DIVERSIDADE SEXUAL E FORMAÇÃO EM PSICOLOGIA: UM CAMINHO A SER PERCORRIDO 1
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- Ângelo Marcos Aveiro Cabreira
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1 DIVERSIDADE SEXUAL E FORMAÇÃO EM PSICOLOGIA: UM CAMINHO A SER PERCORRIDO 1 CHRISTO, Aline Estivalet de 2 ; MOTTA, Roberta Fin 3 1 Trabalho de Pesquisa referente ao Projeto de Trabalho Final de Graduação (TFG) do Curso de Psicologia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil. 2 Acadêmica do 10º Semestre do Curso de Psicologia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil. 3 Docente do Curso Psicologia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA) e Orientadora do Trabalho Final de Graduação (TFG), Santa Maria, RS, Brasil. alinee_christo@hotmail.com; roberta.fm@hotmail.com RESUMO Esse trabalho é um recorte de um Trabalho Final de Graduação. O mesmo tem como objetivo geral refletir e fomentar o debate sobre a diversidade sexual na formação em psicologia. É uma pesquisa bibliográfica, que contém um breve referencial teórico importante para a problematização que se objetiva. Portanto, pode-se inferir que essa discussão é muito válida para a psicologia, enquanto ciência e profissão, pois, sabe-se que a diversidade sexual é uma questão cada vez mais relevante na prática do psicólogo, porém, ainda não é um tema muito trabalhado na academia. Palavras-chave: Diversidade Sexual, Formação, Psicologia. 1. INTRODUÇÃO A psicologia, assim como as demais áreas do conhecimento, precisa estar em constante adaptação. Dessa forma, é pertinente criar espaços de problematização sobre diferentes assuntos que permeiam a psicologia. Assim, o trabalho pretende possibilitar uma reflexão sobre a diversidade sexual e a formação em psicologia. Pois, percebe-se que a partir das discussões e inserção de temas como esse, já na graduação, é possível obter efeitos que podem ser positivos para a psicologia. A diversidade sexual é um tema que passou por várias mudanças nos últimos anos e vem sendo muito explorado por outras áreas como o direito, a educação, o serviço social, entre outras. Porém percebe-se que a psicologia poderia estar mais implicada com o assunto, pois questões que envolvem a diversidade sexual são cada vez mais presentes na prática do psicólogo. Assim, torna-se relevante salientar a problematização de um tema como esse, já na graduação, o que pode contribuir com a prática dos estudantes nos estágios, bem como na formação de novos psicólogos. Segundo Santos, Costa, Carpeneto e Nardi (2011), é importante que se trabalhe com os futuros psicólogos, no intuito de sensibilizá-los quanto ao possível caráter heterossexista da formação, visto que poderão ser profissionais capazes de propor uma escuta atenta aos efeitos do preconceito na concepção dos sujeitos. 1
2 2. EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO EM PSICOLOGIA NO CONTEXTO DA DIVERSIDADE SEXUAL As instituições de ensino podem ser consideradas importantes espaços de socialização, desempenhando um papel essencial sobre a produção e reprodução em torno dos gêneros e identidades sexuais. Desta forma, um problema frequente na escola é a discriminação quanto à orientação sexual, muitas vezes, gerando comportamentos homofóbicos entre alunos e até mesmo professores (FELIPE, 2007). Questões que envolvem a sexualidade, ainda são muito limitadas ao serem trabalhadas na escola, pois conforme Felipe (2007), no âmbito escolar, já se observa um esforço em tentar abordar o assunto, porém, sempre no viés do biológico, na tentativa de explicar a reprodução e prevenção de gravidez precoce e de doenças sexualmente transmissíveis. Nesse sentido, para pensar em como a sexualidade é trabalhada na escola, é necessário refletir em como o social percebe essa sexualidade. É preciso compreender de que forma a cultura e os grupos sociais produzem estratégias de controle sobre os corpos, criando expectativas em torno das meninas e meninos, estabelecendo padrões de comportamento, categorizando essas crianças como normais ou anormais (FELIPE, 2007). Essa característica de funcionamento da escola, em prol da cultura ou de grupos sociais pode ser explicada por Nardi (2008), quando o mesmo refere que, a escola passa a ser um lugar de aprendizagem de modelos pré-estabelecidos, como o modelo de gênero e de higiene do sexo, tornando-se, assim, uma possibilidade de controle da população. Sabe-se que existem iniciativas e programas educacionais na tentativa de reverter o preconceito e a discriminação associados à diversidade sexual no campo da educação e das políticas públicas. Porém, ainda, encontram dificuldades na prática, por serem possibilidades novas, pois, segundo Nardi (2008), as políticas de educação que visam uma educação não discriminatória são recentes e resultantes dos movimentos sociais dos últimos 40 anos. Referente a esses problemas encontrados na prática das políticas públicas e programas educacionais, Nardi (2011) acrescenta que, a implantação de programas educacionais ainda encontra impasses, no Brasil, devido à falta de formação de professores, e/ou ao preconceito articulado às questões de religião, classe social, racialização das relações sociais e às estruturas e dinâmicas sociais constituídas a partir da heteronormatividade. Dessa forma, pode-se pensar que a psicologia, assim como a educação, encontra dificuldades ao tentar se reinventar ou se desprender do padrão escolar e de ensino. Podese tomar como exemplo os posicionamentos ético-político-social e histórico da psicologia e a 2
3 formação da mesma, pois, segundo Hernandez e Santos (2011), a psicologia se constituiu mediante uma lógica de modificação do humano. A área estabelece poderes normativos e coercitivos, pois seu explícito interesse de domínio sobre as pessoas, estratégias de classificação, esquadrinhamento, correção e cura demonstraram isso, ao longo da história. Nesse sentido, a psicologia contribuiu e reforçou algumas práticas que tentam normatizar os sujeitos. Ela surge num contexto em que corpos e mentes insanos deveriam ser excluídos, medicalizados, corrigidos, disciplinados, homogeneizados. Ou seja, a psiquiatrização, exclusão e o diagnóstico de corpos cheios de vontades, desejos, anomalias e loucuras foram excelentes mecanismos para conter a desordem (HERNANDEZ E SANTOS, 2011). Contudo, a psicologia, que inicialmente classificava a homossexualidade como uma doença, guiada por um modelo biomédico, também precisou se modificar. Mesmo com todas as transformações sociais, o Conselho Federal de Psicologia em resolução de 1999, teve o cuidado de alertar os psicólogos brasileiros sobre o fato de que a homossexualidade não é doença, que na sociedade existe uma inquietação em torno de práticas sexuais que fogem a norma estabelecida sócio-culturalmente (TONELI, 2008). A resolução do CFP 001/1999 foi importante para auxiliar os psicólogos como devem trabalhar com a diversidade sexual. Conforme essa resolução, o Art. 2º salienta que os psicólogos deverão contribuir, com seu conhecimento, para uma reflexão sobre o preconceito e o desaparecimento de discriminações e estigmatizações contra aqueles que apresentam comportamentos ou práticas homoeróticas (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 1999, p. 2). Fazendo parte desse movimento, na tentativa de diminuir a discriminação e ter uma psicologia mais condizente com a realidade, foi necessário mudar, também a formação. Assim, em 2004 instituíram-se as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação em psicologia. As diretrizes constituem as orientações sobre princípios, fundamentos, condições de oferecimento e procedimentos para o planejamento, a implementação e a avaliação deste curso (CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO e CÂMARA DE EDUCAÇÃO SUPERIOR, 2004). Nesse sentido, além da psicologia, os cursos da área da saúde estão passando por adaptações e mudanças, pois segundo Ceccim e Feuerwerker (2004), a formação em saúde precisa capacitar os futuros profissionais para oferecer uma atenção integral à população. Pois, as diretrizes constitucionais do Sistema Único de Saúde (SUS) já exigem isso, ou seja, devem ser tomadas como determinantes na formulação das mudanças na graduação, já que é uma exigência do direito à saúde. Percebe-se que a psicologia, aos poucos, vem trabalhando para diminuir o preconceito e discriminação em relação à diversidade sexual. Prova disso, é a Resolução do 3
4 CFP (Conselho Federal de Psicologia) nº 014/11, a qual possibilita às pessoas transexuais e travestis o direito à escolha de tratamento nominal a ser inserido no campo observação da Carteira de Identidade Profissional do Psicólogo, através da indicação do nome social (CFP, 2011). Dessa forma, a academia precisa se aproximar da realidade brasileira, mudando não só seu currículo, mas principalmente a forma como olha/trabalha com os sujeitos. Com isso, percebe-se a necessidade de repensar sobre o que se tem produzido, na psicologia, enquanto ciência e profissão. Para assim, refletir e criar espaços de problematização de assuntos importantes, que talvez não estejam sendo abordados na graduação, por exemplo, a diversidade sexual. 3. METODOLOGIA Este trabalho trata-se de uma pesquisa bibliográfica, que conforme Gil (2006), é um tipo de pesquisa que se desenvolve baseada em materiais já elaborados, principalmente de livros e artigos científicos. Dessa forma, a pesquisa bibliográfica não é mera repetição do que já foi dito ou escrito sobre certo assunto, mas propicia o exame de um tema sob novo enfoque ou abordagem, chegando a conclusões inovadoras, pela organização do material, segundo as tendências ou versões com que determinado assunto é abordado. 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES A diversidade sexual deve ser analisada considerando-se o contexto histórico, ético, político e social. E por ser de uma questão constituinte ao ser humano, a diversidade sexual precisa ser tratada com a devida atenção e importância, não só pela psicologia, mas por todas as áreas que trabalham com pessoas. Principalmente a psicologia, que trabalha com subjetividade as especificidades do ser humano. É interessante pensar nos modelos de ensino que se tem até hoje, as consequências que esse modelo tem causado desde o ensino fundamental até a graduação. Pode-se questionar isso e pensar o quanto a psicologia pode ter contribuído com esse processo. E até mesmo problematizar o motivo pelo qual a graduação de psicologia ainda é influenciada por esse padrão heterossexista e muitas vezes acaba reproduzindo o modelo de ensino tradicional. Desta forma, é imprescindível uma maior implicação da psicologia com a diversidade sexual e suas nuances, a fim de colaborar com estudos na área. Além disso, a psicologia enquanto ciência e profissão poderia ampliar essa discussão, e pensar em possibilidades de 4
5 atividades teórico-práticas, que abordem a diversidade sexual, desde a graduação, no currículo, e/ou nas possibilidades de Ensino, Pesquisa e Extensão. 5. CONCLUSÃO Assim, percebeu-se a necessidade de se questionar sobre o envolvimento da psicologia nas questões referentes a diversidade sexual, bem como identificar no que e como a psicologia vem contribuindo com o assunto. Também, observou-se que é importante que o psicólogo esteja atento a história da psicologia e o que ela tem a ver com as mudanças sociais, que afetam a vida dos sujeitos até hoje. Assim, percebe-se que apesar de já ter algumas iniciativas, a psicologia precisa se implicar cada vez mais com as questões que envolvem a diversidade sexual, uma vez que a mesma está e faz parte do sujeitos assistidos pelos profissionais. Sabe-se que assuntos que, de alguma forma, remetem à sexualidade são delicados, pois frequentemente estão atrelados às questões subjetivas e culturais, como o preconceito. Dessa forma, se torna bastante relevante pensar como os estudantes de psicologia estão sendo preparados para lidar com essas questões. Ou até mesmo refletir se os psicólogos e os professores de psicologia estão conseguindo trabalhar temas como a diversidade sexual na academia. Tais reflexões são delicadas, por perpassarem a cada pessoa, não apenas como profissional ou estudante de psicologia, mas como ser humano, pois são carregadas de opiniões e preconceitos subjetivos e inerentes a cada um. Mesmo assim, essa reflexão é válida, pois pode ser uma possibilidade de se problematizar a psicologia, enquanto ciência e profissão, na tentativa de que essa esteja em constante atualização e crescimento. REFERÊNCIAS CÂMARA DE EDUCAÇÃO SUPERIOR E CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. Notícia: Diretrizes Curriculares Nacionais Para os Cursos de Graduação em Psicologia. Psicologia: Teoria e Pesquisa. Mai-Ago 2004, Vol. 20 n. 2, p Disponível em: otm:// acesso em: 1 de jun. de CECCIM, R. B; FEUERWERKER L. C. M. Mudança na graduação das profissões de saúde sob o eixo da integralidade. Caderno de Saúde Pública v.20 n. 5 Rio de Janeiro, set./out Disponível em: Acesso: 05 de jun. de CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA Resolução 001/1999. Estabelece normas de atuação para os psicólogos em relação à questão da orientação sexual. Brasília: CFP. 5
6 FELIPE, J. Gênero, sexualidade e a produção de pesquisas no campo da educação: possibilidades, limites e a formulação de políticas públicas. Pro-Posições, v. 18, n. 2 maio/agosto Disponível em: otm://mail.fae.unicamp.br/~proposicoes/textos/53-dossie-felipej.pdf Acesso em: 14 maio de GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5.ed. São Paulo: Atlas, HERNANDEZ, A.; SANTOS, T. C. B. dos. Por uma psicologia de Estranho: Identidades fronteiriças, territórios marginais, vontade de poder. In: TOMANIK, E. A.; CANIATO, A. M. P. (Orgs.). Psicologia social desafios e ações. Maringá: Abrapso, p Disponível em: otm:// Acesso em: 01 de jun. de NARDI, H. C. O estatuto da diversidade sexual nas políticas de educação no Brasil e na França: a comparação como ferramenta de desnaturalização do cotidiano de pesquisa. Psicologia e Sociedade, V , p NARDI, H. C. Psicologia, diversidade sexual e políticas públicas de educação: um novo dispositivo da sexualidade? In: TOMANIK, E. A.; CANIATO, A. M. P. Psicologia Social: desafios e ações. Maringá: Abrapso, p SANTOS, C. B. dos; COSTA, A. B.; CARPENETO, M.; NARDI, H. C. A diversidade sexual no ensino de Psicologia. O cinema como ferramenta de intervenção e pesquisa. Sexualidad, Salud y Sociedad - Revista LatinoamericanaI. n.7 - abr p TONELI, M. J. F. Diversidade sexual humana: notas para a discussão no âmbito da psicologia e dos direitos humanos. Psic. Clin. Rio de Janeiro, vol.20, n. 2, p.6,
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