PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Registro: ACÓRDÃO

Transcrição

1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação / Reexame Necessário nº , da Comarca de Ribeirão Pires, em que são apelantes ANTONIO CANDIDO PEREIRA e CELIA APARECIDA CARDIN PEREIRA, é apelado CONCESSIONÁRIA SPMAR S/A. ACORDAM, em 7ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Rejeitada a preliminar, negaram provimento, nos termos que constarão do acórdão. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores EDUARDO GOUVÊA (Presidente sem voto), COIMBRA SCHMIDT E MAGALHÃES COELHO. São Paulo, 2 de fevereiro de Moacir Peres RELATOR Assinatura Eletrônica

2 VOTO Nº APELAÇÃO CÍVEL Nº de Ribeirão Pires APELANTE: ANTONIO CÂNDIDO PEREIRA E OUTRO APELADA: CONCESSIONÁRIA SPMAR S/A JUIZ SENTENCIANTE: JOSÉ WELLINGTON BEZERRA DA COSTA NETO DESAPROPRIAÇÃO Mantida a avaliação elaborada pelo perito judicial Laudo pericial bem elaborado, exibindo, assim, valor tendente à justa indenização? Indevida a indenização pela área remanescente, vez que não comprovados os seus limites nem o encravamento Preliminar afastada. Recurso improvido. Antônio Cândido Pereira e outro, inconformados com a r. sentença que julgou procedente a ação de desapropriação (fls. 458/460vº), interpuseram recurso de apelação. Arguem a nulidade da r. sentença, por cerceamento de defesa. Esclarecem que seria necessária perícia para demonstrar as dimensões da área remanescente. Aduzem que tal área restou encravada, sem testada para a via pública. Dizem que a desapropriação deve abranger também a área remanescente que ficou inutilizada. Pleiteiam a majoração da indenização. Invocam os artigos 5º, XXIV, e 183, 3º, da Constituição Federal. Afirmam que o assistente técnico apurou valor mais elevado, que mais se aproxima da justa indenização. Citam doutrina e julgados em defesa de sua tese. Daí, pretenderem a reforma da r. sentença (fls. 480/490). Com as contrarrazões (fls. 497/500), subiram os autos. É o relatório. A Concessionária SPMAR S/A, visando à desapropriação de uma área de ,24 m², desmembrada do imóvel registrado sob nº de matrícula do Cartório de Registro de Imóveis de Ribeirão Pires, no Município de Ribeirão Pires, propôs a presente ação, oferecendo valor indenizatório de R$ ,14 (duzentos e noventa e um mil, trezentos e Apelação / Reexame Necessário nº Ribeirão Pires 2

3 trinta e um reais e quatorze centavos), para janeiro de 2012 (fls. 2/5). O perito judicial, avaliando o imóvel objeto da presente, apurou o valor da indenização no montante de R$ ,33 (quatrocentos e três mil, seiscentos e oitenta e um reais e trinta e três centavos) para a área indicada pela expropriante e R$ ,19 (quinhentos e quarenta e sete mil, cinquenta e três reais e dezenove centavos) para o total do imóvel de propriedade dos expropriados (fls. 356/357). Constou do laudo que, em análise aos documentos apresentados no presente processo e com as informações apresentadas pelos representantes da autora na ocasião da vistoria, não está garantida uma alternativa de acesso a área remanescente após a construção do Trecho Leste do Rodoanel. Considerando que a referida rodovia é Fechada, ou seja não permite acesso ao longo do trecho, a não ser pelo acessos oficiais que interligam a via a outras rodovias. A área remanescente do Requerido ficará encravada. Conforme o item da Norma Para Avaliação de Imóveis Urbanos IBAPE/SP; 2011 'Quando o remanescente resultar inaproveitável deve ser apresentada em separado a alternativa de desapropriação total' (fls. 339). As partes impugnaram o laudo, que foi ratificado pelo perito (fls. 403/406). Após o questionamento pelo MM. Juiz acerca da existência de delimitação e descrição da área remanescente (fls. 440), o perito informou que não há descrição da área remanescente, e também em nova vistoria realizada pelo signatário em , não há delimitação clara da área remanescente (fls. 446). A r. sentença julgou a ação procedente, adotando o valor indenizatório apurado pelo perito para a primeira alternativa, ou seja, excluindo-se o valor da área remanescente (fls. 458/460vº). Afasta-se a preliminar de nulidade por cerceamento de defesa. Era ônus dos réus a prova da delimitação da área remanescente, bem como de seu encravamento, o que não foi feito nos autos (art. 333, II, do Código Apelação / Reexame Necessário nº Ribeirão Pires 3

4 de Processo Civil). Ademais, não houve pedido para a realização de laudo topográfico. No mais, deve ser mantida a r. sentença que fixou o montante indenizatório em R$ ,33. Foi utilizado para a avaliação o método comparativo direto de dados de mercado, conforme a Norma Brasileira NBR Não há razão para acolhida das impugnações do apelante, vez que o estudo do perito do juízo é abrangente e justificado (fls. 360/374). De fato, as críticas feitas ao trabalho do perito oficial foram por ele bem rebatidas e não merecem acolhida. O laudo pericial apresenta, com clareza, a forma de verificação do preço, consoante os elementos comparativos, de acordo com as normas técnicas em vigor. A questão da área remanescente resolve-se com a regra de distribuição do ônus da prova, como supramencionado. O perito do juízo indicou que a área remanescente não estava suficientemente descrita e delimitada (fls. 446). Como bem salientou o MM. Juiz da causa, parece altamente temerário fixar-se indenização de área cujas dimensões não são certas. Aliás, dada a falta de descrição adequada, a própria questão do encravamento torna-se discutível. Deste modo, a eventual desvalorização ou mesmo perda completa de aproveitabilidade econômica do remanescente deve ser debatida pela via indenizatória própria, até porque tudo indica que haverá necessidade de prévia retificação ou suprimento de registro imobiliário para atendimento à especialidade real (fls. 459vº). De fato, o montante apurado tende à justa indenização para a área indicada no decreto expropriatório, que totaliza ,24 m². Ressaltese que os apelantes são possuidores e promissário-compradores do imóvel desapropriado e não possuem registro do bem. Assim, pelos elementos constantes dos autos, não houve comprovação dos limites da área remanescente nem de seu encravamento, razão pela qual não há que se falar em ofensa aos artigos 5º, XXIV, e 183, 3º, da Constituição Federal. Apelação / Reexame Necessário nº Ribeirão Pires 4

5 Ante o exposto, afastada a preliminar, nega-se provimento ao recurso, para que subsista a r. sentença por seus próprios fundamentos. MOACIR PERES Relator Apelação / Reexame Necessário nº Ribeirão Pires 5