Ministério Público do Estado do Amazonas Procuradoria Geral de Justiça 2ª Procuradoria de Justiça

Transcrição

1 fls Processo: Classe: Órgão: Mandado de Segurança Câmaras Reunidas Impetrante: Frank Luiz da Cunha Garcia Impetrados: Presidente da Câmara Municipal de Parintins, Município de Parintins Relator: Des. João de Jesus Abdala Simões Parecer nº Colendas Câmaras Reunidas, Eminente Desembargador-Relator: Trata-se de Mandado de Segurança impetrado por FRANK LUIZ DA CUNHA BRAGA contra o PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE PARINTINS, objetivando ter sua prestação de contas relativa ao exercício de 2008, novamente submetida a julgamento pela Câmara Municipal de Parintins, com base na decisão proferida pelo Tribunal de Contas do Estado do Amazonas, nos autos do Recurso de Revisão nº 1837/2015 (fls. 2198). Narram os autos que: a) o Tribunal de Contas do Estado do Amazonas TCE, nos autos do Processo nº 2349/2009, apontou diversas irregularidades na prestação de contas relativas ao Processo nº de 7

2 fls exercício de 2008, quando o Impetrante era Prefeito do Município de Parintins; b) no julgamento do processo, em 02/02/2012, os Conselheiros do TCE, à unanimidade, acolheram o Parecer Prévio nº 006/2012-TCE (que sugeriu a reprovação das contas do Prefeito, referente ao período de 2008), votando pela desaprovação das contas anuais do Impetrante (Acórdão nº 006/2012-TCE- TRIBUNAL PLENO, fls. 2334/2347); c) a Câmara Municipal de Parintins acolhendo o Parecer Prévio nº 006/2012-TCE- Tribunal Pleno (fls. 2334/2347), desaprovou as contas anuais do Impetrante, por meio do Decreto Legislativo nº 048/2015, de 10/06/2015, publicado no DOM de 12/06/2015 (fl. 2197); d) contudo, conforme publicado no Diário Oficial Eletrônico do TCE/AM, de 14/07/2016 (fl. 2198), o Tribunal Pleno do TCE deu provimento ao Recurso de Revisão nº 1.837/2015, interposto pelo Impetrante, recomendando ao Poder Legislativo do Município de Parintins, que APROVE COM RESSALVAS, a Prestação de Contas Anual, referente ao exercício de 2008, de responsabilidade do Senhor Frank Luiz da Cunha Garcia, Prefeito Municipal, à época, na qualidade de Agente Político; e) em 27/07/2016, foi impetrado o presente mandamus (fls. 1/17), ao argumento de direito líquido e certo do Impetrante a ter um novo julgamento da prestação de contas do Município de Parintins, relativo ao exercício de 2008, levando em consideração a recomendação do TCE-AM, acima transcrita, com pedido de concessão da liminar para suspender os efeitos do Decreto Legislativo nº 048/2015, ante a proximidade da data de registro de candidatura, prevista para 15/08/2016; f) a liminar foi concedida (fls. 2209/2212), suspendendo o Decreto Legislativo nº Processo nº de 7

3 fls /2015,.... A autoridade impetrada prestou informação (fls. 2237/2250), alegando, em preliminar, a impossibilidade jurídica do pedido liminar e a falta de interesse processual. No mérito, aduz a ausência de direito líquido e certo e de ato ilegal e arbitrário, vez que, até a presente data, não foi comunicada do julgamento e resultado do Recurso de Revisão nº 1.837/2015, bem como, nos termos do art. 35, VII, do Regimento Interno da Casa Legislativa, dispõe de 60 dias, contados do recebimento do Parecer do TCE, para tomar e julgar as contas do Prefeito. É o Relatório. No que concerne a preliminar de impossibilidade jurídica do pedido, levantada pela autoridade impetrada, quanto ao pedido liminar de suspensão do DL nº 048/2015, de 10/06/2015, publicado no DOM de 12/06/2015 (fl. 2197), somos pelo seu acolhimento, ante a decadência desse direito pela via mandamental, visto que a impetração data de 27/07/2016 (fls. 01/17), fora, portanto, dos 120 dias de que trata o art. 23 da Lei nº /2009. Desse modo, manifestamo-nos, PRELIMINARMENTE, pela revogação da medida liminar de fls. 2209/2212, que suspendeu o Decreto Legislativo nº 048/2015. A outra preliminar, de falta de interesse processual, se confunde com o próprio mérito da ação, razão pela qual será analisada em conjunto com este. O presente mandamus objetiva garantir ao Impetrante o novo julgamento da prestação de contas do Município de Parintins relativas ao exercício de 2008, a partir da opinião emitida pelo Tribunal de Contas do Amazonas no julgamento do Processo nº de 7

4 fls Recurso de Revisão nº 1837/2015; (sic, fl. 16) Concessa venia, da análise detida dos autos, não se vislumbra ato coator a ser protegido pela via mandamental, pelos motivos seguintes: O Impetrante, em sua inicial de fls. 1/17, se ateve a fatigante detalhamento da tramitação processual, sem especificar qual o ato coator, ilegalidade ou arbitrariedade cometido ou em vias de ser cometido pela autoridade impetrada. Não restou minimamente comprovado que o Impetrado tenha sido ao menos cientificado da decisão proferida pelo TCE, nos autos do Recurso de Revisão nº 1.837/2015 (fl. 2198), que alterou o dispositivo do Parecer Prévio nº 006/2012, acerca da prestação de contas do Impetrante (exercício de 2008), opinando pela aprovação das contas com ressalvas. A possível ameaça de violação ao direito do Impetrante - de rejulgamento da sua prestação de contas, referente ao exercício de 2008, com observância da nova manifestação do TCE no Recurso de Revisão nº 1837/2015 (fl. 2198) -, só se configuraria se provado o recebimento da citada decisão pela Câmara Municipal de Parintins, somada à comprovação de que estaria, deliberadamente, retardando a análise das contas, o que, in casu, não ocorreu. Por outro lado, o atual Parecer Prévio (fl. 2198), agora recomendando a aprovação com ressalvas das contas do Impetrante, deve, obrigatoriamente, ser submetido à apreciação da Câmara Legislativa Municipal, a teor do disposto na Constituição Federal, art. 31, in verbis: Art. 31. A fiscalização do Município será exercida pelo Poder Legislativo Municipal, mediante controle externo, e pelos sistemas de controle interno do Poder Executivo Municipal, na forma da lei. Processo nº de 7

5 fls º O controle externo da Câmara Municipal será exercido com o auxílio dos Tribunais de Contas dos Estados ou do Município ou dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios, onde houver. 2º O parecer prévio, emitido pelo órgão competente sobre as contas que o Prefeito deve anualmente prestar, só deixará de prevalecer por decisão de dois terços dos membros da Câmara Municipal. No mesmo sentido dispõe a Constituição do Estado do Amazonas, em seu art. 127, verbis: ART O controle externo das contas dos Municípios será exercido pelas Câmaras Municipais, com auxílio do Tribunal de Contas do Estado. (...) 5º. O julgamento das contas da Prefeitura Municipal pela Câmara de Vereadores se dará no prazo de sessenta dias, após a publicação no Diário Oficial do Estado do parecer prévio emitido pelo Tribunal de Contas do Estado ou, estando a Câmara em recesso, até o sexagésimo dia do início da sessão legislativa seguinte. 6º. Decorrido o prazo estabelecido no parágrafo anterior sem deliberação pela Câmara Municipal, as contas juntamente com o parecer do Tribunal serão incluídos na ordem do dia, sobrestando-se a deliberação quanto aos demais assu ntos, para que se ultime a votação. 7º. O parecer prévio, emitido pelo Tribunal de Contas do Estado sobre as contas que o Prefeito deve anualmente prestar, só deixará de prevalecer por decisão de dois terços dos membros da Câmara Municipal. Por oportuno, transcrevemos parte da decisão monocrática exarada nos autos do RE /SP, da lavra do Ministro Celso de Mello, reconhecendo que a competência para julgar as contas de gestão dos Prefeitos é do Poder Legislativo municipal, cabendo ao Tribunal de Contas auxiliar nessa tarefa, verbis: Processo nº de 7

6 fls EMENTA: JULGAMENTO DAS CONTAS DE EX-PREFEITO MUNICIPAL. PODER DE CONTROLE E DE FISCALIZAÇÃO DA CÂMARA DE VEREADORES (CF, ART. 31). PROCEDIMENTO DE CARÁTER POLÍTICO-ADMINISTRATIVO. NECESSÁRIA OBSERVÂNCIA DA CLÁUSULA DA PLENITUDE DE DEFESA E DO CONTRADITÓRIO (CF, ART. 5º, LV). DOUTRINA. PRECEDENTES. TRANSGRESSÃO, NO CASO, PELA CÂMARA DE VEREADORES, DESSAS GARANTIAS CONSTITUCIONAIS. SITUAÇÃO DE ILICITUDE CARACTERIZADA. CONSEQUENTE INVALIDAÇÃO DA DELIBERAÇÃO PARLAMENTAR CONSUBSTANCIADA EM DECRETO LEGISLATIVO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO CONHECIDO E PROVIDO. - O controle externo das contas municipais, especialmente daquelas pertinentes ao Chefe do Poder Executivo local, representa uma das mais expressivas prerrogativas institucionais da Câmara de Vereadores, que o exercerá com o auxílio do Tribunal de Contas (CF, art. 31). - Essa fiscalização institucional não pode ser exercida, de modo abusivo e arbitrário, pela Câmara de Vereadores, eis que devendo efetivar-se no contexto de procedimento revestido de caráter político- -administrativo está subordinada à necessária observância, pelo Poder Legislativo local, dos postulados constitucionais que asseguram, ao Prefeito Municipal, a prerrogativa da plenitude de defesa e do contraditório. - A deliberação da Câmara de Vereadores sobre as contas do Chefe do Poder Executivo local há de respeitar o princípio constitucional do devido processo legal, sob pena de a resolução legislativa importar em transgressão ao sistema de garantias consagrado pela Lei Fundamental da República. ( ) (STF RE /SP, Decisão Monocrática, Relator: Min. CELSO DE MELLO, Julgamento: 08/06/2012, Publicação: DJe-114 DIVULG 12/06/2012 PUBLIC 13/06/2012) (grifo nosso) Portanto, é patente que compete ao Legislativo Municipal julgar, após parecer prévio e opinativo do Tribunal de Contas (que somente poderá ser derrubado por decisão de 2/3 dos vereadores), as contas anuais elaboradas pelo Chefe do Poder Executivo local. In casu, inexiste nos autos qualquer alegação ou prova de que se tenha negado ao Impetrante o direito de ter suas contas novamente julgadas pela Câmara Municipal de Parintins. Processo nº de 7

7 fls Ante o exposto, este Graduado Órgão do Ministério Público opina pela denegação da segurança. É o Parecer. Manaus, 27 de setembro de SILVANA MARIA MENDONÇA PINTO DOS SANTOS Procuradora de Justiça Processo nº de 7