Memorias Convención Internacional de Salud Pública. Cuba Salud La Habana 3-7 de diciembre de 2012 ISBN
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- Márcio Morais Lima
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1 PERFIL CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICO DA TUBERCULOSE NA POPULAÇÃO INDÍGENA DO ESTADO DO AMAZONAS, BRASIL (1,2,5) Altair Seabra de Farias; (3) Gabriela Fernanda Guidelli Tavares Cardoso de Godoi; (4) Alexandra Brito de Souza; (5) Adriany Pimentão da Rocha; (1) Laís Mara Caetano da Silva; (5) Darlissom Sousa Ferreira (6) Pedro Fredemir Palha 1. Doutorando do Programa de Pós-Graduação Enfermagem em Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) 2. Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM) 3. Graduanda do Curso de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP) 4. Graduanda do Curso de Enfermagem da Laureate International Universities (UNINORTE) 5. Professor da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) 6. Professor Associado da Universidade de São Paulo (USP) Telefone: +55 (92) , BRASIL. RESUMO Introdução: O Brasil está entre os vinte e dois países que detêm 80% dos casos de tuberculose no mundo e, anualmente, notifica cerca de casos novos da doença, com uma média de 38,2 casos por 100 mil habitantes. A tuberculose é um grave problema de saúde pública no estado do Amazonas, apresentando elevadas taxas de incidência nas populações indígenas. Objetivo: Analisar o perfil clínico-epidemiológico da tuberculose entre indígenas do Estado do Amazonas, Brasil, no ano de Método: Foi conduzido um estudo descritivo retrospectivo, utilizando os casos novos de tuberculose em indígenas notificados no Sistema de Agravos de Notificação (Sinan-TB), no período de 01 de janeiro a 31 de dezembro de O cenário do estudo constituiu o Estado do Amazonas com seus 62 municípios. O estudo considerou variáveis sociodemográficas e clínico-epidemiológicas que foram analisadas no software Statistica 9.0, utlizando técnicas de estatística descritiva. Resultados: No de 2009, foram notificados 140 casos novos de tuberculose na população indígena do Estado do Amazonas. A maioria, 51,4% dos acometidos de tuberculose era do sexo masculino, com baixa escolaridade, adultos na faixa etária economicamente ativa. Embora os casos de TB tenham sido, em sua maioria na forma pulmonar, houve uma parcela considerável de doentes com tuberculose extrapulmonar. Os indicadores de cura e o Tratamento Diretamente Observado encontram-se abaixo das metas pactuadas pelos municípios, sobretudo naqueles de maior incidência da tuberculose, Manaus, Tabatinga e São Gabriel da Cachoeira. Conclusões: É importante priorizar medidas e ações de controle da tuberculose articuladas com diversos setores e segmentos sociais, incluindo as lideranças indígenas e levando em consideração o modelo diferenciado da Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas. Palavras-chave: tuberculose; índios sul-americanos; serviços de saúde. INTRODUÇÃO As diferentes estimativas dos povos indígenas do Brasil requerem atenção quando se estuda essas sociedades com base nas informações demográficas disponíveis 1. Existem aproximadamente 216 povos indígenas no Brasil, totalizando cerca de 350 mil índios, e está mais concentrada nos Estados do Amazonas, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Roraima 2. Atualmente esse número tem chegado a 896,9 mil pessoas 3. Nesse contexto, essas
2 sociedades têm exigido uma assistência à saúde diferenciada, haja vista as especificidades étnicas, culturais e sociais 4. O perfil de adoecimento da população indígena brasileira tem sido marcado geralmente por elevadas taxas de incidência e de mortalidade por doenças infectoparasitárias, com destaque para a tuberculose 5. Nesse contexto, é importante destacar que o Brasil está entre os vinte e dois países que detêm 80% dos casos de tuberculose (TB) no mundo 6 e, anualmente, notifica cerca de casos novos (incidência), com uma média de 38,2 casos por 100 mil habitantes. Os dados nacionais são insuficientes para a compreensão da situação epidemiológica da TB entre os povos indígenas. A incidência da tuberculose nessas populações é elevada e, algumas vezes, os percentuais são dez vezes superiores aos encontrados na população brasileira em geral 7. Nesse sentido, este estudo tem o propósito de produzir e transferir conhecimentos para os diversos segmentos da sociedade e comunidade científica a fim de potencializar o planejamento e organização das práticas de atenção à saúde indígena junto aos programas de controle da TB, bem como, contribuir para a discussão epidemiológica e sanitária da distribuição da TB nessa população específica. OBJETIVO Analisar o perfil clínico-epidemiológico da tuberculose entre indígenas do Estado do Amazonas, Brasil, no ano de MÉTODO Foi conduzido um estudo descritivo retrospectivo utilizando os casos novos de tuberculose em indígenas, notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan-TB), no período de 01 de janeiro a 31 de dezembro de O cenário do estudo constituiu os 62 municípios do Estado do Amazonas, que estão distribuídos em uma área de km² e com uma população estimada em habitantes (IBGE, 2010). Essa população descende principalmente de índígenas, imigrantes europeus, povos do Oriente Médio e Ásia Oriental, além de uma pequena proporção de afrodescendente. Resultante principalmente da mestiçagem entre índios e europeus, os pardos são predominantes e correspondem a 70,3% da população do estado, seguido pelos
3 brancos (21%). Os indígenas são em torno de (4,3%), seguido dos negros e amarelos (4,2%). A maior população indígena do estado é a dos ticuna (46 mil índios), seguidos pelos yanomami (11.836) e pelos sateré-mawé (5.825). No que se refere à TB, de acordo com o Programa Estadual de Controle da Tuberculose, o Amazonas se destaca, ao lado do Rio de Janeiro, com as mais elevadas taxas de incidência do país. Embora os casos de TB sejam notificados em todos os 62 municípios do Amazonas, o estado possui seis municípios prioritários para o controle da doença: Manaus, Parintins, Itacoatiara, Tefé, Tabatinga e São Gabriel da Cachoeira, estes dois últimos com elevado contingente populacional indígena (BRASIL, 2010). A pesquisa utilizou como fonte de dados os casos notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan-TB) do Estado do Amazonas, referente ao ano de 2009, considerando as variáveis sociodemográficas e clínico-epidemiológicas. A coleta de dados ocorreu com o acesso a base de dados. Os dados foram analisados com o auxílio do software estatístico Statistica 9.0, utilizando técnicas de estatística descritiva. RESULTADOS No ano de 2009, foram notificados 140 casos novos de tuberculose entre a população indígena do Estado do Amazonas. Em relação ao sexo, constatou-se que dos casos de tuberculose estudados, 72 (51,4%) acometeram indígenas do sexo masculino e 68 (49,6%) o sexo feminino. A tabela 1 mostra a distribuição por faixa etária dos doentes de tuberculose, revelando-se que a maioria, 88 (62,9%) era de adultos com idade entre 20 e 59 anos. No que se refere à escolaridade dos doentes selecionados para o estudo, a maioria, 75 (53,6%) possuíam o ensino fundamental, seguido dos analfabetos (23,6%), Tabela 2. Tabela 1: Distribuição dos casos de tuberculose notificados em indígenas nos municípios do estado do Amazonas, no ano 2009, segundo as faixas etárias. Faixa etária N= % 0 a 4 7 5,0 5 a 9 4 2,9 10 a ,3 15 a ,6 20 a ,6 30 a ,0 40 a ,0 50 a ,3 60 ou ,4
4 Total ,0 Tabela 2: Distribuição dos casos de tuberculose notificados em indígenas nos municípios do estado do Amazonas, no ano 2009, segundo a escolaridade. Escolaridade N= % Analfabeto 33 23,6 Ensino fundamental 75 53,6 Ensino médio 10 7,2 Ensino superior 2 1,4 Ignorado 2 1,4 Não se aplica 11 7,8 Sem preenchimento 7 5,0 Total ,0 A tabela 3 revela que os municípios de São Gabriel da Cachoeira (30,7%), Manaus (20,0%) e Tabatinga (13,5%), foram os que mais diagnosticaram casos novos de tuberculose no período do estudo. Tabela 3: Distribuição dos casos de tuberculose notificados em indígenas nos municípios do estado do Amazonas, no ano Municípios N % São Gabriel da Cachoeira 43 30,7 Manaus 28 20,0 Tabatinga 19 13,5 Santa Isabel do Rio Negro 8 5,7 Autazes 7 5,0 Parintins 7 5,0 Ipixuna 3 2,2 Lábrea 3 2,2 Maués 3 2,2 Pauini 3 2,2 São Paulo de Olivença 3 2,2 Atalaia do Norte 2 1,4 Benjamin Constant 2 1,4 Eirunepé 2 1,4 Envira 2 1,4 Barcelos 1 0,7 Carauari 1 0,7 Humaitá 1 0,7 Iranduba 1 0,7
5 Tapauá 1 0,7 Total ,0 Em relação à forma clínica, a maioria (84,3%) dos casos notificados foi tuberculose pulmonar, seguido de extrapulmonar (14,3%) e apenas 1,4% apresentaram a forma pulmonar + extrapulmonar. No que se refere aos agravos associados à tuberculose entre os indígenas, o presente estudo revelou que essa população teve um baixo registro de comorbidades: aids (2,15%); alcoolismo (2,14%) e; diabetes (0,71%). No que se refere à apresentação clínica de tuberculose extrapulmonar, a Figura 1 mostra as localizações em os doentes desenvolveram a doença. Figura 1: Casos de tuberculose extrapulmonar em indígenas do estado do Amazonas, segundo a localização de desenvolvimento da doença. Figura 2: Casos de tuberculose notificados em indígenas do estado do Amazonas, segundo a situação de encerramento.
6 A Figura 2 mostra os casos de tuberculose em indígenas do Estado do Amazonas no ano de 2009, revelando o predomínio (66,4%) de casos que foram curados, 13,6% foram transferidos e 6,4% morreram por tuberculose. CONCLUSÕES O presente estudo revelou que a maioria dos doentes de tuberculose notificados no Estado do Amazonas era do sexo masculino, com baixa escolaridade, adultos na faixa etária economicamente ativa. Embora a grande maioria dos casos de TB tenha sido na forma pulmonar, houve uma parcela considerável de doentes com tuberculose extrapulmonar. Nesse contexto, é importante destacar que alguns indicadores, tais como, a taxa de cura e a realização do Tratamento Diretamente Observado ainda se encontram abaixo das metas instituídas pelo Ministério da Saúde do Brasil e recomendadas pela Organização Mundial de Saúde. Outra situação preocupante, é que o HIV tem se inserido na população indígena, sobretudo, como consequência da alteração do modo e estilo de vida influenciado pelo contato com o não indígena. Essa relação tem ocorrido principalmente com a migração dos indígenas para os centros urbanos, que posteriormente retornam para suas comunidades, ou vice-versa, disseminando o contágio entre os nativos. No que se refere aos municípios de maior incidência da tuberculose, é importante destacar que os municípios de Tabatinga e São Gabriel da Cachoeira estão geograficamente localizados em região de fronteira, se configurando como de difícil de acesso aos serviços de saúde, baixa resolutividade na Atenção Primária à Saúde e distantes da capital Manaus, onde está concentrada maior densidade tecnológica no setor saúde. Nessa perspectiva, é importante priorizar medidas e ações de controle da tuberculose, levando em consideração o modelo diferenciado da Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas, vigente no país. Essas medidas devem ser articuladas com diversos setores e segmentos sociais, incluindo as lideranças indígenas, para melhor definir e compreender o modelo explicativo do processo saúde-doença-cuidado de cada grupo étnico.
7 REFERÊNCIAS 1. Instituto Socioambiental. Povos indígenas no Brasil: São Paulo: Instituto Socioambiental; RICARDO, C.A. (Org.) Povos Indígenas no Brasil 1996/2000. São Paulo: Instituto Socioambiental, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística / IBGE. Contagem de População Disponível em: < Acessado em: 23/ago/ Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas. Brasília; World Health Organization. Global tuberculosis control: epidemiology, strategy, ûnancing: WHO report Geneva: World Health Organization Acessado em: 25/Ago/ Ministério da Saúde do Brasil. Programa Nacional de Controle da Tuberculose. Plano Estratégico para o Controle da Tuberculose, Brasil Brasília: Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica; 2006.
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