TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Transcrição

1 TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº , da Comarca de Atibaia, em que é apelante AILTON PEREIRA DA CRUZ, é apelado PAREX BRASIL INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE ARGAMASSAS LTDA. ACORDAM, em 4ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V.U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores ENIO ZULIANI (Presidente), MAIA DA CUNHA E TEIXEIRA LEITE. São Paulo, 27 de março de ENIO ZULIANI RELATOR Assinatura Eletrônica

2 VOTO N.º: APELAÇÃO Nº: COMARCA: ATIBAIA APELANTE: AILTON PEREIRA DA CRUZ APELADO: PAREX BRASIL INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE ARGAMASSAS LTDA JUIZ PROLATOR: RAFAEL PAVAN DE MORAES FILGUEIRA RESPONSABILIDADE CIVIL. Aquisição de argamassa para colocação de pastilhas em piscina que, posteriormente, esfarela resultando descolamento daquelas. Conjunto fático probatório que indica não haver qualquer defeito no produto em si, mas que as pastilhas que revestiam a piscina se soltaram em decorrência da má execução do serviço e/ou pela inadequação de tratamento da água. Em virtude de tal serviço não ter sido executado pela ré, não há nexo de causalidade que imponha o dever de indenizar. A ré não concorreu para os danos experimentados pelo autor, eis que é apenas a fabricante do produto, o qual é indicado para esse tipo de obra. Improcedência que se baseia no art. 12, 3, II, do CDC. Alegação de violação do direito de informação (art. 6º, III, do CDC e no art. 5, XIV, da CF) que não estava inserta na inicial. Pretensão de ampliar a causa petendi extemporaneamente. Vedação. Inteligência dos artigos 128 e 460 do CPC. Recurso não provido. Vistos. AILTON PEREIRA DA CRUZ ingressou com ação de indenização por danos morais e materiais em face de PAREX BRASIL INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE ARGAMASSAS LTDA. alegando que adquiriu 24 sacos da argamassa produzida pela ré; que contratou engenheiro para realizar o acompanhamento técnico da colocação da mesma na piscina de sua Apelação nº Atibaia - Voto nº V 2

3 residência; que seguiu todas as recomendações da fabricante; que passado algum tempo a piscina apresentou uma coloração leitosa devido ao esfarelamento da argamassa. Em razão desse relato salienta que deverá trocar a argamassa, as pastilhas, além de ter que gastar com a mão-de-obra para a colocação do produto. Aduz que seu prejuízo foi de R$19.994,00. Contestação da ré (fls. 41/51) alegando, preliminarmente, a decadência e, no mérito, aduziu a necessidade de extinção do feito em razão da necessidade de perícia técnica (processo inicialmente proposto no juizado especial), a exclusão de sua responsabilidade civil já que o produto não possuía qualquer defeito de fabricação e a improcedência da ação. Tentativa de conciliação infrutífera (fls. 57). Na audiência de instrução e julgamento (fls. 59/60) foi afastada a preliminar aventada e o processo encaminhado para a 1ª Vara Cível em razão da incompetência do juizado especial para o seu julgamento. Réplica às fls. 71/81, momento em que juntou mais 02 orçamentos para o reparo de sua piscina (fls. 82/83). Despacho saneador (fls. 86/88) afastando a decadência e delimitando os pontos controvertidos. Deferiu o pedido de inversão do ônus da prova e determinou a prova pericial. Laudo pericial às fls. 105/143. Manifestação do autor (fls. 150/217) requerendo a nulidade do laudo e a realização de nova perícia. Manifestação do perito às fls. 233/244. Sentença de fls. 282/283 julgando improcedente o pedido, por entender que o conjunto probatório não permite a condenação da ré. A Apelação nº Atibaia - Voto nº V 3

4 sentença se baseou no laudo pericial o qual atestou que o esfarelamento da argamassa não se deu em decorrência da má qualidade desta, mas pela incompatibilidade da qualidade da água da piscina com as especificações necessárias ou a aplicação errada da argamassa quando da construção da piscina. Embargos declaratórios opostos às fls. 288/291 os quais foram julgados improcedentes (fls. 292) devido ao caráter infringente. Apelação às fls. 297/311 reafirmando os termos da inicial e requerendo a declaração da nulidade do laudo com a realização de nova pericia. Contrarrazões às fls. 316/321. É o relatório. A r. sentença deve ser mantida. De início, rechaça-se o pedido de declaração de nulidade do laudo pericial, tendo em vista que o laudo acostado nos autos está bem fundamento e instruído não havendo que se falar em determinação de nova pericia. Não há qualquer nulidade a ser sanada. Da leitura atenta depreende-se que a prova técnica levada a efeito nos presentes autos, sob o crivo do contraditório, não deixa dúvidas de que os problemas apresentados na piscina do autor ocorreram por duas causas, quais sejam: erro na aplicação da argamassa e/ou tratamento inadequado da água da piscina. Muito embora o autor não tenha guardado amostra da argamassa utilizada (para avaliação pericial) não há qualquer evidência nos autos que revelem defeito no produto adquirido, pois como aduziu o perito: Apelação nº Atibaia - Voto nº V 4

5 pouco provável que a argamassa tenha sido o motivo, pois praticamente nunca souberam de ocorrência parecida. Por outro lado, falhas de aplicação de argamassa e tratamento inadequado da água acontecem regularmente. Perfilham da mesma opinião os quatro especialistas consultados pelo perito. De outro turno, não há qualquer registro fotográfico ou laudo de acompanhamento do referido serviço de aplicação do produto em sua piscina que demonstre a qualidade do serviço prestado. Ou seja, o conjunto fático probatório indica que não havia qualquer defeito no produto em si, mas que as pastilhas que revestiam a piscina se soltaram em decorrência da má execução do serviço ou pela inadequação de tratamento da água. Mesmo porque o produto utilizado tem indicação para piscinas. Em virtude de tal serviço não ter sido executado pela ré, não há nexo de causalidade que imponha o dever de indenizar. A ré não concorreu para os danos experimentados pelo autor, eis que é apenas a fabricante do produto, o qual, como se viu, era mesmo indicado para a obra. As premissas reproduzidas pelo apelante já foram exaustivamente expostas ao longo do processo, sendo que todas elas já foram devidamente rebatidas pela ré e pelo perito nomeado, além de terem sido analisadas pelo juiz sentenciante. Não há qualquer fato descrito na apelação que determine a reforma da sentença. A improcedência se baseia no art. 12, 3, II, do CDC. O argumento de que foi violado o direito de informação previsto no art. 6º, III, do CDC e no art. 5, XIV, da Constituição Federal não prospera, tendo em vista que tal não estava inserto na inicial. Pretende com isso ampliar a causa de pedir extemporaneamente o que é vedado pelo Apelação nº Atibaia - Voto nº V 5

6 ordenamento (art. 128 e 460 do CPC). Registre-se apenas para finalizar que o direito de informação constante do inciso XIV do art. 5º da Constituição Federal [XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional] e citado pelo apelante divorcia-se totalmente do objeto dessa demanda. Diante do exposto, nega-se provimento ao recurso. ÊNIO SANTARELLI ZULIANI Relator Apelação nº Atibaia - Voto nº V 6