultura correspondente. Ao analisarmos 0 item 'area de conhecimento'/'assunto'/ 'conhecimento culturalmente relevante', verificamos que e 0 item que se mantem constante ap~sar de altera90es de formalidade, solidariedade, tecnicalidade, linguagem escrita/oral, genero, fun~ao. Um medico pode tratar de urn assunto de sua area: 1. ora1mente ou por escrito; 435
5 2. can linquaqem mais ou menos tecnica; 3. com mais ou menos formalidade; 4. com mais ou menos solidariedade; 5. em varios qeneros (tipos de texto); 6. em qualquer fun<;rao. Alem disso, 0 surqimento de novas areas de conhecimento causa 0 aparecimento de novas variedades de uso, como por exemplo mais recentemente 0 reqistro da informatica com seus chips, disquetes, softers, hardwares. A dimensao definidora de REGISTRO e,na verdade,a area de conhecimento culturalmente relevante. Como as areas de conhecimento culturalmente relevantes se refletem no lexico, 0 REGISTRO e caracterizado fundamehtalmente pela escolha lexical e, em decorrencia disso, uma ultima evidencia que se poderia apresentar em favor do carater de "refletor do conhecimento" do REGISTRO e a multiplica<;raode dicionarios especializados no mercado: Dicionario Medico, Dicionario de LingnIstica, Dicionario de Teoria Literaria, Dicionario de Quimica, etc. Voltando as coocorrencia apresentadas no inicio, considerarlamos adequadas as que se referem a: registro juridico, registro de futebol, registro das artes, por refletirem areas de conhecimento; mas inadequadas as que se referem a: reqistro formal, registro de estorias infantis, registro escrito, etc., pois estas referem-se a aspectos nao diagnosticos da variedade rotulada REGISTRO.
6 1 CUNHA, Celso e CINTRA, Lindley. Nova Gramatica do Portugues contemporaneo. Rio, Nova Fronteira, HALLIDAY, M.A.K. Explorations in the Functions of Language. London, Edward Arnold, HALLIDAY, M.A.KJ MCINTOSH, AngusJ STREVENS, Peter. As Ciencias LingftIsticas e 0 Ensino de LInguas. Petropolis, Vozes, LYONS, J. Semantics. London, CUP, Vol.2. 5 REGO, L.B. A escrita de estorias por crian~as: as implica- ~oes pedagogicas do uso de um registro lingftistico. In: DELTA. Vol.2, n p
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