PLASMOCITOMA EM MÚSCULO ESQUELÉTICO DE FELINO JOVEM RELATO DE CASO

Transcrição

1 PLASMOCITOMA EM MÚSCULO ESQUELÉTICO DE FELINO JOVEM RELATO DE CASO Danieli Brolo MARTINS 1, Cristina Krauspenhar ROSSATO 2, Luana de Sousa RIBEIRO 3, Suelen Lorena da SILVA 3, Stéphanie Silva Nunes de ALMEIDA 3, Thawanne Delefrate QUEIROZ 3 1. Professora Adjunta do Departamento de Medicina Veterinária, Escola de Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal de Goiás (EVZ/UFG), Goiânia, Goiás, Brasil. 2. Professora Adjunta do Centro de Ciências da Saúde e Agrárias, Universidade de Cruz Alta (UNICRUZ), Cruz Alta, RS, Brasil. 3. Aluna de graduação em Medicina Veterinária, EVZ/UFG, Goiânia, Goiás, Brasil. Resumo O plasmocitoma extramedular (PEM) não cutâneo é um distúrbio mieloproliferativo de plasmócitos que raramente acomete felinos..este trabalho tem por objetivo descrever o caso de PEM no músculo esquelético de um gato de oito meses de idade, FeLV positivo. Um felino, macho inteiro, sem raça definida, oito meses de idade foi atendido por apresentar dificuldade de locomoção há dois meses, além de hiporexia e hipodipsia. No membro pélvico esquerdo evidenciou-se uma massa que, por meio da citologia aspirativa por agulha fina (CAAF), revelou tratar-se de PEM. O teste rápido confirmou a presença do vírus da leucemia felina. Diante do quadro a tutora optou pela eutanásia, permitindo a necropsia do paciente. Na necropsia, macroscopicamente, percebeu-se que a massa era originária do músculo semimembranoso. O exame histopatológico ratificou os achados da CAAF. Palavras-chave: desordens mieloproliferativas, vírus da leucemia felina, músculo esquelético, citologia aspirativa por agulha fina, gato. Key Words: myeloproliferative disorders, feline leukemia virus, skeletal muscle, aspiration cytology fine needle, cat. Revisão de literatura As neoplasias de plasmócitos são classificadas como mieloma múltiplo, plasmocitoma solitário ou plasmocitoma extramedular (RADHAKRISHNAN et al., 2004; PATEL et al., 2005), sendo mais comum em cães do que em gatos (WYPIJ et al., 2009). A forma extramedular (PEM) tem sua origem em tecidos moles e caracteriza-se por sua localização fora da medula óssea (PERLMANN et al., 2009; ANAIS 37ºANCLIVEPA p.0038

2 ADELMAN et al., 2014) apresentando uma população de células monomórficas (MAJZOUB et al., 2003). A citologia aspirativa por agulha fina (CAAF) traz grandes benefícios para os pacientes por propiciar o mínimo de invasão, ser realizada rapidamente e pela sua relação custo benefício (SHARKEY et al., 2014). No entanto, frequentemente é encontrado na literatura casos de PEM com diagnóstico primário por histopatologia (MELLOR et al., 2007; PERLMANN et al., 2009; SILVA et al., 2012), tendo poucos relatos de plasmocitomas no qual o diagnóstico realizou-se por citologia e, posteriormente, confirmação por exame histopatológico (KIM et al., 2010; WARE & GIEGER, 2011). O presente relato tem por finalidade descrever o caso de um felino de oito meses de idade, FeLV positivo, diagnosticado, por meio da CAAF, com plasmocitoma extramedular no músculo semimembranoso do membro pélvico esquerdo. Descrição do caso Foi atendido um felino, macho inteiro, sem raça definida (SRD), oito meses de idade, pesando 2,5 Kg. O animal caminhava com dificuldade há dois meses, apresentava hiporexia e hipodipsia e não conseguia ficar em posição fisiológica para urinar e defecar. Ao exame clínico, todos os parâmetros fisiológicos estavam normais. À palpação do membro pélvico esquerdo (MPE), observou-se que o mesmo apresentava-se atrofiado quando comparado ao membro contralateral. No MPE evidenciou-se uma massa de consistência macia de aproximadamente 2 cm. O paciente sentia dor no local durante a palpação, e com a autorização da proprietária, foi sedado com cloridrato de cetamina, 5mg/kg, associado ao diazepan, 10mg/kg, para melhor avaliação e realização dos exames. Foi solicitado hemograma que revelou anemia macrocítica normocrômica. O exame bioquímico apontou discreta diminuição da uréia. O estudo radiológico do MPE indicou o aumento dos tecidos moles. Além desses achados, realizou-se a CAAF, onde pode-se observar presença de células redondas compatíveis com plasmócitos, apresentando anisocitose, basofilia citoplasmática, eventual binucleação ou multinucleação, raras a eventuais mitoses, raros micronúcleos, ANAIS 37ºANCLIVEPA p.0039

3 eventual vacuolização, cromatina grosseira e nucleólos evidentes, além de raro material amilóide entremeado nas células sugerindo plasmocitoma. Assim, optou-se por fazer o teste imunoenzimático para o vírus da imunodeficiência felina (FIV) e vírus da leucemia felina (FeLV) (Snap Test FIV/FELV Combo, Idexx ), o qual resultou em positivo para FeLV. O animal permaneceu internado e recebeu como terapia ceftriaxon, 30mg/Kg, IV, BID e cloridrato de tramadol, 2mg/Kg, SC, BID. Após a internação do paciente, foi sugerido protocolo quimioterápico e cirurgia do membro. Tais procedimentos foram recusados pela proprietária. Diante do quadro e da expectativa de qualidade de vida do animal, após quatro dias de internação, sem o paciente apresentar melhora, a proprietária optou pela eutanásia, sendo o animal encaminhado para a necropsia após autorização da mesma. Na necropsia, macroscopicamente observou-se atrofia muscular e presença de uma massa com cerca de 2 cm que infiltrava o músculo semimembranoso. A superfície de corte era branca, circunscrita e macia. Na análise microscópica havia proliferação de plasmócitos dispostos em cordões sustentados por finos septos de tecido conjuntivo. Tais células redondas variavam em tamanho, com núcleo localizado excentricamente, às vezes binucleadas, com citoplasma eosinofílico, ratificando os achados da CAAF, ou seja, plasmocitoma extramedular. Discussão O plasmocitoma extramedular não cutâneo se enquadra nas desordens mieloproliferativas de plasmócitos anormais ou de precursores de linfócitos B secretores de imunoglobulina (MELLOR et al., 2007). Essa enfermidade raramente acomete os felinos, representando apenas 1% das neoplasias que acometeram os gatos em um estudo retrospectivo realizado na Universidade de São Paulo no período de 9 anos (KIMURA et al., 2012). Normalmente, os machos possuem maior predisposição ao PEM, o que vem ao encontro do presente caso. A faixa etária acometida varia de 6 a 15 anos, porém é encontrado em um estudo com 9 gatos uma variação de 6 até 20 anos de idade (MAJZOUB et al., 2003), havendo aqui uma divergência nesse ponto, já que o paciente felino atendido apresentava apenas 8 meses de idade. Uma provável causa do desenvolvimento do plasmocitoma na fase juvenil do paciente relatado é a infecção por FeLV, visto que, por se tratar de um retrovírus, ANAIS 37ºANCLIVEPA p.0040

4 este possui capacidade de induzir à diferentes neoplasias em decorrência de suas características de replicação (MAGDEN et al., 2011; HARTMANN, 2012). Os achados citológicos geralmente incluem anisocitose, anisocariose, células binucleadas, observando-se citoplasma basofílico, cromatina grosseira (RANNOU, et al., 2009; KIM et al.,2010) figuras mitóticas raramente são vistas (RANNOU et al., 2009), e matriz amilóide ou material amorfo está presente em menos de 10% dos plasmocitomas (RASKIN & MEYER, 2011). Muitas das características citológicas descritas para o plasmocitoma foram encontradas na amostra do paciente, mesmo aquelas consideradas raras, como as figuras de mitose, ou incomuns, como a matriz amilóide. Desta forma, o diagnóstico de plasmocitoma extramedular do caso relatado foi baseado na citologia e ratificado, posteriormente, pela de análise histopatológica. Conclusão Este relato alerta para o possível aparecimento do PEM de felinos em localização muscular. Os casos de PEM em gatos são raros e pouco discutidos na literatura, existindo uma carência de estudos envolvendo pacientes felinos jovens infectados com retrovírus, como o FeLV, e a incidência de plasmocitomas extramedulares. Apesar do meio de diagnóstico mais frequente para esta enfermidade ainda ser o exame histopatológico, a CAAF vem ganhando espaço devido ao menor custo, a eficácia no diagnóstico e a facilidade em executar a técnica. Referências ADELMAN, L.; LARSON, V.; SISSENER, T. et al. Extramedullary plasmacytoma in the lung of a Doberman pinscher dog.canadian Veterinary Journal, v. 55 p , HARTMANN, K. Clinical Aspects of Feline Retroviruses: A Review. Viruses, v. 4, p , KIM, M-S; KIM, D.H.; CHOI, U.S. Penile ExtramedullaryPlasmacytoma in a Dog. Reproduction in Domestic Animals, v. 45, p , KIMURA, K.C; GÁRATE, A.P.; DAGLI, M.L.Z. Retrospective Study of Neoplasms in Domestic Animals: A Survey Between 1993 and 2002 of the Service of Animal Pathology, Departamento of Pathology, School of Veterinary Medicine and Animal Science, University of São Paulo, Southeast Brazil. Brazilian Journal of Veterinary Pathology, v. 5, n. 2, p , ANAIS 37ºANCLIVEPA p.0041

5 MAJZOUB, M.; BREUER, W.; PLATZ, S.J. et al. Histopathologic and Immunophenotypic Characterization of Extramedullary Plasmacytomas in Nine Cats. Veterinary Pathology, v.40, p , MAGDEN E.; QUACKENBUSH, S.L.; VANDEWOUDE, S. FIV associated neoplasms A mini-review. Veterinary Immunology and Immunopathology, v.143, p , MELLOR, P.J.; POLTON, G.A.; BREARLEY, M. et al. Solitary plasmacytoma of bone in two successfully treated cats. Journal of Feline Medicine and Surgery, v.9, p , PATEL, R. T.; CACERES A.; FRENCH A. F. et al. Multiple myeloma in 16 cats: a retrospective study. Veterinary Clinical Pathology, v.34, n.4, p , PERLMANN, E.; DAGLI, M.L.Z.; MARTINS, M.C. et al. Extramedullary plasmacytoma of the third eyelid gland in a dog. Veterinary Ophthalmology, v.12, n.2, p , RASKIN, R. E.; MEYER, D. J. Canine and Feline Cytology: A Color Atlas and Interpretation Guide. 2. ed. Philadelphia: Saunders, 2009, p.472. RADHAKRISHNAN, A.; RISBON, R.E.; PATEL, T.R. et al. Progression of a solitary, malignant cutaneous plasma-cell tumour to multiple myeloma in a cat. Veterinary and Comparative Oncology, v.2, n.1, p.36 42, RANNOU, B.; HÉLIE, P.; BÉDARD, C. Rectal plasmacytoma with intracellular hemosiderin in a dog. Veterinary Pathology, v.46, n.6, p , SHARKEY, L.C.; SEELIG, D.M.; OVERMANN, J. All Lesions Great and Small, Part 1: Diagnostic Cytology in Veterinary Medicine. Diagnostic Cytopathology, v.42, n.6, p , SILVA, T.P.D.; SILVA, V.L.; SILVA, F.L. Plasmocitoma extramedular cutâneo em cão, obstrução unilateral do conduto auditivo. Medicina Veterinária, v.6, n.4, p.1-5, WARE, K.; GIEGER, T. Use of strontium-90 plesiotherapy for the treatment of a lingual plasmacytoma in a dog. Journal of Small Animal Practice, v.52, p , WYPIJ, J.; STERNBERG, R.; BARGER, A.M. Extramedullary and solitary osseous plasmacytomas in dogs and cats. Veterinary Medicine v.104, n. 10, p , ANAIS 37ºANCLIVEPA p.0042