PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA FEDERAL SEÇÃO JUDICIÁRIA DO RIO DE JANEIRO 1ª. VARA FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO RIO DE JANEIRO
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- João Lucas Bergler Madureira
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1 1ª. VARA FEDERAL DA MANDADO DE SEGURANÇA AUTOS Nº Fls 259 IMPETRANTE: CONCESSIONÁRIA PORTO NOVO S.A., TCR - TELECOMUNICAÇÕES DA CIDADE DO RIO S.A., COMPLEXO MARACANÃ ENTRETENIMENTO S.A. e EDIFÍCIO ODEBRECHT IMPETRADO: DELEGADO DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL NO RIO DE JANEIRO DRF RJO I. DECISÃO Vistos em decisão. Trata-se de mandado de segurança, na qual as impetrantes almejam que seja deferido o pedido de liminar, para determinar que a autoridade impetrada se abstenha de exigir das impetrantes o recolhimento do PIS e COFINS sobre as receitas financeiras, inclusive decorrentes de operação realizadas para fins de hedge, auferidas pelas impetrantes, afastando-se integralmente a aplicação do Decreto nº 8.426/15. Alegaram, em síntese, que são contribuintes regulares das contribuições ao PIS e da COFINS na sistemática não cumulativa, nos termos do art. 195, I, b da Constituição Federal de 1988, artigos 1º e seguintes das Leis nº /02 e /03. Aduziram que, de acordo com as referidas leis, as pessoas jurídicas sujeitas ao regime não cumulativo, devem recolher a contribuição ao PIS e COFINS sobre a totalidade de suas receitas, incluindo-se as receitas financeiras. Sustentaram, ainda, que a publicação do Decreto nº 8.426/15, em , majorou de zero para 0,65% e 4,00%, respectivamente, as alíquotas do PIS e COFINS incidentes sobre as receitas financeiras, para fatos geradores a partir de Alegaram, também, que a majoração das alíquotas das contribuições, determinada pelo Decreto nº 8.426/15, está eivada de vícios da inconstitucionalidade e da ilegalidade, tendo em vista a violação ao Princípio Constitucional da Estrita Legalidade Tributária, previsto no inciso I, do artigo 150, da Constituição Federal, reproduzidos nos artigos 3º e 97 do CTN, bem como o desrespeito ao Princípio da nãocumulatividade, ao determinar a tributação das receitas financeiras, deixando de regulamentar o direito da pessoa jurídica de abater créditos apurados sobre as despesas financeiras. Por fim, sustentaram que a inconstitucionalidade e ilegalidade do referido Decreto, também, decorre de violação ao artigo 153, 1º,
2 da Constituição Federal, ao artigo 97, incisos II e IV, do CTN e, ao artigo 84, inciso IV, da Constituição Federal. recolhidas às fls. 19. Documentos juntados às fls. 20/255, sendo as custas Fls 260 Vieram os autos conclusos. É o relatório do essencial. Decido. Neste exame preliminar, entendo presentes os requisitos autorizadores para a concessão da almejada liminar. Senão vejamos. O Decreto nº 8.426/15 1 restabeleceu a incidência parcial das contribuições sociais do PIS e da COFINS sobre as receitas financeiras para os contribuintes optantes pela sistemática não cumulativa (Lei /02 e Lei /03). Por sua vez, o Decreto nº 5.442/05, - o qual foi expressamente revogado pelo Decreto nº 8.246/15 2 -, até então estava em vigor e previa a isenção 3 de PIS/COFINS sobre as receitas financeiras destes contribuintes. Tal restabelecimento teve como fundamento a previsão contida no art. 27, 2º, da Lei nº /2004, que assim dispõe: Art. 27. O Poder Executivo poderá autorizar o desconto de crédito nos percentuais que estabelecer e para os fins referidos no art. 3o das Leis nos , de 30 de dezembro de 2002, e , de 29 de dezembro de 2003, relativamente às despesas financeiras decorrentes de empréstimos e financiamentos, inclusive pagos ou creditados a residentes ou domiciliados no exterior. 2o O Poder Executivo poderá, também, reduzir e restabelecer, até os percentuais de que tratam os incisos I e II do caput do art. 8o desta Lei, as alíquotas da contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS incidentes sobre as receitas financeiras auferidas pelas pessoas jurídicas sujeitas ao regime de não-cumulatividade das referidas contribuições, nas hipóteses que fixar. 1 Decreto nº 8.426/15, Art. 1º Ficam restabelecidas para 0,65% (sessenta e cinco centésimos por cento) e 4% (quatro por cento), respectivamente, as alíquotas da Contribuição para os Programas de Integração Social e de Formação do Patrimônio do Servidor Público - PIS/PASEP e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - COFINS incidentes sobre receitas financeiras, inclusive decorrentes de operações realizadas para fins de hedge, auferidas pelas pessoas jurídicas sujeitas ao regime de apuração não-cumulativa das referidas contribuições. 2 Decreto nº 8.426/15, Art. 3º Fica revogado, a partir de 1º de julho de 2015, o Decreto nº 5.442, de 9 de maio de Decreto nº 5.442/05, Art. 1o Ficam reduzidas a zero as alíquotas da Contribuição para o PIS/PASEP e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - COFINS incidentes sobre as receitas financeiras, inclusive decorrentes de operações realizadas para fins de hedge, auferidas pelas pessoas jurídicas sujeitas ao regime de incidência não-cumulativa das referidas contribuições.
3 De fato, verifica-se que o art. 27, 2º, da Lei nº /2004 excepcionou o princípio da legalidade previsto no art. 150, I 4, da Constituição Federal, outorgando ao Poder Executivo a faculdade de reduzir e restabelecer as alíquotas da contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS incidentes sobre as receitas financeiras auferidas pelas pessoas jurídicas sujeitas ao regime de não-cumulatividade das contribuições. Fls 261 Todavia, a mencionada exceção não encontra amparo na Constituição Federal, tal como ocorre com os impostos de importação, exportação, produtos industrializados e operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários e da contribuição de intervenção no domínio econômico relativa às atividades de importação ou comercialização de petróleo e seus derivados, gás natural e seus derivados e álcool combustível, os quais possuem autorização expressa para o Poder Executivo alterar as alíquotas, atendidas as condições e os limites estabelecidos em lei em relação aos referidos impostos (art. 153, 1º 5 e art. 177, 4º, I, b 6, CRFB/88). Ora, em observância ao princípio da legalidade tributária, todos os elementos da hipótese de incidência do tributo, tais como o fato gerador, contribuinte, o aspecto temporal e espacial, a base de cálculo, bem como a alíquota, devem estar previstos em lei. Sendo assim, a alíquota, enquanto integrante da hipótese incidência tributária, não pode ser objeto de 4 CRFB/88, Art Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça; 5 CRFB/88, Art Compete à União instituir impostos sobre: I - importação de produtos estrangeiros; II - exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou nacionalizados; III - renda e proventos de qualquer natureza; IV - produtos industrializados; V - operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários; VI - propriedade territorial rural; VII - grandes fortunas, nos termos de lei complementar. 1º É facultado ao Poder Executivo, atendidas as condições e os limites estabelecidos em lei, alterar as alíquotas dos impostos enumerados nos incisos I, II, IV e V. 6 Art Constituem monopólio da União: 4º A lei que instituir contribuição de intervenção no domínio econômico relativa às atividades de importação ou comercialização de petróleo e seus derivados, gás natural e seus derivados e álcool combustível deverá atender aos seguintes requisitos: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 33, de 2001) I - a alíquota da contribuição poderá ser: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 33, de 2001) b)reduzida e restabelecida por ato do Poder Executivo, não se lhe aplicando o disposto no art. 150,III, b; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 33, de 2001)
4 delegação por parte do ente competente para a instituição e/ou majoração do tributo. Com efeito, neste exame preliminar, entendo que a majoração das alíquotas de PIS e COFINS incidentes sobre as receitas financeiras por meio do Decreto 8.246/15, violou o princípio da estrita legalidade em matéria tributária, uma vez que a Constituição Federal exige que a majoração de contribuições se dê por meio de lei. Fls 262 Sobre o tema, merece destaque, mutatis mutandis, a jurisprudência do C. Supremo Tribunal Federal: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE TRATAMENTO TRIBUTÁRIO PREFERENCIAL AUSÊNCIA DE CONSENSO DAS UNIDADES DA FEDERAÇÃO ADEQUAÇÃO. TRIBUTO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE DELEGAÇÃO AO PODER EXECUTIVO ALÍQUOTA IMPROPRIEDADE. Surge discrepante da Constituição Federal lei por meio da qual se delega ao Poder Executivo fixação de alíquota de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços ICMS, pouco importando a previsão, na norma, de teto relativo à redução. (ADI 3674, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 01/06/2011, DJe-123 DIVULG PUBLIC EMENT VOL PP-00011) CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO. IMPOSTO SOBRE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS. IMPORTAÇÃO. ARRENDAMENTO MERCANTIL (LEASING). INCIDÊNCIA. 4. Contrariedade à regra da legalidade (art. 150, I da Constituição), porque a alíquota do imposto de importação foi definida por decreto, e não por lei em sentido estrito. O art. 153, 1º da Constituição estabelece expressamente que o Poder Executivo pode definir as alíquotas do II e do IPI, observados os limites estabelecidos em lei. 5. Vilipêndio do dever fundamental de prestação de serviços de saúde (art. 196 da Constituição), pois o bem tributado é equipamento médico (sistema de tomografia computadorizada). Impossibilidade. Não há imunidade à tributação de operações ou bens relacionados à saúde. Leitura do princípio da seletividade. Recurso extraordinário conhecido, mas ao qual se nega provimento. (RE , Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Segunda Turma, julgado em 01/02/2011, DJe- 049 DIVULG PUBLIC EMENT VOL PP-00099) (grifamos) Assentado o fumus boni iuris, o periculum in mora decorre da data prevista no art. 2º do Decreto nº 8.426/2015, para a produção dos seus efeitos (1º de julho de art. 2º), o que autoriza a concessão do provimento antecipatório, evitando que o contribuinte se sujeite ao solve et repete (pague e depois reclame). A seu turno, importa destacar que não se está aqui afirmando a vigência do Decreto nº 5.442/05, o qual, repita-se, foi expressamente revogado pelo Decreto nº 8.426/2015, sendo certo que não há inconstitucionalidade ou ilegalidade na revogação de um decreto por outro.
5 Em face do exposto, DEFIRO O PEDIDO DE LIMINAR, para determinar que a autoridade impetrada se abstenha de exigir das impetrantes o recolhimento do PIS e da COFINS, com base no Decreto nº 8.426/2015. Fls 263 Intime-se a parte impetrada para ciência e cumprimento da presente decisão. Notifique-se a autoridade impetrada a prestar as informações cabíveis, no prazo legal. Oficie-se o responsável pelo órgão de representação judicial da pessoa jurídica interessada, nos moldes do disposto no artigo 7º, inciso II da Lei nº 12016/09. Após, ao MPF para parecer. P. I. Rio de Janeiro, 17 de setembro de MAURO SOUZA MARQUES DA COSTA BRAGA Juiz Federal Titular da 1ª Vara Federal
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Fls 109 CONCLUSÃO Nesta data, faço estes autos conclusos a(o) MM. Sr(a). Dr(a). Juiz(a) da(o) 12ª Vara Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 30 de junho de 2015. Regina Cely Martins Correia Fonseca
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