VI ECODESIGN E A REVISÃO DO DESIGN INDUSTRIAL PARA A CRIAÇÃO DE PRODUTOS DE BAIXO IMPACTO AMBIENTAL
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- Carlos Gabeira de Andrade
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1 22º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 14 a 19 de Setembro Joinville - Santa Catarina VI ECODESIGN E A REVISÃO DO DESIGN INDUSTRIAL PARA A CRIAÇÃO DE PRODUTOS DE BAIXO IMPACTO AMBIENTAL Marcia Elizabeth Brunetti Designer Industrial pela Universidade Católica do Paraná (UCPr). Mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Professora do Curso de Desenho Industrial (CCET- PUCPR). Doutoranda em Engenharia Ambiental pela Universidade Federal de Santa Catarina (CTC-UFSC) Fernando Soares Pinto Sant Anna Engenheiro Civil pela Universidade Federal do Espírito Santo. Mestre em hidráulica e saneamento pela Universidade de São Paulo. Doutor em Química Industrial e Meio Ambiente pela Universite de Rennes I. Professor do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental/CTC/ Universidade Federal de Santa Catarina. Endereço: Rua José Henrique Veras, 406- ap.03 Lagoa da Conceição Florianópolis SC CEP: Brasil Tel.(48) marbru@terra.com.br RESUMO Este artigo procurou esclarecer as responsabilidades do designer industrial diante da necessidade de reduzir impactos ambientais dos produtos. Para tanto, foi registrada a amplidão do termo Ecodesign e situado o âmbito de ação do profissional de design industrial no desenvolvimento sustentável em uma sociedade globalizada. Por fim, apresentou-se brevemente as alternativas do design industrial para redução dos impactos ambientais, com ênfase na mudança do estilo de vida do ser humano. Palavras-chave: Ecodesign, Design Sustentável, Sustentabilidade Ambiental, Redesign, Estilos de Vida.
2 INTRODUÇÃO A grande depressão econômica norte americana, da década de 1930, fez surgir o styling, uma modalidade de design industrial que teve como objetivo tornar os produtos superficialmente atraentes, em detrimento da sua qualidade e conveniência. Neste espírito, o styling assumiu o papel de ferramenta impulsionadora do consumo, numa época em que a economia não dava sinais de recuperação. Este modo de operar o design fez tanto sucesso, que rapidamente transformou-se em mola mestra para o crescimento econômico mundial. Mas, a realidade é que o styling fomentou (e ainda fomenta) o mercado, numa busca pela qualidade de vida a partir da posse material de coisas, baseado na noção de progresso a partir de recursos naturais infinitos. Nos últimos anos, a questão ambiental passou a ser freqüentemente debatida a partir da introdução das ISO 14000; das legislações em função da necessidade de conservação de recursos naturais; áreas cada vez mais limitadas para destinação final dos resíduos; contaminação do meio ambiente etc. Uma reavaliação do paradigma tradicional de produção tem emergido. Ferramentas e métodos de produção inovadores vêm apresentando alternativas para o desenvolvimento de produtos mais adequados às novas necessidades de preservação ambiental. Neste contexto, conclui-se que a redução de impactos ambientais requer tecnologias limpas, mas, ao lembrar do styling como agente promotor do consumo, vemos que requer também uma nova capacidade de design, que trabalhe produtos e serviços considerando uma revisão de valores para a sociedade. Não basta resolver os problemas ambientais só com o uso de tecnologias avançadas, mesmo que elas sejam indispensáveis. Deve-se, também, propor uma mudança cultural e comportamental dos usuários. Significa que o design, apropriado de sua capacidade criativa, possa aplicar seus conhecimentos para desenvolver soluções para os problemas ambientais, modificando, não só produtos, mas, também, estilos de vida que ele próprio ajudou a formar. Os profissionais do design industrial, entretanto, possuem muito pouca intimidade com o tema sustentabilidade, não assumindo, muitas vezes, a responsabilidade pelas suas produções diante dos impactos ambientais causados ao Planeta. Por isso, neste artigo, uma das propostas é contribuir para o esclarecimento do espaço de atuação deste profissional. Para tanto, o artigo inicia-se com uma contribuição para a discussão sobre o termo Ecodesign, enquanto possibilidade multifacetada de sustentabilidade ambiental, bem como, busca situar as atividades do design industrial nesta problemática. DESIGN (SUSTENTÁVEL) E ECODESIGN
3 Manzini e Vezzoli (2002) oferecem aos designers brasileiros uma boa distinção para a palavra Ecodesign ao abordar a questão em seu livro "O desenvolvimento de produtos sustentáveis". Ali, Manzini, especialmente, evidencia que o termo, mesmo dando a idéia do que seja, está muito longe de apresentar uma definição precisa do seu significado não podendo se limitar ao sistema produtivo industrial. É preciso lembrar que os dois termos eco (da ecologia) e design possuem vastos campos semânticos, e, desta forma, estão cercados da indeterminação. (MANZINI e VEZZOLI, 2002, p17). Design, pela amplidão de seu significado na língua inglesa, é utilizado para nomear atividades profissionais muito distintas (molecular design, music design, etc.) E deve-se somar a isto, o fato que design é antes mais nada, uma metodologia criativa, que está sendo vastamente utilizada como resposta para os complexos problemas globais contemporâneos. Quanto ao prefixo eco, as coisas não são diferentes, basta lembrar das palavras ecoeficiência, eco-indicadores, ou as eco-cidades, do livro de Nancy Jack & John Todd. Isto quer dizer, é necessário considerar que os níveis de intervenção do homem sobre o meio ambiente, são regulados por vários segmentos sejam eles, públicos, privados, ONG s, entre outros. Desta forma, é possível encontrar o conceito de ecodesign em cada um dos diferentes âmbitos da atividade projetual, pois, com uma análise atenta da sua práxis, é possível delimitar um conjunto de questões diretamente ligadas ao tema ambiental. Enfim, o ecodesign passa a ser o novo marco diretivo da humanidade para o gerenciamento de qualquer conflito ambiental, e não somente àqueles ligados ao entorno dos produtos industriais, mas articulando o projeto para a sustentabilidade em diversas escalas produtivas da sociedade em direção à democracia política, à eqüidade social, à eficiência econômica, à preservação ambiental e à diversidade cultural. Continuando o raciocínio de Manzini (2002), no amplo espectro do ecodesign, situam-se as relações produtivas do design industrial (ou desenho industrial), que também deve ser entendido no seu significado mais amplo e atual, não se aplicando somente a um produto físico (definido por material, forma e função), ou aos serviços e aos novos estilos de vida das sociedades. É preciso ainda lembrar, que a palavra design, enfrenta no Brasil, a grande dificuldade de não conseguir ser perfeitamente traduzível. Sobretudo, em nossa sociedade costuma-se definir a atividade de design industrial como responsável por criar "aparências agradáveis" ou definir estilos para os produtos industriais, deixando-se de lado uma série de contribuições que um bom projeto de design poderia trazer para o produto. Pode-se dizer que o processo de design é definido como um grande sistema processador de informações. Na entrada desse processo estão classes de informações que definem uma situação de problema, mercados e beneficiários do produto, recursos disponíveis (tecnológicos, financeiros, humanos, etc.), aspectos sócio-culturais e legais, dentre outros. E na saída desse processo encontram-se não só um produto, mas, classes de informações que serão identificadas pelo mercado e que posicionarão um determinado produto perante seus concorrentes como, por exemplo: boa relação custo-benefício, desempenho técnico,
4 valores culturais agregados, viabilidade de produção, adequação do produto ou serviço à legislação, confiabilidade, estética agradável, etc. Porém, se considerada a crescente importância da sustentabilidade e do impacto ambiental que a atividade do design pode provocar, parece evidente que sejam agregadas novas classes de informações que deverão ser identificadas pela transformação na natureza das variáveis implícitas na produção industrial, necessitando, portanto, de uma revisão dos empenhos racional e sensível do designer industrial, para neutralizar os efeitos ambientais negativos gerados pelas atividades produtivas. Assim, o design industrial pode ser sintetizado como a atividade que, ligando o tecnicamente possível com o ecologicamente necessário, faz nascer novas propostas, que sejam social e culturalmente apreciáveis. interagir nestes diversos campos do conhecimento significa ter o domínio de uma visão global na hora de projetar, explicitando o caráter interdisciplinar do design. Hoje, é preciso concordar com Papanek (1995) em sua preocupação com os limites de atuação do designer, quando este pesquisador coloca que não cabe ao profissional apenas incorporar novas tecnologias, nem conformar-se com a discussão superficial da beleza. A compilação da tecnologia e sensibilidade, que fundamenta o design, possui um caráter fundamental que permite reorientar as relações entre consumo e desperdício, e despertar assim, as ações para a sustentabilidade do Planeta. CRIAÇÃO E POLUIÇÃO A criação de produtos com tempo de vida cada vez mais curto, aliada à substituição movida pela constante renovação das formas, contribuiu sobremaneira para o sucateamento dos produtos e o aumento do volume de lixo, sugerindo uma mudança de atitudes em todos os níveis sociais e econômicos. O primeiro grande impacto sobre a crença de um crescimento industrial infinito se deu no início dos anos setenta, quando se fez público, em 1972, o relatório do Clube de Roma sobre a situação da humanidade (BURDEK, 1994, p. 58). Segundo os autores deste informe, com o título "Os limites do Crescimento", um crescimento exponencial contínuo das nações industrializadas às levaria em um futuro próximo a perder a base de sua própria existência. A rápida desaparição das reservas de matérias-primas; a crescente densidade demográfica; assim como a contaminação progressiva do meio ambiente, levariam a desestabilização, quer dizer, ao colapso da sociedade industrial. Porém, partindo-se destas mesmas preocupações, Vitor Papanek, já em 1971, havia lançado o seu "Design for the Real World. Human Ecology and Social Change", um livro que abordava a questão da nossa cultura "Clenex", isto é, a cultura da obsolescência programada e da descartabilidade. (CORRÊA, 2002).
5 Com esta mesma consciência ecológica, uma equipe da Escola Superior de Design de Offenbach chamada "des-in" desenvolveu em 1974, para um concurso de Design em Berlim, uma das primeiras propostas de design com reciclados. No entanto, este modelo, que incluía a realização do projeto, a produção e a venda dos próprios produtos, fracassou, sobretudo por causa de limitações econômicas. Não obstante, "des-in" foi o primeiro grupo que tentou, na prática, conectar alternativas de projeto sustentável (BURDEK, 1994). Papanek, em 1983, volta a escrever sobre os problemas ambientais no contexto do design. Mas, com o livro "The green imperative Ecology and ethics in Design and Architecture", aquele pesquisador dedica-se totalmente a falar sobre sustentabilidade, e, entre outros assuntos, alerta os designers a reconhecer que os produtos passam pelo menos por seis fases potencialmente perigosas em termos ecológicos. (PAPANEK, 1995). São elas: A escolha dos materiais A escolha de materiais, tanto pelo designer como pelo fabricante, é crucial. Conscientizar os designers de que as opções e as decisões no seu trabalho podem ter conseqüências ecológicas de longo alcance e em longo prazo. O processo de fabricação Na fabricação dos produtos, muitos processos industriais danosos ao meio ambiente, podem ser evitados a partir do momento em que se desenham novas formas, modelos ou se utilizem novos materiais. Tanto o designer quanto o fabricante podem atuar de maneira direta na resolução destes problemas. Embalagem do produto O designer tem diversas opções quando cria a embalagem em que o produto será transportado, comercializado e distribuído. É, portanto, crucial que o designer tenha em conta a ecologia ao considerar as formas, os materiais e os métodos, na fase de projetar uma embalagem. O produto acabado Em muitos casos, são lançadas diferentes versões para um mesmo artigo, aumentando a velocidade da obsolescência. Como a fabricação da maior parte dos produtos industriais e de consumo gasta matérias-primas insubstituíveis, a profusão de objetos existentes no mercado constitui uma profunda ameaça ecológica. Uma estética bem constituída pode reduzir consideravelmente o desejo de renovação constante. Transportar o produto O transporte dos produtos contribui também para a poluição, pois consome combustíveis fósseis e cria a necessidade de um complexo conjunto de estradas, vias férreas, portos e armazéns, além de centros de distribuição. Por isso, volume e peso são premissas importantíssimas no momento da criação de novos produtos.
6 Lixo A grande maioria dos produtos e embalagens tem conseqüências negativas depois de terminada a sua utilidade, gerando quantidades inestimáveis de lixo e desperdício. Este aspecto não tem sido levado em consideração pela grande maioria dos designers. É possível observar que o design desempenha um papel central, capaz de levar novos compromissos a produtos e serviços, reduzindo danos ao ambiente na prevenção da poluição, no uso racional de matérias primas e recursos naturais. Frente a este contexto, cabe ao designer tomar atitudes de mudança: quantitativas, diminuindo o consumo de recursos; e qualitativas, buscando tecnologias limpas; além de estimular as inovações sociais e culturais que permitam esta mudança. Porém, os valores de uma sociedade sustentável estão apenas começando sua transição, e neste sentido muito ainda precisa ser feito, como foi percebido por Selle (apud BÜRDEK, 1994, p.154) "Não existe nenhuma teoria cultural e social para o design, nenhuma investigação sobre questões de ecologia estética, de antropologia da utilização ou de psicologia do uso. Os fundamentos dos efeitos do design continuam sendo desconhecidos, e não se deseja nenhuma hermenêutica da cultura industrial". ALTERNATIVAS DO DESIGN INDUSTRIAL PARA REDUÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS O discurso ambientalista se orienta para modificar a ordem econômica dominante mediante a incorporação de normas ecológicas e a aplicação de novos instrumentos econômicos. Conforme Leff (2001), essa racionalidade ambiental integra os princípios éticos, as bases materiais, os instrumentos técnicos e jurídicos e as ações orientadas para a gestão democrática e sustentável do desenvolvimento. A racionalidade ambiental incorpora um conjunto de valores e critérios que não podem ser avaliados em termos do modelo de racionalidade econômica, nem reduzidos a uma medida de mercado. A visão exclusivamente preservacionista pode e deve existir, porém limitada a regiões e situações bastante específicas, pois hoje é difícil, e quase impossível, a aceitação de condições de vida que signifiquem abrir mão de confortos materiais já alcançados, ligados ao uso de combustíveis, energia e bens materiais imprescindíveis à vida moderna. Seguindo esta filosofia, o ICSID (International Council of Societies of Industrial Design) reconsiderou as condições necessárias para a nova sociedade global, e redefiniu a responsabilidade para o designer industrial. Ao consultar a página do ICSID na internet, encontraremos o Design identificado como fator de inovação tecnológica capaz de contribuir para o desenvolvimento sustentável. "[...] O Design busca descobrir e avaliar as relações estrutural, organizacional, expressiva e econômica, com a tarefa de:
7 Realçar a sustentabilidade global e a proteção ambiental (ética global) Promover benefícios e liberdade para a comunidade humana inteira, individual e coletiva. Reunir usuários finais, produtores e mercado (ética social) Dar suporte à diversidade cultural, apesar da globalização do mundo (ética cultural) Dar aos produtos, serviços e sistemas, aquelas formas que são expressivas (semiologia) e coerentes com (estética) suas peculiares complexidades." Redimensionada sua postura, o designer deve mudar a forma de atuar, possibilitando a liberdade de propor novos ou outros caminhos a seguir. Para tanto, deve utilizar seus conhecimentos científicos e intuitivos sob um novo ponto de vista ético, que oriente suas produções em direção a equilíbrios aceitáveis entre o ambiente artificial e as leis da Natureza. Assim, conforme o raciocínio de Manzini (2000), o designer passa a interagir de maneira mais abrangente, denominada como design para a sustentabilidade, descrita, de forma resumida, sob três esferas de atuação: Redesign ecológico de produtos existentes, atuando no ciclo de vida do produto, melhorando sua eficiência em termos de consumo de material e energia e simplificando a sua reciclagem ou destino final; Design de novos produtos ou serviços substituindo os atuais, buscando a criação de produtos mais favoráveis do ponto de vista ecológico; Design de novos cenários ambientais correspondentes à revisão dos estilos de vida (padrões de uso e consumo). Para melhor esclarecer, estas possibilidades são brevemente comentadas abaixo: O design e o redesign ecológico Em princípio pode-se falar do mais simples e comum, que é o redesign, que, em linhas gerais, consiste no processo de melhoramento de um produto já conhecido e produzido pela empresa. Mesmo sendo comum, essa atividade tem uma natureza complexa, pois abrange diversas atividades, desde a identificação de oportunidades de melhorias, até a proposição de mudanças que podem compreender os aspectos funcionais, os princípios de solução, a configuração e detalhes do produto. No entanto, as melhorias do produto numa atividade de redesign estão relacionadas, principalmente à inclusão de diferentes características da qualidade de produção, tais como: desenvolvimento rápido; custos baixos; facilidade para fabricar e montar; confiabilidade no baixo impacto ambiental, sem negligência à funcionalidade etc.
8 Já para o design de novos produtos ou serviços, as vantagens não dizem respeito somente às melhorias implementadas para as reduções de emissões e resíduos da produção. Este âmbito de intervenção requer novas propostas que podem ser reconhecidas como válidas e socialmente aceitas. Isto é, devem ser considerados critérios ecológicos que podem, em princípio apresentar dificuldades ao inserir produtos e serviços (que substituam produtos existentes) no âmbito de um quadro cultural e comportamental que continua dominado por expectativas e valores diferentes. Assim, devido à reação da sociedade, poucas iniciativas concretas já foram realizadas e tiveram efetivamente continuidade, tais como carros movidos à energia solar ou máquinas de lavar roupa que reutilizam a água do enxágüe, sem contar as peças de vestuário confeccionadas com matérias primas recicladas. Tanto no design como no redesign, a formação de redes de interação ecológica é muito importante, entre empresas fabricantes que utilizam insumos, processos de produção, onde conseqüentemente ocorrem sobras, refugos e desperdícios de materiais que por sua vez podem ser reutilizados por outras empresas. Denis (2000, p.220) sintetiza esta tendência, alertando o designer a pensar cada vez mais em termos de ciclo de vida dos produtos projetados, gerando soluções que otimizem três fatores: O uso de materiais não poluentes e de baixo consumo de energia; Eficiência de operação e facilidade de manutenção do produto; Potencial de reutilização e reciclagem após o descarte. No entanto, algo mais abrangente precisa ser feito, para que o resultado do processo de design esteja de acordo com as atuais demandas da sociedade. Mudando os estilos de vida do ser humano A mudança nos padrões de consumo e produção na sociedade é crucial para qualquer proposta resulte efetivamente no desenvolvimento sustentável. E para encontrar novos modelos alternativos, é preciso aprender a valorizar e usar de forma racional os seus recursos naturais, isto envolve não só a idéia de produção mais limpa, mas também, considerar o desenvolvimento de sistemas de produtos e serviços cuja idéia central seja a ênfase na prestação de serviço que pode reduzir os impactos ambientais. Isto implica em mudança nos estilos de vida, tanto para as sociedades desenvolvidas quanto nas sociedades em desenvolvimento. Deve-se entender que a tarefa do designer não é a de projetar estilos de vida, mas sim, de propor oportunidades que tornem praticáveis estilos de vida sustentáveis. Significa reorientar os sistemas de produção e de consumo para uma ótica na existência de valores positivos e de critérios de qualidade como base da nova geração de produtos e de serviços. Como esses valores e esses critérios não podem ser inventados, eles precisam ser
9 percebidos na própria sociedade, através da observação das dinâmicas evolutivas que a transformam. Baseados em certos comportamentos inovadores e na diversidade de culturas, o designer, em suas habilidades sensíveis, deverá percorrer os "sinais" que poderão servir de referência para suas criações na direção de um desenvolvimento sustentável. Algo similar à antiga etapa metodológica da "busca de novos segmentos de mercado". Manzini (2002, p.73) esclarece que, para o designer intervir nas mudanças de estilos de vida, significa perceber as novas orientações culturais e de consumo que a sociedade emite, para, então, re-elaborá-las em forma de propostas mais sólidas e estruturadas, levando-as a um grau maior de visibilidade. Assim, pode-se criar nova demanda e, portanto, nova oferta, aumentando o mercado e criando, por sua vez, novos padrões de qualidade. Em termos práticos, a idéia é, tornar possível uma redução de consumo de recursos que não se configure como uma catástrofe econômica, mas potencialize uma desmaterialização dos produtos. Quer dizer, um produtor que ofereça não automóveis, mas mobilidade; não máquinas de lavar roupa, mas limpeza e manutenção do vestuário. CONCLUSÕES Sabendo que todo o produto, em maior ou menor grau, causa impacto ambiental durante o seu ciclo de vida, o designer não pode mais ignorar a necessidade de priorizar seus conhecimentos na área da sustentabilidade dos produtos. Neste âmbito, é possível imaginar que a atuação do designer passa a ser de caráter preventivo no sentido de reduzir, e até eliminar impactos ambientais, contribuindo para que muitas medidas e gastos com as tecnologias de fim de processo, como filtros, incineradores e estações de tratamento de efluentes, possam ser reduzidos ou até evitados. Sem esquecer, no entanto, que só é possível existir a sustentabilidade ambiental em uma sociedade que a promova e a sustente, portanto, envolve também, redesenhar a desmaterialização da produção. Em suma, deve-se ter o design industrial, hoje, como um modo holístico de solução de problemas industriais, não somente na conformação de produtos, mas de serviços que facilitem a vida e contribuam na criação de novos hábitos de uso e consumo das populações. E, por sua vez, lembrar que o ecodesign não se limita só ao design industrial, mas a todos os campos das atividades humanas. Assim, ao nosso entender, significa que todo profissional, em suas ações, deve buscar o desenvolvimento de estratégias globais, de consenso, destinadas a reduzir e/ou eliminar os conflitos ambientais que comprometam quaisquer ecossistemas do planeta.
10 Referências Bibliográficas BÜRDEK, B. E. Diseño: historia, teoría y práctica del diseño industrial. Barcelona: Gustavo Gili, CALÇADA, A.; MENDES, F.; BARATA, M. (Coord.). Design em aberto: uma antologia. Porto: Centro Portugues de Design, CORRÊA, R. O. Eco-Design: Inquietações e Reflexões a Respeito de um Tema. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO /P&D DESIGN, 5., 2002, Brasília. Anais digitais. Brasília: UnB, DENIS, R. C. Uma introdução à história do design. São Paulo : Edgard Blücher, LEAL, L.; OLIVEIRA, A. J. Demanda de Informações Sobre Ecodesign por Projetistas de Produto. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO/P&D DESIGN, 5., 2002, Brasília. Anais Digitais. Brasília: UnB, LEFF, E. Epistemologia ambiental. São Paulo: Cortez, MALDONADO, T. Desenho Industrial. Lisboa: Edições 70, MANZINI, E.; VEZZOLI, C. O desenvolvimento de produtos sustentáveis. São Paulo: USP, PAPANEK, V. The green imperative: ecology and ethics in Design and Architecture. Singapore: C.S. Graphics, 1995.
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