CAPÍTULO 1 CAPÍTULO 2 CAPÍTULO 3. O conhecimento Histórico, 12. Os primeiros passos da humanidade, 31

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1 Operários, Tarsila de Amaral CAPÍTULO 1 O conhecimento Histórico, 12 CAPÍTULO 2 Os primeiros passos da humanidade, 31 Murais, Di Cavalcanti. CAPÍTULO 3 O povoamento da América e os primeiros habitantes do Brasil, A narrativa histórica é repleta de interlocuções com os múltiplos saberes produzidos pelos homens ao londo de sua vida. Tudo pode se tranformar numa fonte histórica: uma música, um filme, um documento, obras artísticas. Percebe-se, assim, a grande versatilidade da História. As imagens ao lado compõem bons exemplos de narrativas históricas. A primeira, de Tarsila de Amaral, expressa a diversidade cultural da cidade de São Paulo. Enquanto que na segunda, Di Cavalcanti procura demonstrar uma arte ousada e de forte precisão técnica associada ao cotidiano.

2 O Conhecimento Histórico A construção da História A História é uma grande aventura repleta de desafios, conflitos, surpresas e invenções. Todas as ações humanas podem ser classificadas como eventos históricos. A História procura compreender as diferentes formas de vida dos homens no decorrer dos tempos. Desse modo, através do estudo do passado da humanidade, o historiador procura interpretar e explicar o momento presente. As análises históricas consistem num recurso de fundamental importância para compreensão das múltiplas e variadas relações sociais construídas ao longo da caminhada humana. A História é uma construção coletiva. Todos os homens são agentes históricos, uma vez que eles produzem culturas e procuram dá significados às suas ações inseridas num determinado tempo e época. Todos os homens em sociedade fazem História, mesmo que suas ações não estejam descritas nos livros. A História é uma construção coletiva. Todos os homens são agentes históricos, uma vez que eles produzem culturas e procuram dá significados às suas ações inseridas num determinado tempo e época. Nesta obra intitulada Murais, o pintor modernista Di Cavalcanti retrata o cotidiano de pessoas simples, no entanto, todos são importantes agentes da História. São muitas as definições que se fizeram de História. O historiador Antônio Paulo Rezende conceituou a História como um grande edifício construído pelo homem, onde o mesmo vai fazendo sua história, superando dificuldades, inventando instrumentos e explicando as coisas do mundo. Por mais extensa que seja, a narrativa histórica é incapaz de englobar em sua totalidade todos os eventos dos sujeitos da História. Portanto, selecionar os protagonistas de uma narrativa histórica, sempre é uma opção política do historiador. Há uma relação direta entre fazer e contar história, e isso determina a forma de compressão do processo histórico. Atualmente, há uma tendência acentuada de explicar o presente tendo como referencial ele próprio e, simultaneamente, o desprezo pelo passado. O historiador Eric Hobasbawn, na produção de um primoroso parágrafo, comentou sobre o perigo dessa desqualificação: 7 887

3 A destruição do passado ou melhor, dos mecanismos sociais que vinculam nossa experiência pessoal à das gerações passadas é um dos fenômenos mais característicos e lúgubres do final do século XX. Quase todos os jovens de hoje crescem numa espécie de presente contínuo, sem qualquer relação orgânica com os passado público da época em que vivem. Por isso os historiadores, cujo ofício é lembrar o que outros esquecem,tornam-se mais importantes que nunca (...). Por esse motivo, porém, eles têm de ser mais que simples cronistas, memorialistas e compiladores. HOBSBAWN, Eric. Era dos extremos: o breve século XX: São Paulo: Companhia das Letras, p.13. Para o francês Marc Bloch, um dos maiores historiadores do século XX, a história é definida como a ciência dos homens no transcurso do tempo. Em uma célebre passagem, estudioso tenta desfazer o equívoco segundo o qual a História se detém apenas pelo passado. Já contei em outro lugar o episódio: eu estava acompanhando, em Estocolmo, Henri Pirenne. Mal chegamos, ele me diz: O que vamos ver primeiro? Parece que há uma prefeitura nova em folha. Comecemos por ela. Depois, como se quisesse prevenir um espanto, acrescentou: Se eu fosse antiquário, só teria olhos para as coisas velhas. Mas sou um historiador. É por isso que amo a vida. Essa faculdade de apreensão do que é vivo, eis justamente, com efeito, a qualidade mestra do historiador. (...) Portanto, não há senão uma ciência dos homens no tempo e que incessantemente tem necessidade de unir o estudo dos mortos ao dos vivos. BLOCH, Marc. Apologia da História, ou o Ofício do historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, p O texto de Bloch deixa em evidência que o conhecimento histórico é elaborado através de um permanente diálogo entre o presente e o passado. A história procura compreender as diferentes ações dos homens em sociedade. A História estuda a vida humana através do tempo; analisa o que os homens fizeram, pensaram ou sentiram enquanto seres sociais. A História, como outras formas de conhecimento da realidade, está sempre se constituindo. Ela é inesgotável. São múltiplos os seus objetos de estudos e as possibilidades de interpretação. Portanto, o saber que a História produz nunca é perfeito ou acabado. Nunca iremos saber tudo que ocorreu. - O objetivo primeiro do conhecimento histórico é a compreensão dos processos e dos sujeitos históricos, o desvendamento das relações que se estabelecem entre os grupos humanos em diferentes tempos e espaços. Os historiadores estão atentos às diferentes e múltiplas possibilidades e alternativas apresentadas nas sociedades, tanto nas de hoje quanto nas do passado, que emergiram da ação consciente ou inconsciente dos homens; procuram apontar para os desdobramentos que se impuseram com o desenrolar das ações desses sujeitos. A aprendizagem de metodologias apropriadas para a construção do conhecimento histórico, seja no âmbito da pesquisa científica, seja no do saber histórico escolar, torna-se um mecanismo essencial para que o aluno possa apropriar-se de um olhar consciente para sua própria realidade e para si mesmo. Ciente de que o conhecimento é provisório, o aluno terá condições de exercitar nos procedimentos próprios da História: problematização das questões propostas, delimitação do objeto, exame do estado da questão, busca de informações, levantamento e tratamento adequado das fontes, percepção dos sujeitos históricos envolvidos (indivíduos, grupos sociais), estratégias de verificação e comprovação de hipóteses, organização dos dados coletados, refinamento dos conceitos (historicidade), proposta de explicação para os fenômenos estudados, elaboração da exposição, redação de textos. BEZERRA, Holien Gonçalves. Ensino de História: conteúdos e conceitos básicos. In: KARNAL, As fontes históricas Leandro. História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. São Paulo: Contexto, p

4 O historiador não se apropria do seu objeto de estudo diretamente. O seu trabalho consiste em compreender os fatos históricos ou experiências humanas por intermédio de registros que foram deixados por determinado grupo social em um determinado local e tempo. De modo geral, as fontes usadas pelos pesquisadores são classificadas como: escritas, orais, sonoras, visuais e as que compõem a cultura material. Fontes escritas, sonoras e visuais DOCUMENTOS OFICIAIS OU PARTICULARES PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS/IMPRENSA DOCUMENTOS SONOROS E VISUAIS Leis, contratos, registros contábeis, registros de cartórios Livros, jornais, revistas Músicas, pinturas, filmes, vídeos, fotografias, MP3 Fontes orais DOCUMENTOS ORAIS Entrevistas, relatos, contos, lendas, mitos, fábulas Todos os vestígios produzidos e deixados pelos homens podem ser denominados de fontes históricas, podendo ser oficiais, particulares, cartas, pinturas, depoimentos, construções, recursos tecnológicos (observe nas imagens abaixo). Mp3. Operários, de Tarsila do Amaral. Os Beatles

5 Boa parte das fontes históricas materiais é encontrada em órgãos públicos ou privados, tais como universidades, igrejas, galerias de arte, museus e outros espaços. Esse conjunto de fontes materiais recebe o nome de patrimônio histórico e cultural de um povo. Dessa maneira, para escrever a História o pesquisador se utiliza de fontes. Através dos dados produzidos pelas fontes, o historiador vai construindo sua narrativa e análise. Tudo aquilo que o homem elaborou pode servir como fonte histórica. Assim, as fontes históricas são constituídas por evidências da ação humana, após um tratamento narrativo ou explicativo pelo historiador. Para escrever a História o pesquisador se utiliza de fontes. Através dos dados fornecidos pelas fontes, ele vai montando sua narrativa e sua análise. Tudo aquilo que o homem produziu, modificou, escreveu, desenhou, pode servir de fonte histórica. Na verdade, o que se busca é contar a história dos homens, em uma determinada época e tempo escolhidos. Cada pesquisador tem sua área de interesse. Alguns escolhem temas políticos, outros econômicos. Os temas são variados e podem ser analisados de maneiras diferentes. Tudo vai depender das fontes selecionadas e do que o historiador está querendo fazer com elas. REZENDE, Antônio Paulo. Todos contam sua História. Antiguidade e Idade Média. Inojosa editores. p.11 Tempo e História Assim como a História é vivida no tempo, ela também é o estudo do tempo, em todos os seus desenvolvimentos: presente, passado e futuro, considerando-se os seus vários entrelaçamentos. Cabe ao historiador responder aos questionamentos do presente, fazendo e refazendo perguntas ao passado. O tempo histórico tem um valor relativo. Portanto, estabelecer as relações temporais entre as múltiplas experiências humanas constitui uma das tarefas do historiador sempre sujeita a polêmicas e contrapontos. Um aspecto importante no tocante ao tempo histórico é que ele é singular e complexo. Além disso, o tempo consiste numa convenção criada para facilitar a nossa comunicação e o entendimento do que nos rodeia. Segundo o historiador François Dosse, o presente colabora para a pesquisa do passado e possibilita a valorização da história-problema, ao mesmo tempo que enriquece as análise do passado. Assim, os episódios culturais, econômicos, políticos e sociais pode ser entendidos pelos estudos da História. Vale ressaltar, que mesmo compreendendo as ações do tempo presente, isso não pressupõe que teremos condições de prever o futuro. Poderemos, sim, ter percepção de algumas tendências e criar possibilidades ou novos caminhos, mas sem adivinhar o que irá acontecer. O calendário e a periodização O estudo do tempo exige a elaboração de procedimentos de datação e delimitação. Esses procedimentos são fornecidos pela cronologia, que auxilia a história com dois importantes instrumentos de organização dos acontecimentos estudados: o calendário e a periodização. As sociedades humanas sempre demonstraram preocupação com a marcação do tempo. A criação de calendários tinha como finalidade a organização das principais atividades religiosas, econômicas e políticas. O calendário aceito e adotado oficialmente nas relações internacionais é o calendário cristão. De acordo com ele, o tempo é repartido em dois grandes momentos: antes e depois do nascimento de Cristo, considerado o ano 1 de uma nova era para a história da humanidade. Os muçulmanos datam a história de sua civilização a partir da Hégira, acontecimento que marca a fuga do profeta Maomé da cidade árabe de Meca para Medina, no ano 622 d.c.. Enquanto os judeus datam a história da criação descrita na Bíblia, que teria ocorrido numa data equivalente a 7 de outubro de 3760 a.c

6 A divisão da história em períodos ( Pré-História e História) consiste numa convenção estabelecida pelos estudiosos europeus nos séculos XVI e XVII baseada no calendário cristão e na história da Europa. No princípio do século XIX, a periodização foi completada por historiadores franceses. O marco inicial da História corresponde à invenção da escrita, por volta de a.c. Todo o percurso anterior dos homens tem sido comumente denominado de Pré-história. Dessa maneira, foi estabelecida a periodização da história em quatro Idades: Idade Antiga: do aparecimento da escrita (± 4000 a.c.) à queda de Roma (476). Idade Média: inicia-se com a queda de Roma (476) e se estende até a queda de Constantinopla (1453). Idade Moderna: da queda de Constantinopla (1453) até a Revolução Francesa (1789 Bastilha). Idade Contemporânea: da Revolução Francesa (1789 Bastilha) aos nossos dias. Há nessa concepção relativo preconceito, uma vez que a História se inicia desde que o homem passou a produzir cultura. A escrita é uma conseqüência da procura do homem em melhorar suas condições de vida social, facilitando a comunicação e conservação da memória. Enfim, o homem é o sujeito da história, então ele fez história desde que surgiu no planeta. DIVISÃO DA HISTÓRIA EM PERÍODOS PRÉ-HISTÓRIA (Fase dos documentos não escritos poitivimo) PALEOLÍTICO NEOLÍTICO IDADE DOS METAIS 4000 a. C. invenção da escrita IDADE ANTIGA 3200 a.c. Unificação do Egito sob autoridade de um faraó 753 a.c. Fundação de Roma 1 Nascimento de Jesus Cristo 478 Fim do Império do Ocidente IDADE MÉDIA 622 Hérgia (Fuga de Maomé de Meca para Medna) 600 Coroação de Carlos Magno como Imperador do Ocidente 1453 Tomada de Constantinopla (fim do Império Romano do Oriente HISTÓRIA (Fase dos documentos escritos) IDADE MODERNA 1492 Descobrimento da América 1500 Descobrimento do Brasil 1554 Fundação de São Paulo 1585 Fundação do Rio de Janeiro 1778 Independência dos Estados Unidos 1789 Revolução Francesa IDADE CONTEMPORÂNEA 1803 Primeira Locomotiva a vapor 1822 Independência do Brasil 1914 Início da Primeira Guerra Mundial 1917 Revolução Socialista na Rússia 1929 Quebra da Bolsa de Valores de Nova York 1939 Início da Segunda Guerra Mundial 1969 Descida do homem à Lua 1989 Queda do Muro de Berlim 1991 Fim da União Soviética 1997 Clonagem da ovelha Dolly 1998 Copa do Mundo da França 2001 Atentado terrorista aos EUA 2004 Brasil designado pra comandar uma missão de Paz no Haiti 2005 Evo Morales eleito Presidente da Bolívia 2007 A China se apresenta como uma das quatro economias do Mundo 2008 Crise mundial do capitalismo 2009 Surgimento da Gripe H1N Terremoto no Haiti 2011 Tragédia na região Serrana do Rio de Janeiro

7 História e Memória Pode-se afirmar que a partir do momento que os homens começaram a transformar a natureza e inventar símbolos para representá-la, eles passaram a produzira História. Nesse sentido, as criações culturais foram decisivas para a distinção entre os homens e os animais. Ao longo dos tempos, a História tem sido abordada por múltiplos olhares e diversas interpretações, o que resulta numa produção historiográfica bastante diversificada. Desde a Antiguidade, as sociedades humanas vêm elaborando narrativas que visavam contar o surgimento dos homens e suas realizações. A princípio, essas narrativas eram influenciadas pelo pensamento mítico que enalteciam os grandes feitos heroicos. Mesmo parecendo uma leitura ingênua da realidade, essa perspectiva histórica não pode ser de maneira alguma desprezada, porque através dela podemos compreender melhor os hábitos, os costumes e os obstáculos enfrentados pelas primeiras sociedades humanas. A criação da escrita teve um papel relevante na sistematização da memória, ajudando a preservar as ações do passado, contribuindo para a transmissão dos significados dos feitos dos homens. Obviamente, isso não significa que os povos que não tinham ou não tem escrita também não fizeram História. Os relatos orais devem ser valorizados, pois através deles muitas sociedades humanas continuam se relacionando com os eventos do passado, zelando pela sua cultura, preservando seus preceitos e crenças que garantem sua existência social. Segundo o historiador Jacques Le Goff, em sua obra História e Memória, a memória, onde cresce a História, que por sua vez a alimenta, procura salvar o passado para servir o presente e o futuro. Devemos trabalhar de forma que a memória coletiva sirva para libertação e não para a servidão dos homens. Sem memória não há História. Há uma relação intrínseca, entre História e memória. A memória é formada de lembranças e esquecimentos. Ela possui um caráter coletivo, que está relacionada com as relações de poder de cada época ao longo do processo histórico. Concepções de História A historiografia antiga e medieval O conhecimento histórico não é feito apenas por intermédio de consulta e pesquisa a acervos oficiais, mas também por interpretações e relatos do significado na sociedade humana. Nessa perspectiva, os pais da História foram os gregos, que por volta do século V a. C. a conceberam. Precedendo os gregos, os chineses haviam organizado suas listas de documentos que possuíam um sentido mágico, ou seja, detinham um caráter litúrgico e sagrado. Na Grécia antiga, a narrativa histó rica foi elaborada essencialmente com o propósito de fazer a distinção entre sua cultura e os hábitos e costumes dos demais povos. Esses relatos foram reproduzidos principalmente na obra de Heródoto, conhecido como o pai da História. Em suas viagens, coletou depoimentos importantes e escreveu suas narrativas, lançando seu olhar sobre os egípcios, persas e citas. Heródoto tomou como modelo de sociedade, o modo de vida dos gregos e todo povo que se distinguisse dos gregos era classificado como bárbaro. Vale enfatizar, que o historiador atenien-se, enaltece a memória em seus textos como relevante recurso para evitar o esquecimento. Busto de Tucídedes. Historiador ateniense, considerado como inovador, uma vez que buscou narrar, com primazia de detalhes os acontecimentos que marcaram a Guerra do Peloponeso

8 Em seu livro A guerra do Peloponeso, Tucídedes trata de maneira minuciosa as origens da sociedade ateniense até o desenvolvimento do confronto bélico que dá nome a sua obra. Tucídedes buscou narrar com fidelidade os acontecimentos que marcaram a Guerra do Peloponeso. De acordo com os historiadores contemporâneos, sua obra traz uma reflexão sobre os atos políticos e seus desdobramentos no futuro, principalmente da cidade de Atenas. Tucídedes defendia a ideia de que era necessário resgatar o passado como mecanismo de aprender com erros cometidos, de forma a não voltar a cometer os mesmo equívocos. Heródoto e Tucídedes elaboraram suas narrativas em um contexto em que os contos épicos e míticos estavam fortemente presentes no cotidiano, fazendo parte da educação e da formação moral dos cidadãos gregos e costumavam ser tratados como verdadeiros. Essas narrativas se distinguiam do texto histórico na medida em que não procuravam datar os eventos narrados nem mesmo se preocupavam com a comprovação de seu relato. Além disso, tradicionalmente, grande parte das narrativas épica e mítica era passada de geração para geração por meio do relato oral. Heródoto e Tucídedes, por sua vez, buscaram estabelecer uma cronologia mais definida para os seus relatos. Naquela época não havia uma calendário unificado, como nós temos atualmente. Na Grécia, por exemplo, cada cidade tinha seu próprio calendário baseado nas festividades religiosas locais. Heródoto mesmo lidando com a imprecisão dos relatos sobre o passado grego, que até aquele período era tratado como algo atemporal, conseguiu elaborar uma sequência cronológica para o período que abrange aproximadamente desde a metade do século VII a.c. até a época em que viveu, século V a.c. Estudos de história, 1. Ricardo de Moura, Mônica Liz Miranda, Helena Guimarães Campos. 1 ed. São Paulo: FTD, P.22. O legado de Heródoto e Tucídedes tem grande valor historiográfico, uma vez que suas narrativas se distanciaram das influências religiosas que caracterizam os relatos míticos sobre a vida dos homens em sociedade. Ambos entendiam que o destino das pessoas era resultado de suas próprias escolhas e da vontade dos deuses. Algumas obras de caráter histórico também foram produzidas entre os romanos. Semelhante aos gregos, os latinos comparavam seu modelo de vida com a de outros povos, considerados como bárbaros. Os romanos defendiam a ideia de que seus hábitos e costumes eram superiores às demais sociedades. Os romanos acreditavam que as sociedades nasciam, cresciam e morriam, do mesmo jeito que ocorre com os seres humanos. Durante a Idade Média (V-XV), período marcado pelo fortalecimento do cristianismo, a narrativa histórica ficou sob o controle da Igreja Católica. Nessa fase, a historiografia adquiriu um forte predomínio da participação divina nos acontecimentos, levando a História a assumir um caráter teológico, ou seja, estava sublinhada pela vontade de Deus e não dos homens. Durante o século XII, os senhores feudais e os governantes dos burgos, na tentativa de legitimar seu poder, entre outros meios, através da elaboração de uma genealogia, riquíssima em figuras poderosas, heróis e santos, o que possibilitava alianças matrimoniais que resultava em boas vantagens. A concepção teológica da História foi alterada com certo significativo pelos humanistas no século XV. A parir de então, a narrativa histórica passou a analisar as ações humanas pela perspectiva racional. Nessa época, houve uma coleta de documentos antigos, os quais passavam por avaliações criteriosas de sua originalidade. Os cronistas humanistas buscaram contribuições de outras áreas do saber para atingir a veracidades de suas análises. A Filologia, a Diplomática, a Cronologia, a Epigrafia, a Arqueologia, a Numismática, a Heráldica e a Sigilografia deram contribuições importantes para a formação de uma narrativa histórica mais elaborada

9 Historicistas e positivistas Entre os séculos XVIII e XIX, mesmo com todos os esforços dos historiadores em realizar a separação entre a História e a Filosofia, a os relatos históricos permaneceram priorizando as ações dos grandes homens e dos heróis. A História só atingiu o status de ciência no século XIX, o qual se costuma a ser denominado de o século da ciência, uma vez que a ciência passou a ter uma dimensão que possui atualmente. A grande admiração que a ciência nos provoca resulta do fato que ela é pautada numa pesquisa bem estruturada e visa demonstrar a verdade sobre o objeto estudado. Em relação ao conhecimento histórico, o historiador fundamenta seu trabalho numa cansativa pesquisa bibliográfica e documental, que usa as fontes históricas como meios de interpretar melhor os temas abordados. Nessa perspectiva, no propósito de tornar a Histórica num saber científico, foi adotada a concepção de que a História constituía uma ciência do passado e que registrava os fatos tais como eles aconteceram. A parir de então, os fatos que fossem restituídos por meios de fontes escritas ou documentos oficiais, organizados numa ordem cronológica e relatados de numa sequencia linear, detinha uma verdade inquestionável. Os defensores dessa concepção historiográfica foram os intelectuais historicistas (conservadores) e positivistas. O conhecimento histórico elaborado por esses pensadores consistiam em relatar objetivamente o que estava contido nos documentos oficiais, sem a formulação de nenhum questionamento sobre as informações registradas nos escritos. Essa concepção historiográfica prevaleceu durante todo o século XIX e até metade do XX. Atualmente, esse modo de pensar e escrever a História é conceituada como uma maneira tradicional de abordar a História, que teve como principais representantes o alemão Leopold Von Ranke e filósofo francês Augusto Comte. Ranke acreditava que utilizando os métodos das ciências naturais, o saber histórico atingiria cientificidade. Para ele, os documentos escritos possuíam a verdade dos fatos e para recuperá-los seria imprescindível ter rigor científico. Segundo Leopold, para que a História pudesse ser classificada como ciência, os historiadores deveriam utilizar apenas como fontes confiáveis, os documentos escritos, analisando sua veracidade e, em seguida, narrando o que estava contido neles. O historiador não poderia interpretar ou construir qualquer análise, pois fazendo isso, estaria emitindo avaliações imbuídas de paixões, crenças e passionalidades, o que comprometeria o caráter científico da História. Diante disso, conclui-se que para os historicistas, os fatos históricos eram produzidos por causas e conseqüências, o conhecimento histórico era objetivo e imparcial. Só assim, a História poderia ser considerada com uma ciência. O pensador Augusto Comte afirmava que a sociedade respeitava as leis naturais. Dessa forma, independentemente dos atos individuais, tudo o que acontece em sociedade estava designada pelas leis semelhantes como ocorre com os fenômenos das ciências da natureza (leis da física, por exemplo). Segundo Comte, a sociedade deveria ser hierarquizada, onde essas leis naturais determinariam as funções dos grupos sociais. Portanto, essa segmentação social entre os que mandam e o que obedecem seriam concebidas naturalmente. O pensador Augusto Comte afirmava que a sociedade respeitava as leis naturais. Segundo Comte, a sociedade deveria ser hierarquizada, onde essas leis naturais determinariam as funções dos grupos sociais

10 Mesmo sendo bastante criticado, o positivismo ainda influencia muitos historiadores. As principais críticas se concentram na objetividade e na imparcialidade do conhecimento histórico pretendidas pelos positivistas. Quanto a isso, os positivistas falharam contundentemente, porque defendiam que as únicas fontes confiáveis para a montagem da experiência histórica eram os documentos oficiais e escritos. Bem, se o historiador usa exclusivamente fontes escritas, ele está se posicionando claramente a favor das elites governantes. Marxismo e a construção do conhecimento histórico Outra concepção historiográfica desenvolvida no século XIX foi o materialismo histórico, criada pelos pensadores Karl Marx e Friedrich Engels. O pensamento marxista inovou profundamente a construção do conhecimento histórico ao romper de maneira nítida com as concepções que prevaleciam até então. Esses autores defendiam que os temas sociais e econômicos deveriam ser abordados com mais ênfase pelos historiadores. O marxismo, enquanto ciência da história, tomará como objeto as estruturas econômicosociais, invisíveis, abstratas, gerais, mas chão concreto da luta de classes e das iniciativas individuais e coletivas. Para Marx, os indivíduos só podem ser explicados pelas relações sociais que mantêm, isto é, pela organização social a que pertencem e que os constitui como eles são. REIS, José Carlos. A Historia, entre a filosofa e a ciência. São Paulo: Ática.p. 43. O marxismo afirmava que as condições materiais (forças produtivas) de existência dos homens são elementos condicionantes das formas de governo, as manifestações culturais, as ideologias, as religiões. É bom ressaltar que não podemos reduzir o materialismo histórico ao certo determinismo, pois não foi esse o propósito da concepção dessa historiografia. Sobre essa distinção, a historiadora brasileira, Vavy Pacheco comenta: O materialismo histórico mostra que os homens, para sobreviverem, precisam transformar a natureza, o mundo em que vivem. Fazem-no não isoladamente, mas em conjunto, agindo em sociedade; estabelecem, para tal, relações que não dependem diretamente de sua vontade, mas dependem do mundo que precisa transformar e dos meio que vão utilizar para isso. Todas as outras relações que os homens estabelecem entre si dependem dessas relações para a produção da vida, não sob a forma de dependência mecânica, direta e determinante, mas sob forma de condicionamento. BORGES, Vay Pacheco. O que é História. 2. Ed. São Paulo: Brasiliense, p Ao estudar as sociedades, Marx e Engels criaram o conceito de Modo de Produção quer pode ser conceituado sinteticamente, como o meio pelo qual os homens se organizam para conseguir os bens materiais de que precisam para sobreviver. O modo de produção é estabelecido pelos meios de produção, as forças produtivas e as relações sociais de produção. As grandes mudanças ocorridas ao longo do processo histórico foram advindas das lutas de classes, que conduziriam a classe subordinada ao poder, resultando na alteração no modo de produção. A Escola do Annales e a Nova História No começo do século XX havia diversas concepções quanto a elaboração do conhecimento histórico. A Primeira Guerra Mundial ( ) contribuiu decisivamente para uma alteração considerável na forma de escrever e pensar História à medida que o resultado desse conflito gerou muitas incertezas quanto às teorias científicas e paradigmas instituídos na época. A crença inabalável no progresso e na razão implicitamente inserida nas concepções historiográficas se dissipou. Os europeus começaram a duvidar de muitas coisas estabelecidas como certas. De certa maneira, essa atmosfera de incertezas, motivou os pensadores franceses Lucien Febvre e March Bloch para produzirem a grande renovação da historiografia do século XX, chamada de Escola do Annales. Quanto a importância dessa inovação nos estudos históricos, Ciro Flamarion Cardoso, Fez as seguintes observações:

11 A decisiva mudança de rumos ocorreu a partir de 1929, com a criação dos Annales, por Lucien Fvere e March Bloch um ponto de encontro e de debates entre historiadores e cientistas sociais, em geral. Graças a seu estímulo (...) começou a evolução que condu-ziu ao estado presente da historiografia francesa, cuja influência sobre muitos historia-dores latinoamericanos sempre foi grande. Em uma primeira fase, foram os estudos econômicos da conjuntura que mais influenciaram os historiadores, estimulando o estudo dos preços e salários. CARDOSO, Ciro F.; BRIGNOLLI, Héctor P. Os métodos da História. 2. Ed. Rio de Janeiro: Graal, p Os Annales são estudados em três fases. Na primeira ( ), Marc Bloch e Lucien Febvre, professores da Universidade de Strasbourg, editaram e lançaram uma revista que trazia uma nova abordagem sobre a História. A partir de então, passa-se a combinar geografia, história, sociologia e outras ciências com o intuito de produzir um pensamento histórico. Ambos foram influenciados pela obra do francês Henri Berr, que no final do século XIX, ao publicar Revista de Síntese, já pretendia criar centros de debates nos quais se questionassem as certezas defendidas pela História-Relato. Através da revista Annales, Bloch e Febvre divulgam problematizações e novas reflexões que passaram a chamar a atenção de diversos historiadores de diversos países. A princípio, houve uma dedicação aos estudos econômicos, porém, posteriormente foi inseridas novas temáticas, aproximando a História das ciências sociais. Desse modo, a Psicologia, a Antropologia, a Sociologia, a Economia passaram a fornecer elementos relevantes para a composição da análise histórica. Já na segunda fase ( ), merece grande relevância o francês Fernand Braudel em sua famosa obra O Mediterrâneo. Esse historiador propõe uma nova noção de tempo histórico, dividido em pequena duração (os eventos), média duração (as conjunturas) e longa duração (as estruturas). Os três tempos históricos desenvolvidos por Braudel coexistem e espelham variadas características da vida dos homens em sociedade. Quanto a noção de fonte histórica, a revista Annales também trouxe grandes alterações. Tradicionalmente, eram considerados como fontes legítimas apenas os documentos oficiais, porém, a partir dos Annales, passaram a questionar essa concepção, propondo que todo vestígio deixado pelo homem pode ser considerado como documento histórico. Sendo, assim, os Annales decretaram o fim do documento escrito como única fonte confiável, abrindo os caminhos para a construção de um novo conhecimento histórico fundamentado em fontes diversificadas. O historiador passa ter um amplo leque de fontes, como os filmes, as pinturas, os alimentos, as roupas, os hábitos, os costumes, as crenças, as tradições. Na terceira fase (a partir de 1968), os principais expoentes são Georges Duby e Jacques Le Goff. O último publicou um artigo intitulado Nova História (Nouvelle Histoire), que causou amplo debate acadêmico. Os desdobramentos a partir disso originaram a chamada Nova História. Le Goff, herdeiro dos Annales, afirma que qualquer documento histórico tem múltiplas intenções: (...) o documento é monumento. Resulta do esforço das sociedades históricas para impor ao futuro voluntário ou involuntariamente determinada imagem de si próprias. No limite, não existe um documento-verdade. (...) É preciso começar por desmontar, demolir esta montagem, desestruturar esta construção e analisar as condições de produção dos documentos-monumentos. LE GOFF, Jacques. História e memória. Campinas São Paulo: Unicamp, p.548. Nas três fases pode-se observar o caráter inovador desses historiadores, pois há uma grande modificação na produção do saber histórico que deixou de ser uma mera reprodução documental, passando a uma História-problema, que cria possibilidades na interdisciplinaridade, ou seja, dialoga com outras ciências sociais. O programa proposto pelos annales consistia fundamentalmente no seguinte: a interdisciplinaridade, a mudança dos objetos da pesquisa, que passava a ser as estruturas econômico-social-mental, a mudança na estrutura da explicação-compreensão em histó-ria, a mudança no conceito de fonte histórica e sobretudo, embasando todas as propôs-tas anteriores, a mudança do conceito de tempo histórico, que agora consiste, fundamentalmente, na superação estrutural do evento.este programa foi praticado de forma criativa e original pelas três gerações. REIS, José Carlos. A História, entre a filosofa e a ciência. São Paulo: Ática.p

12 TEXTO COMPLEMENTAR TEXTO 01 Nada do que foi será De novo do jeito que já foi um dia Tudo passa Tudo sempre passará A vida vem em ondas Como um mar Num indo e vindo infinito Tudo que se vê não é Igual ao que a gente Viu há um segundo Analisando o texto Como uma onda do mar Lulu Santos/Nelson Motta Tudo muda o tempo todo No mundo Não adianta fugir Nem mentir Pra si mesmo agora Há tanta vida lá fora Aqui dentro sempre Como uma onda no mar Como uma onda no mar Como uma onda no mar Disponível em: Acesso em 27 de dezembro de Na letra da música pode-se perceber que o autor faz alusão ao tempo, o qual é marcado pela singularidade. Qual o trecho da música pode comprovar essa afirmação? Justifique. 2. Qual a sua opinião sobre a concepção de tempo proposta pela música? TEXTO 02 Passado e presente, uma relação permanente (...) Todo ser humano tem consciência do passado em virtude de viver com pessoas mais velhas. Provavelmente todas as sociedades que interessam ao historiador tem um passado, pois mesmo as colônias mais inovadoras são povoadas por pessoas oriundas de alguma sociedade que já conta com uma longa história. O passado é,portanto, uma dimensão permanente da consciência humana, um componente inevitável das instituições, valores e outros padrões da sociedade humana. O problema para os historiadores é analisar a natureza desse sentido do passado na sociedade e localizar suas mudanças e transformações. Paradoxalmente, o passado continua a ser a ferramenta analítica mais útil para lidar com a mudança constante, mas em uma nova forma. Ele se converte na descoberta da história como um processo de mudança direcional, de desenvolvimento ou evolução. A mudança se torna, portanto, sua própria legitimação, mas com isso ela se ancora em um sentido do passado transformado. HOBSBAWN, Eric. Sobre a história. São Paulo: Companhia das Letras, Analisando o texto 1. Baseado nas idéias expostas pelo autor, elabore um texto sobre a relação entre o presente e o passado e qual sua importância de compreendê-lo. 2. De acordo com o texto, a relação entre os tempos históricos é dinâmica. Diante disso, qual o sentido do passado para a humanidade?

13 Até quando você vai levando? FAZENDO HISTÓRIA 1. Com seus conhecimentos sobre história, conceitue as palavras e expressões a seguir: a) documento histórico(cite exemplos) b) fonte escrita e oral c) tempo histórico d) fato histórico 2. Escolha uma das correntes historiográficas (positivismo, marxismo, Escola dos Analles e Nova História) e cite um evento histórico, comentando-o de acordo com a concepção de história escolhida por você. 3. Tendo em vista os conceitos abordados no capítulo, como você definiria história? 4. Analise a letra da música Até quando? de Gabriel o pensador e depois faça um comentário sobre a importância de se ter um olhar crítico em relação aos acontecimentos sociais, políticos e econômicos na sociedade, os quais são expostos de maneira criativa pelo o autor da música. Não adianta olhar pro céu com muita fé e pouca luta Levanta aí que você tem muito protesto pra fazer e muita greve Você pode e você deve, pode crer Não adianta olhar pro chão, virar a cara pra não ver Se liga aí que te botaram numa cruz e só porque Jesus sofreu Num quer dizer que você tenha que sofrer Até quando você vai ficar usando rédia Rindo da própria tragédia? Até quando você vai ficar usando rédia Pobre, rico ou classe média? Até quando você vai levar cascudo mudo? Muda, muda essa postura Até quando você vai ficando mudo? Muda que o medo é um modo de fazer censura Até quando você vai levando porrada, porrada? Até quando vai ficar sem fazer nada? Até quando você vai levando porrada, porrada? Até quando vai ser saco de pancada? (...) Muda, que quando a gente muda o mundo muda com a gente A gente muda o mundo na mudança da mente E quando a mente muda a gente anda pra frente E quando a gente manda ninguém manda na gente A mudança de atitude não há mal que não se mude nem doença sem cura Na mudança de postura a gente fica mais seguro Na mudança do presente a gente molda o futuro Até quando você vai levando porrada? Até quando vai ficar sem fazer nada? Até quando você vai ficar de saco de pancada?

14 Até quando vai ficar sem fazer nada? Até quando você vai ficar de saco de pancada? Até quando você vai levando? Disponível em Acesso em dezembro de Um dos grandes dramaturgos e poetas do século XX, o alemão Bertolt Brecht ( ), escreveu um poema que traz vários questionamentos sobre a elaboração do conhecimento histórico. Leia-o. Perguntas de um Operário Letrado Quem construiu Tebas, a das sete portas? Nos livros vem o nome dos reis, Mas foram os reis que transportaram as pedras? Babilônia, tantas vezes destruída, Quem outras tantas a reconstruiu? Em que casas Da Lima Dourada moravam seus obreiros? No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde Foram os seus pedreiros? A grande Roma Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem Triunfaram os Césares? A tão cantada Bizâncio Só tinha palácios Para os seus habitantes? Até a legendária Atlântida Na noite em que o mar a engoliu Viu afogados gritar por seus escravos. O jovem Alexandre conquistou as Índias Sozinho? César venceu os gauleses. Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço? Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha Chorou. E ninguém mais? Frederico II ganhou a guerra dos sete anos Quem mais a ganhou? Em cada página uma vitória. Quem cozinhava os festins? Em cada década um grande homem. Quem pagava as despesas? Tantas histórias Quantas perguntas BRECHT, Bertolt. Perguntas de um trabalhador que lê. Poemas Trad. Paulo Cesar Souza. São Paulo: Brasiliense, p.167. Comente os principais questionamentos criados por Brecht, tendo como referência a concepção de que a História é uma construção coletiva

15 QUESTÕES DE VESTIBULARES 1. (UPE) É necessário que o ensino de história seja revalorizado e que os professores dessa disciplina conscientizem-se de sua responsabilidade social perante os alunos, preocupando-se em ajudá-los a compreender o mundo e esperamos a melhorar o mundo em que vivem. Para isso, é bom não confundir informação com educação. (PINSKY, Jaime. & PINSKY, Carla B. Por uma História prazerosa e consequente. In: KARNAL, Leandro. (Org.) História na Sala de Aula: Conceitos, Práticas e Propostas. São Paulo: Contexto, 2008). (Adaptado) Após a leitura do texto, pode-se conceber que o principal objetivo do conhecimento histórico consiste em: a) perceber que o passado humano é uma agregação de ações separadas, e não, um conjunto de comportamentos intimamente interligados que tem razões eventuais. b) estabelecer compromisso com o presentismo comum, tentando encontrar, no passado, justificativas para atitudes, valores e ideologias perpetuadas e praticadas no presente. c) utilizar afirmações baseadas, apenas, em filiações ideológicas que são importantes por transmitir verdades e valores sociais. d) promover atitudes vanguardistas que propiciam comportamentos de neutralidade diante das múltiplas propostas do conhecimento histórico. e) compreender os processos e os sujeitos históricos, os desvendamentos das relações que se estabelecem entre os grupos humanos, em diferentes tempos e espaços. 2. (VUNESP) Empregado por Heródoto, o termo história (istorie) tinha o significado de pesquisa. Com o tempo, tanto o objeto dos historiadores, quanto a ciência que dele se ocupa, a História, passaram a ser designados pelo mesmo nome, fato destacado por várias correntes historiográficas. Entre as respostas apresentadas, indique a que expressa o objeto da História. a) O relato sistematicamente ordenado dos acontecimentos do passado mediante a reconstituição de processos temporais. b) A reestruturação das relações de troca e de dominação política ocorrida no passado entre membros de uma determinada sociedade. c) A interpretação de processos políticos que incidiram na organização nas diversas formas de estruturação do poder. d) A recomposição das lutas sociais que levaram à edificação de nações e povos, desde a Antiguidade até os tempos atuais. e) Um conjunto de narrativas sobre o passado de um ou de vários povos, recolhido através das representações legadas pelas gerações anteriores às suas herdeiras. 3. (ADIVISE) Observe o texto abaixo: Desde o começo, nas manifestações mais primárias e elementares, a História tem tido sempre uma função social geralmente a de legitimar a ordem estabelecida, ainda que tenha tendido a mascará-la, apresentado-se com a aparência de uma narração objetiva dos acontecimentos concretos. (FONTANA, Josep. História: análise do passado e projeto social. Bauru: EDUSC, 1998,p. 15) Tendo em perspectiva a hipótese acima apresentada, observe os enunciados abaixo: I. O tempo é uma dimensão central no trabalho do historiador. II. A fragmentação do conhecimento histórico é algo inerente à disciplina desde os seus primórdios, na antiguidade clássica ocidental. III. A história está condenada a ser a ideologia das classes dominantes, embora apresente um discurso crítico-filosófico. Está(ão) correta(s): a) I, II e III. b) I e II. c) I e III. d) II e III. e) Apenas a I está correta

16 4. (UPE) A noção de tempo é, juntamente com a de espaço, de suma importância para o trabalho do historiador. Não existe um conceito universal e uniforme de tempo e, dependendo da perspectiva teórica do historiador, o tempo é ressignificado. Sendo assim, é correto afirmar que: a) a História não estabelece relações com o tempo presente, restringindo seu âmbito de atuação ao passado. b) a História consiste em reflexões apenas dos tempos modernos. c) a ideia teleológica da História estava presente no materialismo histórico do século XIX. d) a Escola dos Annales rompe com a relação passado construção de projeções futuras acerca das sociedades por eles estudadas. e) o conceito absoluto de tempo desenvolvido por Newton no século XVII foi restabelecido nas propostas epistemológicas adotadas pelos historiadores da chamada Nova História. 5. (UPE) Os maiores problemas para os novos historiadores são certamente aqueles das fontes e dos métodos. Quando os historiadores começaram a fazer novos tipos de perguntas sobre o passado, para resolver novos objetos de pesquisa, tiveram de buscar novos tipos de fontes, para suplementar os documentos oficiais. Alguns se voltaram para a história oral; outros à evidência das imagens; outros à estatística. Também se provou possível reler alguns tipos de registros oficiais de novas maneiras. BURKE, Peter. Abertura: A nova história, seu passado e seu futuro. In: BURKE, Peter. (org.). A escrita da História: Novas perspectivas. São Paulo: Editora da Unesp, (Adaptado) Após o advento da Escola dos Annales, o conceito de fontes históricas foi ampliado, seguindo a tendência dos novos objetos de estudo. O texto acima do historiador britânico Peter Burke chama atenção para essa realidade. Sobre a relação entre os historiadores e suas fontes, é correto afirmar que: a) ainda prevalece, na produção historiográfica atual, uma visão rankeana das fontes, limitando estas ao material de natureza escrita e de caráter oficial. b) apesar de serem vastamente utilizadas em pesquisas históricas, as fontes orais ainda não receberam o reconhecimento e a validade acadêmica e científica. c) a chamada Nova História possibilitou a ampliação de temas, objetos, abordagens e problemas para os historiadores, o que acabou por provocar um alargamento da natureza/tipificação das fontes. d) a despeito deste movimento de renovação, as fontes de natureza material ainda se restringem à análise dos arqueólogos, não ocupando a pauta das fontes utilizadas pelos historiadores. e) as fontes oficiais, de caráter administrativo e político, foram abandonadas pelos historiadores da geração pós-annales, que passaram a priorizar pesquisas no âmbito da história cultural. 6. (FCC) (...) Os nomes dizem respeito, apesar de tudo, às realidades de uma influência forte demais para permitir um dia descrever uma sociedade sem que seja feito um largo emprego das palavras, devidamente explicadas e interpretadas.(...)estimar que a nomenclatura dos documentos possa bastar completamente para fixar a nossa era seria o mesmo, em suma, que admitir que nos fornecem a análise toda pronta.a História, nesse caso, não teria muito a fazer.(marc Bloch. Apologia da História ou o Ofício de Historiador) Para Marc Bloch, o historiador deve conduzir sua análise histórica com o auxílio: a) da linguística que lhe possibilitará averiguar que as instituições essencialmente idênticas, nas sociedades fragmentadas, são designadas por termos semelhantes. b) de uma dupla linguagem, a da época estudada, o que lhe permite evitar o anacronismo, mas também a do aparato verbal e conceitual da disciplina histórica atual. c) de um vocabulário uniforme, estabelecido como fonte precisa, indiscutível e verdadeira, das condições sociais e políticas de uma época, objeto de seu estudo. d) da palavra escrita, que vale mais por sua etimologia do que pelo uso que se faz dela, e que representa o testemunho material da sociedade a ser pesquisada. e) das ciências naturais, que criaram signos para designar vocábulos inventados, para dar nomes aos atos, às crenças e aos diversos aspectos da vida humana em sociedade

17 7. (BIORIO) Constitui um documento toda fonte de informação de que o espírito do historiador sabe extrair alguma coisa para o conhecimento do passado humano, considerado sob o ângulo da questão que lhe foi proposta. É perfeitamente óbvio que é impossível dizer onde começa e onde termina o documento; pouco a pouco, a noção se alarga e acaba por abranger textos, monumentos, observações de todo o gênero (Marrou. Henri-Irénée. Sobre o conhecimento Histórico. Rio de Janeiro: Zahar Editores p. 62). Assinale a opção que melhor interpreta a concepção de documento presente na citação acima: a) os documentos do Estado devem ser considerados pelos historiadores como fonte privilegiada para a construção do conhecimento. b) o historiador deve considerar o documento como fonte de realidade objetiva. c) o historiador deve manter uma relação ativa frente ao documento mediante a formulação de hipóteses. d) a existência do documento é a única condição necessária para a elaboração do conhecimento histórico. e) o documento é uma fonte confiável desde que ofereça ao historiador relatos do que realmente aconteceu. 8. (FUNCAB) A obra organizada por Peter Burke, A escrita da história:novas perspectivas, ressalta que a historiografia no século XX questionou o caráter e a limitação das fontes oficiais, a imputação de uma objetividade que lhe era creditada pelo fato de se constatar sua autenticidade.(...) Ao começarem a fazer novos questionamentos sobre o passado para escolher novos objetos de pesquisa, necessitam buscar outros tipos de fontes para suplementar os documentos oficiais. De acordo com o texto e com seus conhecimentos sobre o assunto, marque a opção que corresponde à perspectiva apresentada. a) A Nova História chama atenção para a importância da história oral e reforça a impossibilidade de uma nova leitura dos documentos oficiais, que por sua vez mostram-se ineficientes sob esta perspectiva. b) Os fatos históricos que não foram registrados em documentos, gravados ou escritos, não devem ser investigados, pois somente as fontes oficiais têm credibilidade histórica. c) A cada problema histórico corresponde um tipo único de documentos, especializado para esse uso. d) A utilização de imagens como fonte histórica é melhor aproveitada pelos estudiosos que investigam a história antiga. e) O reconhecimento da subjetividade inerente à escrita da história e a valorização da vida cotidiana, ou da história vista de baixo, corroboraram para o aumento das possíveis fontes a serem investigadas pelo historiador. 9. (FCC) Segundo o historiador francês Jacques Le Goff, a...matéria fundamental da história é o tempo; portanto, não é de hoje que a cronologia desempenha um papel essencial como fio condutor e ciência auxiliar da história. O instrumento principal da cronologia é o calendário, que vai muito além do âmbito do histórico, sendo mais que nada o quadro temporal do funcionamento da sociedade. O calendário revela o esforço realizado pelas sociedades humanas para domesticar o tempo natural (...). Porém, suas articulações mais eficazes (...) estão ligadas à cultura e não à natureza. (Le Goff, Jacques. História e Memória. Trad. 3.Ed. Campinas: Ed. da UNICAMP, 1994, pp.12-13) De acordo com esse autor, é correto afirmar que a) o calendário e as cronologias, por estarem vinculados à ideologia dominante, representam uma falsa ideia do passado, e não devem ser levados em conta pelos historiadores, que buscam desvincular seus conhecimentos das contagens artificiais do tempo. b) o calendário e as cronologias tornaram-se, também, objetos de estudo e análise por parte dos historiadores, já que expressam as vinculações míticas, religiosas, tecnológicas, políticas, econômicas, sociais e mesmo ideológicas a partir do estudo do passado. c) o historiador, que possui o compromisso com a verdade do passado, deve assumir a tarefa de elaborar os calendários e cronologias utilizados em sua sociedade, já que os riscos de manipulação dos fatos por outras pessoas é muito grande

18 d) os historiadores deixaram de se preocupar com calendários e cronologias desde o surgimento da Escola dos Annales francesa, à qual pertence Jacques Le Goff, passando a valorizar as diversas abordagens dos fatos e processos do passado. e) a constatação de que cada cultura possui seu próprio sistema de contagem de tempo levou os historiadores a adotarem um padrão mundial único de calendário e cronologia, atualmente seguido por todas as sociedades e culturas. 10. (FCC) A Escola Metódica se constitui de um conjunto de historiadores fortemente marcados pela derrota na guerra franco-prussiana de 1870 e pela pesquisa histórica alemã, fatores que muito influenciaram o pensamento histórico na França no contexto da III República ( ). A derrota do exército francês marca, além de um trauma na história do país, uma ruptura na historiografia do período, conferindo à nação não só a necessidade de uma segunda origem, que suplantasse o fracasso militar, mas também a de novas formas de representar a história nacional, fundando ou refundando identidades. A influência do pensamento histórico alemão está no fato de muitos dos principais historiadores franceses do período terem realizado seus estudos na Alemanha. (Pedro P. A. Funari; Glaydson José da Silva. Teoria da História. São Paulo: Brasiliense, 2008, p.34) O conhecimento histórico e o texto permitem afirmar que os metódicos: a) levantaram documentos oficiais para provar que os acontecimentos se realizam nas esferas coletivas da sociedade. b) romperam com os textos e com os fatos, relacionando o exercício do historiador ao domínio de novas técnicas de pesquisa. c) desenvolveram uma historiografia voltada para a história nacional, cuja preocupação maior é o ideal de identidade da nação. d) criticaram seus predecessores pela ausência da imparcialidade na leitura das interpretações escritas que investigaram. e) defenderam a premissa de que a História tem na revolução sua força motriz e nas bases materiais o seu principal fundamento. 11. (UPE) Sobre o processo histórico, considere as seguintes proposições: I. O ponto de partida para se entenderem os processos históricos é os registros ou evidências de lutas dos agentes históricos. II. O processo histórico constitui-se de práticas ordenadas e estruturadas de maneira racional. III. A história, concebida como processo, busca aprimorar o exercício da problematização da vida social como ponto de partida para investigação produtiva e criativa. IV. As contextualizações anacrônicas são imprescindíveis para a compreensão das explicações que compõem o processo histórico. Estão corretas: a) somente I, II e III. b) somente I, II e IV. c) somente I, III e IV. d) somente III e IV. e) I, II, III e IV. 12. (FCC) (...) essa corrente historiográfica defendia que toda a História era uma história dos homens no tempo e, com ela, a organização da pesquisa histórica passou a ser definida mais pelos seus objetos do que pela cronologia dos fatos políticos e institucionais. (In. Leandro Karnal (org). História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas.) Considerando as diversas tendências historiográficas do século XX, o texto identifica a: a) História do Tempo Presente. b) História da Vida Privada. c) História Metódica. d) Escola Positivista. e) Escola dos Annales. 13. (UPE) Existe o presente das coisas passadas, o presente das coisas presentes, o presente das coisas futuras (Santo Agostinho) Sobre tempo e história, não é correto afirmar que: a) a compreensão do tempo histórico deve sempre estar atrelada a sua linearidade, para simplificar e enriquecer a análise

19 b) uma das tarefas do historiador, sujeita a polêmicas e contrapontos, é a de estabelecer as relações temporais entre as experiências humanas. c) para organizar sua vida cultural e suas relações sociais, o ser humano precisa estar ligado a uma ideia de duração temporal. d) o tempo do calendário os dias, os meses, os anos é o tempo objetivo, com a mesma validade para todas as sociedades. e) a periodização, ao traçar fronteiras entre as épocas, talvez dê ao homem a grande ilusão de que é o senhor da sua história e de que o tempo é mais uma das suas invenções incríveis. 14. (FCC) O passado é, por definição, um dado que nada mais modificará. Mas o conhecimento do passado é uma coisa em progresso, que incessantemente se transforma e aperfeiçoa. (Marc Bloch. Apologia da História ou o Ofício de Historiador. Trad. Rio de Janeiro: Zahar, 2002, p.75) Assinale a alternativa que expressa a visão do autor sobre o passado. a) O passado pode ser modificado através da escolha de documentos estudados. b) A História define o passado como um dado rígido, que não se altera ou modifica. c) Os temas do presente condicionam e delimitam o retorno, possível, ao passado. d) O passado é o objeto da ciência e a História é a ciência do passado remoto. e) A História é a ciência que se apoia em fatos, grandes nomes e heróis. 15. (AOCP) O conhecimento histórico possui como característica básica, a sua própria historicidade. Sobre o significado da afirmativa acima, assinale a alternativa incorreta. a) Há um olhar crítico para a História produzida, uma constante retificação das versões produzidas por historiadores de tempos em tempos. b) A historiografia é compreendida como o conjunto de estudos históricos; o conjunto das variadas formas de escrever e pensar a História. c) A historiografia muda de tempos em tempos, dificultando a ampliação do conhecimento teórico da disciplina. d) O olhar crítico para a produção do conhecimento histórico ao longo do tempo permite entender as transformações ocorridas na historiografia. e) Historiadores e filósofos, desde a Antiguidade, esforçaram-se em encontrar meios de definir o que é e como se processa o conhecimento histórico. 16. (UPE) O conhecimento historiográfico é essencial na formação de um historiador, pois possibilita a construção de uma percepção acerca do fazer historiográfico e histórico. Sobre determinadas vertentes da Historiografia, analise as informações abaixo: I. Com caráter humanista e defesa da História enquanto preservação da memória, tem em Tucídides um dos seus representantes. II. Surgida no século XIX, prega uma História linear e factual. III. Defende a Luta de Classes como agente modificador da História. As sentenças acima fazem referência, respectivamente, às correntes historiográficas: a) Cortesã, Historicista e Marxista. b) Cristã, Positivista e Historicista. c) Clássica, Positivista e Marxista. d) Romântica, Iluminista e dos Annales. e) Clássica, Cristã e Positivista. 17. (CEPERJ) Embora tenham algumas divergências quanto a questões metodológicas e epistemológicas relacionadas com suas respectivas interpretações dos fenômenos históricos, tanto Marx quanto Febvre e Bloch acreditam que não se pode compreender o passado fechando-se no seu próprio tempo. Eles ressaltam o compromisso do historiador com seu próprio tempo, em contraposição à visão do pesquisador que procura o passado pelo passado em si. A comparação acima aproxima duas importantes vertentes da historiografia contemporânea, que são: a) Materialismo Histórico e Positivismo. b) História Demográfica e História Econômica. c) História Econômica e Positivismo. d) Materialismo Histórico e Escola dos Annales. e) Positivismo e Escola dos Annales

20 OLHARES HISTÓRICOS Cinema A Vida é Bela (Itália, min.). Direção de Roberto Benigni. Na Itália dos anos 40, Guido levado para um campo de concentração nazista e tem que usar sua imaginação para fazer seu pequeno filho acreditar que estão participando de uma grande brincadeira, com o intuito de protegê-lo do terror e da violência que os cercam. Uma excelente obra, que através da relação entre pai e filho mostra os pavores da Segunda Guerra Mundial. Nós que aqui estamos por vós esperamos Direção de Marcelo Masagão. (Brasil, min). Filme de memória sobre o século XX, a partir de recortes biográficos reais e ficcionais de personagens que viveram no século passado. Livros Apologia da História ou o ofício do historiador. Zahar, Marc Bloch. Rio de Janeiro: Jorge Memória e sociedade: lembrança de velhos. Ecléa Bosi. São Paulo: Companhia das Letras, História e Memória. Jacques Le Goff. Trad. Suzana Ferreira Borges, Bernardo Leitão e Irene Ferreira. 5 ed. Campinas: ed. Da Unicamp, Música Tudo passa. Composição de Túlio Dek. A música faz uma abordagem bastante significativa sobre as efemeridades das ações humanas e sua fugacidade. Além disso, há uma alusão as mudanças tão presentes na história de cada um de nós. Revistas Aventuras na História. São Paulo: Editora Abril. Em linguagem com caráter jornalístico, a revista traz, mensalmente, artigos e temas variados do conteúdo histórico

21 Os primeiros passos da humanidade A Pré-história : problemas conceituais Para entender melhor as mudanças ocorridas com o ser humano e as sociedades no decorrer do tempo, costuma-se fragmentar a História em partes ou períodos, elegendo-se alguns acontecimentos como referências de cada um desses períodos. Vale salientar que os critérios para delimitar esses períodos podem ser políticos, sociais, econômicos ou culturais. É a partir dessa divisão do objeto do estudo que começa a atividade do historiador. Tradicionalmente, a História é dividida em dois grandes períodos: Pré-História e História propriamente dita. O critério para essa divisão baseia-se no fato de os povos terem domínio ou não da escrita. Dessa forma, a Pré-História compreende entre o surgimento do homem até as primeiras manifestações da escrita, por volta de 3500 a.c. Já a História engloba os seguintes períodos: Antigo, Medieval, Moderno e Contemporâneo. Vale ressaltar que os termos Pré-História consistem numa convenção e só o usamos nesta obra porque essa denominação sobre a qual ela se assenta é um elemento puramente didático, sendo assim, facilitador dos estudos históricos. Essa divisão adota uma postura preconceituosa. As sociedades pré-históricas ou primitivas são geralmente definidas de maneira igualmente negativa, a partir do critério da falta: sociedade sem Estado, sem escrita, sem história, sem tecnologia. Numa visão marxista, pode-se afirmar que a economia desse período baseava-se numa economia de subsistência, sem produção de excedentes, ou seja, sem comércio. Portanto, trata-se de visão tendenciosa e anacrônica. O papel do trabalho na evolução humana Nossos parentes mais antigos são denominados de antropóides. Eles habitavam em cavernas e tinham grandes semelhanças com os primatas, inclusive seu jeito de caminhar. Seu fóssil foi encontrado na África. Achados arqueológicos estimam que os primeiros hominídeos viveram há aproximadamente 3,5 milhões de anos. No decorrer dos tempos, o

22 ser humano conseguiu ultrapassar barreiras e limites naturais para produzir sua história. O ser humano tornou-se capaz de transformar o ambiente que o cercava, além de adaptar-se a ele. Foi capaz de entender a natureza e, por meio do trabalho, transformá-lo em favor de sua sobrevivência. Relacionando-se com outros seres da espécie, ele acumulou e reproduziu conhecimentos ao longo do tempo, tornando esse domínio eficaz e produtivo. Podem-se citar transformações relevantes como condicionantes para o desenvolvimento natural da espécie humana e adaptação aos múltiplos meios naturais: a posição ereta, uma vez que dá maior liberdade à mão; ampliação da visão; aumento gradativo da capacidade craniana; o domínio de uma linguagem articulada, que possibilitou a difusão e troca de saberes. O trabalho assim concebido ação deliberada sobre o meio, caracterizada e dirigida pela inteligência e pela capacidade de abstração e formulação de conceitos nada tem a ver com as atividades que realizam outros animais, como as abelhas ou as formigas. O trabalho humano não é ação sobre o meio realizada de forma instintiva ou mecânica, mas processo complexo de aprendizagem, onde o homem não se limita a repetir ações e processos, como os outros animais, mas desenvolve técnicas e tecnologia que lhe são úteis. Ou seja, o homem se diferencia pois cria suas próprias ferramentas e sua ação não se limita a modificar os materiais que encontra disponíveis na natureza. Desde os primeiros tempos da humanidade houve uma divisão do trabalho, que no início se dava em função de características fisiológicas, como gênero, idade, força física etc. Mas, à medida que o trabalho se diversificava e se tornavam mais complexas a técnica e a tecnologia, essa primeira divisão do trabalho foi sendo superada pela divisão entre o trabalho material e o trabalho intelectual. Passava a haver, quanto à função imediata do indivíduo no meio social, um trabalho realizado pela mente e um trabalho realizado pelas mãos, sendo o primeiro entendido como afastado da prática humana, um produto da consciência humana e não de um órgão. Cada indivíduo ficou limitado a esferas profissionais particulares, exclusivas, não devendo sair delas, sendo unicamente caçador, operário, professor ou administrador. Com essa divisão, o trabalho e seus produtos passaram a ser, qualitativa e quantitativamente, distribuídos de forma desigual. SILVA, Michel. O macaco e o trabalho. Artigo extraído da Revista Urutágua. UEM Paraná: nº14; dez/2007.jan/fev/mar de Quadrimestral. Disponível em br/014/14silva_michel.htm. Acesso em 29 de dezembro de As origens dos homens Há duas hipóteses principais que tentam explicar a alvorada do homem. A primeira se baseia na imagem de Adão e Eva, é defendida pelos criacionistas; a outra é a teoria da evolução proposta por Charles Robert Darwin. Segundo os criacionistas, o mundo e a humanidade são criações de Deus, de acordo com o relato do primeiro livro da Bíblia, o Gênesis. Adão e Eva são considerados os primeiros seres humanos segundo os seguidores dessa hipótese. No princípio criou Deus os céus e a terra. E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas. E disse Deus: Haja luz; e houve luz. E viu Deus que era boa a luz; e fez Deus separação entre a luz e as trevas. (...) E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra. E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutifcai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra. Gênises. Cap. ; 1 Versículos:1-4; Texto extraído da Bíblia Sagrada. Edição atualizada,

23 Em confronto ao criacionismo, a teoria evolucionista ou darwinismo afirma que o homem e os demais seres vivos se originaram de estrutura orgânica mais simples, que sofreram modificações ao longo do tempo. Atualmente, o evolucionismo se tornou, para as pesquisas genéticas, um dos pontos principais do pensamento contemporâneo. Essa teoria deixou muita gente indignada no século XIX. Principalmente os que aceitavam a versão bíblica. Darwin expôs em sua obra, A Origem das Espécies, questionamentos sobre muita coisa aceita no seu tempo. O estudo dos fósseis de ossadas demonstrou que o hominídeo não surgiu de repente. Houve, dessa forma, processo evolutivo a partir de um animal primata. Charles Robert Darwin nasceu na Inglaterra em 1809 e desde cedo interessou-se pelas ciências naturais. Em 1825 foi para Edimburgo estudar medicina, mas logo abandonou o curso. Matriculou-se então no Christ s College, em Cambridge, decidido a tornar-se clérigo. Ali fez amizade com o botânico John Stevens, cuja influência foi decisiva apara que Darwin fosse convidado a participar, como naturalista, da viagem de circunavegação do navio Beagle, promovida pelo Almirante britânico. Realizada entre 1831 e 1836, a viagem deu suporte às pesquisas iniciais de Darwin sobre a origem das espécies, Ele pôde verificar como as espécies aparentadas apresentavam características distintas, de uma região para outra. Notou ainda que entre as espécies extintas e as atuais existiam traços comuns, embora diferenciados. Tais fatos levaram-no a supor que os seres vivos não são imutáveis. Mas se transformam, tal conclusão abalou convicções religiosas, a ponto de, por mais de duas décadas, ele recusar a apresentá-la. Sua obra Sobre a origem das espécies por de seleção natural ou a conservação das raças favorecidas na luta pela vida, publicada em 1859, colocou-o no centro de acirradas polêmicas. Darwin morreu em conseqüência de um ataque cardíaco em 19 de abril BRAICK, Patrícia Ramos. História. São Paulo: Moderna, Volume único Darwin expôs em sua obra, A Origem das Espécies, questionamentos sobre muita coisa aceita no seu tempo. O estudo dos fósseis de ossadas demonstrou que o hominídeo não surgiu de repente

24 A evolução biológica da espécie O antepassado mais antigo do homem, conhecido como Driopithecus, viveu entre 26 e 9 milhões de anos atrás. Por volta de 15 milhões de anos atrás, integrantes dessa espécie começaram a andar sobre as patas traseiras. Aos primatas bípedes dessa espécie os cientistas deram o nome de hominídeos. O hominídeo mais antigo de que se tem notícia é o Australopithecus. Esses seres viviam em hordas em cavernas da África, coletando alimentos na natureza. Outros indivíduos da família dos hominídeos pertenciam ao gênero Homo. Há cerca de 2 milhões de anos, viveu o Homo habilis, que desenvolveu habilidades para manejar instrumentos de pedra e introduziu a carne em sua alimentação. Depois de 500 mil anos, surgiu o Homo erectus, que construía seus próprios abrigos, dominava o fogo e era capaz de articular sons. Há cerca de 350 mil anos, surgiu o Homo sapiens. Os indivíduos desse grupo reuniam-se em bandos de caçadores, introduziram rituais religiosos e, provavelmente, já se expressavam por meio da fala. Outro ramo, surgido há 100 mil anos o do Homo sapiens sapiens, aperfeiçoou as técnicas de confecção dos instrumentos de caça e produziu diversas obras de arte, com sentido religioso ou com o objetivo de comunicar-se. O ser humano resulta da longa evolução do universo e da vida que, há aproxi-madamente 15 bilhões de anos, impulsiona no sentido de uma complexidade crescente: os átomos, as moléculas, as estrelas, as células, os seres vivos e nós, humanos, que não cessamos de perguntar-nos de onde viemos...todos unidos, como os elos de uma mesma cadeia, do big bang até a inteligência humana. Descendemos, assim, não só de,macacos e bactérias, mas também de estrelas e galáxias. CLOTTES, Jean. A mais bela história do homem De como a Terra se tornou humana. Rio de Janeiro: Difel, Contracapa. Os grandes períodos da Pré-história A Pré-História é subdividida em três períodos: Paleolítico ou Idade da Pedra Lascada; Neolítico ou Idade da Pedra Polida e Idade dos Metais. I. Paleolítico: o início da caminhada humana O Paleolítico se estendeu de 4 milhões de anos atrás até por volta de 8000 a.c., período no qual os homens pescavam, caçavam e coletavam seu alimento na natureza e começaram a produzir armas e instrumentos de caça. Os hominídeos desse período formavam, portanto, uma sociedade de coletores e caçadores, os quais viviam em grupos e compartilhavam coletivamente o espaço e o trabalho. Esse período também é conhecido como Pedra

25 Lascada, uma vez que alguns instrumentos fabricados eram feitos grosseiramente de pedra. Os hominídeos desse período também usavam instrumentos feitos de madeira, ossos e dentes de animais. Os grupos humanos dessa etapa da evolução humana eram nômades. As adversidades climáticas e o condicionamento à natureza justificam essas migrações sucessivas. No entanto, não se pode desprezar as descobertas dessa época. O controle do fogo possibilitou o aquecimento durante o frio, a defesa contra os animais e o cozimento dos alimentos. Nos últimos 100 mil anos do paleolítico, o homem primitivo aperfeiçoou vários artefatos, num processo de permanente elaboração cultural que deu origem ao arco, à fecha, às lanças e aos diversos utensílios feitos de argila, ossos e dentes. Somado a isso, as transformações do ambiente terrestre se refletiram nos costumes dos homens, auxiliando para a fixação de alguns grupos em certas regiões. Esse período de mudanças é designado de Mesolítico e representa a transição para o Neolítico. A pesquisa sobre as sociedades dessa etapa histórica pode ser realizada baseada em instrumentos e armas nas magníficas pinturas rupestres. Por muito tempo os antropólogos preocuparam-se em definir a cultura como uma atividade exclusivamente humana, um pressuposto que com certeza condicionou suas escolhas. Hoje em dia sabemos que muitos animais têm uma cultura, fazem invenções e descobertas e as transmitem aos descendentes. A preocupação dos antropólogos foi, portanto, superada pelos acontecimentos: os homens não possuem o monopólio da cultura. Mesmo não sendo os únicos seres culturais, ainda somos os mais culturais; é uma supremacia garantida pelo incrível desenvolvimento da linguagem humana, sem dúvida muito superior à de outros animais e que permite a melhor comunicação até agora possível na natureza. CAVALLI-SFORZA, Luca; CAVALLI-SFORZA, Francesco. Quem somos? História da diversidade humana. São Paulo: Unesp, p.275. II. A Revolução Neolítica No início do período Neolítico (entre e 5000 a.c.), os grupos caçadores e coletores já dispunham de relativa bagagem cultural. Nesse período, o homem aperfeiçoou seus instrumentos, passou a criar animais e cultivar produtos agrícolas. Isso lhe permitiu deixar o nomadismo e iniciar a vida sedentária. Esse desenvolvimento foi tão extraordinário que recebeu o nome de revolução neolítica. Esse evento, também conhecido como Revolução Agrícola, resultou em amplas metamorfoses do homem sobre a natureza. A partir desse acontecimento os homens se tornam seres dominantes da natureza. As experiências lhes ensinaram a identificar quais os animais podiam caçar e quais plantas eram comestíveis. Além disso, aprenderam a construir canoas, jangadas e barcos, importantes para suas migrações. A trituração dos alimentos e o polimento de seus instrumentos de pedra, criando instrumentos mais resistentes também fazem parte desse leque de conquistas coordenadas pelo homem no Neolítico. Nesse período, a população cresceu e surgiram as aldeias, onde se concentrava o poder político e religioso. O trabalho passou a ser dividido. III. Idade dos metais A partir da descoberta da fundição (5000 a.c.), começou a Idade dos Metais. Os primeiros objetos foram fundidos em cobre, ao qual se acrescentou depois o estanho originando o bronze. Há 3500 anos, iniciou-se a fundição do ferro, que substituiu a pedra na confecção de armas. A partir daí, as cidades cresceram em regiões do Egito e do Oriente e começaram a surgir os primeiros registros escritos marcos da passagem para a História

26 TEXTO COMPLEMENTAR Texto 1 Os Homens e seus instrumentos O aparecimento do homem sobre a Terra é indicado pelos instrumentos que ele fez. O homem necessita de instrumentos para suplementar as deficiências de seu equipamento fisiológico na obtenção de alimento e abrigo. Pode fabricar tais ferramentas pela correlação delicada entre mão e olho, só possibilitada pela constituição de seu cérebro e sistema nervoso. As primeiras ferramentas foram, presumivelmente, pedaços de madeira, osso ou pedra, levemente aguçados ou acomodados à mão pela quebra ou lascagem. Se feitas de madeira, terão desaparecido. As mais antigas ferramentas de pedra são normalmente indistinguíveis dos produtos da fratura natural (pedra rachadas pelo congelamento ou calor, ou espedaçadas pelos choques com os cascalhos do rio). Gordon Childe, A evolução Cultural do Homem. Rio de Janeiro. Zahar. Pág. 61. Analisando o texto 1. Descreva qual a importância da fabricação de instrumentos pelo homem. 2. Compare uma ferramenta moderna, usada no seu dia-dia, com uma ferramenta do homem no início da História. 3. Relacione a capacidade de criar artefatos ao processo de humanização. Texto 2 O aquecimento global pode obrigar o homem a viver nos pólos. seria uma volta ao gelo, onde nasceu a cultura humana. No cenário mais catastrófico do aquecimento global, traçado pelo cientista inglês James Lovelock, a humanidade precisaria migrar para os pólos e para o alto das montanhas, onde a neve e o gelo remanescentes garantiriam um clima mais frio no verão. Seria uma espécie de volta ao berço. Foi no clima rigoroso da última glaciação na Europa, que só terminou anos atrás, que o homem moderno desenvolveu os conceitos de família, de religião e de convivência social, os alicerces da civilização atual. Sabe-se disso porque os homens da Idade do Gelo deixaram espetaculares evidências arqueológicas de uma revolução criativa, iniciada há mais de anos. Veja.Duda Teixeira. Reportagem extraída da edição publicada no dia 11 de abril de Analisando o texto 1. Qual a relação que a repórter faz alusão no texto entre aquecimento global e o início da história humana? 2. Faça um comentário sobre o domínio do homem sobre a natureza e suas inevitáveis conseqüências

27 FAZENDO HISTÓRIA 1. Para alguns estudiosos, a história da humanidade só começou a partir da descoberta da escrita, que as sociedades pré-históricas não conheciam. Dê sua opinião sobre essa afirmação. 2. Explique as principais atividades realizadas pelo homem paleolítico para garantir a sua sobrevivência. 3. Explique o que foi a Revolução agrícola do Neolítico e qual sua importância para o desenvolvimento das sociedades humanas. 4. Para o historiador Felipe Fernandez-Armesto, a definição de natureza humana, se é apropriado falar em tal coisa, não está fixada: mudou no passado e poderia mudar de novo (Então você que é humano?: uma breve história da humanidade. São Paulo: Companhia das Letras, p.156). Tendo como referencial essa declaração e as informações do capítulo, apresente os principais argumentos que podem justificar essa concepção

28 QUESTÕES DE VESTIBULARES 1. (UPE) Entre os nômades, o trabalho não tem o mesmo valor que nas sociedades agrárias. Os índios Ianomâmi, da Amazônia desenvolvem suas atividades, em média, três horas por dia e não valorizam o trabalho nem o progresso tecnológico. Os Guai aqui, caçadores nômades da floresta paraguaia, passam, pelo menos, metade do dia em completa ociosidade. Quanto ao desenvolvimento social, do pensar e do fazer dos primeiros humanos, é correto afirmar que a: a) produção de novas ferramentas de pedra polida foi a transformação mais importante ocorrida nesse período. b) fabricação de ferramentas e a utilização do fogo evidenciam que a sobrevivência humana não está diretamente relacionada à adaptação cultural do homem. c) abundância de recursos animais e vegetais promoveu a sedentarização do homem. d) capacidade de conseguir mais alimentos deu ao homem menor controle sobre o meio ambiente. e) troca da caça e da coleta pela agricultura ocorreu de maneira súbita. 2. (FCC) Observe a figura. Segundo especialistas, como arqueólogos e antropólogos, uma das razões que levaram as pessoas da pré-história a retratar figuras como as da imagem acima foi, provavelmente, a) a necessidade de deixar vestígios e proteger suas habitações. b) a falta de símbolos gráficos, ligada ao excesso de misticismo. c) o desconhecimento da escrita, relacionado a ideias religiosas. d) a caça como atividade lúdica e modo de enfeitar a moradia. e) a preocupação pela sobrevivência, associada a ritos mágicos. 3. (FUNCAB) A expressão Revolução Neolítica foi criada pelo arqueólogo inglês Gordon Childe para designar o movimento que, na Pré-História, substituiu o nomadismo de certas populações humanas pela sedentarizarão. Essas sociedades desenvolveram técnicas de cultivo agrícola e de armazenagem de alimentos. (Adaptado da Wikipedia) Sobre o surgimento e a expansão da agricultura, pode-se afirmar que: a) foram posteriores ao aparecimento do Estado e da escrita, pois esses elementos já existiam no Período Paleolítico. b) ocorreu no Oriente Próximo (Egito e Mesopotâmia) e daí se difundiu para o Extremo Oriente, Europa e América. c) teve origem na China e, como tantas outras invenções, alcançou a Europa e desta passou à América

29 d) ocorreu, em tempos diferentes, no Oriente Próximo (Egito e Mesopotâmia), na Ásia Oriental (Índia e China) e na América (México e Peru). e) pouco contribuiu para o ulterior desenvolvimento dos grupos humanos, ao contrário do que ocorreu com a metalurgia e o comércio. 4. (UFPB) As relações entre as explicações míticas e as científicas encontram, na origem da espécie humana, um dos pontos fundamentais e controvertidos. Sobre tais explicações, leia as afirmativas. I. O livro do Gênesis estabelece, sobretudo para as tradições religiosas judaicocristãs, o mito do Éden, no qual viviam Adão, criado por Deus e feito à sua semelhança, e Eva, criada também por Ele a partir de uma costela de Adão. Desse casal, descenderiam todos os homens. Os partidários dessa explicação são chamados de Criacionistas. II. O livro A Origem das Espécies, de autoria do naturalista inglês do século XIX, Charles Darwin, estabelece, nas tradições modernas, a consolidação de uma explicação científica sobre o aparecimento da vida e o surgimento do homo sapiens, que seria resultado das mutações genéticas adaptativas de símios. Essa explicação ficou conhecida como Evolucionista. III. O conhecimento histórico, baseado nas concepções científicas, demarca o aparecimento da espécie humana no período Paleolítico ou Idade da Pedra Lascada, ao que se segue o período Neolítico ou Idade da Pedra Polida e depois o período da Idade dos Metais, que, reunidos, compõem a chamada Pré-história. Está(ão) correta(s): a) apenas I. b) apenas II. c) apenas I e II. d) apenas II e III. e) I, II e III. 5. (UFRR) O CRU E O COZIDO: OS MITOS SOBRE A ORIGEM DO FOGO. O antropólogo Claude Lévi-Strauss propôs certa vez que o conhecimento e uso do fogo constituíssem o divisor de águas entre a natureza e a cultura. Isto é, por meio do fogo, o homem afasta-se da natureza, desenvolve técnicas mais avançadas e, mais importante ainda, distingue-se em relação à natureza e aos animais. Neste sentido, haveria uma oposição básica entre os alimentos crus e os alimentos cozidos, sendo estes últimos tomados também, como índice de identificação entre as comunidades tribais atuais. Sobre o conhecimento do fogo, marque a alternativa correta: a) O domínio do fogo possibilitou ao homem do Paleolítico melhorar a alimentação com mais variedade de carne assada e verduras cozidas. b) A conquista e domínio do fogo provocaram uma revolução na vida dos homens e mulheres do Neolítico. c) A conquista e domesticação do fogo significaram um processo de humanização, aquecimento do corpo contra o frio, espantar os animais perigosos e cozinhar os alimentos. d) O domínio do fogo elevou o homem ao estágio de civilização. e) O fogo foi a grande descoberta do homem do paleolítico, mas isto não o tornou diferente dos outros animais deste período e nem mudo a alimentação. 6. (UPE) A sobrevivência humana foi alvo de muitas aventuras, acompanhadas de especulações sobre a formação das instituições sociais e a necessidade de ultrapassar dificuldades cotidianas. Nas suas relações com a natureza, a sociedade humana historicamente: a) lutou para transformá-la, sendo responsável pela elaboração de regras consequentes do ponto de vista ecológico. b)superou grandes obstáculos, com suas invenções culturais, conseguindo vitórias importantes e usando sua criatividade

30 c) equilibrou seus feitos culturais com suas instituições sociais, garantindo espaços significativos para a vida social. d) foi ousada nas suas ações, mas restringiu o valor do comportamento individual nos tempos modernos. e) manteve hábitos de sua vida animal de forma permanente, conseguindo afirmar sua superioridade sem atropelos. 7. (UPE) Sobre História, Natureza e Cultura, analise as proposições abaixo. I. Quando cria e recria o mundo, construindo e reconstruindo maneiras de viver cada vez mais complexas transmitidas de geração para geração, o homem faz história. II. Quando começou a transformar a natureza, o homem criou os alicerces fundamentais da cultura e deu início à história. III. Mitos, lendas, deuses são as diversas maneiras que as sociedades humanas inventaram para explicarem o surgimento do mundo e das coisas. IV. Um dos aspectos mais importantes para compreendermos as diferentes trajetórias dos homens é a relação entre história e cultura. Estão corretas: a) I e III, apenas. b) II e IV, apenas. c) I, II e III, apenas. d) II, III e IV, apenas. e) I, II, III e IV. 8. (UPE) Sobre a relação homem e natureza, assinale a alternativa incorreta. a) A evolução orgânica do homem foi suficiente para lhe garantir as condições de enfrentar os desafios da natureza com absoluto sucesso. b) Quando o homem começou a transformar a natureza, ele deu início à história e criou os alicerces fundamentais da cultura. c) Com habilidade e inteligência, o homem procurou inventar instrumentos capazes de aumentar suas possibilidades de uma existência social mais segura. d) Um dos aspectos mais importantes para compreendermos as diferentes trajetórias dos homens é a relação entre história e cultura. e) Ao assumir a postura ereta, o homem pôde desenvolver suas habilidades manuais, as quais estimularam o aumento da capacidade cerebral para armazenar e associar informações. 9. (UFPB) Embora tenha como objeto de estudo as experiências humanas do passado, o conhecimento histórico reflete os interesses do tempo presente. Por isso, os historiadores utilizam-se de idéias e noções elaboradas pela biologia, antropologia, sociologia, etc. que possam responder às curiosidades de seus contemporâneos. Duas importantes teorias explicativas da origem do homem marcaram as obras dos historiadores de modo especial: Criacionismo e Evolucionismo. Sobre essas teorias, associe a cada uma delas suas respectivas características. (1) Criacionismo ( ) obra do acaso (2) Evolucionismo ( ) darwinismo ( ) plano divino ( ) gênesis ( ) big bang A seqüência correta é a) 1, 2, 1, 2, 1. b) 1, 2, 1, 1, 2. c) 2, 1, 1, 2, 1. d) 2, 2, 1, 1, 2. e) 1, 1, 2, 2,

31 OLHARES HISTÓRICOS Cinema 2001: Uma odisséia no espaço (Estados Unidos/Inglaterra, 1968). Direção de Stanley Kubrick. 148 min. O filme mostra um monólito negro que aparece em dois momentos cruciais da história humana: o domínio das ferramentas e a era espacial. A sequencia inicial do filme representa os primeiros momentos da espécie humana no planeta. A evolução da humanidade: armas, germes e aço (Estados Unidos, 2005). Documentário produzido pela National Geographic, baseado no livro homônimo de Jared Diamond. 159 min. A Guerra do Fogo (França/Canadá, 1981). Direção de Jean Jacques Arnaud. 97 min. Filmado no Quênia, na Escócia, na Islândia e no Canadá. A história gira em torno da descoberta do fogo em uma tribo pré-histórica. O Elo Perdido (Estados Unidos, 1988). Direção de Carol e David Hughes. O filme narra a fuga de um hominídeo cujo grupo foi dizimado por humanos. 88 min. Livros Aventura da escrita história do desenho que virou letra. Lia Zatz. 2 ed. São Paulo: Moderna, A Pré-História. Antonio Carlos Olivieri. 14 ed. São Paulo, Ática, Armas, germe e aço. Jared Diamond. Rio de Janeiro: Record, Charles Darwin: a Revolução da Evolução. Rebecca Stefoff. São Paulo: Companhia das Letras, Sites Arte Rupestre Site em espanhol que contém uma introdução sobre a arte rupestre no mundo, com ilustrações e mapas de localização. Disponível em: Museu de Arqueologia e Etnologia O site fornece informações gerais sobre os assuntos, além de divulgar as exposições e atividades realizadas no MAE. Disponível em:

32 O povoamento da América e os primeiros habitantes do Brasil As várias hipóteses sobre a chegada do Homem à América Diversas pesquisas arqueológicas indicam que a América começou a ser povoada por volta de 20 mil anos atrás, no entanto, alguns arqueólogos e geólogos estipulam que essa ocupação possa ter ocorrida há 20 mil, 30 mil ou até há 50 mil anos. Os primitivos habitantes da América, incluindo o brasileiro, pertencem à espécie Homo sapiens Moderno, originário da África. Mesmo com essas contradições quanto a datas, os arqueólogos têm acessos a uma série de registros habitantes da América: restos de fogueiras, pinturas rupestres, fósseis. Além disso, os maias, os astecas e os incas, deixaram pirâmides, templos e estátuas. PERIODIZAÇÃO DA PRÉ-HISTÓRIA AMERICANA Paleolítico ou Paleoíndio Produção de instrumentos feitos de pedras e ossos; Caça e pesca; Pinturas rupestres; Desconhecimento da escrita; Terras comunitárias; Grupos heterogêneos; Regiões que apresentaram vestígios dessa fase: Chile; Argentina; Brasil. Neolítico ou Neoíndio Coleta sistemática de vegetais: milho, batata, cacau, abóbora, mandioca; Sedentarização e urbanismo; Confecção de cerâmica, cestaria, tecidos e artefatos de pedra; Criação de animais: lhamas e alpacas; Regiões que apresentaram vestígios dessa fase: México, América Central e Andes. Há diversas hipóteses que buscam provar como ocorreu a chegada desse homem ao continente americano. I. Hipótese do autoctonismo Os especialistas, atualmente, rejeitam a idéia de que o homem americano surgiu no próprio continente, uma vez que não foi encontrado na América nenhum fóssil anterior ao Homem Sapiens Moderno. II. Hipótese da chegada pelo Pacífico Segundo os defensores dessa teoria, o homem chegou à América através de deslocamentos espontâneos navegando pelo Pacífico, saindo da Ásia, Polinésia ou Oceania. Como esses deslocamentos se deram por via marítima, justificaria alguns traços étnicos australoides e melanoides entre os primitivos americanos. III. Hipótese da chegada pela Ásia: modelo Clóvis De acordo com essa hipótese, os grupos humanos (mongolóides ou pré-mongolóides) migraram da Ásia (Sibéria) e chegou ao solo americano através do Estreito de Bering (região que separa a América do Norte da Ásia) há aproximadamente 12 mil ou 13 mil anos

33 No momento dessa travessia, o Estreito de Bering estava coberto por uma imensa camada de gelo por causa da diminuição das águas do mar provocada pela última glaciação, que fundou há 10 mil anos. Essa teoria é a mais aceita entre os arqueólogos, os geólogos e os paleontólogos. Essa hipótese é bem vista pela comunidade científica porque existe muita semelhança de DNA entre os povos que habitavam ambos os continentes. A maioria dos defensores dessa teoria sustenta que o Sítio Arqueológico de Clóvis, situado no estado norte-americano do Novo México, se encontra o fóssil mais antigo, com anos, que registra a presença do homem na América. No entanto, pesquisas atuais refutam essa afirmativa. IV. Hipótese da ocupação simultânea Segundo as mais recentes descobertas no campo da arqueologia, o homem americano fixou-se simultaneamente diversas regiões sul-americanas. Além do Brasil, em outras regiões são observados registros da presença humana. No sítio de Monte Verde (Chile), na Patagônia Argentina, pinturas rupestres, pontas de lanças e restos de fogueiras permitiram ratificar a presença humana na América do Sul há mais de anos. As discussões sobre o início do povoamento das Américas se parecem ainda frequentemente com um debate entre crentes e incrédulos que digladiam diante dos olhos perplexos dos que apenas procuram pesar os argumentos.(...) de qualquer forma, a opinião arqueológica internacional começa a aceitar a idéia de que existiram no hemisfério sul populações pelo menos tão antigas quanto(...) anos atrás, é preciso agora tornar esta aceitação irreversível publicamente detalhada e criticamente os achados(...). Comprovada uma antiguidade de mais de anos na América do Sul, não haverá como negar a existência de culturas(mais antigas) pelo menos no hemisfério norte. ANDRÉ, Prous. O povoamento da América visto do Brasil: uma perspectiva crítica. Revista Usp, São Paulo, n.34, p.20-1, jun-ago Os habitantes da América Uma das divergências mais marcante entre os especialistas sobre o surgimento do homem americano relaciona-se quanto ao tempo de sua chegada. Até o fim da década de 1990, a hipótese mais aceita era a do Modelo Clóvis. Segundo essa teoria, o homem teria chegado à América no máximo há anos. Entretanto, as pesquisas realizadas nas cavernas de Bluefsh, Canadá, dataram os instrumentos feitos por seres humanos de 24 mil anos. Em Monte Verde (Chile), os arqueólogos descobriram lareiras de argila e objetos de pedra com idade aproximada de 32 mil anos aproximadamente. Tal achado arqueológico provocou muito impacto entre os estudiosos da área. Para aumentar a polêmica sobre a possível data da chegada do homem ao continente americano, a arqueóloga Niède Guidon e sua equipe acharam na Serra da Capivara(São Raimundo Nonato, Piauí), os vestígios mais antigos concernente à presença humana na América. Os fragmentos de fogueiras, machados e facas encontrados possuíam datação que se aproximam a 48 mil anos. A teoria de Bering já está em xeque, porque a datação de 48 mil anos que obtivemos é absolutamente certa. Não há erro possível: o homem estava em São Raimundo Nonato há pelo menos 50 mil anos. As datas calculadas para entrada variavam entre 30 mil anos, a mais antiga, e 5 e 12 mil anos, as mais recentes. (...) Uma hipótese com que trabalhamos é que a América tenha sido colonizada por diferentes vagas populacionais, o que, em parte, explicaria as diferentes datações (...) É possível que o homem antigo tenha chegado à América por Bering (...), mas pode ter havido outras passagens. Outra hipótese é que o estreito de Bering tenha estado a seco diversas vezes e que a passagem tenha ocorrido em mais de um momento (...) GUIDON, Niède. Nas pegadas do homem americano. Entrevista a Vera R. Costa. Ciência Hoje, v. 12, n.69, p

34 Os sítios arqueológicos e Antiguidade da presença humana em território do atual Brasil Lagoa Santa As primeiras pesquisas arqueológicas realizadas no Brasil datam entre 1835 e 1845, quando o naturalista dinamarquês Peter Lund encontrou fósseis nas grutas de Lagoa Santa, município de Minas Gerais. Os esqueletos descobertos por Lund ficaram conhecidos como o Homem de Lagoa Santa. Em 1975, foi desenterrado em Lagoa Santa o crânio de uma mulher de anos, denominado de Luzia. O motivo desse nome é justificado em referência a Lucy, que consiste em um dos fósseis mais antigos já descobertos pelos estudiosos. A descoberta de Luzia simbolizou uma vitória para a arqueologia brasileira. O crânio de Luzia foi encontrado em Lagoa Santa, Minas Gerais, em No primeiro plano, crânio de Luzia. No segundo, reconstituição de seu rosto. A descoberta de Luzia colocou o Brasil numa posição notável no campo da arqueologia. Nos anos 90, o fóssil de Luzia foi analisado por uma equipe de especialistas da Universidade de São Paulo (USP). Em 1999, com a ajuda da computação gráfica desenvolvida na Universidade de Manchester (Inglaterra), houve a reconstituição da possível cabeça de Luzia. Segundo as análises dessa reconstituição, Luzia possuía aspectos negróides que se assemelhavam com os habitantes das regiões da África e da Oceania, a saber, nariz achatado, queixo grande e lábios grossos, não apresentando características fenótipos com os índios brasileiros. Os primeiros povoadores eram negróides diz o cientista Walter neves Dois crânios humanos antigos, desenterrados no Vale do ribeira, em São Paulo, e no Vale Central do México, estão ajudando a confirmar uma hipóteses sobre o povoamento das Américas que costumava provocar risadas nos arqueólogos há uma década: a de que os primeiros habitantes do continente eram mais parecidos com os aborígines do que com os nossos índios atuais. Os fósseis, de e anos, respectivamente, estão entre os vestígios humanos mais antigos do continente. Medições realizadas em ambos mostram que eles eram fisicamente semelhantes à Luzia, a brasileira de traços negróides de anos de idade que virou celebridade. Para o antropólogo Walter Neves, da USP, e seu colega Héctor Pucciarelli, da Universidade de La Plata, Argentina, a povoação do continente americano teve dois componentes biológicos: os primeiros povoadores das Américas vieram da Ásia, mas, não eram mongolóides (asiáticos típicos), e sim autralo-melanésios de características negróides. Essa população teria cruzado o estreito de Bering, entre Sibéria e Alasca, há cerca de 15 mil anos, tendo em extinta devido a algum tipo de competição com os mongolóides, avós dos índios atuais(o segundo componente biológico), que imigraram depois. O fato é que todos os crânios de idade igual ou superior a 8 mil anos analisados pelo grupo de Neves, desenterrados principalmente na região de Lagoa Santa, em Minas Gerais, têm traços africanos. Ângelo, Claudino. Primeiros habitantes das Américas. Folha de S. Paulo, 21/3/

35 Os sambaquis Uma importante marca sobre o nosso antepassado são os sambaquis ou concheiras. Os sambaquis constituem elevações de conchas que chegam a alcançar dezenas de metros, ou seja, são morros de conchas de moluscos cobertos pela vegetação. Esses registros arqueológicos são encontrados na faixa litorânea do Brasil ou nas margens de alguns rios. Essas formações não são naturais e sim, resultado da ação dos primitivos moradores do atual território brasileiro. As comunidades que habitaram nos sambaquis deixaram vários vestígios, tais como: restos de alimentos, ossos de peixes e cascas de moluscos. Também foram enterrados nesse local, cabanas, artefatos e corpos. Boa parte dos sambaquis está localizada no litoral nordestino e nos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Santa Catarina. No ano de 2001, os pesquisadores da Universidade de São Paulo descobriram o mais antigo sambaqui encontrado em solo brasileiro. Nele foi achado um esqueleto de um homem com cerva de anos. Sítios na Amazônia Para os arqueólogos, a região da Amazônia foi inicialmente habitada há 12 mil anos. Os resquícios desse povoamento foram descobertos em Santarém e Pedra Pintada. Esses primitivos habitantes eram nômades e também praticavam a caça e a coleta. Em torno de 1000 a.c., formaram as primeiras aldeias. Já em a.c., aproximadamente, foi formada na Ilha de Marajó, uma sociedade de agricultores, dando origem à cultura marajoara, que se caracteriza pelo sofisticados trabalhos de cerâmica. São Raimundo Nonato O Parque Nacional da Serra da Capivara foi criado em 1979 e tombado pela Unesco como Patrimônio Mundial da Humanidade em Esse Parque está situado no Piauí, no município de São Raimundo Nonato. Nessa região estão sendo realizados vários estudos coordenados pelos arqueólogos Niède Guidon e Fábio Parente. Essas pesquisas revelaram a existência de um conjunto de mais de 25 mil pinturas rupestres, além de 250 sítios arqueológicos. Por causa do clima, os objetos e figuras estão bem conservadas. Para Niède Guidon, os achados arqueológicos de São Raimundo Nonato datam de pelo menos de 20 mil anos, sendo que os restos das fogueiras encontradas têm mais de 30 mil anos. Infelizmente, a teoria de Niède Guidon é rejeitada por boa parte dos arqueólogos. Além desses Sítios Arqueológicos apresentados, há outros importantes no Brasil, tais como: Santana do Riacho, Marcelândia e Santa Elina (Mato Grosso), Palmito (Rio Grande do Sul), Rio Parati (Santa Catarina). Nesses locais, têm sido encontrados potes de barro, objetos de pedra lascada e polida, pinturas rupestres e restos de fósseis

36 TEXTO COMPLEMENTAR Analisando o texto Guardiã do passado: a polêmica arqueóloga do sertão piauiense A doutora Niède Guidon convida a todos os quiserem assistir sua morte a comparecer amanhã, às 9h, no Serrote do Artur, onde ela será assassinada pelo proprietário, o senhor Artur. A Rádio de São Raimundo Nonato repetia a cada 15 minutos o anúncio, que pôs a pequena cidade do interior do Piauí em polvorosa. O dono daquela área, rica em pinturas rupestres, havia prometido matar Niède se ela adentrasse suas terras para realizar pesquisas. Não era a primeira, nem seria a última vez que alguém ameaçaria Niède Guidon. Diretora da Fundação Museu do Homem Americano (Fumdham), que administra o Parque Nacional da Serra da Capivara, ela é uma das maiores arqueólogas da atualidade. E uma das mais polêmicas também. Com base em descobertas arqueológicas datadas de 50 mil anos, defende a hipóteses de que o homem teria chegado ao solo americano muito tempo antes do que apontam as terias tradicionais. Ninguém discorda, porém, que ela conseguiu transformar um punhado de rochas no sul do Piauí em um dos maiores parques arqueológicos do planeta, exemplo de pesquisa acadêmica, conservação ambiental e desenvolvimento sustentável. A paulista de Jaú, que já foi professora do ensino médio, ocupou cargos em impor-tantes instituições de pesquisa na França. Chegou ao sertão em 1970, chefando uma missão arqueológica daquele país para ajudar a implantar o parque, em uma região que ostenta a maior concentração de pinturas rupestres das Américas. Logo no inicio, quando não havia estrutura de visitação, a pesquisadora rasgava dezenas de quilômetros sob o sol forte da caatinga, a pé, em busca de vestígios da presença humana. Passava dias no meio do mato, longe da civilização. Hoje, com mais de 70 anos, já se acostumou com os pinos que ganhou nos joelhos por causa dos inevitáveis acidentes. Niède, com sangue francês, italiano, português, suíço e índio, nunca casou ou teve filhos. Brinca dizendo que sua herança genética não é boa. O que me falta aqui são as noites de teatro, as óperas, os grandes concertos que assisti quando vivia em Paris. Mas tenho a maravilha da natureza do parque, dos sítios arqueológicos fantásticos, a pesquisa intrigante e que me segura como um romance policial. E isso me basta. Em tempo: na manhã seguinte, o promotor da cidade mandou a polícia militar acompanhála às terras do senhor Artur. No final, ele topou fechar um acordo de aluguel e ela pôde pesquisar em paz. EVELYN, Uliam; SAKAMOTO, Leonardo. Heróis da Natureza. Revista Terra. Edição: abril de Elabore um texto relatando a trajetória da pesquisadora Niède Guidon. 2. Dê sua opinião sobre a importância das pesquisas feitas por Niède para a arqueologia brasileira

37 FAZENDO HISTÓRIA Texto 01 A arqueóloga Niède Guidón riu por último. Evidências apresentadas ontem indicam que as ferramentas de pedra descobertas pela pesquisadora no Boqueirão da Pedra Furada, em são Raimundo Nonato, foram mesmo feitas por seres humanos, e têm entre 33 mil e 58 mil anos de Idade. São, portanto, a evidência mais antiga da ocupação da América. Durante mais de duas décadas Guidon, paulista de origem francesa, foi ridicularizada por seus colegas por propor uma idade tão antiga para os instrumentos (...) Os artefatos têm causado controvérsia desde a sua descoberta, em Eles foram achados juntamente com supostas fogueiras no abrigo, cujo carvão foi datado em até 50 mil anos. Uma datação realizada depois na Austrália recuou a idade ainda mais: 58 mil anos. O problema era que dominada pelo chamado paradigma Clovis first, segundo o qual os ancestrais dos índios chegaram recentemente, por uma ponte terrestre aberta entre a Sibéria e o Alasca na última glaciação. GARCIA, Rafael. Folha de S. Paulo, 20 dez Depois da leitura do texto acima, faça uma pesquisa sobre São Raimundo Nonato. 1. Depois da leitura do texto acima, faça uma pesquisa sobre São Raimundo Nonato. 2. Defina as seguintes palavras: a) Arqueologia b) Artefatos c) Sítio Arqueológico. d) Fósseis e) Carbono Pesquise em jornais, revistas e internet as mais importantes e recentes descobertas arqueológicas brasileiras. 4. Quais as hipóteses para o início da ocupação humana na América. 5. Faça um rápido comentário sobre os principais Sítios Arqueológicos do Nordeste

38 QUESTÕES DE VESTIBULARES 1. (UFSC) Sobre a ocupação humana no continente americano, assinale a alternativa incorreta. a) Existem elementos que comprova, ter ocorrido a mais de 30 mil anos. b) Grupos nômades ocuparam o litoral atlântico. c) Grupos agricultores fixaram-se nos altiplanos andinos. d) Teorias comprovam a origem asiático-polinésia do homem americano. e) Teorias comprovam a origem autóctone do homem americano. 2. (UFSCAR) (...) Pré-História do Brasil compreende a existência de uma crescente variedade lingüística, cultural e étnica, que acompanhou o crescimento demográfico das primeiras levas constituídas por poucas pessoas (...) que chegaram à região até alcançar muitos milhões de habitantes na época da chegada da frota de Cabral. (...) não houve apenas um processo histórico, mas numerosos, distintos entre si, com múltiplas continuidades e descontinuidades, tantas quanto as etnias que se formaram constituindo ao longo dos últimos 30, 40, 50, 60 ou 70 mil longos anos de ocupação humana das Américas. (Pedro Paulo Funari e Francisco Silva Noeli. Pré-História do Brasil, 2002.) Considerando o texto, é correto afirmar que: a) as populações indígenas brasileiras são de origem histórica diversa e, da perspectiva linguística, étnica e cultural, se constituíram como sociedades distintas. b) uma única leva imigratória humana chegou à América há 70 mil anos e dela descendem as populações indígenas brasileiras atuais. c) a concepção dos autores em relação à Pré-História do Brasil sustenta-se na idéia da construção de uma experiência evolutiva e linear. d) os autores descrevem o processo histórico das populações indígenas brasileiras como uma trajetória fundada na idéia de crescente progresso cultural. e) na época de Cabral, as populações indígenas brasileiras eram numerosas e estavam em um estágio evolutivo igual ao da Pré-História europeia. 3. (UFPB) Numa reportagem publicada na Revista Veja, em 21 de abril de 1999, é feita a seguinte constatação: Outro trabalho científico de destaque envolvendo a chegada do homem à América foi publicado no mês passado pela revista americana Science, uma das mais importantes do mundo na área. O estudo foi feito por dois geneticistas brasileiros, Sérgio Danilo Pena e Fabrício Santos, que confirmaram o parentesco genético entre tribos de seis países americanos (Brasil, Peru, Argentina, Colômbia, México e Estados Unidos) e um pequeno povoado nas Montanhas Altai, entre a Sibéria, na Rússia, e a Mongólia. A partir da citação, analise as hipóteses abaixo sobre a origem do homem no continente americano. A mais aceita pela historiografia e que, mais uma vez, foi confirmada pela pesquisa citada, é a hipótese da: a) origem autóctone que afirma ser o homem oriundo da própria América. b) origem polinésia que defende terem os grupos de homens saído das ilhas do Arquipélago Polinésio, em canoas rudimentares, atravessado o Oceano Pacífico e se estabelecido em diferentes locais da América. c) origem asiática que pressupõe a emigração sucessiva de grupos humanos provenientes da Ásia. Esses grupos teriam atravessado o estreito de Bering, que durante invernos rigorosos formava um istmo de gelo, possibilitando sua travessia a pé. d) origem africana que defende a vinda de sucessivos grupos de homens do continente africano. Esses homens teriam atravessado o Oceano Atlântico em canoas rudimentares e se instalado em vários pontos da América. e) origem fenícia que pressupõe uma migração dos fenícios para as Américas, atestada por antigas inscrições encontradas em pedras em vários locais do continente

39 4. (CEPERJ) Antes da chegada dos espanhóis e demais europeus, o continente americano era habitado por vários povos, numerosos, desigualmente distribuídos pelo território e diferenciados entre si por distintos graus de domínio técnico sobre a natureza. Desde que os europeus desembarcaram no Novo Mundo, diferentes teorias têm explicado a origem do homem americano. Atualmente, a hipótese sobre a origem do homem americano mais aceita é: a) a tese segundo a qual o indígena americano é autóctone, ou seja, é originário da própria América. b) a perspectiva que afirma que o indígena americano é descendente de populações indianas que navegaram do Índico até o Atlântico. c) os povos americanos provêm de outros continentes e se originam de migrações diversas através do Estreito de Bering e do Oceano Pacífico. d) os indígenas americanos navegaram pelo Atlântico, desde a costa da África até atingirem o litoral atlântico da América e se fixarem. e) os nativos da América são descendentes dos maias, incas e astecas e se originam dos expurgos que costumavam acontecer entre esses povos. 5. (UEPG) Em seus estudos sobre a ocupação do continente americano, uma das fontes de que os estudiosos se valem são montes artificiais formados por conchas de moluscos e restos de outros animais que antigos habitantes do continente depositavam em determinados locais. Como são chamados esses vestígios? a) jardins suspensos. b) tumbas. c) zigurates. d) sambaquis. e) elevações. 6. (UEPG) No chamado período pré-histórico, em algumas regiões do mundo, a organização dos grupos humanos passou a assumir características próprias. Estas e outras características foram acompanhadas pelo desenvolvimento das crenças e das idéias de cada grupo. É por vestígios encontrados que é possível estudar este período. Entre os registros que possibilitam o estudo deste período estão as pinturas rupestres. Sobre estes registros, assinale a alternativa correta. a) São artefatos construídos no interior das tribos indígenas com o único objetivo de afugentar animais ferozes. b) São pinturas encontradas nas paredes internas das cavernas, como de Altamira, na Espanha e Lascaux, na França, que comprovam a existência de crenças e cerimoniais entre os grupos humanos, além de serem exemplos de suas habilidades artísticas. c) São desenhos que expressam unicamente a divisão do trabalho existente nos grupos que viviam na América. d) Era um fenômeno de registro das atividades humanas, mas que pela sua baixa qualidade, não foram consideradas como fontes de estudo nas pesquisas de caráter antropológico. e) Caracterizam-se como sendo descrições escritas de rituais sagrados, que se tornaram muito comuns nos grupos que viveram no interior da África. 7. (UEPG) No período denominado de pré-história brasileira, diversos povos pertencentes a várias culturas espalharam-se sobre o território brasileiro. Estes povos sabiam construir instrumentos de pedra e osso, arco a flecha, entre outros. Peter Lun encontrou no Brasil fósseis de cerca de 30 indivíduos daquele período. Assinale a alternativa que identifica a localização desse sítio arqueológico. a) Região de fronteira entre Brasil e Uruguai. b) Região da Chapada Diamantina. c) Região amazônica. d) Parque Nacional de Sete Cidades no sertão de Piauí. e) Região mineira de Lagoa Santa

40 OLHARES HISTÓRICOS Cinema Evolução (Canadá, min.). Direção de Michael Mills. O desenho animado descreve, com muito humor, o processo evolutivo do ser humano. Ganhou 11 prêmios internacionais. Livros Os povos da América: dos primeiros habitantes às primeiras civilizações urbanas. Ana Maria Neves e Flávia Ricca Humberg. São Paulo: Atual, Sambaqui: arqueologia do litoral brasileiro. Madu Gaspar. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, O Brasil, antes dos brasileiros: a pré-história do nosso país. André Prous. 2. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, Sites Associação Brasileira de Arte Rupestre O site tem uma seção introdutória abordando pinturas rupestres e indicando uma série de links de instituições semelhantes no mundo. Disponível em: Fundação do Museu do Homem Americano Página que mantém informações atualizadas sobre os achados arqueológicos e pinturas rupestres do Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí. Disponível em: Museu da América Museu espanhol voltado para os acervos do continente americano. Há uma seção exclusiva para assuntos relacionados com o período pré-histórico. Disponível em:

41 CAPÍTULO 4 O Egito Antigo, 52 CAPÍTULO 5 Mesopotâmia, 67 CAPÍTULO 6 Hebreus, 78 CAPÍTULO 7 Cretenses e Fenícios, 90 CAPÍTULO 8 Os Persas, 98 Geralmente o soberano egípcio (o faraó) era representado utilizando símbolos de poder e realeza. Acima, representação do Tribunal de Osíris Ao longo do processo histórico, o homem estabelece várias relações de poder. Na antiguidade, havia forte ligações entre religião e as variadas formas de saberes. As duas imagens ao lado retratam o cotidiano religioso dos egípcios.

42 O Egito Antigo Localização geográfica O Egito está localizado no nordeste da África, em uma área conhecida no passado como Crescente Fértil. Apesar da nomenclatura, ocupa um território predominantemente desértico. O Egito tinha o rio Nilo seu ponto de partida fundamental. Não é por acaso que o historiador grego Heródoto afirmou que o Egito foi um presente do Nilo. A presença do rio para qualquer comunidade humana numerosa na antiguidade era essencial para garantir uma sobrevivência com menos obstáculos, de alimentos e possibilidade de vida mais sedentária. Sem o Nilo e suas inundações seria quase impossível a fertilidade das terras do Egito. A presença marcante do rio Nilo era ressaltada pelos egípcios. O rio era um verdadeiro deus. Mapa da Crescente Fértil do Egito Antigo. A natureza tornou possível o desenvolvimento da civilização egípcia, principalmente graças à presença do rio Nilo, pois na região de suas nascentes (Etiópia, Sudão e Uganda atuais) caem, a partir do mês de junho até setembro, abundantes chuvas que provocam enchentes e alagam todo o vale percorrido pelo rio. Quando, a partir, aproximadamente, do mês de novembro, as águas voltam ao leito normal, deixam nas terras irrigadas um limo extremamente fértil (húmus). Esse material fertilizador é trazido de regiões distantes, em conseqüência da erosão provocada pela correnteza da água. Era esse húmus ou limo fertilizante, que misturava elementos naturais de origem animal, vegetal e mineral, que tornava possível a prática da agricultura no Antigo Egito. Essa ciclotomia do rio contribuiu para a formação da peculiar sociedade ou civilização hidráulica egípcia. No entanto, não se pode esquecer a ação humana. O homem criou técnicas e instrumentos para construir seus caminhos para sua sobrevivência. A necessidade de aproveitar o máximo as águas do Nilo fez os egípcios desenvolverem um relevante sistema de irrigação. Os egípcios utilizavam bem as águas que inundavam o vale, por elementos da vegetação e substâncias minerais

43 A situação política Inicialmente, o Egito era composto por pequenas aldeias autônomas denominadas como spart ou nomos, chefiadas pelos nomarcas. A prática da agricultura, facilitada pela situação natural da região, possibilitou o desenvolvimento da região com a formação dos primeiro centros urbanos. A união dos nomos do Vale do Nilo na construção de canais de irrigação e diques originou dois reinos: Alto Egito ou Terra do Sul e o Baixo Egito ou Terra do Norte. Por volta de 3100 a.c, os reinos egípcios foram unificados por intermédio de Menés. A partir de então, o Egito passou a ter um governo forte e centralizado na exploração contínua do trabalho dos camponeses. O faraó, como era chamado o rei egípcio, era identificado a Hórus, filho de Rá, o deus-sol. O soberano no Egito detinha poderes administrativos, militares e religiosos, sendo o sacerdote chefe dos templos. Além disso, intervinha no comércio, nas minas e nos celeiros. Dessa forma, a história do Egito dinástico é comumente estudada em três períodos: o Antigo Império, o Médio Império e o Novo Império. Antigo Império ( a.c) Iniciado com a unificação dos dois reinos, feita por Menés, o primeiro faraó. O Antigo Império pode ser considerado como um período de paz. O faraó não tinha um exército permanente. O Egito conseguiu uma relativa prosperidade econômica. Essa época foi caracterizada por grandes obras de irrigação, além da construção das pirâmides de Quéfren, Quéops e Miquerinos, em Gizé. Segundo Heródoto, na construção de Quéfren foram utilizados cerca de 100 mil homens, durante 20 anos. Pirâmides de Quéfren, Quéops e Miquerinos, em Gizé. Essas construções magníficas exigiam conhecimentos apurados de geometria, engenharia e matemática. As pirâmides simbolizavam a imortalidade dos faraós. Eram grandiosos túmulos que exibiam as profundas relações que havia entre a religião e o Estado Egípcio. No decorrer dos anos, o poder central foi se enfraquecendo. Sua decadência pode ser atribuída às manobras dos grandes proprietários de terras e dos líderes dos antigos nomos, que desafiaram, freqüentemente, a força do faraó. Assim, entre a.c. houve um período de instabilidade caracterizado pelo enfraquecimento do poder faraônico e pelo fortalecimento dos poderes locais (nomarcas)

44 Médio Império (2100 a.c a.c.) Sob a liderança do faraó Menutohop II, iniciou-se uma disputa vitoriosa contra os nomarcas, restabelecendo o poder central e a unidade do império. A cidade de Tebas foi transformada na nova capital. O regime de servidão coletiva foi restabelecido, o que possibilitou a ampliação dos canais de irrigação e contenção, abrindo novas áreas para exploração agrícola. O Médio Império foi um período próspero. Houve expansão territorial, início das relações internacionais com os fenícios, os sírios e os cretenses. A vida cultural floresceu de forma esplendorosa. Os egípcios, no entanto, sofreram mais uma interrupção na sua centralizadora trajetória política, com a invasão dos hicsos, por volta 1630 a.c. Os hicsos eram povos nômades vindos da Ásia. Eles usavam armas de ferro e carros de guerra conduzidos por cavalos, desconhecidos na sociedade egípcia. Os invasores permaneceram por mais de cem anos no Egito. Novo Império (1580 a.c. 525 a.c.) O longo domínio dos hicsos uniu os egípcios contra esse inimigo comum. Sob a liderança de Amósis I, iniciou-se o levante que levou a expulsão dos hicsos. A centralização política foi reposta, dando início ao Novo Império, que alguns historiadores consideram como o apogeu da civilização egípcia. Nesse período, outros povos que haviam se estabelecido no Egito, como os Hebreus, foram perseguidos e transformados em escravos. O pacifismo deu lugar a uma política de conquistas territoriais: Núbia, Palestina, Etiópia, Síria e Fenícia. Dessa forma, os egípcios saíram do seu isolamento. Os egiptólogos destacam o surgimento dos comerciantes, mesmo dependentes dos palácios e dos templos, mas exercendo relações comerciais internas e externas, especialmente com a Ásia, incluindo o tráfico negreiro. Com o Estado centralizado que controlava a economia do país, com um governo e funcionários administrando inclusive os templos, terras, homens, barcos e rebanhos, comprando tributos e trabalhos, além daquilo que era produzido nas terras do próprio palácio, o governante se impunha como senhor supremo do Egito. Foi com tal poderio que o faraó Amenófis IV (1377 a.c 1358 a.c) fechou templos e confiscou bens em favor da divindade Aton, buscando profundas reformas de cunho político-religioso. VECENTINO, Cláudio. História pra Ensino Médio: História Geral e do Brasil. Volume único. São Paulo: Scipione, Série Parâmetros. As conquistas militares foram notáveis no governo de Ramsés II, o qual subjugou os hititas. Segundo os historiadores, o ápice da civilização egípcia foi atingido com esse faraó, não apenas devido às vitórias militares, mas também às obras arquitetônicas desse período. Após o seu governo, houve mais uma vez o esfacelamento do poder central, marcado pelas disputas internas entre os sacerdotes e o faraó. Devido a esses problemas, o Egito, por volta de 1100 a.c, volta a ficar dividido em Alto e em Baixo, com governos rivais disputando o poder central.isso enfraqueceu o Estado, o que impulsionou a invasão dos assírios em 662 a.c. Entretanto, o Egito ainda voltaria a ser autônomo durante o Renascimento Saíta, em referência a Saís, sua última capital. No decorrer desse período, o comércio ganhou notável desenvolvimento, tendo o faraó Necao financiado uma expedição fenícia de contorno a costa africana. Por volta de 525 a.c., os persas, comandados por Cambises, derrotam os egípcios na batalha de Pelusa e conquistam o território. A partir de então, o Egito vai ser alvo de sucessivas invasões, depois dos persas, vêm os macedônios, os romanos, os árabes, os turcos e os ingleses

45 Situação econômica O Egito, como uma das mais privilegiadas e típicas civilizações ou sociedades hidráulicas do Médio Oriente, teve na agricultura a base de sustentação e concentração do seu trabalho. Favorecidas pelo rio, pelo adubo natural (húmus), pelas barragens de contenção (diques/açudes) e canais (irrigação), as terras revelaram generosidade nas colheitas e fertilidade. Ao longo do rio Nilo, desenvolveram-se plantações de trigo, cevada e linho feitas pelos felás (campesinato) e escravos (populações dominadas), que impulsionaram rapidamente a agricultura, graças ao aperfeiçoamento técnico para a semeadura e plantio. Arados primitivos puxados por bois e o uso de metais contribuíram para grandes colheitas, que transformaram o Egito num grande celeiro do Oriente. As terras pertenciam à comunidade como um todo, porém, o Estado coordenava as atividades produtivas, enquanto os camponeses tinham apenas o direito de usufruto. A economia egípcia apoiava-se na servidão coletiva: os camponeses eram obrigados a realizar grandes obras de irrigação dirigidas pelo poder faraônico, além de construírem locais de armazenamentos, palácios, templos religiosos e monumentos fúnebres. Esse tipo de trabalho era realizado com freqüência no período de cheias do Nilo, quando havia interrupção temporária das atividades agrícolas. Nas civilizações orientais da Antiguidade a organização das atividades econômicas dependeu, de modo geral, do uso e do controle dos recursos hídricos. Daí por que elas já foram definidas, figurativamente, como civilizações hidráulicas. Essas civilizações localizaram-se ao longo de rios que, de um modo ou de outro, forneciam os principais meios para obtenção da subsistência dos povos que ocupavam as terras por eles irrigadas. O Egito foi o caso mais típico e também o mais famoso. NADAI, Elza e NEVES, Joana. História Geral. A construção de um mundo globalizado. 1 ed., São Paulo: Saraiva, 2002, p. 57 O Egito era o grande produtor da Antiguidade. Uma parte da produção das boas colheitas era exportada. Havia também criação de gansos, carneiros e cabras. O artesanato, a produção de vidros e tecidos, além da relevante construção naval complementam a economia do Egito

46 O comércio era feito ao longo do rio Nilo por embarcações que subiam e desciam o riodeus (vida e fertilidade), lotadas de produtos agrícolas (cereais) e artesanais. A fiação, a tecelagem, a produção de gêneros artesanais derivados das folhas de papiros (planta do delta do rio Nilo) e a ourivesaria patrocinaram um significativo desenvolvimento do comércio interno, na medida em que poucas relações eram mantidas com o exterior. O pastoreio de gados bovino e ovino também poderia ser visto nas regiões de pastos ribeirinhos. Contudo, podemos dizer que predominava no Egito a economia natural. Organização social As diferenças sociais tiveram origem quando a disputa pela posse das terras férteis e cultiváveis colocou, de um lado, os egípcios apenas possuidores da força de trabalho (massa camponesa ou felás e escravos); de outro, os proprietários das terras (obtidas pela força e mantidas através da religiosidade, fanatismo, misticismo e proteção dos deuses e sacerdotes). No ponto mais alto da pirâmide social havia o rei (faraó) e a família (nobreza). O rei, por considerar-se descendente da divindade, possuía prerrogativas únicas. A classe sacerdotal também ocupava importante posição na hierarquia social, pois, juntamente com a nobreza, era proprietária das terras e detentora da força de trabalho (campesinato). O Egito foi marcado por rígida divisão social. (...) Com o tempo, a sociedade ficou maus diversificada, abrangendo comerciantes, artesãos, construtores, soldados, embalsamadores, funcionários públicos, escribas, sacerdotes e pessoas de muitas outras profissões. Como acontece hoje em certos países. A ocupação profissional dos indivíduos determinava sua posição na sociedade. BRAICK, Patrícia Ramos. MOTA, Myriam Becho. História Das cavernas ao Terceiro Milênio. Volume único. São Paulo: Moderna, 3 edição, Com o desenvolvimento das atividades comerciais e artesanais (Médio Império), conheceu-se o desenvolvimento de uma classe média que chegou, por conta de suas características empreendedoras, a conquistar alguma posição social e influência sobre o governo. Os funcionários ou burocracia do Estado faraônico passaram a ocupar, ao longo da história do Antigo Egito, um lugar de destaque principalmente no tocante à arrecadação de tributos dos camponeses. Existia toda uma hierarquização de escribas cuja posição variava de acordo com a confiança neles depositada pelo Estado (faraó, nobreza e alta classe sacerdotal). Os operários tinham uma posição e situação desfavoráveis em relação aos camponeses, pois eram estes que imortalizavam o deus-rei (faraó). Funcionários especiais fiscalizavam os felás. A massa de escravos era submetida aos trabalhos mais duros, como bombear água para os canais de irrigação e açudes. Os escravos foram mais numerosos a partir do Novo Império, quando grande número deles foi feito pelas guerras. Apesar da existência de escolas públicas mantidas pelo Estado faraônico, estas formavam principalmente escribas que iam trabalhar na administração governamental

47 A terra dos deuses No Egito antigo, as crenças religiosas eram determinantes para organização social. Segundo Heródoto, os egípcios eram os mais religiosos dos homens. O cotidiano dos egípcios era conduzido pelos preceitos de sua fé. Os textos literários, os majestosos templos e até mesmo o conhecimento científico enfatizavam a soberana eternidade dos deuses perante a vulnerabilidade humana. Os egípcios acreditavam em vários deuses, ou seja, eram politeístas. As divindades eram simbolizadas na forma animal e humana, conhecido como antropozoomorfismo. Os animais, como cães, gatos, crocodilos, além das forças naturais (sol, céu, terra), eram objetos de culto. A religião egípcia apresentava-se em duas: a oficial e a popular. Para boa parte da população as celebrações, em geral secretas, realizadas pelos sacerdotes nos templos não tinha menor sentido. A maioria da população baseava suas crenças e ritos nas magias, adivinhações, esconjuros, fazendo uso intenso dos meios naturais (fauna e flora). O ocultismo também era praticado no Egito antigo, sendo a astrologia bem desenvolvida na época. Dessa forma, as artes e as ciências estão impregnadas pelas concepções religiosas. Por falta de uma doutrina teológica elaborada e acessível, a religiosidade popular se caracterizava pela preocupação com o além, por temores e superstições sobre a vida presente e a futura e por uma moral orientada para enfrentar o julgamento que sobreviria à morte. O povo não entrava nos templos, reservados aos sacerdotes previamente purificados; não obstante, abriam-se previamente cavidades em suas paredes para que os súditos acorressem a apresentar suas oferendas e súplicas. Nas solenidades, as estátuas dos deuses saíam em procissão e podiam ser vistas por todos. Num lugar de destaque nas casas, eram veneradas pequenas estátuas dos antepassados ou de alguma divindade menor. A elas eram acrescentadas amuletos e conjuros de toda sorte de perigos, dos quais permaneceram abundantes restos arqueológicos. Enciclopédia Barsa. A Religião no Egito Antigo. Religiosidade popular. p.317. O número de deuses e deusas que compunham o panteão egípcio era enorme. Acompanhe na tabela abaixo, alguns deles. Rá: deus-sol; o Senhor de todos. Atum: princípio criador. Criou Shu e Tefnet. Hórus: deus falcão; o sol nascente Osíris: senhor dos mortos e deus da fertilidade. Ísis: deusa da vegetação e das sementes. Ptah: protetor dos artesão. Set: o vento quente do deserto. Amon-Rá: protetor dos faraós. Thot: deus da ciência e patrono dos escribas. Anúbis: deus-chacal; protetor dos embalsamadores. Maat: deusa da justiça. Sobeque: deus-crocodilo. A reforma religiosa Por volta do século XIV a.c., o faraó Amenófis, casado com a rainha Nefertiti, implantou o culto ao deus Aton, o qual era simbolizado pelo disco solar. Dessa forma, Aton passou a ser a divindade principal do panteão egípcio. Portanto, Amenófis IV pretendia tornar Aton o deus único. Para alguns estudiosos, essa pretensão pode ser vista como uma experiência

48 monoteísta. No entanto, a casta sacerdotal não aceitou e as adorações aos deuses antigos foram mantidas. Amenófis construiu um templo em homenagem a Aton que passou a se chamar de Aquenaton, aquele que adora Aton. No governo de Tutancâmom, sucessor de Amenófis, foi restabelecido o culto aos antigos deuses em suas maneiras tradicionais. O culto a Aton Amanheces formoso no Horizonte Celeste, Tu, vivente Aton, princípio da vida! (...) Quando adormeces no horizonte ocidental A terra escurece como se estivesse morta. (...) Criador da semente nas mulheres Tu que transforma o fluido em homem Que manténs o filho no ventre materno (...) Ó Deus único, nenhum outro se te iguala! Tu próprio criaste o mundo de acordo com tua vontade, Enquanto ainda estavas só.(...) PINSK, J(org.). 100 textos de História Antiga. São Paulo:contexto, 1991, p A crença na vida após a morte Busto de Aquenaton Para os egípcios, a morte simbolizava apenas o ato de separação entre corpo e alma. Eles acreditavam que a morte não significava o fim de tudo. A crença na eternidade levou os egípcios a criar técnicas com objetivo de preservar os corpos. Para isso, eles desenvolveram a mumificação. A preocupação egípcia com a vida após a morte fez surgir a figura do embalsamador: do faraó à população pobre, todos queriam preservar o próprio corpo após a morte, para impedir a putrefação e o conseqüente desaparecimento do cadáver. Só assim poderiam ingressar na vida eterna.(...) O embalsamador apresentava aos parentes do morto os diversos modelos e estilos de múmias, bem como os produtos que poderiam ser utilizados. A condição econômica da família do falecido determinava as condições do embalsamamento. BRAICK, Patrícia Ramos. MOTA, Myriam Becho. História Das cavernas ao Terceiro Milênio. Das origens da humanidade à Reforma religiosa na Europa.. São Paulo: Moderna, 3 edição, p.58. Para os egípcios, a morte simbolizava apenas o ato de separação entre corpo e alma. Eles acreditavam que a morte não significava o fim de tudo

49 As ciências Astronomia: No Egito antigo pode ser compreendida como uma necessidade religiosa. Através do desenvolvimento da astronomia foi possível estabelecer um calendário solar para festas e comemorações. Esse calendário era formado da seguinte maneira: o dia era dividido em 24 horas e a hora em minutos; a semana tinha dez dias e o mês, três semanas. O Ano, de 365 dias, era dividido em estações: inundação, germinação e ceifa. Além disso, para medir o tempo, os egípcios usavam relógios de água. Matemática: O avanço dessa ciência está ligado com a astronomia, a qual exigia diversas formas de cálculos, mas também foi influenciada pela arquitetura e escultura monumentais, que demandavam conhecimentos de geometria apurados. Medicina: Foi uma das ciências que mais progrediu. Estava vinculada com a religião na prática do embalsamamento. As artes Escrita: era bastante sofisticada, desenvolveu-se de três formas. Hieroglífica: considerada sagrada, mais antiga e composta por mais de 600 caracteres. Hierática: uma simplificação da hieroglífica. Demótica: mais recente e popular, formada por cerca de 350 sinais. Arquitetura: Devido às construções dos templos e das pirâmides, e seus respectivos valores, foram empregadas múltiplas técnicas de construção que até hoje desafia e impressiona a engenharia moderna. Literatura: Era marcada pela presença de hinos religiosos e suntuosos odes compostas para os deuses. Na obra Discurso do Camponês eloqüente estão expostos as obrigações que devem ter os bons funcionários do Estado. Além disso, não se pode esquecer o Livro dos Mortos que ensinava como enfrentar o julgamento de Osíris. Esse livro era colocado com os embalsamados. ANOTAÇÕES

50 TEXTO COMPLEMENTAR Religiosidade e Religiões A crença pessoal e coletiva na existência de uma realidade ou de forças sobrenaturais é uma característica marcante em todas as sociedades humanas. Freqüentemente, a religiosidade se manifesta através de narrativas mitológicas, explicações teológicas, rituais e normas de comportamento. A persistência de determinadas práticas religiosas pode se transformar em movimentos religiosos, organizados segundo uma hierarquia de papéis de seus componentes e uma doutrina que estabelece as regras dos cultos e da vida moral de seus participantes. As religiões exercem uma forte influência sobre as diversas atividades da vida social, sejam ética, política, econômica, artística, etc., quase sempre gerando conflitos entre os ideais religiosos e os interesses seculares tanto de seus seguidores, quanto de seus adversários. A religiosidade e as religiões formam, pois, um conjunto de sentimentos contraditórios que simbolizam o desejo pessoal de elevação espiritual, a adequação do homem a preceitos divinos, a superação da imperfeição da vida terrena e a vontade de conservar e fortalecer os laços da unidade social. Desse modo, devemos entender que os mais bárbaros ritos ou os mais bizarros, os mais estranhos mitos traduzem alguma necessidade humana, algum aspecto, seja individual, seja social da vida. (...) Portanto, no fundo, não existem religiões falsas. À sua maneira, todas são verdadeiras, todas respondem, mesmo de diferentes formas, a condições dadas da existência humana. DURKHEIM, Émile. As Formas Elementares da Vida Religiosa. In: Os Pensadores. 2.ª ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983, p Analisando o texto 1. Segundo o autor, a crença em forças sobrenaturais é inerente ao homem. Sobre isso, como essa religiosidade se manifesta? Cite dois exemplos. 2. Qual a relação entre a Religião e a sociedade?

51 FAZENDO HISTÓRIA 1. (FUVEST) No Antigo Egito, assim como nos demais lugares onde foi inventada, a escrita esteve vinculada ao poder estatal. Este, por sua vez, dependeu de um certo tipo de economia para surgir e se desenvolver. Considerando as afirmações acima, explique as relações: a) Escrita e Estado; b) Estado e economia. 2. No Egito Antigo, os indivíduos adoravam centenas de deuses e deusas tidos como responsáveis pela vida, pela fertilidade do solo. Pela morte e pela natureza. a) Conceitue as palavras politeísmo e antropozoomorfismo. b) Avalie a importância da vida após a morte para os egípcios. 3. Caracterize as relações entre os camponeses e o Estado no Egito Antigo. 4. Qual foi a função do Estado na sociedade egípcia e qual o papel exercido pelo faraó? 5. A sociedade egípcia era profundamente religiosa e devotada à idéia da vida após a morte. Você acha que isso também acontece na sociedade brasileira? Faça uma pesquisa sobre as religiões de maior crescimento no Brasil. O que explica a popularidade delas? Que explicações elas fornecem para a vida após a morte? 6. A história política do antigo Egito se divide em três períodos distintos: Antigo, Médio e Novo Império. Resuma os principais fatos de cada período. 7. Os egípcios eram extremamente religiosos. Como eram seus deuses e qual a relação deles com a morte?

52 QUESTÕES DE VESTIBULARES 1. (VUNESP) A irrigação não pode ser vista como a causa do surgimento do Estado centralizado e da civilização egípcia: pelo contrário, um sistema centralizado de obras hidráulicas para a agricultura irrigada surgiu como resultado tardio de um Estado forte. (Ciro F. Cardoso. O Egito Antigo, 1982.) A partir do texto conclui-se que, no Egito Antigo, a) as cheias do Nilo, irregulares e responsáveis por inundações que destruíam tudo o que havia nas margens, não favoreceram o processo de sedentarização. b) o poder do Faraó era simbólico, uma vez que o soberano não dispunha de exércitos nem de burocracia para fazer valer sua vontade. c) a concentração do poder nas mãos de uma dinastia centralizadora não pode ser explicada a partir das necessidades agrícolas. d) dependia-se do comércio externo para alimentar a população, uma vez que a produção agrícola era muito limitada. e) o sistema político em vigor resultava de necessidades impostas pelas características geográficas da região. 2. (IPEDEC) O Egito foi palco do surgimento de uma das civilizações que merecem destaque na história da antiguidade. Nesse contexto, observe as assertivas a seguir, avalie as proposições corretas. I. Os avanços tecnológicos alcançados por esta civilização podem ser conferidos em suas mais arrebatadoras obras arquitetônicas realizadas, as pirâmides, gigantescas tumbas destinadas aos faraós, cuja construção deve ter iniciado por volta do início do Antigo Império. II. As técnicas de irrigação eram avançadas para sua época, empregavam a técnica de irrigação através da canalização das águas do rio. Também eram aproveitadas as cheias periódicas do rio Nilo, com o alagamento e esvaziamento periódicos, as terras referentes às margens do rio tornavam-se bastante férteis e produtivas. III. Após a morte dos faraós seus corpos eram embalsamados e sepultados no interior das pirâmides. Os egípcios possuíam a crença da vida após a morte, o que explica o grande cuidado na conservação dos corpos de seus governantes. IV. As realizações artísticas, tanto na arquitetura como na escultura e na pintura, atingiram seu auge entre a primeira e a segunda dinastia de faraós, dando origem aos padrões e formas estéticas que não iriam perdurar. Sendo assim, podemos afirmar que: a) Apenas I, II e III estão corretas. b) Apenas II, III e IV estão corretas. c) Apenas I, III e IV estão corretas. d) Apenas I, II e IV estão corretas. e) Apenas I e II estão corretas. 3. (UPE) As primeiras civilizações encontraram muitas dificuldades para superar seus medos diante dos fenômenos da natureza. Nesse sentido, valeu a criatividade e a capacidade de invenção. Com relação aos egípcios, podemos salientar que a) encontraram situação mais favorável que os outros povos do Oriente Próximo, porém não conseguiram destaque devido ao autoritarismo dos faraós. b) construíram diques e canais que facilitaram a exploração de técnicas agrícolas indispensáveis para a sobrevivência. c) se restringiram ao campo da arte, tendo construído obras arquitetônicas monumentais, como as pirâmides. d) foram hábeis artesãos embora na arte privilegiassem a pintura com técnicas avançadas para a época. e) se deixaram dominar por uma religiosidade que os impediu de desenvolver suas técnicas e sua arte

53 4. (UFPB) Leia, sobre o Antigo Império egípcio, o texto a seguir: O fortalecimento da monarquia tornou possível o fortalecimento de uma espécie de aristocracia, constituída pelos altos funcionários reais, pelos chefes locais e pelos governadores de províncias (os nomarcas), que possuíam na prática a propriedade efetiva das terras em troca de tributos e serviços ao faraó. O crescimento dessa aristocracia, somado à consolidação da monarquia, determinou o aumento da demanda de serviços, que exigiu o desenvolvimento do que se poderia chamar de uma classe média, constituída pelos artesãos e funcionários. Sabe-se que o contingente de trabalhadores era constituído pelos egípcios pobres e livres e por escravos, que eram em geral estrangeiros prisioneiros de guerra. Não há, porém, concordância quanto ao peso específico de cada um desses grupos nem na produção econômica nem na estrutura social. (NADAI, Elza e NEVES, Joana. História Geral. Antiga e Medieval. 5 ed., São Paulo: Saraiva, 1994, pp ) A partir do texto, afirma-se: a) A vida social do Egito antigo era marcada pela dominação de uma elite ao mesmo tempo burocrática e religiosa, congregada em torno do faraó. b) Os estudos arqueológicos e históricos não são capazes de indicar qualquer descrição acerca da estrutura social do Egito antigo. c) A lenta evolução econômica, o pouco desenvolvimento das ciências e a ausência de riquezas explicam as duras condições sociais dos agricultores. d) A vida social precária do Antigo Império foi contrastante com o apogeu da civilização do Baixo Império. e) A economia egípcia não se baseava na agricultura, pois a indústria e o extrativismo mineral eram as atividades mais importantes. 5. (UFC) Aos egípcios devemos uma herança rica em cultura, ciência e religiosidade: eram habilidosos cirurgiões e sabiam relacionar as doenças com as causas naturais; criaram as operações aritméticas e inventaram o sistema decimal e o ábaco. Sobre os egípcios, é correto afirmar também que: a) foram conhecidos pelas construções de navios, que os levaram a conquistar as rotas comerciais para o Ocidente, devido a sua posição geográfica, perto do mar Mediterrâneo. b) deixaram, além dos hieróglifos, outros dois sistemas de escrita: o hierático, empre-gado para fins práticos, e o demótico, uma forma simplificada e popular do hierático. c) praticaram o sacrifício humano como forma de obter chuvas e boas colheitas, haja vista o território onde se desenvolveram ser desértico. d) fizeram uso da escrita cuneiforme, que inicialmente foi utilizada para designar objetos concretos e depois ganhou maior complexidade. e) usaram as pirâmides para fins práticos, como, por exemplo, a observação astronômica. 6. (EPEC) Ele é o deus Rá, cujos raios de luz nos permitem ver. Ele dá mais brilho às suas terras do que o sol. Ele torna a terra mais verde do que o próprio Nilo durante as inundações... (Texto da época do faraó Amenemate). O poder exercido pelos faraós no Antigo Egito tinha como característica: a) A separação da autoridade religiosa da autoridade política e econômica. b) A centralização administrativa e total controle dos setores religioso, político, econômico e militar. c) A subordinação ao Conselho dos Éforos e a Assembléia dos Cidadãos. d) A plena delegação de poderes a classe sacerdotal e o estilo antiabsolutista. e) A descentralização administrativa e a ativa participação popular. 7. (UESPI/COVEST) As influências das religiões foram significativas na construção cultural das sociedades. Nessa perspectiva, nos primeiros séculos da sociedade egípcia: a) prevaleceu o poder dos sacerdotes que exerciam os privilégios políticos mais importantes para deflagração dos conflitos contra os outros impérios. b) constata-se a presença de uma arte com marcas das crenças religiosas, preservando a existência de certas regras na sua criação e execução. c) manteve-se uma estrutura religiosa dominada pelos faraós, prevalecendo princípios politeístas com deuses antropomórficos e vingativos. d) firmou-se uma religião ética, relacionada com o poder político, mas interessada em derrubar privilégios e hierarquias. e) enalteceu-se a existência de deuses ambiciosos e com desejos humanos, sem que houvesse também crenças monoteístas

54 8. (UFScar) Analise a imagem. É correto afirmar que a imagem representa a) uma cena do cotidiano dos hititas, na pesagem de mercadorias comercializadas com o povo egípcio. b) acontecimentos do sonho de Moisés, de libertação do povo hebreu, quando era prisioneiro do faraó egípcio. c) o início do mundo para os antigos egípcios, quando Nut, deusa do céu e das estrelas, anuncia sua vitória diante de Chu, deus do Ar. d) o livro dos mortos dos egípcios, com Osíris à direita e Anúbis ao centro, pesando o coração de um morto para avaliar sua vida. e) deuses egípcios da época da antiga dinastia ptolomaica: Amóm-Rá à direita, Thot acima e Set e Aton ao centro. 9. (COVEST) As religiões são importantes para as organizações culturais do mundo antigo, criando espaços de convivência e de crenças sociais. Entre os egípcios, a religião: a) dependia da capacidade de invenção de artistas para sobreviver. b) estava profundamente ligada aos presságios da astrologia. c) tinha forte vinculação com a mitologia dos caldeus e dos sumérios. d) ligava-se a crenças em deuses que tinham a forma de animais. e) desvinculava-se do poder dos sacerdotes, acreditando nos faraós. 10. (VUNESP) (...) um dos traços mais visíveis da economia egípcia antiga era, sem dúvida, o estatismo faraônico: a quase totalidade da vida econômica passava pelo faraó e seus funcionários, ou pelos templos. Estes últimos devem ser considerados parte integrante do Estado, mesmo se, em certas ocasiões, houve atritos entre a realeza e a hierarquia sacerdotal (...). As atividades produtivas e comerciais, mesmo quando não integravam os numerosos monopólios estatais, eram estritamente controladas, regulamentadas e taxadas pela burocracia governamental. (Ciro F. Cardoso. O Egito Antigo, Adaptado.) A partir do texto, conclui-se que, no antigo Egito, a) a economia era ineficiente, pois funcionários corruptos exploravam os camponeses e desviavam os impostos devidos ao Estado. b) as constantes disputas entre a burocracia estatal e os sacerdotes levaram à separação entre o poder político e religioso, o que comprometeu o poder do faraó. c) o domínio do poder público sobre a sociedade inibiu o surgimento de iniciativas privadas, capazes de racionalizar a produção e evitar o desperdício. d) a cobrança de impostos constituía-se na principal atividade do Estado, que não dispunha de exércitos organizados para enfrentar inimigos externos. e) a organização da economia garantia ao estado o controle dos excedentes de produção, que se constituíam em importante fator de poder político

55 11. (UNESP) A espinha dorsal do Egito é o resultado da união entre o Nilo Branco, que vem dos lagos da África Central, com o Nilo Azul, que desce as montanhas da Etiópia. Ele atravessa metade do Sudão e corta o Egito de sul a norte, até desaguar no Mediterrâneo. Observe o mapa. A partir da leitura do texto, da observação do mapa e de seus conhecimentos, analise as afirmações. I.Há três milênios, uma vez por ano, entre julho e setembro, o degelo da neve nas montanhas da Etiópia e as fortes chuvas na região provocavam torrentes de água e lama que faziam o Nilo transbordar. II.Atualmente, o comportamento do rio Nilo não mudou: ele recebe o mesmo volume de água de seus afluentes, especialmente depois da construção de barragens. III.O Nilo era tão importante para a sobrevivência dos egíp - cios que eles o consideravam um deus. Esta civilização desenvolveu-se junto ao curso do rio, construindo diques e canais de irrigação. IV. O rio Nilo percorre uma região desértica, que abrange apenas terras do Sudão e, no seu baixo curso, deságua no Mar Mediterrâneo, formando um extenso estuário. Estão corretas as afirmações a) I e III, apenas. b) II e IV, apenas. c) I, II e III, apenas. d) II, III e IV, apenas. e) I, II, III e IV. Aventuras na História. Egito, edição especial, Adaptado. 12. (UEPG) A respeito da estrutura social no Egito antigo, assinale a alternativa correta. a) Os egípcios se organizavam em comunidades tribais, comandadas por chefes chamados patriarcas. b) Somente os escribas tinham algum tipo de privilégio. c) No topo da estrutura social estavam o faraó e sua família. d) Os cidadãos egípcios tinham direitos políticos, participavam do governo e constituíam a maioria da população. e) A posição mais elevada pertencia aos juízes, que detinham poderes militares, políticos e religiosos. 13. (ASPERHS) De todas as civilizações que se desenvolveram no Crescente Fértil, a do Egito se destaca como uma das mais importantes. Sobre a história egípcia leia: I. A sociedade egípcia formou-se da mistura de diversos povos: hamíticos, semitas, núbios. II. Os egípcios julgavam que toda felicidade dependia do faraó e realizavam freqüentes cerimônias em sua homenagem. III. Os escravos inteiramente dependentes de seus senhores, eram em geral bem tratados, os egípcios se consideravam obrigados a oferecer certa segurança aos escravos. IV. Uma característica marcante da economia no Egito Antigo era a propriedade privada da terra, que pertencia aos monarcas e senhores locais. Estão corretas: a) I e II. b) I e IV. c) II e III. d) I, II, e III. e) I, II, III e IV

56 OLHARES HISTÓRICOS Cinema O príncipe do Egito Direção de Brenda Chapman, Steve Hickner, Simon Wells. EUA, min. Reproduz, em desenho animado, a história de Moisés, patriarca hebreu que conduziu o povo judeu do Egito para a Terra Prometida, na região da Palestina. Egito em busca da eternidade National Geographic, Produção sobre o antigo Egito e os esforços atuais para a sua recuperação e preservação. Livros Fatos e mitos do antigo Egito. Margaret Marchiori Bakos. Porto Alegre: EDIPUCRS, O mundo Egípcio, Deuses, templos e faraós. John Baines e Joromis Ma lek. Del Prado. Deuses, múmias e zigurats: uma comparação das religiões antigas do Egito e da Mesopotâmia. Ciro Flamarion Cardoso. História da Antiguidade. Mário Aertis Giordani. Oriental. Vozes. Contos e lendas do Egito Antigo. Bregitte Évano. Companhia das Letras. Sites Revista Klepsidra Na revista eletrônica assinada por alunos da Faculdade de História da Universidade de São Paulo, é apresentado um artigo sobre os principais períodos da história do Egito Antigo. Disponível em:

57 Mesopotâmia A Mesopotâmia constitui uma faixa de terra estreita e fértil, localizada na Ásia Menor ou na conhecida Crescente Fértil. Essa região está situada entre os rios Tigre e Eufrates (atual Iraque). Pode-se também observar algumas semelhanças dessa civilização com o Egito, uma vez que os dois rios possibilitaram fantásticas condições para o transporte de produtos, caça e pesca abundantes. O período de cheias dos rios permitia a irrigação, a fertilização e a concentração de barragens (diques/açudes). Várias civilizações, como as dos sumérios, acádios, amoritas, elamitas, caldeus, assírios disputaram a posse das terras férteis e aráveis na Mesopotâmia. Sumério e acádios Os sumérios foram os primeiros a desenvolver uma civilização na Mesopotâmia. Por volta do quarto milênio antes de Cristo, esse povo ocupou o sul da região (Caldéia), conhecida como Sumer. Eles fundaram várias cidades, tais como, Ur, Uruk, Eridu, Lagash e Nipur. Essas áreas urbanas consistiam em pequenas Cidades-estados, ou seja, possuíam autonomia religiosa, política e econômica. O governante de cada cidade era conhecido como Patesi ou Lugal. Esse rei acumulava funções militares e religiosas, controlava as obras públicas, como construção de celeiros, templos e canais. Os sumérios aperfeiçoaram técnicas de irrigação, artes, arquitetura e comércio. Criaram uma forma de escrita designada como escrita cuneiforme. Esse foi dado porque essa escrita é composta de caracteres em forma de cunha. No século XIX, os pesquisadores Georg Grotenfend e Henry Rawlinson decifraram essa escrita que permitiu conhecer a esplendorosa literatura mesopotâmica, que trazia textos religiosos, históricos, mitológicos, códigos de leis e provérbios

58 A escrita Das necessidades da religião, do comércio e do governo surgiu a realização mais extraordinária da suméria: a invenção da escrita. Os sacerdotes descobriram que precisavam de um método de preservação de registros, a fim de, por exemplo, saberem quais agricultores já haviam feito suas contribuições anuais de cevada. Os mercadores tinham que relacionar a quantidade de cereais enviada ao estrangeiro para trocas. Os administradores necessitavam de registros de levantamento topográficos e atividades cívicas. Para preservar essas informações, os escribas, usando afiados estiletes de junco, gravaram marcas em placas feitas da matéria-prima mais abundante na Suméria: a argila.eles trabalhavam com a argila ainda úmida e mole; após o cozimento da placa as marcas tornavam-se inalteráveis. In Era dos Reis Divinos( a.c) in História em Revista, Abril livros, 1991, p.16. As cidades-estados sumerianas eram rivais entre si por causa das disputas territoriais. Dessa forma, as guerras eram constantes, principalmente entre Ur e Lagash. De certa maneira, essas divergências facilitaram a instalação, por volta de 2350 a.c., de povos semitas na Mesopotâmia, tendo como a principal cidade Acad, que originou o nome Acádios. Os Acádios formaram o primeiro Império da Mesopotâmia. O fundador do Império foi rei Sargão, que, por volta de 2330a.C., subjugou e unificou as cidades sumerianas. O Império Acádio foi invadido pelos gutis(povos asiáticos). Primeiro Império Babilônico O declínio das cidades sumerianas possibilitou o surgimento de grupos semitas em torno da cidade de Babilônia, dando origem ao primeiro Império Babilônico. O rei mais apreciável foi Hamurábi (1728 a.c a.c.). No seu governo, Hamurábi ampliou o Império, chegando a ocupar terras no golfo pérsico. No entanto, esse Rei ficou notável como legislador. Ele foi responsável pela formulação de um dos primeiros códigos de leis, conhecido como o Código de Hamurábi, baseado na chamada Lei de Talião (olho por olho, dente por dente). Leia a seguir parte do Código de Hamurábi: Se a esposa de um homem é apanhada na cama com outro homem, os dois serão amarrados e lançados na água. Se o marido da mulher quer poupá-la, o rei também poderá poupar seu súdito. Se um médico fizer uma operação difícil com faca de metal em um homem livre e lhe causar a morte ou destruir seu olho, a sua mão será amputada. Se um arquiteto construir para outrem uma casa e ela não for bastante sólida, se a casa ruir matando o dono da casa, este arquiteto é passível de morte. Citado em GRIMBERG, Carl. História Universal. Madri: Daimon, Os assírios As principais cidades assírias eram Assur e Nínive. Durante a expansão do Império, ocorrida entre 883 a.c. e 612 a.c, foram conquistados territórios além da Mesopotâmia, como a Síria e o Egito. O primeiro exército permanente, com recrutamento obrigatório na antiguidade, foi formado pelos assírios. A infantaria era formada pelos arqueiros e lanceiros. Existiam também tropas de soldados especializados em construir pontes e cavalaria eficiente, somado a isso tinha os carros de combate e armas (catapulta, por exemplo)

59 Durante os governos de Sargão II, Senaqueribe e Assurbanipal o Império assírio alcança seu apogeu. No entanto, a dominação imposta pelos assírios provocou uma série de revoltas entre os povos subjugados. Dessa forma, pode-se notificar as rebeliões no Egito, na Fenícia, na Babilônia. Esses levantes foram decisivos para o fim do Império Assírio. Segundo Império Babilônico Por volta de 612 a.c., a Babilônia voltou a ser capital de um Império, cujo auge se deu no governo de Nabucodonosor (612 a.c-561 a.c.). No seu governo, foram construídas grandes obras públicas, como templos, muralhas defensivas, grandes palácios cercados pelos jardins suspensos e a famosa torre de Babel. Após a morte de Nabucodonosor, os seus sucessores não conseguiram manter a unidade do vasto Império, que abrangia o reino de Judá, a Palestina e o Egito. Em 539 a.c., os Persas conquistaram o Segundo Império Babilônico. Assim, chega ao Fim a história de poderosos Estados na Mesopotâmia. Economia e Sociedade A economia mesopotâmica era baseada na agricultura. O norte da Mesopotâmia era menos fértil devido à escassez de vegetação e de chuvas. Já o sul, as planícies alagadas possibilitaram grandes plantações e generosas colheitas. O Estado tinha controle sobre os trabalhos agrícolas, a utilização das terras e a construção de açudes e canais de irrigação. O trigo, a cevada e o centeio eram os produtos mais produzidos. Também foram bastante difundidos o pastoreio de carneiros para a produção de lã, além do gado bovino e eqüino, para transporte e tração. Já as atividades artesanais, complementava o setor agrícola. O desenvolvimento dessa atividade deveu-se à metalurgia (estanho e cobre), nas jóias e bijuterias. O comércio local e o regional ativo criaram condições para o desenvolvimento de um rico comércio voltado para o exterior, o qual se propagou para as regiões do Indo (Índia/Pérsia) e da Ásia Menor ou Ocidental. As negociações eram feitas essencialmente in natura ou trocas. Havia também o uso de barras de metais preciosos (ouro /prata). Os comerciantes mesopotâmicos exportavam cereais, tecidos, armas e objetos de metal, em contrapartida importavam marfim, pedras preciosas, metais (estanho/cobre) e uma grande gama de matérias-primas

60 O crescimento das atividades comerciais gerou a organização financeira através da instituição de bancos, atividades de crédito e juros (financiamento).os mesopotâmicos já usavam recibos, escrituras, cartas de crédito para a dinamização de suas relações econômico-comerciais. Como no Egito, a terra era comunitária, mas o Estado era o proprietário geral de todas as terras. O Estado recebia os rendimentos sob a forma de tributos. Isso determinou que as classes sociais ligadas ao Estado, e que o representavam, se beneficiassem com as rendas resultantes do trabalho da terra (nobreza / alta classe sacerdotal / burocracia). Como uma típica representante do sistema asiático, a Mesopotâmia tinha nos templos a instituição que concentrava e dirigia as atividades econômicas do Estado. Apesar da existência de escravos, a mão-de-obra predominante era formada pelos homens livres (campesinato / artesãos / comerciantes). Na mesopotâmia, pode-se observar um quadro social marcado pela sua forte rigidez, ou seja, fortemente hierarquizada. Os comerciantes, os proprietários (homens livres) e os escravos compunham, ao lado dos artesãos, médicos, funcionários e escribas, as camadas sociais básicas dos povos mesopotâmicos. A posição social dos comerciantes e proprietários era determinada pela acumulação e condição econômica. A família, nessa condição social, tinha um papel importante, tendo a mulher certa autonomia. Já os escravos, apesar da não-existência de uma sistematização, como veremos na Antigüidade Clássica, eram vistos e tratados como objetos e instrumentos de trabalho. Religião e Cultura Os povos mesopotâmicos em geral eram politeístas. Eles veneravam vários deuses ligados à natureza e aos astros, dando-lhes uma configuração humana. Cada povo tinha seu deus preferido, como Marduck entre os babilônios, Assur entre os assírios, e Ishtar, deusa cultuada por todos os povos mesopotâmicos. Os mesopotâmicos desenvolveram a magia, a adivinhação e a astrologia como meio para descobrir a vontade de seus deuses e conseguir proteção para a vida terrena, já que não cultuavam a vida pós-morte como os egípcios. Os templos construídos em homenagem aos deuses, também funcionavam como bancos ou depósitos para armazenar os cereais. A classe sacerdotal era muito poderosa e interferia no poder através do misticismo e magia (horóscopos / astrologia). No plano cultural, os povos mesopotâmicos desenvolveram uma série de atividades como a Arquitetura, Astronomia, Matemática e a escrita. A Arquitetura dedicou-se à construção de templos como o zigurate e palácios feitos em tijolos de argila. A Escultura e a Pintura existiram em função da Arquitetura (baixo relevo e mural). Na Matemática, desenvolveram estudos acerca das operações matemáticas e dos princípios de geometria aplicada. O estudo de Astronomia, os mapas estelares, a divisão de ângulos, o calendário de sete dias e os graus foram outras descobertas feitas nos templos pelos sacerdotes monopolizadores da cultura mesopotâmica. A escrita cuneiforme, grande realização dos sumérios, também marcou a Mesopotâmia e o Médio Oriente. Talvez a maior obra da Literatura mesopotâmica seja o Código de Hamurábi. Apesar de não ser original, pois é uma compilação de leis sumerianas e costumes semitas, contém 282 leis tratando dos mais variados temas. Suas principais características são: a "pena de Talião", isto é, "olho por olho, dente por dente", a divisão social em camadas e a busca da organização do Estado mesopotâmico (Primeiro Império Babilônico)

61 TEXTO COMPLEMENTAR A importância da água para a humanidade no decorrer da história Foi nas origens das primeiras sociedades que as ofertas de água doce exerceram um papel muitas vezes determinante na dinâmica da vida humana e no desenvolvimento técnico e material. Data de aproximadamente a.c. o surgimento da civilização suméria, na região banhada pelos rios Tigre e Eufrates, no atual Iraque. Estes rios, através de seu regime de cheias e vazantes anuais, provê as terras adjacentes com matéria orgânica fertilizante. (...) Graças à abundância das colheitas eles obtinham mais alimento do que o necessário para a sobrevivência imediata. O armazenamento deste excedente dava aos sumérios algumas vantagens na época: a liberação de alguns indivíduos da lavoura para o trabalho com a arquitetura e a escrita.(...) Há uma hipótese geral, no estudo das origens das diferentes sociedades, de que a produção de um excedente agrícola é necessária para que os agrupamentos humanos cresçam. (...) Os rios e suas dinâmicas anuais de cheias-vazantes propiciariam a fartura nas agriculturas nas sociedades suméria, acadiana e egípcia. Revista Com Ciência. Número 13, set disponível em Acesso em 18 de dezembro de Analisando o texto 1. Faça um pequeno texto comentando sobre a importância dos rios para as civilizações egípcia e mesopotâmica. 2. Atualmente tem-se debatido bastante sobre a transposição do rio São Francisco. Sobre isso, será que se pode fazer alguma comparação entre a importância dos rios para o Egito e a Mesopotâmia, e hoje, para a população do sertão? Justifique

62 FAZENDO HISTÓRIA 1. Explique como era organizada a sociedade sumeriana. 2. Avalie os principais aspectos do Código de Hamurábi e sua importância para o mundo Ocidental. 3. Faça um quadro comparativo entre a economia no Egito e na Mesopotâmia. 4. Faça um texto descrevendo sobre a relação entre religião e poder na mesopotâmia. 5. Analise a concepção de morte entre os egípcios e os mesopotâmicos. 6. A guerra e a violência parecem ser marcas registradas da região mesopotâmia. Da Antiguidade até os dias de hoje a região tem vivido constantes conflitos. Explique a origem das primeiras guerras mesopotâmicas 7. Explique como o mito de Gilgamesh ajuda a entender a forma como os antigos mesopotâmicos viam a morte e a vida além-túmulo. Em 2003 saqueadores esvaziaram um dos museus mais importantes do mundo, no centro da capital do Iraque, Bagdá. O governo de Saddam Hussein desintegrou-se e as recém-chegadas forças de coalizão lideradas pelos Estados Unidos não conseguiram impedir um crime contra a história. Contrabandistas profissionais ligados à máfia internacional de antiguidade conseguiram violar algumas das portas trancadas das salas de armazenamento do Museu de Bagdá. Eles saquearam artefatos de valor incalculável, como a coleção inteira de selos cilíndricos do museu e um grande número de esculturas assírias de marfim. Mais de 15 mil objetos foram levados. Vários deles foram contrabandeados para fora do Iraque e oferecidos no mercado. (...) Quanto mais tempo o Iraque ficar em estado de guerra, mais berço da civilização estará ameaçado. Pode nem durar o suficiente para que nossos netos aprendam com esse patrimônio. BAJJALY, Joanne Farchakh. Com guerra, Iraque perdeu 12 mil peças arqueológicas, 25 de abril de Disponível em Acesso em 17 de dezembro de Baseado no texto acima, forme um grupo de cinco colegas e pesquise sobre as guerras entre o Iraque e os Estados Unidos ocorridas em 1991 e no ano de Para facilitar o trabalho, o grupo pode seguir este roteiro: I. Saddam Hussein II. Xiitas e Sunitas III. Relações econômicas entre Iraque e Estados Unidos IV. Atual situação política, econômica, social e cultural do Iraque

63 QUESTÕES DE VESTIBULARES 1. (UPE)Uma civilização, via de regra, implica uma organização política formal com regras estabelecidas para governantes e governados (mesmo que autoritá rios e injustos); implica projetos amplos que demandem trabalho conjunto e administração centralizada (como canais de irrigação, grandes templos, pirâmides, portos, etc.); implica a inco rporação das crenças por uma religião vinculada ao poder central, direta ou indiretamente (os sacerdotes egípcios, o templo de Jerusalém, etc.); implica uma produção artística que tenha sobrev ivido ao tempo e ainda nos encante (o passado não existe em si, senão pelo fato de nós o reconstruirmos); implica a criação ou incorporação de um sistema de escrita (os incas não preenchem esse quesito, e nem por isso deixam de ser civilizados); implica finalmente, mas nã o por último a criação das cidades. (PINSKY, Jaime. As Primeiras Civilizações. São Paulo: Contexto, p. 62. Adaptado.) Baseando-se nas reflexões levantadas pelo texto acima, analise as afirmações a seguir sobre as civilizações da Antiguidade Oriental: I. Os egípcios desenvolveram um significativo conhecimento de engenharia, conforme ressalta o texto, com grandes construções, tais como canais de irrigação, templos e pirâmides. II. Tanto as ações dos sacerdotes egípcios como as dos sacerdotes do Templo de Jerusalém, diferentemente do que propõe o autor, não representavam ações de poder ligadas a um poder central. III. Os povos, que habitaram a região da Mesopot âmia, desenvolveram conhecimento no campo da astrologia e da astronomia. IV. O autor aponta como um dos elementos essenc iais na caracterização de uma civilização a estruturação de regras de convívio político. V. Apesar de a criação das cidad es ser uma das caract erísticas ds antigas civilizações, não podemos destacar a vida urbana como uma das características da antiga Mesopotâmia, em especial no Segundo Império Babilônico. Estão corretas: a) I, II e V. b) II, III e IV. c) I, IV e V. d) I, III e IV. e) III, IV e V 2. (VUNESP) A história da escrita começa entre os rios Tigre e Eufrates, na Mesopotâmia região do Oriente Médio que se estende do Golfo Pérsico a Bagdá (atual capital iraquiana). A população era composta de camponeses, pastores, funcionários das cortes reais, sacerdotes e comerciantes. Assim se explicam as inscrições gravadas nas primeiras placas de barro descobertas na região da Suméria, nos arredores do grande templo da cidade de Uruk. As placas de Uruk são constituídas de listas de sacos de grãos e de cabeças de gado, estabelecendo uma espécie de contabilidade do templo. Os primeiros símbolos escritos são, pois, de contas agrícolas. Graças às placas encontradas nas escolas sumérias instaladas nos templos, trazendo de um lado o modelo estabelecido pelo mestre e, do outro, a cópia executada pelo aluno, pode-se retraçar as diferentes fases da escrita cuneiforme. (Georges Jean. A Escrita: memória dos homens. Adaptado) De acordo com o texto, a escrita surge entre os rios Tigre e Eufrates, na Mesopotâmia. Da mesma forma, são dessa região os vestígios mais antigos do processo de sedentarização do homem. Isso ocorreu porque a) os primeiros agrupamentos humanos a se sedentarizar buscaram regiões mais secas como os desertos do Oriente Médio para se instalar, receando os impactos das chuvas torrenciais e das enchentes de outras localidades

64 b) a opção pela sedentarização esteve intimamente associada à procura por lugares isolados e protegidos, distantes dos mares e cercados por rios, o que dificultava as invasões estrangeiras. c) nessa região não chovia o suficiente para possibilitar o desenvolvimento da agricultura, e os homens que lá se fixaram buscavam uma região em que pudessem se dedicar mais às atividades tipicamente urbanas. d) os locais em que se formaram as primeiras cidades, às margens dos rios, eram adequados à formação de agrupamentos humanos, pois a terra era cultivável somente onde havia a água de um rio ou de uma nascente. e) a Mesopotâmia sempre foi muito disputada por diferentes agrupamentos humanos que estavam em busca de suas riquezas minerais e procuraram se fixar na região para proteger os seus domínios. 3. (UPE) Na região mesopotâmica, viveram diferentes povos. Ao longo da história, esses povos confrontaram-se em vários momentos. Sobre esses povos mesopotâmicos, é incorreto afirmar que: a) foram os assírios um dos povos mesopotâmicos responsáveis pela criação de uma das primeiras escritas permanentes do mundo. b) pelas ideias dominantes na Mesopotâmia, o rei era considerado como um representante direto dos deuses, alguém predestinado para concretizar, entre os homens, a vontade divina. c) Cidades Estados era a forma de organização política das cidades da Mesopotâmia. Em diferentes épocas, cidades mais poderosas chegaram a impor seu domínio sobre as outras. d) as primeiras formas de escrita eram representadas por desenhos figurativos do objeto representada (Escrita Demótica). e) o Código de Hamurabi foi uma reunião de normas sobre transgressões cometidas. Ele não apresentava definições para os crimes, mas descrevia casos específicos que seriam usados como padrão a ser aplicado em situações semelhantes. 4.(ASPERHS) A Mesopotâmia é uma região cercada por montanhas ao norte e por desertos ao sul, mas esta localização geográfica em nada impediu o desenvolvimento dos povos que ali se instalaram. Sobre este tema analise os itens abaixo: I. Os sumérios trouxeram para humanidade uma contribuição importante, à chamada Revolução Urbana e sua organização político-administrativa deu-se em torno de doze cidades-estado. II. Os sumérios foram dominados pelos acádios, que mais tarde foram dominados pelos amoritas e estes originaram o primeiro império organizado na Mesopotâmia, o Império Babilônico. III. Os assírios desenvolveram-se ao Norte da Mesopotâmia e tudo indica que tiveram o primeiro exército organizado da história: com tropas de arqueiros e lanceiros, carros de combate e cavalaria. IV. O Segundo Império Babilônico foi fundado pelos hititas, que liderados por Nabucodonosor obtiveram o apogeu do desenvolvimento arquitetônico e ainda a expansão dos domínios até o Reino de Judá, na Palestina. Estão corretas: a) I e III. b) II e IV. c) III e IV. d) I, II e III. e) II, III e IV. 5. (UFRR) Sobre a Mesopotâmia é correto afirmar que: a) A organização de instituições que garantiram a participação coletiva na política, a criação do sistema democrático, a formulação de leis e de instituições. O escravismo foi o pilar da economia. b) O Estado tinha como objetivo maior a construção de gigantescas obras hidráulicas para a prática da agricultura, bem como o incentivo ao desenvolvimento do conhecimento científico e tecnológico através de suas escolas

65 c) O trabalho era organizado com uma forte presença de um Estado centralizado e teocrático, voltado para a construção e manutenção de obras públicas. Apesar de contar com o trabalho escravo este não era o pilar de sua economia. d) O trabalho era organizado com uma forte presença de um Estado centralizado e teocrático, voltado para a construção e manutenção de obras públicas com a economia centrada no comércio e na navegação. e) Civilização classificada como "hidráulica", teocrática de prática monoteísta, tinha como base econômica o escravismo. 6. (VUNESP) Leia atentamente o texto a seguir. Destruição cultural Entre os vários crimes cometidos na guerra do Iraque está o desaparecimento de inestimáveis tesouros arqueológicos que foram destruídos nos bombardeios ou roubados nos saques que varreram o país depois da queda de Saddam. Ainda é cedo para calcular os prejuízos, mas as estimativas pessimistas mencionam o número de 170 mil itens aniquilados ou desaparecidos. (...) Os EUA não podem ser isentos de culpa... Deixaram de tomar as providências mínimas para evitar a pilhagem do Museu Nacional do Iraque, da Biblioteca Nacional e de vários outros museus e arquivos, além de sítios arqueológicos. O problema dos saques era tão previsível que há até informações de que quadrilhas especializadas em roubo de obras de arte foram para o Iraque para participar do butim. (...) Também parece ter-se perdido a Biblioteca de Sippar, uma coleção de cerca de 800 tabletes de barro com escrita cuneiforme babilônica do século 6.º a.c. É a mais antiga coleção de obras encontrada em seu lugar original. (...) Boa parte do acervo da biblioteca não havia sido decifrada nem publicada. (Folha de S.Paulo, Editorial) Acerca dessa guerra e da consequente destruição do país e de seu patrimônio, é correto afirmar que: a) o território da antiga Mesopotâmia coincide em parte com o território do atual Iraque, e a destruição desse patrimônio significa a perda de objetos da cultura material de povos como os sumérios e os acádios. b) a região do atual Iraque não teve grande importância histórica, pois, com a ascensão de Saddam Hussein ao poder, o país se tornou uma ditadura e foi relegado a segundo plano no contexto mundial. c) o Iraque teve perdas financeiras irreversíveis com a destruição desse patrimônio cultural, pois a comercialização dos tesouros arqueológicos era importante fonte de recursos para o país antes da guerra. d) os EUA não se preocuparam em cuidar desse patrimônio, pois sabiam que o material destruído já não tinha tanta importância do ponto de vista das pesquisas, mesmo para historiadores e arqueólogos. e) o patrimônio cultural deve ser transmitido de geração para geração, mas como os itens destruídos ou roubados são muito antigos, já não dizem respeito às gerações contemporâneas. 7. (UPE) Dentre os povos que habitaram a região da Mesopotâmia, podemos perceber uma diversidade de contribuições para a humanidade. Essas contribuições podem ser exemplificadas pelo: a) desenvolvimento da escrita fonética por parte dos assírios. b) fato de os sumérios terem escravizado os hebreus. c) primor urbanístico por parte dos fenícios. d) uso do direito por parte do primeiro império babilônico. e) esplendor da filosofia entre os acádios 8. (UPE)As sociedades da Antiguidade Oriental tiveram práticas sociais com influências marcantes das religiões e inventaram outras formas de conhecer o mundo. Na Mesopotâmia, ocorreu/ocorreram a) o predomínio de castas sacerdotais poderosas, mas que criticavam o poder existente e combatiam as superstições. b) expressões artísticas pouco originais, direcionadas só para admiração dos deuses e das forças da natureza

66 c) o uso da escrita cuneiforme, a descoberta do uso da raiz quadrada e a crença na ação de espíritos malignos causadores de doenças. d) a crença em deuses antropomórficos, oniscientes e eternos que não eram adorados em templos. e) uma arte direcionada para consagração dos feitos militares e não preocupada com a construção de uma arquitetura grandiosa. 9. (UPE) Do Oriente antigo próximo, duas civilizações se destacaram, aparecendo sempre como as mais importantes no estudo das sociedades antigas. Egito e Mesopotâmia se assemelham em muitos aspectos históricos, mas não podemos negar as suas peculiaridades. Considerando a informação sobre essas duas civilizações, assinale a alternativa correta. a) Havia constantemente cultos aos deuses da fertilidade, com objetivo de aumentarem a sua produção agrícola e o comércio local. b) Faraó e o Rei eram considerados Deuses, devendo suas populações prestar-lhes obediência e culto divino. c) As duas civilizações se destacaram ao mesmo tempo na matemática, física, medicina, astrologia e astronomia. d) Por haver um grande desenvolvimento literário e cultural nas duas civilizações, a maioria da população sabia ler e escrever. e) Mesmo vivendo em regiões predominantemente desérticas e montanhosas, estavam muito ligadas aos seus rios, considerados como uma riqueza nacional. 10. (UFPB) Uma das regiões de maiores conflitos civilizacionais, ao longo da História, é a do Oriente Médio. Na Antigüidade, parte dessa região foi ocupada pelo Império Babilônico. Embora a riqueza de sua civilização seja mal conhecida, a Babilônia povoa o imaginário social até os tempos contemporâneos, em diversas manifestações culturais, a exemplo da ópera Nabucodonosor (do compositor italiano Giuseppe Verdi) e de algumas músicas brasileiras atuais, como a apresentada abaixo. Suspenderam os Jardins da Babilônia e eu para não ficar por baixo Resolvi botar as asas para fora, porque Quem não chora daqui, não mama dali [...] (LEE, Marcucci; LEE, Rita. Jardins da Babilônia, Disponível em: < Acesso em: 15 ago. 2006). Sobre a civilização babilônica, é correto afirmar: a) A configuração geográfica de planície, na Mesopotâmia, foi elemento favorável a invasões de numerosos povos, que conseguiram conviver em um Estado unificado, estável e duradouro. b) A Babilônia foi fundada e tornou-se capital durante a primeira unificação política na região o Primeiro Império Babilônico, quando cessaram as ondas migratórias na Mesopotâmia. c) A desagregação do Primeiro Império Babilônico não mais permitiu outra unificação política na região, impedida pelos assírios, povo do norte da Mesopotâmia, ainda hoje remanescente no Iraque. d) O esplendor da Babilônia ocorreu no Segundo Império, com a construção de grandes obras públicas: as muralhas da cidade, os palácios, a Torre de Babel e os Jardins Suspensos. e) A cultura babilônica, como a dos povos mesopotâmicos, em geral, apresentou um grande desenvolvimento da astronomia, da medicina e da matemática, que se separaram, respectivamente, da astrologia, da magia e da mística dos números

67 OLHARES HISTÓRICOS Cinema Mesopotâmia: retorno ao Éden Série Civilizações Perdidas, Documentário que mostra antigas culturas que floresceram na Mesopotâmia. Livros A epopéia de Gilgamesh. Ibn Al-Muqasfa. São Paulo: Martins fontes, Antigas Civilizações. São Paulo: Ática. (coleção Atlas Visuais). Mesopotâmia: a invenção de uma cidade. Gwendolyn. São Paulo: Imago, Sites Babilônia Brasil Site traz importantes informações sobre a Mesopotâmia

68 Hebreus A história dos hebreus tem uma importância especial para a cultura contemporânea. Os princípios éticos e morais dessa civilização são legados que fundamentaram as duas principais religiões do ocidente: o judaísmo e cristianismo. Judeu ortodoxo em Jerusalém. Atualmente, a intolerância tem sido uma das marcas constantes no Oriente Médio entre Israelenses e Palestinos. A maior parte do que se sabe em relação aos hebreus se encontra no Velho Testamento, coleção de livros que reunido com o Novo Testamento, compõem a Bíblia. O Velho Testamento contém as Escrituras sagradas para os Judeus. Vale salientar, que a Bíblia é considerada como a grande fonte histórica para compreender o percurso do povo hebreu. Além disso, as pesquisas arqueológicas e obras de historiadores judeus também contribuem para entender melhor o passado hebraico. Os hebreus têm sua trajetória marcada por várias mudanças. Antes de chegarem à Palestina (por volta 2000 a.c.), esses semitas viviam perto da cidade de Ur, localizada ao sul da Mesopotâmia. Por volta de 1700 a.c, os Hebreus estiveram no Egito em busca de melhores condições de vida. Entre a permanência na Mesopotâmia e o Egito, eles organizaram-se em clãs, as quais foram chefiadas pelos patriarcas. Segundo o Antigo Testamento, ao saírem de Ur no II milênio a.c. os hebreus tinham por objetivo chegar a Canaã, na Palestina, território que Deus lhes teria destinado e, por isso, chamado por eles de Terra prometida. Por essa época, a sociedade hebraica estava organizada em clãs dirigidos por patriarcas. Abraão, um desses patriarcas, teria sido o responsável pela condução dos hebreus à Terra Prometida. ARRUDA, José Jobson; PILLETI, Nelson. Toda História. 13ª ed. São Paulo: Ática,

69 Os Patriarcas Nessa fase de organização econômica e social, os patriarcas têm atribuições de juízes, sacerdotes e chefes militares. Além disso, eles eram autoridades política e moral das famílias, conduzindo seus parentes e seus rebanhos pelas regiões férteis. O povo judeu foi dirigido pelos patriarcas por muito tempo. Os principais patriarcas foram Abraão. Isaac e Jacó. Abraão e a Terra Prometida O Senhor disse a Abraão: Sai da tua terra, de tua parentela, da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei. Farei de ti um grande povo e te abençoarei, engrandecendo teu nome, de modo que se torne uma bênção. Abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem. Com teu nome serão abençoadas todas as famílias da terra. Texto extraído da Bíblia Estudando a Palavra de Deus. São Paulo/Petrópolis, FTD/Vozes, p.29. O Êxodo Por volta de 1760 a.c, as fortes secas impulsionaram os hebreus a abandonar a Palestina e deslocar para o Egito. Eles se instalaram região do Delta do Nilo, dominado pelos hicsos. É importante frisar, que muitos hebreus foram contratados pelos hicsos para diversos trabalhos, inclusive entregando-os relevantes cargos. No entanto, em 1580 a.c, aproximadamente, os egípcios expulsaram os hicsos, passando a perseguir e escravizar os hebreus. Depois de 400 anos de estada no Egito, Moisés lidera a saída dos hebreus, num acontecimento que ficou conhecido como Êxodo. A viagem de retorno a Palestina durou quarenta anos. Segundo a Bíblia, foi durante percurso que Moisés recebeu de Iaweh (Deus), no Monte Sinai, as Tábuas da Lei ou os Dez Mandamentos. No Decálogo ou na Lei Mosaica, como também são denominados, estão contidos normas civis, morais e religiosas. Moisés faleceu antes de vislumbrar a Terra Prometida, dessa forma, Josué e Calebe passaram conduzir o povo. Os dez mandamentos 1. Não terás outros deuses em desafio a Mim. 2. Não farás imagem esculpida. 3. Não tomarás o nome teu Deus, em vão. 4. Lembra-te do dia do Sábado, para o santificar. 5. Honra a teu pai e a tua mãe, a fim de que os teus dias se prolonguem sobre o solo que, teu Moisés com as Tábuas da Lei, por Rembrandt, simbolizando o momento em que Moisés mostra as tábuas com os mandamentos ao povo de Israel. Deus, te dá. 6. Não assassinarás. 7. Não cometerás adultério. 8. Não levantarás falso testemunho contra teu próximo. 9. Não levantarás falso testemunho contra teu próximo. 10. Não cobiçarás a casa do teu próximo, nem a mulher do teu próximo

70 Juízes e Monarcas Com o retorno à Palestina, os hebreus dessa vez, se organizaram em várias clãs em doze tribos, cada qual com uma quantidade de terra. Para tomar posse da Canaã, os hebreus precisavam, antes de tudo, derrotar seus inimigos, entre eles os filisteus, que também almejavam conquistar a região. Dessa forma, surgiram os chefes com qualidades militares que ficaram conhecidos como Juízes. Os mais famosos foram Otoniel, Sangar, Barac, Gedeão, Sansão e Samuel. Além de combaterem os filisteus, os juízes tiveram que lutar contra os amoritas. O governo dos juízes desenvolveu e propiciou aos hebreus se organizarem num sistema monárquico. Samuel, o último juiz, ungiu Saul como o primeiro rei. Logo após Saul, veio Davi, que conquistou novas terras e trouxe prosperidade econômica para o reino hebreu. Jerusalém foi escolhida como a capital do Estado, simbolizando dessa maneira a unificação das tribos do norte e do sul da Palestina. O governo de Salomão, filho de Davi, foi marcado por grande desenvolvimento econômico. Ele firmou acordo com os fenícios, onde previa a troca de trigo e óleo por madeira, além disso, da Ásia Menor eram trazidos cavalos. A prosperidade tornou viável a construção do Templo de Jerusalém, destinado a guardar as Tábuas da Lei e o candelabro de sete braços, símbolos da religião dos hebreus e, hoje, dos judeus. O Muro das Lamentações e a Cúpula da Rocha são dois locais emblemáticos de Jerusalém. O Muro das Lamentações é o único fragmento que resta do último Templo de Jerusalém, que foi destruído pelos roamanos em 70 d.c. Para manter o luxo e a riqueza que foram marcas registradas no governo de Salomão, era necessário aumentar constantemente os tributos, que por sua vez, sobrecarregava os pobres, conduzindo-os à miséria. Além disso, os camponeses eram forçados a trabalhar nas obras públicas. Tais procedimentos produziram descontentamentos e revoltas entre os hebreus

71 O Cisma e o Cativeiro da Babilônia Em 935 a.c., com a morte de Salomão, ocorreu uma divisão política e religiosa nas doze tribos de Israel, decretando o fim da Monarquia unificada. Como conseqüências dessa cisma, foram criados dois Estados: ao norte, o Reino de Israel, composto por dez tribos e liderados por Jeroboão, sendo a sua capital Samaria. Apesar do culto a Iaweh permanecer, foi introduzido à adoração a vários outros deuses. Nesse reino, o rei oprimia bastante seus súditos, principalmente os camponeses que pagavam altos impostos. Por volta do século IX a.c., o movimento profético ganhou muita força. Os profetas, Elias, Esdras, Jeremias e outros, defendiam as aspirações dos mais pobres e liderava a oposição ao rei. Em 723, o rei assírio Sargão II invadiu Israel, destruindo a capital Samaria. Nesse mo-mento, Israel se torna província assíria, sendo que grande parte dos israelenses foi levada para a Mesopotâmia. Já o Reino de Judá, localizado ao sul, era governado por Roboão. Esse reino era formado pelas tribos de Benjamin e de Judá, sendo sua capital Jerusalém. Os habitantes de Judá permaneceram fiéis ao monoteísmo. Em meados do século VII a.c., o rei Ezequias fez um aliança com o Egito, com a finalidade de evitar a invasão dos assírios. Mesmo assim, boa parte do território de Judá foi submetida aos assírios. Por volta de 596 a.c., Nabucodonosor II, rei da Babilônia, conquistou o Reino de Judá, destruindo o Templo de Jerusalém e ordenando o deslocamento do rei e os mais importantes moradores da região para a Mesopotâmia. Esse acontecimento foi denominado como o Cativeiro da Babilônia. Diáspora e a criação do Estado de Israel Quando o Império Babilônico foi derrotado pelos persas, o rei Ciro, libertou os hebreus que retornaram à região da antiga Jerusalém. Nesse local, foi reconstruído o templo. Lentamente, as divergências entre Israel e Judá foram sendo eliminadas, o que impulsionou a chamá-los genericamente de judeus

72 Após o domínio persa, a Palestina foi conquistada, 332 a.c., por Alexandre da Macedônia. Em 63 a.c., a região foi anexada ao Império Romano. A princípio, não houve choque entre crenças religiosas dos judeus e romanos. Entretanto, a partir de 70 da nossa era, com a divinização do imperador romano e com a não aceitação de venerá-lo, foi ordenada a destruição de Jerusalém. Além disso, as diversas revoltas organizadas por grupos nacionalistas judeus agravaram a crise entre os romanos e judeus. Esses fatos, propiciaram, a expulsão e dispersão dos judeus pelo mundo, tal fenômeno recebeu o nome de Diáspora. Fora da Palestina, os judeus passaram a viver em comunidades pequenas. Mesmo sem território próprio, preservaram sua identidade cultural. Em 1948, a ONU cria o Estado de Israel, possibilitando o retorno do povo judeu ao antigo território. Infelizmente, a criação de Israel gerou uma série de conflitos com os palestinos, que permanece até os dias de hoje. Diz a lenda religiosa que Deus prometeu aos judeus um lar na Palestina. Mas nunca teria prometido expulsar os árabes cananeus da Palestina, nem tampouco falou com Moisés, nem com Abraão para matar os palestinos ou os árabes cananeus. Por isso, eu não concordo com a história que diz que eles são donos da Palestina, pois ficaram pouco tempo nela, especialmente em Jerusalém, e nunca ocuparam toda a região. MATO GROSSO, Lejeune. Palestinos na formação do mundo árabe. Princípios. São Paulo, editora Anita Garibaldi, Religião e Cultura Ao estudar Hebreus não se pode separar os aspectos religiosos de sua trajetória histórica. Isso porque, há uma intimidade muito forte entre a religião e os fatores sociais, econômicos e políticos. O processo evolutivo da religião hebraica tem um percurso bem diferente de outros povos da Antiguidade. Inicialmente, os hebreus praticavam a monolatria, ou seja, crença em vários deuses, mas adoração e culto a apenas um deles. Com o decorrer dos tempos, Iaweh tornou-se a deidade mais cultuada. No Oriente Antigo, o mito carecia de independência. Antes de se cristalizar em formas literárias, ele era magia (uma maneira de agir sobre o mundo) e ritual (um modo de obter o apoio divino mediante certas observâncias). Por existir uma comunidade entre o mundo dos homens e o da natureza, ambos animados, dotados de inteligência e vontade própria, ambos dominados pelos deuses isto é um pressuposto do pensamento mítico -, então o homem, além de explicar miticamente como algo se deu pela primeira vez, no começo dos tempos, através da intervenção de deuses ou heróis sobrehumanos, também queira evocar pelo ritual e renovar pela magia tais gestos e palavras criadores, desenvolvendo ações que acreditava-se coagiam para que certas coisas desejadas acontecessem: a cheia do rio; a fertilidade das mulheres; a vitória sobre os inimigos (...) Nessa modalidade de cultura e de pensamento, era forçoso que a religião ocupasse um lugar central. Paradoxalmente, porém, o termo religião não pode ser traduzido para as línguas de época. É que a separação entre o domínio religioso e outros domínios é algo que no mundo atual parece corriqueiro, mas que não faria sentido para um oriental. Governo e culto, astronomia e astrologia, lei divina e lei humana etc. não eram vistos como coisas distintas ou separáveis entre si. A religião estava em toda parte, tudo penetrava, e portanto, não podia ser percebida como setor circunscrito da realidade e da vida social. CARDOSO, Ciro Flamarion. Sete olhares sobre a Antiguidade. Brasília: Unb. P48 e

73 O primeiro código para o desenvolvimento ao culto a Iaweh foi elaborado por Moisés através do Decálogo ou os Dez Mandamentos, além de outras normas encontradas no Antigo Testamento. Dessa forma, os hebreus foram os primeiros povos a sistematizar o culto monoteísta. A partir do século VIII a.c., com a colaboração dos profetas, se consolidou a adoração exclusiva a Iaweh. Os profetas desempenharam um papel muito importante na religião hebraica. Eles fizeram algumas reformas religiosas com o objetivo de manter o povo israelita fiel a Jeová ou Iaweh. Os principais profetas foram: Elias, Oséias, Habacuque, Neemias, Isaías e Jeremias. A Bíblia representa a expressão mais relevante da cultura hebraica. Como eram limitados aos preceitos de sua religião, os hebreus não se dedicaram às ciências nem a escultura. Portanto, o legado cultural que marcou profundamente a civilização ocidental foi o estabelecimento do monoteísmo, uma vez que contribuiu para o surgimento das principais religiões contemporâneas: judaísmo, cristianismo e islamismo. Principais festas judaicas PÁSCOA A Páscoa representa a libertação dos judeus do Egito e dura uma semana. ANO NOVO/TROMBETAS Um tempo de reconciliação com Deus. IOM KIPPUR Dia da Expiação (Perdão) É o dia mais santo de todo o calendário judaico. Os judeus devotos jejuam durante 24 horas, passam todo o dia na sinagoga e usam uma veste branca como símbolo de pureza. No fim do dia, fiel considera-se espiritualmente renascido. TABERNÁCULOS Festival de colheitas agradecendo a Deus pela sua bondade e os cuidados com os judeus durante os quarenta anos de travessia do deserto. ANOTAÇÕES

74 TEXTO COMPLEMENTAR Mundo condena pior ataque de Israel no Líbano A comunidade internacional condenou o ataque mais violento desde o início da guerra não declarada entre o grupo terrorista libanês Hiszbollah e Israel. Ao menos 56 pessoas morreram nos bombardeios contra o vilarejo de Qana (...). Dentre as vítimas, 37 eram crianças, segundo fontes da polícia libanesa e das equipes de resgate. O representante das Relações exteriores da União Européia, Javier Solana, afirmou em um comunicado que nada pode justificar a morte de civis inocentes.(...) O secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), por sua vez, que convocou reunião de emergência para domingo, disse ser necessário que o conselho de Segurança tome medidas para evitar que a situação se torne incontrolável e a escalda de violência se espalhe. O Papa Bento 16 também pediu, durante a bênção do Ângelus, um cessar-fogo imediato no Oriente Médio. Em nome de Deus me dirijo a todos os responsáveis por esta espiral de violência, para que as armas sejam depostas imediatamente por todas as partes, disse em Castel Gandolfo, a residência de verão dos papas, perto de Roma. Folha on line, 30/07/2006. Disponível em Acesso em 20 de dezembro de Analisando o texto 1. Defina o tema principal abordado no texto. 2. Qual a posição da comunidade internacional mediante ao conflito no Oriente Médio?

75 FAZENDO HISTÓRIA 1. Os Hebreus acreditavam na existência de um Deus único. a) Faça uma comparação entre a religião hebraica e os demais povos da Antiguidade Oriental (Egípcios, Mesopotâmicos). b) Caracterize as fases políticas da História dos Hebreus. 2. Leia o texto abaixo. O Legado de Abraão Em certo sentido, bem mais amplo, porém, Abraão nunca morreu. No mais alto plano religioso, o patriarca e sua pioneira crença em um Deus único acabaram sendo um modelo para Jesus Cristo e seus primeiros discípulos e, muito tempo depois, também para o profeta Maomé e seus seguidores muçulmanos. Hoje, Abraão se destaca como uma figura espiritual ímpar, transcendendo as fronteiras das três religiões. Ainda que possa ser questionável a exatidão das escrituras, ainda que os indícios arqueológicos e históricos sejam raros, judeus, cristãos e muçulmanos até hoje o veneram como o verdadeiro patriarca. (...) Meus Deus me Salvará. Nessas quatro simples, mas poderosas palavras encontramos a essência de Abraão e de seus espantosos feitos. Elas expressam sua crença fundamental: a de que existe apenas um único Deus. E essa crença mudou o mundo apara sempre. SZULC, Tad. National Geographic Brasil, dez.2001, p a) Qual a principal idéia contida no texto de Tad Szulc? b) Interprete o sentido de classificar Abraão como uma figura espiritual ímpar. 3. Faça um quadro com as principais características da religião hebraica. 4. Comente sobre a importância da religião dos hebreus para a formação da sociedade ocidental. 5. Atualmente está ocorrendo um sangrento conflito entre Israel e os Palestinos. Forme um grupo de cinco pessoas e pesquise em livros, jornais, revistas, enciclopédias e internet, os principais argumentos defendidos por cada parte dos envolvidos. Ao término da pesquisa, elabore uma possível solução para trazer a paz entre os palestinos e judeus

76 QUESTÕES DE VESTIBULARES 1. (IPAD) Nas sociedades do mundo antigo, as religiões foram decisivas para a manutenção de valores e costumes. Elas se firmaram em espaços da política e influenciaram transformações em vários momentos históricos. Entre os hebreus, a religião: a) contribuiu para organização da vida social, conseguindo assegurar permanências culturais importantes. b) afirmou preceitos éticos baseados no monoteísmo, não se deixando influenciar pela cultura de outros povos. c) democratizou os governos, enfatizando a solidariedade e criticando a violência dos exércitos imperialistas. d) permaneceu como a única monoteísta do mundo antigo, proclamando o amor ao próximo e a onipotência divina. e) fortaleceu as crenças em ídolos e em princípios das filosofias orientais, não interferindo na vida política. 2. (UPE) Sobre a religião e a identidade dos hebreus, analise as afirmativas abaixo. I. Inicialmente politeístas, os hebreus mudaram sua concepção religiosa na época de Abraão, que era contrário à adoração de ídolos. II. Durante a peregrinação no deserto, sob a liderança de Salomão, os hebreus iniciaram a fase conhecida como monolatria nacional, substituindo a crença em Abraão pela crença em Moisés, quando este propagou os Dez Mandamentos. III. Com Amós, Oseias, Isaías e Miqueias, Iavé tornou-se o deus de todos os homens, senhor do universo, e a religião adquiriu um conteúdo ético, pois os profetas denunciavam as injustiças sociais, combatendo o excesso de riqueza de alguns e a pobreza da maioria. IV. Mesmo se dividindo entre a seita dos fariseus, a seita do seduceus e a seita dos essênios, a religião manteve a força. Entretanto, o povo sempre viveu disperso pelo mundo. Estão corretas: a) somente I e II. b) somente I, II e III. c) somente I, III e IV. d) somente I, II e IV. e) I, II, III e IV. 3. (UPE) Os hebreus tiveram um papel importante para a religião das sociedades contemporâneas, em especial ao desenvolverem o culto monoteísta. No processo de desenvolvimento do monoteísmo, podemos destacar o (a): a) figura de Moisés como um dos construtores deste novo culto. b) influência da religião egípcia sobre os hebreus. c) presença de deuses fenícios no panteão hebraico, em especial após o cativeiro da Babilônia. d) culto aos ancestrais como uma das práticas desse monoteísmo. e) substituição do deus Javé por Ur no centro do culto hebraico. 4. (COVEST) O povo hebreu teve dificuldade para se estabelecer politicamente durante a Antiguidade. No entanto, a sua religião foi decisiva para a manutenção da sua cultura. A religião hebraica, durante toda a Antiguidade: a) foi politeísta, seguindo o modelo das crenças egípcias e assírias. b) adotou ídolos que simbolizavam as forças da natureza. c) manteve o dualismo presente, imitando as crenças mesopotâmicas. d) sofreu mudanças significativas, passando por reformas éticas importantes. e) esconsiderou a escatologia, acreditando em deuses antropomórficos

77 5. (UEPG) A respeito do Êxodo, importante episódio da história do povo hebreu, assinale a alternativa correta. a) Foi o período em que os hebreus estiveram na Babilônia, como escravos. b) Conduzidos por Abraão, o primeiro patriarca, os hebreus partiram de Ur e estabeleceram-se na Palestina. c) Abraão anunciou uma nova cultura religiosa e libertou o povo hebreu do cativeiro egípcio. d) Foi a fuga dos hebreus da escravidão do Egito, sob a liderança de Moisés. e) Marca o nascimento de Cristo para os hebreus. 6. (URCA/CE) Excertos da legislação Mosaica (Deuteronômio): Cap. 19 (...) 15 - Uma só testemunha contra ninguém se levantará para qualquer iniquidade, ou por qualquer pecado, seja qualquer o pecado que pecasse: pela boca de duas testemunhas, ou pela boca de três testemunhas, se estabelecerá o negócio Quando se levantar testemunha falsa contra alguém, para testificar contra ele acerca do desvio Então aqueles dois homens, que tiverem a demanda, se apresentarão perante o Senhor, diante dos sacerdotes e dos juízes que houver naqueles dias; 18 - E os juízes bem inquirirão; e eis que, sendo a testemunha falsa testemunha, que testificou falsidade contra seu irmão. 19 Far-lhe-eis como cuidou fazer a seu irmão: e assim tirará o mal do meio de ti. 20 Para que os que ficarem o ouçam e temam e nunca mais tornem fazer tal mal no meio de ti O teu olho não poupará: vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé. O direito hebraico era um direito religioso e no aspecto penal procurava-se estabelecer um equilíbrio entre a ofensa e a repressão, mediante um sistema condicionado à regra de que ao mal praticado deveria corresponder um mal igual. Esse tipo de punição é conhecido como: a) Pena da Razoabilidade. b) Pena da Proporcionalidade. c) Pena do Talião. d) Pena da Individualidade. e) Pena do Ordálio. 7. (UPE) Assinale a alternativa incorreta. a) Dentre os povos da Antigüidade, os Hebreus distinguiram-se pelo monoteísmo, baseado na crença em Iavé. b) O Cristianismo incorporou grande parte das tradições religiosas dos hebreus, que nos foram transmitidas através do Antigo Testamento. c) Os Hebreus resolveram deixar o Egito durante o Reinado de Salomão, porque o regime de perseguição, imposto pelos Juízes e o Faraó, tornou-se insustentável. d) Moisés conduziu o povo hebreu do Egito à Palestina, no episódio conhecido como Êxodo. e) Os hebreus celebravam Três grandes festividades, entre as quais a Páscoa, na qual se comemorava a saída do Egito. 8. (ASPERHS) Vários povos da antiguidade oriental influenciaram decisivamente para as sociedades posteriores. Dentre esses povos estão os Hebreus. A maior contribuição dos Hebreus, para as sociedades atuais foi no campo religioso. Quais as características dessa religião: a) A introdução do dualismos ou seja a luta do bem contra o mal. b) O politeísmo antropozoomórfico, onde vários deuses tinha forma de homens e animais. c) O politeísmo zoomórfico, deuses em forma de animais, como o deus Baal. d) O monoteísmo religioso, a crença num deus onipotente, onisciente e onipresente. e) O islamismo, a crença em Alá e no alcorão

78 9. (PUC-SP) O cristianismo, na sua origem, está repleto de heranças(em geral modificadas) da religião judaica; mas há, também, elementos que não são partilhados por essas duas concepções religiosas. Dentre eles, podemos destacar: a) a referência ao Antigo Testamento como escritura sagrada. b) o conceito de culpa como elemento estruturante da moral religiosa. c) a fé em um único deus. d) O alcance universal do ideal de salvação. e) A adoção de uma moral sexual que valoriza a monogamia. 10. (UFPI) Segundo os relatos bíblicos, os hebreus migraram do Egito para a Palestina e, lá, conquistaram territórios e formaram, depois de algum tempo, uma Monarquia. Sabe-se, também, que o povo hebraico, tinha, na sua religião, um traço que o diferenciava dos demais povos que habitavam a Palestina. Sobre a religião hebraica, é incorreto afirmar que: a) baseava-se na crença da revelação direta de Deus, o que levava os hebreus a acreditarem que eram os escolhidos por Deus para serem seu povo na Terra. b) tinha na Arca da Aliança um elemento concreto de ligação com Javé. c) contava com uma estrutura sacerdotal hierarquizada, cujo centro era a figura de um Sumo sacerdote que dirigia as práticas religiosas em Israel. d) diferenciava-se, pelo caráter monoteísta, das demais religiões orientais na antiguidade. e) o culto a Javé assumia papel central nas práticas hebraicas, no entanto, o culto privado de divindades zoomórficas sempre foi aceito pela religião oficial. 11. (PUC-PR) Na Antiguidade muitos povos consideravam que as doenças eram enviadas pelos deuses. No final do século VIII a.c., quando os assírios sitiaram a cidade de Jerusalém e ameaçaram invadi-la, uma epidemia virulenta acometeu o acampamento matando muitos soldados. Nessa ocasião, Ezequias, rei de Judá, considerou essa epidemia uma bênção de Deus. Nesse contexto, marque a alternativa incorreta sobre a religião dos hebreus: a) Os hebreus consideravam Deus como soberano absoluto, fonte de todo o Universo e dono de uma vontade suprema. b) O Deus hebreu era transcendente, não se identificava com nenhuma força natural; estava acima da natureza. c) Os hebreus consideravam Deus bom e que fazia exigências éticas ao seu povo. Ao contrário dos deuses do Oriente Próximo, Deus não era atraído pela luxúria ou impelido pelo mal. d) Deus para os hebreus era uno, soberano, transcendente e bom. e) Para os hebreus o poder de Deus vinha de um poder preexistente, habitava a natureza e fazia parte dela. 12. (UPE) A civilização hebraica tem forte influência na cultura ocidental cristã, fornecendo contribuições valiosas para a formação da chamada Civilização Judaicocristã. Sobre isso, analise os itens abaixo: I. Os hebreus formaram-se da miscigenação entre clãs de semitas e tribos indoeuropeias. II. Davi foi o grande rei hebreu que é o autor dos Salmos. III. Moisés libertou os hebreus do cativeiro no Egito e é o autor do Pentateuco. IV. Salomão, que construiu o templo de Jerusalém, é o autor do Cântico dos Cânticos. V. Dentre os textos que compõem o Velho Testamento, podemos destacar a presença de livros de leis, relatos históricos, profecias e até mesmo um poema lírico-amoroso. É correto afirmar, após a análise dos itens acima, que: a) todos estão corretos. b) apenas I está correto. c) I e V estão corretos. d) apenas II, III, IV e V estão corretos. e) apenas V está correto

79 OLHARES HISTÓRICOS Cinema Dez Mandamentos Direção de Cecil B. DeMille.(EUA, min.). Superprodução épica que narra a história de Moisés desde o nascimento no Egito até a liderança do povo hebreu rumo à Terra Prometida. José, o Rei dos sonhos Direção de Robert Ramirez e Rob de Luca. EUA, min. Rei David (Inglaterra/Estados Unidos, min.). Direção de Bruce Beresford. O filme conta a história do Rei Davi e os conflitos de seu reinado a partir de 1006 a.c. Livros Jerusalém: uma cidade, três religiões. Karen Armstrong. São Paulo: Companhia das Letras, O Golem e outras aventuras do rabino Judá Levi, de Praga. Jayme Brener. São Paulo: FTD. Coleção Aventuras Mitológicas. História dos Hebreus: obra completa. Flávio Josefo. 4 ed. Rio de Janeiro: CPAD, Judeus. Rachel Mizrahi. São Paulo: Companhia Nacional Editora Nacional, Sites The Jerusalém Mosaic Neste site é possível fazer uma imagem virtual pelos diversos períodos da história de Jerusalém, mostrando seus costumes, história, artes e religião.(em Inglês)

80 Cretenses e Fenícios Cretenses A Ilha de Creta, a maior do Mar Egeu, está localizada a leste do Mediterrâneo. Nessa região, entre de 2000 e 1400 a.c., floresceu uma sociedade peculiar chamada de civilização cretense, egéia ou minóica. Nesse período, os cretenses detiveram o domínio do comércio marítimo no Mediterrâneo, além de influenciar culturalmente o povo grego. Essas influências puderam ser percebidas nas primitivas manifestações artísticas e em alguns mitos gregos, como por exemplo, a Lenda do Minotauro. Teseu e o Minotauro O episódio da invasão de Creta e destruição do palácio de Cnossos parece construir a base da lenda de Teseu e Minotauro. Segundo a lenda, havia em Creta um labirinto habitado pelo Minotauro, um ser híbrido de homem e touro. A cada sete anos Atenas devia enviar-lhe sete donzelas e sete jovens em sacrifício, o que, na lenda, simbolizaria o domínio de Creta sobre o continente. Teseu dispõe-se a enfrentá-lo para libertar a cidade. Entrou no labirinto, matou o Minotauro e conseguiu sair pois, ao entrar, foi desenrolado um novelo que sua mulher, Ariadne(aranha), ficou segurando na entrada. A vitória de Teseu, por sua vez, signifcaria a autonomia do continente. A chamada Guerra de Tróia, que envolveu micênicos e gregos, na Ásia Menor, estaria na seqüência desse episódio. In: NEVES, Joana. A construção de um mundo globalizado. 1 ed. São Paulo: Saraiva, p. 97. Sabe-se pouco sobre a organização da sociedade cretense, no entanto os palácios possuíam grande importância. As pesquisas arqueológicas encontraram ruínas em Faístos, Cnossos e Malia. Os palácios tinham uma outra função que armazenar produtos agrícolas que eram pagos pelos camponeses como tributos. Além disso, os palácios também serviam como residência de um rei que governava com ajuda de funcionários e nobres. Vale salientar que a civilização cretense era composta por cidades-estados, ou seja, cada cidade tinha seu rei. Assim, não havia um soberano que dominasse todo território. Entretanto, a cidade de Cnossos conseguiu subjugar outras cidades, centralizando a administração. Segundo os estudiosos, os cretenses eram pacifistas. Essa hipótese foi levantada depois que não foram encontradas muralhas ao redor dos palácios, algo que era bem comum no Oriente Próximo. Nas partes mais planas da ilha, os cretenses plantaram vinhas, oliveiras e cereais. Sob a influência de outros povos da Antiguidade, eles adquiriram técnicas para o trabalho com cerâmicas e metais. Os cretenses também construíram navios com madeiras da própria ilha. O comércio era feito através de trocas ou com o uso de placas de bronze, primitivas moedas, que podiam chegar a pesar trinta quilos. Vida social e cultural Os cretenses foram grandes artistas na pintura, na escultura, na cerâmica e no artesanato de pedras preciosas. Os cretenses praticavam várias modalidades de esportes e competições, tais como xadrez, corridas e boxe. Além disso, construíram teatros feitos de pedras com a finalidade de apresentar desfiles e eventos musicais

81 A religião na sociedade cretense era matriarcal, ou seja, havia um culto à Grande-Mãe, deusa da fertilidade, sendo vista como a mãe de todos os seres vivos. Havia ainda a adoração a animais, por exemplo, ao touro. Nas cerimônias fúnebres, havia o costume de enterrar os mortos com utensílios de seu uso além de alimentos e bebidas. Segundo antropólogos e historiadores, a mulher cretense, diferente de outros povos da Antiguidade, tinha uma posição social privilegiada. Fenícios Os fenícios têm origem semita e estavam localizados numa região entre as montanhas e o Mar Mediterrâneo oriental, atualmente o Líbano. Assim como os demais povos da Antiguidade, os fenícios praticavam a agricultura. A região era cortada por pequenos rios, que irrigava a pequena lavoura e a formação de pastos, onde se criavam gados e ovelhas. No entanto, sua posição geográfica contribuiu para o contato com diversos povos estrangeiros e a atividade comercial. Os Fenícios foram influenciados culturalmente pelos egípcios, babilônios, assírios e gregos. Dessa forma, eles estavam sujeitos a um processo contínuo de mistura de etnias. A antiga fenícia era formada por 25 cidades-estados, ou seja, cidades autônomas. Portanto, não existia um poder centralizado. O sistema de governo era uma monarquia ou uma república plutocrática (controlada pelos cidadãos mais ricos). Os reis, integrantes das famílias mais poderosas, repassavam os cargos através da hereditariedade. O monarca era assistido por um grupo de anciãos. Os fenícios são conhecidos como os grandes mercadores da Antiguidade. A princípio, os comerciantes faziam trocas de mercadorias, conhecidas como escambos. Depois de algum tempo, os governantes fenícios começaram a fabricar moedas. O comércio de madeira, a construção naval, a metalurgia e a produção têxtil geraram excelentes lucros para as cidades-estados. As cidades fenícias expandiram seus itinerários comerciais por todo o Mediterrâneo, formando feitorias e colônias em pontos especiais, entre elas Cartago, ao norte da África, em 814 a.c. As cidades fenícias que mais prosperaram foram Ugarit, Gubla ou Biblos, Tiro e Sidom. Ugarit foi fortemente influenciada pela cultura do Egito, uma vez que manteve intensas transações comerciais com esse povo. Os ugarites foram derrotados pelos hititas, perdendo, assim, sua autonomia. Já em Biblos os negociadores revendiam rolo de papiro egípcio para produzir livros. Assim como Ugarit, Biblos é sobrepujado pela expansão hitita

82 Colonização fenícia e colonização grega Os padrões e formas de colonização respectivos da expansão territorial grega e fenícia têm sido frequentemente comparados e contrastados. À luz das conclusões daí retiradas, podemos afirmar que a escolha do local da construção dos centros tinha uma importância primordial: enquanto os colonos fenícios os construíam em pequenas ilhas ou promontórios peninsulares, os colonos gregos preferiam terrenos situados na faixa costeira sim, mas em posições menos extremas e, por vezes, até mesmo levemente para o interior. Essa diferença de atitudes é fruto de dois objetivos distintos: enquanto no caso dos fenícios, os entrepostos eram vistos apenas como portos de escala comercial, no caso dos gregos visava-se a obtenção de bases para o estabelecimento de uma expansão e domínio territorial. Efetivamente, as colônias gregas geraram sem dúvida formas de aculturação mais fortes no seio das populações indígenas que as fenícias. PERONE, Renato. In: História da Humanidade. do terceiro milênio ao século VII a.c. Org. Unesco. Editora Verbo, v. 2, p.361. Com o declínio do Egito e a queda dos hititas, Sidom tornou-se a mais importante cidade comercial da região, controlando sozinha o comércio nessa parte do Mediterrâneo. Com a chegada dos assírios, Sidom perde seu brilhantismo no setor comercial. A partir do século VIII a.c., as cidades fenícias entraram em declínio, pois sofreram uma série de invasões: assírios, persas, macedônios. Economia e expansão marítima Os fenícios eram habilidosos artesãos, por isso usavam a madeira, os metais e o marfim na confecção de jóias, armas, cerâmicas e peças de vidros. Eles também tinham domínio sobre a tinturaria de tecidos, utilizando uma espécie de corante denominado de púrpura. Além disso, compravam vestes e tapetes da Mesopotâmia. Da Arábia, os fenícios importavam ébano, marfim, essências aromáticas e ouro, além de cavalo da Ásia Menor. Os Fenícios também vendiam e compravam escravos. Fantásticos navegadores (detentores da Talassocracia poder dos mares ), os fenícios, foram para a Península Ibérica à procura de ferro e prata e chegaram também na Inglaterra. Além de realizarem viagens em torno da África a serviço do faraó Necao. Em suas expedições, eles se orientavam pelo sol, durante o dia, e pela Ursa Maior, à noite. Os seus barcos eram compostos de remos e velas, assim puderam alcançar regiões muitos distantes da Fenícia. Cultura e Religião A religião dos fenícios era animista, isto é, atribuía poderes aos fenômenos naturais ou a componentes da natureza, como as montanhas, as árvores. Somado a isso, as suas crenças estavam centradas em rituais dedicados aos deuses locais. Cada cidade possuía seu deus principal, o mais cultuado era Baal. Os fenícios construíam diversos altares com o objetivo de sacrificar animais em homenagens aos deuses. Alguns deuses fenícios EL DAGON - Representava os rios e anunciava as chuvas. BAAL - Era o deus das alturas, tempestades e raios. AYAN - Filho de Baal, representava as águas subterrâneas. ANAT - Filho de Baal, representava a guerra. Por serem comerciantes, os fenícios eram práticos. Com o objetivo de facilitar e organizar as atividades comerciais, eles desenvolveram uma escrita fonética que serviu de base para o alfabeto grego, posteriormente o alfabeto atual. Os Fenícios criaram esse conjunto de símbolos para viabilizar a gestão dos negócios. Esse sistema de código é o principal legado fenício para o ocidente, haja vista que serviu de base para inúmeras línguas contemporâneas

83 TEXTO COMPLEMENTAR HISTÓRHISTÓRICOSHISTÓRICO SQUESTÕESE VESTIBULARES As semelhanças entre Cretenses e Fenícios Os cretenses podem ser considerados excelentes navegadores. Foram também grandes comerciantes. Embora enfrentassem dificuldades na agricultura, com poucas terras férteis, tinham uma boa produção de azeite e vinha que, em parte, era exportada. Além disso, desenvolveram um artesanato utilizando-se de metais que era muito bem aceito pelos povos do Mediterrâneo. Sua área de atuação no comércio marítimo era ampla chegando até o mar Negro. Com o desenvolvimento do comércio marítimo, cretenses e fenícios viviam em contatos com vários povos. Além disso, tinham uma vida urbana importante. Na Fenícia, as cidades Biblos, Sidom, Tiro eram as mais conhecidas. Em Creta, Cnossos e Faistos. As cidades cretenses possuíam grandes palácios e uma vida social intensa, onde a mulher tinha uma posição social prestigiada, diferente dos outros povos da Antiguidade. REZENDE, Antônio Paulo. Todos contam sua História - Antiguidade e Idade Média. Recife, Inojosa editores, p Analisando o texto 1. Descreva as semelhanças expostas pelo autor entre fenícios e cretenses. 2. Relacione a situação da mulher em Creta com a mulher egípcia, mesopotâmica e hebraica

84 FAZENDO HISTÓRIA 1. (Vunesp) Alguns povos da Antiguidade foram mercadores que viveram do comércio marítimo. Cite três cidades-estado fenícias e indique a principal contribuição que os fenícios legaram às civilizações posteriores. 2. O alfabeto foi uma criação dos fenícios. Qual a sua importância para os povos da época? 3. Explique de que forma a localização geográfica da fenícia contribuiu para o desenvolvimento do comércio. 4. Conceitue: Plutocracia e Talassocracia. 5. Elabore um pequeno texto comentando sobre a cultura e religião fenícia

85 QUESTÕES DE VESTIBULARES 1. (LUDUS) O mapa a seguir coloca em destaque uma estreita faixa de terra na qual está atualmente localizado o Líbano. Por volta do III milênio a.c., instalou-se na região um povo semita que, devido à proximidade geográfica com o Egito, à ocorrência de um litoral que favorecia bons portos e à abundância do cedro utilizado na construção de navios, dominou, entre e 600 a.c., o comércio mediterrâneo, substituindo os cretenses na exploração marítima e comercial. Entre as alternativas a seguir, assinale aquela que apresenta o povo caracterizado no texto. a) Fenícios. b) Palestinos. c) Hebreus. d) Hititas. e) Assírios. 2. (IPEDEC) Os Fenícios eram um povo de origem semita da costa setentrional do Mar Vermelho. Por volta do ano 1000 a.c., cidades-estados instauram a Fenícia como federação, sob a hegemonia de Tiro. Colonizam o sul da península Itálica, parte da Sicília, litoral sul da península Ibérica e norte da África, onde fundam Cartago em 814 a.c. A partir de 800 a.c., a Fenícia faz parte, sucessivamente, do Império Babilônico, do Persa e do Macedônico. Com a queda de Tiro, em 332 a.c., a hegemonia passa para Cartago, que enfrenta os romanos nas Guerras Púnicas. Cartago é derrotada em 146 a.c. Sobre os Fenícios, analise as assertivas abaixo: I. Possuíam uma poderosa classe de comerciantes ricos e utilizam o trabalho escravo. Sua religião era politeísta, na qual praticavam cultos e sacrifícios humanos. II. Desenvolveram técnicas de navegação e de fabricação de barco, vidro, tecido e artesanato metalúrgico. Criam um alfabeto, posteriormente adotado pelos gregos e a partir do qual é instituído o alfabeto latino. III. A principal atividade econômica dos fenícios era o comércio marítimo. Realizam grande intercâmbio com as cidades gregas e egípcias e as tribos litorâneas da África e da península Ibérica, no Mediterrâneo. IV. A base da organização política eram os clãs familiares, detentores da riqueza e do poder militar. Cada cidade-estado era governada por um rei, indicado pelas famílias mais poderosas. Sendo assim, podemos afirmar que: a) Apenas I, II e III estão corretas. b) Apenas II, III e IV estão corretas. c) Apenas I, III e IV estão corretas. d) Apenas I, II e IV estão corretas. e) Todas as alternativas estão corretas. 3. (UFC) Os fenícios viviam numa faixa de duzentos quilômetros de comprimento, entre o mar Mediterrâneo e as montanhas do atual Líbano. Semitas, provinham do litoral setentrional do mar Vermelho. Assinale a principal contribuição desse povo para as sociedades atuais. a) O alfabeto. b) Os templos. c) A escrita hieroglífica. d) A escrita cuneiforme. e) A invenção do comércio

86 4. (ASPERHS) Leia com atenção. Sua religião era animista, isto é, atribuía poderes sagrados às montanhas, árvores e às manifestações da natureza. Além disso, estava centrada em ritos e deuses locais. Cada cidade tinha seu próprio deus principal (Baal), mas também havia a prática de cultos dedicados a divindades comuns a todas as cidades. A que povo pertencem esses aspectos religiosos? a) Acádios. b) Persas. c) Fenícios. d) Eólios. e) Cretenses. 5. (Fatec-SP) Entre as principais características da civilização fenícia, merecem destaque especial: a) a economia agrícola de regadio, a sociedade de castas e a organização política teocrática. b) a economia mercantil, a organização política sob forma de cidades-estados e a criação do alfabeto. c) a religião monoteísta, a escrita cuneiforme e a sociedade nômade-pastoril. d) a religião dualista, o regime político democrático e a escrita hieroglífica. e) a sociedade estamental, a economia de subsistência e o expansionismo militar. 6. (VUNESP) Na região onde atualmente se encontra o Líbano, instalou-se, III milênio a.c., um povo semita que passou a ocupar a estreita faixa de terra, com cerca de 200 quilômetros de comprimento, apertada entre o mar e as montanhas. Várias razões levaram esse povo ao comercio marítimo, merecendo destaque sua proximidade geográfica com o Egito; costa, que oferecia lugares para bons portos; e o cedros, principal riqueza, usados na construção de navios. O contido nesse parágrafo refere-se ao povo. a) fenício. b) Hebreu. c) Sumério. d) Hitita. e) Assírio. 7. (UFPI) A respeito da sociedade fenícia podemos afirmar corretamente que: a) A fenícia desconhecia centralização do poder, pois era formada por cidades-estados que tinham ampla autonomia política, econômica, religiosa e administrativa. b) A independência política das cidades-estados fenícias foi possível, durante séculos, pelas alianças estabelecidas com os romanos que, por sua vez, faziam frente à expansão persa. c) Os extensos vales situados entre as montanhas e o Mediterrâneo possibilitaram o grande desenvolvimento da agricultura e do pastoreio e, consequentemente, do comércio. d) De todas as criações fenícias, a mais importante foi a caravela, posteriormente aperfeiçoada pelos gregos. e) A grande e original contribuição dos fenícios para a história da civilização foi à introdução das vogais no alfabeto criado pelos gregos e romanos, o que veio tornar a comunicação mais fácil e rápido. 8. (FGV-SP) Das alternativas abaixo, a que melhor caracteriza a sociedade fenícia é: a) a existência de um Estado centralizado e o monoteísmo. b) O monoteísmo e a agricultura. c) O comércio e o politeísmo. d) As cidades-estados e o monoteísmo e) A agricultura e a forma de Estado centralizado

87 OLHARES HISTÓRICOS Leitura A História Geral das civilizações: o Oriente e a Grécia Antiga. 2 ed. A. Ayboyer e A. Aymard. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, O livro das religiões. Jostein Gaarder. São Paulo: Companhia das Letras, A história do alfabeto. J. Man. Trad. Edith Zonenschain. Rio de Janeir: Ediouro, As primeiras civilizações. Jaime Pinsk. São Paulo, Atual, (Discutindo História). Revista História Viva. São Paulo: Dueto Editorial. Revista mensal, com artigos sobre diversos temas históricos

88 Os persas O atual Planalto Iraniano foi povoado, por volta de 2000 a.c., por duas grandes tribos indo-européias: Medos e Persas. Esses grupos formaram dois reinos autônomos. O reino dos persas, conduzido pela família Arquemênidas, foi conquistado pelos medos sob a liderança de Ciaxares. No governo de Ciaxares (625 a.c-585a.c) organizou-se um exército de pesada infantaria e habilidosa cavalaria. Além disso, ele fez acordos com os caldeus e derrotou os assírios. No entanto, os sucessores de Ciaxares foram débeis e não conseguiram manter as mesmas estruturas no reino. Isso facilitou a vitória de Ciro, iniciando a hegemonia dos Persas, a partir de 550 a.c. As Conquistas Persas Ciro, o primeiro rei do Império Persa, realizou uma série de conquistas. No seu governo houve a dominação da Lídia e das cidades gregas da Ásia Menor. Em 539 a.c., anexou a Fenícia, a Palestina, a Síria e tomou a Babilônia, libertando os judeus e pondo fim ao conhecido Cativeiro Babilônico. Ciro permitiu que os judeus regressassem para Palestina, ajudando-os a reconstruir o Templo de Jerusalém. A tolerância religiosa e cultural foi uma das marcas do governo de Ciro. No entanto, exigia homens para o exército, víveres e metais preciosos dos povos submetidos. Dessa maneira, em 529 a.c., Cambises, filho e sucessor de Ciro, herdou um fausto Império. Ele deu prosseguimento às campanhas militares persas, invadindo e conquistando o Egito em 525 a.c, na famosa Batalha de Pelusa. Nesse momento, o Império Persa englobava a região do Mar Cáspio, o Mar Negro, o Cáucuso, parte leste do Mar Mediterrâneo, os desertos da Arábia e da África, além do Golfo Pérsico e a Índia. Segundo alguns historiadores, Cambises tinha a intenção de conquistar Cartago, mas não conseguiu devido às disputas internas pelo poder. A luta pelo trono permaneceu após a morte de Cambises. Nesse sentido, Dario fez alianças com parte da nobreza persa e assumiu o trono da Pérsia

89 A administração persa O governo de Dario ficou conhecido pela exímia organização político-administrativa do Império. Ele dividiu o extenso território em províncias chamadas de Satrapias, chefiadas por governadores (os sátrapas), que tributavam ao Estado de acordo com às riquezas das províncias, como o Egito e a Mesopotâmia que forneciam gado, trigo, ouro e prata. Assim, os sátrapas tinham autonomia total, no entanto, tinham que prestar contas aos representantes do rei. Esse serviço de informação era formado por pessoas de confiança do rei, denominados de Olhos e Ouvidos do Rei. Além disso, existia algo semelhante a um primeiro-ministro, que auxiliava o rei na administração pública. Dario também unificou o sistema de impostos por intermédio da criação de uma moeda, o dárico. De acordo com alguns estudiosos, essa moeda era feita de ouro e constitui a primeira unidade monetária usada internacionalmente. Para tornar mais eficiente a comunicação entre as províncias, Dario organizou um sistema de estradas conectando as mais longínquas satrapias do império. Essas estradas ligavam as principais cidades do império: Sardes, Persépolis, Susa, Babilônia e Ecbatana. Esse sistema de correios tinha postos de reabastecimento com alimentos, água e cavalos. Assim, ficou mais rápida a comunicação entre as províncias, isso facilitou o comércio e a centralização do poder. Como funcionava o sistema de correios A estrada real construída por Dario I media perto de quilômetros e cortava o império, unindo Sardes, nas proximidades do Mar Egeu (Ásia Menor) ao palácio de Susa, no Golfo Pérsico. A segurança da estrada era garantida por uma constante patrulha imperial e possuía mais de 100 postos onde mensageiros reais faziam a troca de cavalos e passavam o correio, um trajeto que durava apenas uma semana em todo o seu percurso. HERÓDOTO, História. Brasília: Unb, Com o auxílio de um magnífico exército, Dario I e depois seu filho Xerxes tentaram dominar as colônias gregas da Ásia Menor. Essa foi a principal causa para o início das Guerras Médias ou Greco-Pérsicas. Esses conflitos marcaram o início do enfraquecimento do Império Persa, até sua decadência final em 330 a.c., quando Dario III é derrotado por Alexandre da Macedônia. Zoroastrismo: a luta entre o bem e o mal No campo das artes, os persas foram pouco originais, uma vez que sofreram influências culturais de diversos povos da antiguidade. Os monumentos e os palácios em geral, apresentavam traços babilônicos, assírios e egípcios. Entretanto, foi na religião que os persas trouxeram grande peculiaridade. Criada pelo profeta Zoroastro ou Zarastustra, por volta do século VI a.c., a religião persa possuía duas grandes divindades: Ahura-Mazda, simbolizando o bem, a justiça e a sabedoria; e Ahrimam, força do mal e das trevas. Os preceitos básicos pregados por Zoroastro estão inseridos no Zend Avesta, livro sagrado dos persas. Diferente das demais religiões do Oriente, a doutrina do zoroastrismo condenava o politeísmo, a magia e os sacrifícios de sangue. Na concepção de Zoroastro, o homem tinha a liberdade para escolher entre o bem e o mal. Essa dualidade representava a luta incessante das trevas contra a luz, do espiritual contra o material. O zoroastrismo era uma religião escatológica, ou seja, havia a crença na chegada de um Messias, na ressurreição dos mortos e no juízo final. Essa religião possuía preceitos éticos e morais inovadores, os quais seguidos pelos homens podiam assegurá-los a salvação. Assim, para alcançar a vida eterna, cada pessoa tinha que falar sempre a verdade, praticar a bondade com o próximo, evitar o adultério e obedecer aos governantes. Já para os seguidores do Mal, estava garantida uma vida de turbulências

90 O Julgamento religioso Zoroastro acreditava na imortalidade e seu ensinamento a esse respeito é de crucial significação. O deus do mal estava fadado a ser por fim derrotado, embora ele e suas cortes o ignorassem. Essa derrota final do mal viria no dia do último grande julgamento, quando os mortos retornariam à vida. Nesse meio tempo, as almas dos mortos sobreviveriam em outro mundo, onde receberiam o tratamento que houvessem merecido por sua vida na terra. Três dias após a morte, cada alma era levada a uma grande ponte, que atravessava as profundezas do inferno. Se o bem que o homem houvesse praticado na terra ultrapassasse o mal, sua alma atravessaria a ponte para um mundo de celeste felicidade. Mas se os feitos do homem o revelassem como um servo do mal sobre a terra, a ponte se estreitaria e sua alma seria precipitada no reino da pesada escuridão e do terrível castigo. Contudo, mesmo essas almas não permaneceriam no inferno para sempre, pois isso deixaria muitas das criaturas de Ormuz em mãos de seu inimigo. Mais tarde, no dia do ajuste final, o mal seria purificado em metal derretido, que para o bem é tão agradável como leite quente. Assim, o próprio inferno seria purificado e a vitória sempiterna pertenceria à verdade e à bondade. SAVELLE, Max(coord.). As primeiras culturas humanas. História da Civilização Mundial. Belo Horizonte: Villa Rica, p.138. As crenças presentes no zoroastrismo influenciaram fortemente o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. Vale salientar que a convivência com os caldeus trouxe mudanças significativas no zoroastrismo, a saber, a assimilação do fatalismo e do pessimismo. Atualmente, essa religião dual tem adeptos na Índia, onde são conhecidos de Parsis, persas. No Irã há uma minoria de seguidores, representado 0,9% dos 67 milhões de habitantes

91 TEXTO COMPLEMENTAR A eficiência do governo persa Em teoria, o rei persa era um monarca absoluto que governava pela graça do deus da luz. Nenhuma constituição ou princípio de justiça limitava sua autoridade soberana. Na prática, porém, devia deferência aos principais nobres do reino e dispensar alguma consideração aos costumes antigos e às leis tradicionais dos medos e dos persas. Para efeitos de administração local o império era dividido em vinte e uma províncias, cada uma das quais se encontrava sob o mando de um sátrapa ou governador civil. Apesar de absoluto em todos os assuntos de jurisdição civil, o sátrapa não tinha autoridade militar. As forcas militares eram confiadas ao comandante das guarnições em toda a província. Como uma salvaguarda adicional designava-se um secretário para cada província a fim de examinar a correspondência do sátrapa e denunciar quaisquer provas de deslealdade. E, finalmente, para maior segurança, o rei enviava inspetores especiais uma vez por ano, com uma poderosa guarda, a fim de visitar cada província e investigar a conduta do governo. Esses funcionários, conhecidos como Olhos e Ouvidos do Rei, eram geralmente membros da família real ou outras pessoas em quem o monarca podia depositar toda a confiança. Apesar de trabalhoso e caro, o sistema funcionou tão eficientemente que as revoluções dos sátrapas figuraram entre as causas principais da queda da Pérsia. BURNS, E. M. História da Civilização Ocidental. Porto Alegre, Globo, p.197. Analisando o texto 1. Faça um rápido comentário sobre a estratégia criada pelo governo persa para ter controle sobre as províncias. 2. Podemos fazer alguma correlação entre a divisão político-administrativo do Império Persa com a divisão do Brasil? Justifique

92 FAZENDO HISTÓRIA HHISTÓRICOSHISTÓRICOSQUES TÕESE VESTIBULARES 1. Abaixo, segue um fragmento dos ensinamentos de Zoroastro ou Zaratustra, fundador da religião baseada no dualismo entre o bem e o mal. Ora, nas origens primeiras Há os espíritos do Bem e do Mal No pensamento, nas palavras, na ação. Os homens de inteligência sabem escolher entre ambos. Os tolos não. In: HOLANDA, Sérgio Buarque de. História da civilização. São Paulo: Nacional, p.31. Nesse trecho transcrito pode-se perceber a característica dual da religião persa. Explique por quê. 2. Analise o governo de Dario e suas diversas inovações no setor político-administrativo. 3. Faça um quadro comparativo entre as religiões egípcia, mesopotâmica, hebraica, fenícia e persa. 4. Pesquise os significados das palavras ética e escatológica. 5. Faça uma pesquisa em livros, internet, jornais, enciclopédias ou revistas e procure saber informações sobre a situação do Irã hoje, quanto a sua religião, economia, política e sociedade

93 QUESTÕES DE VESTIBULARES 1. (UNAMA) Sobre a civilização pérsica, que viveu seu apogeu entre ac, é incorreto afirmar: a) Unificadas pelo imperador Ciro, as tribos medas e persas iniciaram, no século VI ac, uma extraordinária marcha expansionista pela Índia, Egito e Oriente Médio. b) Em 539 ac, o exército persa marchou sobre a mesopotâmia, anexando a região a seu império e libertando os hebreus lá escravizados, permitindo que voltassem a Jerusalém. c) O império foi dividido em distritos denominados "satrápias", sendo a administração pérsica caracterizada pela tolerância cultural em relação aos povos conquistados. d) A religião dos persas era dualista, existindo uma entidade do bem ("Ormuz") e um deus do mal ("Arimã"), em constante conflito. e) Após sua vitória sobre os gregos nas Guerras Médicas, o império persa mergulhou na decadência, sendo derrotado pelas legiões do exército romano. 2. (IPAD) As religiões tiveram importância fundamental para a organização dos povos da Antigüidade Oriental. A religião persa: a) influenciou nas construções artísticas marcadas pela simplicidade e originalidade. b) teve preocupação com os princípios éticos, sendo uma religião revelada. c) foi dualista, acreditando na vitória do deus do bem, como na religião egípcia. d) conseguiu divulgar princípios éticos na época em que foi monoteísta. e) ajudou na organização do império persa, com seu dualismo baseado na figura do monarca. 3. (UFPB) O Império Persa foi um dos maiores da Antiguidade. Depois de conquistado por Alexandre, o Grande, a cultura grega foi introduzida nos antigos domínios persas e naqueles posteriormente conquistados pelo rei macedônio, ensejando a configuração da cultura helenística. Sobre a cultura helenística, é correto afirmar: a) Destacou-se por uma campanha sistemática de destruição de bibliotecas e combate às culturas dos povos conquistados. b) Caracterizou-se por uma religião monoteísta e o desprezo ao culto dos deuses oriundos da cultura grega. c) Distinguiu-se pela aversão à filosofia e, inversamente, por uma visão de mundo fortemente pragmática e distante do pensamento abstrato. d) Resultou da imposição da cultura grega sobre as demais culturas das regiões conquistadas, a exemplo da egípcia e da persa. e) Celebrizou-se pelo predomínio do monumentalismo e da grandiosidade no estilo arquitetônico, com o exemplo marcante do Farol de Alexandria. 4. (UFPB) Sobre o Império Persa, é correto afirmar: I. A religião persa era o Zoroastrismo, que pregava a existência do bem e do mal, saindo vencedor o bem, no dia do juízo final. II. Sua expansão territorial deveu-se à existência de boas estradas e de um forte exército. III. Os povos vencidos pelos persas eram obrigados a pagar tributos e a fornecer soldados para os exércitos do Grande Rei. A(s) afirmação(ões) verdadeira(s) é(são): a) apenas I e II b) apenas II c) apenas III d) apenas I e III e) todas

94 OLHARES HISTÓRICOS Filmes Direção de Zack Snyder. EUA, min. O rei Leônidas e seus 300 guerreiros lutam até a morte contra o exército persa. Com Gerard Butler, Rodrigo Santoro e Dominic West no elenco. Leitura HOOKER, J.T. Lendo o passado: do cuneiforme ao alfabeto. São Paulo: Edusp, LÉVÊQUE, Pierre. As primeiras civilizações. Lisboa: Edições 70, v.iii

95 Vaso grego. CAPÍTULO 9 A Grécia: das origens ao helenismo, 106 CAPÍTULO 10 Coliseu Romano, foto atual. As contribuições da cultura grega para o mundo ocidental, 128 CAPÍTULO 11 Roma: das origens ao Império, 144 CAPÍTULO 12 As contribuições da Cultura Romana para o Mundo Ocidental, O mundo ocidental contemporâneo possui vários elementos culturais herdados dos gregos e romanos: hábitos, costumes, política, ciências, teatro, artes e arquitetura. Nas imagens, os preciosos vasos gregos e o magnífico Coliseu.

96 A Grécia: das origens ao helenismo Localização A região habitada pelos antigos gregos abrangia a parte sul da península Balcânica (Grécia Continental), a Península do Peloponeso (Grécia Peninsular) e as ilhas do Mar Egeu (Delos, Rodes, Lesbos - Grécia Insular). Além disso, pertencia ao mundo grego as colônias da Ásia Menor e as do sul da Itália, conhecidas como a Magna Grécia. O meio geográfico grego Das grandes penínsulas mediterrâneas é a Grécia a mais pobre. A aspereza do seu solo A história da Grécia Antiga pode ser estudada em cinco grandes períodos: e os caprichos do seu clima são particularmente desfavoráveis à agricultura, fundamento dos primeiros povoamentos humanos.todavia nesta própria indigência um povo corajoso encontra salutar agulhão: tal desvantagem de ponto de partida não o deixa adormecer na facilidade. Agarrando a uma terra ingrata, sofre para valorizar; desbravando a floresta, guarnecendo com terraços os flancos das colinas. Depois, ser-lhe-á necessário inventar outros expedientes para sobreviver. LÉVÊQUE, Pierre. A aventura grega. lisboa/rio de Janeiro, Cosmos, 1967.p.9. Período Pré-Homérico ou Micênico (2000 a.c a.c.): engloba a fase de formação do povo grego e das invasões dos indo-europeus (aqueus, jônios, eólios e dórios)

97 Período Heróico ou Homérico (1100 a.c. 800 a.c.): essa denominação se dá devido à importância das obras Ilíada e Odisséia escritas por Homero que fornecem várias informações sobre essa etapa da história grega. Período Arcaico (800 a.c. 500 a.c.): marcado pelo aumento populacional e pela consolidação da Pólis grega. Período Clássico (500 a.c. 338 a.c.): caracterizado pelo apogeu e declínio das cidades-gregas, facilitando o domínio dos Macedônios. Período Helenístico (338 a.c. 146 a.c.): durou cerca de 190 anos, quando houve a fusão de diferentes culturas, principalmente a grega, a persa e a egípcia. Período Pré-Homérico ou Micênico Por volta de 2000 a.c., diversos grupos de origem indo-européias ocuparam as regiões que compunham a Grécia Antiga. Os aqueus, jônios, eólios e dórios, apesar de possuírem o mesmo tronco étnico, demonstravam disparidades significativas entre eles. A partir da chegada desses povos, eles passaram a ser denominados de helenos. Os helenos não ocuparam a Península Balcânica ao mesmo tempo. Os aqueus foram os primeiros a chegar. Entre 2000 a.c., e 1900 a.c., eles organizaram o primeiro núcleo urbano: Micenas. Posteriormente, a civilização micênica estendeu-se com o ingresso de outros grupos migratórios, o que possibilitou o desenvolvimento do comércio marítimo. Como vimos no capítulo 7, durante essa época, na Ilha de Creta expandiu-se uma sofisticada civilização. Os cretenses, também conhecidos como minóicos, em referência ao rei Minos, teve grande relevância entre os primeiros gregos. No século XV a.c., essa civilização foi brutalmente invadida pelos micênicos ou os aqueus, que vieram da Península Balcânica com o objetivo de subjugar os cretenses, gerando conflitos com os habitantes da ilha entre 1500 e 1400 a.c.com a vitória dos micênicos, Creta foi dominada, entretanto, houve a incorporação da cultura cretense, resultando na concepção da civilização cretomicênica. Após o triunfo sobre os cretenses, os helenos permaneceram sua expansão destinada à Tróia, cidade conhecida pelo seu importante comércio e situada estrategicamente entre o Mar Mediterrâneo e o Mar Negro. Nesse contexto ocorreu a famosa Guerra de Tróia. Segundo alguns historiadores, provavelmente, esse confronto entre a coligação de cidades gregas e Tróia tenha acontecido no século XIII a.c. Esse episódio está contido no poema épico Ilíada (Tróia, em grego), que se tornou um dos clássicos da literatura grega, escrita por Homero. Há incertezas sobre os motivos que provocaram a decadência da civilização cretomicênica: terremotos, rebeliões da população submetida ou invasões estrangeiras servem como hipóteses. A partir do século XII a.c., os dórios ocuparam a região do Peloponeso, a Ilha de Creta e outras partes do território da Grécia. Como estes povos não tinham conhecimento da escrita e não absorveram os valores culturais dos creto-micênicos, houve, nesse momento, uma época de regressão cultural. Período Homérico Essa etapa da história grega é denominada de Homérico devido as principais fontes para estudos serem dois poemas escritos por Homero: Ilíada (que narra a Guerra de Tróia) e Odisséia (contando o retorno de Ulisses, Odisseu, ao Reino de Ítaca). Com a chegada dos dórios, verificou-se uma redução na vida urbana e cultural que ficou conhecida como a Idade Média Grega ou Idade das Trevas. Essa regressão ocorreu também no setor político e social, nesse sentido, surgiram os genoi, que consistiam em pequenas comunidades rurais compostas por grandes famílias chefadas por uma só pessoa (o Pater). O pater, a pessoa mais velha da comunidade, tinha poderes religiosos e políticos. A ele cabia aplicar as leis nos genoi. O poder desse líder era transmitido do pai para filho primogênito

98 Cada genos (singular de genoi) fazia cultos a antepassado comum, geralmente semideus ou herói. Além disso, esses grupos familiares se dedicavam à agricultura de consumo imediato, sendo a propriedade, os equipamentos de produção, os animais e a colheita, bens que pertenciam a todos os membros do clã. Entretanto, essa situação se modifica com o decorrer dos tempos. O aumento populacional gerou uma crise entre os membros dos genos devido à escassez de alimentos, porque a produção agrícola se tornara insuficiente para manter todos os membros das famílias. Segundo alguns historiadores, realmente, o aumento demográfico foi decisivo para a fragmentação das comunidades gentílicas, pois a distribuição das terras ficou desigual.simultaneamente a este processo, várias famílias fizeram alianças com outras contribuindo para a formação das póleis ou cidades-estados, a saber, instituições independentes. Dessa forma, no final do Período Homérico, já existiam diversas cidades- Estados com imensa soberania político-militar. A cidade polis, em grego é um pequeno Estado soberano que compreende uma cidade e o campo ao redor e, eventualmente, alguns povoados urbanos secundários. A cidade se define, de fato, pelo povo demos- que a compõe: uma coletividade de indivíduos submetidos aos mesmos costumes fundamentais e unidos por um culto comum às mesmas divindades protetoras. FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma. São Paulo: Contexto, p.25. A desintegração dos genoi, o aumento populacional e as tensões sociais no fim do Período Homérico e princípio do Período Arcaico geraram a expansão do mundo grego. Alguns estudiosos também apontam como fatores da colonização o empobrecimento do solo e a concentração de terras em mãos dos nobres. A partir do século VIII, houve a colonização no litoral da Ásia Menor, na costa do Mar Negro, no sul da Península Itálica (Magna Grécia) e no sul da França. Essa expansão teve como conseqüências o surgimento de novos centros urbanos e a divulgação da cultura grega por diversas regiões

99 Período arcaico A crise nos genoi e o surgimento da pólis marcam a fase de transição entre o Período Homérico e Arcaico. Essa etapa da história grega caracteriza-se pelo predomínio de uma forma de governo pautada numa autonomia político-administrativa, ou seja, numa organização política e socioeconômica independente, conhecida como cidades-estado. Formaram-se centenas de cidades-estado, cada uma com suas peculiaridades. Porém, as que mais se destacaram foi Esparta e Atenas, pois sua influência se estendeu sobre as demais. Essa estrutura de governo, baseada na autonomia administrativa, foi resultado da diminuição do poder real e do fortalecimento da aristocracia grega. Cada pólis possuía uma assembléia onde eram debatidos diversos assuntos de interesse da população. O princípio fundamental que norteava essas reuniões era a isonomia, ou seja, a igualdade entre todos aristocratas. Inicialmente, o título de cidadão era concedido apenas a esses nobres. Entretanto, com o passar dos tempos, setores populares foram inseridos nesse processo e passaram a participar das discussões políticas, especialmente em Atenas nos séculos VI e V a.c. A cidadania nos Estados-nacionais contemporâneos é um fenômeno único na História. Não podemos falar de continuidade do mundo antigo, de repetição de uma experiência passada e nem mesmo de um desenvolvimento progressivo que unisse o mundo contemporâneo ao antigo. São mundos diferentes, com sociedades distintas, nas quais pertencimento, participação e direitos têm sentidos diversos. GUARINELLO, Noberto Luiz. Cidades-Estado na Antiguidade Clássica. In: PINSKY, Jaime e PIN SKY, Carla Bassanezi. História da Cidadania. São Paulo, Contexto, 2003, p.29. Na parte mais elevada da pólis, morava a aristocracia liderada pelo Basileu, um de tipo de rei-sacerdote. Já as partes mais baixas, situava-se o mercado, e nelas habitavam os trabalhadores em geral (comerciantes, artesãos). A pólis também era formada pela acrópole, local onde ficavam as fortificações e os templos religiosos. Esparta Fundada no século IX a.c. pelos dórios, a cidade Esparta situava-se na região da Lacônia, sul do Peloponeso, cortada pelo rio Eurotas, num vale rodeado de montanhas de difícil acesso. Nessa região havia grandes quantidades de minerais, uma fonte de recursos importantes para economia espartana. As terras da Lacônia eram férteis, o que possibilitava o cultivo de cereais, vinhas e oliveiras. Entretanto, em termos econômicos a região vizinha, a Messênia, a sudeste do Peloponeso era muito mais atraente. Por essa razão, no século VII a.c., os espartanos, após vários confrontos, conquistaram toda a Lacônia e a Messênia, transformando os subjugados numa espécie de servos, chamados de hilotas ou aprisionados. Organização Social A sociedade em Esparta era fortemente hierarquizada e dividida em três grupos distintos. Espartanos, iguais ou esparciatas Descendentes dos dórios, os esparciatas tinham todos os privilégios e formavam a aristocracia proprietária das terras. Só eles possuíam direitos políticos (cidadãos) e dedicavam-se únicamente à atividade militar e esportiva. Por lei, eles eram proibidos de exercer outra profissão que entrassem em atrito com a carreira militar. Vale salientar, que somente os espartanos e seus descendentes pertenciam ao grupo denominado de iguais. No mundo antigo grego, as guerras ocorriam, geralmente, no verão. Durante o restante do tempo, os esparciatas ficavam acampados, praticando exercícios militares e, mesmo quando iam dormir não soltavam suas armas. Esses guerreiros luta-vam a pé, formando fileiras, as quais são chamadas de falanges. Após o entoar de flautas e coros, as falanges iam de encontro ao inimigo, como se fosse uma parede de escudos movimentando lanças afiadas

100 Periecos Os periecos eram formados pelos aqueus, antigos habitantes da Lacônia. Dedicavam-se às atividades artesanais e comerciais. Não possuíam direitos políticos, mas eram livres, cultivavam suas próprias propriedades e pagavam impostos. Esse grupo social também não poderia tornar-se cidadão espartano nem casar-se com integrantes dessa classe. Os periecos eram obrigados a participar das guerras mesmo sem ter recebido treinamento militar. Hilotas Os hilotas eram uma espécie de servo público, pertencente ao Estado. Eles eram obrigados a trabalhar e dar aos espartanos uma quantidade de produção agrícola retirada do kleros (lote de terras), geralmente a metade. Na verdade, os hilotas, por intermédio de seu trabalho, sustentavam os espartanos. Os membros dessa categoria social não tinham direitos legais e podiam ser assassinados por qualquer espartano sem esse sofrer qualquer penalidade. Em síntese, os hilotas eram muito humilhados e tinham uma vida muito difícil. Por esses motivos, os hilotas se revoltaram várias vezes contra os espartanos. Sendo um dos maiores motins o da Messênia no século VII a.c., o qual chegou a ameaçar o domínio de Esparta. Com a finalidade de evitar essas revoltas, os espartanos praticavam os extermínios anuais (krypteia ou criptias), que também tinham a função de treinar militarmente os jovens. Organização Política A estrutura política em Esparta é atribuída ao lendário legislador Licurgo. A cidade era governada por dois reis, a Diarquia. Os monarcas, originários de duas famílias rivais e mais ricas da cidade, tinham poderes militar (comandavam o exército), religioso (sumo sacerdotes) e judiciário (juízes supremos). Em seguida havia a Gerúsia, conselho composto pelos dois reis e por 28 anciãos (gerontes) com mais de 60. Os mandatos dos gerontes eram vitalícios. As atribuições da Gerúsia consistiam em tomar as decisões mais importantes, resolução de questões externa e na criação de leis. Já a Ápela era uma assembléia composta por todos os cidadãos acima de 30 anos. Cabia à Apela escolher os integrantes da Gerúsia e aprovar ou não suas decisões.além desses órgãos havia os Éforos (cinco aristocratas), que eram eleitos pela assembléia popular para mandatos de um ano.após esse processo, esses observadores presidiam as reuniões da Gerúsia e da Ápela, fiscalizavam a vida pública dos cidadãos, julgavam os processos civis, podiam rejeitar projetos de lei e eram também responsáveis pela educação das crianças

101 Cultura e educação em Esparta As atividades culturais em Esparta eram limitadas pelo forte controle desencadeado pelo Estado. Diante disso, foram desenvolvidas as seguintes características: o laconismo (hábito de falar pouco), a xenelesia (expulsão de estrangeiros) e a xenofobia (aversão a estrangeiros). A prática desses mecanismos dificultou a troca cultural com outros povos. A esterilidade cultural em Esparta A esterilidade cultural de Esparta era resultado inevitável de sua estrutura social e política. Seus cidadãos eram treinados rigorosamente desde a Infância apenas para uma coisa ser bons soldados, e esses cidadãos, os espartanos, era uma pequena elite, apoiada pelo trabalho de um número muito maior de servos, hilotas. (...) Todo o ano, os éforos mandavam jovens espartanos escolhidos espionarem e matar os hilotas que considerassem perigosos. JONES, A. H. Atenas e Esparta in o Mundo Grego. Rio de Janeiro. Zahar. pág.66. O objetivo da educação espartana era a formação de exímios soldados e cidadãos compromissados, enfatizando a preparação militar e física. Os meninos, com apenas sete anos, eram entregues ao Estado que buscava fazer dessas crianças soldados corajosos e obedientes. Aos doze anos começava sua formação militar. A educação dessas crianças era marcada pela rigidez e disciplina. Eles se dedicavam exaustivamente ao treinamento voltado para a guerra. Para adquirirem resistências, os meninos eram chicoteados até sangrarem. O motivo dessa ação era tornar-los mais cruéis. Para se ter uma idéia da valorização do militarismo em Esparta, quando nascia uma criança, o pai levava-o para ser avaliado por um ancião. Se o recém-nascido fosse considerado saudável, podia-se criar, caso o contrário, jogava-se o bebê de um precipício. Já as mulheres também tinham, desde a infância, um rígido treinamento psicológico e físico. Elas possuíam liberdades que não existiam em outras cidades-estado gregas. As espartanas praticavam ginástica, participavam de jogos e reuniões e também administravam o patrimônio da família junto com seus maridos. Atenas O cotidiano de uma criança espartana Aos sete anos, todos os garotos deixavam suas mães e eram reunidos e divididos em unidades, ou tropas. Passavam então a viver em conjunto, nas mesmas condições. O mais veloz e mais valente nos exercícios militares tornava-se o comandante da unidade e os outros deviam obedece-lhos, assim como aceitar as punições que ele estabelecesse. Os rapazes aprendiam a ler e escrever apenas o necessário aos objetivos de se tornarem soldados disciplinados e cidadãos submissos, concentrando-se no aprendizado militar. Conforme cresciam, suas provações aumentavam: eram obrigados a andar descalços e nus, de modo que adquiriam uma pele grossa, só se banhavam com água fria e dormiam em camas de junco, feitas por eles mesmos. Aos vinte anos de idade, o homem espartano adquiria uns poucos direitos políticos; aos trinta, casava-se, adquiria mais alguns outros e uma certa independência. Entretanto, apenas aos sessenta estaria liberado de suas obrigações para com o Estado e seu esquema de mobilização militar constante. FUNARI, Paulo Funari. Grécia e Roma. São Paulo. Contexto: p Situada na península da Ática, Atenas foi fundada pelos jônios, se tornando a mais importante cidade-estado grega. Por causa da pouca fertilidade do solo, os atenienses se dedicaram às atividades marítimas. A topografia favorecia o cultivo de uvas e oliveiras. Ao sul da região, os atenienses exploravam as minas de prata, além de ter um excelente porto, o Pireu, contribuindo para o comércio marítimo

102 A população ateniense era dividida da seguinte forma: Eupátridas: formada pela aristocracia, possuidora de grandes terras mais férteis. Geomores (georgoi): composta pelos pequenos proprietários de terras, demiurgos: artesãos e comerciantes. Metecos: constituída de estrangeiros, os quais eram livres e praticavam o comércio. Os membros dessa classe social, no entanto, não possuíam diretos políticos nem civis. Escravos: em sua maioria eram prisioneiros de guerra, não detinham direitos políticos. Inicialmente, o número de escravos era insignificante, no entanto, com o passar do tempo se transformaram na principal mão-de-obra em Atenas. Os escravos atenienses exerciam várias atividades, excluindo a área política. A escravidão na Grécia Antiga As propriedades são uma reunião de instrumentos e o escravo é uma propriedade instrumental animada (...). Se cada instrumento pudesse executar por si próprio a vontade ou o pensamento do dono (...) se, por exemplo, o arco pudesse tirar sozinho da cítara os sons desejados, os arquitetos não teriam necessidade de operários, nem os senhores teriam necessidade de escravo (...). Todos aqueles que nada têm de melhor para nos oferecer que o uso do seu corpo e dos seus membros são condenados pela natureza à escravidão. É melhor para ele servir que serem abandonados a si próprios. Numa palavra, é naturalmente escravo quem tem tão pouca alma e tão poucos meios que deve resolverse a depender de outrem (...) O uso dos escravos e dos animais é aproximadamente o mesmo (...). Aristóteles. Política. In: FREITAS, Gustavo de. 900 textos e documentos de História. Lisboa: Plátano, v.1. p.70. Formas de governo Entre os séculos IX e VI a.c., Atenas vivenciou diversos tipos de regimes: a monarquia, a aristocracia, a oligarquia, a tirania e a democracia. Fazem parte também do cenário político em Atenas, as desigualdades e os conflitos sociais. Houve a permuta dos monarcas pelos magistrados responsáveis pela guerra (polemarcas) e outros assuntos (arcontes). Além disso, existia ainda um conselho que se encontrava numa colina, denominada de areópago, para tratar de assuntos jurídicos e administrativos. Os pequenos camponeses e artesãos viviam situações de penúria e, endividados, se tornavam escravos. Perante esses problemas, os camponeses iniciaram uma luta com o objetivo de abolir a escravidão por dívidas e agilizar a reforma agrária. Em relação a isso, a aristocracia implementou algumas reformas para acalmar os camponeses. Os reformadores sociais mais famosos foram Drácon e Sólon. O primeiro a criar leis sociais foi Drácon. Ele, baseado nas tradições ou costumes orais, registrou por escrito as leis que passaram a ser reconhecidas pela população por intermédio de um conjunto de leis escritas. Essas leis eram bastante severas, chegando a punir com a morte vários infratores. Em 594 a.c., o legislador Sólon, eleito arconte, aboliu a escravidão por dívidas, limitou o tamanho da propriedade, fez uma divisão censitária em Atenas e devolveu terras geradas por endividamento (kektemoroi). A organização social em Atenas ficou classificada em quatro classes. Essa divisão se baseava em critérios censitários, ou seja, a posição social do indivíduo era baseada pela renda anual, a qual era dimensionada pela quantidade de vinho, azeite ou trigo. Em linhas gerais, pode-se enumerar os principais pontos das reformas de Sólon: * Lei da Seisactéia: proibição da escravidão por dívida; * Divisão censitária da sociedade; * Criação do Tribunal Popular: Helieu; * Incentivou a vinda de estrangeiros; * Criação de uma moeda grega (dracma); * Acabou com o direito de primogenitura; * Governo formado pelos mais ricos: Plutocracia ou Timocracia;

103 * Favorecimento ao desenvolvimento econômico comercial; * Concessão de mais poderes para a Eclésia: assembléia popular; * Criação da Bulé: conselho formado por quatrocentas pessoas que representavam o demos, povo. A concepção de justiça para Sólon Sólon afirmava que um princípio de justiça, Dikê, é a base da comunidade humana, e que, quando as pessoas infringem esse modelo de justiça, elas provocam a ruína da cidade. Desse modo, sustentava ele, os ricos proprietários de terras com a sua cobiça destruíram a vida da comunidade e levaram Atenas às portas da guerra civil. Um traço notável da vida intelectual era a crença num princípio ordenador do universo. Para Sólon, a lei universal também interferia na vida social. Originalmente, a justiça havia sido concebida em termos religiosos como a vontade de Zeus; ao considerar a justiça como principio atuante dentro da sociedade, Sólon tirou a justiça do campo da religião e conferiu-lhe uma base secular. PERRY, Marvin. Civilização Ocidental: Uma história Concisa. São Paulo: Martins Fontes, p.52. Sólon. As reformas de Sólon foram a base da futura democracia que viria a ser implantada em Atenas mais tarde. As reformas de Sólon foram a base da futura democracia que viria a ser implantada em Atenas mais tarde. Entretanto, as medidas de Sólon desagradaram a aristocracia ateniense que temia perder os seus privilégios, além de não solucionar a questão da terra, uma vez que as classes inferiores desejavam uma reforma agrária. Por esses motivos, as Leis de Sólon não resolveram as tensões sociais em Atenas e possibilitou a ascensão da Tirania. Por volta de 560 a.c., a polis ateniense passa a viver sob a Tirania de Psístrato. Vale salientar que os governos tiranos nessa época apresentavam propostas políticas em favor dos pobres, conseqüentemente, contrariando os interesses dos eupátridas. O governo de Psístrato foi caracterizado por uma série de reformas. Ele limitou as posses da aristocracia, realizando, dessa forma, uma reforma agrária. Além disso, estabeleceu uma linha de crédito rural com o objetivo de ajudar os camponeses. Em linhas gerais, as realizações governamentais da tirania de Psístrato foram as seguintes: Incentivos culturais: realizações de festas pagãs e eventos esportivos; Transcrição da Ilíada e Odisséia; Confisco dos latifúndios dos nobres;

104 Construção de grandes palácios; Estabilidade econômica; Concessão de créditos aos pequenos agricultores; Realização de obras públicas com o objetivo de gerar empregos. Em 527 a.c., Psístrato morre. A partir de então, o governo é repassado para as mãos dos seus filhos, Hiparco e Hípias. O primeiro foi assassinado e o segundo deposto pela aristocracia. Após o período das tiranias, o governo ateniense foi assumido pelo legislador Clístenes, em 507 a.c., No poder, Clístenes realizou várias mudanças no âmbito político-administrativo. Esse estadista alterou o sistema de eleição e representação governamental, uma vez que buscou incluir a todos nas decisões políticas. Veja abaixo as principais realizações do governo de Clístenes: Fortalecimento da Eclésia Criador da Democracia Divisão do território geográfico ateniense em dez tribos, que, por sua vez, eram divididas em unidades menores, chamadas de demos (daí surge o termo democracia, poder do povo); Criação do Ostracismo: instrumento de punição para todos aqueles que ameaçarem o regime democrático. Essa instituição consistia no exílio do indivíduo por 10 anos; O aumento no número de membros da Bulé: de 400 passou para 500. As medidas de Clístenes, criador da democracia, foram fundamentais para o florescimento econômico e político em Atenas. No entanto, vale ressaltar que a democracia ateniense tinha suas limitações. Nem todos participavam das decisões administrativas. Só os grandes proprietários de terras tinham pré-requisitos para participarem desse sistema democrático. Já os demais membros da sociedade ateniense (metecos, mulheres e escravos) eram isentos de direitos políticos. Reunião do Congresso Nacional. Na democracia representativa o povo, escolhe vereadores, prefeitos, deputados, governadores, senadores e o presidente, os quais representarão os interesses sociais no decorrer do seu mandato, criam projetos, discutem e votam medidas que visam o bem-estar do país

105 Democracia: ontem e hoje A democracia dos antigos era fundada sobre o governo de assembléia. Ao contrário da democracia moderna, nela não existiam entidades intermediárias entre o indivíduo e o Estado. Já a democracia dos modernos é representativa. Ela é pluralista, isto é, apóia-se na multiplicidade das sociedades intermediárias como os partidos políticos, os sindicatos e outras associações, que funcionam como pontes entre os indivíduos e o Estado. A democracia representativa também nasceu da convicção de que os representantes eleitos estariam em condições de avaliar quais seriam os interesses gerais melhor do que os próprios cidadãos, mais voltados para seus interesses privados. (...) Mas isso desde que o deputado, uma vez eleito, se comporte como um representante da nação inteira. BOBBIO, Norberto. Estado, governo e sociedade. 11. ed. São Paulo: Paz e Terra p.152. Período Clássico Os principais eventos que ocorreram no Período Clássico foram: o apogeu da cultura grega (destaque para Atenas) e as disputas externas (guerras contra os persas) e as internas (Guerra do Peloponeso). Guerras Médicas O confronto entre os helenos e persas foi provocado pelo projeto expansionista desenvolvido pelo rei Dario I. O início das divergências se deu quando a cidade de Mileto se rebelou contra a dominação dos persas, recebendo ajuda dos atenienses. Dessa forma, os persas deflagram a primeira guerra contra os gregos. Sob a chefa de Milcaíades, os helenos derrotam os persas na Batalha de Maratona (490 a.c.). Em 480 a.c., Xerxes, o filho de Dario I, retorna ao campo de batalha e inicia a segunda guerra contra os gregos. No entanto, um acordo entre diversas cidades-estado, sob a égide de Esparta, foi decisivo para a derrota do exército persa. Para especialistas, o triunfo dos gregos representou um feito inigualável dada à diferença numérica entre ambas as forças. Além disso, essa vitória reforçou, entre os gregos, a auto-confiança e o engrandecimento da cultura grega (literatura, escultura, arquitetura). A Confederação de Delos Após as guerras greco-pérsicas, Atenas coordenou uma aliança política e militar entre diversas cidades-estado gregas, tal acordo foi chamado de Liga de Delos (476 a.c.). De acordo com as regras que normalizavam a Liga, os participantes tinham que fornecer frotas, soldados e recursos financeiros que seriam depositados na sede da confederação, a Ilha de Delos. Entretanto, como Atenas era referência da associação, tornou-se visível o seu favorecimento quando houve a transferência do tesouro de Delos para Atenas, o que possibilitou o seu desenvolvimento cultural e econômico. O governo de Péricles Durante o governo de Péricles (461 a 429 a.c), o regime democrático ateniense alcança seu ápice. Paralelo a isso, o número de trabalhadores escravos alcança o seu maior índice, o que criou condições para o crescimento econômico de Atenas. Foram as cidades-estado gregas que, pela primeira vez na história, tornaram a escravidão absoluta na forma e dominante na extensão, transformando-a, de forma de trabalho auxiliar e complementar, em um sistemático modo de produção. Rezende Filho, Cyro de Barros. História Econômica Geral. São Paulo: Contexto, 1991, p

106 A democracia no governo de Péricles era direta, possuindo os seguintes princípios: isonomia (todos são iguais perante à lei), isegoria (igualdade de acesso ao pronunciamento na assembléia) e isocracia (igualdade na participação no poder). As reformas na política implementadas por Péricles, possibilitou uma participação considerável dos pobres nas assembléias. Temos um sistema político... que se chama democracia, pois se trata de um regime concebido, não para uma minoria, mas para as massas. Em virtude das leis (...), todas as pessoas são cidadãos iguais. Por outro lado, é conforme a consideração de que goza em tal ou tal domínio que cada um é preferido para a gestão dos nossos negócios públicos, menos por causa da sua classe social do que pelo seu mérito. E nada importa a pobreza: se alguém pode prestar serviço à Cidade, não é disso impedido pela obscuridade de sua categoria. É como homens livres que administramos o Estado... Obedecemos aos magistrados sucessivos, às leis e sobretudo, às que foram instituídas para socorro dos oprimidos (...). Discurso de Péricles em 430 a.c. Freitas, Gustavo de. 900 textos e documentos de História. 2. Ed. Lisboa: Plátano, 1977, v. I, p. 68. As principais realizações do governo de Péricles foram: Tratado de Paz com os Persas; Embelezamento e reurbanização de Atenas; Construção de magníficos edifícios; Abertura da assembléia soberana a todo o cidadão; Estabelecimento de remuneração diária para o jurado do Helieu (tribunal de justiça); Estabelecimento da mistoforia (remuneração por desempenho no trabalho). Pagamentos de salários para soldados, funcionários públicos e marinheiros; Incentivos culturais e artísticos. Busto de Péricles. Durante o governo de Péricles (461 a 429 a.c), o regime democrático ateniense alcança seu ápice. A Guerra do Peloponeso ( a.c.) A hegemonia ateniense gerou um desconforto nas demais póleis. Por isso Esparta liderou a criação da Liga do Peloponeso que era composta por várias cidades. O confronto direto entre essas cidades-estado rivais provocou a eclosão da Guerra do Peloponeso. Ao término de várias batalhas entre as duas confederações, presididas por Esparta e Atenas, a Liga do Peloponeso saiu vitoriosa em 404 a.c na batalha de Egos- Pótamos. Esse resultado significou o fim do imperialismo ateniense e o início do apogeu de Esparta. A hegemonia espartana durou pouco. As brigas internas como eram regulares, fragilizou o domínio de Esparta. Por volta 371 a.c., Tebas derrota os espartanos. Essas disputas entre as cidades gregas enfraqueceu o mundo grego, o que possibilitou a conquista dos Macedônios, através de Felipe II em 338 a.c. Era o fim da polis grega

107 Período Helenístico Situados ao norte da Grécia, os macedônios, sob a liderança de Filipe II, iniciam sua expansão, conquistando as cidades-estado gregas, a partir do século IV a.c. Com seu grandioso exército, Filipe II adotou uma política expansionista baseada na concessão de relativa autonomia às póleis gregas. Depois do assassinato de Filipe II, em 336 a.c, seu filho, Alexandre Magno, com apenas vinte anos, assume o governo da Macedônia. Após derrotar os persas em 334 a.c., Alexandre conquista a Fenícia, o Egito e a Mesopotâmia. O grande objetivo de Alexandre, era chegar ao extremo oriente, entretanto só foi possível avançar até a Índia, uma vez que seus soldados rejeitaram prosseguir. Alexandre morreu em 323 a.c. na Babilônia, vítima de uma forte febre. Pelas suas expressivas conquistas, ficou conhecido na História como Alexandre, o Grande. A partir dos séculos I e II a.c., o Império Macedônio foi anexado ao Romano. ANOTAÇÕES

108 TEXTO COMPLEMENTAR HIHISTÓRICOSHISTÓRICOSQUE STÕESE VESTIBULARES O que era a democracia grega? O que era realmente essa democracia grega, ou melhor, democracia ateniense, a única que realmente podemos discutir? Antes de mais nada convém nos livrarmos de um problema que periodicamente vem à tona: o da escravidão. É evidente que a democracia ateniense era uma democracia escravista, que o demos, que exercia a soberania nas assembléias e tribunais, constituía apenas uma pequena parte da população da Ática, que a massa dos escravos era dele excluída, escravos cujo número era no mínimo igual ao dos homens livres, que eram igualmente excluídas dele as mulheres, de quem dizia Platão serem a metade da cidade a quem toda atividade política era vedada. É precisamente nesse ponto que é possível avaliar a Distância que nos separa das sociedades da Antiguidade. Entretanto, o demos não deixava de ser, para usar a expressão de Pierre Vidal-Naquet, um verdadeiro povo, e as lutas de classe que o perpassam eram lutas verdadeiras (...). O demos, ateniense não era de fato uma classe privilegiada de ociosos vivendo das rendas dos trabalhos de seus escravos. Apenas uma ínfima minoria dos ricos assim vivia. A grande massa dos que compunham o demos era formada por trabalhadores, camponeses, artesãos e comerciantes cujos interesses nem sempre eram os mesmos: isso pode ser percebido no início da Guerra do Peloponeso, quando os camponeses assistiram impotentes às devastações lacedemônias de seus campos e questionaram a estratégia preconizada por Péricles; pode-se percebê-lo igualmente no século IV, quando os ricos, sobre os quais recaía o peso dos encargos gerados pelas operações marítimas, passaram a oferecer oposição cada vez mais ferrenha à política imperialista que servia aos interesses dos demos urbano e dos mais pobres. MOSSÉ, Claude. Dicionário da civilização grega. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, p Analisando o texto 1. Cite as características da democracia grega apresentadas pela historiadora. 2. Faça um quadro comparativo entre a democracia na Grécia antiga e na Atualidade

109 FAZENDO HISTÓRIA HISTÓRICOSHISTÓRICfOSQUEST ÕESE VESTIBULARES 1. (Unicamp-SP) No poema grego Odisséia, que narra as viagens lendárias do herói Ulisses, esse personagem chega a um país habitado por gigantes chamados Ciclopes, que são descritos como homens sem leis, porque não têm assembléias que julguem ou deliberem e cada um dita a lei a seus filhos e mulheres sem se preocuparem uns com os outros. (Homero, Odisséia. São Paulo: Nova Cultural, 2002, p. 117). a) Aponte dois aspectos da cidade-estado grega que a diferenciava do país lendário mencionado no texto. b) Identifique os dois principais modelos de cidade-estado desenvolvidos na Grécia. c) Cite uma característica da democracia grega que a diferencie da democracia atual. 2. (UFV) Atenas e Esparta representaram dois modelos distintos de organização política e social no mundo grego. Aponte duas características que diferenciam aquelas cidadesestado em termos políticos e sociais. a) Atenas Política: Social: b) Esparta: Política: Social: 3. (UNICAMP) A relutância dos aliados da Liga de Delos em pagar tributos aumentou quando Atenas decidiu dedicar o enorme excedente acumulado por quase trinta anos para reconstruir os templos e monumentos da Acrópole ateniense, destruídos pelos persas em 480 e 479 a. C.. (Adaptado de Peter Jones (org.), "O Mundo de Atenas: uma introdução à cultura clássica ateniense". São Paulo, Martins Fontes, 1997, p. 241.) a) O que foi a Liga de Delos e quais seus objetivos iniciais? b) Quais os mecanismos que asseguravam a hegemonia ateniense sobre seus aliados neste período? 4. (FUVEST/ADAPTADA) Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas Vivem pros seus maridos, orgulho e raça de Atenas Quando amadas, se perfumam, se banham com leite, se arrumam suas melenas Quando fustigadas não choram se ajoelham, pedem, imploram Mais duras penas cadenas Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas Sofrem pros seus maridos, poder e força de Atenas Quando eles embarcam, soldados Elas tecem longos bordados mil quarentenas E quando eles voltam sedentos querem arrancar violentos Carícias plenas obscenas

110 Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas Despem-se pros maridos, bravos guerreiros de Atenas Quando eles se entopem de vinho costumam buscar o carinho de outras falenas Mas no fim da noite, aos pedaços quase sempre voltam pros braços De suas pequenas Helenas. ( Chico Buarque de Holanda e Augusto Boal) A letra da música Mulheres de Atenas esboça o papel da mulher ateniense. Que papel é esse e no que ele se diferencia do exercido pela mulher espartana? 5. (UFG-GO)... os fatos na antiguidade foram muito próximos de como os descrevi, não dando muito crédito, de um lado, às versões que os poetas cantaram, adornando e amplificando seus temas, e de outro considerando que os logógrafos [primeiros escritores gregos] compuseram as suas obras mais com a intenção de agradar os ouvidos que de dizer a verdade (...) deve-se olhar os fatos como estabelecidos com precisão suficiente, à base de informações mais nítidas. Tucídides I, 21. História da Guerra do Peloponeso. Brasília: Ed. da UnB, p. 25. O desenvolvimento do pensamento filosófico e o nascimento da História (a investigação que localiza as informações mais nítidas ), como atividade que distingue mito e verdade, foram concomitantes ao nascimento da polis e conheceram um período de florescência no denominado Século de Péricles. Discorra sobre os aspectos culturais e políticos desse período da história da Grécia Antiga. 6. (FUVEST) "Cada um deve observar as religiões e os costumes, as leis e as convenções, os dias festivos e as comemorações que observavam nos dias de Dario. Cada um deve permanecer persa em seu modo de vida, e viver em sua cidade (...). Porque eu desejo tornar a terra bastante próspera e usar as estradas persas como pacíficos e tranqüilos canais de comércio." "Edito de Alexandre para os cidadãos das cidades persas" conquistadas.331 a. C. A partir do texto, responda: a) Quem foi Alexandre e quais os objetivos de suas conquistas? b) Indique algumas características do "helenismo"

111 QUESTÕES DE VESTIBULARES 1. (UFCE) Durante o período homérico, a sociedade grega organizou-se a partir de pequenas comunidades denominadas genos. O auge desse sistema caracterizou-se: a) por pequenos agrupamentos humanos formados pela união de frátrias e cidadesestados chefiados, para a manutenção da igualdade social dos membros do genos, por um patriarca escolhido por um Conselho de Anciãos. b) Pelo culto aos antepassados e heróis de família, pela grande participação política através do sufrágio universal, além da igualdade econômica entre todos os membros da comunidade. c) Pela educação cívica, xenofobia e orientação econômico-cultural, devido à força persuasiva de um chefe, representante do regime patriarcal, escolhido pelo Senado. d) Por uma autoridade máxima, o pater-familias, que exercia as funções de juiz, chefe religioso e militar, sendo a posição do indivíduo na comunidade definida pelo grau de parentesco com o pater. e) Pela organização hierárquica da comunidade em que a posição social dos indivíduos era definida segundo as conquistas territoriais que realizavam para a manutenção do genos. 2. (VUNESP) Leia atentamente o texto a seguir. As cidades-estado surgiram num quadro de grandes mudanças econômicas e sociais. Entre os séculos IX e VIII a.c. desenvolveu-se um intenso intercâmbio de pessoas, bens e ideias por todo o Mediterrâneo. O aumento populacional foi visível. Gregos e fenícios fundaram colônias por toda parte norte da África, sul da Espanha, Mar Negro e Itália, levando consigo uma forma de organização social peculiar: a cidade-estado. As cidades-estado surgiram, assim, num quadro de crescimento econômico e social. O termo cidade-estado não se refere ao que hoje entendemos por cidade, mas a um território agrícola composto por uma ou mais planícies de variada extensão, ocupado e explorado por populações essencialmente camponesas, que assim permaneceram mesmo nos períodos de mais intensa urbanização no mundo antigo. Um fator primordial para essas comunidades camponesas foi o desenvolvimento da propriedade privada da terra. As cidades-estado formavam associações de proprietários privados de terra. Só tinha acesso à terra, no entanto, quem fosse membro da comunidade. As cidades-estado foram o resultado do fechamento, gradual e ao longo de vários séculos, de territórios agrícolas específicos, cujos habitantes se estruturaram, progressivamente, como comunidades, excluindo os estrangeiros e defendendo coletivamente suas planícies cultivadas da agressão externa. (Norberto Luiz Guarinello. Cidades-estado na Antiguidade Clássica. In Jaime Pinsky, História da Cidadania. Adaptado) Sobre as cidades-estado na Grécia Antiga, é correto afirmar que: a) se desenvolveram graças a um intenso processo de urbanização. b) se desenvolveram como forma comunitária de proteção a territórios agrícolas. c) designavam territórios urbanos, em oposição ao campo e aos territórios rurais. d) foram fruto de um processo de retração populacional e ruralização da vida social. e) cresceram em decorrência da ausência de trocas mercantis no Mediterrâneo. 3. (UPE) Como modelo de democracia, ergueram-se, na Antiguidade Clássica Ocidental, relevantes sociedades, que, com seus traços culturais, deixaram seu legado para a modernidade. Sobre a democracia Grega, analise as afirmativas abaixo: I. Clístenes estabeleceu, em suas reformas democráticas, mais liberdade para as mulheres atenienses que para as espartanas. II. A Assembleia Popular tornou-se o órgão mais importante do governo ateniense, embora a democracia tenha sofrido um retrocesso na época de Péricles. III. O regime democrático ateniense incluía todos os seus cidadãos, entre eles os metecos e os escravos

112 IV. O ostracismo foi instituído na Grécia para excluir da vida política, por 10 anos, o cidadão que fosse considerado pela população uma ameaça às instituições democráticas. Está correto o que se afirma em: a) I, II e IV. b) II e III c) III e IV. d) III. e) IV. 4.(UFRN) Nos primeiros meses de 430 a. C., Péricles proferiu um discurso em homenagem aos mortos da Guerra do Peloponeso. Nesse discurso ele afirmou: Temos um regime que nada tem a invejar das leis estrangeiras. [...] Se, em matéria de divergências particulares, a igualdade de todos diante da lei é assegurada, cada um, em virtude das honras devidas à posição ocupada, é julgado naquilo que pode ocasionar sua distinção: no que se refere à vida pública, as origens sociais contam menos que o mérito, sem que a pobreza dificulte a alguém servir à cidade por causa da humildade de sua posição. PINSKI, Jaime (Comp.). 100 textos de história antiga. São Paulo: HUCITEC, p Desse fragmento do discurso de Péricles, pode-se inferir: a) a existência de um critério censitário como elemento definidor dos cidadãos atenienses, aos quais cabia, com exclusividade, aprovar as leis e decidir questões relativas à paz e à guerra. b) a existência de um código de leis extremamente severas, o que mantinha, em Atenas, os privilégios da aristocracia. c) a presença de uma estrutura social flexível da democracia em Atenas, que permitia aos escravos deixarem essa condição e se tornarem cidadãos. d) a singularidade da estrutura da vida democrática ateniense, que se caracterizava pela primazia do espaço público e pelo zelo à igualdade entre os cidadãos. 5.(CEPERJ) Segundo o historiador Gustave Glotz, em seu clássico A cidade grega, os atenienses percebiam perfeitamente que o estabelecimento da democracia numa urbe tão populosa como a deles era uma grande novidade e não deixavam de experimentar um certo orgulho ao compararem a sua cidade a todas as outras, especialmente Esparta. Tinham orgulho de sua constituição e afirmavam que dos três regimes que os gregos conheciam o único que parecia convir à dignidade humana era a democracia. Segundo Glotz, os três regimes políticos experimentados pelos gregos da Antiguidade foram: a) Oligarquia, Tirania e Democracia. b) Anarquia, Oclocracia e Politeia. c) Timocracia, Liberalismo e Socialismo. d) Anarquia, Monarquia e Democracia. e) Monarquia, Democracia e Socialismo 6.(UPE) Construir uma relação solidária entre as pessoas faz parte do fazer político humano. As experiências feitas são múltiplas. Na Grécia, nos tempos da democracia, a) houve êxito na quebra das hierarquias e na vitória de princípios de igualdade social para crescimento econômico. b) extinguiu-se a escravidão e criaram-se alternativas de trabalho para todos, seguindo os ensinamentos de Platão Aristóteles. c) buscou-se diminuir as diferenças entre as pessoas, mas não se acabaram as hierarquias sociais nem as desigualdades econômicas. d) efetivou-se a aristocracia no poder, apesar da grande astúcia política dos monarcas e das assembléias populares. e) havia grandes semelhanças com a democracia contemporânea, afirmando valores universais e definindo direitos sociais. 7.(UFCE) Na cidade grega antiga, ser cidadão não significava apenas fazer parte de uma entidade nacional, mas também participar numa vida comum. MOSSÉ, Claude. O cidadão na Grécia antiga. Lisboa: Edições 70, 1999, p

113 Tomando por base a afirmativa acima, pode-se compreender corretamente que a vida na polis, para o cidadão, significava: a) romper com a religião e os mitos e adotar o modo de vida proposto pelos filósofos, o de disseminar a filosofia e a democracia para todas as cidades-estado gregas. b) realizar o ideal grego de unificação política, militar, geográfica, econômica, religiosa e cultural de todas as cidades-estados e assim suprimir as tiranias e as oligarquias. c) exercer obrigatoriamente uma magistratura ao longo da vida, pois o aprendizado político por todos representava a garantia do bem-estar social e da manutenção da democracia. d) formar um corpo de súditos cujas decisões políticas se orientavam para a manutenção do poder econômico e religioso das famílias detentoras de frotas que comercializavam pelo Mediterrâneo. e) integrar uma comunidade que visava ao seu bem comum por meio de decisões políticas, da adoção de uma defesa militar e de práticas religiosas que buscavam benefícios e proteção dos deuses da cidade. 8. (IPAD) As cidades-estados da Grécia Antiga, na Península Balcânica, constituíram um modo de organização política que: a) foram inventadas pelos eólios e dórios, povos bárbaros vindos do norte da Europa, que já haviam implantado o Estado. b) eram politicamente autônomas, sendo Corinto, Micenas, Atenas e Esparta as mais notáveis. c) constituíram-se em instrumento de controle da concorrência desenfreada entre a economia gentílica e a economia urbana. d) baseavam-se em uma organização econômica comunitária, o que resultou na instituição de práticas econômicas solidárias. e) instituíram a democracia na totalidade dos casos, possuindo uma organização social militarista baseada no escravismo. 9. (COVEST) A expressão "gregos e troianos", que significa hoje coisas diferentes que não se devem unir, tem uma correspondência na história da Grécia. Assinale a alternativa correta. a) Homero, um dos mais famosos "aedos" gregos, contou no seu poema "A Ilíada " a guerra entre a cidade de Tróia e a cidade de Esparta, resgatando um período da história grega confirmado por modernas escavações arqueológicas. b) A história da Grécia é uma história de lutas entre cidades- estado. A guerra entre Tróia e Esparta está contada na "Odisseia". c) Ulisses, herói grego, é o autor do rapto de Helena, esposa de Menelau, rei de Esparta. d) A expressão "gregos e troianos" significa os que habitavam a Polis - a cidade da Grécia. e) Os gregos representavam os dórios e os troianos os aqueus. A guerra entre Tróia e Esparta teria destruído a civilização creto-miceniana. 10. (UPE) A questão da cidadania continua causando polêmicas no mundo atual. Muitos esquecem que essa discussão não é recente, ela atravessa séculos de História. Na Grécia Antiga, especialmente na cidade de Atenas, a) havia uma cidadania ampla e universal que mostrava o valor que os gregos davam às relações políticas. b) a cidadania estava restrita apenas aos homens que tivessem mais de 21 anos, nascidos em qualquer cidade da comunidade grega. c) a experiência com a democracia foi significativa, mas não merece destaque como a que existiu entre os romanos. d) houve práticas políticas democráticas que devem ser lembradas, apesar dos limites existentes e das restrições feitas às mulheres e aos estrangeiros. e) não houve superação do regime oligárquico, baseado no poder dos grandes proprietários de terra que não abriram mão de uma legislação autoritária

114 11. COVEST) Atenas conviveu, na política, com formas de governo e experiências singulares que provocaram muitas intrigas e debates ainda persistentes. Um desses governos, o do tirano Pisístrato, com suas reformas: a) conseguiu aumentar o poder das Assembleias, garantindo maior liberdade para a população feminina, muito marginalizada politicamente. b) afirmou o poder centralizado da nobreza, ressaltando o valor da grande propriedade e das atividades comerciais da Grécia. c) respeitou os direitos dos cidadãos mais pobres, concretizando valores democráticos definidos pelos filósofos da época. d) limitou o poder da nobreza e foi sucedido pelos seus filhos Hípias e Hiparco, que enfrentaram instabilidades políticas e sociais. e) ampliou a vida social dos atenienses, restringindo a escravidão agora limitada apenas aos que tinham dívidas com o governo. 12. (PUC-RS) Para responder à questão a seguir, considere as afirmativas abaixo, sobre a cidade-estado (polis), base da organização sociopolítica da Grécia Antiga. I. Esparta, que englobava as regiões da Lacônia e da Messênia, e Atenas, que correspondia a toda a região da Ática, eram exceções quanto à grande dimensão territorial, se comparadas à maioria das demais cidades-estado. II. As cidades-estado consolidaram suas estruturas fundamentais no chamado período arcaico da história grega e conheceram sua máxima expressão política e cultural durante o período clássico. III. A acrópole, parte alta da zona urbana da polis, concentrava as atividades econômicas essenciais para o sustento material da cidade, suplantando a produção agrícola da zona rural nesse setor. IV. As cidades-estado formavam unidades politicamente autônomas e economicamente autossuficientes, não tendo desenvolvido processos significativos de expansão territorial por colonização de novas áreas até o período helenístico. Estão corretas apenas as afirmativas a) I e II. b) II e III. c) III e IV. d) I, II e IV. e) I, III e IV. 13. (Fuvest) Usamos a riqueza mais como uma oportunidade para agir que como um motivo de vanglória; entre nós não há vergonha na pobreza, mas a maior vergonha é não fazer o possível para evitá-la... olhamos o homem alheio às atividades públicas não como alguém que cuida apenas de seus próprios interesses, mas como um inútil... decidimos as questões públicas por nós mesmos, ou pelo menos nos esforçamos por compreendê-las claramente, na crença de que não é o debate que é o empecilho à ação, e sim o fato de não se estar esclarecido pelo debate antes de chegar a hora da ação. Esta passagem de um discurso de Péricles, reproduzido por Tucídides, expressa a) os valores ético-políticos que caracterizam a democracia ateniense no período clássico. b) os valores ético-militares que caracterizaram a vida política espartana em toda a sua história. c) a admiração pela frugalidade e pela pobreza que caracterizou Atenas durante a fase democrática. d) o desprezo que a aristocracia espartana devotou ao luxo e à riqueza ao longo de toda a sua história. e) os valores ético-políticos de todas as cidades gregas, independentemente de sua forma de governo. 14. (PUC-SP) As conquistas realizadas por Alexandre da Macedônia (também chamado de Alexandre, o Grande) entre 334 e 323 a.estenderam-se da Grécia até as margens do rio Indo (Índia). Algumas das características dessa expansão macedônica e do imenso Império que dela derivou foram:

115 a) a imposição de instituições políticas romanas sobre as áreas conquistadas por Alexandre e a repressão às formas monárquicas predominantes no Oriente próximo e distante. b) o apoio do exército macedônio a revoltas de povos subjugados por outros impérios e a recusa da incorporação de soldados que não fossem macedônios ou gregos às tropas de Alexandre. c) a restrição à circulação de mercadorias entre regiões distintas do Império e a gradativa mas profunda segmentação e diminuição do comércio interno e externo dos macedônios. d) o intercâmbio entre culturas ocidentais e orientais e o prevalecimento de uma perspectiva universalista e assimiladora sobre a mentalidade voltada às questões locais. e) a obrigatoriedade de uso de uma só língua, o persa, e a proibição sumária da transmissão de idéias e da movimentação de intelectuais entre as áreas dominadas pelo Império. 15. (UFC) Na cidade grega antiga, ser cidadão não significava apenas fazer parte de uma entidade nacional, mas também participar numa vida comum. MOSSÉ, Claude. O cidadão na Grécia antiga. Lisboa: Edições 70, 1999, p. 51. Tomando por base a afirmativa acima, pode-se compreender corretamente que a vida na polis, para o cidadão, significava: a) romper com a religião e os mitos e adotar o modo de vida proposto pelos filósofos, o de disseminar a filosofia e a democracia para todas as cidades-estado gregas. b) realizar o ideal grego de unificação política, militar, geográfica, econômica, religiosa e cultural de todas as cidades-estados e assim suprimir as tiranias e as oligarquias. c) exercer obrigatoriamente uma magistratura ao longo da vida, pois o aprendizado político por todos representava a garantia do bem-estar social e da manutenção da democracia. d) formar um corpo de súditos cujas decisões políticas se orientavam para a manutenção do poder econômico e religioso das famílias detentoras de frotas que comercializavam pelo Mediterrâneo. e) integrar uma comunidade que visava ao seu bem comum por meio de decisões políticas, da adoção de uma defesa militar e de práticas religiosas que buscavam benefícios e proteção dos deuses da cidade. 16. (UFF) Em 594 a.c., em Atenas, os aristocratas nomearam Sólon chefe do Executivo. Ele sustentava que a lei escrita devia estar em harmonia com, o princípio de justiça que fundamenta a comunidade humana. Por isso, Sólon: a) redigiu um código de leis que permitiu aos pobres conhecer as leis e combater as injustiças dos juízes aristocráticos; b) libertou os atenienses escravizados por dívidas e trouxe de volta a Atenas os que haviam sido vendidos no exterior; c) confiscou e redistribuiu a terra dos nobres, como exigiam as pessoas pobres da cidade; d) proibiu a concessão de cidadania aos artesãos estrangeiros, ordenando aos pais atenienses a ensinarem aos filhos seus ofícios; e) organizou recitais públicos das epopéias de Homero e festivais para o homem comum. 17. (UFT) Afirma Maurice Crouzet que os contemporâneos de Péricles ter-se-iam escandalizado diante da revolução do gênero de vida e dos costumes da burguesia, que escandalizou também, em sua própria época, homens que, sem serem moralistas profissionais, responsabilizaram-na por uma das desgraças da Grécia: o despovoamento. (Adaptado de CROUZET, Maurice. História Geral da Civilização Brasileira: o Oriente e a Grécia Antiga. O homem no Oriente Próximo. Vol. 2, Rio de Janeiro: 1993, p. 334). Considerando o despovoamento como uma das causas do declínio da Grécia Clássica, é incorreto afirmar: a) Segundo o pensador Políbio, que viveu no século II a C. a causa do mal em questão, o despovoamento é motivado pela oligantropia (falta de homens). b) De acordo com o pensador Políbio, observou-se em toda a Grécia, uma ausência de crianças e uma homofobia que torna as cidades desertas e improdutivas

116 c) Por vaidade, amor ao dinheiro e covardia, segundo Políbio, os homens não querem mais casar e se casam, querem criar seus filhos, no máximo educar um ou dois, entre todos, a fim de deixá-los ricos. d) A Grécia foi o ponto de partida, em direção ao Oriente conquistado e administrado por soberanos gregos, enquadrado e explorado por gregos, de uma emigração considerável, que a privou de elementos jovens. 18. (PUC-RS) Responder à questão seguir associando os líderes reformadores da estrutura sociopolítica de Atenas (Coluna A) com as respectivas mudanças nessa estrutura conduzidas por esses líderes (Coluna B). Coluna A 1 - Drácon 2 - Sólon 3 - Pisístrato 4 Clístenes Coluna B ( ) Estabelecimento de uma divisão política censitária dos cidadãos e abolição do pagamento de dívidas como mecanismo de escravização de pequenos proprietários. ( ) Criação, segundo atribuição tradicional, do primeiro código de leis escritas da Grécia, o qual continha normas extremamente rígidas para os casos de crime contra a propriedade. ( ) Criação da Constituição política vigente no período clássico, que tendeu a ampliar a participação política dos cidadãos, a partir da divisão destes em dez tribos, modificando a antiga divisão por génos. ( ) Criação de medidas de estímulo à agricultura, ao comércio e ao artesanato, tais como redistribuição de terras, empréstimos estatais aos agricultores e fomento às construções navais. ( ) Criação do ostracismo, pena de banimento por dez anos imposta a todo cidadão suspeito de atentar contra a segurança do Estado. A numeração correta na coluna B, de cima para baixo, é f) g) h) i) j) (UNESP) A cidade-estado clássica parece ter sido criada paralelamente pelos gregos e pelos etruscos e/ou romanos. No caso destes últimos, a influência grega foi inegável, embora difícil de avaliar e medir. (Ciro Flamarion S. Cardoso. A cidade-estado antiga,1985.) Aponte quais eram as características comuns às cidades-estados clássicas. I. Possuíam governo tripartido em assembleia, conselho e certo número de magistrados escolhidos entre os homens elegíveis. II. Os cidadãos podiam participar de forma direta no processo político. III. Havia separação entre os órgãos de governo e de justiça. a) As afirmativas I e II estão corretas. b) Apenas a afirmativa III está correta. c) As afirmativas I e III estão corretas. d) Apenas a afirmativa II está correta. e) As afirmativas I, II e III estão corretas. 20. (UPE) Construir uma relação solidária entre as pessoas faz parte do fazer político humano. As experiências feitas são múltiplas. Na Grécia, nos tempos da democracia, a) houve êxito na quebra das hierarquias e na vitória de princípios de igualdade social para crescimento econômico. b) extinguiu-se a escravidão e criaram-se alternativas de trabalho para todos, seguindo os ensinamentos de Platão Aristóteles. c) buscou-se diminuir as diferenças entre as pessoas, mas não se acabaram as hierarquias sociais nem as desigualdades econômicas. d) efetivou-se a aristocracia no poder, apesar da grande astúcia política dos monarcas e das assembleias populares. e) havia grandes semelhanças com a democrcia contemporânea, afirmando valores universais e definindo direitos sociais

117 OLHARES HISTÓRICOS Livros Nascer, viver e morrer na Grécia Antiga. Maria Beatriz Florenzano. São Paulo: Contexto. História Abreviada da Grécia Antiga. Matthieu de Durand. Lisboa: Editorial Notícias. Dicionário da civilização grega. Claude Mossé. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, O mundo de Homero. Pierre Vidal-Naquet. São Paulo: Companhia das Letras, Cinema Alexandre Direção de Oliver Stone. (EUA, min.) Nova versão da vida de Alexandre, o Grande, narrada desde sua Infância até a conquista do Império Persa e a morte na Babilônia em 332 a.c. A Odisseia (Estados Unidos, min.). Direção de Andrei Konchalovsky. O filme é uma adaptação do poema clássico Odisseia, atribuído a Homero, no qual Odisseu (Ulisses) enfrenta a fúria dos deuses e monstros mitológicos, e demonstra bravura e resistência para retornar à terra natal e aos braços de sua esposa, Penélope. Sites Mapas da Antiguidade. Em inglês, o portal disponibiliza mapas elaborados na Antiguidade. Disponível em: Projeto Chronus. Criado pela Universidade Federal do Paraná, o site oferece material para pesquisa e análise, voltado para estudantes do ensino fundamental, médio e superior. Contém fontes originais, artigos, mapas, imagens, bibliografia, entre outras informações. Disponível em: Templo de Apolo. Apresenta mapas, imagens e informações sobre história, cultura e filosofia da Grécia. Disponível em:

118 As contribuições da cultura grega para o mundo ocidental As contribuições culturais da civilização grega para a formação da mentalidade ocidental são admiráveis. Religião, teatro, filosofia, política, esporte, literatura, música, história, geografia, matemática, medicina, escultura, arquitetura e artes plásticas compõem o universo cultural grego que fazem parte do cotidiano da civilização contemporânea. Os gregos realizavam os jogos olímpicos a cada quatro anos em homenagem a Zeus. No período das realizações desse evento, as guerras eram paralisadas em toda Grécia. A imagem mostra uma das modalidades mais clássica dos jogos olímpicos contemporâneo, a maratona. Em linhas gerais, a cultura grega possuía as seguintes características: Antropocentrismo: o homem é referencial para tudo na arte grega; Humanismo: valorização das atitudes dos homens; Naturalismo: representação do homem transmitindo emoções; Individualismo: o homem como medida de todas as coisas; Paganismo: religião sem preceitos morais e éticos; Valorização do belo: uso da proporcionalidade;

119 Religião O culto ao corpo entre os gregos O culto ao corpo já era uma das principais características dos Jogos Olímpicos na Grécia Antiga. Na época, os atletas competiam nus. A origem da palavra ginástica, aliás, é exercitarse nu. Mas só homens participavam. As provas olímpicas não eram abertas às mulheres. As casadas, então, não podiam nem assistir às disputas.o corpo ideal é motivo recorrente na arte grega, representando em cerâmicas por intermédio dos esportistas. O próprio tema em latim dos Jogos modernos, Citius, altius, fortius, que significa mais rápido, mais alto e mais forte, projeta um ideal de corpo humano. Humberto. Folha de São Paulo, 27 jul A religião grega apresenta uma relativa peculiaridade em relação aos povos do oriente. Os gregos eram politeístas, isto é, adoravam diversos deuses. Essas deidades possuíam formas humanas (antropomórficas), eram dotados de qualidades, paixões, desejos e imperfeições. A diferença fundamental entre os deuses gregos e os homens, era que estes detinham a imortalidade. O conjunto das divindades gregas contribuiu para o surgimento da mitologia, a qual tenta explicar a gênese do universo, dos seres humanos e das deidades. A natureza e o destino dos homens eram decididos pela vontade dos deuses. Cada divindade possuía suas especialidades. Por exemplo, Zeus (senhor supremo dos homens), Palas Atena (deusa da sabedoria), Apolo (deus do sol e patrono da verdade), Afrodite (deusa do amor e da beleza), Hermes (protetor dos viajantes, dos rebanhos e dos ladrões), Poseidon (deus do mar e dos terremotos), Hefesto (deus do fogo e dos artífices) e Dionísio (deus do vinho e da fertilidade), além de outros. Existiam também os semideuses e heróis, os quais eram filhos de um mortal com uma divindade. Podemos citar alguns: Édipo, Perseu, Cadmo, Aquiles e Jasão. Diferente da religião hebraica, a grega não possuíam dogmas e nem era escatológica, ou seja, não havia crença na salvação das almas. A religião na Grécia Antiga era basicamente com caráter civil, estava muito ligada à polis. Cada cidade-estado possuía o seu protetor. Havia também duas maneiras de expressão rituais. A aristocracia venerava um grupo de deuses como Zeus, Afrodite, Poseidon ou Atena. Já a segunda forma de ritual consistia num conjunto de crenças que tentavam solucionar os problemas do cotidiano, dessa forma, eram praticadas magias para vários eventos do dia-dia, tais como nascimento de uma pessoa ou período de colheita. O aparecimento dos deuses gregos No princípio era o nada. Depois, a terra de largos flancos, assento infalível de todas as coisas para sempre... e o Amor, o mais belo entre os deuses imortais. Ele rompe os membros e, no seio de todos os deuses, como de todos os homens, doma o espírito e a sábia vontade. Do nada nasceram Erebos e a negra Noite. Primeiro a Terra concebeu, grande como ela, o Céu estrelado, capaz de cobri-la inteira, o qual ia ser para os deuses bem-aventurados um assento infalível para sempre. Em seguida, concebeu os altos montes, aprazíveis moradas das deusas, as Ninfas, que vivem nos montes ondulados. Em seguida deu à luz o mar infecundo, de ondas impetuosas, o Largo, sem ajuda do termo amor. Hesíodo. Teogonia. In: PINSKY, Jaime (org.) 100 textos de História Antiga. São Paulo:Contexto, Teatro O teatro foi, sem dúvida, uma das maiores expressões das manifestações culturais grega. A sua origem está relacionada às festas em homenagens ao deus Dionísio, deus do vinho (Festas Dionisíacas). Nesses eventos eram realizados sacrifícios, além do uso declamações de poesias, cânticos e danças. Apenas os homens, usando máscaras, participavam das peças encenadas. Desse modo, foram criados dois estilos teatrais na Grécia Antiga: a tragédia e a comédia

120 As peças teatrais tinham como objetivo retratar a vida das divindades. Entretanto, no decorrer dos tempos outros elementos foram incorporados nos temas das peças, fazendo com que o teatro deixasse de ter a finalidade, meramente, religiosa. O teatro de Atenas O Teatro em Atenas era uma instituição chave, intrínseca, da cidade democrática no final do século V a.c. As tradicionais cerimônias religiosas da procissão, do sacrifício e da prece sacerdotal precediam e conduziam à encenação teatral. (...) Outras cerimô-nias que precediam os espetáculos incluíam a apresentação de órfãos de guerra que eram criados às custas da cidade e uma exibição do tributo em prata imposto por Atenas aos aliado ou súditos e estocado na Câmara oeste do Paternon. A exibição para os atenienses do seu papel imperialista e da sua ideologia coletiva dava relevo político às apresentações. Soldados e juízes, eleitores e pais assistiam à forma de representação escolhida pela própria Atenas. No teatro, a cidade democrática estava em desfile. BEARD, Mary e HENDERSON, John. Antiguidade Clássica: uma brevíssima introdução. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998, p Tragédia O pioneiro no gênero tragédia foi Ésquilo ( a.c). Esse poeta escreveu mais de oitenta peças teatrais, no entanto, apenas sete foram conservadas: Os Persas, Sete contra Tebas, As suplicantes, Prometeu acorrentado, Agamenon, Coéforas e Eumênides. Em suas obras, Ésquilo enfatiza as angústias e os sofrimentos humanos, relatando as aventuras dos deuses e dos personagens míticos. Assim, as peças de Ésquilo caracterizamse pela temática religiosa, onde são evidenciadas a idéia de fatalidade e crença na vingança dos deuses contra os seres humanos. Não podem ser esquecidas, as inovações implementadas nas obras de Ésquilo, a saber, o uso de máscaras, a técnica do diálogo e a presença da música, o que possibilitou uma maior dramaticidade nas apresentações teatrais. Outro expoente da tragédia grega foi Sófocles ( a.c). Esse dramaturgo e ator escreveu mais de 120 peças, entretanto, apenas sete obras foram preservadas: Antógona, Ájax, As Traquínias, Édipo Rei, Electra, Filoctetes e Édipo em Colono. Em suas peças, Sófocles utiliza personagens nobres. Há dois tipos de sofrimentos das obras de Sófocles: um que é resultado de uma paixão excessiva e o outro decorrente dos desígnios estabelecidos pelos deuses, ou seja, as divindades influenciam no destino dos homens. A tragédia de Édipo Rei, por exemplo, aborda as angústias da alma humana. A peça relata a paixão de Édipo que, sem ter conhecimento, mata o pai para ficar com a mãe. Tal abordagem tem em sua essência caráter universal. Por isso que, no século XIX, o grande psicanalista Freud utilizou tais elementos para fundamentar seus estudos. Sófocles trouxe várias inovações para o teatro grego. Ele aumentou o número de integrantes no coro de doze para quinze e ampliou também o número de atores para três, antes eram dois. Eurípedes ( a.c) escreveu noventa e duas peças. Os recursos técnicos utilizados por Eurípedes influenciaram vários estilos dramáticos, tais como, a novela e o drama. Em suas obras, esse dramaturgo coloca em cena pessoas simples ao lado de aristocratas, falando também dos excluídos da sociedade grega: as mulheres, as crianças, os escravos e os velhos. Nesse sentido, as peças de Eurípedes possuíam forte densidade social. As obras mais importantes de Eurípedes foram Medeia, As Troianas, Hipólito, As fenícias e Electra. Comédia Aristófanes ( a.c) constitui o principal ícone da comédia grega. Esse teatrólogo elaborou mais de quarentas peças, todavia, apenas onze chegaram até nós. Segundo estudiosos, Aristófanes, por ser conservador, expressa relativa repugnância às questões apresentáveis como inovadoras da sua época, no âmbito social, político e religioso

121 Os principais recursos estilísticos utilizados por Aristófanes foram a sátira, a crítica incontida às prática ilícitas na sociedade ateniense. Entre as principais obras de Aristófanes podemos citar: Lisístrata ou A Greve do sexo; As vespas; As nuvens Os acamianos. Por intermédio da técnica dos diálogos, Aristófanes lança diversas análises mordazes contra poetas, políticos, estudantes, jovens ou velhos, pobres ou ricos. A metodologia na educação, os debates filosóficos, a função da mulher na sociedade foram os temas mais abordados por esse dramaturgo. As ciências O saber científico na Grécia Antiga foi formado por diversas áreas do conhecimento. Acompanhe no quadro abaixo as ciências que foram desenvolvidas entre os helenos. GEOGRAFIA MATEMÁTICA e LÓGICA FÍSICA HISTÓRIA MEDICINA LITERATURA As Artes Esrastótenes: calculou o tamanho da esfericidade da terra. Euclides: criadores dos princípios fundamentais da geometria. Pitágoras: desenvolveu diversos conhecimentos matemáticos, tais como, o relacionamento entre os lados do triângulo e a elaboração dos números perfeitos e figurados. Aristóteles: pai da lógica, ele estuda o raciocínio por meio das proposições, argumentos e conclusões. Além disso, estrutura tal pensamento no silogismo, encadeando duas premissas: uma geral e outra particular. Arquimedes: formulou leis de flutuação dos corpos e princípios da roldana e da alavanca. Heródoto: conhecido como o pai da história foi o primeiro a escrever a história distinguindo o mito dos fatos. Relatou as guerras médicas em sua obra História. Tucídedes: fundador da história objetiva, foi autor da obra História da Guerra do Peloponeso. Hipócrates: considerado como o pai da medicina, sendo assim, um grande ícone na história da saúde. Em suas obras fez descrições clínicas da papeira, malária,tuberculose e pneumonia. Homero: famoso escritor da obras épicas Ilíada e Odisséia. Hesíodo: autor de Teogonia. Essa obra relata o surgimento dos deuses, traçando uma genealogia das divindades. Hipônax: utilizava temas populares em suas obras, seu humor feroz influenciou a comédia na Grécia Antiga. Safo: poetisa grega. Sua poesia tratava de temas eróticos. Várias manifestações nas artes gregas se inspiravam na mitologia. Sob esse aspecto, as principais realizações foram a arquitetura e a escultura. O esplendor da arquitetura foi realizado através da construção de templos e palácios. A arquitetura grega é formada por três estilos: o dórico, o jônico e o coríntio. Estes estilos arquitetônicos foram utilizados na construção dos templos para os deuses. Eram esculpidos em mármore. Na figura, esquerda para direita, temos o dórico (simples e com fortes colunas), o jônico (suave e decorativo) e o coríntio (influenciado pelo estilo oriental, apresentando riquezas de detalhes no capitel). A escultura grega seguia os ideais de equilíbrio, harmonia e beleza, dessa maneira, as representações feitas pelos artistas eram pautadas nos estudos do corpo do homem. Por isso, as esculturas apresentavam uma fidelidade incrível da anatomia humana. O principal artista dessa área na Grécia Antiga foi Fídias ( a.c), criador da estátua da deusa Atena. Além disso, no governo de Péricles, ele embelezou Atenas com inúmeros monumentos. Um outro destaque foi Praxísteles, famoso pela magnitude em que esculpia o ser humano. No campo das artes gregas, não podemos esquecer da pintura. Surgida como ornamento da arquitetura, essa expressão artística se desenvolveu associada com o uso dos vasos de cerâmica que serviam como locais de armazenamentos para diversos tipos de suprimentos. Os vasos eram decorados de forma harmoniosa, sendo o corpo humano retratado, geralmente, nas pinturas. Os principais pintores gregos foram Exéquias, Cleitias e Sófilos

122 Filosofia De acordo com os especialistas, a filosofia se desenvolveu entre os séculos VIII e V a.c.. Esse período foi marcado pelo florescimento do pensamento reflexivo. O pensamento filosófico contribuiu enormemente para o avanço do saber científico e das teorias idealizadoras, as quais procuravam a substância primordial do universo. Partindo dessa concepção, os homens tentam explicar os fenômenos da natureza e os demais fatos, através de uma atitude racional e não mais por intermédio dos mitos ou superstições. No entanto, não se pode desprezar a importância do mito para os gregos, uma vez que essa narrativa fantasiosa foi a primeira forma encontrada pelos antigos para entender a origem do homem, da natureza e do mundo. O Mito: sentidos histórico e filosófico É importante entender o sentido da palavra mito no contexto histórico e filosófico. Mito é uma narrativa que procura explicar, muitas vezes de forma fantasiosa, uma realidade misteriosa para o homem. Em todos os povos, o mito sempre teve um papel importantíssimo, transmitindo o conhecimento de pai para filho, garantindo a segurança dos indivíduos e a continuidade dos valores sociais, unindo as pessoas de um mesmo grupo. Embora não apresente fundamento científico, isso não significa que seja uma tentativa inferior de explicação da realidade. O mito é como um caminho conhecido, uma estrada segura que o indivíduo pode percorrer sem se expor a grandes riscos, sabendo como agir, o que esperar, tendo em mente o significado dos acontecimentos como que se depara durante sua vida. (...) Na Grécia Antiga, e, suma, é importante ressaltar essa familiaridade das pessoas com os deuses. Os mitos formavam, para os gregos daquele tempo, um sistema complexo, que explicava praticamente todos os elementos de sua cultura. Eles estavam organizados num conjunto coerente, lógico, e constituíam uma maneira de ver o mundo, de explicá-lo e compreendê-lo. CHALITA, Gabriel. Vivendo a Filosofa. São Paulo: Ática, p Didaticamente, o estudo da filosofa grega é dividida em três momentos: os Présocráticos, os Sofistas e os Socráticos Os Pré-socráticos Por volta do século VII a.c., alguns intelectuais passaram a questionar determinadas situações através do pensamento racional, uma vez que as explicações mitológicas se tornaram insuficientes. Esses pensadores são chamados de pré-socráticos, assim denominados, porque são antecessores, cronologicamente, de Sócrates. A preocupação inicial dos pré-socráticos era encontrar o princípio (a arché) essencial ou substancial de todas as coisas que compõe a natureza (physis). Por isso, esses intelectuais ficaram conhecidos como naturalistas ou filósofos da natureza. Através da observação das contínuas mudanças que ocorriam na natureza, os filósofos almejavam alcançar uma justificativa coerente e racional para os múltiplos fenômenos naturais. Pode-se concluir que os pré-socráticos, ao buscar a causa primeira do Universo, foram os pioneiros a ordenar, de maneira lógica, o estudo da natureza, contribuindo, assim, para o desenvolvimento posterior da física, biologia, astronomia e outras ciências naturais. Os principais filósofos pré-socráticos são: Tales, Anaxímenes, Anaximandro, Pitágoras, Heráclito, Xenofonte, Parmênides, Zenão, Anaxágoras, Empédocles, Leucipo e Demócrito

123 Os sofistas No período de apogeu de Atenas desenvolveu-se a arte de se expressar bem, esse fato contribuiu a ascensão de um conjunto de pensadores denominados de sofistas. Tais filósofos têm plenos domínios da oratória, ou seja, sabiam falar habilidosamente em público. Os sofistas eram professores de oratória, ensinavam aos jovens como discursar publicamente em troca de pagamento. Os principais pensadores sofistas foram Górgias ( a.c.), Hípias (século V a.c.) e Protágoras ( a.c.). Este último se tornou famoso pela sua frase O homem é a medida de todas as coisas. Para os sofistas, os valores morais e as relações sociais deveriam ser baseados de acordo com as conveniências ou interesses pessoais. Nessa perspectiva, a moral e a ética eram desprezíveis, pois o indivíduo devia persuadir outras pessoas para alcançar seus objetivos, nem que para isso fosse necessário mentir. Em linhas gerais, os sofistas utilizavam trocadilhos e raciocínios ilógicos para ludibriar as pessoas, demonstrando uma verdade, daquilo que tinha pretensão em conquistar. Os socráticos Sócrates ( a.c) Esse filósofo não deixou nenhuma obra escrita, porém o seu pensamento foi explicitado pelos seus discípulos e admiradores, entre eles Platão e Xenofonte. Nascido em Atenas, Sócrates adota o diálogo como recurso para sua atividade filosófca. Tal procedimento era trabalhado em dois momentos: a ironia (dissimulação) e a maiêutica (parto da idéias). Sócrates levantando o dedo para o alto no seu leito da morte, Jacques-Louis David, Platão ( a.c) Nascido em Atenas, Platão herdou de seu mestre Sócrates a preocupação em usar a razão filosófica para discutir questões morais, sociais e políticas. Segundo Platão, o não uso do racionalismo conduz o homem somente aos vícios, à violência e às paixões carnais. A doutrina platônica é baseada em alguns conceitos fundamentais: mundo das idéias (mundo imaterial, imutável e eterno), mundo sensível (mundo material perceptível por intermédio dos sentidos). De acordo com Platão, o homem é formado de corpo e alma

124 Sendo a alma concebida como eterna, habitava no mundo das idéias, que sairia desse lugar, sairia para encarnar no corpo. Aristóteles ( a.c.) Esse pensador construiu sua teoria baseada em experiências sensoriais (cinco sentidos), as quais forneceram informações essenciais para o desenvolvimento de suas idéias. Aristóteles pregava que cada ser era constituído de uma substância particular (qualidades e dimensões). No campo político, Aristóteles analisa meios para o homem viver feliz em sociedade, buscando soluções para os problemas de sua época. Aristóteles afirmou que o homem é naturalmente um animal político. Segundo esse filósofo, o homem precisa viver em comunidade, discutindo idéias e projetos relacionados a sua sociedade. Aristóteles define a ética como uma ciência que aborda as normas e condutas dos indivíduos. De acordo com a doutrina aristotélica, a ética e a política são indissociáveis. Aristóteles

125 TEXTO COMPLEMENTAR Analisando o texto O animal político O homem é naturalmente um animal político, destinado a viver em sociedade e aquele que, por instinto, e não porque qualquer circunstância o iniba, deixa de fazer parte de uma cidade, é um ser vil, ou então superior ao homem. Tal indivíduo, como disse Homero, merece a censura cruel de ser um sem-família, sem-leis, sem-lar. Porque ele é ávido de combates e, como as aves de rapina, incapaz de se submeter à qualquer obediência. Claramente se compreende a razão de ser o homem um animal sociável em grau mais elevado que as abelhas e que todos os outros animais que vivem reunidos. A natureza, dizemos, nada faz em vão. Só o homem, entre todos os animais, tem o dom da palavra; a voz é o sinal da dor e do prazer, e é por isso que ela foi também concedida aos outros animais. Estes chegaram a experimentar sensações de dor e prazer e a se fazer compreender uns aos outros. A palavra, porém, tem por fim fazer compreender uns aos outros. A palavra, porém, tem por fim fazer compreender o que é útil ou prejudicial e, em conseqüência, o que é justo ou injusto. O que distingue o homem de um modo específico é que ele sabe discernir o bem do mal, o justo do injusto, e assim todos os sentimentos da mesma ordem cuja comunicação constitui precisamente a família do Estado. Na ordem da natureza o Estado se coloca antes da família e antes de cada indivíduo, pois que o todo deve, forçosamente, ser colocado antes da parte. (...) Evidentemente o Estado está na ordem da natureza e antes do indivíduo; porque, se cada indivíduo isolado não se basta a si mesmo, assim se dará com as partes em relação ao todo. Ora, aquele que não pode viver em sociedade, ou que de nada precisa para bastar-se a si próprio, não faz parte do Estado; é um bruto ou primeiro estabeleceu isso se deve o maior bem; porque, se o homem, tendo atingido a sua perfeição, é o mais excelente entre os animais, também é o pior quando vive isolado, sem leis e sem preceitos. Terrível calamidade é a injustiça que tem aramas nas mãos. As armas que a natureza dá ao homem são a prudência e a virtude. Sem virtude, ele é o mais ímpio e o mais feroz de todos os seres vivos; nada mais sabe, por sua vergonha, que amar e comer. A justiça é a base da sociedade. Chama-se julgamento a aplicação do que é justo. A Política, Aristóteles. 1. Elemento de distinção entre o homem e os animais, a palavra é um valioso instrumento para nossa espécie. Discuta com seus colegas e participação dessa faculdade humana na concepção política de Aristóteles. 2. Aristóteles afirma que a natureza dá ao homem duas armas: a prudência e a virtude. Defina esses conceitos e escreva um pequeno argumento concordando ou não com a opinião de Aristóteles

126 FAZENDO HISTÓRIA 1. (Unicamp) "Os deuses, quaisquer que tenham sido as suas origens longínquas, nada mais são do que seres humanos, maiores, mais fortes, mais belos, eternamente jovens; adquiriram não só a forma humana, mas também os sentimentos, as paixões, os defeitos e até os vícios dos homens; o mundo divino apresenta, portanto, uma imagem engrandecida, mas não depurada da humanidade." (A. Jardé, A GRÉCIA ANTIGA E A VIDA GREGA, 1977) Usando as informações contidas no texto e outras que você dispõe sobre o assunto, cite cinco características da religião na Grécia Antiga. 2. Na sua origem, o teatro grego estive ligado à religião. Com o passar do tempo, a função religiosa foi se perdendo, mais alguns autores mantiveram essa ligação com caráter divino. Quais as características de Ésquilo que identificam a origem religiosa do teatro grego? 3. Enumere alguns elementos da cultura grega fundamentais para a formação da cultura ocidental. 4. Qual a função da mitologia no antigo mundo grego? 5. Faça um quadro síntese das principais ciências desenvolvidas na Grécia Antiga. 6. Quais as teorias defendidas pelos sofistas? 7. A Filosofia, entendida como aspiração ao conhecimento racional, lógico e sistemático da realidade natural e humana, da origem e causas do mundo e de suas transformações, da origem e causas das ações humanas e do próprio pensamento, é um fato tipicamente grego. Marilena Chauí Baseado no texto acima, faça um quadro exibindo os principais filósofos gregos e as suas respectivas teorias sobre o universo. 8. Observe a letra da música de Herbert Vianna e faça uma análise segundo a concepção do amor platônico. Se eu não te amasse tanto assim Meu coração Sem direção Voando só por voar Sem saber onde chegar Sonhando em te encontrar E as estrelas Que hoje eu descobri No seu olhar As estrelas vão me guiar Se eu não te amasse tanto assim Talvez perdesse os sonhos Dentro de mim E vivesse na escuridão Se eu não te amasse tanto assim Talvez não visse flores Por onde eu vim Dentro do meu coração Hoje eu sei Eu te amei No vento de um temporal Mas fui mais Muito além Do tempo do vendaval Nos desejos Num beijo Que eu jamais provei igual E as estrelas dão um sinal Disponível em Acesso em 13 de janeiro de

127 QUESTÕES DE VESTIBULARES 1. (UPE) Desde Homero, a poesia greco-rom ana traçou um padrão de qualidade, que se configura entre as grandes produções literárias do Ocidente. Sobre a produção poética do mundo clássico, analise as seguintes afirmações: I. A poesia de Homero, exemplo de epopeia, serve como fonte para os primórdios da formação do povo grego. II. A Odisséia pode ser interpretada, em especial a passagem do canto das sereias, como a afirmação do poder das elites, personificadas na figura do herói Ulisses. III. A obra de Safo de Lesbos é marcada pelo erotismo, exaltando as figuras femininas. IV. A Ilíada, poema que descreve a Guerra de Tróia, foi escrita por Parmênides, apesar de ser atribuída a Homero. V. Aristóteles também se destacou na produção poética, com uma obra que teve forte influência nos escritos do poeta romano Petrônio, em especial no Satiricon. Estão corretas: a) I, II e III. b) I, III e V. c) II, IV e V. d) I, II e IV. e) II, III e IV. 2. (UPE) Através da cultura, a sociedade humana constrói seu conhecimento sobre a natureza e procura decifrar os mistérios do universo. A produção cultural foi um dos destaques da Grécia na Antigüidade. Na época, o teatro grego a) conseguiu sintetizar as preocupações religiosas da sociedade, criticando as concepções mitológicas dominantes. b) teve suas encenações ao ar livre bastante admiradas, com atores do sexo masculino, usando máscaras nas representações. c) divertiu o povo com suas comédias cheias de ironia filosófica, evitando a representação de temas sobre as angústias humanas. d) representou a vida confusa dos deuses gregos, contribuindo para esvaziar o poder dos mitos e da aristocracia. e) foi a expressão das preocupações filosóficas do seu povo, divulgando uma ética democrática sem ligações com a religião. 3. (UNESP) Aedo e adivinho têm em comum um mesmo dom de vidência, privilégio que tiveram de pagar pelo preço dos seus olhos. Cegos para a luz, eles veem o invisível. O deus que os inspira mostra-lhes, em uma espécie de revelação, as realidades que escapam ao olhar humano. Sua visão particular age sobre as partes do tempo inacessíveis às criaturas mortais: o que aconteceu outrora, o que ainda não é. (Jean-Pierre Vernant. Mito e pensamento entre os gregos, Adaptado.) O texto refere-se à cultura grega antiga e menciona, entre ou-tros aspectos, a) o papel exercido pelos poetas, responsáveis pela transmis -são oral das tradições, dos mitos e da memória. b) a prática da feitiçaria, estimulada especialmente nos períodos de seca ou de infertilidade da terra. c) o caráter monoteísta da sociedade, que impedia a difusão dos cultos aos deuses da tradição clássica. d) a forma como a história era escrita e lida entre os povos da península balcânica. e) o esforço de diferenciar as cidades-estados e reforçar o isolamento e a autonomia em que viviam. 4. (UPE) A sociedade humana constrói sua história, buscando superar suas dificuldades e refletindo sobre seus problemas. O teatro é uma representação artística de grande valor no mundo ocidental, colaborando para conhecer as angústias humanas e as possibilidades de criação. Na Grécia Antiga, as tragédias, como produção artística, tinham como objetivo

128 a) divertir a população mais velha e educá-la para a vida democrática na política e no cotidiano familiar. b) redefinir o valor da religião, destruindo o significado dos mitos e inventando deuses mais astuciosos. c) exaltar o poder da aristocracia, criticando a desigualdade social e defendendo a coragem dos heróis militares. d) refletir sobre os problemas humanos, com preocupações educativas, para pensar nos limites existenciais de cada um. e) enaltecer o povo grego, consagrando Homero e Sófocles como seus poetas épicos, construtores de personagens imortais. 5. (UPE) Observe as figuras a seguir: Trata-se de vasos gregos, no caso duas ânforas do século V a.c. A cerâmica é uma das manifestações variadas das artes plásticas. Sobre a cerâmica na Grécia Antiga, analise as afirmativas a seguir: I. Algns vasos eram ornados com cenas do coti diano dos gregos, representando a prática de esportes e lazer assim como cenas amorosas, cenas de batalhas, etc. II. Apesar de uma vasta produção em cerâmica, os gregos não desenvolveram a prática da escultura. III. A cerâmica grega, graç as, sobretudo, às suas pinturas, pode ser utilizada como fonte sobre a vida cotidiana na Grécia Antiga. IV. A cerâmica grega, além da função ornamental, também tinha uma função utilitária, apenas na casa dos metecos. V. As ânforas são vasos com duas asas verticais e com uma base alta, usados geralmente para beber. Estão corretas: a) I e IV. b) II e III. c) II e IV. d) I e III. e) III e V. 6. (UPE) Desde Homero, a poesia greco-rom ana traçou um padrão de qualidade, que se configura entre as grandes produções literárias do Ocidente. Sobre a produção poética do mundo clássico, analise as seguintes afirmações: I. A poesia de Homero, exemplo de epopeia, serve como fonte para os primórdios da formação do povo grego. II. A Odisséia pode ser interpretada, em especial a passagem do canto das sereias, como a afirmação do poder das elites, personificadas na figura do herói Ulisses. III. A obra de Safo de Lesbos é marcada pelo erotismo, exaltando as figuras femininas.

129 IV. A Ilíada, poema que descreve a Guerra de Tróia, foi escrita por Parmênides, apesar de ser atribuída a Homero. V. Aristóteles também se destacou na produção poética, com uma obra que teve forte influência nos escritos do poeta romano Petrônio, em especial no Satiricon. Estão corretas: a) I, II e III. b) I, III e V. c) II, IV e V. d) I, II e IV. e) II, III e IV. 7. (UPE) Sobre as características da religião na Grécia Antiga, analise as proposições abaixo. I.Seus princípios foram transmitidos pela tradição oral. II.Possuía um conjunto fixo de dogmas estabelecidos num único livro sagrado, o Nefita. III.Além dos deuses, os gregos também reverenciavam os heróis, os semideuses, filhos de um deus imortal com uma pessoa mortal. IV.Para conhecer a vontade dos deuses, os gregos interpretavam certos sinais - os presságios - ou dirigiam-se aos oráculos. V.Apregoava a existência de dois princípios opostos: o bem e o mal, enfatizando o livrearbítrio. Estão corretas: a) somente I, II e III. b) somente I, III e IV. c) somente I, II, III e V. d) somente II, III, IV e V. e) I, II, III, IV e V. 8. (UESPI/COVEST) A filosofia grega contribuiu para articular o pensamento ocidental durante séculos. O pensamento dos filósofos gregos já tinha destaque com o surgimento da Escola de Mileto, que: a) seguiu um idealismo filosófico bastante abstrato, reforçando princípios míticos e religiosos da época. b) buscava explicar o mundo, usando idéias vindas das religiões mesopotâmicas, nas quais predominava a astrologia. c) procurava entender as origens das coisas e do cosmos, não reafirmando as crenças míticas da época. d) conseguiu, assemelhando-se ao idealismo platônico, influenciar toda a filosofia do mundo ocidental. e) criticou as explicações racionalistas do universo, assegurando a força religiosa dos mitos e dos sacerdotes. 9. (COVEST) Os gregos construíram reflexões importantes para a formação do pensamento ocidental, contribuindo para compreender o mundo e a sua complexidade. Sócrates, um dos seus filósofos mais conhecidos: a) defendeu a existência da democracia e a organização de uma Assembleia Popular para definir o governo ateniense. b) polemizou com os filósofos sofistas que defendiam princípios religiosos diferentes dos princípios gregos. c) teve muitas das suas teorias incorporadas ao pensamento idealista de Platão, outro grande pensador grego. d) foi contra as reformas políticas defendidas por Aristóteles, pois era favorável à existência de um governo democrático. e) propagou a necessidade do fortalecimento militar de Atenas, para evitar os ataques dos inimigos asiáticos. 10. (UPE) A filosofia grega teve grande influência no mundo ocidental, não sendo esquecida como ponto de reflexão para o homem contemporâneo. Entre seus filósofos, merece atenção a atuação dos sofistas que: a) defenderam o centralismo político e acompanharam os valores do pensamento socrático.

130 b) demonstraram ser contrários à existência de uma verdade universal, favorecendo o relativismo ético. c) tiveram influência na formulação do pensamento aristotélico devido à sua ligação com a democracia. d) ocuparam espaços políticos nos governos da época, criando leis renovadoras e democráticas. e) afirmaram o valor da cidadania, dando importância à verdade política vinda das assembleias. 11. (COVEST) As tragédias gregas são obras literárias de importância fundamental para o conhecimento histórico da Antiguidade. Uma delas, Prometeu Acorrentado, escrita por Ésquilo: a) descreve a invenção da cultura e as punições feitas contra Prometeu pelas suas ousadias. b) enaltece as guerras gregas, valorizando a capacidade de lutas dos atenienses e do seu herói Ulisses. c) reflete sobre os destinos do ser humano e sua capacidade de lidar com suas culpas edipianas. d) ressalta a fundação das cidades gregas e sua capacidade de organizar suas leis sociais. e) destaca a importância dos deuses gregos que são vistos como humanos até na sua mortalidade. 12. (COVEST) Para entender a História, é importante buscar meios, a fim de explicá-la e poder compreender melhor as relações sociais e os mistérios do mundo. Na Antigüidade, a filosofia grega muito contribuiu para a reflexão e, mesmo nos dias atuais, sua produção tem acentuado destaque no pensamento ocidental. Com relação à contribuição dos filósofos gregos, podemos afirmar que: a) as teorias de Platão sedimentaram as bases do idealismo, pois defendiam o relativismo político e se contrapunham aos ensinamentos de Sócrates. b) as reflexões dos sofistas causaram grande impacto na sociedade da época, com seu relativismo e seus questionamentos sobre a existência da verdade. c) a filosofia de Aristóteles sintetizou o pensamento do mundo antigo, contribuindo para afirmar a possibilidade do relativismo e a necessidade de certezas absolutas. d) as reflexões de Sócrates sobre a ética e a virtude não foram sistematizadas e eram totalmente contrárias às reflexões de Aristóteles. e) a compreensão que os pré-socráticos tinham da formação do universo pouco significou para o pensamento filosófico, sobretudo as teorias de Demócrito e Parmênides. 13. (UFCE)...andava pelas ruas e praças de Atenas, pelo mercado e pela assembléia indagando a cada um: "Você sabe o que é isso que está dizendo?", "Você sabe o que é isso em que você acredita?",..., "Você diz que a coragem é importante, mas o que é a coragem?". "Você diz que a justiça é importante, mas o que é a justiça?",..., "Você crê que seus amigos são a melhor coisa que você tem, mas o que é a amizade?". Suas perguntas deixavam seus interlocutores embaraçados... descobriam surpresos que não sabiam responder e que nunca tinham pensado em suas crenças e valores as pessoas esperavam que ele respondesse, mas para desconcerto geral, dizia: "Não sei, por isso estou perguntando." Daí a famosa frase: "Só sei que nada sei".(marilena Chauí) O texto de Marilena Chauí relaciona-se com: a) a criação dos princípios da Lógica, por Aristóteles, de maneira a formar uma ciência Analítica: a Metafísica. b) As tragédias de Sófocles, que tinham como tema dominante o conflito entre o individuo e a sociedade. c) A obstinação do historiador Tucídides em descobrir as causas políticas que determinaram os acontecimentos históricos. d) As preocupações de Eurípedes com os problemas do homem, suas paixões, grandezas e misérias. e) A filosofia de Sócrates, voltada para as questões humanas, preocupada com as virtudes morais e políticas. 14. (UPE) A arte grega construiu espaço significativo na história do mundo ocidental. Sobre esta arte, pode-se afirmar que:

131 a) privilegiou a pintura e a música, inspirando os artistas do tempo medieval e do renascimento. b) teve, na arquitetura, obras de destaque, em que um dos princípios básicos era a harmonia das formas. c) se destacou com originalidade, na música da antigüidade, influenciando depois os grandes artistas modernistas. d) se preocupou em seguir os ensinamentos realistas de Platão - o filósofo maior da cultura grega que se dedicou ao estudo da estética. e) não teve penetração na vida cotidiana das grandes cidades gregas, sendo apenas admirada pelas escolas elitizadas. 15. (UEL) Uma das características da cultura política grega é a noção de cidadania. Tal noção define a vinculação da pessoa a uma determinada pólis, por laços essencialmente familiares, e estabelece, concomitantemente, a permanente obrigação de defesa da cidade, a contribuição para seu bem geral, e o direito de opinar sobre seus destinos. Foi em virtude desta última implicação do conceito de cidadania que, em sentido lato, quase todas as cidades gregas tenderam à democracia. As diferenças se fazem sentir quanto à forma de participação do cidadão. Com base no texto e nos conhecimentos sobre a cidadania grega, é correto afirmar: a) As reformas de Péricles buscaram, entre outras coisas, incorporar todos os cidadãos ao processo decisório da Eclésia e dos tribunais, tornando possível a participação dos menos abastados, por meio de modesta remuneração. b) Nas pólis que se mantinham institucionalmente oligárquicas, ou sujeitas a modalidades de tirania, era vedado aos cidadãos comuns externar suas opiniões sobre as decisões públicas. c) As mulheres, numa cultura patriarcal que reservava a vida pública exclusivamente aos homens, eram cidadãs partícipes da discussão política, tendo voz ativa e voto na assembléia. d) Nas cidades gregas, o estrangeiro era um hóspede destituído da cidadania, tendo os seus direitos privados devidamente assegurados, sem restrições quanto à propriedade fundiária e aos direitos cívicos. e) O escravo, que antes de tudo estava excluído da cidadania, era considerado como parte da comunidade e, portanto, capacitado a opinar sobre os negócios públicos. 16. (VUNESP) Num mundo de cidades gregas muitas vezes rivais, a guerra era uma atividade não apenas corriqueira, como essencial. O filósofo Heráclito ( a.c.) observou que a guerra é o pai de todas as coisas. (Pedro Paulo Funari. Guerra do Peloponeso. In Demetrio Magnoli. História das Guerras) Sobre os conflitos na Grécia Antiga, é correto afirmar que: a) as Guerras Médicas causaram pela primeira vez um conflito no interior do mundo helênico, desunido na luta contra a Pérsia. b) embora compartilhassem a mesma cultura, após as Guerras Médicas, os gregos permaneciam separados na determinação de manter a soberania das cidades-estado. c) a partir da sua hegemonia na Liga de Delos, após a derrota dos persas, Esparta tentou impor o seu domínio sobre a Grécia. d) ao final da Guerra do Peloponeso, algumas cidades-estado da antiga Liga de Delos convenceram Esparta a se manter, juntamente com elas, em regime democrático. e) a Liga do Peloponeso, liderada por Esparta, tinha como projeto político levar a democracia a todas as cidades--estado. 17. (COVEST-2011) Platão foi um dos pensadores mais conhecidos do mundo antigo. Suas reflexões influenciaram na formação do pensamento ocidental. Com relação à política, Platão era: a) defensor da monarquia vitalícia, seguindo as tradições da época e da religião de Zeus. b) favorável à democracia das assembleias, como base ética para mudar a sociedade. c) crítico dos governos existentes, elaborando um pensamento libertário e idealista. d) companheiro de Sócrates em muitas reflexões, embora não fosse partidário da democracia. e) elaborador dos princípios do governo de Clístenes, que transformou tradições seculares.

132 18. (ESPM) Algumas das obras da escultura clássica que desfrutaram de maior fama em épocas posteriores foram criadas durante o período helenístico, como o Laocoonte e seus filhos. A obra representa a terrível cena em que o sacerdote troiano Laocoonte e seus dois infelizes filhos são envolvidos por duas gigantescas serpentes, em seus anéis, que os estrangulam. (E. H. Gombrich. A História da Arte) Sobre a cultura helenística mencionada no texto, é correto assinalar: a) foi uma cultura exclusivamente grega e portanto nacionalista, exprimindo o orgulho do povo por sua cidade. b) foi uma cultura exclusivamente oriental, desprezando o humanismo. c) a cultura helenística fundiu aspectos da cultura grega com a cultura oriental, tornando-se mais realista e exprimindo a violência e a dor. d) foi uma cultura influenciada pelo cristianismo e serviu para expressar o poder e a influência da Igreja Católica. e) foi uma cultura influenciada pelo islamismo e limitada pelas especificações religiosas. 19. (VUNESP) Há anos, de todos os Estados da época, somente em Atenas, aqueles qualificados como cidadãos, independentemente da riqueza ou status, poderiam determinar diretamente seu próprio destino na Assembleia. Via de regra, a democracia moderna dá poder ao povo para fazer pouco mais do que votar em representantes. Tais representantes estão atrelados a partidos; a maioria partidária é que efetivamente toma todas as decisões em nosso nome.(revista BBC História, Ano 1. Edição n.º 9. Adaptado) O texto permite a seguinte comparação: a) enquanto a democracia ateniense era acessível a todos os cidadãos, sem nenhuma restrição quanto à sua renda ou origem social, a democracia moderna exige que os cidadãos se filiem a um partido político. b) na democracia ateniense, a Assembleia era controlada por cidadãos que fossem qualificados para decidir o destino da cidade; na democracia moderna, o povo apoia todas as decisões tomadas por seus representantes. c) Atenas foi o único local do mundo antigo a estabelecer a democracia participativa e direta para todos os seus habitantes, enquanto pelas regras do mundo atual, a democracia não é válida para o povo, mas para seus representantes. d) na democracia ateniense, apenas os cidadãos das camadas sociais enriquecidas e que desfrutassem de prestígio participavam da Assembleia; na democracia moderna não existem Assembleias, apenas partidos políticos. e) única democracia no mundo antigo, o governo ateniense era exercido pela participação direta dos cidadãos na Assembleia; na democracia comumente adotada no mundo moderno, o povo elege representantes para exercerem o governo.

133 OLHARES HISTÓRICOS Livros Grécia: a vida cotidiana na cidade-estado. São Paulo: Atual, (coleção História Geral em documentos) O legado da Grécia Antiga. Moses Finley. Brasília: Unb. O Mundo de Atenas: uma introdução à cultura clássica ateniense. Peter Jones. São Paulo, Martins Fontes, Cinema Troia Direção de Wolfgang Petersen. EUA, min. Em 1193 a.c., Paris é um príncipe que provoca uma guerra da Messência contra Tróia, ao afastar Helena de seu marido, Menelaus. Tem início então uma sangrenta batalha, que dura por mais de uma década. A esperança do Priam, rei de Tróia, em vencer a guerra está nas mãos de Aquiles, o maior herói da Grécia, e seu filho Hector. HÉRCULES Direção de Ron Clements, John Musker. (EUA, min.). Hércules, filho de Zeus com uma mortal, é um semi-deus que se notabiliza por seus feitos heróicos.

134 Roma: das origens ao Império Por volta do século VII a.c, a península itálica era povoada por diversos povos. O norte era povoado pelos Lígures; no sul, os imigrantes gregos formaram a chamada Magna Grécia. Já a região central foi habitada pelos Etruscos e Italiotas (sabinos, samnitas, latinos e úmbrios). Das fusões culturais dessas várias etnias surgiram os romanos. Segundo os arqueólogos, os etruscos e os gregos contribuíram decisivamente para a construção do padrão cultural na Roma Antiga. Origens e Periodização Há inúmeras versões concernentes à origem de Roma. As narrativas lendárias foram bastante difundidas entre os antigos, sendo a mais conhecida o mito de Rômulo e Remo.

135 O surgimento de Roma Todos os povos procuram explicar de onde vieram, como surgiram, e os romanos contavam certas lendas sobre as origens de sua cidade. A mais conhecida e popular entre os próprios romanos conta que a cidade foi fundada por Rômulo, filho do Deus da Guerra, Marte, e de Réa Sílvia, filha do rei Numítor, de Alba Longa, Amúlio, irmão de Numítor, destronou seu irmão e obrigou sua sobrinha Réia a tornar-se uma sacerdotisa, o que a levou a jogar seus filhos gêmeos, Rômulo e Remo, nas águas do rio Tibre. Milagrosamente, os meninos salvaram-se e foram criados por uma loba, tendo depois recebido os cuidados do pastor Fáustulo e de sua esposa. Ao se tornarem adultos, restauraram o pai no trono de Alba Longa e pedem permissão para fundar uma cidade às margens do Tibre. Entretanto, brigaram e Rômulo acabou matando seu irmão. Transformou o Capitólio em refúgio e para dar esposas aos habitantes, raptaram-se mulheres sabinas. Ao morrer, Rômulo, foi levado aos céus e adorado como o deus Quirino. FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma. Repensando a História. São Paulo: Contexto, p.80. Devido à escassez de fontes escritas, pouco se sabe sobre a verdadeira origem da cidade de Roma. No entanto, as fontes arqueológicas disponibilizadas mostram que o território onde Roma surgiu foi habitado, inicialmente, por pastores etruscos nas colinas do Lácio. A partir do século VIII a.c., diversas aldeias se coligaram, criando a Liga das Sete Colinas, da união dessas aldeias surgiu a cidade de Roma. Tradicionalmente, divide-se a história de Roma Antiga em três longos períodos: Monarquia ( a.C), República (509-27a.C) e Império (27 a.c-476 d.c). Monarquia Há poucas informações sobre o período da Realeza Romana. Baseado em lendas, alguns historiadores supõem que Roma foi governada por sete reis. Esses monarcas possuíam o mandato vitalício, exercendo o cargo com atribuições jurídica e militar. Os quatro primeiros governantes foram sabinos e latinos e os três últimos, etruscos. No século VI a.c., os etruscos, cuja origem é desconhecida, dominaram o território do Lácio, onde estava localizada Roma. Os etruscos tiveram grande relevância na formação da sociedade romana. Eles desenvolveram o comércio e o artesanato, apresentando também diversas inovações técnicas, as mais notáveis foram a drenagem do pântano e as características urbanas da cidade de Roma. Nosso conhecimento da história de Roma nos séculos VIII e VII a.c., e mesmo na primeira metade do século VI a.c., é muito imperfeito. Todo o período constitui uma área de suposições e é apresentado de modos diferentes por diferentes historiadores. Pelos indícios fragmentários e pouco fidedignos à nossa disposição, podemos supor que durante o período Roma não só tornou-se gradativamente uma comunidade poderosa nas planícies latinas como também aumentou seu território a expensas de seus vizinhos que habitavam os montes. (...) ROSTOVTZEFF, Michael. História de Roma. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1960.p.29. Nesse período, a estrutura política e social baseava-se nas gentes (plural de gens). Cada gens era chefiada pela pessoa mais velha da comunidade, chamada de pater. Os integrantes das gentes eram denominados patrícios. Nesse sentido, vale enfatizar que apenas os médios e grandes proprietários de terras podiam receber o título de cidadão, ou seja, estavam aptos a participar das discussões políticas. Dessa maneira, pode-se dizer que, inicialmente, a organização política em Roma apresentava traços semelhantes às Póleis gregas, ou seja, constituição de uma cidade- Estado governada por um rei (detentores de poderes militares e religiosos) e pelo Senado ou Conselho dos Anciãos (senex, do latim, significa velho ), formado pelos chefes das gentes. A principal atribuição dos senadores era eleger o rei.

136 Além disso, existia a Assembléia Curiata, que criava leis, sendo seus membros advindos das cúrias. As cúrias consistiam em unidades religioso-administrativas. Segundo historiadores, elas constituíam o principal elemento determinante para a divisão social romana. O governo de Sérvio Túlio foi marcado pelas reformas populares e pela criação da Assembléia Centuriata (grupo formado por 80 soldados). Esse órgão tinha objetivos militares e políticos. Organização Política no Período da Monarquia REI SENADO ASSEMBLÉIA CURIATA ASEMBLÉIA CENTURIATA Tinham poderes Conselho de an- Formado pelos Assembléia limitados. ciãos formado cúrias (conjunto formada por Possuía poderes pelos membros dos homens). oitenta soldados. políticos, religio- das gentes. Consistiam em Foi criada no sos, militares e Sua principal unidades religio- governo do rei jurídicos. atribuição era sas e administra- Sérvio Túlio. eleger o rei. tivas. Sociedade Na época da Monarquia, a sociedade era constituída pelos patrícios, clientes, plebeus e escravos. Os patrícios eram detentores de muitas terras, rebanhos e escravos. Por muito tempo, só eles poderiam participar do exército. Os componentes dessa aristocracia usufruíam direitos políticos e desfrutavam do título de cidadãos romanos. Os plebeus viviam como artesãos. Já os clientes eram homens livres que formavam acordos bilaterais com os patrícios, prestando-lhes vários serviços pessoais e militares com o objetivo de receber assistência social e proteção política. Muitos desses clientes eram ex-escravos ou filhos de escravos, além daquelas pessoas que não possuíam propriedades. Gravura que mostra dois camponeses romanos fazendo a colheita na Roma Antiga: a economia romana era essencialmente agropastoril no período da Monarquia. A maior parcela da população, nesse período, era constituída pelos plebeus. Homens e mulheres livres formavam essa classe social. Segundo historiadores, os plebeus se dedicavam às atividades comerciais, agrícolas e artesanais, não tendo quaisquer direitos políticos.

137 A quarta classe social no período da Monarquia eram os escravos. Nesse momento da História de Roma Antiga existiam poucos escravos. A forma de escravidão mais encontrada era a originada por dívidas. Em 509 a.c., Tarquíneo, o Soberbo, foi destronado por uma insurreição liderada pelos patrícios que expulsaram os etruscos, inaugurando uma nova fase da história romana, chamada de período republicano. República Esse período da história romana durou cinco séculos, entre 509 a.c. e 27 a.c., e foi caracterizada pela formação de complexa estrutura política. O Senado se tornou a estrutura de poder hegemônica, ou seja, o órgão decisório mais poderoso. As principais prerrogativas dos senadores eram definição de leis, o zelo pelas finanças e as questões estrangeiras. O Senado compunha-se de 300 membros, selecionado entre os cidadãos romanos. Inicialmente, os membros dessa instituição possuíam origem patrícia e aristocrática, exercendo o cargo de maneira vitalícia.

138 As magistraturas também tiveram participação relevante na esfera de poder na República. Essa importante instância consistia num grupo de cargos executivos e judiciários ocupados pelos mais elevados funcionários do Estado. Os magistrados eram escolhidos pelas Assembléias Romanas (Centuriata, Popular, Curiata e Tribais), cujos cargos tinham mandatos com tempo limitado. Os Cônsules eram eleitos a cada dois anos. Eles deliberavam sobre questões religiosas e militares, entretanto suas decisões necessitavam da aprovação dos senadores; os Pretores encarregavam-se da justiça; os Censores ficavam responsáveis pela contagem dos cidadãos e pela preservação da moral; aos Questores cabia o cuidado pelas finanças; os Edis eram responsáveis do policiamento das urbes romana, organizavam os jogos e as festas cívicas, além de cuidar do abastecimento da cidade. Nessa organização política, havia a previsão da escolha de um magistrado chamado de Ditador, que deveria ser indicado por um dos cônsules para governar num período de seis meses com plenos poderes. Vale enfatizar que o dilatador seria admitido caso houvesse ameaça aos princípios republicanos, ou seja, em época de guerras ou convulsões sociais. Lutas entre patrícios e plebeus A sociedade romana no início da República continuava controlada pelos patrícios que ocupavam os melhores cargos políticos. Em seguida vinham os clientes, os quais prestavam serviços aos nobres em troca de proteção. Já os plebeus eram formados pelos pequenos camponeses, comerciantes e artesãos. Essa classe social não tinha poderes políticos. As disparidades políticas entre os plebeus e os patrícios provocaram vários movimentos sociais, uma vez que embora muitos plebeus tivessem enriquecido e servissem como soldados ao exército romano, não possuíam privilégios semelhantes à aristocracia de Roma. Por exemplo, os cargos públicos eram ocupados unicamente por pessoas ligadas às famílias patrícias. As disputas entre patrícios e plebeus foram notáveis nos primeiros duzentos anos da República romana. A partir do século V a.c., o número de plebeus aumentara consideravelmente tanto a nível populacional quanto em de importância econômica. Os plebeus, nesse sentido, passaram a reivindicar medidas em prol de sua classe, como direito à cidadania, o que lhes possibilitava participação nas decisões políticas. Alguns historiadores apontam outros fatores que impulsionaram os plebeus a se manifestarem contra os patrícios: a obrigatoriedade do pagamento de altos tributos e da participação no exército. Essa situação gerou o empobrecimento de muitos plebeus, o que levou a muitos contrair dívidas, cujo não-pagamento implicaria em escravidão. Uma outra questão que acirrou os conflitos sociais foram as normas referentes à distribuição das terras estatais, originárias da expansão romana, que, geralmente, eram destinadas aos patrícios. Todos esses motivos foram fundamentais para o início de convulsões sociais entre patrícios e plebeus. No ano de 494 a.c., um grupo de plebeus foram para o Monte Aventino e de lá ameaçaram não mais participar do exército romano, caso seus pedidos não fossem aceitos. Segundo alguns estudiosos, esse evento simbolizou a primeira greve da história. Como os patrícios necessitavam da mão de obra plebéia e também temiam os motins sociais, tiveram que atender as solicitações dos plebeus. As principais conquistas alcançadas pelos plebeus foram: Criação da assembléia da plebe (471 a.c): formada apenas por plebeus, possuía caráter sacrossanto, ou seja, as decisões tomadas por essa instância era inviolável. Os tribunos da plebe podiam anular atos dos magistrados ou decisões do Senado que tivessem a intenção de prejudicar os interesses dos plebeus. Lei Licínia/Sextia (367 a.c): concedia aos plebeus o direito de participar do consulado e regulamentava o uso das terras públicas ager publicus. Lei Canuléia (455 a.c): permitia o casamento entre patrícios e plebeus. Com a expansão romana, diversos plebeus enriqueceram, em contrapartida alguns patrícios empobreceram. Desse modo, o matrimônio se tornou interessante para ambas as classes sociais.

139 Elaboração da lei da XII Tábuas (450 a.c): conjuntos de normas jurídicas que estabelecia os direitos e deveres dos cidadãos romanos. Essa Lei consiste no primeiro código de leis escritas da história. Lei Poetélia Papíria (326 a.c): aboliu a escravidão por dívidas, que consistia na submissão do camponês a um dono de terras até o pagamento integral do débito, e caso ele não conseguisse liquidar, o mesmo seria vendido como escravo. As conquistas plebéias As vitórias plebéias mais significativas ocorreram quando (...) vários plebeus começaram a prosperar exercendo atividades comerciais minando a hegemonia aristocrática. Uma nova distinção social estabeleceu-se lentamente, fundada principalmente na riqueza. Havia, de um lado, os romanos mais ricos, patrícios e plebeus enriquecidos e, de outro, a grande massa da plebe. As diferenças entre patrícios e plebeus ricos nunca foram totalmente abolidas, mas se tornou uma nobreza monetária que englobava patrícios nobres de sangue e os plebeus enriquecidos, naquilo que se pode chamar de uma nobreza patrício-plebéia. FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma. São Paulo: Contexto, p É importante salientar que essas conquistas beneficiaram apenas uma parcela dos mais prósperos entre os plebeus. Pode-se afirmar que tais concessões não significaram e nem acabaram com a exclusão social, ou seja, não houve alterações profundas para a massa dos plebeus empobrecidos. A expansão Romana A fase republicana representou também o período de conquistas territoriais. A princípio, tais empreendimentos tinham dois objetivos essenciais, a proteção das fronteiras romanas perante os inimigos vizinhos e a obtenção de propriedades imprescindíveis ao pastoreio e às atividades agrícolas. Entretanto, com o passar dos anos, a política expansionista romana passou a ser caracterizada pela conquista de metais preciosos, terras e escravos. Didaticamente, a etapa de expansão romana pode ser analisada em dois momentos distintos: o primeiro, de conquista da península Itálica e o segundo, a dominação de regiões do Mediterrâneo, parte da Europa, da Ásia e da África. Legião romana ao ataque. O soldados romanos, conhecidos como legionários, eram bem treinados e organizados. A disciplina era vista com grande importância pelos legionários, pois ela representava um dos pontos fundamentais para alcançar a vitória perantes os rivais. Durante os século IV a.c e III a.c., Roma se torna uma poderosa cidade após derrotar diversos povos, os etruscos, os gauleses, os sabinos, os samnitas, os celtas e a da Magna

140 Grécia. Com o domínio da Península Itálica, Roma se transforma numa grande potência militar e econômica. Nesse momento, Roma deixa de ser uma cidade-estado para se tornar um Estado imperialista. Deve-se destacar também o exército romano que era extremante bem estruturado, apresentando grande eficiência nas campanhas militares. Após submeter os povos da Península Itálica, Roma inicia a expansão externa. O avanço para o sul da península colocou os romanos em choque com os cartagineses, que controlavam áreas do Mediterrâneo, como a Sicília, a Sardenha e a Córsega. Cartago era uma cidade localizada ao norte da África, sendo fundada pelos fenícios no século IX a.c. A princípio, a relação entre romanos e cartagineses foi amistosa. Todavia, como ambos tinham interesses em dominar o mar Mediterrâneo, aos poucos foi sendo criado um clima de tensão que desencadeou uma série de conflitos denominados de Guerras Púnicas (os romanos chamavam os habitantes de Cartago de poeni, daí a derivação púnicas). As Guerras Púnicas podem ser estudadas em três grandes etapas: Primeira Guerra Púnica ( a.c): Os cartagineses foram derrotados e obrigados a pagarem uma indenização, além de reconhecer o controle da Sicília,Córsega e Sardenha para os romanos. Segunda guerra púnica ( a.c): O motivo principal para o reinício do confronto foi a luta pela posse do território da Hispânia. Sob a liderança de Aníbal Barca, os cartagineses se concentraram na península ibérica com o propósito de unir forças para investir contra os romanos. Por volta de 218 a.c., Aníbal cruzou os Alpes e invadiu a Península da Itália com famosos elefantes de guerras, derrotando os romanos em várias batalhas. Entretanto, o exército romano se recompôs e conseguiu, em 201 a.c., vencer os cartagineses em solos africanos. Terceira Guerra Púnica ( a.c): Esse terceiro confronto caracterizou-se pela total destruição de Cartago e pela transformação de seus sobreviventes em escravos. O território de Cartago tornou-se província de Roma. Essa vitória sobre os cartagineses simbolizou o começo da expansão internacional e o completo controle do Mar Mediterrâneo, chamado pelos romanos de Mare nostrum ( nosso mar ). O choque entre romanos e cartagineses (...) O choque entre Roma e Cartago era inevitável. Quanto mais cedo ocorresse, tanto melhor para esta última. A força das rivais era quase idêntica. Ambas tinham seu poderio baseado numa comunidade de cidadãos, num exército de cidadãos, numeroso e bem treinado. (...) Ambas eram nações guerreiras e civilizadas. (...) Cartago tinha uma cavalaria melhor e em maior número do que Roma e sua infantaria era tão bem armada quanto a romana. (...) Em todos os ramos de táticas estudados pelos generais helênicos, e especialmente na engenharia, os cartagineses eram superiores aos romanos. (...) Não obstante, quando se tratava de lutar em terra, os romanos gozavam de várias vantagens, pois naquela época poucos cidadãos de Cartago serviam nas fileiras, e seus lugares eram tomados por mercenários e aliados que podiam falhar no momento crítico, ao passo que o exército romano não empregava mercenários, consistindo inteiramente em cidadãos e aliados. ROSTOVTZEFF, M. História de Roma. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, p A expansão romana gerou uma série de transformações políticas, econômicas e sociais. Dominando um enorme território que englobava partes da Europa, Ásia e África, os romanos drenavam ao máximo as riquezas dessas regiões, tornando-as províncias. Cada província tinha o compromisso de contribuir com altos tributos ao governo de Roma. Dessa maneira, os espólios de guerras e os recebimentos de impostos provocaram grande fluxo de riqueza para Roma. Em linhas gerais, podem ser apontadas como outras conseqüências da expansão romana: Mudanças no cotidiano romano através da inserção de novos hábitos culturais; Aumento do afluxo de riquezas e na quantidade de escravos;

141 O êxodo rural provocado pela introdução crescente da mão de obra escrava; A dinamização da vida urbana; O crescimento econômico da cidade; Desenvolvimento do comércio e da manufatura; Fortalecimento dos nobilitas, que passaram a ocupar os melhores cargos públicos e militares; Surgimento de uma nova classe social, os cavaleiros ou homens novos; Aumento das lutas sociais que contribuíram para crise institucional da República. As conquistas romanas provocaram mudanças também nas atividades econômicas. A economia estruturada em produtos agrícolas foi substituída pelo comércio, essa nova realidade tornou Roma a grande potência mercantil da época. Uma outra modificação no campo econômico foi o aumento de poder entre os senadores e os cavaleiros. Ambas as classes sociais passaram a concentrar um número considerável de escravos e grandes quantidades de terras. Essa situação levou ao surgimento de inúmeras propriedades escravocratas e, consequentemente, gerou uma forte concentração de terras nas mãos da aristocracia romana. Os movimentos sociais A enorme desigualdade social que assolava boa parte dos camponeses no final século II a.c. se transformou numa das questões mais debatidas entre os políticos romanos da época. Nesse sentido, os irmãos Tibério e Caio Graco tentaram resolver essa triste realidade por intermédio da realização de reformas com caráter social. Vindo de família nobre, Tibério Graco foi eleito, em 133 a.c., Tribuno da Plebe. Assim que assumiu o cargo, conseguiu aprovar uma proposta de reforma agrária. A lei apresentada por Tibério limitava a extensão das propriedades da aristocracia e determinava uma nova distribuição das terras públicas (ager publicus) para os camponeses. O projeto defendido por Tibério desagradou a elite romana, que claramente passaram a se opor à aplicação de tal medida. Por isso que, em 132 a.c., um grupo contratado pelo Senado assassinou Tibério Graco e os seus 500 partidários. Em 123 a.c., o irmão de Tibério, Caio Graco, foi também escolhido como Tribuno da Plebe. Sua atuação política caracterizou-se pela defesa de uma reforma agrária e pela criação da Lei Frumentária, que consistia na distribuição de trigo para a população. Para concretizar suas propostas, Caio procurou se fortalecer politicamente, apoiando os cavaleiros em detrimento dos senadores. Caio Graco possibilitou que os cavaleiros participassem dos tribunais de finanças e administração. Além disso, à ordem dos cavaleiros foi permitida a cobrança de impostos. A aliança política estabelecida com os cavaleiros ajudou Caio Graco a pôr em prática as reformas de distribuição de terras em Cápua e Tirreno. No entanto, a idéia sugerida por Caio de conceder a cidadania para os latinos não foi bem vista pelos senadores e plebeus. A rejeição pelos plebeus desse projeto justifica-se pelo temor da ampliação da quantidade dos beneficiários da política do recebimento do trigo. Pressionado pelos grupos aristocráticos e por parte dos plebeus, Caio Graco comete suicídio. Já centenas dos seus seguidores foram condenadas à morte. Esses temas (concessão de cidadania e reforma agrária) vieram à tona em 91 a.c. pelo tribuno Marcos Lívio Druso. Assim como aconteceu com os irmãos Graco, a proposta foi rejeitada e seu idealizador assassinado. Paralelo aos problemas agrários que envolveram diversos setores das camadas populares romanas, outros grupos mais espoliados, a saber, os escravos se organizaram para alcançar a liberdade.

142 A importância da escravidão na antiguidade Clássica O destino da imensa maioria dos escravos tanto na Grécia, como em Roma, era o trabalho agrário (isso não se passava sempre ou em toda a parte, mas era a regra geral): era normal que o seu recrutamento, distribuição e fornecimento fossem efetuados a partir das feiras nas cidades, onde, naturalmente, muitos deles eram empregados, A escravidão era, portanto, o elemento econômico que unia a cidade e o campo (...). Servia de apoio à agricultura (...) e promovia um intenso comércio que constituía o complemento desta agricultura no Mediterrâneo. Os escravos, entre outras vantagens, eram uma mercadoria principalmente móvel numa época em que as limitações dos transportes determinavam os limites da economia. Podiam ser deslocados sem dificuldades de uma região para outra; podiam adquirir uma quantidade de especializações diferentes (...). A riqueza e o confronto da classe proprietária urbana das várias cidades-estado gregas e em Roma estavam garantidos pelo excedente fornecido pelo trabalho escravo. ANDERSON, Perry. Passagens da Antiguidade ao Feudalismo. Lisboa: Afrontamento, p As precárias condições de vida dos escravos geraram freqüentes rebeliões no século I a.c. Há registros de algumas revoltas em Sicília entre os anos de 136 a.c a 101 a.c. Num desses casos, os escravos tomaram posse de uma cidade e escolheram Euno, escravo sírio, como governante. No entanto, as tropas romanas se mobilizaram e conseguiram reprimir os rebelados sicilianos. Entre 73 e 71 a.c., o escravo Espártaco liderou no sul da Península Itálica, em Cápua, a maior rebelião da história romana. Esse gladiador reuniu um grupo de mais de 90 mil escravos. Inicialmente, os revoltosos conseguiram derrotar várias tropas de Roma, todavia as autoridades romanas se organizaram, reagindo com forte represália à essa rebelião. Em 71 a.c., o cônsul Crasso, depois de sucessivos enfrentamentos, conseguiu reprimir a revolta, castigando violentamente os escravos. A Revolta de Espártaco A luta entre os escravos e os proprietários de escravos, que se prolongou por um século, atingiu o seu ponto culminante com a revolta de Espártaco. (...) A revolta de Espártaco, apesar de sua importância, não fez com que a aristocracia romana tomasse consciência do significado dos problemas dos escravos. Aos olhos da elite da época, Espártaco foi um personagem desconsiderado. (...). No entanto, Salústio, historiador romano, deu valor ao talento militar de Espártaco. Mais tarde, Plínio, o Velho, escritor romano, elogiou a nobreza de coração de Espártaco, porque este tinha proibido que o seu exército possuísse ouro ou prata, que tanto corrompia os romanos. STAERMAN, E. A Luta de Classes no final da República. In: ANNEQUIN, J. et al. Formas de exploração do trabalho e relações sociais na Antiguidade Clássica. Lisboa: Estampa, p.196 e 203. A crise da República Com o objetivo de evitar outras conturbações sociais, Roma investe fortemente nas campanhas de expansão externa, tentando canalizar as instabilidades internas para outras regiões. As freqüentes disputas militares propiciaram o surgimento de diversos líderes políticos ligados ao exército. Nesse sentido, o governo de Roma passou para as mãos de generais vitoriosos, tais como Mário e Sila, que implantaram sistemas ditatoriais, alicerçados na fidelidade dos legionários romanos. Mário conseguiu ser eleito seis vezes consecutivas (de 107 até 100 a.c.) para o cargo de cônsul, desrespeitando, assim, as tradições republicanas. Mário realizou várias reformas, podemos citar: 1. Profissionalização do exército, cujos soldados passaram a receber salários; 2. Concessão de lotes de terras para os veteranos (soldados que tinham mais de 25 anos de serviços militares); 3. Permissão de incorporação dos plebeus no exército romano, os quais também eram remunerados. Dessa maneira, paulatinamente, os soldados passaram a colocar os interesses pessoais acima do interesse estatal. Mário, como tinha um forte apoio dos militares e das camadas

143 mais pobres, conseguiu estabelecer a ditadura. Desde então, houve limitação do Senado nas decisões políticas. Esse fato impulsionou a reação dos senadores que, após a morte de Mário, em 86 a.c., apoiaram o general Sila para governar Roma. Sila proclamou-se ditador perpétuo em 82 a.c. A sua gestão foi marcada pela redução do poder no tribuno da plebe, pela repressão aos cavaleiros e às camadas populares seguidoras de Mário, tal medida tinha como objetivo restaurar a força política do Senado. Entretanto, isolado e doente, Sila viu-se obrigado a abdicar do cargo em 79 a.c. Num clima de muita instabilidade e na tentativa de solucionar as crises crescentes, Roma passa a ser governada por três pessoas, os triúnviros. O Primeiro Triunvirato constituiuse em 59 a.c., sendo composto por três respeitados militares: Pompeu, Crasso e Júlio César. Em tese, o poder era dividido entre os três cônsules, no entanto, Júlio César se destacou devido às inúmeras conquistas, principalmente as das regiões da Gália (atual França) e parte da Ilha da Bretanha (atual Inglaterra). Além disso, César distribuía terras para os soldados, ganhando, dessa maneira, grande simpatia dos soldados e da população. Simultaneamente, Pompeu se aproximava cada vez mais do Senado romano. Assim, Pompeu contava com a ajuda do Senado e César era apoiado pela plebe. Por isso, depois da morte de Crasso, em 53 a.c., em combate no oriente, houve uma ampliação da rivalidade entre os dois triúnviros, desencadeada quando o senado ordena a saída de Júlio César da Gália. No entanto César desobedeceu às palavras do senado e decide invadir Roma com seus soldados em 49 a.c. Devido à popularidade de César, ele consegue entrar triunfalmente em Roma, sendo proclamado pelo Senado como Ditador Vitalício. Já Pompeu foi assassinado no Egito e os seus seguidores foram cruelmente eliminados. A partir de então, César centraliza em torno de si diversas funções, como a de supremo comandante do exército, do tribuno e a função de pontífce máximo (sumo sacerdote). Segundo historiadores, o governo de César foi marcado por grande popularidade. Veja as principais realizações do Governo ditatorial de Júlio César: Geração de empregos através da construção de obras públicas; Realização de uma divisão das propriedades em benefício da plebe; Criação de mais de quarenta colônias; Reestruturação das finanças do Estado; Concessão de cidadania para os habitantes das províncias; Reformulação do calendário; Limitação dos poderes dos líderes das províncias. As atitudes populares promovidas por César levaram ao enfraquecimento da aristocracia patrícia. Desse modo, aos poucos, a República apresentava sinais de esgotamentos, entretanto, Júlio César rejeitava a idéia de implantar o regime monárquico ou imperial. Nesse contexto, a forte concentração de poder de César despertou a oposição de alguns senadores, os quais, liderados por Brutus e Cássio, planejaram o seu assassinato em 44 a.c. Os senadores esperavam que logo após a morte de César, as instituições republicanas pudessem resgatar seu prestígio. Todavia, as crises políticas ainda permaneceram. Desse modo, formou-se o Segundo Triunvirato: Marco Antônio (Cônsul e comandante do Oriente), Otávio (sobrinho e filho adotivo de César, comandava o Ocidente) e Lépido (chefe da ordem dos cavaleiros e Pontífce Máximo). Em pouco tempo, teve início uma forte dissensão política entre os triúnviros. Marco Antônio firmou uma aliança com a rainha do Egito, Cleópatra. Esse fato impulsionou uma guerra entre os governantes do Ocidente e Oriente Em 31 a.c., na batalha de Ácio, o exército de Otávio conseguiu vencer o de Marco Antônio. Com esse triunfo Otávio passou a concentrar totais poderes em suas mãos tornando-se governante único. Sem nenhum rival à frente, o Senado concedeu a Otávio vários títulos: princeps (primeiro cidadão), augusto (divino ou bem-aventurado), imperator (comandante supremo), Pontifce maximus (chefe da religião romana) e de Pater patriae (pai da pátria). Esse evento simbolizou o fim da República e o início do Império Romano. Império Romano A ascensão do Império em Roma está relacionada às imensas mudanças nos setores sociais, militares, econômicos e administrativos advindas com o estabelecimento do regime

144 imperial. Na esfera política, o Imperador passou a ter um poder superior ao Senado e aos demais magistrados. O Imperador era responsável pelas conquistas territoriais e subseqüente anexação das províncias à influência romana. No decorrer do Império, a participação política das classes populares, bem comum durante a República, foi diminuindo gradativamente. Dessa forma, os cargos passaram a ser ocupados via recomendação, ou seja, os cônsules, edis, questores e pretores eram nomeados pelo imperador. Nesse sentido, o acesso às magistraturas militares ou civis passou a depender de uma rede de influências e amizades entre o imperador, os senadores, a ordem dos cavaleiros e as aristocracias das províncias. Tradicionalmente, estuda-se o Império Romano em dois períodos: o Alto Império (27a.C-235d.C) e o Baixo Império ( ), existindo entre eles uma fase de conturbação militar conhecido como Imperadores de Caserna, durante 235 a O Alto Império O governo de Otávio (27 a.c a 14 d.c) caracterizou-se por uma estabilidade política, econômica e social. Como detinha plenos poderes, Otávio implementou diversas reformas, sendo boa parte delas de caráter popular. Acompanhe abaixo o rol das principais realizações de Otávio: Distribuição de terras aos soldados mais experientes; Estabelecimento da aposentadoria em dinheiro para os combatentes veteranos; Criação da Guarda Pretoriana responsável pela segurança do Imperador; Reestruturação do Exército romano, tornando-o profissional; Fim do alistamento obrigatório; Criação de um serviço postal conectando as províncias; Realização de várias obras públicas com objetivos de embelezar Roma e gerar empregos para os plebeus urbanos; Financiamento das artes e dos eventos culturais; Desenvolvimento do comércio marítimo Mediterrâneo; Alcance da paz e tranqüilidade interna e externa, conhecida como a Pax Romana; Doação de trigo para a plebe urbana, oficializando a chamada política assistencialista Pão e Circo. Otávio Augusto oficializou a política assistencialista Pão e Circo. O objetivo desta prática era diminuir os problemas sociais. As autoridades romanas distribuíam trigo entre os pobres. Já outros políticos, que buscavam apoio do povo, aliciavam os eleitores menos favorecidos com dinheiro. Além dos benefícios materiais, o governo promovia espetáculos de gladiadores e comemorações festivas. Esses eventos eram regados de alegrias e violências. A platéia aclamava a morte dos derrotados. Os plebeus exigiam emoções, essa era a maneira que eles encontravam para esquecer suas frustrações. Esses eventos também eram assistidos pelos integrantes da aristocracia e pelo Imperador. Quanto ao setor administrativo, Otávio Augusto aumentou o número de funcionários, criando, assim, condições para o aperfeiçoamento dos serviços públicos. Com o esvaziamento do poder dos magistrados e dos senadores, o imperador passou a emitir moedas em ouro e em prata. Já no âmbito social, Augusto reorganizou os romanos de acordo com os padrões econômicos nas seguintes ordens: Senatorial (composta pela aristocracia, os mais ricos), Eqüestre (a classe média romana ) e Plebe (os menos favorecidos, os pobres). Durante governo de Otávio, nasce na província romana da Palestina Jesus Cristo de Nazaré, o fundador de uma nova religião cujos princípios fundamentais consistiam no amor ao próximo e na solidariedade. No ano de 14 d.c., Otávio Augusto morre, deixando o Império Romano bem estruturado e estável para os governantes posteriores. No entanto, como não existiam regras claras para a sucessão imperial, iniciou-se uma forte disputa pelo poder.

145 2. Os sucessores de Augusto Após a morte de Augusto, três dinastias assumiram o poder. A Dinastia Júlio-Claudiana (14-68) foi constituída por quatro imperadores: Tibério, Calígula, Cláudio e Nero. Com o fim desta dinastia, o Império Romano passou a ser governado pela Dinastia Flaviana (69-96), formada por Vespasiano, Tito e Domiciano. O governo de Vespasiano foi caracterizado pela reorganização das forças militares romanas, estabeleceu novos elementos para a ocupação do posto de senador e reprimiu várias insurreições no Oriente Médio e nas Gália. Os dois últimos imperadores dessa dinastia, Tito e Domiciano, governaram entre 81 e 96, deram prosseguimento às ações de Vespasiano. Imagem do Coliseu de Roma, uma das grandiosas obras da Antiguidade construída no governo de Vespasiano, servindo vários eventos, incluindo lutas de gladiadores. A dinastia dos Antoninos (96-192) vivenciou um momento cujos imperadores Nerva, Trajano, Adriano, Antonino Pio, Marco Aurélio e Cômodo tentaram dá continuidade a prosperidade econômica e a pacificação interna. Durante a gestão de Trajano, o Império romano alcança sua extensão máxima. Logo após essa dinastia, o Império passa para as mãos dos Severos ( ). O imperador Caracala se tornou o grande destaque dessa série de governantes, uma vez que promulgou uma lei que concedia a cidadania para todos os habitantes do Império. Com o fim da dinastia dos Severos, o Império começou a apresentar sinais de crises: aumento da inflação, dos tributos e o começo das primeiras investidas dos germânicos nas fronteiras romanas. A instabilidade econômica e social refletiu-se no campo político. Entre 235 e 284, foi marcado por intensa guerra civil e constantes conspirações palacianas. Nesse curto período Roma conheceu uma sucessão de vinte e seis imperadores, desses, apenas um não foi assassinado. 3. O Baixo Império O colapso do Império Romano tornou-se mais visível a partir do século III. Os motivos foram diversos para a eclosão da famosa Crise do Século III, pode-se citar:

146 O aumento dos preços dos escravos e conseqüente redução da mão-de-obra escrava provocados pela paralisação da expansão territorial. Roma, a partir do século III, não mais ampliava suas fronteiras, pelo contrário, encolhia seus domínios devido a pressão de novos povos que habitavam nos limites do Império. Dessa forma, como a maneira mais comum de se adquirir escravos era através da subordinação de outros povos, a economia romana ficou altamente comprometida, haja vista que a escravidão representava a base produtiva do Império; A elevação nos preços de determinadas mercadorias e escassez de outras. O aumento dos produtos agrícolas foi impulsionado pela baixa produtividade do trabalho escravo e pela inexistência de novas técnicas, o que diminuiu consideravelmente o montante de produção; Crescente déficit público provocado pela estagnação econômica pelos gastos do estado com os programas assistencialistas e com o alto número de funcionários (burocráticos e militares) que asfixiou as finanças de Roma. Tentando resolver tal problema, o governo romano promoveu sucessivas desvalorizações da moeda, o que gerou um aumento no custo de vida da população; Escassez de metais preciosos advinda da falta de conquistas territoriais levou ao gradativo desaparecimento em Roma do pagamento dos salários em moeda; Crescente êxodo urbano decorrente da insegurança e violência que assolava os grandes centros urbanos do império; O estabelecimento do colonato desenvolvido graças ao empobrecimento das pessoas do campo e das cidades. O colonato consistia numa relação contratual entre os latifundiários e os trabalhadores colonos. Estes não podiam abandonar as propriedades e isso era transmitido para os seus filhos. Já os donos das terras ofereciam proteção militar e parte dos seus rendimentos aos colonos; Sucessivas brigas políticas entre senadores e chefes militares desencadeando uma aguda crise institucional. No contexto dessa recessão, o imperador Diocleciano ( ) surge como o possível restaurador do brilhantismo do Império. Com a finalidade de facilitar a administração, ele cria a tetrarquia, ou seja, o Império passa a ser governado por quatro pessoas. A tetrarquia consistia na adoção de dois co-imperadores, chamados de Augustos, os quais controlavam as metades do Império do Oriente e Ocidente, cada um era auxiliado pelos outros dois, denominado de César. Uma outra medida adotada por Diocleciano foi restabelecimento do alistamento obrigatório e a admissão de alguns bárbaros. Os bárbaros eram povos que ocupavam as regiões limítrofes do Império, como não falavam nem grego nem latim, os romanos os chamavam de incivilizados, selvagens, bárbaros. Além disso, esse imperador implantou uma rígida política de controle de preços devido aos elevados índices inflacionários. Entretanto, essas medidas emergenciais não solucionaram a situação calamitosa que assolava a economia, a sociedade e as instituições políticas de Roma. Sucedendo Diocleciano, o imperador Constantino ( ) restaura o modelo de poder único, ou seja, põe fim ao regime de tetrarquia. Cônscio da fragilidade administrativa, ele estabelece, em 330, a cidade de Constantinopla (atual Istambul, na Turquia) como capital do Império do Oriente. Em 313 houve a aprovação do Edito de Milão que concedia liberdade religiosa para os cristãos e a restituição dos seus bens confiscados no período das perseguições. Agravando ainda mais o colapso do Império, em meados do século IV, tiveram início as incursões dos bárbaros. Repelidos pelos Hunos, os godos e visigodos penetraram nas fronteiras do império. Essa inserção dos bárbaros foi marcada, inicialmente, pelo pacifismo. No entanto, a partir de 378, os cavaleiros godos entraram em choque com as tropas romanas. Ao assumir o império, Teodósio ( ) consegue apaziguar os godos por intermédio da concessão de terras e utilizando-os como guardiões das fronteiras do império. Em 391, através do Edito de Tessalônica, Teodósio torna o cristianismo a religião oficial do império. Tentando resolver a instabilidade político-administrativa, ele promove uma divisão do Império Romano em Império do Ocidente, com capital em Milão, e Império do Oriente, sede em Constantinopla. Mesmo com essa medida drástica, os problemas sociais, políticos e econômicos não foram solucionados. Dessa maneira, o Império do Ocidente chega ao fim

147 em 476, quando Odoacro (chefe militar dos bárbaros ), depôs o seu último imperador, Rômulo Augusto. Quanto ao Império do Oriente, ele perdura até 1453, graças a sua forte economia e coesa unidade política. Declínio e queda do Império Romano A ascensão de uma cidade que se avantajou num Império bem merece, por singular prodígio, ser tema de reflexão (...). Todavia, o declínio de Roma foi a natural e inevitável conseqüência da grandeza imoderada. A prosperidade fez com que amadurecesse o princípio de decadência; as causas de destruição se multiplicaram com a extensão das conquistas; e tão logo o tempo ou os acidentes removeram os sustentáculos artificiais, a estupenda estrutura desabou sob seu próprio peso. A história da ruína é simples e óbvia. Em vez de perguntar Por que o Império romano foi destruído, devemos antes surpre-ender-nos de ele ter durado tanto. (...) Os imperadores, preocupados com sua segurança pessoal e com a ordem pública, viram-se reduzidos ao vil expediente de corromper a disciplina que as tinham tornado temíveis ao seu soberano e ao inimigo; relaxou-se a energia do governo militar, e finalmente dissolveu-se (...); e eis que o mundo romano foi engolfado por um dilúvio de bárbaros. GIBBON, Edward. Declínio e queda do Império Romano. São Paulo: Círculo do Livro, p.442.

148 TEXTO COMPLEMENTAR HISHISTÓRICOSHISTÓRICOSQU ESTÕESE VESTIBULARES Discurso de Tibério Graco pela Reforma Agrária Os animais ferozes que vivem em terras da Itália, têm, pelo menos, as suas tocas. No entanto, os homens que combatem e morrem pela Itália possuem unicamente o ar que respiram e a luz do sol. Sem teto, sem roupas, vagam através do país com as mulheres e filhos. Nossos generais mentem quando, para estimular as tropas, dizem que os soldados combatem para defender os próprios lares e os túmulos dos antepassados da pilhagem do inimigo. Nenhum soldado tem lar! Nenhuma deles poderá dizer onde estão os restos de seus antepassados! Os soldados derramam o seu sangue e morrem unicamente para defender a riqueza dos poderosos! Dizem que os soldados romanos são os senhores do mundo. Mas nenhum deles possui sequer uma terra para repousar a cabeça. BEER, Max. História do socialismo e das lutas sociais. Rio de Janeiro: Laemmert, p.9. Por que o Brasil, que tem terra de sobra, ainda vive problemas no campo? Existem duas visões conflitantes a respeito da agricultura brasileira. Segundo a mais antiga, o Brasil tem terras tão esplêndidas e vastas que poderia ser o celeiro do mundo. A outra é baseada na observação prática de quem viaja pelo país. Fora algumas regiões do centro e do sudeste, que têm lavouras vistosas, uma boa parte do terreno brasileiro é formada por matagal inaproveitado. Ou por roçados em que a família cria bode, galinha e planta inhame para comer no casebre. Nessa paisagem há também o latifúndio improdutivo, dominado pelo coronel que prefere mexer com política a plantar alguma coisa. É a essa combinação de terras férteis, mas ociosas, que se dá o nome de problema agrário brasileiro. Esse problema, temperado por surtos de agitação rural, é muito discutido, tema de análises acadêmicas e de discursos inflamados no Congresso. Fala-se demais sobre a terra brasileira e pouco se faz. Muitos números indicam que o Brasil pode ser mesmo um dos celeiros mundiais, mas o fato é que o país nunca teve uma política agrária global, digna desse nome. Nas áreas em que se planta com técnicas modernas, a agricultura brasileira é altamente produtiva, quase tanto quanto a européia ou a americana. Mas na maior parte do Brasil planta-se ao acaso. Se der certo, deu. E geralmente não dá - porque não há planejamento, dinheiro, técnica, tradição. Extraído de Veja on line. Reportagem Especial Em Profundidade Reforma Agrária. Disponível em Acesso em 23 de janeiro de Após a leitura atenta dos dois textos podemos observar que os respectivos autores abordam, mesmo num contexto histórico diferente, um tipo de problema social comum. Cite-o e faça um rápido comentário. 2. Faça uma pesquisa sobre as políticas implementadas pelo governo brasileiro concernente à questão agrária no país. 3. Qual a sua opinião sobre a Reforma Agrária no Brasil? Como você vê as ações executadas pelos movimentos dos sem-terras?

149 FAZENDO HISTÓRIA 1. Caracterize a sociedade romana no período monárquico. 2. A História de Roma apresenta vários conflitos sociais provocados pelas disparidades sócio-econômicas entre ricos e pobres. Justifique os motivos para as lutas entre patrícios e plebeus. 3. Quais as principais conquistas plebéias adquiridas após o longo período de reivindicações perante os patrícios. 4. Observe os quadrinhos sobre mercado de escravos a seguir: (UDERZO, A.; GOSCINNY, R. Asterix Os louros de César. Rio de Janeiro: Companhia Editorial Brasileira, s.d.) Na imagem, os criadores de Asterix se referem a um aspecto importante da sociedade romana no final do período republicano. De que período se trata? Comente a importância dessa atividade para a economia romana. 5. Em que consistia a política pão e circo praticada por vários governantes romanos. 6. Explique as principais razões para o desencadeamento das disputas políticas entre os militares no final da República em Roma. 7. Cite as principais características do governo Otávio Augusto. Explique a chamada Pax romana. 8. A partir do século III, o Império Romano apresenta sinais de crise. Nesse sentido, relacione os principais motivos que provocaram a conhecida Crise do século III. 9. Quais as principais medidas adotadas por Diocleciano, Teodósio e Constantino na tentativa de solucionar a crise do Império? 10.Aponte as principais causas que levaram o Império Romano do Ocidente ao colapso?

150 QUESTÕES DE VESTIBULARES 1. (UFTM) Conforme Roma cresceu e se tornou poderosa, as diferenças entre patrícios e plebeus se acentuaram. Estes, marginalizados, desencadearam uma luta contra os patrícios que se estendeu por cerca de dois séculos (V a.c. III a.c.) e resultou na conquista de alguns direitos como: a) a eleição de seus próprios representantes, os Tribunos da Plebe, a proibição da escravização por dívidas e a igualdade civil após o casamento com um patrício. b) interferir, através dos Tribunos da Plebe, nas ordens oficiais dos reis etruscos e na divisão de terras que estavam nas mãos dos patrícios e não-produtivas. c) apropriação de terras na região conquistada da Gália, isenção nos impostos e permissão de se casarem com patrícios. d) o fim da obrigatoriedade de se integrarem às legiões romanas, direito conquistado com os irmãos Tibério e Caio Graco e a proibição da escravização por dívidas. e) a eleição dos magistrados e senadores a partir da Assembléia, igualando-se a Atenas no que diz respeito à participação política direta. 2.(UPE) As relações políticas são importantes para a organização do poder, desde a formação dos primeiros grupos de convivência social. Nos primeiros tempos da história política de Roma, antes da formação da República, a) a família inexistia como núcleo de poder importante, devido ao militarismo e ao poder religioso do rei. b) prevalecia o poder do imperador vitalício e grande latifundiário, auxiliado pela Assembléia dos cidadãos ligados ao comércio. c) existia o Conselho dos Anciãos, com poderes absolutos e relacionados com o comércio de trigo. d) o chefe de família limitava-se ao controle dos ritos religiosos domésticos e à organização dos gastos domésticos. e) houve espaço político para o poder das famílias mais ricas, geralmente grandes proprietárias de terras. 3. (FUNCAB) "(...) Graco parecia ter chegado ao ponto em que, ou renunciava completamente ao plano, ou começava uma revolução: escolheu a última hipótese. Rompeu relações com o colega e apresentou-se diante da multidão reunida perguntandolhe se um tribuno que se opunha à vontade do povo não devia ser destituído de seu cargo. A assembléia do povo, habituada a ceder a todas as propostas que lhe eram apresentadas, e composta na maior parte do proletariado agrícola que emigrara do campo estando pessoalmente interessada no voto da lei, deu resposta quase unanimemente favorável. (...) Para obter esta reeleição inconstitucional, meditava ainda novas reformas. (...) O Senado reuniu-se no templo da Fidelidade. (...) Quando Tibério levou a mão à fronte para indicar ao povo que sua cabeça estava ameaçada, comentou-se que ele pedira ao povo para coroá-lo com o diadema. O cônsul Cévola foi instado a deixar que se matasse o traidor. (...) Morreram com ele cerca de trezentas pessoas." (MOMMSEN, Theodor. História de Roma. Excertos. p ) Com base no texto e nos conhecimentos sobre a questão agrária na República Romana, é correto afirmar: a) a morte de Tibério Graco é narrada como resultado de uma tentativa de impedir a reunião do Senado no templo da Fidelidade. b) a lei que Tibério Graco desejava aprovar beneficiava os ricos ocupantes de terras públicas e ampliava ao máximo o apoio político aos seus propósitos. c) o autor do texto expressa seu preconceito em relação às constantes decisões da plebe urbana, contrárias aos interesses dos tribunos. d) os opositores mataram Graco para impedir a aprovação da lei que os obrigaria a devolver suas terras ao Estado, para posterior distribuição aos pobres. e) o texto elogia a Assembléia Romana por discutir, democraticamente, os interesses comuns da plebe e da aristocracia.

151 4. (UPE) Há muitas especulações históricas sobre as origens de Roma e sua construção como cidade centro de um grande império. Sobre o início da história de Roma, é correto afirmar que: a) se fundou como obra de gregos fugidos de Atenas e de Esparta, todos relacionados aos ideais de nobreza. b) não tinha, no seu litoral, condições para construir bons portos, o que dificultou a sua organização comercial. c) foi freqüentada pelos povos gauleses, os grandes organizadores da sua vida social e republicana. d) tinha territórios favoráveis à defesa natural contra os inimigos políticos, daí o fortalecimento de suas tropas militares. e) possuía lendas que explicavam seu surgimento na Península Itálica, embora elas não tivessem aceitação popular. 5. (UFOP) Originalmente, o termo república significa coisa pública, bem público, mas, entre os séculos VI e I a.c., a República Romana foi marcada por alguns elementos que destoavam deste significado, pois a) a conquista de terras e a introdução do latifúndio provocaram lutas entre os generais e o Senado que, até então, era o centro do poder patrício. b) os romanos não conseguiram sustentar o regime republicano devido à forte tensão política decorrente das lutas entre os sacerdotes e os senadores. c) as magistraturas não passavam de cargos simbólicos, tendo o poder se concentrado nos tribunos da plebe e nos centuriões. d) o exército tornou-se a peça-chave na conquista de terras e ampliação do poder romano, favorecendo exclusivamente os militares em todos os momentos. e) o povo romano estabeleceu um sistema de auto-gestão que reprimiu a concentração de poder do Senado e das magistraturas, espaços plenamente representativos do povo. 6. (VUNESP) Octávio Augusto (31a.c.-14.d.c) foi uma das mais proeminentes figuras da Roma antiga, pois em seu governo o Estado romano conheceu seu período mais próspero, durante o qual foram realizadas as seguintes reformas políticas: a) a dissolução do Senado, a instituição do soldo para os militares e a diminuição da autonomia das administrações provinciais. b) a limitação do tamanho das proles, a condenação do adultério e a proibição do divórcio. c) o estabelecimento de regras de sucessão política, a descentralização do sistema de tributos e a redução do controle sobre os governadores. d) a descentralização do sistema de tribunais, a concessão privada para a cobrança de impostos e o retorno às antigas formas de taxação. e) o estabelecimento de novas formas de taxação, o aperfeiçoamento do sistema de tribunais e a redução da autonomia das cidades e províncias. 7. (COVEST) Fundar impérios e mantê-los exige custos e convivência com conflitos e violências. O Império Romano, composto por uma grande diversidade de culturas e territórios: a) conseguiu superar os conflitos surgidos, proclamando o direito de cidadania para todos os seus habitantes e respeitando as diferenças sociais. b) combateu a escravidão na vida agrícola, não convertendo seus inimigos em trabalhadores para proporcionar riquezas aos seus latifundiários. c) manteve uma política de dominação, sob o ponto de vista cultural, dos povos vencidos, embora tenha evitado recorrer ao exército. d) transformou os valores políticos da época, incentivando a consolidação da república e o fortalecimento das assembleias populares. e) assegurou a sua dominação, utilizando-se, em algumas ocasiões, da violência e da diplomacia para controlar os povos vencidos. 8. (COVEST) Os cônsules romanos tinham participação efetiva na administração da república romana, contribuindo para a manutenção do poder dos patrícios. Os cônsules romanos: a) dedicavam-se exclusivamente às atividades bélicas, comandando os militares nas legiões asiáticas.

152 b) elaboravam as leis e tinham o auxílio dos censores que faziam o recenseamento, de cinco em cinco anos. c) tinham relações com as reivindicações dos plebeus, enfrentando as questões da reforma agrária na república. d) eram responsáveis pela administração das finanças na época das grandes campanhas dos exércitos mais elitizados. e) mantinham seus poderes com a ajuda dos questores, evitando conflitos diplomáticos com os gregos. 9. (UFFS) A religião romana era essencialmente politeísta e o culto ao Imperador foi de grande importância em função da unidade que representava. Os cristãos, no entanto, negaram-se a cultuar os imperadores e se tornaram um perigo para o Estado romano o que acarretou inúmeras perseguições que só terminaram com os Imperadores Constantino e Teodósio, que promulgaram, respectivamente: a) o Édito de Roma que permitiu o culto cristão nas províncias do Império Romano, mas o proibiu na península Itálica, e o Édito de Hélade que tornou o Cristianismo a religião oficial de todo o Império. b) o Édito de Barbárie segundo o qual os cristãos entrariam no exército romano em nome da liberdade de culto e o Édito de Constantinopla que dividiu o Império Romano entre Ocidente e Oriente, sendo este reservado apenas aos cristãos. c) o Édito de Constantino que proibiu que os condenados por pregar a religião cristã fossem mortos e o Édito de Tito que reafirmou o édito anterior e abrandou os castigos aos cristãos. d) o Édito de Milão que concedeu liberdade de culto aos cristãos e o Édito de Tessalônica que tornou o cristianismo a religião oficial de todo o Império Romano. e) o Édito de Augusto que negou a divindade Imperial e passou a um sacerdote politeísta e o Édito de Cristo que pregou o fim das perseguições a todas as religiões. 10. (PUC/Campinas-SP) Leia o texto sobre as instituições políticas da antiga República Romana. "Mesmo para um cidadão romano, será impossível dizer, com certeza, se o sistema, em seu conjunto, era aristocrático, democrático ou monárquico. Com efeito, a quem fixar atenção no poder dos cônsules, a Constituição romana parecerá totalmente monárquica; a quem a fixar no Senado, parecerá aristocrática, e a quem fixar no poder do povo, parecerá, claramente, democrática". (Políbio, historiador grego do século II a.c.in: Pedro Paulo Abreu Funari. Roma: Vida pública e vida privada. São Paulo, Atual, 1993.p.21) Com base no texto e no conhecimento histórico, pode-se afirmar que: a) As instituições não sofreram Influência dos gregos, uma vez que os romanos mantiveram uma política isolacionista durante todo o período republicano. b) Os romanos não inovaram na formação das instituições políticas, já que imitaram o sistema político das civilizações gregas e das civilizações orientais. c) A instituições do equilíbrio de poderes, presente na constituição da antiga República Romana, influenciou posteriormente as Instituições ocidentais, trazendo enorme contribuição à ciência do direito. d) O equilíbrio de poderes, instituído após a queda da monarquia, evitou totalmente conflitos entre as classes sociais durante toda a República, já que permitiu a participação do povo na vida política. e) Os plebeus não tinham direito de participação nas instituições políticas romanas da República, já que eles eram estrangeiros e não possuíram, portanto, a cidadania romana. 11. (UPE) Os impérios da Antiguidade conseguiram dominar extensas áreas territoriais com força militar e negociações políticas. A grandeza dos romanos é sempre ressaltada, quando se refere ao domínio de outros povos. Os romanos: a) construíram um império baseado apenas na sua expressiva força militar, decorrente de um numeroso e combativo exército. b) dominaram toda península Ibérica, não conseguindo derrotar povos de outras regiões da Europa. c) conseguiram construir uma complexa administração para manter seu império, com feitos administrativos seguidos pela cultura ocidental.

153 d) fracassaram na tentativa de dominar os gregos que resistiram nas lutas realizadas no mar Mediterrâneo. e) não se preocuparam com a cultura dos outros povos, mantendo sua identidade cultural e religiosa, basicamente ocidental. 12. (FUNCAB) A Sociedade Romana levou séculos para se expandir e apresentar um contorno, mais ou menos definido. Após dominar a Península Itálica, os Romanos deram início à conquista do mediterrâneo. Lutaram mais de cem anos contra Cartago nas chamadas Guerras Púnicas. Em seguida, ocuparam a Península Ibérica, o sul da Gália e, por fim, o Mediterrâneo Oriental". Sobre a expansão Romana é correto afirmar: a) Com o tempo, os territórios ocupados eram transformados em províncias e pagavam impostos ao governo de Roma. Por isso as províncias eram independentes do governo Romano. b) As Províncias eram governadas pelo Procônsul ou propetor, com poder absoluto sobre a vida civil e militar. A cultura e a estrutura política dos povos dominados era substituída pela Romana. c) Os povos submetidos eram escravizados, seus bens confiscados e a política era suprimida. Dessa forma, Roma exercia um poder incontestável. d) As conquistas foram possíveis graças a existência de um exército poderoso e permanente formado de cidadãos, escravos e camponeses. e) As conquistas produziram enorme espólio de guerra. Sem contar as indenizações pagas pelos vencidos aos romanos, os escravos que ao serem vencidos enriqueciam os generais e as terras férteis repartidas entre os ricos proprietários. 13. (UNIOESTE) Os homens que combatem e morrem pela Itália têm o ar, a luz e mais nada ( ) lutam e perecem para sustentar a riqueza e o luxo de outro, mas embora sejam chamados senhores do mundo, não têm um único torrão de terra que seja seu. ANDERSON, Perry. Tibério Graco. In: Passagens da Antiguidade ao Feudalismo. 1988, p.60. Considerando os acontecimentos que marcaram a história de Roma Antiga e o discurso de Tibério Graco, assinale a alternativa incorreta. a) Durante o período de expansão, muitos plebeus que serviram o exército romano perderam suas terras porque, sem dinheiro, eram obrigados a vendê-las aos ricos proprietários de terras e escravos. b) Tibério Graco, ocupando o mandato de tribuno da Plebe, apresentou uma lei de Reforma Agrária para impedir o avanço do latifúndio e recompor a camada de pequenos e médios proprietários. c) Sensível ao sofrimento da plebe, a elite patrícia apoiou o projeto de Tibério Graco e aprovou a Reforma Agrária em Roma. d) As guerras de expansão promovidas pela República contribuíram para tornar Roma um grande império, porém promoveram uma grande marginalização da plebe romana. e) Sem condições de manter suas terras, muitos agricultores migravam para a cidade e viviam na pobreza. Eram chamados de proletários, pois tudo que possuíam era sua prole, ou seja, seus filhos. 14. (FGV) Após a conquista da Península Itálica, Roma ampliou seus domínios em torno do Mediterrâneo, que passou a ser designado como mare nostrum, um verdadeiro lago interno que permitia a comunicação, as transações comerciais e o deslocamento de tropas para as diversas regiões romanas. A respeito dessa expansão, é correto afirmar: a) A conquista de novos territórios desacelerou o processo de concentração fundiária nas mãos da aristocracia patrícia, uma vez que o Estado romano estabeleceu um conjunto de medidas que visava distribuir terras aos pequenos e médios proprietários e à plebe urbana empobrecida. b) Apesar da conquista do Mediterrâneo, os romanos não conseguiram estabelecer a integração das diversas formações sociais ao sistema escravista nem tampouco se dispuseram a criar mecanismos de cooptação social e política dos seus respectivos grupos dominantes. c) As conquistas propiciaram, pela primeira vez na Antigüidade, a combinação entre o trabalho escravo em larga escala e o latifúndio, associação que constituiu uma alavanca de acumulação econômica graças às campanhas militares romanas.

154 d) As conquistas militares acabaram por solucionar o problema agrário em Roma, colocando em xeque as medidas defendidas por líderes como os irmãos Graco, que postulavam a expropriação das terras particulares dos patrícios e sua repartição entre as camadas sociais empobrecidas. e) A expansão militar levou os romanos a empreender um duro processo de latinização dos territórios situados a leste, o que se tornou um elemento de constante instabilidade político-social durante a República e também à época do Império. 15. (UPE) Os povos, que não habitavam o Império romano ou que não sabiam se expressar em latim, eram denominados pelos romanos de bárbaros. Sobre os bárbaros, é incorreto afirmar. a) Eram povos germânicos na sua grande maioria e nem sempre tiveram relações conflituosas com os romanos. b) Viviam em comunidade, não tendo, portanto, a complexidade social das cidades romanas nem tampouco as instâncias burocráticas de um grande império. c) As leis que regiam a vida desses grupos baseavam-se nos costumes e tradições. d) Professavam uma religião animista e antropomórfica, e os sacerdotes tinham, além e função religiosa, poder militar e político. e) A organização social baseava-se na família, tendo no pai a figura central que exercia poder sobre a esposa e os filhos. 16. (CESGRANRIO) Faça com que os eleitores falem e pensem que você os conhece bem, que se dirige a eles pelo nome, que sem parar e conscienciosamente procura seu voto, que você é generoso e aberto, que, mesmo antes do amanhecer, sua casa está cheia de amigos, que todas as classes são suas aliadas, que você fez promessas para todo mundo e que as cumpriu, realmente, para a maior parte das pessoas. MACKENDRIK, P. The roman mind at work. Krieger Pub. Co., 1980, p O texto acima, de Cícero, orador romano, 106 a.c. 43 a.c., aconselha os possíveis candidatos nas eleições da Roma republicana. Seu discurso confirma a: a) autocracia política dos patrícios. b) realização de eleições censitárias. c) escolha pública dos Edis e Pretores. d) conquista da participação política pelos plebeus. e) influência da democracia grega na República romana. 17. (COVEST) Roma conquistou povos e enfrentou dificuldades para governar tantas diferenças sociais. Os irmãos Gracos tentaram amenizar as desigualdades existentes, sugerindo reformas no Senado que alterassem a situação agrária. As sugestões e reformas dos irmãos Gracos: a) agradaram aos políticos da época, pois contribuíam para diminuir as tensões sociais e o número de pobres. b) foram mal recebidas pelos grandes proprietários, preocupados em preservar suas riquezas e aumentar seu poder. c) possibilitaram uma ampla reforma social, democratizando a vida em Roma e fortalecendo o Senado com leis mais dinâmicas. d) enfraqueceram as medidas violentas comuns na época, trazendo dias mais estáveis para as decisões políticas em Roma. e) tiveram êxito durante duas décadas, sendo depois canceladas pelos imperadores mais centralizadores.

155 OLHARES HISTÓRICOS Livros A história social de Roma. Géza Alfody. Lisboa: Presença. Roma no apogeu do Império. Jérôme Carpopino. São Paulo, Companhia das Letras. Asterix, o gaulês. Uderzo e Goscinny. São Paulo: Record. Declínio e queda do Império Romano. Edward Gibbon. Edição abreviada. São Paulo: Companhia das Letras. Cinema Gladiador Direção de Ridley Scott. (EUA, min.) Nos dias finais do reinado de Marcus Aurelius, o imperador desperta a ira de seu filho Commodus ao tornar pública sua predileção em deixar o trono para Maximus, o comandante do exército romano. Sedento pelo poder, Commodus mata seu pai, assume a coroa e ordena a morte de Maximus, que consegue fugir antes de ser pego e passa a se esconder sob a identidade de um escravo e gladiador do Império Romano. ASTERIX E OBELIX CONTRA CÉSAR Direção de Claude Zidi. (França min.) A pequena aldeia de Asterix e Obelix é a pedra no sapato do imperador Júlio César: de toda a França, a aldeia gaulesa é o único local que não é controlado pelo Império Romano. O maior problema, segundo os comandantes da legião romana, é a força descomunal dos gauleses, conseguida através de uma poção mágica preparada pelo druida Panoramix. Entretanto, o comandante Detritus tem um plano para derrotar os gauleses: capturar Obelix e o druida Panoramix. Roma (Estados Unidos/Inglaterra, min) A série de TV da HBO apresenta diversas histórias sobre a vida na cidade de Roma em 52 a.c., período de crise e decadência da República. Sites Laboratório de Estudos sobre o Império Romano (LEIR). O laboratório é composto por de várias universidades públicas do Brasil, oferece na página várias fontes escritas do Império Romano, biografia do autor e resumo de textos. Disponível em:

156 As contribuições da Cultura Romana para o Mundo Ocidental É inegável a importância da cultura romana na formação do mundo contemporâneo. Em suas origens, a cultura romana esteve muito ligada aos etruscos. Sob o domínio dos etruscos, a língua latina transformou-se em escrita. Durante o período imperial, os romanos souberam absorver os costumes de vários povos da antiguidade, sendo que a maior influência veio dos gregos. Por isso que alguns historiadores afirmam que, de certa maneira, a cultura romana consiste numa extensão da cultura grega. A sociedade romana tinha uma grande admiração pelas manifestações artística dos gregos. Aqueduto da Carioca, Rio de Janeiro. Entre às variadas contribuições deixadas pelos romanos está a sua magnífica engenharia. Os romanos criaram os aquedutos com a finalidade de conduzir a água. Os aquedutos durante muito tempo serviu de inspiração para os planejamento urbanístico de diversas cidades do mundo. O brilhantismo cultural de Roma se tornou possível graças ao sistema escravocrata que disponibilizava aos cidadãos tempo livre para produção artística. Os romanos destacaram-se nos mais diversificados campos do saber: religião, língua, literatura, prática política, estrutura administrativa, arquitetura e direito. A existência de Roma transformou o mundo. O legado romano penetrou em regiões que os romanos jamais governaram em continentes que eles jamais sonharam alcançar. HADAS, Moses. Roma Imperial. P.166. A Vida cotidiana O significado de cidade, urbs, para a sociedade romana possuía dois sentidos básicos. A urbs simbolizava além de pólo econômico, cultural e administrativo, era também um local para espetáculos populares, tais como corridas de biga, lutas de gladiadores, jogos de dados e apresentações teatrais. Entretanto havia outras maneiras de lazer e de relação social. De manhã em Roma, o Fórum se transformava num pólo de atividades. Nas praças, circulavam muitas pessoas, inclusive prostitutas, com seus trajes coloridos à procura de clientes. No Império Romano, os banheiros públicos se tornaram bastante comuns. Nesse espaço, os cidadãos discutiam os mais variados assuntos, conversavam à vontade, resolviam

157 negócios e cuidavam da sua higiene corporal. Geralmente, as manhãs eram reservadas às mulheres e à tarde aos homens. Os mais ricos seguiam um rígido procedimento que consistia numa massagem com óleo aromatizado e terapia à base de substâncias medicinais para robustecer os músculos. Termas romanas, Inglaterra. As mais antigas termas romanas datam do Século V a.c., em Delos e Olímpia. Nesses locais os cidadãos discutiam os mais variados assuntos, conversavam à vontade, resolviam negócios e cuidavam dos seus corpos. As residências romanas variavam muito em seu tamanho. As camadas populares moravam em pequenos apartamentos em edifícios (insulae) com múltiplos andares (chegavam até seis). Essas construções eram passíveis de incêndios e desabamentos devido às frágeis infraestruturas. Já a aristocracia habitava em casas amplas (domus) que geralmente ficavam no ponto mais elevado da cidade. O domus era muito confortável, pois oferecia água encanada, sistema de esgoto, salas de banhos e requintada decoração nas suas partes internas. Outros pontos interessantes do cotidiano romano dizem respeito à educação. Os filhos das classes ricas aprendiam com seus professores particulares (boa parte deles escravos) a ler e a escrever latim e grego. Além disso, eles adquiriam conhecimentos concernentes à geografia, arquitetura, astronomia, religião e matemática. Restavam as crianças das classes populares dedicarem-se às atividades artesanais e agrícolas. Seguindo as tradições romanas, as mulheres eram orientadas para ser mães e esposas. Elas estavam excluídas dos debates políticos. As mulheres das famílias nobres administravam os escravos e a casa. Somado a isso, restavam-lhes também ensinar a arte de tecer, cozer e fiar às suas filhas. Enquanto isso, as mulheres pobres trabalhavam juntos com seus maridos, chegando a gerenciar seus próprios empreendimentos, no caso de solteira. O matrimônio tornou-se uma das instituições sociais mais valorizadas. A partir de doze ou treze anos as jovens já podiam se casar. Normalmente, os casamentos eram combinados entre as famílias dos nubentes, ou seja, os pais escolhiam os maridos de suas filhas. Outro fato comum entre os romanos era o divórcio. Quando havia a separação legal, o pai da noiva recebia de volta o dote oferecido no momento do casamento. Os filhos do casal permaneciam, normalmente, com os ex-maridos. Religião A tradicional família romana As famílias, em Roma, tinham pelo menos uma notável diferença em relação às gregas, pois existia muito mais igualdade entre os sexos. Não era negado às esposas o direito de ter propriedades, desde que estivessem casadas sob o sistema sine manu, isto é, não submetidos a autoridade manu - total do marido. Além disso, as filhas poderiam dividir com os filhos alguns tipos de herança. (...) O grupo familiar, entretanto, era fortemente hierárquico e patriarcal, dominado pelo homem mais idoso. A casa romana, o domus, espelhava a vida urbana exterior nas relações mais complexas entre os sexos. SENNETT, Richard. Carne e pedra: o corpo e a cidade na civilização ocidental. Rio de Janeiro: Record,

158 A religião tradicional romana apresentava fortes semelhanças com a grega, ou seja, consistia numa religião politeísta, desprovida de dogmas e da crença na recompensa depois da morte. Havia dois tipos de culto: o particular e o público. O culto particular, organizado pelo pater, oferecia homenagens às divindades protetoras das famílias, os deuses lares. Já o culto público era organizado pelo Senado. Em linhas gerais, as práticas religiosas na Roma Antiga caracterizavam-se pela veneração aos antepassados, aos deuses da cidade e à crença nos auspicium (demonstrações das deidades através dos fenômenos da natureza). O Panteão romano constituía-se de doze divindades principais, todos praticamente com as mesmas atribuições dos deuses gregos, modificando apenas as nomenclaturas. Entre as divindades estavam Júpiter (supremo deus), Juno (irmã e esposa), Netuno (deus do mar), Baco (deus das festas, do vinho, do lazer e do prazer), Marte (deus da guerra), Ceres (deus da colheita), Minerva (deusa da sabedoria e do valor), Diana (deusa da lua e da caça), Apolo (deus da beleza e da destruição), Mercúrio (mensageiro e intérprete da vontade dos deuses), Vênus (deusa do amor) e Vesta (deusa dos laços familiares). Na religião romana também era perceptível o senso prático. Os romanos estabeleciam com os deuses uma relação de troca, ou seja, eles só ofereciam homenagens às deidades, se os seus desejos fossem atendidos. Dessa forma, os romanos não se preocupavam com os aspectos éticos. Jesus e o cristianismo O cristianismo trouxe profundas mudanças na vida religiosa entre os romanos. Surgido na Palestina, essa religião baseava-se nos ensinamentos de Jesus. Segundo o Novo Testamento, Ele nasceu em Belém de Judá no governo de Otávio Augusto. Aos trinta anos, iniciou suas peregrinações pelas aldeias e algumas cidades da Palestina. Com um grupo de doze apóstolos, Jesus pregava o amor ao próximo, a prática da humildade e o desapego aos bens materiais. As idéias defendidas por Jesus desagradaram aos sacerdotes judeus e à elite romana. Por isso foi visto por essas autoridades como um rebelde, sendo condenado à crucificação. O trabalho dos apóstolos Pedro, Paulo, João, Mateus e Marcos foram essenciais para a difusão do cristianismo no Império Romano depois da morte de Cristo. À medida que os números de seguidores cristãos iam aumentando, as autoridades romanas iniciavam uma rígida perseguição. As principais razões dessas perseguições foram à rejeição dos cultos aos deuses romanos, aos imperadores e à crença em um Deus único e universal. O Sermão da Montanha E JESUS, vendo a multidão, subiu a um monte, e, assentando-se, aproximaram-se dele os seus discípulos; E, abrindo a sua boca, os ensinava, dizendo: Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus; Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados; Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra; Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos; Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia; Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus; Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus; Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus; Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós. Texto extraído da Bíblia Sagrada.

159 O Sermão da Montanha (1890), pintura de Carl Heinrich Bloch. Com um grupo de doze apóstolos, Jesus pregava o amor ao próximo, a prática da humildade e o desapego aos bens materiais. Por muito tempo os cristãos foram perseguidos até que em 313, o imperador Constantino concebeu a liberdade de culto a eles por intermédio do Edito de Milão. Em 391, Teodósio publicou o Edito de Tessalônica que transformou o cristianismo a religião oficial do Império. Língua e Literatura Um outro legado importante dos romanos foi a língua latina. Durante a Idade Média, surgiram as línguas neolatinas: o português, o catalão, o espanhol, o romeno e o italiano. No campo da literatura, a princípio, os romanos escreveram comédias e tragédias semelhantes aos dos gregos. Entretanto, por volta do século I d.c surge uma literatura tipicamente latina. Os principais gêneros literários desenvolvidos foram a sátira, a história, os tratados filosóficos e as cartas. A literatura romana caracteriza-se pelo uso de rifão, ou seja, frases sucintas conhecidas também como ditados populares. Observe alguns exemplos: O Amor tudo vence ; De pernas para o ar ; Ninguém sabe antes de experimentar. AUTORES Plauto ( a.c) Terêncio (185?-159 a.c?) Cícero ( a.c) Lucrécio (99-55 a.c) Catulo (84-54 a.c) Júlio César OBRAS Esse dramaturgo, inspirado na produção grega, escreveu vinte e uma peças. As mais importantes obras foram: Mercador, Miles Gloriosus ou O soldado fanfarrão, Aulularia e Curculio. Poeta e dramaturgo escreveu Andria e Phormio. Político, orador e filósofo ficou famoso pelos seus excelentes discursos, tais como Filípicas, Catilinárias e Saber envelhecer.além disso produziu tratado filosóficos, cartas, diversas orações e tratados de retóricas. Poeta e filósofo epicurista escreveu Sobre a natureza das coisas. Nesta obra lança as primeiras idéias fundamentais apra a microbilogia. Poeta conhecido pelo uso da linguagem coloquial e improviso na sintaxe. Além de estadista, foi historiador e escritor, se tornando um dos ícones

160 ( a.c) da língua latina. Suas principais obras foram De Bello Galico e De Bello Civili. Virgílio Considerado o maior expoente da poesia latina. È autor do clássico (70-19 a.c) Eneida. Horácio Poeta lírico e satírico. Tornou-se famoso pelas suas Odes. (65-8 a.c) Ovídeo Autor da obra A arte de amar. Os versos suaves e harmônicos de (43-17 a.c) Ovídeo influenciou Dante Alighieri e William Shakespeare. Tito Lívio Historiador e autor da obras Ab Urbe Condita "Desde a fundação da (59-17 a.c) cidade" e História de Roma. Além desses escritores, pode-se ainda destacar Petrônio e Apuleio na prosa; Sêneca, na tragédia e na filosofa; Pérsio Juvenal e Marcial na poesia; Plínio, o Velho, pensamentos científicos referentes ao seu tempo; e Tácito e Suetônio, na área de história. Até quando, enfim, ó Catilina, abusarás da nossa paciência? Por quanto tempo ainda esse teu rancor mos enganará? Até que ponto a (tua) audácia desenfreada se gabará (de nós)? (Quousque tandem abutere, Catilina, patientia nostra? Quamdiu etiam furor iste tuus nos eludet? quem ad fnem sese effrenata jactabit audacia?). Cícero, Primeira oratória de Cícero contra Catilina (Oratio Prima (Habita in Senatu) - 8/11/63 a.c.). Exórdio. Cícero censura a vergonhosa audácia de Catilina. O calendário Juliano Outra contribuição relevante para o mundo ocidental relaciona-se à contagem do tempo. Em 46 a.c., Júlio César, orientado pelo astrônomo Sosígenes, estabelece um calendário formado por 12 meses, correspondentes a 365 dias e 6 horas. Os meses eram constituídos de 30 dias, existindo também intercalações de meses com 31 dias (a exemplo do nosso calendário). A cada quatro anos havia o ano bissexto, ou seja, um ano com 366 dias. Em 24 de fevereiro de 1582, o Calendário Juliano é substituído pelo Calendário gregoriano. O responsável por essa modificação foi o papa Gregório XIII e aceito pelos países ocidentais. Arquitetura No campo da arquitetura os romanos foram bastante originais. Seus arquitetos desenvolveram várias técnicas de construções, tais como o uso das abóbadas e tetos côncavos. Os romanos construíram estradas, sistema de esgotos, pontes, represas, aquedutos, teatros, anfiteatros e templos religiosos. Forum Romano.

161 O planejamento urbanístico foi uma outra área do conhecimento em que os romanos se destacaram. As construções de termas públicas, jardins, os arcos do triunfo e os obeliscos são outros exemplos de beleza e magnitude deixados pelos exímios arquitetos e engenheiros romanos. Escultura e Pintura A escultura é fortemente influenciada pelos estilos etrusco e grego. Os escultores romanos eram práticos e realistas. As obras romanas apresentam muita fidelidade com as pessoas retratadas. Semelhante aos gregos, os romanos também valorizaram o senso de beleza e perfeição. A intenção dos artistas romanos era reproduzir esculturas de fácil interpretação. A pintura romana contém uma diversidade temática: animais, a vida cotidiana e atividades domésticas. Seguindo os estilos helenísticos, os pintores romanos fazem alusão aos prazeres do bucolismo, representando em suas obras cenas de rebanhos, paisagens da natureza e casas campestres. A grande novidade implantada pelos artistas romanos foi o uso de paisagens sob a ótica de profundidade e de perspectiva, técnica que os gregos não desenvolveram. Estátua de Diana no Museu do Louvre. Semelhante aos gregos, os romanos também valorizaram o senso de beleza e perfeição. O direito romano O maior legado deixado pelos romanos para a civilização contemporânea foi, sem dúvida alguma, o Direito. A necessidade de administrar um imenso império e de solucionar múltiplas questões que surgiam cotidianamente fez com que os romanos criassem um conjunto de leis para organizar a vida social e para resolver os conflitos. A rigor, o Direito romano tem seu início com a Lei das Doze Tábuas, uma vez que ela já fazia distinção entre o público e o privado. Entretanto, a primeira sistematização das leis romanas remonta o governo de Augusto. Nessa época, grandes juristas como Gaio, Ulpiano, Papiniano, Paulo Cícero, deram contribuições decisivas para o desenvolvimento das práticas jurídicas. O direito romano possuía três divisões básicas. O Jus civile ou Quiritium era aplicado apenas aos cidadãos da cidade Roma. O Jus gentium representava as leis e normas que eram válidas para todos os habitantes do Império. Já o Jus naturale consistia numa filosofia estruturada nos princípios universais de justiça que pregava a liberdade de expressão e a proteção de todos os indivíduos. Ninguém é forçado a defender uma causa contra a própria vontade. Ninguém sofrerá penalidade pelo que pensa. (...) Nada que não se permita ao acusado deve ser permitido ao acusador. O encargo da prova fica com aquele que afirma, e não com o que nega. (...) N aplicação de penalidade, devem ser levadas em conta a idade e a inexperiência da parte culpada. HADAS, Moses. Roma Imperial. P.166.

162 TEXTO COMPLEMENTAR Lula sanciona lei que aumenta penas por agressão à mulher O Brasil triplicou a pena para agressões domésticas contra mulheres e aumentou os mecanismos de proteção das vítimas. A Lei de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher (Lei Maria da Penha), sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, aumentou de um para três anos o tempo máximo de prisão o mínimo foi reduzido de seis meses para três meses. A nova lei altera o Código Penal e permite que agressores sejam presos em flagrante ou tenham a prisão preventiva decretada. Também acaba com as penas pecuniárias, aquelas em que o réu é condenado a pagar cestas básicas ou multas. Altera ainda a Lei de Execuções Penais para permitir que o juiz determine o comparecimento obrigatório do agressor a programas de recuperação e reeducação. A lei também traz medidas para proteger a mulher agredida, que está em situação de agressão ou corre risco de vida. Entre elas, a saída do agressor de casa, a proteção dos filhos e o direito de a mulher reaver seus bens e cancelar procurações feitas em nome do agressor. A violência psicológica passa a ser caracterizada também como violência doméstica. A mulher poderá também ficar seis meses afastada do trabalho sem perder o emprego se for constatada a necessidade de manutenção de sua integridade física ou psicológica. Será criado também um juizado especial de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher para dar mais agilidade aos processos. O Brasil passa a ser o 18º da América latina a contar com uma lei específica para os casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, que fica assim definida: qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial. O texto define as formas de violência vividas por mulheres no cotidiano: física, psicológica, sexual, patrimonial e moral. Fonte: Agência Brasil, 07/08/06. Disponível em Acesso em 28 de janeiro de Analisando o texto 1. Faça um comentário sobre o tema abordado no texto. 2. Você acha a Lei Maria da Penha justa? Justifique. 3. Qual a sua opinião sobre a necessidade de se criar com a finalidade de regulamentar as relações sociais? Cite exemplos.

163 FAZENDO HISTÓRIA 1. Escreva um pequeno texto relatando o cotidiano na Roma Antiga. 2. Aponte as principais características da religião romana. 3. Observe a letra da música Herói dos Heróis da Banda Gospel Novo Som. Uma missão coroada de paz alicerçada nas mãos do supremo criador. no coração exalava o amor incompreendido na terra, a estrela da manhã Mesmo sofrendo ele não reclamou. olhou pro céu e pediu pela humanidade naquela cruz o Herói dos heróis venceu a morte e levou ou!ou! sobre si os meus pecados. Ele deixou sua glória no céu, veio revelar a luz do sol da justiça. Ele ensinou a verdade e o amor, provou do beijo da morte, se entregou em meu lugar. Identifique na canção três princípios basilares pregados por Jesus Cristo que trouxeram forte impacto ético para o Império Romano. 4. Faça um comentário sobre os principais escritores romanos. 5. Algumas palavras em espanhol, italiano e português apresentam, foneticamente, relativa semelhança. Por exemplo: verdade (português); verità (italiano) e verdad (espanhol). Justifique por que isso acontece. 6. Comente sobre a arquitetura, escultura e pintura romana. 7. (FUVEST) Indique e comente quatro elementos da Antiguidade greco-romana presentes ainda hoje no mundo ocidental. Fragmento 01 Somos servos da lei para podermos ser livres (Cícero) Fragmento 02 Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. Artigo 5º da Constituição Federal Há semelhanças entre os princípios do direito romano com os apresentados no Fragmento 02? Justifique. 8. Faça um quadro sintético das principais contribuições deixadas pelos romanos para o mundo atual. 9. Pesquise na sua cidade se há elementos (arquitetura, escultura, traçados urbanos) desenvolvidos pelos romanos.

164 QUESTÕES DE VESTIBULARES 1. (COVEST) A sociedade humana realiza feitos, fabrica instrumentos, estabelece regras, organiza grupos de convivência. Na política, essas ações são importantes e permitem mudanças de comportamentos. Analisando as experiências políticas dos povos da Antiguidade, podemos afirmar que: a) o autoritarismo foi predominante, com ressalva para a sociedade grega, onde a democracia se fez presente de forma ampla. b) as monarquias vitalícias permitiram a centralização de poder apenas na Antiguidade Oriental. c) as religiões, com seu poder e a atuação de seus sacerdotes, foram decisivas para resolver certas questões. d) os governantes procuraram socializar as riquezas sociais, com destaque para o estabelecimento da República em Roma. e) as Assembleias Populares garantiram a ampliação das relações democráticas, em Atenas e em Esparta. 2. (UESPI/COVEST) A preocupação romana, com as guerras e a manutenção do império, não evitou que a religião tivesse grande importância na vida cotidiana. Nas suas crenças religiosas, os romanos: a) evitaram o politeísmo, seguindo os ensinamentos do cristianismo. b) fugiram de divindades e de princípios religiosos que lembravam a falta de ética. c) imitaram os gregos em muitos princípios e na aceitação das divindades. d) desprezavam os cultos familiares, considerados supersticiosos e vazios. e) tinham, inicialmente, uma religião ética e politeísta, com rituais rígidos. 3. (UFCG) Durante a Roma Imperial, os cidadãos que moravam na cidade de Roma viviam em condições urbano-sanitárias bastante precárias. Todavia, morar na cidade era um dos primeiros requisitos para demonstrar a sua civitas (sua condição de cidadão). Era o primeiro passo para ser considerado cidadão ou encontrar uma forma de adquirir a tão sonhada liberdade. Sobre a vida cotidiana durante o período imperial romano é INCORRETO afirmar que: a) Os banhos públicos não eram uma prática de higiene, mas um prazer recusado pelos cristãos que só se banhavam uma ou duas vezes por mês. b) Os romanos são, de alguma forma, clientes uns dos outros e têm como obrigação saudar os seus patrões todos os dias pela manhã, conferindo-lhe honorabilidade, que para o romano é um símbolo de riqueza e poder. c) O serviço de abastecimento de água em Roma surgiu no século 11 a.c, acompanhado por uma vasta rede de esgotos que despejava água servida no rio Tibre, servindo indistintamente tanto a ricos quanto a pobres. d) A cena (ceia), principal refeição do dia, era feita a partir das 21 horas, quando os cidadãos ricos se recolhiam às suas residências, acompanhados de escravos que, carregando tochas, iluminavam as perigosas ruas romanas. e) A habitação era uma realidade para o romano médio. Não há sem-tetos e todos aqueles que não possuiam uma casa podem se instalar num albergue público, financiado pelo Estado romano. 4. (UPE) A cultura foi um dos principais legados da Civilização Romana para a história ocidental. Sobre a cultura romana antiga, é incorreto afirmar que a) no teatro, a comédia foi o gênero mais privilegiado em Roma, destacando-se Plauto e Terêncio. b) a poesia lírica alcançou seu apogeu a partir do século VI a. C., destacando-se especialmente os poetas Anacreonte e Píndaro. c) na filosofia, adotou a idéia de que os homens deviam se libertar do medo dos deuses e da morte, segundo a filosofia epicurista grega.

165 d) na historiografia, foi responsável por uma série de narrações históricas, dentre elas os comentários sobre as Guerras das Gálias de Júlio César. e) em termos jurídicos, a mulher não podia ser julgada pelos tribunais públicos, competindo ao pater famílias exercer o direito de justiça. 5. (COVEST) A importância do Direito Romano é marcante na cultura ocidental. Dividido em vários campos, entre eles, o jus gentium, que: a) ajudava a solução de questões administrativas, atingia os estrangeiros, independentemente de sua nacionalidade. b) reunia os princípios filosóficos do Direito, garantindo uma teoria segura para a ação política. c) defendia apenas os deveres administrativos dos cidadãos romanos, evitando a troca de nacionalidade. d) era a base da administração da cidade de Roma, não se importando com os habitantes das outras cidades. e) se fundamentava em princípios da filosofia estóica, pois defendia a igualdade social e jurídica. 6. (UFAC) Em relação ao colapso do Império Romano do Ocidente, assinale a alternativa verdadeira: a) A causa principal da dissolução do Império Romano ocorreu quando as cidades do ocidente romano tornaram-se centros econômicos do império em florescente processo de urbanização. b) O Império Romano entrou em colapso, a partir do século III, quando Constantino resolveu não mais conceder liberdade de culto aos cristãos. c) A desintegração do Império Romano, no século V, foi provocado pela crise do escravismo, pelo colapso econômico e pelas chamadas invasões bárbaras. d) A desintegração do Império Romano teve como causa principal a divisão do império em Império Romano do Ocidente e Império Romano do Oriente. e) O Império Romano do Ocidente teve uma duração maior do que a existência do Império do Oriente. 7. (COVEST) As culturas ocidentais e orientais são invenções humanas que respondem, historicamente, a suas questões e a seus desejos. As religiões, desde os primeiros tempos da cultura, são nesse sentido: a) lugares onde a imaginação não tem espaço, mas, sim, a crença e a fé, em entidades consideradas superiores. b) formas de compreender o que acontece na trajetória histórica da humanidade, afirmando muitos dos seus medos. c) criações humanas, independentes das relações sociais, sem ligações com o poder político existente. d) espaços de construção de idéias importantes, onde a razão não possui nenhum significado histórico. e) instituições sociais sem significado para a organização econômica da sociedade, ligadas apenas à fé em deuses. 8. (COVEST) Em uma casa romana aristocrática, habitada pelo pai da família, sua mulher, esposa em justas bodas, filhos, filhas, escravos e ex-escravos libertos, cada um tinha seu papel definido. Sobre os costumes das filhas de uma família aristocrática romana, é correto afirmar que: a) a jovem herdava o orgulho do pai, acrescido da fortuna que lhe cabia, a qual geralmente não era transmitida ao marido. b) em geral, as filhas de um nobre romano não tinham direitos iguais aos filhos homens que herdavam mais bens patrimoniais. c) cabia às filhas da nobreza romana apenas a clientela pertencente à sua estirpe. d) em caso de morte dos pais, as jovens aristocráticas solteiras não poderiam comandar uma casa romana; elas só mantinham suas posições de poder através de casamentos. e) ligações amorosas ou casamentos com viúvas da aristocracia romana eram proibidos pela legislação romana, fundamentada no pátrio poder.

166 9. (UPE) Analise as alternativas abaixo e assinale aquela que não está relacionada à religião romana. a) A religião romana era um dos fundamentos do Estado, sendo utilizada com finalidade política. b) Havia dois tipos principais de culto: o privado, celebrado pelo chefe da família (pater famílias) e o público, celebrado pelos sacerdotes romanos, com a supervisão dos magistrados. c) Era uma religião dualista e escatológica, apresentando deuses antropozoomórficos. d) A religião romana não tinha doutrina ou dogmas. Entre os deuses e os seres humanos, estabelecia-se um único compromisso: aqueles davam proteção, e estes retribuíam com oferendas. e) A religião romana era uma adaptação da religião da elite grega. Os romanos mudaram os nomes de divindades gregas e adaptaram seu caráter de acordo com o modo de vida romano. 10.(UPE) Sobre a cultura romana, assinale a alternativa incorreta. a) A escultura romana procurava reproduzir, de modo realista, fisionomia dos indivíduos retratados, sobretudo, dos grandes personagens públicos. b) A arquitetura é o grande destaque da arte romana, justamente porque busca a convivência do útil com o belo. c) Por terem assimilado a literatura e a filosofia grega, os romanos não desenvolveram estilo literário. d) Nas construções, destacavam-se os arcos, as abóbadas e as cúpulas por seu aspecto monumental. e) A língua latina constitui uma das mais importantes permanências culturais da Roma antiga entre os povos ocidentais. 11.(UPE) "Em geral diz-se que os romanos eram um povo prático e tecnológico, não muito dado à especulação intelectual; quanto ao pensamento abstrato, eles se voltavam aos gregos em busca de inspiração". A afirmativa anterior feita por Colin Ronan (História Ilustrada da Ciência, vol. II): a) é desmentida pelos feitos romanos na arquitetura e na matemática, onde se destacam Plínio e Cícero. b) constata uma realidade histórica geralmente confirmada pelos historiadores. c) não procede, pois os romanos foram destacados na filosofia e no direito. d) estaria correta se negasse a influência que os gregos tiveram na cultura romana. e) é bastante incompleta, pois Cícero, pensador romano, é considerado o grande filósofo da Antigüidade. 12.(UPE) A cultura foi um dos principais legados da Civilização Romana para a história ocidental. Sobre a cultura romana antiga, é incorreto afirmar que a) no teatro, a comédia foi o gênero mais privilegiado em Roma, destacando-se Plauto e Terêncio. b) a poesia lírica alcançou seu apogeu a partir do século VI a. C., destacando-se especialmente os poetas Anacreonte e Píndaro. c) na filosofia, adotou a idéia de que os homens deviam se libertar do medo dos deuses e da morte, segundo a filosofia epicurista grega. d) na historiografia, foi responsável por uma série de narrações históricas, dentre elas os comentários sobre as Guerras das Gálias de Júlio César. e) em termos jurídicos, a mulher não podia ser julgada pelos tribunais públicos, competindo ao pater famílias exercer o direito de justiça.

167 OLHARES HISTÓRICOS Livros História da Vida Privada: do Império Romano ao ano mil. Philippe Ariès e Georges Duby (orgs.). São Paulo: Companhia das Letras. Jesus, o maior psicólogo que já existiu. Mark Baker. São Paulo: Sextante. A cidade antiga. Fustel Coulanges. Tradução de Frederico Ozanam. São Paulo: Revista dos Tribunais. Contos e lendas do nascimento de Roma. François Sautereau. Companhia das Letras. Império e família em Roma. Pedro Paulo Funari. Atual. História de Roma. M. Rostovtezeff. Zahar. Cinema A Paixão de Cristo Direção de Mel Gibson. EUA, min.as últimas 12 horas da vida de Jesus de Nazaré. No meio da noite Jesus é traído por Judas e é preso por soldados no Monte das Oliveiras, sob o comando de religiosos hebreus liderados por Caifás. Após ser severamente espancado pelos seus captores, Jesus é entregue para o governador romano na Judéia, Pôncio Pilatos, pois só ele poderia ordenar a pena de morte para Jesus. Sites Panteão romano Site em italiano que disponibiliza diversas informações sobre Roma Antiga, tais como: mapas, galeria de imagens e os principais pontos turísticos de italiano. O portal ainda oferece um seção para o internauta fazer um a viagem virtual na Roma Clássica. Disponível em:

168 CAPÍTULO 13 O feudalismo, 179 CAPÍTULO 14 Surgimento e expansão dos Impérios Bizantino e Islâmico, 203 Colheita feita pelos servos. Eles eram indissociáveis da terra. As relações de poder ao longo da História mostraram muitas flexibilidades e intensas junções. No período medieval, havia uma forte ligação entre o poder espiritual e o poder temporal. A Igreja Católica tornou-se a principal instituição. Ela ditava as normas de controle sociais e monopolizava o saber. Desse modo, a sociedade, a economia e política eram influenciadas pelas concepções do clero. Na imagem, servos trabalham num feudo. Segundo a Igreja Católica, a ordem social era uma escolha de Deus: os que oram (clero), os que lutam (os senhores feudais) e os que trabalham (servos).

169 O Feudalismo A Idade Média corresponde a um período que se estende do século V ao XV. Didaticamente, divide-se essa etapa da história da humanidade em dois momentos distintos: a alta Idade Média (V XI) corresponde à formação e desenvolvimento do feudalismo na Europa Ocidental além do surgimento e expansão das culturas Bizantina e Islâmica no Oriente; já a Baixa Idade Média (XI-XV) caracteriza-se pela falência das instituições feudais e pelas transformações no âmbito político, econômico, social e cultural. O Presidente Lula cumprimenta o Papa Bento XVI (Brasil, 2007). Na Idade Média a Igreja teve papel fundamental na formação do Feudalismo. O elo entre o poder temporal e espiritual, desde o período medieval, vem contribuindo para o fortalecimento da Igreja Católica. Por muito tempo, o mundo medieval ficou conhecido como Idade das Trevas. Devido ao estabelecimento de várias instituições subordinadas à Igreja Católica, no século XVI, alguns intelectuais propuseram tal conceito. Segundo os renascentistas, o medievo foi marcado por um atraso cultural, artístico e filosófico, se comparado à Antiguidade Clássica. No século XVIII, esse pensamento foi ratificado pelos iluministas. De acordo com eles, a Idade Média simbolizava um momento sombrio, de ignorância e de terror, onde a população era subjugada aos interesses religiosos. No entanto, essa concepção pejorativa é rejeitada por boa parte de historiadores. Buscando combater uma visão preconceituosa da Idade Média, surgiram diversos estudiosos que contribuíram para a construção de um novo olhar sobre o período. Essa inovadora perspectiva valoriza os avanços tecnológicos, os progressos da cartografia, o aperfeiçoamento das técnicas de navegação e o desenvolvimento cultural da época. Uma nova concepção sobre a Idade Média Homem de ofício, intelectual tem consciência da profissão que tem de assumir. Reconhece a ligação necessária entre ciência e ensino. Já não pensa que a ciência deve ser entousorada, antes está persuadido de que deve ser posta em circulação. As escolas são oficinas donde se exportam idéias como mercadorias. No trabalho urbano o professor aproxima, num mesmo movimento produtor, o artesão e o mercador. (...) A estes artesãos do espírito, empenhados no desenvolvimento urbano do século XII, nada mais resta senão organizarem-se no seio do grande movimento corporativo, coroado pelo movimento comunal. Estas corporações de mestres e estudantes serão, no sentido estrito da palavra, as universidades. Será essa a obra do século XIII. LE GOFF, Jacques. Os intelectuais da Idade Média. Lisboa: Editorial Estúdios Cor. P

170 A formação da Europa Ocidental Com o declínio do Império Romano, os grupos étnicos germânicos começaram a se instalar nas terras romanas. Esses povos ocupavam os territórios do Rio Reno até a parte meridional da Escadinávia. Os povos germânicos eram nômades e praticavam a agricultura e o pastoreio. A propriedade era coletiva sendo os rebanhos entregues aos mais destacados guerreiros da comunidade. No período de conflitos elegia-se um líder para dirigir o grupo. Entretanto, a aproximação dos germânicos com os romanos contribuiu para a dissolução rápida das comunidades primitivas bárbaras. Vale comentar que os romanos designavam com esse nome todos os povos que não falavam latim e que não conheciam os seus costumes. Basicamente, dois fatores ajudaram a desintegração do sistema comunitário germânico. A princípio, após os contatos com os romanos, desencadeou-se um processo de distinções sociais entre os integrantes da tribo. Além disso, os chefes começaram a se apropriar das terras da comunidade. Mediante a essas mudanças, instalou-se um seleto grupo que lutava para ampliar suas posses. Esse acontecimento contribuiu para o surgimento de uma nobreza, que não praticava mais atividades campesinas, mantendo-se com a mão-de-obra servil e escrava. Assim, formou-se uma categoria social privilegiada detentora de escravos e guerreiros que vez mais longe dos interesses sociais da comunidade. Segundo alguns historiadores, os romanos participaram diretamente dessas mudanças, uma vez que instigavam as disputas entre os germânicos. Ao incentivar essas disputas, os romanos esperavam fragilizar os germanos, facilitando, assim, o controle imperial sobre eles. Em suma, da fusão dos costumes germânicos e da sociedade romana originou-se um sistema econômico, político, social e ideológico denominado de Feudalismo. As principais correntes migratórias que cruzaram as fronteiras do Império Romano, por volta do século IV, foram os ostrogodos, visigodos, vândalos, anglos, lombardos, francos e suevos. Vindo da Mongólia, os Hunos levaram terror para a população. Alguns historiadores chegaram a compará-los a animais silvestres. As entradas dos hunos e dos demais conjuntos de bárbaros em regiões romanas do Ocidente e do Oriente possibilitaram a ocorrência de transformações no dia-dia da sociedade. Essas incursões propiciaram uma crise mais agravante no Ocidente, haja vista que os camponeses e habitantes da zona urbana pobres não tiveram como resistir à força dos invasores. A debilidade política nos grandes centros urbanos acelerou o processo de ruralização que já estava em curso desde a crise do século III, iniciada pelo estabelecimento do colonato no governo de Diocleciano. A descentralização política e a ruralização constituíram em ingredientes fundamentais para a constituição dos reinos bárbaros, reforçando, assim, o desenvolvimento das

171 instituições típicas do mundo medieval. Nesse período, o direito romano foi substituído pelas concepções jurídicas dos bárbaras e as línguas passaram por mudanças significativas. A formação dos reinos bárbaros O Reino dos Francos Por volta do século V, a etnia dos francos estava fragmentada em diversas tribos, as quais foram unidas por Clóvis no ano de 481. Ele as estruturou e delimitou as regiões limítrofes do reino. Por isso tornou-se o primeiro rei dos francos, dando início à Dinastia Merovíngia (referência ao rei Meroveu que governou entre 448 e 457). O antigo Estado romano foi substituído, a partir do século V, por reinos bárbaros de estruturas diversas e frágeis se comparadas às romanas. Entretanto, as próprias necessidades da guerra e da conquista de terras levam ao fortalecimento dos laços que uniam o chefe do bando armado com seu próprio povo. A base deste novo Estado é um juramento de fidelidade pessoal entre o chefe e seus companheiros de guerra, o que é um fato novo. (...) A fidelidade é um problema pessoal, de homem a homem. Assim, o rei manterá relações de fidelidade com cada um de seus grandes nobres.(...) Para os reis bárbaros, o reino é compreendido como uma posse que pode ser partilhada ou concedida quando o rei deseja retribuir um serviço ou dar condições para que um servidor se sustente. SILVA, Francisco Carlos. T. da. Sociedade Feudal: Guerreiros, Sacerdotes e Trabalhadores. São Paulo: Brasiliense, p Segundo alguns historiadores, os acontecimentos que consolidaram o poder de Clóvis foram a conversão ao cristianismo dos francos e a instituição de uma aliança sólida com a Igreja Católica. Com a morte de Clóvis, o reino dos francos foi dividido entre os seus filhos que não tiveram a mesma habilidade política do seu pai, levando, desse modo, ao enfraquecimento do poder real. Por isso que em 732, o prefeito do palácio, Carlos Martel, após derrotar os árabes na batalha dos Poitiers, conseguiu centralizar o poder. Império Carolíngeo Após o seu falecimento, Pepino, o breve, se torna rei, passando a relacionar-se com a Igreja Católica. No seu governo, determinou-se o pagamento do dízimo e a doação de grandes quantidades de terras à Igreja, o que possibilitou a criação do Estado Pontifício. No ano de 751, Pepino destrona Childerico III, último rei da dinastia merovíngia, dando início a uma nova sucessão monárquica. Carlos Magno ( ) sucede o seu pai Pepino, o Breve. Carlos conseguiu vencer os lombardos e os saxões, obrigando-os a converter-se à religião cristã. Nesse sentido, o reino franco tornou-se o mais impetuoso do ocidente. Carlos Magno tornou-se um exímio aliado dos pontífces, unindo, assim, o poder espiritual e o temporal. A coroação, na cidade de Roma, feita em 800 pelo Papa Leão III representou a hegemonia do poder do rei franco. Esse evento marcou a fundação do Sacro Império Romano Germânico. Carlos Magno, procurando centralizar e fortalecer o seu império, pôs em prática uma política de incentivo cultural, conhecida como Renascimento Carolíngio. A reforma educacional foi elaborada pelo monge inglês Alcuíno. Esse projeto objetivava desenvolver nas escolas um saber clássico estabelecendo os conteúdos programáticos calcados nas sete artes liberais: o trivium, ou ensino literário (retórica, dialética e gramática) e o quadrivium, ou ensino científco (geometria, aritmética, música e astronomia). No ano de 787, foram emitidos decretos que instruíam, em todo o império, o restabelecimento de antigas escolas e a criação de novas. Institucionalmente, as escolas eram divididas em duas categorias: as monacais (sob os cuidados dos mosteiros); as catedrais (localizadas próximas à sede dos bispados); e palatinas (junto às cortes). Após a morte de Carlo Magno, em 814, seu filho, Luís, o Piedoso, tentou trazer estabilidade para o império. No entanto, a situação estava incontornável, numa sociedade cada vez mais marcada pela descentralização e ruralização. A economia fraca devido à

172 escassez de moedas, provocando o não pagamento dos salários aos funcionários e aos soldados. A variedade de povos sob o domínio carolíngio e as novas ondas de invasões bárbaras nos século IX e X e as disputas internas pelo poder levou o Império para uma crise sem precedentes. A situação ficou pior depois da morte de Luís, em 840, quando o território franco foi partilhado entre os seus três filhos por intermédio do Tratado de Verdun, emanado em 843. A Feudalidade Europeia As novas ondas migratórias (vikings, mouros, magiares) que atingiram a Europa Ocidental, nos séculos IX e X, aceleraram o processo de descentralização política. Nesse cenário, a nobreza passou a ter um maior controle sobre as propriedades. Enquanto, os trabalhadores livres e os camponeses tornaram-se obedientes às ordens dos nobres de cada região. O aumento da mão de obra servil contribuiu para o desencadeamento das relações de dependência e fidelidade entre os aristocráticos. Tal fenômeno tornou-se uma das principais características do chamado Feudalismo que se estruturou e atingiu seu ápice, basicamente, na Europa Ocidental no século IX. Há diversos conceitos sobre feudalismo. Nessa obra, trataremos o feudalismo como o resultado de uma síntese equilibrada entre as instituições romanas em derrocadas e a sociedade germânica em desenvolvimento. Devido às crises da mão de obra escravas dos séculos III e IV no Império Romano, os nobres abandonaram a cidade com destino às grandes propriedades rurais (Villae). Nesses locais eram explorados os coloni. Os coloni eram formados por ex-escravos e por camponeses dependentes dos senhores de terra. Juridicamente eles tinham liberdade, entretanto, não saim da propriedade. Entre as principais contribuições germânicas, podem ser citadas o comitatus e o beneficium. O comitatus estabelecia os laços de fidelidade mútua entre os chefes militares e os guerreiros. Essa aliança baseava-se em trocas de obrigações tanto em sérvios quanto em obrigações. Esse princípio de fidelidade originou as relações vassálicas, típicas do feudalismo. Outra prática germânica que fomentou o sistema feudal foi o beneficum, que significava a concessão do uso da propriedade em troca de tributos e serviços. O que é feudalismo Um sistema de organização econômica, social e política baseado nos vínculos de homem a homem, no qual uma classe de guerreiros especializados os senhores -, subordinados uns aos outros por uma hierarquia de vínculos de dependência, domina uma massa campesina que explora a terra e lhes fornece com que viver. LE GOFF, Jacques. Para um novo conceito de Idade Média. Lisboa: Estampa, Em linhas gerais, o feudalismo consistiu num sistema tipicamente europeu, cujas características principais foram: Relações sociais predominantes: suserania e vassalagem; senhores e servos. Economia agrária, pastoril, subsistência ou auto-suficiente; Fragmentação política caracterizada pelo poder local ou regional monopolizado pelos senhores feudais; Sociedade estamental ou fortemente hierarquizada; As relações de dependência pessoal entre o suserano e vassalo tinha por finalidade garantir aos nobres a ampliação das forças militares e das riquezas territoriais. O suserano recebia o apoio bélico dos vassalos. Em trocas, estes, ganhavam os benefícios, que poderia ser um feudo (lote de terras), uma quantia anual, uma armadura de cavaleiro ou a concessão de cobrança das obrigações aos camponeses (ban). A cerimônia de homenagem ratificava de forma solene, o acordo de lealdade e fidelidade incondicional entre eles.

173 Politicamente, o feudalismo foi caracterizado pela descentralização e vulnerabilidade do poder do Estado. A autoridade na época feudal era local, ou seja, cada senhor possuía em suas propriedades plenos poderes. È importante lembrar que o rei ainda existia, no entanto, sua influência política era diminuta. Desse modo, essa fragmentação política contribuia para o fortalecimento dos poderes locais e para reforço das relações pessoais de vassalagem. Esse acontecimento provocou um encadeamento de relações de suserania e vassalagem entre os nobres, resultando de forma inusitada, no sistema de dependência onde boa parte dos nobres era simultaneamente suserano de uns e vassalo dos outros A sociedade feudal A cerimônia de suserania e vassalagem Eis dois homens frente a frente: um que quer servir; o outro que aceita, ou deseja ser chefe. O primeiro une as mãos e, assim juntas, coloca-as nas mãos do segundo: claro símbolo de submissão, cujo sentido, por vezes, era acentuado pela genuflexão. Ao mesmo tempo, a personagem que oferece as mãos pronuncia algumas palavras, muito breves, pelas quais se reconhece o homem de quem está na sua frente. Depois, chefe e subordinado beijam-se na boca: símbolo de acordo e amizade. Eram estes (...) os gestos que serviam para estabelecer um dos vínculos mais fortes que a época feudal conheceu. BLOCH, Marc. A Sociedade Feudal. A sociedade feudal caracterizava-se por uma rígida estratificação, ou seja, raramente havia mobilidade social. A posição social era determinada pela riqueza do indivíduo, pelo nascimento. A sociedade era constituída, basicamente, de três ordens: clero (oratores), nobreza (bellatores) e camponeses/servos (laboratores). Essa estrutura social seguia a vontade de divina. (...) Deus tinha distribuído tarefas específicas a cada homem; uns deviam orar pela salvação de todos (clero), outros deviam lutar para proteger o povo (nobreza); cabia aos membros do terceiro estado (servos), de longe o mais numeroso, alimentar, com seu trabalho, os homens de religião e da guerra. Este padrão, que rapidamente marcou a consciência coletiva, apresentava uma forma simples e em conformidade com o plano divino e assim sancionava a desigualdade social e todas as formas de exploração econômica (...). DUBY, Georges. As três ordens ou o imaginário do feudalismo. Lisboa: Estampa, Cada um desses três grupos sociais fixos possuía suas atribuições. Cabia ao clero, segundo a vontade de Deus, rezar pela salvação de todos. Já aos nobres ou aristocratas sua função consistia em lutar para proteger a sociedade de quaisquer perigos. Por último, restavam aos camponeses trabalhar arduamente para produzir o necessário e manter todos os componentes da sociedade. Cada um desses grupos sociais se subdividia em diversas outras camadas endógenas. Existiam vários tipos de trabalhadores na Idade Média Ocidental: os alódios (minifundiários que cultivavam em seus lotes); os vilões (antigo donos de terras que habitavam as vilas); os escravos (esse tipo de trabalho não desapareceu com o advento do feudalismo). Todavia, vale destacar que mão-de-obra servil constituiu-se como a mais utilizada no mundo feudal. A tripartição da sociedade feudal clérigos, nobres e servos - representava uma organização, cujos privilégios e compromissos se harmonizavam. Os mais eruditos da época tinham uma nítida percepção dessa divisão. Por isso houve uma vasta produção de documentos homologando tal ordenamento social, interpretando-o como benevolente desejo de Deus.

174 A sociedade dos fiéis forma um só corpo; mas o Estado tem três corpos: com efeito, os nobres e os servos se regem pelo mesmo estatuto (...) uns são os guerreiros, protetores das igrejas; são os defensores do povo, tanto dos grandes como dos pequenos. (...) A outra classe é a dos servos: esta desgraçada raça nada possui senão à custa de sofrimento. Dinheiro, vestuário, alimento, tudo os servos fornecem a toda gente; nem um só homem livre poderia substituir sem os servos.(...) O senhor é alimentado pelo servo, ele, que pretende alimentá-lo. (...) A casa de Deus, que cremos ser uma, está, pois, dividida em três: uns oram, outros combatem, e outros, enfim, trabalham. (...) Os serviços prestados por uma das partes são a condição da obra das outras duas; e cada uma, por sua vez, se encarrega de aliviar o todo (...). É assim que a lei tem podido triunfar e que o mundo tem podido gozar de paz. Apud: LE GOFF, Jacques. A Civilização do Ocidente Medieval. Lisboa: Editorial Estampa, v.2. p Colheita feita pelos servos. Eles eram indissociáveis da terra. Se por acaso a feudo mudasse de dono, os servos passariam a cumprir suas obrigações com o novo senhor. A sociedade feudal era fundamentada a posse da propriedade da terra que garantia o status, a autoridade e a influência política. Nesse sentido, os senhores feudais representava a mais poderosa categoria social. Vale enfatizar, que o acesso a terra estava restringido à aristocracia feudal, formada por: duques, barões, marqueses, bispos, arcebispos e abades. Os servos era indissociável da terra, ou seja, estavam presos à propriedade. Se por acaso a feudo mudasse de dono, os servos passariam a cumprir suas obrigações com o novo senhor. Enquanto isso, os vilões, em menor quantidade, não eram tão ligados à terra, sendo a vinculação com os senhores menos rígida. Não podemos classificar os servos como trabalhadores livres, mas também não devemos designá-los como escravos. As diferenças básicas entre os servos e os escravos são: os servos não poderiam ser retirados da propriedade e nem poderiam ser vendidos a qualquer momento, diferente dos ecravos; uma outra situação que reforça essa teoria consiste na condição dos servos possuírem seus instrumentos de trabalho. Em troca das liberações dos lotes de terras, os servos e os vilões deveriam cumprir um conjunto de obrigações com os seus senhores. As principais eram: Census ou foro: tributo pago em dinheiro ou em produtos pelos vilões para alocação das terras; Corvéia: prestação de serviços obrigatório e gratuito na reserva do senhor durante alguns dias da semana (geralmente três dias). Essa obrigação poderia ser paga também pela execução de outras atividades, tais como a construção de estradas ou pontes; Talha: parcela da produção agrícola ou do rebanho do manso servil paga ao senhor; Champart: pagamento de uma parte da produção das terras aráveis; Banalidades: taxas pagas pelo uso das instalações (o forno, o lagar, o moinho, o celeiro) e instrumentos (a enxada, o arado) pertencentes ao senhor;

175 Capitação: taxa paga de acordo com o número de membros da família do servo; Mão-morta: pagamento de uma tarifa efetuada pelos herdeiros do servo morto com a finalidade de permanecer explorando o manso; Dízimo: os servos deveriam destinar 10% da produção à Igreja; Formariage: taxa paga pelo servo para adquirir a licença para se casar. Somada as esses compromissos, os vilões e os servos eram ainda obrigados alojar e alimentar os senhores e sua equipe em caso de viagens. Com tantas tributações, os camponeses viviam em situação de extrema miséria. A construção de suas casas eram frágeis e precárias. Os alimentos que restavam eram insuficientes para suprirem os camponeses, uma vez que a maior parte da produção ficava com o senhor. O medo da miséria na Idade Média A grande maioria das pessoas vivia no que seria, para nós, uma extrema pobreza. As descobertas arqueológicas mostram isso claramente. (...) É preciso imaginar esses homens e mulheres vestidos, em grande parte, com peles de animais, mas não mais bem alimentados do que a época neolítica falo das pessoas do povo, pois essa sociedade era estritamente hierarquizada. Os trabalhadores eram esmagados sob o peso de um pequeno grupo de exploradores, homens da guerra e homens da Igreja, que saqueava quase todo o excedente da produção. (...) Em contrapartida, não podemos falar de miséria verdadeira, pois as relações de solidariedade e fraternidade faziam com que a pouca riqueza fosse redistribuída. Essa terrível solidão do miserável que vemos hoje em dia, no metrô, não existia. DUBY, Georges. Ano 1000, ano 2000 na pista de nossos medos. P Esses fatores provocaram uma elevada taxa de mortalidade infantil e uma ínfima expectativa de vida. Por esses motivos, o crescimento vegetativo ou populacional nessa época é bastante reduzido. Economia A grande propriedade rural ou o feudo era marcado pela auto-suficiência, haja vista produzia quase tudo para consumo imediato. A economia feudal fundamentou, essencialmente, na produção da terra que se tornou símbolo de poder político e ideológico. Desse modo, a produção passou a ser estruturalmente agrícola ou auto-suficiente. Entretanto há autores que discordam com essa tese. Devemos abandonar a imagem, exagerada, de uma agricultura feudal fechada, isolada e auto-suficiente. É verdade que a pequena propriedade fazia com que qualquer acidente natural (chuvas em excesso ou em falta, pragas) ou humano (guerras, trabalho inadequado ou insuficiente) provocasse períodos de escassez. Dessa forma, sempre assustados com a possibilidade da fome, cada senhorio procurava suprir suas necessidades, produzindo para seu consumo tudo que ali fosse possível. Mesmo em solos pouco favoráveis a determinados cultivos, não se deixava de produzi-los, ainda que de má qualidade e em pequena quantidade, para não se depender de outros locais. Mas quando era preciso recorrer à produção de outras regiões, havia circuitos comerciais para isso. Em suma, era uma agricultura apenas tendente à subsistência. FRANCO JÚNIOR, Hiário. O Feudalismo. 2 ed. São Paulo: Brasiliense, p.31. Entre os séculos IX e X, a extração de excedentes era bastante pequena. Esse fato pode ser justificado pelo desinteresse por parte dos servos em aumentar a produtividade, uma vez que isso elevaria mais ainda suas obrigações perante os senhores. Por outro lado, deve ser visto também que aos nobres não interessam ampliar a produção, pois só lhes interessavam reter dos camponeses o mínimo para garantir a sua sobrevivência e de sua família.

176 As atividades artesanais também estavam presentes na economia feudal. Essa produção manufatureira era desenvolvida por artesãos itinerantes ou pelos próprios servos. Nos domínios feudais produziam-se móveis, armas, vinhos, derivados de leite, utensílios de couro e metal, tecidos e óleo. Organização do feudo A propriedade feudal dividia-se em três importantes partes: Reserva senhorial Compreendiam as terras de uso exclusivo do senhor feudal. A sua extensão se aproximava de um terço do feudo. Essa área era cultivada pelos camponeses, os quais trabalhavam alguns dias da semana gratuitamente (corvéia). Tudo que fosse produzido nesse domínio pertencia ao senhor do feudo. Reserva servil Correspondia os lotes de terras exploradas pelos servos (camponeses) e sua parentela. Em contrapartida, eles repassavam parte da produção agrícola ao senhor feudal (talha). Manso comunal Área de uso comum. Essa faixa de terra era constituída de pastos, terrenos baldios e florestas, que forneciam madeiras, mel e frutas. A caça também era uma prática cotidiana nessa reserva, entretanto, esse privilégio era destinado apenas aos senhores. Divisão do feudo. Basicamente o feudo dividia-se em: manso senhoril, manso servil e manso comunal.

177 No domínio servil desenvolveu-se o sistema trienal, técnica baseada no uso revezado do solo no período de três anos. Os servos alternavam o cultivo dos produtos em três campos, dividindo-os em faixas a fim de não desgastar os nutrientes do solo. A importância da Igreja Católica Medieval na construção das suas concepções de mundo A hegemonia da Igreja durante o período medieval se deu no âmbito social, econômico, político e cultural. Ela teve papel importante para a consolidação do sistema feudal, pois lançou as bases da sociedade medieval, alcançou a unidade religiosa entre os cristãos, interferiu nos conflitos da época e nas sucessões dos reis. No princípio da Alta Idade Média, devido à ruralização econômica e a falta de um poder laico forte, a Igreja tornou-se a única instituição coesa, assim, tinha condições de atuar em vários setores da vida social. Ricardo André Frantz Fachada da Basílica de São Pedro (Vaticano), Sede da Igreja Católica. A hegemonia da Igreja durante o período medieval se deu no âmbito social, econômico, político e cultural. O poder da Igreja aumentou no decorrer da Idade Média, do ponto vista econômico, com a anexação de terras e enriquecimento financeiro por intermédio de múltiplas formas, tais como o Tostão de Pedro (dízimo). Além disso, diversas doações eram feitas pelos monarcas e pelos senhores laicos, transformando, assim, a igreja numa grande senhora feudal. A força da Igreja Medieval Por toda a Europa reinava apenas uma Igreja; se um homem não era batizado na Igreja, não era membro da sociedade. Quem quer que fosse excomungado pela Igreja perdia automaticamente seus direitos civis e políticos (...). Era a Igreja que insistia em recomendar que os pobres não jejuassem tanto quanto os ricos e que proibia trabalho servil aos domingos. Era a Igreja que prestava serviço social aos pobres (...). Durante muito tempo nunca houve outra fonte de educação, além da eclesiástica. E era enorme a autoridade que a Igreja possuía, não só sobre as almas dos homens como também sobre os negócios. FREMANTLE, A. Idade da Fé. Rio de Janeiro: José Olímpio.

178 O catolicismo conseguiu sua afirmação por meio de variadas políticas conciliadoras ou por pressão de alguns governantes. Percebe-se, dessa maneira, que a conversão ao cristianismo, muitas vezes, não se deu por livre e espontânea vontade. Durante boa parte da Idade Média, a Igreja monopolizava a cultura erudita e controlava, ideologicamente, as massas de camponeses. Numa sociedade de muitos analfabetos, o clero conservou a cultura letrada grecorromana. Vale destacar que, embora a cultura fosse usada para atender sos interesses religiosos, a igreja desempenhou um papel decisivo para a não estagnação do saber. Segundo alguns historiadores, a Igreja tornou-se a guardiã da cultura clássica. A Igreja católica Romana acumulou muita riqueza material e detinha muito respeito das pessoas na esfera espiritual. Hierarquicamente, a Igreja Medieval organizava-se em Alto Clero/Regular e Baixo Clero/Secular. O Alto Clero era composto pelos cargos de direção, a saber, os bispos, os abades. Os membros do Clero regular eram aristocratas. Já o Baixo Clero era constituído pelos padres, frades e elementos vindos das camadas mais pobres. Cabia ao clero secular entrar em contato com as coisas do mundo, evangelizando e buscando a conversão dos bárbaros e dos incrédulos. O clero regular ficava nos mosteiros. Suas principais tarefas eram obedecer às regras impostas, preservar a cultura e ampliar as riquezas da Igreja. O chefe da Igreja Cristã chamava-se Bispo de Roma que, no ano de 455, passou a ser denominado de Papa. Ele tinha o controle direto sobre o Patrimônio de Pedro, as grandes quantidades de terras. Enfim, essa rígida estrutura hierárquica possibilitou a estabilidade da Igreja perante as várias crises que assolaram a Europa entre os séculos V e VIII. Os clérigos medievais assumiram a posição de intermediários entre os homens e Deus. Durante a época medieval, a Igreja sempre buscou gerar nas pessoas receios sobre a vida eterna através dos males do mundo. O alto índice de violência, o medo da morte e as dúvidas concernentes aos desejos pecaminosos tornaram-se instrumentos básicos utilizados pela Igreja para manipular as pessoas. O objetivo do clero era criar nos indivíduos um aguçado princípio de culpa. Além disso, a Igreja usou do poder simbólico para amedrontar as pessoas. O exemplo mais claro foi a grande difusão da figura do diabo e do inferno. Para proteger os fiéis das astúcias dos demônios, foram apresentados pela Igreja os Santos e os protetores. Esses seres celestiais tinham poderes de neutralizar as ações demoníacas e simultaneamente auxiliar as pessoas nos problemas do cotidiano, oferecendo ainda proteção aos adultos e às crianças. A historicidade da Igreja Católica A Igreja, durante toda a Idade Média e até o século XVII (...), era algo de muito diferente daquilo a que chamamos hoje Igreja. Guiava todos os movimentos do homem, do batismo ao serviço fúnebre, e era o caminho de acesso a essa vida futura em que todos os homens acreditavam fervorosamente. A Igreja educava as crianças; nas paróquias de aldeia onde a massa da população era iletrada o sermão do pároco era a principal fonte de informação sobre os acontecimentos e problemas comuns, e de orientação da conduta econômica. A própria paróquia constituía uma importante unidade de governo local, coletando e distribuindo as esmolas que os pobres recebiam. A Igreja controlava os sentimentos dos homens e dizia-lhes em que deviam acreditar, proporcionava-lhes distrações e espetáculos. HILL, C. A Revolução Inglesa de Lisboa: Presença. p É interessante relatar que nesse momento há uma fusão entre as práticas pagãs e as doutrinas cristãs adquirindo forte tendência popular, cujos sinais podem ser vistos nos dias atuais. A Igreja, no período medieval também praticava atos caridosos. Às vezes ela dava assistência aos miseráveis e aos desabrigados. Havia nos tempos de festas da nobreza, a distribuição de alimentos aos famintos. As festividades religiosas simbolizavam um momento de tranqüilidade e comunhão, amenizando a sofrível realidade dos camponeses.

179 É interessante relatar que nesse momento há uma fusão entre as práticas pagãs e as doutrinas cristãs adquirindo forte tendência popular, cujos sinais podem ser vistos nos dias atuais. A Igreja, no período medieval também praticava atos caridosos. Às vezes ela dava assistência aos miseráveis e aos desabrigados. Havia nos tempos de festas da nobreza, a distribuição de alimentos aos famintos. As festividades religiosas simbolizavam um momento de tranqüilidade e comunhão, amenizando a sofrível realidade dos camponeses. Resistências e heresias No século XI, multiplicaram-se os mosteiros e as paróquias. Todavia, os componentes do clero permaneciam sendo nomeados pelos senhores feudais e os reis. Essa intervenção do poder temporal (soberanos) sobre o espiritual (Igreja) resultou em diversas discussões a partir do século XI. Segundo as normas da Igreja, o clero de Roma deveria ser nomeado pelo papa, cabia aos cônegos eleger os bispos e estes escolher o cura. Entretanto, na prática, essas leis não se aplicavam. Os senhores feudais e o Imperador do Sacro Império Romano tinha controle sobre os papas. Enquanto isso, os reis nomeavam os bispos. Enfim, os não-religiosos de-cdiam sobre os assuntos do clero. Por isso, alguns setores da Igreja intervieram contra essa realidade, a fim de mudar a situação. Os casamentos dos padres tornaram ainda mais complexa a situação da Igreja, uma vez que os curas passaram a se dedicar mais aos familiares do que as obras eclesiásticas. Por esses motivos surgiu, no século X, um movimento reformador dentro da Igreja Católica que tinha como objetivo execrar com as práticas anticristãs vivenciadas na época. Em 910, no sul da França, foi criada a Ordem de Cluby, conhecida também como Ordem Beneditina. Isso porque seguiam às normas direcionadas por São Bento. Os monges de Cluny defendiam o celibato obrigatório, opondo-se ao cesaropapismo (mistura do poder espiritual com o temporal) e à simonia (venda de cargos e relíquias religiosas). A Ordem de Cluny acreditava que essa doutrina resultaria numa moralização da Igreja, reformando-a e colocando-a no caminho da verdadeira fé. As idéias reformadoras dos beneditinos expandiram-se pela Europa. No século XI, a abadia de Cluny possuía mais de 200 mosteiros que obedeciam às regras beneditinas. Influenciado pela Ordem de Cluny, o papa Gregório VII, nesse mesmo século, implantou uma série de reformulações na Igreja Católica. Entre pontos principais dessa reforma estavam o fim da simonia, os senhores feudais foram proibidos de nomear bispos e a obrigatoriedade do celibato clerical. Entre os séculos XI e XII, a Igreja Católica vive um período de turbulência. Nesse período, surgiram diversos movimentos questionando os dogmas cristãos. Para combater as idéias dos hereges (contrários à doutrina católica), a Igreja organizou, no século XIII, o Tribunal do Santo Ofício. Os principais grupos que criticava a opulência eclesiástica eram os cátaros (puros) patarinos e valdenses. Todos eles foram perseguidos com extrema violência e intolerância. Enfim, essas contestações às práticas abusivas da Igreja medieval pavimentaram o caminho para as reformas religiosas protestantes implantadas no século XVI. Ordens mendicantes: os caminhos de São Francisco A Igreja Católica, como já foi visto anteriormente, era a instituição mais poderosa da Idade Média. Influenciava toda a conduta moral, social, cultural e política da época. Os papas, bispos e arcebispos possuíam muitas riquezas e gozavam de muito luxo e privilégios. Nesse sentido, eles estavam bastante distantes dos genuínos ensinamentos de Cristo, ou seja, ter uma vida calcada na sobriedade e humildade. As reações contra os caminhos seguidos pela Igreja contribuíram para o surgimento de ordens monásticas que objetivavam resgatar os princípios fundamentais do cristianismo.

180 Em 525, São Bento criou na Itália a Ordem Beneditina com o propósito de retomar os alicerces condizentes com a doutrina cristã, a saber, a humildade, a solidariedade e a fraternidade. Os beneditinos eram guiados pela regra ora et labora (orar e trabalhar) o que significava ter uma vida fundamentada na obediência, castidade e austeridade. Nesse contexto foi criada outra corrente de protesto contra Igreja, a ordem dos dominicanos. Fundada por Domingos de Guzman ( ), essa ordem tinha a pretensão de propagar a genuína doutrina cristã e dedicar-se à pregação, ao ensino religioso e conservação dos verdadeiros preceitos bíblicos. São Francisco de Assis ( ) também defendia os votos de pobreza. Ao fundar a Ordem dos Frades Menores (franciscanos), ele abriu mão dos bens que possuía e iniciou uma árdua luta em favor dos menos favorecidos. Segundo pesquisadores, por essa postura, ele se tornou o mais radical dos eclesiásticos. Atualmente, São Francisco inspira pacifistas, ambientalistas e os defensores da desigualdade social no mundo. A feliz estratégia de São Francisco de descer do púlpito e ensinar exemplos de conduta talvez seja o principal motivo para que sua pregação tenha atravessado os tempos. Apesar de sua mensagem ter sido sufocada pelos papas e cardeais que conheceu em vida, e ainda bastante amenizada após a sua morte, ocorrida em 1226, basta ver que, passados mais de sete séculos, São Francisco continua a ser, de longe, o santo mais popular entre os católicos do mundo inteiro. Ele é o santo inspirador dos jovens inconformados com a miséria e a injustiça do mundo, dos amantes da natureza que o elegem patrono da causa ecológica, dos hippies e dos pacifistas que aspiram à harmonia entre povos, culturas e religiões por meio da tolerância. É, enfim, um santo quase para todas as causas. ROMANINI, Vinícius. Revista Nos caminhos da Terra. Reportagem especial Nos passos de São Francisco. Editora Peixes: São Paulo, p. 50. Esses movimentos inovadores, dentro da própria Igreja, foram bastante significativos, pois tentavam ser coerentes com os ensinamentos do cristianismo, criticando os grupos eclesiásticos que se interessavam, exclusivamente, pelo luxo e o poder em seus ministérios. Cultura medieval ocidental A cultura da Europa Ocidental no transcurso do feudalismo caracterizou-se pelo teocentrismo, ou seja, uma concepção que considera Deus como o principal ser do universo. Desse modo, a produção cultural foi fortemente influenciada pela religiosidade da época. Como a principal instituição do sistema feudal, a Igreja era a principal divulgadora da cultura teocêntrica. Praticamente, todas as relações do saber foram legitimadas pela visão divina. A doutrina católica condenava o comércio, a usura (empréstimos com cobrança de juros) e o lucro. Nesse sentido as artes, as ciências, as letras e a filosofia foram influenciadas pelo pensamento religioso. O principal tema utilizado nas artes tinha ressonância religiosa. Já na literatura, os intelectuais só escreviam na língua oficial da Igreja Católica, o latim. Nas ciências, as explicações sobre os fenômenos naturais eram interpretados de acordo com os ensinamentos bíblicos. Por fim, a filosofia construia teses defendidas pelos doutores da Igreja. Numa sociedade marcada pela generalizada ignorância, a Igreja possuía dois mecanismos poderosos para manipular as massas: a leitura e a escrita. Esse monopólio do saber só começa a se debilitar, a partir do século XIV, quando surge um movimento cultural, literário e científico, denominado Renascimento. O cotidiano na sociedade feudal As obras literárias e cinematográficas, tradicionalmente, transmitem uma visão errônea sobre a vida dos nobres na sociedade feudal. Até por volta do século IX, boa parte dos castelos medievais eram feito de madeira e terra, oferecendo pouca comodidade.

181 Posteriormente foram construídos fortificações de pedra, cujos pisos eram compostos de palhas e esteiras. A partir do século XII torna-se comum o uso de tapetes e estofos. Além disso, os castelos apresentavam pouca luminosidade, sendo a sua parte bastante úmida. O cardápio das famílias nobres era farto, no entanto, apresentava pouca variedade de alimentos. Os principais pratos eram feitos de carne, queijo, peixe, cenouras, ervilha, cebola e feijão. Para a sobremesa utilizavam-se pêras e maçãs. Em suas refeições diárias, os nobres comiam com as mãos. Musée Conde, Chantilly, França Jantar da Nobreza. Os principais pratos eram feitos de carne, queijo, peixe, cenouras, ervilha, cebola e feijão. Os membros da nobreza não praticavam nenhuma atividade laboriosa, sendo esta condição típica da sua posição que ocupava na sociedade. Cabia aos nobres ocupar o tempo com guerras, caçadas e torneios. A violência fazia parte do cotidiano da sociedade feudal. Os nobres entravam em conflitos por qualquer assunto banal. O gosto pela guerra fez com que a Igreja proclamasse, no século XI, a Trégua de Deus. Tal medida proibia confrontos nos dias de sexta-feira, sábados e domingos. Os servos moravam em choupanas cobertas de barro. Essa habitação precária possuía como mobília tábuas cobertas de palhas usadas como cama. O piso não tinha nenhum revestimento, o que gerava várias infiltrações em períodos chuvosos. Pão preto, verduras, sopa e queijo constituíam os principais produtos alimentares usados pelos camponeses. Às vezes, carne e peixe apodrecidos complementavam a dieta. Devido às péssimas condições nutricionais, o índice de mortalidade era muito elevado entre os camponeses. As festas populares As manifestações culturais populares representaram uma reação à imposição aos comportamentos sociais difundidos pelos clérigos e nobres. Durante a Idade Média, o riso simbolizava a expressão do mau, segundo a concepção religiosa. Por ter sido proibido, classificado como pecado, o riso se transformou numa forma de reagir contra a ideologia oficial defendida pela Igreja.

182 Nesse período, os eventos populares mais conhecidos foram a festa dos loucos e a festa do asno. Essas festividades caracterizavam-se pela a alegria, pelas brincadeiras e pela descontração. Sob o regime feudal existente na Idade Média, esse caráter de festa, isto é, a relação da festa com fins superiores da existência humana, a ressurreição e a renovação, só podia alcançar sua plenitude e sua pureza, sem distorções, o carnaval e em outras festas populares e públicas. Nessa circunstância, a festa convertia-se na forma de que se revestia a segunda vida do povo, o qual penetrava temporariamente no reino utópico da universalidade, liberdade, igualdade e abundância. BAKHTIN, M. A cultura popular na Idade Média e no renascimento: o contexto de François Rabelais. São Paulo/Brasília: Hucitec. p.8. Essas festas ocorriam nas ruas, onde se permitiam o uso exagerado de comidas, bebidas, gestos libidinosos, ridicularizarão do clero, nudez e, obviamente, muito riso. Desse modo, a cultura popular apresentava sua força, conseguindo sobressair das amarras da cultura da classe dominante. É bom lembrar que as festas significavam momentos de exceção, pois a maior parte do tempo, os servos tinham que trabalhar para cumprir suas obrigações perante os senhores. Em linhas gerais, as festas populares simbolizam uma maneira de subverter a ordem política e social de uma sociedade guiada pelas concepções religiosas. Literatura e Música A produção literária medieval poder ser verificada na poesia épica que narravam os feitos heróicos. No século XII, ganha destaque a literatura dos trovadores. Tal estilo era fomentado pela poesia romântica. A poesia trovadora valoriza os prazeres da vida, as paixões e os amores. A fusão dessas formas literárias resultou no romance cortês, caracterizado, simultaneamente, pelas batalhas épicas e pelas incríveis histórias de amor. As principais obras nesse estilo foram a novela Tristão e Isolda e o clássico Rei Artur e os Cavaleiros da Távola Redonda. Nos século XII e XIII, os goliardos (religiosos afastados de suas funções) tornaram-se célebres artistas. Eles criaram poemas que exaltavam a bonança da vida e criticavam os costumes da nobreza e da Igreja. Muitos goliardos tornaram-se cantores. Suas canções satíricas e amorosas eram entoadas, geralmente, nas portas das universidades. Já o canto gregoriano ou cantochão consagrou-se nas liturgias católicas. O cantochão é um estilo musical marcado pela simplicidade e suavidade. As suas melodias são executadas sem o acompanhamento de quaisquer intrumentos musicais. Filosofia Na Idade Média houve o desenvolvimento da filosofia. A Patrística e a Escolástica foram as principais correntes de pensamento dessa época que almejavam conciliar os saberes filosóficos aos princípios cristãos. A filosofia Patrística remonta os séculos IV e V. A principal figura dessa escola foi Santo Agostinho (. Baseado nas idéias de Platão, ele defendia a harmonização entre razão e fé. Nesse sentido, os temas que mais preocupavam Santo Agostinho eram a moral, a natureza divina e as relações entre ciência e fé. Segundo estudiosos, Santo Agostinho conseguiu fazer uma síntese do pensamento platônico e das doutrinas cristãs. Na sua obra, Cidade de Deus relata a existência de um lugar habitado pelos homens (cidade dos homens) cheios de pecados e corrupções. No entanto, há um outro local alicerçado na pureza e na felicidade, denominado por ele de Cidade de Deus. Esse lugar celestial fora construído pelos predestinados e pela gratidão de Deus. No século XII ocorreram algumas transformações interessantes no campo do saber, uma vez que os mosteiros cederam espaço às escolas catedráticas e o ensino tornou-se laico, ou

183 seja, desvinculou-se dos parâmetros dos clérigos. Desde então, a atividade de ensinar se tornou uma profissão. Nesse contexto, nesse mesmo século, surge outra corrente filosófica e teológica que busca trazer o equilíbrio entre fé e razão, a Escolástica. Calcado no pensamento do filósofo grego Aristóteles, São Tomás de Aquino ( ) compagina na sua obra Suma Teológica a síntese entre filosofia e teologia numa tentativa de orientar homem rumo a Deus. Tomás de Aquino também escreveu sobre política, ética, teoria do conhecimento e antropologia. Arquitetura A arquitetura adotou uma estética claramente religiosa. Essa manifestação artística foi representada por dois estilos: o românico e o gótico. O primeiro tem seu apogeu alcançado entre os séculos XI e XII. O românico seguia as concepções arquitetônicas romanas, ou seja, construções de linhas horizontais simples com arcos e abóbadas sustentadas por estruturas espessas e volumosas. Além disso, eram usadas poucas janelas nas obras românicas. Já o padrão gótico desenvolveu-se no princípio da Baixa Idade Média. O gótico caracterizava-se por um estilo leve, possuindo torres enormes e pontiagudas. Nas construções góticas usavam-se também janelas com formato de ogiva e os vitrais que possibilitavam forte luminosidade nas catedrais. Magnus Manske Vitrais da Catedral de Notre-Dame de Reims, França. Nas construções góticas usavam-se janelas com formato de ogiva e vitrais que possibilitavam forte luminosidade nas catedrais.

184 TEXTO COMPLEMENTAR Igreja vai à Justiça contra pílula do dia seguinte no carnaval de Recife A Pastoral da Saúde da Arquidiocese de Olinda e Recife entrou hoje (28) com representação em que pede à Promotoria de Saúde do Ministério Público de Pernambuco a suspensão da distribuição de pílula anticoncepcional de emergência (levonorgestrel 0,75 mg) durante o carnaval no estado. A oferta do medicamento pelas secretarias municipais de saúde de Recife, Olinda e Paulista, em postos emergenciais montados em locais de grande concentração de foliões, foi anunciada na semana passada. Segundo o biomédico Vandson Holanda, coordenador da Pastoral da Saúde, a pílula é abortiva e por isso seu uso, fora dos casos em que o aborto é permitido por lei, fere a legislação brasileira, que protege a vida desde a concepção. Uma coisa é a posição da Igreja e outra é o que ela considera ilegal. A posição da Igreja é contra [a pílula] em qualquer circunstância. É ilegal a distribuição: a lei brasileira só autoriza o aborto em casos de estupro ou má formação fetal. A gravidez não pode ser interrompida em caso de mulheres que tiveram relação sexual desprotegida, argumentou Holanda. Durante entrevista coletiva em que a medida judicial foi anunciada, o biomédico afirmou que a arquidiocese só voltará atrás se o Ministério da Saúde garantir que o medicamento não interfere na nidação (processo de implantação do embrião no aparelho reprodutor feminino) depois da fecundação. A polêmica, ressaltou, ocorre por divergências no conceito de gestação e começo da vida. Para Holanda, tanto o Ministério da Saúde como o Conselho Federal de Medicina, seguindo a Organização Mundial da Saúde, consideram que a gestação inicia-se com a implantação do óvulo no útero, enquanto a Igreja e até mesmo a lei consideram que ela começa a partir da fecundação do óvulo pelo espermatozóide. A pílula começou a ser distribuída na rede pública de saúde em 2002, indicada para casos de violência sexual, de relação sexual sem uso de método anticoncepcional ou de falha de métodos anticoncepcionais (rompimento da camisinha, esquecimento de tomar pílulas ou injetáveis, deslocamento do diafragma ou do DIU, uso incorreto de tabelinha). Reportagem de Adriana Brendler. Disponível em Acesso em 03 de fevereiro de Ministro Temporão critica a postura da igreja contra distribuição de pílulas O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, criticou neste domingo, 27, a postura da Arquidiocese do Recife, que ameaça entrar na Justiça para proibir a distribuição de anticoncepcionais de emergência, conhecidos como pílulas do dia seguinte, pela prefeitura da capital pernambucana. "A prefeitura está certa e a Igreja está equivocada", afirmou o ministro, em entrevista após o lançamento da campanha de prevenção à Aids, que vai distribuir quase 20 milhões de preservativos durante o carnaval. "É uma questão de saúde pública, não uma questão religiosa. Lamentavelmente a Igreja, cada vez mais, se afasta dos jovens com esse tipo de postura", comentou Temporão. Segundo o projeto da prefeitura de Recife, as pílulas serão entregues a mulheres que declararem, a médicos de plantão, que tiveram relações sexuais e que suspeitam de falhas nos métodos contraceptivos normais. A Arquidiocese do Recife classificou a proposta como "aberração". "O Ministério da Saúde apóia e suporta a medida", reforçou o ministro. Reportagem de Nicola Pamplona. Disponível em Acesso em 03 de fevereiro de Analisando o texto 1. Durante o período medieval a Igreja Católica foi uma instituição que atuou bastante em todas as esferas da vida social. Após a leitura dos dois textos você acredita que a Igreja católica ainda tenta intervir em temas sociais com o objetivo de impor suas doutrinas religiosas? Justifique. 2. Após a leitura dos textos você é favorável ou contrário a liberação das pílulas? Justifique.

185 FAZENDO HISTÓRIA 1. Caracterize a sociedade feudal e as relações sociais e políticas que prevaleceram na Europa Ocidental na chamada Alta Idade Média. 2. Após a leitura do capítulo defina o que vem a ser o Feudalismo. 3. Explique como era organizado o feudo e comente sobre suas respectivas atribuições. 4. Enumere as principais contribuições servis e seus respectivos significados. 5. Explique o que vem a ser os laços de Suserania e Vassalagem 6. Atualmente, o juramento de fidelidade é bastante utilizado na celebração dos casamentos ou em nos relacionamentos amorosos. Qual o sentido da fidelidade nos laços de suserania e vassalagem? 7. Construa um texto mostrando as principais ações desempenhadas (social, econômica, política e religiosa) pela Igreja Católica durante toda a Idade Média. 8. Qual a sua opinião sobre o papel desempenhado pela Igreja Católica na Idade Média? 9. (UFGO) A casa de Deus, que cremos ser uma, está, pois, dividida em três: uns oram, outros combatem, e outros, enfim, trabalham. Bispo Adalbéron de Laon, século XVI, apud Jacques Le Goff. A Civilização do Ocidente Medieval. Lisboa: Editorial Estampa, 1984, v.ii. p Caracterize a sociedade feudal, destacando a relação entre os que combatem (nobreza) e os que trabalham (servos). 10. (FUVEST) Se, para o historiador, a Idade Média não pode ser reduzida a uma Idade das Trevas, para o senso comum, ela continua a ser lembrada dessa maneira, como um período de práticas e instituições bárbaras. Com base na afirmação acima, indique e descreva. a) duas contribuições relevantes da Idade Média. b) duas práticas ou instituições medievais lembradas negativamente. c) faça uma síntese das principais manifestações culturais no período medieval.

186 QUESTÕES DE VESTIBULARES 1. (UPE) O feudo consistia em um território de dimensões variadas, conforme a região. Lá estava edificado o castelo do senhor e, nas redondezas, as aldeias, as terras aráveis divididas em domínio (área do senhor) e mansos (parcelas trabalhadas pelo servo e sua família), áreas de uso comum... As mulheres, de acordo com a classe social a que pertenciam, exerciam variadas funções. As camponesas trabalhavam com seus maridos nas terras dos senhores feudais e, além disso, ainda tinham que cuidar dos afazeres domésticos. (FARIAS, Ricardo de Moura. Estudos de História, 1. ed. São Paulo: FTD, 2009.) Assim como o texto, as gravuras expõem a divisão do feudo, o trabalho servil, com destaque para as mulheres trabalhadoras. Sobre as relações de produção no Sistema Feudal, identifique a alternativa correta. a) Observa-se, entre as gravuras, o arado puxado por bois o qual era muito utilizado na agricultura feudal, provocando uma revolução técnica do trabalho, da instrumentação para a mecanização. b) A mulher, apesar de trabalhar tanto quanto o homem, estava sempre em grau de inferioridade. A maioria estava destinada ao casamento e a uma vida submissa ao marido. c) Os senhores feudais possuíam muitas terras, defendi am o interesse dos servos e o monopólio da cultura. d) Os camponeses medievais tinham consciência de seu poder de transformação social. Exemplo desse poder está na corveia. e) As mulheres desempenharam funç ões importantes na sociedade medieval. As ca mponesas auxiliavam suas famílias nas tarefas agrícolas cotidianas, enquanto as pertencentes às famílias nobres se encarregavam da guerra e da distribuição do feudo. 2. (UPE) O poder do Catolicismo foi marcante no mundo feudal. Apesar disso, surgiram heresias que contestavam a força dominante e havia, ainda, algumas controvérsias na construção das relações sociais da época. É correto afirmar que a Igreja Católica: a) tolerava as diferenças, dando pouca importância aos seus opositores. b) tinha boa relação com a aristocracia, possuindo, também, propriedades. c) consagrou os princípios da filosofia helenista, mantendo o seu criticismo. d) estava afastada das relações políticas devido aos desmandos dos nobres. e) era influente no mundo da cultura, embora afastada da produção econômica. 3. (UPE) O pensamento católico marcou as formas de ser e de pensar na Europa, durante a Idade Média. Sobre a produção cultural, ligada ao catolicismo no medievo, marque a alternativa correta.

187 a) Apesar de, inicialmente, terem sido associadas à heresia, as ideias de John Huss influenciaram o catolicismo romano a partir do século XIII. b) O pensamento de São Tomás de Aquino contestava a filosofia de Aristóteles, expondo o paganismo presente na obra do pensador clássico. c) Os mosteiros beneditinos serviram como polos de vulgarização do saber teológico. d) As primeiras traduções da Bíblia do latim para outras línguas, realizadas com o apoio da igreja católica, datam da alta Idade Média. e) Em sua obra, Santo Agostinho estabelece um diálogo com o pensamento de Platão. 4. (UPE) O mito construído, no contexto do Renascimento, de que a Idade Média foi um período de trevas e ignorância na História, por força, principalmente, do papel representado pela Igreja naquela sociedade, já foi desmontado pelos medievalistas. Atualmente, sobre o lugar ocupado pela Igreja Católica na sociedade medieval, pode-se afirmar que: a) os elementos que compunham o alto clero, junto aos suseranos, tinham o domínio sobre a cultura letrada e popular, cabendo, entretanto, aos padres do baixo clero o papel de servos nas propriedades feudais. b) o poder da Igreja católica ia além dos limites da vida religiosa, compondo-se o grupo dos grandes proprietários de terra da época, exercendo o controle absoluto sobre o saber erudito, em vista da ausência, por toda a Idade Média de qualquer outra instituição cultural. c) a organização eclesiástica, definida por volta do século III, não se pautava por uma hierarquização do clero, cuja autonomia de Roma transformava-o em agente irradiador da cultura. d) o poder da Igreja, embora fosse imenso, extrapolando as fronteiras da vida religiosa, e o catolicismo fosse o vínculo de união cultural da Europa da época, as universidades foram centros de discussão e preservação da herança cultural oriunda da Antigüidade Clássica e dos árabes. e) a Igreja Católica foi a grande defensora dos direitos dos servos e vilões em todo o Medievo, opondo-se sistematicamente aos senhores feudais, que, nas suas propriedades, detinham poder absoluto, inclusive o de aplicar leis. 5. (COVEST) As religiões tiveram poder no decorrer da história influenciando as relações políticas e sociais. A Igreja Católica, por exemplo: a) conseguiu manter-se poderosa durante toda a Idade Média, embora, atualmente, esteja passando por dificuldades, devido à concorrência de outras religiões. b) foi importante para assegurar a existência de princípios éticos, combatendo as ditaduras e colocando-se contra a escravidão nas colônias europeias. c) criticou os atos imperialistas dos Estados Unidos nos anos 1960 e defendeu a democracia nos países onde, no século XX, prevaleciam os totalitarismos. d) esteve, sempre, na defesa da igualdade social, apoiando instituições que defendiam a liberdade de expressão e procuravam erradicar o trabalho escravo. e) continua poderosa na Europa, mas sofre críticas frequentes nos países da América Latina, devido às relações com os governos autoritários. 6. (UPE) O crescimento da dominação romana exigiu organização de instituições para controlar a diversidade cultural existente. Na religião, a convivência com outros povos trouxe novas concepções de mundo para os romanos. O surgimento do Cristianismo foi importante, porque: a) fortaleceu antigos rituais religiosos que estavam em decadência, devido à falta de espiritualidade dos sacerdotes romanos. b) defendeu princípios éticos, em que destacavam o amor ao próximo e a luta contra a desigualdade social. c) se tornou imediatamente a religião oficial dos romanos, consagrando tradições seculares vindas do Oriente Próximo. d) abalou tradições da sociedade romana e suas instituições políticas, porém não apresentou renovação na moral da sociedade.evitou a crise do império, fortalecendo suas relações sociais com uma ética social baseada na solidariedade. 7. (IPAD) O predomínio do poder da Igreja Católica, na Idade Média, é historicamente registrado em vários estudos. Na construção da arte medieval, o catolicismo influenciou:

188 a) a literatura que se restringiu a narrar a vida dos heróis e dos santos. b) a arquitetura com templos religiosos de grande porte. c) a música com a consagração do barroco e do canto gregoriano. d) a produção de peças teatrais que reproduziam o modelo grego. e) a pintura onde predominou o uso da perspectiva e do movimento. 8. (UPE) Sobre o feudalismo, considere as seguintes proposições: I. A sociedade feudal se dividia em três ordens principais: nobres, membros do clero e servos. II. Na sociedade feudal, predominou a produção de bens agrícolas e pastoris, que tinha como principal unidade produtora o senhorio e como forma de trabalho a vassalagem. III. No feudalismo, as relações sociais de produção baseavam-se na propriedade da terra e na produção agrícola para consumo imediato. IV. Ao clero cabia também o papel de justificar a dominação exercida pela Igreja Católica, quando, difundindo a divisão tripartida da sociedade, afirmava que esse modelo correspondia ao da sociedade criada por Deus. Estão corretas: a) somente I e II. b) somente I, II e III. c) somente I, III e IV. d) somente II, III e IV. e) I, II, III e IV. 9. (COVEST) O feudalismo mantinha uma hierarquia social, em que os servos enfrentavam muitas adversidades sociais, provocando uma pobreza acentuada e condições de vida precárias. No entanto, nessa época, a nobreza: a) possuía quantidades expressivas de terras e boa relação com a Igreja Católica, usufruindo de muitos privilégios. b) centralizava a vida política em seus feudos mais ricos, embora evitasse disputas sangrentas e lutas para firmar seus poderes. c) promovia torneios esportivos com incentivo a uma vida cultural intensa, marcada pelo refinamento e pelo respeito aos mais velhos. d) interessava-se pelo monopólio da economia, investindo nas corporações de ofício e na vida urbana. e) monopolizava a posse das terras mais produtivas, evitando o fluxo das atividades comerciais e o desenvolvimento da vida urbana. 10. (UPE) Sobre o feudalismo, considere as seguintes proposições: I. Apesar da existência de reis, no sistema feudal, a base do poder era local. Cada feudo era governado por seu senhor, que fazia parte da nobreza. II. Nas relações de Suserania e Vassalagem, o vassalo tinha a obrigação de cultivar a terra e prestar serviços gratuitos ao seu suserano. III. O clero encarregava-se da vida religiosa, e a ele também cabia o papel de justificar a dominação exercida na sociedade pela Igreja Católica, a maior proprietária de terras na época. IV. A sociedade feudal tinha uma economia de base rural, com produção de poucos excedentes e uma restrita circulação de moedas cunhadas no próprio feudo. Estão corretas: a) somente I e II. b) somente II e III. c) somente II, III e IV. d) somente I, III e IV. e) I, II, III e IV. 11. (UNAMA) Feudo é um termo que possivelmente veio do latim (feodum, ou do latim vulgar feudum). Ele designa a terra que o senhor feudal outorgava a seus servos ou vassalos em contrato de vassalagem. Por este contrato, comum no mundo feudal europeu da Idade Média, as obrigações eram:

189 a) desiguais, pois o vassalo poderia plantar e ter proteção na terra feudal, em contrapartida devia cumprir uma série de obrigações como a corvéia, a talha e deveres militares e de hospitalidade para com os nobres, tornando-se seu servo. b) parcialmente desiguais, pois os servos moravam nas terras senhoriais, pagavam impostos e deviam obrigações aos senhores, mas estavam livres para trocarem de senhores caso ocorressem abusos dos donos das terras. c) relativamente igualitárias, porque tanto os senhores se beneficiavam com o trabalho e impostos dos servos como estes recebiam terra de graça, roupa, alimentos e proteção senhorial em uma relação de trabalho livre. d) desigual e de trabalho obrigatório e gratuito do servo para com o senhor feudal, já que este vassalo não apenas pagava impostos e tinha obrigações como a corvéia, mas era tido como escravo ou propriedade de seu senhorio. 12. (UPE) A religião teve importância para a Idade Média em amplos aspectos da sua vida social. Além do seu destaque político, merece ressaltar figuras, como Tomás de Aquino, pensador influente, que, no período Medieval, a) foi um crítico dos costumes da época, sendo partidário de heresias que incomodavam o clero secular. b)se firmou como um dos pensadores importantes da Igreja Católica, embora tivesse ligações filosóficas com Aristóteles. c) negou a necessidade de acreditar em Deus de forma institucional, defendendo o pensamento de santo Agostinho. d)influenciou as ideias da Igreja no período da Alta Idade Média, com sua exaltação da fé individual. e) se tornou o centro do pensamento cristão no Ocidente, construindo uma reflexão a partir de Platão e dos préssocráticos. 13. (UFJF) Sobre o contexto de consolidação do poder da Igreja na Idade Média, leia as afirmativas abaixo e, em seguida, marque a opção CORRETA. I. O cristianismo e todas as suas instituições podem ser considerados elementos unificadores do mundo europeu após a crise do Império Romano e as invasões bárbaras. Nessa longa trajetória, a Igreja de Roma assume o seu papel de liderança religiosa, através do combate às heresias. II. Desde os primeiros tempos do período medieval, a união entre as Igrejas Ocidental e Bizantina representava o símbolo da unidade da cristandade. Os papas procuravam favorecer o Império Bizantino e consolidar a Igreja Ortodoxa, visando a aumentar a influência da Igreja romana no universo cristão ocidental. III. Havia grupos considerados heréticos, como os valdenses e os cátaros, que criticavam a hierarquia católica e não reconheciam a autoridade papal. Havia também outros movimentos que foram incorporados pela Igreja Católica e que levaram à formação de ordens religiosas, como franciscanos e dominicanos. a) Todas estão corretas. b) Todas estão incorretas. c) Apenas a I e a II estão corretas. d) Apenas a I e a III estão corretas. e) Apenas a II e a III estão corretas. 14. (URCA-CE) Leia o seguinte texto do historiador Georges Duby (Guilherme Marechal, Graal, 1988): Falei em homens. Pois esse mundo é masculino. Nele só contam os varões. Precisamos começar realçando esse traço primeiro, e fundamental: são pouquíssimas as figuras femininas no poema, e fugidias as suas aparições. As únicas mulheres que se conservam, por um momento, em cena pertencem à parentela do herói... Mas até essas parentas próximas só aparecem como sombras, não se vislumbram. Sobre o cotidiano medieval europeu é incorreto afirmar: a) as mulheres camponesas auxiliavam suas famílias nas tarefas agrícolas cotidianas. b) as mulheres dependendo de sua posição social podiam chegar a ocupar os mais altos cargos da hierarquia eclesiástica. c) as mulheres da nobreza se encarregavam da organização de suas casas e orientavam o trabalho de suas servas.

190 d) a Igreja justificava e favorecia a dominação masculina sobre as mulheres mostrando-se hostil à uma maior liberdade ao sexo feminino. e) em muitas cidades medievais, mulheres trabalhavam como artesãs e produziam tecidos, sabão, linhas e outros produtos. 15. (FUVEST) A palavra feudalismo carrega consigo vários sentidos. Dentre eles, podemse apontar aqueles ligados a: a) sociedades marcadas por dependências mútuas e assimétricas entre senhores e vassalos. b) relações de parentesco determinadas pelo local de nascimento, sobretudo quando urbano. c) regimes inteiramente dominados pela fé religiosa,seja ela cristã ou muçulmana. d) altas concentrações fundiárias e capitalistas. e) formas de economias de subsistência pré-agrícolas. 16. (UNICAMP) No quadro ao lado, observa-se a organização espacial do trabalho agrícola típica do período medieval. A partir dele, podemos afirmar que: a) os camponeses estão distantes do castelo porque já abandonavam o domínio senhorial, num momento em que práticas de conservação do solo, como a rotação de culturas, e a invenção de novos instrumentos, como o arado, aumentavam a produção agrícola. b) os camponeses utilizavam, então, práticas de plantio direto, o que permitia a melhor conservação do solo e a fertilidade das terras que pertenciam a um senhor feudal, como sugere o castelo fortificado que domina a paisagem ao fundo do quadro. c) um castelo fortificado domina a paisagem, ao fundo, pois os camponeses trabalhavam no domínio de um senhor; pode-se ver também que utilizavam práticas de rotação de culturas, visando à conservação do solo e à manutenção da fertilidade das terras. d) A cena retrata um momento de mudança técnica e social: desenvolviam-se novos instrumentos agrícolas, como o arado, e o uso de práticas de plantio direto, o que levava ao aumento da produção, permitindo que os camponeses abandonassem o domínio senhorial. 17. (UFRN)Leia com atenção a definição abaixo: Capitalismo: sistema econômico e social predominante na maioria dos países industrializados ou em industrialização. Neles, a economia baseia-se na separação entre trabalhadores juridicamente livres, que dispõem apenas da força de trabalho e a vendem em troca de salário, e capitalistas, os quais são proprietários dos meios de produção e contratam os trabalhadores para produzir mercadorias (bens dirigidos para o mercado) visando à obtenção de lucro. SANDRONI, Paulo (Org. e sup.). Dicionário de economia. São Paulo: Círculo do Livro, p. 40. Considerando as características apresentadas acima, o modelo socioeconômico do feudalismo: europeu na Idade Média se diferencia do modelo capitalista, pois, entre outros elementos, a) as demandas do comércio internacional por produtos agrícolas possibilitaram aos camponeses grandes lucros com a venda de excedentes da produção. b) as revoltas camponesas do século XV aboliram as taxações feudais e favoreceram a adoção do sistema de colonato no regime feudal. c) a maioria da mão de obra era empregada no campo, dedicando-se a uma produção de subsistência e ligando-se por laços servis à classe aristocrática.

191 d) a burguesia urbana enriquecida comprava títulos de nobreza e agravava a exploração da classe camponesa, submetida à servidão. 18. (UNIOESTE) Walafreus, colono e mordomo,... e sua mulher, colona, homens de S. Germain, têm filhos Ele detém dois mansos livres de terra arável, seis acres de vinha e quatro de prados. Deve por cada manso uma vaca num ano, um porco no seguinte, quatro dinheiros pelo direito de uzar o bosque, dois módios (40 litros) de vinho pelo direito de utilizar as pastagens, uma ovelha e um cordeiro Deve corvéias, carretos, trabalho manual, cortes de árvores, quando para isso receber ordens, três galinhas e quinze ovos... Poliptico da Abadiade St. Germain. In: FREITAS, Gustavo de. 900 textos e documentos de história. Lisboa: Plátano, 1975, v.1. p.145. O documento acima refere-se a relação entre senhores e servos na Europa medieval. Sobre as relações descritas acima, é correto afirmar que: a) Walafreus e sua família viviam como livres proprietários de terras na Abadia de S. Germain. b) as obrigações de Walafreus e sua família referem-se aos deveres que todo suserano tinha com seus vassalos. c) na estrutura do feudo, as terras ou mansos onde Walafreus e sua família viviam representam o manso senhorial. d) as obrigações de Walafreus e sua família descritas acima referem-se ao pagamento da mão morta. e) Walafreus e sua família tinham como obrigação a corveia, ou seja, a prestação direta de serviços nas terra dos seus senhores. 19. (UEM) "Na Idade Média, o processo de produção predominante o feudal teve relações sociais e uma ordem política e cultural específicas." (VICENTINO, C. História Geral. São Paulo: Scipione, p. 111.) Sobre o feudalismo na Europa Ocidental, assinale a alternativa correta. a) No feudalismo, a principal fonte de poder dos barões feudais se assentava nas manufaturas e nas companhias de comércio criadas e administradas por eles. b) Politicamente, o feudalismo pode ser caracterizado como um regime amplamente democrático, no qual servos e senhores participam igualmente da direção política e econômica da sociedade. c) O feudalismo é um sistema político e social caracterizado pela centralização do poder nas mãos do rei e pela ausência de poder nas mãos dos integrantes do clero e da nobreza. d) O comércio e as manufaturas contribuíram para o fim do feudalismo europeu ocidental na medida em que possibilitaram a ascensão social e política do Terceiro Estado e o enfraquecimento da servidão. e) No feudalismo, a ciência e a cultura letrada se desenvolveram fora do raio de influência da Igreja Católica e dos ensinamentos bíblicos. 20. (VUNESP) Por esses motivos, [...] declaramos que você é uma herege reincidente e [...] deve ser abandonada por nós e separada da Igreja, para que não contamine os outros membros.(relatório final do tribunal eclesiástico que julgou Joana D Arc em maio de 1431) O documento histórico remete ao papel desempenhado pela Inquisição, por meio da qual a Igreja Católica procurou: a) ampliar seu número de fiéis, minimizando a conversão de camponeses europeus para a religião muçulmana. b) difundir entre seus seguidores o princípio da lei de talião, evitando que a moral cristã se perdesse em meio às guerras e revoltas do período. c) demonstrar sua força e autoridade sobre a cristandade ocidental, visando à unificação com a Igreja Cristã Ortodoxa. d) combater atitudes, doutrinas e ideias que questionassem seus dogmas, pretendendo reforçar seu poder espiritual e temporal. e) colaborar com os nascentes Estados modernos europeus, exercendo o poder Judiciário com base no Direito Romano.

192 OLHARES HISTÓRICOS Livros Idade Média. Christian Amalvi. In: Jacques LE GOFF & Jean-Claude SCHMITT (dirs). Dicionário Temático do Ocidente Medieval. Bauru, SP: EDUSC. vol.1. Passagens da Antiguidade ao Feudalismo. Perry Anderson. São Paulo: Brasiliense. História das Inquisições. Francisco Bethencourt. São Paulo: Companhia das Letras, A Idade Média: nascimento do Ocidente. Hilário Franco Júnior. 2ª edição revista e ampliada. São Paulo: Editora Brasiliense. A civilização do Ocidente Medieval. Jacques Le Goff. São Paulo: EDUSC. Cinema Robin Hood Direção de Ridley Scott (Inglaterra/Estados Unidos) Épico que narra a história do herói que lidera camponeses contra o déspota que se aproveita da ausência do rei Ricardo Coração de Leão para tomar o poder na Inglaterra. As aventuras de Erik, o viking (Inglaterra, min). Direção de Terry Jones. O filme narra com irreverência e sarcasmo a vida de um guerreiro viking. Sites Associação Brasileira de Estudos Medievais (ABREM) Site oficial da associação disponibiliza informações importantes sobre o medievo. Disponível em: Museu do Louvre Na página é possível fazer uma visita virtual às seções medievais do famoso museu francês, cujo prédio tem origem na Idade Média (em inglês, francês e chinês). Disponível em:

193 Surgimento e expansão dos Impérios Bizantino e Islâmico 1. O Império Bizantino A formação do Império Bizantino remonta às crises do Império Romano desencadeadas por volta dos séculos III e IV. Devido o declínio de Roma, o imperador Constantino, em 330, transforma Bizâncio (batizada de Constantinopla) na capital do Império no oriente. Em 395, Teodósio descentraliza a administração imperial e resolve dividi-la em: Império Romano do Ocidente (capital Milão) e Império Romano do Oriente (capital Constantinopla). Robert Raderschatt Basílica de Santa Sofia, Istambul (antiga Constantinopla), Turquia. A capital do Império Bizantino, Constantinopla, tinha grande potencialidade financeira e comercial. Como já foi visto, o Império Romano do Ocidente perdura até o século V. Enquanto isso, o do Império Bizantino se estende até 1453 com características bastante peculiares. A civilização bizantina era constituída por várias etnias, entre elas, gregas, asiáticas, egípcias e semitas. Essa diversidade de povos transformou Bizâncio num legítimo mosaico cultural. Num certo sentido isso era verdadeiro, pois aquilo que se tornou conhecido por Império Bizantino era na origem o Império do Oriente (Grécia, Egito, Síria-Palestina, Mesopotâmia, Ásia Menor). E realmente, como Roma, Bizâncio uniu, através de um língua e uma determinada maneira de sentir e de pensar, povos que nada tinham em comum entre si. Como os antigos gregos e romanos, os bizantinos consideravam-se os únicos habitantes do mundo civilizado, rotulando de bárbaros todos os que não partilhavam de sua cultura. (...) Por isso mesmo suas relações com o Ocidente medieval sempre foram difíceis. FRANCO JÚNIOR, Hilário e ANDRADE FILHO, Ruy de Oliveira. O Império Bizantino. São Paulo: Brasiliense, 1994.

194 Distinguindo-se da Europa Feudal, o Império Bizantino conseguiu manter um governo centralizado e uma economia altamente dinâmica. Essa esplendorosa civilização floresceu em torno da sua unidade religiosa, resultando numa rica produção cultural que possuía características cosmopolitas. A capital do Império Bizantino, Constantinopla, tinha grande potencialidade financeira e comercial. Nessa cidade, era nítida a influência da cultura romana. Por exemplo, o idioma oficial permanecia sendo o latim. No Império Bizantino, chamava o chefe de governo de Basileu. Ele detinha poderes religiosos e políticos. Desse modo, concentravam em suas mãos, simultaneamente poderes temporais (César, chefe de Estado) e espirituais (Papa, chefe da Igreja), por isso esse tipo de administrar ficou conhecido de cesaropapismo. Vatican Library Os basileus se autodenominavam escolhidos de Deus, portanto, podiam exercer o poder de forma despótica. Guiados por essa concepção teocrática, os imperadores bizantinos governaram com poderes ilimitados, influenciando, praticamente, em todos os âmbitos da sociedade. O governo bizantino também acumulava outros cargos burocráticos, tais como líder do exército, administrador das construções das obras públicas, auditor tributário e chefe da diplomacia. Esse fato justifica-se, pois o imperador era visto como o vigário de Deus, por isso, devia governar de maneira absoluta. Economia VIDAL-NAQUET, P.; BERTIN, J. Atlas Histórico de Lisboa: Círculo de leitores, A economia bizantina era bastante diversificada. Além das intensas atividades comerciais (terrestres e marítimas), as produções agrícolas e manufatureiras complementavam a economia imperial. Nas feiras de Constantinopla vendiam-se mercadorias importadas dos países europeus, árabes e do extremo oriente. Constantinopla tinha elevada importância comercial dada a sua privilegiada localização geográfica. Frotas de várias localidades vinham negociar na capital, realizando muitas transações comerciais. Por concentrar grande quantidade de produtos (artigos de luxo, objetos de arte, especiarias e jóias) e intensas atividades industriais, Constantinopla tornouse o mais relevante centro urbano e comercial europeu. O Império Bizantino possuía uma eficiente estrutura administrativa, o que facilitava o forte controle da economia, a arrecadação de impostos e a regulamentação das relações comerciais através da elaboração de várias leis protecionistas.

195 Sociedade A sociedade bizantina urbana era composta pelos aristocratas (latifundiários dínatas, grandes comerciantes, altos funcionários, membros da corte e do clero), pelos pequenos negociantes, artesãos, camponeses livres e escravos. De acordo com pesquisadores, não havia muita distinção social entre pobres e ricos em Constantinopla. Essa hipótese pode ser discutida, pois nos bairros que possuíam casas luxuosas também eram construídos casebres habitados pelos pobres. Entretanto, as residências dos nobres eram protegidas por muros o que dificultava um maior contato entre as diferentes classes sociais. A vida social dos bizantinos se concentrava no Hipódromo, na Basílica de Santa Sofia e no Palácio Imperial. O Hipódromo lotava em dias de corridas. Nesses eventos, os homens mais ricos vestiam as suas melhores roupas (casacos bordados), enquanto que suas mulheres se trajavam com preciosas jóias e belos chapéus. Os homens bizantinos não acostumavam barbear-se, segundo as concepções de alguns deles, era imoral fazer a barba. Nessa época os casamentos realizavam-se por meio de negociações ou conveniências. Apenas o casamento do basileu fugia dessa regra. De acordo com a tradição, cabia a um grupo de funcionários da corte sair em busca de uma noiva para o Imperador. Geralmente, selecionavam-se as jovens contidas e formosas. A família determinava o futuro de seus jovens e com ela a parentela toda. A idade em ocorriam essas escolhas constitui objeto de informações divergentes em nossas fontes. A maioria das histórias sobre as vidas de santos mostra adolescentes ou jovens adultos que tomam sua decisão ascética ao recusar um projeto de casamento. Ao longo de uma longa evolução, uma lei do final do século VIII fazia bênção nupcial, o passo necessário e suficiente para a celebração do casamento. No entanto, pelo menos desde o século VI, o noivado adquiria crescente importância até produzir efeitos comparáveis aos casamentos. Oferecia, pois, uma solução às famílias apressadas demais para esperarem a nubilidade legal, classicamente fixada em doze anos para as meninas e catorze para os meninos, pois podia-se celebrá-lo a partir da idade requerida para o consentimento. ARIÈS, Philippe. e DUBY, Georges. História da vida privada: do Império Romano ao ano mil. São Paulo: Companhia das Letras, As crianças bizantinas começavam a freqüentar as escolas a partir dos seis anos. O ensino era coordenado pela Igreja, entretanto permitiam-se os estudos de escritores laicos. É interessante relatar, que tanto as crianças pobres quanto as ricas tinham oportunidade de participar do processo educacional. Ao completar dezoito anos, aprofundavam seus estudos nas disciplinas de filosofia, matemática, astronomia, geometria e música. O governo de Justiniano O Império Bizantino atinge seu apogeu no governo de Justiniano ( ). Sua administração caracterizou-se pela estabilidade e pela política expansionista que anexou ao império regiões africanas, italianas e ibéricas. Além disso, Justiniano realizou uma série de empreendimentos nos setores culturais e econômicos. Ele também embelezou a capital do império, construindo várias obras, a principal delas foi a Catedral de Santa Sofia. Imperador Justiniano em mosaico, Ravena. O Império Bizantino atinge seu apogeu no governo de Justiniano.

196 No campo jurídico, Justiniano sistematizou o Direito Romano, elaborando o Corpus Júris Civilis (Corpo do Direito Civil), também conhecido como Código Justiniano. Esse compêndio de leis dividia-se em o Código (conjunto de todos os decretos imperiais homologadas desde o governo de Adriano), as Novelas ou Autênticas (leis criadas após 534), o Digesto ou Pandectas (síntese de as constituições romanas) e as Institutas (guia para uso dos estudantes). Desse modo, percebe-se que a religião e o direito romano eram usados como eficientes mecanismos que garantiam a centralização do poder imperial. Vale salientar, que o Código de Justiniano tem ressonância, ainda hoje, nas práticas jurídicas do mundo ocidental. O governo de Justiniano também foi marcado pelo combate às praticas de corrupção nas instituições estatais e pela política de auxílio econômico aos comerciantes e artesãos. Essas reformas se estenderam para o campo religioso, uma vez que houve a ampliação do poder da Igreja em várias partes do Império. Para manter o complexo aparelho administrativo e garantir o controle sobre as recentes fronteiras conquistadas, houve a necessidade de aumentar os tributos. Esse procedimento provocou muitas insatisfações sociais. Os altos impostos e os elevados índices inflacionários contribuíram para a eclosão da Revolta de Nika. Essa sublevação teve seu início, em 532, durante um evento realizado no hipódromo. Diante dessa situação, Justiniano pensou em fugir, mas, sua esposa Teodora não permitiu. Com essa atitude, a imperatriz Teodora demonstrou ter conhecimentos políticos e coragem de enfrentar os problemas que assolavam Bizâncio. Os revoltosos, durante três dias, incendiaram edifícios públicos, ecoando a palavra Nika! Nika! (em grego significa vitória). Entretanto, o general de Justiniano, Belisário conseguiu reprimir a revolta, matando, aproximadamente, trinta mil pessoas. Após a morte de Justiniano, o Império inicia um processo de irreversível decadência. Os principais fatores que contribuíram para a derrocada do Império Bizantino foram as disputas internas, a vulnerabilidade do poder central, as revoltas em várias regiões imperiais e a crise econômica. Nesse cenário, em 1453, Constantinopla foi conquistada pelos turcos,decretando de uma vez o fim do Império Romano do Oriente. As querelas religiosas: heresias e cisma A Igreja Católica Bizantina possuía características distintas, pois agregou múltiplas culturas e costumes orientais. Com o passar dos anos foram criadas facções religiosas que passaram a questionar os princípios dogmáticos do catolicismo. As principais correntes, classificadas pela Igreja do Ocidente de movimentos heréticos, foram os monofisistas e os iconoclastas. Os monofisistas pregavam que Jesus Cristo era dotado, apenas, pela natureza divina. Já os iconoclastas se opunham à adoração de ícones ou imagens, defendo até mesmo a sua destruição. Essas divergências provocaram graves crises político-religiosas entre os católicos ocidentais e orientais. As imagens, ícones, dos personagens divinos, aceitas inicialmente para instruir os fiéis nos mistérios da fé cristã, tornaram-se tão numerosas que suscitavam estranhos fervores, práticas religiosas particulares, verdadeiras devoções populares. Eram encontradas em toda a parte: afresco ou mosaicos nas cúpulas e nas paredes das igrejas, relevos de marfim ou de madeira pintados, placas de bronze douradas ou esmaltadas expostas no dia de festa do santo e associadas diretamente ao ritual dos ofícios. (...) Esses excessos provocaram, em alguns meios mais rigorosos, uma viva reação. Leigos, sacerdotes lembram as condenações ou as admoestações dos primeiros doutores da Igreja e invocam a abolição do culto das imagens. Assim, chocam-se claramente: os iconólatras favoráveis às imagens e os iconoclastas, hostis. (...) HEERS, Jacques. História Medieval. Rio de Janeiro: Difel. p.258. No século V iniciou-se uma forte discussão sobre natureza de Cristo (monofisismo). O patriarca Nestório defendia a tese que Jesus possuía duas essências (a divina e a humana),

197 enquanto a sua mãe Maria tinha apenas a substância humana. Essas teorias ficaram conhecidas como heresias nestorianas, sendo intensamente criticadas pela Igreja Romana. Outro ponto desse conflito teológico entre o Oriente e o Ocidente foi a Iconoclastia que tratou da questão da pertinência do culto às imagens sagradas. A veneração de imagens foi condenada pela Igreja do Oriente que classificava tal atitude como idolatria. Diante desses fatos, o imperador Leão III ( ) oficializou a proibição do culto aos ícones. As intenções desse decreto eram amenizar o poder dos monges (responsáveis pela comercialização de imagens) e preservar o ritual religioso menos místico. Enfim, essas querelas entre o chefe da Igreja do Ocidente (papa) e a autoridade da Igreja do Oriente (patriarca) chegaram ao extremo em 1054, quando ocorreu a ruptura entre as entidades religiosas que perdura até hoje. Esse evento ficou conhecido como o Cisma do Oriente, dando origem a Igreja Católica Apostólica Romana e a Igreja Ortodoxa Grega. Cultura Bizantina A produção cultural bizantina foi reflexo das influências grega, romana e oriental. Suas concepções artísticas combinavam luxo, sofisticação, grandiosidade e harmonia. A cultura bizantina estava muito ligada aos valores religiosos, entretanto, paulatinamente padrões artísticos profanos também foram inseridos em suas manifestações culturais, tornando-as conservadoras e tradicionais. Em decorrência de sua variedade étnica, torna-se altamente complexo estabelecer os itens que compunham o perfil da cultura bizantina. Talvez, seja mais simples relatar as mais destacadas expressões das artes em Bizâncio, a saber, arquitetura, pintura, escultura, artesanato, ourivesaria, literatura e música. Pintura de Anastasis, Kariye Camii, Igreja do Salvador. A arte bizantina tinha forte caráter religioso. A arquitetura bizantina caracterizou-se pela suntuosidade, suas construções demonstraram arrojados domínios de técnicas de engenharia. A principal obra arquitetônica bizantina é a Igreja de Santa Sofia. Suas cúpula arredonda sustentada em arcos, seus belíssimos capitéis e suas paredes decoradas com suntuosos mosaicos expressam de forma magnífica a paradigmática da arte bizantina. Os mosaicos eram bastante utilizados pelos bizantinos nas ornamentações dos templos religiosos. Entretanto, os mosaicos também simbolizavam um guia espiritual dos fiéis, pois representavam em suas obras as imagens de Cristo, dos basileus e dos profetas. A arte

198 musiva utilizava-se de vários recursos técnicos, como por exemplo, o uso denso da cor dourada, a apresentação de figuras sob a ordem da frontalidade e da verticalidade. 2. O Império Árabe A Península Arábica localiza-se entre o Oceano Índico, Golfo Pérsico e o Mar Vermelho. Essa região durante os primeiros séculos da era cristã era povoada por várias tribos. As tribos nômades dos beduínos viviam no deserto. Eles praticavam o pastoreio e organizavam muitas pilhagens. Ao sul e sudeste da Península ficavam os grupos urbanos sedentários que se dedicavam às atividades agrícolas e comerciais. As cidades de Meca e Iatreb tornaram-se as principais rotas comerciais da época. Caravanas vindas da África e do Extremo Oriente cruzavam o deserto para negociar nessas cidades. Além do seu potencial econômico, Meca também se tornara um ativo centro de peregrinações religiosas. Os visitantes direcionavam suas orações para a Caaba. Photo Taken by Ali Mansuri Um fiel realiza uma oração perto da Caaba. Atualmente, a Caaba ou Pedra Negra simboliza a casa de Deus. Segundo os muçulmanos, ela representa centro do universo. A Caaba ou a Pedra Negra consiste numa construção sagrada reverenciada até os dias atuais pelos mulçumanos. Em forma de cubo e coberta por uma manta com detalhes dourados, algumas lendas afiram que ela teria sido erguida por Adão com o propósito de adorar a Deus. Entretanto, o livro sagrado dos islâmicos (Alcorão) relata que a Pedra Negra foi entregue pelo anjo Gabriel ao patriarca Abraão. Inicialmente, os habitantes da Península Arábica eram politeístas, não acreditavam na vida eterna e tinham forte temor pelos espíritos do mal. Todas as tribos acreditavam nos espíritos simbolizados pelas forças naturais, os djins. Após entrar em contato com os judeus e cristãos, os beduínos mudaram tal concepção, pois passaram a crer na existência de um ser supremo chamado de Alá e na vida após a morte. Pode-se afirmar, categoricamente, que essa convivência pavimentou o caminho para o desenvolvimento do islamismo entre os árabes.

199 Maomé: o enviado de Alá Nascido em Meca, em 570, Maomé é considerado o fundador do islamismo. Ele era membro de uma pequena tribo chamada de coraixitas. Maomé ficou órfão muito jovem, passando a ser criado pelo avô. A partir dos quinze anos passa a conduzir as caravanas comerciais pelos desertos, o que possibilitou o conhecer os preceitos do cristianismo e do judaísmo. Alguns anos mais tarde casa-se com a viúva Khadija. De acordo com a tradição muçulmana, por volta de 610, Maomé recebe do arcanjo Gabriel a incumbência de anunciar a existência de um só deus, eterno e criador de todas coisas, Alá. Segundo essa revelação, Maomé se tornara o único profeta apto para representar e propagar a vontade de Alá na terra. A princípio a pregação de Maomé encontrou muita resistência dos habitantes de Meca. Isso porque o culto à Caaba tinha adquirido imensa popularidade o que colocava em risco os interesses dos comerciantes que lucravam bastante com as peregrinações religiosas. Por essa razão, em 622, Maomé e seus adeptos ( muslim, daí a origem da palavra mulçumano) fogem de Meca com destino a Iatreb, batizada anos mais tarde de Medina em homenagem ao profeta. Esse evento passou a ser denominado de Hégira emigração, sendo essa data (622) o marco do calendário islâmico. O Profeta Maomé, recitando o Alcorão em Meca (grav. séc. XV). Segundo a tradição islâmica Maomé recebeu do arcanjo Gabriel a incumbência de anunciar a existência de um só deus, eterno e criador de todas coisas, Alá. Em pouco tempo, Maomé conquistou com suas pregações muitos seguidores em Medina. Nessa cidade, ele consolidou o culto a Alá o que lhe trouxe poder político e religioso. Por isso, em 630 ele organiza um exército poderoso com o objetivo de invadir Meca, destruir as centenas de ídolos e impondo violentamente a veneração a Alá. Nessa invasão apenas a Caaba, em se tratando de ídolos, foi preservada. A partir de então, Maomé se torna chefe dos árabes. Maomé e a origem do Islamismo Para os mulçumanos, o Islã sempre existiu como modo de vida que Alá havia destinado às pessoas. Eles acreditavam que Deus enviou diversos profetas tais como: Abraão (Ibraim), Moisés (Musa), Jesus (Issa) e o último, Maomé, mensageiro de Deus. (...) Com o passar do tempo, ele se sentia cada vez mais chocado com a grande quantidade de deuses adorados na Arábia. A cada ano, Maomé retirava-se para uma caverna no Monte de Hira, nos arredores de Meca, e lá meditava sobre Deus. Aos 40 anos, Maomé recebeu a revelação através do anjo Jibril (ou Gabriel). Mais tarde, essas revelações foram transcritas para o livro sagrado, o Corão. JORDACK, D.M. Islamismo. Blumenau: Todo livro, s.d (Coleção Conhecendo as Religiões)

200 Maomé morre em 632 deixando como legado maior, a unidade política dos árabes em torno do islamismo e o compromisso de todos os fiéis em continuar adorando o deus criador Alá, seguindo fidedignamente os princípios morais emanados dele. A doutrina Islâmica A religião criada por Maomé faz uma síntese dos fundamentos das doutrinas do cristianismo, judaísmo e masdeísmo associando-os aos costumes místicos praticados pelos árabes de sua época. O Islamismo (derivada de Islam, submissão a vontade de Alá) baseiase no monoteísmo absoluto e na total sujeição aos planos divinos. Os cinco princípios basilares do islamismo são: Testemunhar e professar ( chachada ) a crença em um só deus, Alá, e Maomé como o seu maior profeta; Orar de três a cinco vezes ao dia ( salat ) em direção à Meca; Obrigatoriedade de Jejuar no período do ramadã (mês sagrado dos mulçumanos); Os mais ricos devem pagar a décima parte de suas riquezas ( zakat ) com a finalidade de ajudar aos pobres; Fazer peregrinação à cidade sagrada de Meca, no mínimo uma vez na vida, caso tivesse condições de custear a viagem. "Deus dá testemunho de que não há mais divindade além d'ele; os anjos e os sábios O confirmam Justiceiro; não há mais divindade além d'ele, o Poderoso, o Prudentíssimo. (...) Amparai-vos na perseverança e na oração. Sabei que ela (a oração) é carga pesada, salvo para os humildes, Que sabem que encontrarão o seu Senhor e a Ele retornarão. (...) Assim disse Deus Todo Poderoso Senhor da Glória: Dentre os meus servos, prefiro aquele que se apressa em quebrar o jejum. Praticai a oração, pagai o Zakat e genuflecti, juntamente com os que genuflectem. (...) Uma peregrinação cumprida com total devoção possibilita o paraíso como recompensa." Trechos do Alcorão. Disponível em Acesso em 06 de fevereiro de Todos os pilares do islamismo estão contidos em dois livros sagrados: o Corão ou Alcorão que reúne os fundamentos doutrinários definidos por Maomé e a Suna escrito pelos sucessores de Maomé. A Suna contém as bases dos costumes, das tradições e dos ensinamentos do profeta, por isso é considerada como a Lei Oral do Islão. Alcorão (século XII). O Alcorão contém todos princípios fundamentais do islamismo.

201 A expansão e fragmentação do Império A morte de Maomé, em 632, gerou uma grave crise política na sucessão governamental. Para os xiitas, somente algum descendente de Maomé poderia assumir o governo. Já os sunitas eram favoráveis a escolha entre os mulçumanos de uma pessoa que possuísse capacidade política e administrativa, independentemente dos seus laços de parentescos com o profeta.. Tentando evitar mais secessão, os conselheiros de Medina e Meca propuseram a criação do califado. Quem assumisse esse cargo passaria a ter poderes nas esferas política, religiosa e militar, ou seja, o Estado mulçumano pode ser classificado como teocrático. O sogro de Maomé, Abu Bekr, tornou-se o primeiro califa. Ao assumir o poder, Abu Beckr organiza um eficiente exército, dando início às conquistas árabes. O principal argumento para a expansão pautou-se na guerra santa, jihah, ou seja, a difusão da fé em Alá por intermédio da conquista de novos adeptos (os infiéis) sob o uso da violência. O jihad deu início ao choque cultural entre cristianismo (ocidente) e islamismo (oriente) que podem ainda ser vistos na atualidade. A partir de 634, os árabes conseguem dominar os territórios persas, sírios, palestinos, egípcios e tunisianos. A conquista do norte da África, sob o comando da dinastia dos Omíadas ( ), facilitou a invasão da Europa e o conseqüente controle sobre a Península Ibérica em 711. Essas conquistas levaram os árabes a ter o monopólio comercial do Mar Mediterrâneo. A rápida expansão mulçumana pode ser entendida através de vários aspectos. Devido a pouca quantidade de terras férteis na Península Arábica, houve a necessidade de explorar novas regiões. Outro motivo foi a forte unidade dos islâmicos guiados pelo princípio do jihad, guerra santa. Recentemente, alguns autores não admitem mais associar guerra santa ao jihad. Segundo eles, a tradução mais correta do jihad seria o esforço militar com o objetivo de proteger os ideais islâmicos. DUBY, Georges. Atlas historique. Paris: Larousse, Além desses fatores, o aumento demográfico, a descentralização política na Europa Ocidental (Feudalismo), a fragilidade do Império Bizantino e do Império Persa também servem para justificar o crescimento acelerado dos domínios árabes.

202 É interessante observar a relativa tolerância empreendida pelos muçulmanos em relação aos povos subjugados que rejeitavam os preceitos do Islã. Nesse sentido, exigiam-se de tais grupos o pagamento de tributos e o reconhecimento da supremacia da religião fundada por Maomé. Após a expansão, o islamismo se tornou numa das grandes religiões da época medieval. No entanto, embora a fé unisse os árabes, as questões políticas levaram a fragmentação do Império durante a dinastia dos Abássidas ( ). A princípio, as regiões dominadas eram administradas por um só governo sediado em Damasco, na Síria. Em seguida, a capital transferiu-se para Bagdá, na Mesopotâmia. No século VIII, o governante Abder Rahman declarou a emancipação da região de Córdoba. Essa disputa política impulsionou a criação de várias regiões administrativas independentes (califados), a saber, Tunísia, Egito, Marrocos e Córdoba. A Cultura Árabe A expansão mulçumana possibilitou o florescimento de uma sofisticada cultura desenvolvida pelos árabes. O contato com diversos povos resultou numa admirável produção artística em variados campo do saber: matemática, astronomia, botânica, alquimia, filosofia, arquitetura, matemática, medicina, história, música, literatura e pintura. Boa parte dos intelectuais islâmicos possuía uma formação marcada pelo ecletismo, ou seja, suas pesquisas se estendiam em vários ramos do conhecimento. O sábio Al-Biruni segue esse modelo, pois era historiador, matemático, botânico, astrônomo e poeta. Outras marcas da cultura islâmica eram os domínios das técnicas de observações e experiências usadas no desenvolvimento dos estudos. Pouca atrelada às concepções religiosas, os pensadores árabes buscavam sempre uma explicação lógica e plausível os fenômenos naturais. Alguns autores atribuem a gênese da efervescente cultura islâmica ao setor da construção naval. Nessa área do saber foram aplicados uma série de conhecimentos sobre cartografia, geografia e astronomia. A matemática alcançou um notório progresso, uma vez que os árabes inventaram um prático e inovador sistema numérico, contribuindo para o desenvolvimento da trigonometria e da geometria. Influenciadas pelas concepções estéticas sírias, a arquitetura mulçumana se destacou através de suas famosas mesquitas. Para muitos especialistas, essas projeções arquitetônicas representam o maior exemplo da fusão cultural entre o oriente e o ocidente. Steven J. Dunlop Interior da Mesquita de Córdoba, Espanha. Influenciadas pelas concepções estéticas sírias, a arquitetura mulçumana se destacou através de suas magníficas mesquitas.

203 Os árabes também foram extremamente habilidosos nas artes de ornamentações. Como a sua religião proibia o uso de figuras humanas, eles criaram os arabescos, um tipo de pintura que reproduzia a natureza (árvores e plantas). A filosofia islâmica foi marcada pela análise dos grandes pensadores gregos. Os principais filósofos árabes foram Avicena ( ) e Averrois ( ). Além de filósofo, Avicena realizou estudos nas áreas de gramática, geometria, física (descobriu a capilaridade), direito, teologia e medicina. Ele fez profundas releituras sobre os pensamentos de Platão e Aristóteles, procurando fazer uma possível conciliação de suas teorias. O filósofo Averrois aprofundou-se nos estudos do pensamento de Aristóteles, chegando a traduzir diversas obras dele do grego para o árabe. Para alguns escritores, as teorias aristotélicas foram bem recepcionadas no ocidente graças aos comentários elaborados por Averrois. Ele também se dedicou à astronomia, medicina e direito canônico. Na literatura prevaleceram os poemas de amor e épicos, além dos contos de aventura, como o clássico As mil e uma noites, o Livro dos reis e Ruayat, escritos por Omar Khayan. Através dos muçulmanos chegaram ao mundo ocidental os seguintes produtos agrícolas: o cacau, o algodão, a cana-de-açúcar, o limão, a laranja e o arroz. Nessa mesma área eles nos legaram variadas técnicas, a saber, o açude, os canais para mover os moinhos ( as levadas ), a azenha (moinho de água) e a nora (instrumento de captação de água). Outras descobertas importantes realizadas pelos islâmicos foram a do álcool, do ácido sulfúrico, do nitrato de prata e do sal amoníaco.

204 TEXTO COMPLEMENTAR O caso Benazir: uma hipótese a considerar O que pode haver em comum entre o assassinato de John Kennedy em 1963, os atentados de 11 de setembro de 2001 e o assassinato da ex-primeira ministra paquistanesa e líder oposicionista Benazir Bhutto, no último 27 de dezembro (2007)? A pergunta não se refere aos motivos dos atentados, e sim ao que há em comum na estrutura dos atos, na seqüência de suas etapas e no desfecho de cada um. O motivo da pergunta é a fragilidade das versões oficiais e as controvérsias sobre quem de fato cometeu o crime e por qual motivo. Passaram-se já 44 anos e persiste a dúvida: a quem interessava o assassinato de JFK? Desde 11/9/2001, os norte-americanos repetem a mesma indagação: quem derrubou as torres de Nova York? Quem atacou o Pentágono e por qual motivo? Nos dias atuais, é legítimo que surja a mesma pergunta sobre o assassinato da Benazir Bhutto. Qual versão que devemos aceitar: a do governo paquistanês ou a das testemunhas oculares? O governo alega que a líder da oposição morreu ao bater a cabeça em uma barra de ferro no teto do carro, quanto tentava fugir dos disparos do atirador, que em seguida detonou os explosivos presos a seu corpo. A oposição, convicta de que a Benazir foi atingida na cabeça por um tiro, rejeita essa versão e acusa o governo de esconder a verdade. Nos três atentados, algumas questões são idênticas. Limpeza imediata da área do crime, revelação do nome do criminoso antes de qualquer investigação e a morte do suspeito antes de qualquer confissão. (...) Partindo desse princípio, cabe então perguntar o que aconteceu realmente no Paquistão. A resposta leva a imaginar uma situação parecida com a que ocorreu no caso John Kennedy, em 1963, quando uma fonte de informação valiosa, o suposto assassino, foi eliminada. No caso paquistanês, bastaria que ao assassino, um matador de aluguel, fosse oferecido um colete à prova de balas para supostamente protegê-lo da reação dos agentes de segurança da candidata de oposição. Aos interessados no assassínio de Benazir pouco interessaria a sobrevivência do matador, bastando-lhes, suponhamos, prover seu colete com carga explosiva a ser detonada por controle remoto. E eis o crime com todas as características de um atentado seguido de suicídio. Não se trata de fato provado, naturalmente, mas de uma hipótese a ser pensada. Resta saber se ao governo paquistanês interessa apurar o assunto por este ângulo, tratando-se de um crime que afinal resultou tão absolutamente profilático, a começar pela morte do assassino e, em seguida, concluindo com o desrespeito a uma regra básica das investigações periciais sérias, que é a de isolar e preservar pelo tempo necessário todo o cenário do crime. Por que, nos três casos mencionados neste artigo, repetiu-se o mesmo esquema? A pergunta deve ser dirigida aos senhores que, nos três casos, ordenaram semelhante faxina. Material e humana. Artigo elaborado por Mohamed Habib, ex-diretor do Instituto de Biologia e é pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários da Unicamp. Disponível em Acesso em 06 de fevereiro de Analisando o texto 1. Qual foi intenção em fazer a comparação em os casos John Kennedy, o 11 de setembro e da líder Benazir Bhutto? 2. Após a leitura faça um pesquisa sobre a trajetória biográfica e política da líder paquistanesa Benazir Bhutto.

205 FAZENDO HISTÓRIA 1. Elabore um quadro-resumo sobre a sociedade, a religião e a economia do Império Bizantino. 2. Qual o significado do termo cesaropapismo e quais as principais conseqüências políticas dessa forma de governo? 3. Cite as principais características do governo de Justiniano. 4. Faça um comentário sobre as principais manifestações culturais bizantinas. 5. Em que consistia o Corpus Júris Civilis? Qual a sua importância para o mundo ocidental? 6. A saída de Maomé de Meca para Iatreb se transformou num marco histórico para os árabes. Através da construção de pequeno justifique tal assertiva. 7. Identifique os pilares do islamismo, tecendo um rápido comentário sobre cada um deles. 8. Faça um quadro expondo os pontos e divergentes entre o judaísmo, cristianismo e islamismo. 9. Comente sobre os principais legados árabes para a civilização do ocidente. 10. Os diversos atentados terroristas (Nova York, Madri, Londres) atribuídos aos fundamentalistas islâmicos, contribuíram para a reprodução de uma imagem que atrela os árabes às práticas terroristas. Pesquise na internet, em jornais, livros e revistas tal situação e em seguida dê sua opinião sobre o tema pesquisado.

206 QUESTÕES DE VESTIBULARES 1. (UNESP) Num momento em que o Império Romano do Ocidente havia desmoronado e os Impérios Bizantino e Persa se esfacelavam, os árabes expandiram consideravelmente seus domínios. Em menos de 100 anos o Islã era a religião de toda a costa sul e leste do Mediterrâneo, além de ter se espalhado para a Pérsia, até o vale do Indo, e para a Península Ibérica. (Cláudio Vicentino e Gianpaolo Dorigo, História para o Ensino Médio) No contexto de tantas conquistas, a civilização árabe: a) sintetizou criativamente as tradições culturais árabe, bizantina, persa, indiana e grega. b) rejeitou as contribuições culturais originadas de povos que professassem outras crenças. c) submeteu pelas armas os povos conquistados e impôs o deslocamento forçado das populações escravizadas. d) perseguiu implacavelmente os judeus, levando à sua dispersão pelos territórios da Europa do leste. e) desprezou os ofícios ligados às artes, às ciências e à filosofia relegados aos povos conquistados. 2. (UPE) Sobre o Islamismo, considere as proposições abaixo. I. Possibilitou a unificação dos povos árabes em torno de uma nova identidade religiosa, a partir da qual se criou outra organização política e social. II. A religião islâmica prega a submissão plena do ser humano aos preceitos de Alá, o Deus único e criador do universo. III. Os princípios básicos do Islamismo encontram-se reunidos no Alcorão, livro sagrado dos muçulmanos. IV. Crer unicamente em Alá e em Maomé, seu profeta, é uma das cinco obrigações básicas que regem a vida religiosa dos muçulmanos. Estão corretas: a) somente I e III. b) somente I e IV. c) somente II e IV. d) somente II, III e IV. e) I, II, III e IV. 3. (UFJF-MG) O islamismo, religião fundada por Maomé e de grande importância na Unidade árabe, tem como fundamento: a) o monoteísmo, influência do cristianismo e do judaísmo, observado por Maomé entre povos que seguiam essas religiões. b) o culto dos santos e profetas através de imagens e ídolos. c) o politeísmo, isto é, a crença em muitos deuses, dos quais o principal é Alá. d) o princípio da aceitação dos desígnios de Alá em vida e a negação de uma vida pósmorte. e) a concepção do islamismo vinculado exclusivamente aos árabes, não podendo ser professado pelos povos inferiores. 4. (COVEST) O Império Bizantino teve importância histórica na Idade Média, mostrando que não apenas a Europa produz cultura e tampouco existe um centro de poder que domina toda a vida social. A economia possuía intensa movimentação financeira, para a época, com fábricas e um dinâmico comércio. A sociedade desse Império: a) era marcada pelo igualitarismo, devido aos princípios religiosos dos governantes mais tradicionais. b) conseguiu atingir grandes níveis de luxo e ostentação por parte da sua aristocracia, formada pela minoria da população. c) tinha a presença dos latifundiários como dominantes e controladores da maior parte das riquezas e da administração pública.

207 d) assemelhava-se à sociedade romana, pela divulgação de ideias republicanas e exaltação de deuses com poder nos lares mais ricos. e) garantia a presença de uma hierarquia de poder rígida, embora não houvesse escravos, nem pessoas muito pobres. 5. (UEL) Segundo as Partidas de Afonso X de Castela ( ), feudo é o benefício dado pelo senhor a algum homem (...). Quais eram os compromissos de quem concedia o benefício e de quem o recebia na sociedade feudal? A Igreja Católica Apostólica Romana é uma das instituições mais antigas da humanidade. Decorreram mais de mil anos desde as suas origens, como credo de contestação às crenças e práticas religiosas pagãs, passando por seu reconhecimento como religião oficial do Império Romano, até a sua primeira grande divisão, conhecida como Cisma do Oriente, ocorrida em A respeito desse primeiro milênio do cristianismo, é correto afirmar: a) Os principais dogmas da Igreja, no Império Romano do Oriente, nunca foram questionados, e o cristianismo, mesmo afastado do poder secular, conseguiu fortalecer o poder do Papa. b) A crise do Império Romano, no século IV, foi um elemento importante para a ascensão do cristianismo, e, nesse período, até membros da elite romana converteram-se à nova religião. c) A relação entre os cristãos e as lideranças romanas, no início do cristianismo, foi facilitada pela fragilidade do Império Romano, naquele momento, e ampliada pela tolerância dos cristãos com os politeístas. d) A intolerância do Imperador Constantino com os cristãos foi um dos fatores do grande Cisma do Oriente, e a relação tumultuada entre o Imperador e o Papa levou à separação do Estado romano da Igreja. e) O papa Leão I, líder religioso e político de Constantinopla, disputava o poder com o imperador, mediante incentivo aos monofisistas e aos iconoclastas, e esse confronto contribuiu para a criação da Igreja Ortodoxa. 6. (UPE) Cisma do Oriente, em 1054, trouxe o surgimento de duas Igrejas, uma delas subordinada ao patriarca de Constantinopla. O Cisma foi resultado sobretudo a) das pressões exercidas pelos seguidores da heresia monofisista que negavam o dogma da Santíssima Trindade. b) das instabilidades políticas causadas pelas manobras políticas de Justiniano. c) das divergências existentes entre as duas formas de viver o Cristianismo, uma ligada ao Ocidente e outra, aos costumes culturais bizantinos. d) das pressões feitas pelos iconoclastas, defensores de uma religião sem clero, apenas influenciada por uma leitura direta das santas escrituras. e) de uma mera luta política por mais poder, desencadeada pelo patriarca de Constantinopla, Miguel Celurário. 7. (COVEST) Leia atentamente as afirmativas abaixo sobre a cultura muçulmana no período medieval. 1) As manifestações culturais muçulmanas foram originais e ousadas para a época, sobretudo suas construções arquitetônicas. 2) Os poemas do muçulmano Omar Khayyam tiveram no ceticismo e no hedonismo suas grandes marcas. 3) A sociedade muçulmana rejeitou os feitos culturais do Ocidente, criticando a filosofia grega e seus princípios éticos. 4) A literatura muçulmana influenciou a ocidental, destacando-se as histórias fantásticas das Mil e uma Noites. 5) A religião e os seus preconceitos impediram descobertas no campo da medicina e das matemáticas entre os muçulmanos. Estão corretas apenas: a) 1 e 4. b) 2 e 3. c) 3 e 5. d) 4 e 5. e) 2 e 4.

208 8. (COVEST) A expansão muçulmana trouxe uma outra dinâmica histórica ao mundo medieval. Ela não se restringiu às conquistas militares, mas também teve repercussões no campo da cultura. Com relação à filosofia durante a expansão muçulmana, destaca-se: a) o interesse pelo estudo das obras e propostas de Aristóteles. b) o retorno do pensamento das escolas pré-socráticas. c) a prevalência do idealismo platônico nos princípios éticos. d) a organização de um pensamento materialista contra a religião. e) a afirmação de princípios vindos dos sofistas gregos. 9. (UPE) A religião foi decisiva para expansão da cultura muçulmana. Apesar das guerras, os muçulmanos realizaram vários feitos culturais que repercutiram na sociedade ocidental. A influência muçulmana se fez presente na(no): a) Península Ibérica, onde se conseguiu implantar uma filosofia que combatia o catolicismo. b) uso de técnicas agrícolas que ajudavam no cultivo de produtos importantes para a época. c) divulgação da filosofia de Sócrates, através de seus sábios que visitavam as universidades do Ocidente. d) arte francesa, sobretudo na definição dos estilos gótico e românico, no final da Idade Média. e) forma de governo espanhola, estruturada em pequenos feudos, apresentando agricultura irrigada. 10. (UPE) Muitas vezes, dá-se um destaque exagerado às guerras comandadas pelos árabes nos tempos medievais, enquanto as suas contribuições culturais permanecem como exemplos da riqueza de seus feitos. Além disso, as suas atividades comerciais dão mostras do dinamismo dos árabes, pois a) conseguiram dominar o comércio medieval, trazendo mercadorias do Oriente para Europa Central, em grande quantidade. b) utilizaram muitos instrumentos comerciais como cartas de crédito e companhias de ações para facilitar os negócios. c) centralizaram suas atividades em corporações estatais bastante produtivas, com manufaturas articuladas com a exportação comercial. d) desenvolveram rotas comerciais no Oceano Pacífico, por onde exportavam seda e pólvora para as cidades da Ásia. e) tiveram boas relações com as cidades francesas e italianas durante os séculos finais da Idade Média, vendendo-lhes especiarias do Oriente. 11. (UPE) Na Idade Média, Bizâncio era um importante centro comercial e político. Merecem destaques seus feitos culturais, mostrando senso estético apurado e uso das riquezas existentes no Império. Na sua arquitetura, a igreja de Santa Sofia destacou-se pela: a) sua afinação com o estilo gótico, com exploração dos vitrais e o uso de metais na construção dos altares. b) simplicidade das suas linhas geométricas, negando a grandiosidade como nas outras obras existentes em Bizâncio. c) grande riqueza da sua construção, com uso de mosaicos coloridos e colunas de mármores suntuosas. d) imitação que fazia dos templos gregos, com altares dedicados aos mitos mais conhecidos, revelando paganismo. e) consagração dos valores católicos medievais, em que a riqueza interior era importante em toda cultura existente. 12. (UPE) Sobre a cultura islâmica, analise atentamente as afirmativas abaixo. I. A cultura islâmica afirmou-se pela sua religiosidade e pela falta de descobertas em outras áreas da produção cultural. II. A interação da cultura islâmica com a ocidental trouxe contribuições importantes e renovadoras. III. As conquistas territoriais dos árabes atingiram territórios do continente europeu. IV. As divisões internas do islamismo causaram disputas políticas que ainda permanecem na sociedade contemporânea. V. Não há semelhanças entre o islamismo e o cristianismo. Após a análise, conclui-se que:

209 a) todas as afirmativas acima estão corretas. b) apenas as afirmativas I e V estão incorretas. c) apenas as afirmativas III, IV e V estão corretas. d) apenas a alternativa V está incorreta. e) apenas a afirmativa III está incorreta. 13. (UPE) Os muçulmanos expandiram sua cultura na Idade Média e receberam influência importante do Cristianismo na sua religião, mostrando que havia trocas culturais na Idade Média, em vários campos do conhecimento. Além disso, na sua Filosofia, os muçulmanos: a) reproduziram as reflexões dos gregos pré-socráticos sem originalidade. b) conseguiram reunir importantes ensinamentos de Aristóteles. c) definiram princípios revolucionários na ética, baseados nos sofistas. d) negaram a importância do neoplatonismo para a ciência. e) combateram a razão, sempre destacando o poder da fé. 14. (COVEST) A cultura bizantina teve destaque pelas suas construções suntuosas, ricas em detalhes e mosaicos. No que se refere ás manifestações religiosas, os bizantinos foram: a) politeístas, negando o valor do corpo e enaltecendo a força da dor e o vazio do pecado. b) seguidores de muitos princípios do cristianismo, mantendo certas tradições importantes para sua permanência. c) defensores das ideias vindas do misticismo oriental, desqualificando o perdão e os sentimentos de culpa. d) continuadores das tradições dos antigos místicos da Pérsia, condenando o catolicismo e o politeísmo. e) pouco ligados aos mistérios da alma, sendo práticos e interessados nas riquezas materiais. 15. (UPE) O Islamismo religião pregada por Maomé e seus seguidores tem hoje mais de 1 bilhão de fiéis espalhados pelo mundo, sendo ainda predominante no Oriente Médio, região onde surgiu. Um dos principais fundamentos da expansão muçulmana é a Guerra Santa. A respeito dos muçulmanos, é correto afirmar que: a) a expansão árabe-muçulmana acabou por islamizar uma série de povos, exclusivamente árabes. b) o povo árabe palestino, atuando na revolução armada palestina, rejeita qualquer solução que não a libertação total do Estado de Israel. c) em Medina, a religião criada por Maomé, embora tenha crescido rapidamente e tenha criado a Guerra Santa Gihad não teve caráter expansionista. d) a história do Líbano contemporâneo esteve sempre ligada à busca de um certo equilíbrio entre várias comunidades que compõem o país, especialmente as duas mais importantes: xiitas e cristãos. e) a facção dos fundamentalistas islâmicos pertence à corrente xiita, sendo que os mais radicais repudiam os valores do mundo ocidental moderno. 16. (UPE) O mundo árabe e o Império Bizantino se inserem no cenário do Oriente Medieval. Com uma rica produção cultural e filosófica, os árabes e os bizantinos também contribuíram para a construção do pensamento medieval. Sobre essa realidade, é correto afirmar que: a) o pensamento árabe medieval é fruto direto da filosofia romana, já que esta influenciava os autores mouros. b) o Império Bizantino se destacou na produção filosófica e literária, sendo a poesia épica a grande contribuição bizantina para a cultura medieval. c) não há ligações entre a produção cultural bizantina e o Renascimento cultural europeu de fins do período medieval. d) a filosofia de Aristóteles influenciou o pensamento do grande filósofo árabe Averróis. e) apesar de importante economicamente, a presença árabe na Península Ibérica não teve relevânica na vida cultural da Europa medieval.

210 OLHARES HISTÓRICOS Livros Antropologia das Religiões. Antônio Carmo. Lisboa: Universidade Aberta. Islamismo. Jamal Elias. Lisboa: Edições 70. A cruz e o crescente: cristianismo e islã, de Maomé à Reforma. Richard Fletcher. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. As cruzadas vistas pelos árabes. Amim Maalouf. São Paulo : Brasiliense. Ocidente x Islão. Voltaire Schlling. 2 ed. Porto Alegre: LePM. Cinema As mil e uma noites (EUA, min). Direção de Steven Barron. Neste clássico com uma superprodução, grande elenco e efeitos especiais de última geração. Por ter sido vítima de uma tentativa de assassinato por parte de sua primeira mulher, o sultão decide matar Scheherazade no dia seguinte à posse do império. Para adiar sua sentença, a bela mulher lhe conta mil e uma histórias sobre terras exóticas, inimigos desconhecidos, magos, princesas e dragões. Fascinado, o sultão adia noite após noite a execução de sua esposa! Sites Museu Calouste Gulbenkian A página contém informações e exposições sobre a produção artística do Oriente Islâmico nos séculos XII a XVIII. Disponível em: Arábias Organizado pela comunidade árabe no Brasil, pode-se obter informações sobre o Império Árabe, Maomé e as Cruzadas. Disponível em:

211 A criação de Adão. Michelângelo. Embarcação em alusão às grandes viagens marítimas do início da modernidade. CAPÍTULO 15 CAPÍTULO 19 A Baixa Idade Média, 222 CAPÍTULO 16 O Renacimento Cultural e Científico, 237 CAPÍTULO 17 A expansão marítima européia e as práticas mercantilistas, 287, 232 CAPÍTULO 20 A conquista e a colonização dos povos da América, 308 As Reformas religiosas, 255 CAPÍTULO 18 O Estado Moderno e o Absolutismo Monárquico, 273 CAPÍTULO 21 As colonizações espanhola, inglesa, francesa e holandesa, 326

212 A Baixa Idade Média Na Baixa Idade Média (XI-XV), a Europa Ocidental passou por diversas transformações econômicas, políticas, sociais, culturais e ideológicas. As principais mudanças foram desencadeadas pelo ressurgimento da vida urbana, o surgimento da burguesia, o reaquecimento comercial, a crise na mão de obra servil, o estabelecimento das Monarquias Nacionais e a diminuição de poder da Igreja Católica. Essa conjuntura significou a exaustão do sistema feudal, resultando numa série de recessão que propiciou o desenvolvimento das práticas capitalistas. As Cruzadas do oriente e ocidente As relações sociais e religiosas, no decorrer do feudalismo, foram marcadas por uma forte rigidez hierárquica. Nessa perspectiva, a relação entre os homens e Deus era concebida como uma estrutura estamental: o homem adquiriu o direito de habitar no planeta, em contrapartida devia ser fiel a Deus, principalmente, na prestação de serviços. Tal concepção assemelha-se com um contrato entre um suserano e um vassalo. Com essa justificativa, a Igreja Católica medieval conseguiu organizar exército de cristãos ( vassalos ) que deveriam guerrear em nome de Deus ( suserano ). Foi nesse cenário que surgiu a projeção de guerra santa levada ao extremo com a realização das Cruzadas. A partir de então, iniciou-se um projeto de combater os infiéis ou inimigos de Deus : mouros, hereges, cristãos ortodoxos e pagãos. O cristão-guerreiro seria gratificado com o perdão dos pecados (indulgências). No decorrer da luta contra os infiéis, as propriedades dos soldados de Deus eram administradas pelo clero. A Cruzada ficou no coração de cada homem nascido de Cristo como uma lembrança de glória. É significativo que a própria palavra cruzada tenha ainda hoje um sentido de um empreendimento heroico, conduzido com uma intenção pura e nobre, ao serviço de uma grande idéia. Enquanto existir sobre a terra uma Cristandade, e mesmo enquanto existir civilização em que os princípios cristãos não sejam totalmente abolidos, haverá homens que conservem a memória dessas páginas de santidade e de heroísmo que os cruzados escreveram com o seu sangue. ROPS, Daniel. A Igreja das catedrais e das Cruzadas. São Paulo: Quadrante, 1993.p.535. No século XI, os turcos seljúcidas tomaram a região do Oriente Médio. Tal domínio paralisou as peregrinações aos locais sagrados de Jerusalém (centro de peregrinações cristãs), costume muito difundido durante o período medieval e altamente valorizado pelos cristãos da época. Por esse motivo, foram organizadas expedições militar-religioso com a finalidade de libertar a cidade Santa dos infiéis. Os membros desses movimentos usavam como símbolo uma cruz. Daí, esse movimento receber o nome de cruzadas em referência aos guerreiros-vassalos do grande Deus. Em linhas gerais, as Cruzadas devem ser compreendidas, não só pelo aspecto religioso, mas também por outros problemas enfrentados pela Igreja Católica na época. Entre eles, a divisão do clero católico em 1054 (Cisma do Oriente) que fez surgir a Igreja Católica do Ocidente (sede em Roma) e a Igreja Católica Ortodoxa (sede em Constantinopla). Em 1095, no Concílio de Clermont, o papa Urbano II proferiu um discurso convocando os europeus para participar da conquista de Jerusalém. Nessa perspectiva, o papa encontrara uma brilhante oportunidade de unir novamente a cristandade, o que resultaria no fortalecimento da Igreja. Além disso, a intensa belicosidade dos senhores feudais foram canalizadas para a luta contra os árabes. Entre os anos de 1096 e 1270 foram realizadas oito Cruzadas oficiais destinadas ao oriente com o grande objetivo de retomar Jerusalém dos árabes. A Primeira Cruzada teve êxito e culminou com a conquista de Jerusalém em A divisão dos islâmicos facilitou a missão dos cruzados.

213 A tomada de Jerusalém em julho de 1099 Depois, ao aproximar-se a hora em que Nosso Senhor Jesus Cristo consentiu em sofrer por nós o suplício da cruz, (...) um dos nossos cavaleiros, de nome Létaud, escalou o muro da cidade. Mal ele havia subido, todos os defensores abandonaram os muros e puseram-se a correr através da cidade; os nossos seguiram atrás deles e os acossaram, matando-os e ferindo-os a golpes de sabre até o Templo de Salomão, onde foi tal a carnificina que os nossos, enquanto andavam, tinham os tornozelos cobertos por sangue dos inimigos... Por fim, depois de derrotarem os pagãos, os nossos agarraram no interior do templo um grande número de homens e mulheres e mataram ou deixaram vivo quem melhor lhes parecia... Os cruzados logo se puseram a correr por toda a cidade, fazendo mão baixa ao ouro e à prata, aos cavalos e jumentos, e saqueando as casas que regurgitavam de riquezas. Depois, cheios de felicidade com lágrimas de alegria, foram os nossos adorar o sepulcro de Jesus Cristo, nosso Salvador e pagaram a sua dívida para com ele. Citado por ROUSSET, Paul. História das Cruzadas. Rio de Janeiro: Zahar Editore, p.86. É bom destacar que os islâmicos eram tolerantes em relação aos povos dominados; nem mesmo os turcos não eram tão fanáticos como relatavam os cronistas e peregrinos ocidentais. Cristãos, judeus e muçulmanos conviviam em Jerusalém. Enquanto isso, milhares de judeus foram perseguidos e massacrados na Europa Ocidental. Além disso, houve uma grande chacina de velhos, mulheres, homens e crianças durante a conquista de Jerusalém. A conquista de Edessa (região ao norte da Palestina) impulsionou a formação da Segunda Cruzada, a qual fracassou, facilitando a retomada de Jerusalém pelos muçulmanos em Já a Terceira Cruzada ( ) ficou conhecida como a Cruzada dos Monarcas, uma vez que tinha como principais integrantes: Ricardo Coração de Leão (Inglaterra), Frederico Barba Ruiva (Sacro Império) e Filipe de Augusto (França). As disputas entre os nobres prejudicaram a expedição. Fonte: Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: FAE, Financiada por Veneza, a Quarta Cruzada teve caráter eminentemente comercial. O percurso dessa campanha foi desviado para a cidade de Zara (húngara e cristã). Em seguida os venezianos dominaram a cidade Constantinopla. Essa cruzada proporcionou uma série de mudanças de ordem econômica, social e política na Europa Ocidental. As Cruzadas subseqüentes acumularam inúmeros fracassos. A força militar muçulmana tornou-se quase imbatível e, por isso, os turcos islamizados tomaram posse de São João d Acre, último refúgio dos cristãos no Oriente.

214 Cena do filme Cruzada. As Cruzadas devem ser compreendidas, não só pelo aspecto religioso, mas também por outros problemas enfrentados pela Igreja Católica na época. Houve também Cruzadas organizadas contra os árabes no continente europeu: contra os mouros na Península Ibérica (século XI), contra os eslavos pagãos (século XIII) e contra os hereges no sul da França (os cátaros). As cruzadas ocidentais foram também de grande importância. Elas tinham três objetivos principais: reconquistar a Península Ibérica dos mouros; propagar os costumes cristãos nas regiões eslavas e por fim, organizar a Cruzada ao sul dos domínios franceses. A partir do século VIII, a Península Ibérica passou para o domínio dos muçulmanos, desde então, começou uma luta para reconquistá-la. Essa região possuía atrativos econômicos similares com os do oriente. Além disso, na península estava situada um importante centro de peregrinação, Santiago de Compostela. Por esses motivos, a Igreja Católica, desde o século XI, passou a oferecer indulgências àqueles que lutassem em favor da reconquista da península. Houve também uma forte perseguição no ocidente desencadeada contra os hereges. As ações dos cruzados e as perseguições contra os heréticos podem ser compreendidas como sinais da crise do feudalismo. As cruzadas provocaram várias repercussões na Baixa Idade Média. As principais transformações vão se dá no campo da economia, religião, sociedade e política. O revigoramento urbano e comercial Entre os séculos X e XI, a Europa vivenciava um período de significativas mudanças. O término das invasões bárbaras possibilitou uma fase de paz e desenvolvimento no mundo medieval. Um dos sinais dessa estabilidade foi o aumento da população. A diminuição das doenças e o fim das guerras contra os bárbaros reduziu a taxa de mortalidade, conseqüentemente acelerou o aumento demográfico. ANO Nº DE HABITANTES AUMENTO milhões milhões 9,5% milhões 4,3% milhões 4,2% milhões 22,0% milhões 13,0% milhões 5,8% Jean Gimpel. A revolução industrial na Idade Média. Rio de Janeiro: Zahar, p.71

215 Esse considerável aumento populacional impulsionou uma maior procura por alimentos, levando o desenvolvimento de novas técnicas agrícolas com a finalidade de gerar uma maior produtividade. Nesse momento surgiram várias inovações tecnológicas como a charrua (arado de ferro), que trouxe uma maior eficiência na colheita. A explosão demográfica provocou estragos e destruições no meio ambiente. Derrubaramse milhares de hectares de florestas para aumentar a superfície das terras aráveis e pastagens. Além disso, a madeira era, na época, o principal combustível de uso doméstico, e servia também para construir casas, moinhos de água e de vento, pontes, fortalezas, paliçadas de defesa, tonéis e cubas de vinhateiros para pisar a uva. Os navios eram de madeira, assim como as maquinas e os teares. (...) Em 1300, as florestas da França cobriam 13 milhões de hectares, ou seja, um milhão de hectares a menos que em nossa época. GIMPEL, Jean. A revolução Industrial da Idade Média. Rio de Janeiro: Zahar. P. 73. Outras novidades foram: o aperfeiçoamento do moinho hidráulico, novas formas de atrelagem dos animais, a difusão da rotação de culturas (sistema trienal). O resultado dessas inovações foi o aumento da produção agrícola que contribuiu para aumento da população e possibilitou a geração de excedentes, fortalecendo o desenvolvimento das atividades comerciais. Entretanto, todas essas melhorias não foram suficientes para atender a demanda populacional, ou seja, o alto grau de consumo da época. A conseqüência disso foi a exploração de novas terras e a intensa saída do campo para cidade, o chamado Êxodo rural. É nesse cenário que as cidades começam a se expandir com maior intensidade na Europa medieval. O principal motivo para esse acontecimento foi o desenvolvimento do comércio. Uma maior produção agrícola resultou numa maior quantidade de produtos no comércio que, conseqüentemente, acelerou o consumo. O fortalecimento do comércio modificou as villas, as cidades portuárias e os antigos locais de feiras comerciais. Diversas cidades cresceram nas proximidades dos castelos e mosteiros. Desde o início da Idade Média, alguns comerciantes e artesãos garantiam, mesmo em condições muito precárias, a produção e a circulação de bens entre os feudos. Essas pessoas moravam nos burgos (cidades fortificadas). Os habitantes desses locais passaram a ficar conhecidos como burgueses. Eles tiveram um papel importante no desenvolvimento das atividades comerciais e manufatureiras. O estilo de vida dos burgueses era bastante diferente dos senhores feudais, por isso, as atividades dos burgueses estão entre os fatores responsáveis do declínio do sistema feudal. A princípio, como as cidades surgiram em pontos próximos aos castelos, elas ficaram sobre o controle dos nobres, assim, os burgueses eram submetidos à autoridade deles. Entretanto, devido ao crescimento da vida urbana e do comércio, os burgueses se fortaleceram e adquiriram condições para comprar sua autonomia, os denominados movimentos comunais. O fator que melhor refletiu e acelerou as transformações sociais foi, porém, o aparecimento de um segmento burguês. O crescimento demográfico e econômico, as cidades da Idade Média Central revigorou, pois para aqueles que fugiam dos laços compulsórios da servidão da vida urbana oferecia muitos atrativos. Como dizia um célebre provérbio alemão da época, o ar da cidade dá liberdade. Isto é, depois de morar certo tempo numa cidade (o que podia variar de um a dez anos, conforme o local), o camponês tornava-se homem livre. Mais do que isso, tornava-se burguês (habitante do burgo, ou seja, da cidade), o que significava uma situação jurídica própria, bem definida, com obrigações limitadas e direitos de participação política, administrativa e econômica na vida da cidade. É verdade que desde os fins do século XII os imigrantes não encontravam nas cidades as oportunidades com que sonhavam, formando um proletariado que frequentemente acabou por se chocar com a burguesia dona das lojas e oficinas. Mas, utopicamente, os centros urbanos continuaram a seduzir os homens do campo. (...) A burguesia, cujo aparecimento na Idade Média Central tinha expressado as transformações sociais então em gestação, consolidou-se com a crise aristocrática. Foi assim que se deu a penetração burguesa no campo, com a compra de terras que ocorria pelo menos desde o século XII acelerando-se na Baixa Idade Média. FRANCO Jr., Hilário. A Idade Média: nascimento do Ocidente. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, p. 95 e 98.

216 Já a partir do século XIII, tradicionais núcleos de origens romanas foram reformados e vários burgos se transformaram em importantes cidades. As cidades alcançavam sua liberdade de maneira pacífica, através da compra de cartas de franquia, o que davam sua autonomia política e administrativa. Porém, a luta pela independência envolvia também conflitos, boa parte deles contavam com o apoio de alguns reis que visavam o seu fortalecimento frente aos senhores feudais. Após a conquista das independências, as cidades eram governadas pelos setores mais ricos da manufatura e do comércio. Cada segmento estruturava-se segundo sua aptidão (alfaiate, ferreiro), formando as corporações de ofício, denominadas também de guildas ou grêmios. A principal função dessas associações era evitar a concorrência. Para atingir esse propósito, havia a fixação dos preços dos produtos e dos salários. Além disso, a quantidade e a qualidade dos produtos eram rigorosamente controlados. Uma característica marcante das corporações de ofícios era sua rígida hierarquia, onde havia a distinção entre o mestre (proprietário da oficina), o companheiro ou oficial (trabalhador assalariado ou jornaleiro) e o aprendiz (trabalhava em troca da aprendizagem do ofício, alimentação ou até mesmo moradia). O título de mestre, relativamente analisado, estava aberto a todos os artesãos, pois após a conclusão da etapa da aprendizagem, se os mesmos demonstrassem extremas habilidades a uma banca de examinadores, poderiam atingir a condição máxima de uma corporação. Entretanto, no fim do século XIII há uma sensível mudança quanto a isso. Passa a ser, desde então, exigido que o aprendiz criasse uma brilhante obra (obra-prima) perante os examinadores. Esse procedimento, com o decorrer dos anos tornou-se obrigatória. O desenvolvimento do comércio fez com que alguns artesãos passassem a depender de um comerciante, o qual viabilizava matéria-prima e instrumentos de trabalho. Objetivando adquirir maiores vantagens, os comerciantes compravam matérias-primas de menores custos e mão-de-obra barata. Com esse procedimento, criaram bases para o surgimento das manufaturas do mundo moderno. As manufaturas expandiram-se nessa época em resposta às necessidades de moradia e vestuário e também devido às periódicas guerras. O aumento populacional também contribuiu para a busca de uma vida mais confortável entre os membros das famílias mais ricas. As diversas doações dos burgueses contribuíram para a efetivação da construção e de reformas de muitas igrejas após o século XII. Essas generosas doações foram feitas em troca de benefícios espirituais. Outro objetivo era neutralizar a oposição feita pela Igreja às atividades burguesas, tais como, o empréstimo de dinheiro a juros (usura). No entanto, o clero continuou condenando essas práticas e desencadeou uma forte perseguição contra os judeus (habilidosos comerciantes). Os comerciantes medievais organizavam suas corporações, denominadas de hansas. O conjunto de hansas formava a Liga Hanseática. Essa organização se consolidou, a partir do século XIII, principalmente, na região de Flandres (Holanda e Bélgica). Já ao norte, o referencial foi a Hansa Teutônica, que dinamizou as atividades comerciais entre as várias hansas da região da Alemanha. Em meados do século XIII, houve o aparecimento dos banqueiros, cambistas e usurários de diversas origens. No entanto, os principais banqueiros do período, concentravam-se nas ricas cidades Veneza e Gênova. A partir disso, há ampla expansão de créditos, o que beneficiou o desenvolvimento das atividades comerciais e manufatureiras. Houve também o fortalecimento do comércio marítimo costeiro, terrestres e fluviais. As transformações também atingiram as relações de trabalho na Baixa Idade Média. Nas terras dos senhores, foram extintas algumas obrigações servis e, após o século XII, os camponeses passaram a exigir pagamento em dinheiro ou em parte da produção agrícola pelas suas atividades exercidas. Todas essas transformações eram incompatíveis com o feudalismo, o qual já estava dando sinais de sua decadência. Paulatinamente, o próprio sistema feudal criou elementos para a sua desestruturação.

217 As feiras medievais No decorrer da Idade Média, as atividades comerciais enfrentaram diversos obstáculos. As principais dificuldades eram a escassez de boas estradas, falta de segurança e as altas taxas cobradas pelos senhores por transitar em suas terras (os pedágios). O comércio marítimo não possuía embarcações eficientes e nem instrumentos de navegação sofisticados. Por volta do século XI, o comércio no Mediterrâneo adquire uma nova dinâmica. Devido às cruzadas houve uma entrada muito grande de produtos orientais na Europa, tais como especiarias (cravo, canela, pimenta, noz-moscada) e tecidos luxuosos. Todos esses produtos eram bastante assediados pela nobreza. Com um tempo cidades como Veneza, Gênova, Pisa e Amalfi se apresentam como poderosas unidades mercantis. No entanto, Veneza era a principal potência da época. Essa cidade controlava o fluxo de mercadorias entre o oriente e ocidente. Por isso, que já no século XIII, os ducados (moedas de ouro de Veneza), eram aceita como unidade monetária internacional. Até o século XI, as feiras medievais eram limitadas às trocas de produtos agrários. Entretanto, após o século XI, ocorre uma considerável expansão. Geralmente, essas feiras eram localizadas em cruzamentos das principais estradas. As feiras eram centros de encontros de diversos comerciantes de várias regiões da Europa. Fonte: DUBY, Georges. Atlas historique. Paris: Larousse, p Nas feiras medievais eram comercializadas uma ampla variedade de produtos: gado, peixe, vinho, trigo, especiarias, produtos medicinais, tecidos e fios (seda, lã, linho). Os monarcas e os senhores feudais ficaram interessados que as feiras fossem realizadas em suas propriedades, pois podiam cobrar impostos. Em contrapartida, os burgueses podiam transitar livremente com suas mercadorias, além disso, os nobres os defendiam dos salteadores. Devido a grande circulação de uma grande diversidade de moedas, os cambistas tiveram uma função crucial nas feiras. Eles faziam a troca local das moedas cunhadas de outras regiões. As principais feiras da Europa foram realizadas em Champagne, na França, ao norte da Itália e na região de Flandres. As transformações sociais A sociedade medieval durante a Alta Idade Média era fortemente hierarquizada. Tal característica permanecia durante a Baixa Idade Média, ou seja, a sociedade era composta de três categorias: o clero (intermediário entre os homens e Deus), a nobreza (guerreiros, protetores dos feudos, das mulheres e dos fracos), os servos (camponeses ligados à terra), os vilões (trabalhadores sem obrigações com o senhor feudal), os comerciantes e os trabalhadores urbanos.

218 Tripla é, pois, a casa de Deus, que se crê uma: embaixo uns rezam, outros combatem, outros ainda trabalham; os três estão juntos e não suportam ser separados; de forma que sobre a função de um repousam os trabalhos dos outros dois, todos por sua vez entreajudando-se. Citado em DUBY, Georges. As três ordens ou o imaginário do feudalismo. Lisboa: Editorial Estampa, No decorrer da baixa Idade Média percebe-se o surgimento de novos espaços na sociedade feudal. Os religiosos, que dominavam a leitura e a escrita em latim, passaram a prestar serviços ao rei e a alta nobreza. Nesse período também, surge uma nova instituição de ensino: a universidade. As universidades de Bolonha (final do século XI) e a de Paris ( ) foram as primeiras a serem fundadas. Os professores dessas instituições, em sua maioria, estavam ligados à Igreja Católica. Coube a esse grupo de intelectuais iniciarem um conhecimento que pudesse desvincular razão e fé. A estrutura social feudal passa por nítidas mudanças. O surgimento de um novo grupo social, a burguesia, a qual se fortalecia à medida que acelerava a crise do sistema feudal. Nesse momento, inicia-se um deslocamento do eixo econômico do mundo rural-agrícola para o espaço urbano e comercial. O empobrecimento da nobreza feudal, devido à diminuição do recrutamento da mão de obra servil, causada pela redução da população, alterou as relações de poder entre senhores e servos. Esse quadro social provoca a diminuição da servidão, uma vez que muitos servos compram a sua liberdade, fogem ou se tornam pequenos proprietários. No entanto, em outras regiões, como na Inglaterra e no Leste europeu, há uma intensificação da servidão. A crise do Feudalismo No decorrer da Baixa Idade Média, o feudalismo adquiriu novos aspectos. No entanto, isso não foi suficiente para impedir o surgimento de uma crise generalizada que vai do século XIII e se prolonga até o XV. Os principais fatores que contribuíram para a exaustão do feudalismo foram: o esgotamento dos solos férteis, a paralisação tecnológica, as pestes, as oscilações populacionais e as contínuas e demoradas guerras. No período medieval, já explorava-se as terras até o seu esgotamento. Isso provocou uma estagnação na produção, que a partir do século XIII, diminuiu. A conseqüência principal desse fato foi a elevação dos preços dos produtos básicos da época (os cereais). A escassez de circulação de moedas devido o declínio das atividades agrícolas agravou-se mais com a exaustão das minas de ouro e prata. Desse modo, o comércio e as finanças passam por uma forte crise. Nessa época houve uma elevação na taxa de mortalidade e uma redução na de natalidade. Devido a queda no crescimento populacional, houve também uma redução na procura de trigo e demais cereais. Assim, provocou-se um fenômeno oposto ao anterior: os preços das mercadorias foram reduzidas. Simultaneamente, os preços dos produtos manufaturados elevaram-se assustadoramente. Consequentemente, seus lucros diminuíram, devido à subida dos preços. Esses acontecimentos prejudicaram os aristocratas e, por isso, eles recorreram às guerras e passaram a cobrar mais obrigações aos servos. Essas medidas eram desencadeadas como meios de garantir o padrão de vida entre os nobres. A exaustão do feudalismo: peste, fome e rebeliões Ao longo dos séculos XIV e XV, após uma relativa fase de estabilidade, a economia européia sofre uma forte crise. Entre os principais fatos que contribuíram para essa recessão podemos mencionar a peste negra, introduzida na Europa a partir de Segundo os indícios, a peste tem origem oriental. Conhecida hoje, como peste bubônica, essa doença é transmitida ao ser humano através da pulga do rato. Ela foi responsável pela dizimação de milhões de pessoas na Europa Ocidental. A alta taxa de mortalidade contribuiu para desestruturação da produção, o que motivou o aumento da fome.

219 A falta de higiene e a concentração urbana contribuíram para disseminação da peste negra. A precariedade da coleta de lixo e do sistema de esgoto favoreceram o alastramento da epidemia. Assustados, muitas pessoas da época acreditavam que a peste era um castigo divino. No entanto, Boccaccio, em sua obra Decameron, faz uma análise crítica e descritiva da epidemia: A peste, em Florença, não teve o mesmo comportamento que no Oriente. Neste, quando o sangue saía pelo nariz, fosse de quem fosse, era sinal evidente da morte inevitável. Em Florença, apareciam no começo, tanto em homens como nas mulheres, ou na virilha ou na axila, algumas inchações. Algumas cresciam como maçãs; outras, como um ovo; cresciam umas mais outras menos; chamava-se o populacho de bubões (...) Tornara-se enorme a quantidade de curandeiro, assim como de cientistas. Contavam-se entre eles homens e mulheres que nunca haviam recebido uma lição de medicina. Assim como era certo que poucos se curavam, também é certo que, ao contrário desses, quase todos, após o terceiro dia do surgimento dos sinais referidos acima, faleciam. Sucumbiam uns mais cedo, outros mais tarde; a maioria ia-se para o túmulo sem qualquer febre nem outra complicação. BOCCACCIO, Giovanni. Decameron. São Paulo:Abril Cultural, s.d. Além da Peste Negra, no século XIV, a mudança de mentalidade impulsionou o surgimento de questionamentos da ordem feudal. Essa nova postura foram fundamentais para a ocorrência das modificações econômicas, políticas, culturais e sociais. Flagelantes: movimento religioso místico que surgiu como reação à Peste. A morte de muitos camponeses, devido a peste negra, e as secas periódicas provocou uma redução na produção agrícola. Desse modo, há um aumento drástico da fome. Nos campos quase isolados, os pouco camponeses reivindicavam melhores condições de trabalho e uma parte maior da produção. Em contrapartida, os senhores criaram e impuseram medidas que impediam a saída dos servos de suas reservas. Simultaneamente, nas cidades, os monarcas pagavam aos artesãos os mesmos salários anteriores à peste negra. Essa sublevação contra o jugo servil, iniciada a 28 de maio de 1358, é conhecida pelo nome de Jacqueria, derivado de Jaques Bonhomme (Jaques, o simples), apelido depreciativo que os nobres puseram nos camponeses. A sublevação camponesa não contava com um plano prévio: desenvolveu-se espontaneamente. Os camponeses ameaçaram aniquilar todos os nobres até o último. A eles se uniram os artesãos das aldeias e os pobres das cidades. (...) Os nobres foram atacados de surpresa e não puderam oferecer resistência organizada desde o princípio. Os camponeses destruíram os castelos feudais e exterminaram seus habitantes. KOMINSKY, E. A. História da Idade Média. Lisboa: Centro do Livro Brasileiro, s.d. p

220 Entretanto, os trabalhadores não aceitaram esses condicionamentos. Por isso, foram iniciadas diversas rebeliões contra os senhores feudais. Os levantes dos jornaleiros, em , foram um dos primeiros. Já na França, em 1358, o campesinato se organizou e sublevou-se contra a ordem feudal. Esses movimentos camponeses ficaram conhecidos como jacqueries. Essas revoltas rurais foram fortemente reprimidas. A crise generalizada na Europa no século XIV foi marcada pelas baixas colheitas, pestes, diminuição populacional, inflação, abandono das aldeias, violentas rebeliões nas cidades e nos campos. Essa situação impulsionou os vários grupos sociais a procurar alternativas para garantir suas sobrevivências. Os trabalhadores rurais e urbanos usaram as rebeliões. Já a nobreza se envolveu com os conflitos dinásticos. Essa era uma maneira interessante de adquirir novas propriedades. A Guerra de Cem Anos ( ) foi o mais grave conflito da época que envolveu a nobreza francesa e inglesa. Essas crises contribuíram para o surgimento de novas maneiras de organização política (a formação dos Estados Nacionais), econômica (mercadores e banqueiros) e social (novas classes sociais, os burgueses). Desse modo, uma nova ordem estava a caminho.

221 TEXTO COMPLEMENTAR Texto 1 A cidade Medieval e a cidade moderna A cidade contemporânea, apesar de grandes transformações, está mais próxima da cidade medieval do que esta última da cidade antiga. A cidade da Idade Média é uma sociedade abundante, concentrada em um pequeno espaço, um lugar de produção e de trocas em que se mesclam o artesanato e o comércio alimentados por uma economia monetária. É também o cadinho de um novo sistema de valores nascido da prática laboriosa e criadora do trabalho, do gosto pelo negócio e pelo dinheiro. É assim que se delineiam, ao mesmo tempo, um ideal de igualdade e uma divisão social da cidade, na qual os judeus são as primeiras vítimas. Mas a cidade concentra também os prazeres, os da festa, os dos diálogos na rua, nas tabernas, nas escolas, nas igrejas e mesmo nos cemitérios. Uma concentração de criatividade de que é testemunha a jovem universidade que adquire rapidamente poder e prestígio, na falta de uma plena autonomia. LE GOFF, Jacques. Por amor às cidades. São Paulo: Editora da UNESP, Texto 2 No texto a seguir, a autora pretende mostrar como seria a sua vida se você morasse numa cidade européia durante o revigoramento comercial e urbano na Baixa Idade Média. Cidade e comércio: o que você fabricaria, compraria e venderia? Se você morasse numa cidade, como seria a sua vida? Suja, barulhenta, apinhada de gente, malcheirosa e, provavelmente, muito curta. As doenças se disseminavam rápida-mente onde muitas pessoas viviam juntas, sem esgoto nem água limpa. Embora houvesse algumas belas casas construídas pelos nobres e comerciantes, a maioria das pessoas contava com um único aposento para trabalhar, comer e dormir. Por outro lado, as cidades eram o lugar para se fazer fortuna. A maioria dos moradores da cidade era pobre, mas alguns príncipes mercadores nas regiões onde hoje se localizam a Itália, a Alemanha e a Holanda provaram que era possível tornar-se muito rico, mesmo sendo de origem humilde. Como aprendiz, você passaria sete anos aprendendo um ofício. Mais tarde, você poderia tornar-se mestre, fazendo artigos de qualidade para vender a preços altos ricos visitantes da cidade. Homens e mulheres que faziam jóias, sedas bordadas e belas travessas de ouro abriam lojas em Londres, Paris, Veneza e Roma. Talvez você preferisse montar um negócio para oferecer serviços: uma barraca de comida ou uma casa de banhos? Todos eram muito lucrativos. Se você fosse um estudioso, poderia seguir uma dessas profissões: médicos, boticários, advogados e escribas tinham salas para atender nas grandes Cidades. Havia banqueiros, cambistas e agiotas também. Todos cobravam altos honorários por seus serviços. MACDONALD, Fiona. Como seria a sua vida na Idade Média? São Paulo: Scipione, p. 25 Analisando o texto 1. Após a leitura dos dois textos, há alguma semelhança entre as cidades medievais e as cidades atuais? Justifique. 2. Faça um comentário sobre a estrutura urbana das cidades medievais e das cidades contemporâneas.

222 FAZENDO HISTÓRIA 1. Explique os principais fatores que favoreceram a criação do movimento das cruzadas. 2. As cruzadas foram expedições militar-religiosa que tinham como objetivo inicial libertar a cidade sagrada de Jerusalém. Nessa perspectiva o choque entre católicos e islâmicos adquiriu o caráter de guerra santa. Nesse sentido, em sua opinião há no mundo contemporâneo conflitos que podemos classificar como guerra santa? Quais? Justifique. 3. Explique os principais objetivos das cruzadas empreendidas no início da Baixa Idade Média. 4. Cite os principais fatores que provocaram a crise do feudalismo. 5. Indique três circunstâncias do contexto do século XIV que podem ter contribuído para o aumento do número de revoltas camponesas. 6. Leia o texto a seguir. Essa gente miserável começou a se sublevar porque alguns diziam que eram mantidos em grande servidão e que, no começo do mundo, não havia servos (...) (viam-se como) homens livres semelhantes aos seus senhores e não como bestas (...) motivo pelo qual não queriam mais sofrer. Pelo contrário, eles desejavam ser iguais e, se trabalhassem ou prestassem algum serviço para os senhores, queriam receber salários. MACEDO, José Rivair. Movimentos populares na Idade Média. São Paulo: Moderna, p.56. O texto expressa uma opinião sobre as causas da revolta Walt Tyler, ocorrida na Inglaterra em Após a leitura, dê sua opinião sobre as revoltas camponesas que também contribuíram para a crise do feudalismo. 7. (Unicamp) No século XIII, um teólogo assim condenava a prática da usura: O usurário quer adquirir um lucro sem nenhum trabalho e até dormindo, o que vai contra a palavra de Deus que diz: Comerás teu pão com o suor do teu rosto. Assim o usurário não vende a seu devedor nada que lhe pertença, mas apenas o tempo, que pertence a Deus. Disso não deve tirar nenhum proveito. Adaptado de Le Goff, J. A bolsa e a vida. São Paulo: Brasiliense, a) O que é usura? b) Por que a Igreja condenava a usura? c) Relacione a prática da usura com desenvolvimento do capitalismo no final da Idade Média. 8. (Fuvest) Na Europa Ocidental dos nossos dias, em conseqüência do processo de integração, verifica-se um problema parecido com que existiu durante a Baixa Idade Média. Trata-se do problema de articulação das três esferas do poder político: o poder local, o poder do Estado-nação e o poder supranacional. Hoje, a integração europeia está sendo feita, ao contrário do que ocorreu no fim da Idade Média, em prejuízo do Estadonação. Indique: a) quem exercia cada uma das três esferas de poder durante a Baixa Idade Média? b) qual delas, no fim daquele período histórico, se sobrepôs às demais. Por quê?

223 QUESTÕES DE VESTIBULARES 1. (COVEST) Muitas lutas sociais compõem a história em todos os tempos. As Cruzadas marcaram a Idade Média, fazendo seus atores viverem violentas batalhas. Numa análise histórica do seu significado, podemos afirmar que as Cruzadas: a) trouxeram o fim imediato do feudalismo, destruindo o poder da nobreza e fragmentando a extensão das grandes propriedades territoriais. b) foram importantes para aproximar povos de culturas diferentes, apesar dos confrontos sangrentos e das ambições das suas lideranças políticas. c) transformaram a Europa num campo de batalha militar, fazendo desmoronar sua economia e sua vida social nos núcleos urbanos. d) tiveram influências nas mudanças religiosas, debilitando o poder do catolicismo, sem contudo interferir nas questões políticas da época. e) consolidaram o poder dos muçulmanos na economia medieval, facilitando o monopólio também das suas crenças religiosas. 2. (COVEST) O mundo medieval europeu recebeu influência destacada do catolicismo. A religião esteve presente na sociedade, em grande parte das suas experiências culturais. O poder da Igreja Católica foi visível, e a ordem feudal predominou em várias regiões da Europa. Na ordem feudal: a) durante toda a Idade Média, prevaleceu o poder da nobreza, sem interferência dos papas, na sua política. b) existiam latifúndios com uma produção que buscava a auto-suficiência econômica. c) havia uma hierarquia social, onde a riqueza definia a posição social, independente da origem familiar. d) havia uma produção agrícola importante, em que o comércio entre as cidades era fundamental para a venda dos excessos. e) eram adotadas regras definidas para todos, com usos e costumes universalizados para toda a Europa Ocidental. 3. (COVEST) A disseminação da Peste Negra na Europa, durante a Idade Média, provocando uma grande mortalidade, contribuiu para: a) o aumento crescente das atividades manufatureiras, devido à concentração da população nas cidades. b) o êxodo de parte da população para o oriente, esvaziando as cidades mais importantes. c) o aumento das superstições e da religiosidade, devido ao desespero e ao medo da morte. d) o aumento relativo da população do campo, uma vez que ocorreu a morte de boa parte dos habitantes das cidades. e) o enfraquecimento do poderio militar europeu, que sofreu, na época, freqüentes invasões dos povos bárbaros. 4. (COVEST) As transformações econômicas e sociais dos séculos XII e XIII provocaram a chamada crise de consciência religiosa. Sobre os movimentos heréticos surgidos neste período, assinale a alternativa correta. a) Na Europa, durante estes séculos, a fé em Deus era um valor inquestionável; portanto, os movimentos heréticos católicos foram contra as práticas religiosas desenvolvidas por seitas rurais. b) A insatisfação com relação ao comportamento herético dos príncipes católicos, ávidos por mais poder do que o do Papa Bonifácio III, fez com que Felipe, o Belo, rei da França, garantisse a cobrança de impostos junto aos príncipes tidos como heréticos. c) As ordens mendicantes, consideradas como uma facção religiosa de hereges, foram duramente perseguidas durante o papado de Honório III, no século XIII. d) Com as invasões de povos germânicos, na Europa, durante a Alta Idade Média, a maioria das bibliotecas foi destruída, restando apenas algumas pertencentes à Igreja Católica, que serviram de base para o surgimento dos movimentos heréticos europeus.

224 e) As heresias, que provocaram o surgimento de movimentos heréticos, foram doutrinas contrárias aos ensinamentos da Igreja, devido à insatisfação em relação ao comportamento do clero. 5. (COVEST) As Cruzadas misturavam interesses econômicos com interesses religiosos e não alcançaram o resultado esperado pelas suas lideranças. De fato, elas serviram para: a) aprofundar a crise do feudalismo, contribuindo para destruir suas bases sociais e econômicas. b) dificultar o comércio entre Oriente e Ocidente, provocando guerras constantes entre bizantinos e muçulmanos. c) enfraquecer o poder econômico das cidades italianas, renovando práticas religiosas do catolicismo menos solidárias. d) fragmentar o poder da Igreja Católica, abrindo espaço social para o surgimento das monarquias constitucionais. e) consolidar a grande propriedade rural, prejudicando a vida urbana e as mudanças no comércio. 6. (UPE) As lutas decorrentes das Cruzadas mostraram não somente o fanatismo religioso mas também afirmaram a importância de interesses econômicos. As Cruzadas economicamente: a) fortaleceram o poder de Constantinopla, enfraquecendo o comércio europeu durante a Idade Média. b) mantiveram as mesmas rotas comerciais do Império Romano, gerando prejuízos para os comerciantes. c) acabaram com o comércio nas grandes cidades européias, fortalecendo o feudalismo. d) diminuíram bastante o prestígio comercial de Constantinopla, fortalecendo o comércio no Mediterrâneo. e) consolidaram o poder da burguesia francesa, interessada em derrotar os comerciantes italianos. 7. (UPE) São elementos históricos que contribuíram para a crise do feudalismo: 1) as críticas aos desvios da Igreja católica. 2) o renascimento comercial e urbano 3) a formação da burguesia 4) o retorno às relações servis. Estão corretas a) apenas 1, 3 e 4 b) apenas 1, 2 e 3. c) apenas 1 e 2. d) apenas 1 e 4. e) 1, 2, 3 e (UPE) Sobre as cidades européias da Idade Média, leia as afirmativas abaixo. I. Praticamente não havia cidades, pois o comércio feudal era frágil, sustentado por feiras esparsas. II. Desapareceram depois das invasões bárbaras, restando pequenas cidades no sul da França. III. Muitas cidades medievais tiveram seu crescimento relacionado com as grandes feiras. IV. Algumas cidades italianas, como Veneza, eram importantes comercialmente. V. As cidades cresceram com o planejamento do poder público e o grande incentivo da Igreja Católica. Estão corretas apenas a) II e V. b) III e IV. c) I e V. d) I e IV. e) II, III e IV. 9. (COVEST) As corporações de ofício movimentaram a vida econômica das cidades medievais na Europa, onde a idéia do lucro era: a) aceita, devido às influências de uma burguesia que se expandia no comércio da época, sobretudo no mundo urbano.

225 b) condenada pela prevalência de uma mentalidade religiosa que defendia a existência do justo preço no comércio. c) malvista, apenas, por aqueles que estavam ligados ao clero católico, dono das maiores corporações da época. d) praticada por todas as corporações, pois não havia influências da Igreja nas atividades econômicas das cidades. e) restrita às corporações existentes nas cidades italianas, não sendo aceita pelas cidades da Europa Central. 10.(UPE) As dificuldades do feudalismo resultaram em mudanças na organização social e econômica da Europa. Essas mudanças: a) favoreceram o desenvolvimento de uma agricultura descentralizada, voltada para as colônias da América. b) trouxeram transformações na vida urbana, com renovações nas relações de trabalho. c) fortaleceram a nobreza e a Igreja Católica, donas dos grandes territórios agrícolas da época. d) descentralizaram, mais ainda, a economia, com o fim imediato dos latifúndios e o crescimento rápido das cidades. e) refizeram os princípios culturais da época, provocando o surgimento de uma arte sem qualquer influência do catolicismo. 11.(FUVEST) Sobre as invasões dos "bárbaros" na Europa Ocidental, ocorridas entre os séculos III e IX, é correto afirmar que: a) foi uma ocupação militar violenta que, causando destruição e barbárie, acarretou a ruína de todas as instituições romanas. b) se, por um lado, causaram destruição e morte, por outro contribuíram, decisivamente, para o nascimento de uma nova civilização, a da Europa Cristã. c) apesar dos estragos causados, a Europa conseguiu, afinal, conter os bárbaros, derrotando-os militarmente e, sem solução de continuidade, absorveu e integrou os seus remanescentes. d) se não fossem elas, o Império Romano não teria desaparecido, pois, superada a crise do século III, passou a dispor de uma estrutura socioeconômica dinâmica e de uma constituição política centralizada. e) os godos foram os povos menos importantes, pois quase não deixaram marcas de sua presença. 12.(FATEC) Jacques Le Golf e George Duby, especialistas em Idade Média, dividem a sociedade em três grandes ordens. A 1ª compreendia os integrantes do clero, a 2ª reunia os senhores feudais, e a última era constituída pelos servos. Sobre a sociedade feudal é correto afirmar que: a) havia uma grande mobilidade social, apesar das rígidas tradições e vínculos jurídicos determinando a posição social de cada indivíduo. b) a honra e a palavra tinham importância fundamental, sendo os senhores feudais ligados por um complexo sistema de obrigações e tradições. c) os suseranos deviam várias obrigações aos seus vassalos, por exemplo, o serviço militar. d) os servos, como os escravos, não tinham direito à própria vida, viviam presos à terra e dela não podiam sair. e) os vilões constituíam uma parcela de senhores feudais que procuravam por outro senhor mais poderoso, jurando-lhe fidelidade e obediência.

226 OLHARES HISTÓRICOS Livros A vida de um cavaleiro no tempo das cruzadas. GILBERT, John. São Paulo, Verbo, As cruzadas. HILLS, Ken. Tradução de Valter Lellis Siqueira. São Paulo: Ática, Viver nas sociedades medievais. MACEDO, José Rivair. São Paulo: Moderna, (Coleção Desafios). A Idade Média. RIUS, Maria e ORIOLVERGÉS, Glória. Adaptação Nicolau Sevcenko. São Paulo: Scipione, A guerra dos Cem Anos. TEIXEIRA, Francisco M. P. São Paulo: Ática, Cinema Cruzadas Direção de Ridley Scott. EUA / Inglaterra / Espanha, minutos. Balian (Orlando Bloom) é um jovem ferreiro francês, que guarda luto pela morte de sua esposa e filho. Ele recebe a visita de Godfrey de Ibelin (Liam Neeson), seu pai, que é também um conceituado barão do rei de Jerusalém e dedica sua vida a manter a paz na Terra Santa. Joana D Arc Direção de Luc Besson. EUA, minutos. Em 1412, nasce em Domrémy, França, uma menina chamada Joana (Milla Jovovich). Ainda jovem, ela desenvolve uma religiosidade tão intensa que a fazia se confessar algumas vezes por dia. Eram tempos árduos, pois a Guerra dos Cem Anos com a Inglaterra se prolongava desde 1337.

227 O Renascimento Cultural e Científico A Europa, entre os séculos XV e XVI, vivenciou uma série de mudanças. As crises enfrentadas pelo feudalismo, desde o século XI, já davam sinais dessas transformações. Nesse sentido, a modernidade faz o homem pensar, agir e sentir o mundo de um novo jeito. Essa postura do homem moderno provoca incríveis modificações na relação de poder, em todos os âmbitos: econômicos, políticos, sociais, religiosos e culturais. A partir do século XV, o sistema feudal e as concepções medievais entraram em colapso. Essa situação possibilitou o crescimento e expansão do capitalismo e a difusão de um ousado parâmetro cultural fundamentado no homem. Cronologicamente, a Idade Moderna se inicia com a Queda de Constantinopla, em Entretanto, por essa fase da História ser marcada por intensas mudanças, torna-se difícil situar onde começa e qual sua extensão. Fazendo uma análise crítica, podemos observar que alguns elementos manifestados na modernidade já tinham sido divulgados de alguma forma na Baixa Idade Média. Podemos citar como exemplos, as reformas religiosas do século XVI que podem ser entendidas como um prolongamento dos movimentos heréticos medievos. Outro fato interessante foi a formação dos Estados Moderno, o qual resultou da unidade das monarquias nacionais, entre os século XII e XV. O Renascimento assinala o florescimento de um longo processo anterior de produção, circulação e acumulação de recursos econômicos, desencadeado desde a Baixa Idade Média. São os excedentes dessa atividade crescente em progressão maciça que serão utilizados para financiar, manter e estimular uma ativação econômica. Surge assim a sociedade dos mercadores, organizada por princípios como a liberdade de iniciativa, a cobiça e potencialidade do homem, comparado como senhor todo-poderoso da natureza, destinado a dominá-la e submetê-la à sua vontade, substituindo-se no papel do próprio Criador. FALCON, Francisco. Mercantilismo e transição. São Paulo: Brasiliense. As primeiras contestações sobre a mentalidade medieval e o seu universo cultural surgiram em pleno século XIII. Além disso, o revigoramento do comércio e da vida urbana foram reativadas, também, na Baixa Idade Média. Desse modo, a modernidade deve compreendida como um período de mudanças e permanências. O homem, a partir de então, passa a encarar o mundo com um outro olhar. As coisas ao seu redor adquiriram novos sentidos e valores. A curiosidade humana se torna uma das fortes marcas da modernidade. VALORES MEDIEVAIS O tempo divino. É pecado emprestar dinheiro com juros. A fé é mais relevante que a razão. Exaltação do espírito coletivista. Todas as pessoas são consideradas integrantes da cristandade (coletivismo). Deus é o centro de todas as coisas (teocentrismo). O corpo constitui fonte do pecado.

228 VALORES DA MODERNIDADE O tempo pertence ao homem e este deve usufruí-lo em benefício próprio. A razão e a fé são importantes. Há uma valorização da observação e da experiência. A criatividade e a originalidade do homem são valorizadas (individualismo). O homem é o centro de tudo (antropocentrismo). O corpo simboliza a fonte da beleza e do prazer. O significado do pensamento renascentista O Renascimento consiste num movimento histórico de múltiplas dimensões. As experiências renascentistas se manifestaram de diversas formas entre os séculos XII e XVI. Esse movimento tornou o homem mais inquieto e inconformado com as explicações do mundo naquele momento. O homem renascentista é, acima de tudo, curioso e interessado pelas artes, invenções técnicas, política e ciências. Desse modo, todas as áreas do saber humano foram explorados pelos intelectuais renascentistas. O Renascimento reafirma a cultura da Antiguidade Clássica. Os pensadores renascentistas consideravam-se herdeiros diretos da cultura grecorromana. Os quatro movimentos que se convencionou considerar inauguradores da Modernidade Renascimento, Protestantismo, Descobrimentos e Centralização são de fato medievais. O primeiro deles, o Renascimento dos séculos XV-XVI, recorreu a modelos culturais clássicos, que a Idade Média também conhecera e amara. Aliás, foi em grande parte através dela que os renascentistas tomaram contato com a Antiguidade. As características básicas do movimento (individualismo, racionalismo, empirismo, neoplatonismo, humanismo) estavam presentes na cultura ocidental pelo menos desde princípios do século XII. Ou seja, como já se disse muito bem, embora o Renascimento só invoque a Antiguidade, é, realmente, o filho ingrato da Idade Média. SICHEL, Edith. A Idade Média e o Nascimento do Ocidente. São Paulo: Brasiliense, p.171. Os renascentistas exaltavam o novo e o moderno. Nessa perspectiva, eles vão classificar o período medievo como um momento de obscuridade, de irracionalidade e ignorância. A visão de mundo dos renascentistas, baseada na razão e no antropocentrismo, se opunham à medieval caracterizada pelo misticismo e pelo teocentrismo. Vale salientar, que os homens renascentistas não negavam a existência de Deus, entretanto buscavam entender a realidade a partir da perspectiva terrena e humana. A atitude do homem renascentista provocou algumas divergências religiosas, pois os intelectuais renascentistas além de criticar os costumes da Igreja Católica medieval também elaboraram novos princípios. Assim, esses questionamentos contribuíram para difusão dos movimentos religiosos reformistas do século XVI, entre eles podemos citar a Reforma Protestante coordenada por Martinho Lutero. O renascimento, no entanto, deve ser entendido como um movimento de transição, pois mesmo os seus intelectuais pregando a ruptura com a Idade Média, não podemos esquecer a importância dos monges na divulgação dos valores da cultura clássica. Alguns membros do clero ajudaram na transmissão dos textos de escritores pagãos e dos primeiros intelectuais da cristandade. (...) o Renascimento foi um movimento, uma revivificação das capacidades do homem, um novo despertar da consciência de si próprio e do universo um movimento que se alastrou pela Europa Ocidental e que, pode-se dizer, durou mais de dois séculos. Foi entre 1400 e 1600 que dominou plenamente. SICHEL, Edith. O Renascimento. Rio de Janeiro: zahar. P. 7.

229 Assim, para alguns historiadores, o movimento renascentista simbolizou uma completa ruptura ao período medieval. Já outros, consideram o Renascimento mais uma transição do que uma cisão profunda, porque muitas manifestações renascentistas foram propagadas durante a Idade Média ( século XII). Vários fatores e elementos contribuíram para o surgimento e desenvolvimento do Renascimento. Dentre eles podemos mencionar o renascimento comercial, o renascimento urbano, a ascensão da burguesia (alguns se tornaram financiadores e amantes da cultura, os mecenas), a influência dos bizantinos e islâmicos e a invenção da imprensa de tipos móveis. Em linhas gerais, as principais características do Renascimento foram: 1. Classicismo: os renascentistas resgataram os valores da cultura greco-romana, utilizando-os nas correntes de pensamento, nas concepções filosóficas e nas doutrinas políticas. A retomada dos valores da Antiguidade Clássica foi manifestada principalmente nas artes plásticas. 2. Racionalismo: os renascentistas exaltavam a razão, acreditando que só através da investigação e da experiência se podia encontrar a verdade. Desse modo, os princípios religiosos e suas explicações sobre o mundo foram refutados. 3. Neoplatonismo: defendia uma elevação espiritual que possibilitasse aproximar os homens e Deus. Essa interiorização era usada para tornar o homem mais espiritual e menos materialista. 4. Individualismo: a capacidade de pensar, criar e inventar do homem são valorizadas. 5. Hedonismo: consistia na valorização do corpo, das satisfações terrenas e espirituais. Havia também a defesa do culto ao belo e ao perfeito. Esse intenso amor pelas coisas humanas foi utilizado por diversos escritores renascentistas, entre eles, François Rabelais e William Shakespeare. 6. Otimismo: os renascentistas exaltavam a vida e todas as formas de hábitos que garantissem a liberdade do homem agir sobre o meio. 7. Naturalismo: os artistas renascentistas tinham forte interesse de retratar de forma rigorosa os homens e os animais. A preocupação em definir a natureza de maneira fiel impulsionou os estudos sobre o corpo humano (anatomia), as plantas e os animais. Assim, os intelectuais pretendiam fazer uma transposição do saber alcançado na pesquisa cientifica para a produção artística. Homem Vitruviano (1490), Leonardo da Vinci. O homem tem expressão e sexo definidos, a proporção e a perspectiva demonstram os conhecimentos matemáticos do artista. 8. Ideal da universalidade: os pensadores renascentistas afirmavam que uma pessoa poderia vir a entender e saber tudo o que conhece. Portanto, o renascentista ideal era aquele que soubesse todas as artes e todas as ciências. O que mais se aproximou desse modelo foi Leonardo Da Vinci, pois tinha domínio de múltiplas áreas do saber. Ele foi, em diferentes momentos da sua vida, urbanista, pintor, arquiteto, mecânico, engenheiro,

230 fisiologista, químico, botânico, geólogo, físico, escultor, cartógrafo, pioneiro da balística, da aviação, criador do escafandro e do pára-quedas. (...) os vossos conhecimentos devem ser extensos, variados e hauridos em todas as espécies de experiências, sem nada negligenciar daquilo que possa contribuir para a conduta de vossa vida, para a vossa glória e para a vossa reputação. In: FREITAS, G. de (org). 900 textos e documentos de história. Lisboa: Plátano, p Humanismo: afirmava que o homem era o centro de todas as coisas. Essa concepção também é denominada de antropocentrismo. Nesse sentido, os homens possuíam capacidade de encontrar as verdades da realidade sem, necessariamente, precisar da intervenção de Deus (teocentrismo). Cabiam também aos homens crescerem material e espiritualmente, com o propósito de deixar suas marcas no mundo. Os humanistas se tornaram grandes estudiosos dos intelectuais greco-romanos. A retomada do pensamento da Antiguidade Clássica se deu porque os artistas e intelectuais renascentistas acreditavam que o século XIV era uma época fantástica da humanidade, momento em que a produção artística e o pensamento filosófico tinham como eixo principal o ser humano. Os humanistas valorizavam de tal maneira os estudos clássicos que muito deles se tornaram especialistas em latim, grego e hebraico. A intenção deles era ter acesso aos textos originais grecorromanos sem a intervenção da Igreja Católica, que, até então, era responsável pelas traduções e interpretações dessas obras. Para alguns historiadores, o humanismo consistiu num movimento intelectual surgido nos centros urbanos italianos mais prósperos, como Florença. Os estudos humanos (filosofia, retórica, poesia, história e matemática) tinham por fim criar condições para o desenvolvimento do homem. Os humanistas se dedicavam a propagação desses estudos. O Renascimento Italiano O movimento renascentista surgiu na Itália, no final da Baixa Idade Média. Com o renascimento comercial e urbano, as cidades italianas se apresentaram como grandes articuladores das atividades comerciais/burguesas e culturais entre o ocidente e o oriente. As cidades portuárias italianas mais prósperas foram Roma, Bolonha, Nápoles, Gênova, Veneza, Florença, Turim, Pisa e Milão. Vale enfatizar, que a Itália não tinha alcançado sua unidade política ainda (a unificação ocorre no século XIX). Estima-se que na época do Renascimento a Península Itálica possuía dez milhões de habitantes. Nesse momento, a região era fragmentada em cinco unidades. Ao norte, destacavam-se as repúblicas de Florença e Veneza e o ducado de Milão; ao centro, se concentravam os Estados da Igreja; já ao sul, tinha o reino de Nápoles. A riqueza dessas regiões possibilitou o surgimento de um grupo de indivíduos ricos, conhecidos como mecenas, os quais à procura de promoção pessoal patrocinavam as criações científicas e artísticas. A disputa entre as cidades pelo domínio pleno do comércio impulsionou enormes conflitos militares. Na época ainda não havia exército unificado, por isso, os comerciantes mantinham seus locais protegidos pelos condottieri (chefe de tropas). As diversas fases de instabilidades políticas favoreceram os golpes pelo poder organizados por ricas famílias. Os casos mais famosos ocorreram em Florença (família Médici) e em Milão (família Sforza). Foi nesse cenário que se desenvolveu o Renascimento Cultural. Os principais motivos que explicam o pioneirismo italiano nesse movimento são o comércio de especiarias, uma burguesia enriquecida e os contatos com as culturas bizantina e islâmica. Essas circunstâncias geraram condições favoráveis para o desenvolvimento do Renascimento. Tradicionalmente, o Renascimento italiano é dividido em três grandes fases: Trecento (século XIV), Quatrocento (século XV) e Cinquecento (século XVI). A primeira fase constitui um período de transição, onde há uma convivência entre os elementos medievais com os ideais humanistas. Já a segunda, caracteriza-se pela ascensão do movimento renascentista, o qual foi apoiado pelos Médicis (ricos banqueiros). Por fim, a terceira fase, há uma mudança do centro cultural do Renascimento. Após uma revolta social, frade Savonarola destitui os Médicis do governo e em seguida implantou medidas que limitaram a produção cultural. Esse motivo provocou a transferência do núcleo cultural de Florença para Roma.

231 GALERIA DEGLI UFFIZI, ITÁLIA Nascimento de Vênus (1483) de Sandro Boticelli. Nessa tela o autor conciliou os valores cristãos com os do paganismo. Foi no Cinquecento que a arte renascentista alcançou o seu apogeu. Nessa fase se destacaram figuras como Leonardo da Vinci, Michelangelo, Rafael Sanzio, e Sandro Botticelli. Após essa ascensão, o Renascimento italiano entra em profunda crise. Veja agora, as principais manifestações culturais do renascimento italiano. 1. A pintura Giotto di Bondoni ( ): Uma das importantes figuras das artes plásticas do movimento renascentista. As suas criações artísticas romperam com as representações esquemáticas do período medieval. As pinturas de Giotto são caracterizadas pelo seu grande naturalismo. Em suas obras as figuras humanas são representadas com grande naturalismo, principalmente, Cristo e os santos. Além disso, as telas de Giotto apresentam um sentido de profundidade espacial (perspectiva) e as faces de suas figuras demonstram sentimento e emotividade. Em suas principais obras, podemos citar São Francisco de Assis. Donatello ( ): Construiu várias esculturas que trazem abordagens religiosas, entretanto elas exaltam o ser humano. Entre as mais importantes esculturas podemos mencionar São Jorge e Gattamelata. Sandro Boticelli ( ): As suas obras recuperam cenas da mitologia grega. Boticelli se tornou num dos expoentes da pintura do Quatrocento. Nas suas obras foram impressas traços e estilos suaves às figuras representadas. Ele acreditava que a arte constituía numa expressão simultâneamente espiritual, religiosa e simbólica. Sua procura pela beleza alcançou o momento máximo em Nascimento de Vênus (1483). Esse monumental trabalho sugere mais do que o amor físico. Nessa tela Boticelli nos impressiona pela criação de uma admirável beleza do corpo nu da Vênus que simboliza a pureza. Uma outra obra importante de Botticelli foi a Alegoria da Primavera. Nessa obra pode ser notada também a elegância, a beleza e a sensualidade.

232 Masaccio ( ): Tornou-se um mestre da perspectiva. Leonardo Da Vinci ( ): Dedicou-se a vários ramos do saber. A versatilidade e genialidade desse ícone do Renascimento também foi expressa na pintura. Suas principais obras foram La Gioconda (a conhecida Mona Lisa) e a Santa Ceia. A arte desse grande talento renascentista foi baseada no estudo científico da natureza e caracterizada por um enorme realismo. A pintura de Da Vinci fugiu da imitação dos clássicos. La Gioconda (Mona lisa), de Leonardo da Vinci, pintura feita entre 1503 e Rafael Sanzio ( ): Um dos mais populares pintores do Re-nascimento. Ele ficou conhecido como pintor das madonas. Seu estilo baseava-se na clareza das figuras, no equilíbrio e na harmonia. Na sua obra Escola de Atenas, pintada no Vaticano, podemos observar essas características. Nessa pintura, ao lado dos intelectuais e pensadores gregos representados do tamanho real, destacam-se os filósofos Platão e Aristóteles. O Papa Leão X e as numerosas madonas são suas importantes obras. Michelangelo Buonarroti ( ): Foi escultor e pintor. Ele foi responsável pelos fantásticos afrescos da Capela de Sistina, em Roma. Nessa obra trazem várias pinturas que abordam alguns momentos relatados pela Bíblia. Por exemplo, A criação de Adão e o Juízo Final. As pinturas de Michelangelo expressam a dor e a paixão com um grau de intensidade incrível. Por isso ele leva as concepções estéticas renascentistas ao seu máximo estágio de potencialidades. Michelangelo foi considerado como o gigante do Renascimento. Ele também esculpiu Pietá, Davi e Moisés. Michelangelo: o gigante do Renascimento (...) A Capela de Sistina foi construída a partir de 1475 (o mesmo ano em que Michelangelo nasceu) e contém em si um espaço simplicíssimo: é uma única e ampla sala retangular, com as medidas que a Bíblia atribui ao templo de Salomão: 40,23 metros de comprimento e 13,41 metros de largura. Nas paredes há afrescos de artistas do porte de Botticelli ou Luca Signorelli, mas pouco reparam nelas. Ao entrar, por uma pequena porta ao lado do altar, quase todos os visitantes levantam os olhos vorazes para a abóbada, até que, virando-se satisfeitos, os abaixam em direção ao Juízo Final. (...) O afresco foi acolhido com admirado esturpor; mas não faltaram comentários malévolos. Alguns acharam que os nus (Michelangelo pintou a maioria dos corpos nus) eram demais e inapropriados para uma capela papal. Tanto disseram que, depois da morte de Michelangelo, alguns véus e tecidos foram acrescentados em defesa do pudor. SCARPELLINI, Vincenzo. Folha de São Paulo. 14 abr Turismo, p. 10.

233 Ticiano ( ): Um dos maiores pintores da escola veneziana, considerado também como mestre da cor renascentista. Pintou várias telas baseadas na mitologia greco-romana. Entre suas principais podemos citar A Vênus de Urbino, Amor Sacro, Amor profano e Ecce Homo. Tintoretto ( ): Criou várias obras que utilizavam temas históricos e religiosos. Suas pinturas também ficaram notáveis pela a forte intensidade de cores. A sua principal obra foi Paraíso. 2. Literatura Com a criação da imprensa dos tipos móveis, inventada por Gutemberg, por volta do século XVI, os livros tornaram-se mais acessíveis ao público maior. O surgimento da imprensa foi fundamental para o desenvolvimento social e econômico, porque divulgava novas idéias e técnicas, essenciais às grandes empresas de comerciantes para a expansão de seus negócios. Entretanto, antes mesmo do surgimento da imprensa, a península Itálica foi cenário de uma enorme produção literária. As obras literárias renascentistas foram caracterizadas pelas críticas às concepções religiosas medieval, pelo uso dos dialetos e línguas nacionais, pela valorização do homem e a exaltação de suas conquistas. Dante Alighieri ( ): Nascido em Florença, escreveu a obra A divina comédia. Essa obra foi escrita no dialeto local, o toscano florentino que deu origem ao italiano. O costume da época era escrever em latim, a tradicional língua da Igreja Católica. Dante é considerado o precursor do Renascimento. A Divina Comédia ficou famosa não pelo tema, ainda medieval e religioso, mas pela forma que segue o estilo do poema épico clássico. Nesse poema, Dante faz uma peregrinação ao inferno, ao purgatório e ao paraíso. Nas duas primeiras etapas, foi guiado pelo poeta romano Virgílio. Já na última etapa, Dante encontra-se com o grande amor da sua vida, Beatriz. Francesco Petrarca ( ): Considerado o pai da literatura humanista. Escreveu De África e Cancioneiro. Essa última obra reúne um conjunto de sonetos e poemas dedicados à sua amada, Laura. Petrarca acreditava que vivia num novo período, o qual era uma extensão dos anos dourados do Império Romano. Além disso, Petrarca foi pioneiro da unidade italiana e um dos primeiros a denominar a fase medieval como período das trevas. Giovanni Bocaccio ( ): Autor do clássico Decameron. Esse conjunto de contos satíricos e anticlericais relatam a sociedade da sua época. Os personagens dessa obra expressam a complexidade humana e os desejos das camadas populares. Bocaccio também escreveu em dialeto toscano. (...) O sol ainda estava bem alto, porque a conservação tinha sido breve. Por isso, logo que Dioneu e os outros rapazes se puseram a jogar gamão, Elisa Chamou de parte as donzelas e lhes disse: Desde que chegamos aqui eu tenho desejado levá-las a um lugar muito perto de onde estamos, e aonde até agora não creio que nenhuma de nós tenha ido: Vale das Mulheres. Até hoje, quando o sol ainda vai alto, nunca tinha achado tempo para levá-las até lá. (...) Não andaram mais de milha e chegaram ao Vale das Mulheres. Nele entraram por uma passagem muito estreita, onde corria um límpido regato, nascido em um dos extremos. Viram que o vale era o mais lindo e aprazível que se pudesse conceber, especialmente naquele tempo de calor forte. (...) BOCACCIO, Giovanni. O vale das Mulheres. In: Contos de Decameron. São Paulo, Scrininum. Torquato Tasso ( ): A sua obra Jerusalém libertada trata das realizações de Godofredo de Bulhão nos movimentos das Cruzadas. Essa obra já revela o sentimento religioso da Contrarreforma. Ludovico Ariosto ( ): Escreveu Orlando furioso que aborda as aventuras do sobrinho de Carlos Magno. A narrativa dessa obra é estruturada entre a lenda e a realidade.

234 3. Filosofia, política e ciência Giordano Bruno ( ): Foi monge dominicano, cientista e filósofo. Ele acreditava na concepção Heliocêntrica de Nicolau Copérnico. Giordano também afirmava que o universo era infinito e povoado por uma multiplicidade de mundos parecido com o nosso e habitados por seres humanos. Suas idéias entraram em choque com as defendidas pela Igreja, defensora do geocentrismo. Por isso foi acusado de heresia, sendo julgado e condenado à fogueira pelo Tribunal da Inquisição. Tommaso Campanella ( ): Um dos mais importantes humanistas de sua época. Combateu o domínio espanhol na região da Itália, ficando preso por 27 anos. Na prisão escreveu o clássico A cidade do Sol, livro que faz a descrição de uma sociedade ideal, baseada em concepções comunitárias. Nicolau Maquiavel ( ): De acordo com os estudiosos contemporâneos, ele é considerado como o fundador da ciência política moderna. Maquiavel foi imortalizado pela sua obra O Príncipe dedicado a Lourenço de Médici. Nessa obra ele procura alternativas para restaurar a ordem política na Itália, assolada pelas invasões espanhola, francesa e alemã. Para Maquiavel, a política tinha um caráter antropocêntrico e realista. Assim, a política era fruto da ação humana e não divina. Em O Príncipe, Maquiavel defende que o governante deveria ser temido, impondo-se pela força, mas, simultâneamente, deveria ser amado. Maquiavel se tornou famoso por tratar de questões do poder que desvinculavam a religião da ética. Ele também foi autor da peça teatral Mandrágora. Galileu Galilei ( ): Um dos maiores pensadores italianos que se preocupou com as questões da metodologia do conhecimento. Ele comprovou a teoria heliocêntrica. De posse do telescópio, Galileu descobriu os anéis de Saturno, as manchas do Sol e os satélites de Júpiter. Outro feito de Galileu foi a sua conclusão sobre a Via Láctea que era constituída de um aglomerado de corpos celestes independentes do nosso sistema solar. A expansão do Renascimento Além da Itália, o Renascimento se propagou por outras regiões da Europa. As principais foram Alemanha atual, os Países Baixos (atuais Bélgica, Luxemburgo e Holanda), Inglaterra, França, Portugal e Espanha. Sacro Império (Alemanha atual) No Sacro Império se destacou dois artistas importantes: Albrecht Durer ( ) e Hans Holbein ( ). Suas obras foram impregnadas pela agitação religiosa protestante da Alemanha. As principais obras de Durer foram Cristo crucificado e os Quatro apóstolos. Elas expressam a angústia religiosa da época. Já Holbein, se tornou o maior retratista do seu tempo. Entre os seus trabalhos mais notáveis estão Henrique VIII, monarca inglês, e Erasmo de Roterdã, escritor humanista dos países baixos. Temos também que mencionar Lucas Cranach ( ), autor de várias telas marcadas pelo intenso fervor religioso. Países Baixos Nessa região, o Renascimento foi tão importante como na Itália, porém, a sua divulgação foi menor. As intensas atividades comerciais da região foram decisivas para o desenvolvimento do Renascimento, do mercado de artes, de artista e também do mecenato. Na pintura se destaca os irmãos Hubert van Eyck ( ) e Jan van Eyck ( ). Esses artistas utilizaram a técnica da perspectiva e aperfeiçoou a pintura a óleo, além de empregar diversos tons de cores não imaginadas até o momento. Em seus retratos são revelados personagens da riqueza e grandeza comercial dos Países Baixos. Além desses pintores flamengos, se destacaram Robert Campin, Pieter Bruegel ( ) e Hieronymus Bosch ( ). Os quadros de Bruegel abordam paisagens e cenas exuberantes da vida dos camponeses e da população flamenga.

235 Entretanto, talvez a figura mais recordada do Renascimento seja Erasmo de Roterdã com sua famosa obra Elogio da Loucura. Nesse livro, ele crítica abertamente a cultura medieval e o clero católico, principalmente o papa Júlio II, que segundo Erasmo, era o responsável pela corrupção da Igreja Católica. França O Renascimento francês foi bastante vigoroso. Os reis Luís XI e Francisco I foram importantes mecenas. Eles financiaram intelectuais e artistas. As principais produções francesas se deram no campo da literatura. Os principais escritores que se destacaram foram François Rabelais ( ) com suas duas obras-primas satíricas Gagântua e Pantagruel enquanto que na filosofia se apresentou Michel Montaigne ( ), autor do livro intitulado Ensaios. Nessa obra, caracteriza-se pelo ceticismo e pelas indagações de quaisquer verdades estabelecidas. Esse humanista também analisou vários temas, passando a ser considerado na época como o grande exemplo de tolerância. Inglaterra O Renascimento inglês ocorreu de forma tardia. Coincidindo com a centralização política, a música, a literatura e o teatro foram notáveis no Renascimento nesse país. Um dos escritores humanistas mais ilustres foi Thomas Morus ( ), autor da obra Utopia. Esse trabalho se destaca pela descrição que o autor faz das condições de vida de uma sociedade sem a existência de ricos e pobres numa ilha imaginária. Assim, ele concebe uma sociedade ideal guiada pelos princípios comunitários. Por questões religiosas, Morus, foi preso e morto por ordem do monarca Henrique VIII. William Shakespeare ( ) foi o mais ilustre dramaturgo inglês. As suas obras mostram os conflitos e as angústias vividas pelo homem consigo mesmo. Os textos shakespearianos têm forte apelo humanista, pois eles sempre estão preocupado em resolver problemas terrenos. Sua obra mais famosa, talvez seja Romeu e Julieta que narra história de um amor proibido entre dois jovens pertencentes a famílias rivais. Shakespeare também escreveu Hamlet, Henrique V, A comédia dos erros, Sonho de uma noite de verão, A megera domada, O mercador de Veneza, Otelo, Rei Lear e Macbeth. Essas peças até hoje são conhecidas e encenadas em partes do mundo. Considerado como um dos maiores dramaturgos de todas as épocas, algumas de suas obras fazem críticas aos valores da cavalaria e dos costumes medievais, entretanto, algumas vezes, suas obras apresenta influencia do imaginário e crenças populares do período medieval, tais como a abordagem de bruxas, fadas e fantasmas. Portugal No Renascimento português se destacaram no teatro Gil Vicente ( ), autor de diversas peças teatrais, e na literatura Luís de Camões ( ). Esse último escreveu o poema épico Os Lusíadas. Essa epopéia relata a grande aventura das navegações e conquistas marítimas portuguesas. Por isso, muitos intelectuais afirmam que esse livro como pilar da identidade nacional lusitana. Espanha As figuras renascentistas espanhóis mais importantes foram na pintura El Greco ( ) e na literatura Miguel de Cervantes ( ). El Greco nasceu na Grécia, no entanto, foi na Espanha que ele produziu suas obras mais notáveis. Em seus trabalhos ele expressou enorme intensidade emocional e paixão pela Contra-Reforma espanhola. Suas produções também são marcadas pela originalidade, pois ele não se prendeu às características da pintura renascentista. Em Dom Quixote de La Mancha, Cervantes faz uma sátira à nobreza Espanhola, a qual insistia em se considerar a principal força política da época. Por intermédio de metáforas, o escritor faz severas críticas aos costumes tradicionais, ainda bastante influenciados pela mentalidade medieval. Hoje, essa obra é considerada um dos grandes clássicos da literatura mundial. A riqueza literária e a narrativa inovadora são as principais marcas desenvolvidas por Cervantes. O Renascimento Científico Baseado nos estudos do homem e da natureza, fundamentados numa visão crítica, os renascentistas contribuíram para o desenvolvimento da ciência moderna. O humanismo fez com que o homem recusasse a explicação divina da realidade, passando a adotar a

236 perspectiva mais terrena e natural. A partir de então, os fenômenos passaram a ser compreendidos por olhares racionalistas e antropocêntricos. Foi no Renascimento que foram criados os primeiros métodos do conhecimento (a experiência e a observação) que fundamentaram as concepções científicas conteporâneas. Através desses métodos, a astronomia pode comprovar a teoria heliocêntrica que se contrapunha à geocêntrica (criada por Ptolomeu), aceita pela Igreja Católica. Enquanto os geocentristas acreditavam que o sol girava em torno da Terra, os Heliocêntricos defendiam o contrário. Nicolau de Cusa ( ): Foi o primeiro a rejeitar a teoria geocêntrica. Tempos depois, Nicolau Copérnico ( ), conhecedor do direito civil e canônico, estudou em importantes universidades italianas. Posteriormente, se interessou pela astronomia. Fundamentado em cálculos matemáticos e pensamentos de cientistas italianos da época. Copérnico formulou a teoria que a terra e os demais planetas giravam em torno do sol. Johan Kepler ( ): Deu seqüência às idéias de Copérnico, demonstrando que as órbitas dos planetas não eram circulares e sim elípticas. Já o médico e alquimista suíço Paracelso ( ) elaborou o primeiro manual de cirurgia, focalizando o a função da química no campo da medicina. Ele também fez uma descrição clínica da sífilis e descobriu a relação existente entre o cretinismo (estágio de debilidade produzido pela ausência da glândula tireóide) dos filhos e o bócio (hipertrofia tireóide) dos pais. No campo das ciências médicas, Miguel Servet ( ) e William Harvey ( ) se distinguiram pelos notáveis trabalhos concernentes à circulação sanguínea. Eustáquio ( ) conseguiu descobrir a ligação entre o ouvido médio com a garganta. A prática da dissecação de cadáveres foi introduzida por Mundinus ( ). Falópio ( ) descobriu os ovidutos (canal que conduz os óvulos do ovário para outros órgãos do sistema reprodutor humano) humanos, conhecidas hoje como trompa de Falópio. Temos que destacar ainda os célebres estudos da anatomia humana feitos por Andréas Vesálio ( ). Houve também outras progressos nas ciências naturais que contou com as contribuições de Gesner e Rondelet, que investigaram a fauna; do geólogo Georg Bauer, os quais descobriram as novas formas de usar os minérios; enquanto que Ambroise Pare criou a técnica do uso de ataduras no estancamento de hemorragias. A modernidade e as mudanças de hábitos O Renascimento foi importante porque quebrou o monopólio da explicação da realidade e do mundo que estavam nas mãos da Igreja Católica. Os intelectuais renascentistas abriram caminhos para a compreensão da natureza por meio da razão e da livre interpretação. O racionalismo renascentista triunfou sobre as concepções religiosas e tradicionais calcadas na fé. A partir de agora, o homem moderno pauta seu conhecimento na experimentação científica. Tudo isso provoca uma mudança de mentalidade no homem moderno. As mudanças geradas pelo Renascimento não limitou apenas ao campo cultural e científico. Elas também impactaram também o universo social e o cotidiano. Durante a Idade Média, havia poucas distinções culturais entre ricos e pobres. Com exceção dos religiosos e pequena parte da nobreza, grande parte da população não conhecia o mundo letrado. Eles geralmente, freqüentavam as mesmas cerimônias religiosas e festas profanas, diferenciando-se apenas pelas posições ocupadas nas liturgias. Porém, durante a Idade Moderna, podemos observar algumas diferenças de comportamentos. Nesse sentido, foi sendo elaborada a imagem do homem civilizado que passou a ser visto como pessoa educada. Desde então, adotar certas posturas à mesa, certos hábitos e comportamentos sociais passaram a distinguir os nobres (detentores da cultura letrada e formal, pertencente a alta cultura ) dos pobres (iletrados, informal, baixa cultura ). Assim, os símbolos da educação, higiene, cavalheirismo, polidez, a etiqueta, sofisticação, maneirismo, modos de vestir e comer se tornaram ações típicas do homem civilizado, que servem como parâmetros para a sociedade ocidental contemporânea. As ressonâncias das reformas do século XVI prejudicaram as novas buscas dos saberes científicos, no entanto, isso não impediu o seu desenvolvimento. A modernidade transformou homem em ser mais livre, mais corajoso, mais independente, ousado e criativo.

237 TEXTO COMPLEMENTAR Leia atentamente o texto abaixo e em seguida responda às questões. O legado do Renascimento (...) Podemos dizer sem exagero que no Renascimento a humanidade começou a se libertar das condições que lhe eram impostas pela natureza. O homem deixou de ser apenas uma parte da natureza. A natureza passou a ser algo que se podia usar e explorar. Saber é poder, dizia o filósofo inglês Francis Bacon, substituindo com isto a aplicação prática do conhecimento. E isto era uma coisa nova. A humanidade passou a intervir na natureza e a querer controlá-la. - Mas isto não foi uma coisa positiva? Sim e não. Vamos retomar aqui os fios do bem e do mal que se entrelaçam em tudo o que o homem faz. A ruptura tecnológica iniciada no Renascimento levou aos teares e ao desemprego, aos remédios e a novas doenças, à eficiência controlada da agricultura e à exploração da natureza, a novos utensílios como máquinas de lavar e geladeiras, e também à poluição ambiental e às montanhas de lixo. O fato de assistirmos hoje à terrível degradação de nosso meio ambiente levou muitos a ver a ruptura tecnológica como um perigoso desvio das condições de vida que nos são dadas pela natureza. Para estas pessoas, o homem colocou em marcha um processo que não pode mais controlar. Outros, mais otimistas, acreditam eles, também tem suas doenças de infância ; mas no fim os homens vão aprender a controlar a natureza, sem com isto ameaçá-la em seus pontos vitais. (...) GAARDER, Jostein. O mundo de Sofia. São Paulo: Companhia das Letras, Analisando o texto 1. Segundo o texto que tipo de relação homem-natureza foi introduzida pelo Renascimento? 2. Apresente aspectos positivos e negativos que, de acordo com o autor, foram advindas pelo rompimento tecnológico iniciado no Renascimento. 3. O texto aborda duas percepções distintas a respeito a relação futura entre homem, natureza e tecnologia. Identifique-as.

238 FAZENDO HISTÓRIA 1. Após a leitura do capítulo escreva um pequeno texto fazendo alusão aos principais eventos que se tornaram pilares do mundo moderno. 2. Explique o contexto histórico da Europa na época do Renascimento e comente sobre a principal fonte de inspiração dos sábios renascentistas. 3. Explique o humanismo renascentista. 4. Cite e comente as principais características do Renascimento. 5. O Renascimento foi iniciado na Península Itálica, num período em que a região já possuía uma economia desenvolvida que possibilitou a ascensão de uma elite que investiu na produção artística da época. a) Quais os fatores podem ser citados que contribuíram para que o movimento renascentista tivesse início na Península Itálica? b) Comente a importância dos mecenas nas artes renascentistas. 6. Os intelectuais renascentistas viam os centros urbanos como locais ideais para a propagação das artes. Nesse sentido, explique os motivos de o ambiente urbano ser mais adequado para a divulgação da arte e da cultura renascentista. 7. (UERJ) A estátua de David, hoje exposta na Academia de Florença, na Itália, é considerada uma das maiores obras da arte universal e um símbolo do Renascimento. O renascimento é considerado por muitos historiadores um marco da grande mutação intelectual do Ocidente ocorrida nos séculos XV e XVI. a) Analise três características básicas deste movimento artístico. b) Cite outras três obras importantes produzidas pelo Renascimento, localizando seus autores e o país em que foram produzidas. 8. Escreva um pequeno texto relatando os principais legados renascentistas para o mundo contemporâneo.

239 QUESTÕES DE VESTIBULARES 1. (UPE) A Peste Negra assolou a Europa com uma longa e devastadora epidemia no século XIV. Campos e cidades foram arrasados; um terço da população europeia morreu sob o impacto da doença. Outros fatores também contribuíram para esse período de depressão, provocando uma grave crise no Sistema Feudal. No entanto, essa Crise foi responsável pelas transformações empreendidas entre os séculos XV e XVIII, período esse denominado de transição do Feudalismo para o Capitalismo. No que se refere a essas transformações, assinale a alternativa correta. a) O Renascimento cultural e científico contribuiu para alterar as concepções de mundo, valorizando a razão humana estabelecida no Humanismo e no Antropocentrismo. b) A formação do Estado Moderno implicou o declínio do poder papal e dos senhores feudais assim como o de toda a nobreza. c) A Reforma Protestante também manifestou uma nova mentalidade associada ao declínio do feudalismo com a formação de novos valores, fortalecendo o sent imento nacionalista representado no Teocentrismo. d) Como alternativa econômica, a burguesia eur opeia, após a queda do absolutismo no século XV, estabeleceu uma economia mercantil, voltada para um conjunto de práticas econômicas socializantes. e) A crise do Sistema Feudal foi resultante das fugas servis para as Cruzadas no início do século V, ocasionando o desaparecimento das relações comerciais entre o Ocidente e o Oriente. 2. (COVEST) O Renascimento trouxe mudanças nas concepções de mundo dos tempos modernos, embora mantivesse um diálogo histórico com a cultura clássica e seus valores. A sua forma de ver o mundo está presente em obras literárias, como as de Rabelais, Cervantes, Camões e tantos outros. Com efeito, a literatura renascentista: a) consagrou princípios éticos do cristianismo medieval, criticando valores da sociedade burguesa que se formava. b) foi importante para a formação das línguas nacionais na Europa, afirmando uma renovação na forma de se escrever e contar as histórias. c) baseou-se na literatura romana, ao afirmar a importância dos mitos para o imaginário social de cada época. d) consolidou a admiração da sociedade moderna pela tragédia, desprezando outras formas literárias importantes. e) manteve a estrutura narrativa dos tempos medievais, apesar de seu acentuado antropocentrismo. 3. (COVEST) As idéias trazidas pelo Renascimento conseguiram expandir-se, pela Europa, mudando hábitos, criticando tradições, renovando concepções de mundo. Em Portugal, a obra do poeta Luís de Camões: a) construiu uma epopéia do povo português, exaltando seus feitos e aventuras. b) ressaltou as conquistas políticas portuguesas, com o fim do absolutismo. c) teve importância fundamental para a época, embora não tenha se destacado no mundo lusófono. d) imitou a estrutura da Divina Comédia de Dante e foi, por isso, pouco original. e) afirmou a literatura portuguesa como a mais importante do Renascimento. 4. (COVEST) O Renascimento confrontou-se com muitas verdades consolidadas no mundo medieval. Uma de suas fontes básicas de reflexão foi: a) a cultura bizantina, pela consistência de seus fundamentos éticos e políticos. b) o pensamento greco-romano, com suas elaborações sobre a cultura humana. c) a reflexão de autores muçulmanos, ligados ao secularismo e ao ateísmo. d) a religião persa, com sua escatologia definindo o juízo final e as virtudes humanas. e) o enunciado ético dos gregos pré-socráticos, voltado para o culto a Dioniso e ao prazer.

240 5. (UPE)O movimento Renascentista europeu permitiu a descoberta do homem como o centro do saber, despertando interesse pelo prazer, pela alegria e pelo amor. Época dos avanços culturais, científicos e de magníficas obras de arte, constr uções de pureza, sensualidade, caridade e ódio. Sobre a Renascença, é correto afirmar que: a) o Renascimento alterou a estrutura cultural da época, valorizando a razão humana estabelecida no Teocentrismo. b) a imagem do Homem Vitruviano é uma representação elaborada no final do século XV por Leonardo da Vinci e exprime o antropocentrismo e a harmonia das formas que caracterizaram as obras artísticas do período renascentista. c) os homens da época tenderam a valorizar a produção artística e intelectual das civilizações do Oriente Médio, especialmente a egípcia e a mesopotâmica, pela conexão que estas guardavam com a história hebraica. d) o Renascimento reflete as profun das transformações socioculturais, políticas e econômicas, processadas nos países europeus, a partir do século XVII. e) a dinâmica do comércio nas cidades italianas, a herança de uma cultura material clássica e a presença de mecenas interessados em investir nas produções artísticas favoreceram a arte renascentista, que se caracterizou pela visão simplista, revelada nas obras de Michelangelo. 6. (COVEST) A contribuição do Renascimento para a renovação da cultura foi marcante na formação do mundo ocidental. Redefiniu valores e crenças sociais. Seus artistas e pensadores receberam grande influência da cultura clássica. O Renascimento, de fato, foi: a) crítico com relação ao Cristianismo, rejeitando suas crenças e mandamentos. b) desconstrutor de princípios da mitologia grega nas suas obras artísticas mais conhecidas. c) politicamente adepto dos ensinamentos dos sofistas, pelo combate ao autoritarismo. d) atuante na reformulação de verdades consagradas, refazendo tradições seculares. e) pouco original nas suas obras estéticas, continuando os costumes romanos medievais. 7. (PUC-RJ) Meu falecido pai, de memória abençoada, fez todo esforço para que eu pudesse alcançar excelência mental e técnica. O fruto dos meus estudos e trabalhos alcançou o seu desejo mais querido. Mas você pode perceber que, para a educação, as condições não eram favoráveis como são hoje. Nem eu tive professores tão capazes como você. Nós ainda estávamos na idade das trevas. (...) Agora, pela graça de Deus, a luz e a dignidade foram restituídas às letras e eu vivi para vê-lo. Hoje as antigas ciências estão restauradas (...). As línguas restituídas: o grego (...); o hebraico e o latim (...). Hoje o mundo está repleto de homens sábios (...). Mas lembre-se disso, a sabedoria de nada lhe servirá se você não amar e temer a deus (...). Seu pai, Gargantua. François Rabelais, Carta de Gargantua a Pantagruel, 1532 São características do humanismo renascentista indicadas nesse texto, exceto: a) a crítica à Idade Média, percebida como período de trevas. b) a valorização de uma educação laica e a abertura das bibliotecas monásticas. c) o desejo de renovar a fé cristã mediante a tradução e circulação dos textos sagrados. d) a retomada do patrimônio cultural e literário da Antiguidade Clássica. e) o otimismo em relação aos avanços humanos no campo da educação. 8. (UPE) Há tempos históricos marcados por renovações culturais significativas. O Renascimento é um momento destacado da cultura ocidental. A contribuição do polonês Nicolau Copérnico para o conhecimento da época: a) baseou-se nas descobertas de Aristarco e Ptolomeu, não contrariando os dogmas do catolicismo. b) negou o geocentrismo, seguindo ensinamentos já colocados por Nicolau de Cusa, no século XV. c) foi escrever compêndios de filosofia que negavam o cristianismo e a existência do geocentrismo. d) foi conseguir, com o heliocentrismo, mudar as concepções da Igreja Católica da época. e) foi originar as suas descobertas, mas terminou sendo condenado pelo Tribunal da Santa Inquisição.

241 9. (UFPI) O Renascimento implicaria numa redescoberta do homem, fazendo com que o teocentrismo da Idade Média cedesse lugar ao antropocentrismo (...). O Renascimento não é senão a passagem, lenta e gradual, da Idade Média para a época moderna. (AZEVEDO, Antonio Carlos do Amaral. Dicionário de nomes, termos e conceitos históricos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990.) Sobre o Renascimento cultural na Europa, podemos afirmar que: I. se caracterizou pelo impulso na elaboração de estudos do homem e da natureza. O homem teria capacidade de, utilizando-se da razão, encontrar explicações racionais para os fenômenos naturais. II. tinha na Antiguidade Oriental, particularmente na Cultura Bizantina, seu mais sofisticado modelo, sendo a praça de São Marcos, em Veneza, um marco da arquitetura renascentista de inspiração oriental. III. a Itália foi um dos principais centros de produção cultural renascentista, tendo em Nicolau Maquiavel, Giordano Bruno e Michellangelo nomes de destaque do período. IV. foi um movimento artístico que atingiu particularmente a produção literária, enquanto as artes plásticas, mesmo na Itália, davam continuidade ao gosto artístico medieval. Para responder, use a chave abaixo. a) Somente as afirmativas I e IV são corretas. b) Somente a afirmativa III é correta. c) Somente as afirmativas I e III são corretas. d) Somente a afirmativa II é errada. e) Somente a afirmativa IV é errada. 10. (UPE) O Renascimento conseguiu renovar as concepções estéticas nos vários campos da produção cultural. Na pintura a) o uso da perspectiva trouxe novas possibilidades para o artista construir suas representações sobre mundo. b) deu continuidade aos princípios das artes oriental e clássica, em que houve destaque para as manifestações nas artes plásticas. c) teve nas obras de Brunelleschi e Leonardo da Vinci sua grande expressão pelo uso de cores claras e temas religiosos. d) consagrou a mitologia grega com seus quadros sombrios, reveladores dos limites da vida humana e das angústias existenciais. e) houve grande autonomia estética e profissional dos artistas com a formação de um mercado para venda das suas obras na Europa. 11. (UFSM) Nos séculos XV e XVI, ocorreu, na Itália, um extraordinário desenvolvimento cultural, conhecido como. Renascimento. Sobre esse movimento, é correto afirmar: a) Foi fruto de uma inquietação intelectual surgida devido às novas condições socioeconômicas da Europa, no período de transição do feudalismo para o capitalismo. b) O traço característico do renascimento foi a preocupação com a figura humana; no entanto, a influência da igreja impediu a valorização do nu humano. c) Não interferiu nas estruturas curriculares das universidades que continuaram voltadas para as disciplinas teológicas. d) A ênfase na cultura e nas artes levou à depreciação de ciências, como anatomia, física, astronomia. e) A atuação dos mecenas (burgueses ricos que protegiam e financiavam artistas) impediu o desenvolvimento de novas técnicas, cores, perspectivas e noções de equilíbrio. 12. (UPE) O Renascimento não pode ser considerado uma revolução no campo cultural da Europa. Transformações importantes surgiram, mas a) houve muita influência da cultura bizantina na pintura e na escultura, em toda a Europa. b) foi marcante a permanência dos padrões estéticos do catolicismo na arte. c) se destaca a grande influência da cultura clássica nos intelectuais da época. d) se manteve um pensamento religioso centralizador, sem renovação nos seus princípios. e) se consolidou o pensamento de santo Agostinho com sua crença na fé e nos dogmas medievais.

242 13. (CESGRANRIO) A figura acima é o conhecido trabalho de Leonardo da Vinci chamado O Homem de Vitrúvio, produzido entre 1485 e 1490, exposto na Galleria dell Accademia, em Veneza. Da Vinci é apontado como um dos principais nomes do Renascimento europeu vigente no século XV, pois introduziu novas perspectivas em estudos acadêmicos, nas artes e demais aspectos da vida social. Que características da arte renascentista estão presentes na obra acima? a) Humanismo e proporção. b) Classicismo e despotismo. c) Academicismo e republicanismo. d) Teocentrismo e metafísica. e) Misticismo e neoplatonismo 14. (UPE) O Renascimento renovou o mundo cultural e trouxe ideias políticas diferentes do mundo medieval. No campo da literatura, o Decamerão tornou-se um marco, sendo lido até hoje. No seu livro famoso, o italiano Boccaccio: a) fez acusações ao catolicismo, sendo, inclusive, censurado pelo papa. b) contribuiu para o surgimento de mudanças na forma de escrever, criticando os costumes da época. c) afirmou a necessidade de derrubar a monarquia absolutista existente na Itália. d) conseguiu transformar a literatura italiana que era marcada pela nostalgia. e) seguiu as ideias de Erasmo, defendendo o fim do feudalismo e da escravidão. 15. (COVEST) O Renascimento não rompeu radicalmente com o passado. Dialogou com a cultura clássica e renovou hábitos sociais do mundo moderno. Um dos destaques do Renascimento foi Erasmo, que escreveu O Elogio à Loucura: a) que apresentava um teor crítico admirável para o mundo em que vivia. b) exaltando o amor romântico e o feudalismo dos nobres. c) em defesa da democracia grega e de suas tradições políticas. d) ressaltando a força da Igreja Católica e dos seus padres. e) fundamentando a ética burguesa e o seu individualismo. 16. (VUNESP) Observe as imagens. (Michelangelo. Pietà. Basílica de São Pedro, 1499.) (Catedral de Chartres. França, início em 1145.) Comparando-se o conjunto escultórico medieval de Chartres com David, de Michelangelo, caracteristicamente renascentista, ficam nítidas algumas diferenças de estilo e de concepções de mundo entre a Idade Média e o Renascimento. Indique a alternativa que assinala essas diferenças. a) A escultura medieval exprime a oposição do cristianismo ao culto de imagens, a renascentista representa a dúvida do homem na possibilidade de sua salvação. b) A escultura renascentista confere ao personagem do Antigo Testamento uma natureza frágil e espiritual, a medieval apresenta as figuras sagradas como fisicamente poderosas. c) A escultura medieval visa glorificar o poder dos reis europeus, a renascentista enaltece a vida simples e honesta do camponês italiano.

243 d) A escultura medieval é fina e alongada, a renascentista desligou-se do espaço arquitetônico. e) A escultura renascentista é desprovida de sentido religioso, a medieval expressa uma crítica aos desregramentos da Igreja Católica. 17. (COVEST) Os caminhos da renovação científica favoreceram o surgimento de teorias que abriram novos caminhos para lançar os alicerces da ciência moderna. O inglês Francis Bacon foi um dos renovadores que escreveram obras importantes. Sobre ele, podemos afirmar que: a) escreveu uma obra intitulada Ensaios, onde faz uma importante análise do ser humano. b) compartilhou do método cartesiano e foi defensor do racionalismo positivista. c) não teve pretensões políticas; daí, sua grande dedicação à ciência. d) formulou, juntamente com Campanella, a idealização da chamada Cidade do Sol. e) foi, com Newton, o inventor do método indutivo, o qual revolucionou a Química e a Física. 18. (UFTM) A reflexão histórica e social e a ciência política (...) nasceram juntas no Renascimento, num encontro que não foi meramente casual. Desse mesmo cruzamento de interesses nasceria uma outra corrente de pensamento tão original quanto ousada: os utopistas. As obras mais notáveis nesse gênero são a Utopia(1516), de Thomas Morus, a Cidade do Sol (1623), de Campanella e a Nova Atlântida, de Francis Bacon.(Nicolau Sevcenko) Tematicamente, essas três obras se aproximam, pois: a) tratam de comunidades ideais e imaginárias, nas quais os homens vivem com fartura e em paz e com o poder centralizado e pautado pela racionalidade. b) reforçam a preponderância das práticas e concepções religiosas e defendem que a organização do espaço político deve ser dirigida pela Igreja católica. c) defendem que o futuro da organização das sociedades humanas seria marcado pelo caos, em cidades dominadas pela violência e intolerância entre os homens. d) usam como referência a concepção do apocalipse, pela qual a humanidade teria o pior dos destinos, longe da atenção e da proteção divinas. e) associam a felicidade dos homens à organização de espaços comunitários, localizados longe das cidades e dirigidos pelo saber religioso. 19. (UPE)O Renascentismo foi um movimento de renovação cultural, que ocorreu na Europa, acompanhando as transformações que vinham ocorrendo desde o feudalismo da Idade Média. Sobre o Renascimento, considere as seguintes proposições: I. Em oposição à fé religiosa, os renascentistas procuravam explicar o mundo com base no materialismo. II. Ideias defendidas pelos renascentistas contribuíram para reforçar uma nova ética no uso do poder. III. O Renascentismo, movimento cultural urbano, caracterizou-se, também, pela qualidade da obra intelectual. IV. A mentalidade renascentista, que concebia a inclusão das pessoas no mundo cristão de maneira coletiva, contribuiu para desenvolver o Humanismo. Estão corretas: a) somente I e II. b) somente I e III. c) somente IV. d) somente II e III. e) I, II, III e IV. 20. (COVEST) O Renascimento transformou hábitos sociais e teve importância nas mudanças culturais que contribuíram para a formação do mundo moderno. Analisando suas contribuições no campo da pintura, podemos afirmar que seus artistas: a) se dedicaram a imitar a estética medieval, com pequenas modificações no uso das cores. b) foram influenciados pelos mitos gregos e romanos, fugindo dos modelos medievais. c) tiveram grande autonomia nas escolhas dos temas, preferindo destacar a religiosidade dos cristãos. d) criticaram a forma de expressão dos povos da Antiguidade, sobretudo das obras envolvidas com os mitos pagãos. e) apresentaram obras originais, livres de modelos do passado, e desvinculadas de temas religiosos.

244 OLHARES HISTÓRICOS Livros A cultura do Renascimento na Itália. BURCKHADT, Jacob. São Paulo: Companhia das Letras, O Renascimento italiano. BURKE, Peter. Rio de Janeiro: Nova Alexandria, O Renascimento. JOHNSON, Paul. Rio de Janeiro: Objetiva, (História essencial). O Renascimento. PERIS, Carme e VERGES, Glória e Oriol. São Paulo, Scipione, 1996, (Coleção Viajando Através da História). O Renascimento. SEVCENKO, Nicolau. 16. ed. rev. Atual. São Paulo, Atual, (Discutindo a História). Descobrimento e Renascimento. THEODORO, Janice. São Paulo, Contexto, (Repensando a História) Cinema Romeu e Julieta Direção de Baz Luhrmann. EUA, minutos. Nesta versão para os dias de hoje da peça de Shakespeare o cenário é Verona Beach. Os Capuleto e os Montéquio, duas famílias que sempre se odiaram, têm rixas sem cessar, mas isto não impede que Romeu (Leonardo DiCaprio), um Montéquio, se apaixone pela bela Julieta (Claire Danes), uma Capuleto. Entretanto, uma apresentadora de televisão anuncia que este amor profundo acabará gerando trágicas conseqüenciais, em virtude desta insana rivalidade familiar. Sites Museu da Alemanha Um dos mais importantes Museus da Alemanha. O museu exibe obras artísticas do século XVIII ao XIX, focando principalmente a Baixa Renascença Italiana. Disponível em: Renascimento Site desenvolvido pelos alunos da Universidade de Passo Fundo (UPF) sobre o período renascentista. Disponível em: Fundação Museu da Tecnologia de São Paulo Na linha do tempo, os marcos dos grandes inventores desse período histórico, tais como Gutermberg, Leonardo Da Vinci e Galileu Galilei e a história de suas descobertas. Disponível em:

245 As Reformas Religiosas no Século XVI No período medieval, a Igreja Católica era a instituição mais poderosa. Mesmo assim, a partir da Baixa Idade Média, ela enfrentou sucessivas crises e modificações, as quais contribuíram para o surgimento de diversos movimentos que combatiam às práticas e aos valores defendidos pelos cleros da época. As pessoas que criticavam os dogmas da Igreja eram chamados de hereges. Os grupos heréticos foram fortemente perseguidos. Eles denunciaram os abusos e corrupção do clero. Além disso, defendiam um cristianismo baseado numa vida sóbria e sem distinções sociais. As ordens dos mendicantes, como ficaram conhecidos esses movimentos, não admitiam o comportamento do clero e nem os seus amplos privilégios. Por isso, essas seitas propunham o retorno à prática de um cristianismo semelhante aos primeiros seguidores de Jesus, ou seja, praticar uma religião fundamentada na humildade, solidariedade e cooperação. Com o intuito de conter esses movimentos, a Igreja criou, no século XIII, o Tribunal da Inquisição ou do Santo Ofício. O objetivo essencial desse órgão era esmagar as seitas, enquadrando eles como criminosos da fé. A partir de então, diversas heresias foram reprimidas, sendo muito de seus defensores condenados e executados na forca ou na fogueira. Por 300 anos, a Igreja perseguiu e condenou à morte e à tortura milhares de pessoas na Europa. Várias mulheres foram queimadas vivas ou enforcadas em locais públicos, isso porque eram vistas como feiticeiras ou bruxas pela pelos religiosos católicos. A Inquisição como sacrifício de carne humana é tão inquietante que tem relegado a segundo plano um aspecto fundamental: por que o processo de um réu era conduzido até a fogueira? Afinal, a Inquisição não era uma empresa de espetáculos de horror. Era um tribunal: Tribunal do Santo Ofício da Inquisição. De que mecanismo se valia para averiguar a culpa dos réus? Mesmo julgando crimes discutíveis, não poderia ter sido uma instituição justa? SEVECENKO, Nicolau. O Renascimento. 8 ed. São Paulo: Atual; Campinas: Editora da Universidade Estadual de Campinas, No entanto, o estabelecimento dessa instituição não paralisou o crescimento de contestações contra a Igreja Católica. As críticas desencadeadas na Baixa Idade Média contribuíram para que, séculos depois, surgissem novas idéias em oposição ao frágil e saturado modelo Católico medieval, uma vez que o clero não tinha mais capacidade de atender os anseios religiosos de alguns segmentos da sociedade. No início da Idade Moderna, a Igreja Católica encontrava-se em franca decadência. O catolicismo se tornara uma religião de luxo e grandiosidade. Assim, a Igreja tinha se afastado dos verdadeiros princípios cristãos, como a simplicidade, a humildade e a solidariedade. Outro aspecto importante foi que a Igreja passou a se preocupar mais com questões políticas e econômicas do que com as questões espirituais. Tudo isso contribuiu para o surgimento e propagação de críticas à Igreja Católica. O sentido das Reformas Protestantes As reformas religiosas do século XVI compõem uma série de acontecimentos que marcam as mudanças de concepções medievais para uma sociedade fundamentada num modelo e mentalidade burguesa. A extensão da Reforma Protestante ultrapassou as contestações, aos dogmas e costumes do clero católico, as quais enfraqueceram a estrutura administrativa do clero católico. Em parceria com setores sociais, desejosos pela perda de poder papal, as reformas religiosas geraram transformações nas esferas políticas, econômicas e sociais na Europa. A palavra protestantismo não faz menção a uma instituição religiosa ou uma nomenclatura específica e sim ao movimento que teve início na Alemanha, no século XVI, encabeçado pelo Martinho Lutero.

246 Sob o aspecto teórico é fundamental relacionar as reformas protestantes com o Renascimento Cultural. Sendo caracterizado pela valorização do homem e suas habilidades, pela exaltação do espírito crítico, o pensamento renascentista influenciou de maneira decisiva na cisão da cristandade no século XVI. As concepções antropocêntricas renascentistas foram importantes, pois ao aproximar razão e fé, contribuiu para que os reformadores pudessem fazer uma releitura dos conceitos religiosos da época. A partir disso, surgiu a idéia de que o homem poderia fazer uma interlocução com Deus, sem a intermediação da Igreja, e que a leitura e interpretação das sagradas escrituras deveria ser individual e livre. (...) os teólogos, portanto, tinham a preocupação voltada para as almas e para Deus, ou seja, para o mundo transcendente, o mundo dos fenômenos espirituais. Os humanistas, por sua vez, voltavam-se para o aqui e o agora, para o mundo concreto dos seres humanos em luta entre si e com a própria natureza, a fim de terem um controle maior sobre o próprio destino. Por outro lado, a pregação do clero tradicional reforçava a submissão total do homem, em primeiro lugar, à onipotência divina, em segundo, à orientação do clero, e, em terceiro, à tutela da nobreza, exaltando no ser humano, sobretudo, os valores da piedade, da mansidão e da disciplina. A postura dos humanistas era completamente diferente, valorizava o que de divino havia em cada homem, induzindo-o a expandir suas forças, a criar e a produzir, agindo sobre o mundo para transformá-lo de acordo com sua vontade e seu interesse. SEVECENKO, Nicolau. O Renascimento. 8 ed. São Paulo: Atual; Campinas: Editora da Universidade Estadual de Campinas, p. 15. O homem renascentista lançou os pilares para o pensamento livre, contribuindo para a construção de diversos questionamentos às verdades religiosas até, então, tidas como únicas e verdadeiras. A concepção heliocêntrica de Nicolau Copérnico, o método científico de Francis Bacon, a física de Isaac Newton, as pesquisas de Leonardo da Vinci e as idéias de outros intelectuais possibilitaram a elaboração de um novo caminho. Isso levou ao desprezo de muitas crenças medievais, pois a mentalidade dos renascentistas eram fundamentadas na razão e na liberdade de pensamento. Sob a ordem política, os reformadores receberam auxílio de diversos monarcas. O processo de consolidação dos Estados Nacionais propiciou a criação de um sentimento nacionalista entre os habitantes de um mesmo território, os quais possuíam uma só moeda e se identificavam com os símbolos de seu país (hino, bandeira). O fortalecimento do poder do rei gerou divergências com a Igreja Católica. Com a criação das monarquias nacionais, o rei se tornara a principal autoridade. Dessa forma, o poder papal ficara reduzido. Além disso, os conflitos também se alastraram na arrecadação de tributos, na nomeação de religiosos e até mesmo na administração da justiça. Sob o aspecto econômico, a reforma protestante pode ser melhor entendida se levarmos em consideração a ascensão da burguesia. Essa classe teve papel importante no processo da Reforma. Segundo a doutrina católica, a acumulação de riquezas, o comércio, os empréstimos com juros (usura) e a intensa busca pelo lucro eram classificados como ações pecaminosas, por isso, a Igreja condenava. (A Igreja)... condenava ou desprezava muitos ofícios, proibidos em primeiro lugar aos clérigos, mas em muitos casos também aos leigos. No mínimo era ofícios denunciados como um caminho fácil para levar ao pecado. Então frequentemente no índex: taverneiros, açougueiros, jornais, histriões, mágicos, alquimistas, médicos, cirurgiões, soldados, rufiões, prostitutas, tabeliães, mercadores principalmente; mas também pisoeiros, tecelões, correeiros, tintureiros, confeiteiros, sapateiros, jardineiros, pintores, pescadores, barbeiros, magistrados municipais, guardas campestres, funcionários de alfândega, cambistas, alfaiates, perfumistas, tripeiros, moleiros, etc. É possível entrever alguns dos motivos para essa marginalização. (...) O usurário, pior espécie de comerciante, é vítima de várias condenações convergentes: a exploração particularmente escandalosa o dinheiro, a avareza, a preguiça. (...) O usurário, pior espécie de comerciante, é vítima de várias condenações convergentes: a exploração particularmente escandalosa o dinheiro, a avareza, a preguiça. (...) Ao usurário diziam a Igreja e os poderes leigos: Escolha: a bolsa ou a vida. Mas o usurário pensava, o que quero é a bolsa e a vida. LE GOFF, Jacques. A bolsa e a vida: economia e religião na Idade Média; tradução de Marcos de Castro. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira: p. 59; 83.

247 Em pleno século XVI, a Igreja ainda mantinha preceitos do sistema feudal. Porém, a sociedade capitalista que surgia, exigia novas definições em relação às atividades mercantis. Assim, os burgueses viam a Igreja Católica como um grande empecilho ao desenvolvimento dos seus negócios. Nessa perspectiva, a Reforma deve ser entendida como um movimento que quebra com a unidade religiosa na Europa Ocidental. Vale salientar que os movimentos reformistas devem compreendidos sob diversos aspectos: culturais, religiosos, econômicos, sociais e políticos. Teremos, dessa forma, uma melhor leitura das reformas religiosas do século XVI. Os precursores da Reforma As mudanças políticas, econômicas e culturais ocorridas na Europa no século XV impulsionaram novas críticas ao comportamento da Igreja Católica. No decorrer dos séculos XV e XVI, alguns acontecimentos contribuíram bastante para o aumento da impopularidade da Igreja, entre eles, a venda de indulgências (perdão dos pecados), de relíquias religiosas e até mesmo dos cargos clericais. Reforçando essas ilicitudes, o papa cometia grandes abusos de poder. Toda essa situação gerou uma imensa revolta nas esferas econômicas, políticas e sociais. Por exemplo, a burguesia estava altamente insatisfeita com a Igreja, pois a mesma condenava a usura e o desejo de enriquecer. Por outro lado, os monarcas buscavam uma oportunidade para limitar os poderes temporais do clero em seus territórios. Enquanto isso, os fiéis de origem simples passaram a enxergar a Igreja como uma instituição estruturada em interesses materiais e não espirituais. Todos esses fatores geraram situações que contribuíram para a formação de novas entidades religiosas, as quais tinham como pretensão se adaptar as mudanças vivenciadas na Europa. Nessa perspectiva, nos séculos XIV e XV apareceram os primeiros intelectuais considerados como os precursores da Reforma Protestante. As agitações na Boêmia: religião versus nacionalidade Na região da Boêmia (que atualmente faz parte da República Tcheca), o movimento de contestação contra a Igreja Católica já se fazia notar no século XIV. Mas foi no início do século XV que Jan Huss e seus seguidores tornaram esse movimento mais consistente, desafiando o papa e o alto clero local, de origem alemã. Antes do aparecimento de Huss, já havia na Boêmia um movimento de reformas que denunciava as debilidades da Igreja e a corrupção clerical. Em país nenhum da Europa teve a Igreja maior número de propriedades ou foi o clero mais mundano do que na Boêmia, onde os escritos de John Wycliffe eram muito apreciados, principalmente no meio universitário, onde havia uma certa animosidade entre tchecos e alemães. A Universidade de Praga (capital da Boêmia era intensamente nacionalista. Os Tchecos, de origem eslava, nutriam uma intensa rivalidade contra os alemães; dessa forma, a Igreja romana, representada pelos bispos alemães, parecia-lhes duplamente estrangeira (romana e alemã). Jan Huss, que foi ordenado sacerdote em 1401, foi excomungado em 1410; após queimar em praça pública a bula papal que decretava sua excomunhão, continuou sua pregação, em meio a violentas manifestações dos hussitas. Por essa época apareceram na região clérigos vendendo indulgências, cujo produto se destinava a manter o exército papal, então em guerra com o reino de Nápoles. Huss protestou, afirmando que o papa não só tinha o direito de guerra como o pagamento em dinheiro das indulgências não dava o perdão a ninguém, já que a salvação da alma se restringia aos predestinados. Novas agitações se sucederam, e Huss foi novamente excomungado. Três jovens hussitas, por terem dito que as indulgências eram uma falsidade, foram queimados. Em 1414 Jan Huss foi intimado a comparecer ao Concílio de Constança, com a promessa de que poderia defender suas doutrinas e voltar livremente. Todavia, prelados presentes em Constança eram inimigos de Huss. Assim, enquanto ele pensava em expor seus argumentos para convencer os conciliadores, estes só estavam dispostos a condená-lo. A sentença já estava decidida. Em 1415, Jan Huss foi condenado à morte na fogueira. Um ano depois, seu principal discípulo, Jerônimo de Praga, também foi queimado vivo. RIBEIRO JR., J. Pequena história das heresias. Campinas: Papirus, 1989, p

248 O inglês e professor da Universidade de Oxford, John Wycliffe ( ), denunciou a corrupção da Igreja e defendia a livre interpretação da Bíblia. Ele também desafiou a Igreja Católica no momento que defendia a abolição dos impostos clericais e da hierarquia eclesiástica. Wycllife afirmava que qualquer pessoa alcançaria a salvação eterna pela fé, portanto, não era necessário fazer boas obras ou comprar indulgências, como defendia a Igreja Católica. Jan Huss nasceu na Boêmia (atual República Tcheca), sendo condenado e executado na fogueira, em 1415, por defender as idéias de Wyclliffe. Esse pioneiro da reforma estudou bastante os textos bíblicos, por isso, foi favorável à extrema obediência à Bíblia e também fez denúncias à corrupção e ao luxo vividos por alguns membros do clero católico. Outro dado importante foi que Huss fez a tradução das sagradas escrituras para língua local. A morte de Huss deu origem ao movimento dos hussitas. Eles combatiam a autoridade eclesiástica e imperial. Os hussitas se tornaram ícones entre os empobrecidos rebeldes camponeses e símbolo do nacionalismo boêmio. Após várias vitórias, em 1434, os levantes hussitas foram reprimidos. A reforma luterana: salvação pela fé No século XVI, o Sacro Império Romano-Germânico abrangia a região da atual Alemanha. Na época ele era composto por diversos principados independentes e governados por nobres. Nesses locais, havia uma forte disputa pelo poder, entre a Igreja Católica e o Imperador. O domínio do Império estava sobre o controle da dinastia Habsburgos, governada, na época, por Carlos V. Proprietária de muitas terras, a Igreja germânica praticava alguns atos vinculados ao mundo medieval, tais como a exploração de camponeses e condenação ao lucro entre os burgueses. As maiores propriedades da Igreja se localizavam próximas ao rio Reno, denominado caminho do clero. Essas áreas proporcionavam grandes lucros à Igreja. Assim, a Igreja continuava sendo a grande senhora feudal, se apossando de parte da colheita produzida pelos camponeses. Podemos identificar o clero alemão, como uma nobreza opressora e espoliadora. Os diversos segmentos sociais que habitavam nos principados tinham objetivos e interesses divergentes. Os burgueses desejam um clero menos intolerante e ao mesmo tempo pretendia diminuir o envio de capital para a Igreja; já os nobres tinham interesses em se apropriar das terras clericais, enquanto os camponeses consideravam a Igreja como umas das instituições mais opressora do Império, por causa da cobrança do dízimo. Os camponeses queriam terras para plantar. Por isso, eles estavam determinados a lutar contra a opressão dos nobres e também da Igreja Católica. Por tudo isso, a imagem da Igreja fica altamente desgastada na Alemanha. Martinho Lutero, retrato feito por Lucas Cranach, em É nesse cenário que Martinho Lutero, monge agostiniano e doutor de teologia pela Universidade de Wittenberg, defendeu ideias contrárias às práticas ilícitas da Igreja Católica. De origem pequeno-burguesa, defendia a liberdade de culto e o livre exame da Bíblia. Indo de encontro aos preceitos pregados pela Igreja Católica, Lutero afirmava que a salvação da

249 alma era alcançada por intermédio da fé. Segundo ele, as obras não garantem a salvação humana. Martinho Lutero, além disso, reprovou violentamente os fortes abusos praticados pela Igreja, principalmente, o comércio de indulgências. Lutero, que nasceu em 10 de novembro de 1483, filho de pequenos burgueses, humanista, licenciado em artes, tornou-se monge agostinho em 1505 e professor de teologia em Wittenberg em Alma escrupulosa e apaixonada, vivia torturando em busca de uma perfeição inacessível, sentindo em si movimentos de inveja e cólera. Julgava-se danado e caía no desespero. No inverno de encontrou na Epístola aos Romanos a fórmula da salvação: o justo viverá pela fé. Em comentava essa Epístola para seus alunos e expunha já as suas idéias fundamentais. MOUSNIER, R. Os séculos XVI e XVII. In: CROUZET, M. (org.). História geral das civilizações. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, v. IX, p A fim de concluir a construção da basílica de São Pedro (Roma), o papa Leão X ordenou, em 1517, através da promulgação de uma bula, a venda de indulgências (perdão dos pecados) para todos os cristãos. O domincano Teztel foi o encarregado de comercializá-las no território alemão. Na carta pontifícia, também, se estabeleciam acordos com os franceses, ingleses e banqueiros alemães. Lutero discordou claramente contra essas e outras posturas adotados pela Igreja Católica. Era o início de uma tensa disputa ideológica. Em outubro de 1517, Lutero afixou nas portas da catedral de Wittenberg 95 proposições ou teses que repudiavam não só a prática das indulgências, mas também outros pontos cruciais da doutrina católica. As teses condenavam a venda do perdão, afirmando que o papa não poderia salvar ninguém mediante ao pagamento ou doação de bens materiais, enfatizando que todos aqueles que acreditassem na salvação pelas indulgências seriam eternamente condenados. O documento de Lutero também exortava o papa a terminar a construção da basílica de São Pedro com recursos próprios. Leia algumas teses Tese 24. (...) a maior parte do povo está sendo enganada pela promessa de que seus pecados serão perdoados; Tese 32. Serão condenados (...), juntamente com seus mestres, aqueles que se julgam seguros de sua salvação através de carta de indulgências; Tese 75. A opinião de que as indulgências papais são tão eficazes a ponto de poderem absolver um homem (...) é loucura; Tese 86. Por que, cuja fortuna hoje é maior do que a dos ricos Crassos (romanos ricos), não constrói com seu próprio dinheiro ao menos a basílica de São Pedro, em vez de fazê-lo com o dinheiro dos pobres fiéis? SEFFNER, Fernando. Da Reforma à Contra-Reforma: o cristianismo em crise. P Em 1520, Lutero publicou um texto de contestação à doutrina católica. Esse manifesto ficou conhecido como Carta aberta à nobreza cristã da nação alemã sobre a Reforma do Estado cristão. Esse documento trazia definições sobre o programa da reforma religiosa. Após esses acontecimentos o papa Leão X, exigiu que Lutero se retratasse. No entanto, ele não aceitou, por isso, em 1520, foi excomungado. Como meio de demonstrar sua irritação, Lutero queimou publicamente a decreto papal que excomungava-o. O Imperador do Sacro-Império, Carlos V, realizou uma reunião, a chamada Dieta de Worms, em 1521, os príncipes dessa assembléia imperial foram favoráveis a Lutero, uma vez que boa parte dos nobres eram hostis a Igreja. Mesmo sendo apoiado pelos príncipes, Carlos V expulsa Lutero das regiões imperiais. Nesse instante, ele foi acolhido no castelo do príncipe da Saxônia, Frederico III. Outros príncipes também ajudaram financeiramente na difusão do pensamento luterano por todo Império. Com o apoio da nobreza, Lutero continuou sua pregação em favor da Reforma. Ele traduziu a Bílbia do latim para o alemão.. Em 1530, junto com teólogo Filipe Melanchton lançou a Confissão de Augsburgo, a qual se tornou pilar para a doutrina luterana.

250 A Reforma Luterana segue os seguintes fundamentos: 1. a salvação se alcança exclusivamente pela fé; 2. livre interpretação da Bíblia; 3. crença na falibilidade papal; 4. liberação do casamento entre os membros da Igreja; 5. apenas dois sacramentos são utilizados na liturgia: batismo e eucaristia; 6. a única verdade inquestionável são os textos das Sagradas Escrituras; 7. fim do celibato clerical e do culto às imagens; 8. a Igreja é útil à salvação, e não necessária, como defendiam os teólogos católicos; 9. uso das línguas nacionais nas liturgias religiosas, e não do latim; 10.negação do ato da transubstanciação: transformação do pão e do vinho em corpo e sangue de Cristo; 11.favorável ao ato da consubstanciação: o pão e o vinho deveriam ser vistos, apenas, como um ato abençoado e divino; 12.criação de Igrejas nacionais e sem hierarquias eclesiásticas; 13.subordinação da Igreja ao Estado. Embora a origem da Reforma de Lutero se deva a uma experiência pessoal, ela refletiu, na verdade, o estado de espírito comum a muitos seguidores da Igreja Romana. De fato, a iniciativa da interpretação da Bíblia deve ser compreendida como mais uma das muitas manifestações típicas do individualismo do homem renascentista. PERIS, Carmen; VERGÈS, Oriol. El Renascimiento. Barcelona: Parramóm: Ediciones, s.d. p.32. A doutrina de Lutero se propagou rapidamente na Alemanha. Esse fato acirrou intensamente as disputas entre membros do clero, a nobreza e os príncipes. Com o propósito acabar com os conflitos religiosos, Carlos V, convoca, em 1530, a Dieta de Augsburgo. Nessa assembléia, o imperador pretendia elaborar um plano de conciliação entre reformistas e católicos, porém sua intenção fracassou. As lutas se prolongaram até 1555, o novo imperador, Fernando I, assinou a Paz de Augsburgo. Esse acordo reconhecia a fragmentação religiosa da Alemanha e, por isso, liberou para que a população de cada região seguisse a religião escolhida pelo seu príncipe.. A expansão do luteranismo e as questões sociais Os nobres da Alemanha aderiram às propostas do luteranismo com o propósito de se apropriar dos vastos domínios da Igreja Católica. Com essa finalidade, por exemplo, o grãomestre da Ordem Teutônica, ordem religiosa medieval, que adotou as idéias de Lutero e confiscou as propriedades da ordem. Além disso, boa parte da nobreza invadiu diversos principados eclesiásticos com o objetivo de se apossar das terras. Assim, as idéias de Lutero propagaram-se com muita intensidade pelo Sacro Império Romano-Germânico. No entanto, a difusão do luteranismo provocou a ocorrência de vários conflitos sociais, religiosos e políticos, como, a Revolta dos Cavaleiros ( ) e Rebeliões Camponesas ( ). Ambos os movimentos foram influenciados pela idéias anabatistas. Essa seita defendia o batismo apenas dos adultos, porque as crianças não tinham maturidade suficiente para fazer escolhas. Os anabatistas pregavam o retorno ao igualitarismo da época dos apóstolos e a divisão dos bens, principalmente das terras. Por esses motivos, suas propostas tiveram forte apelo social. A Revolta dos Cavaleiros foi um movimento que contou com a participação da pequena nobreza em decadência, os quais não detinham nem posses e nem privilégios sociais. Os cavaleiros defendiam a necessidade de haver uma melhor distribuição de renda e uma redução da influência política da alta nobreza. Impulsionados pelas idéias luteranas, que condenavam a riqueza da Igreja, os integrantes desse movimento invadiram as terras eclesiásticas e compartilharam-nas com o campesinato. Lutero repudiou todos os movimentos sociais radicais da época, defendendo que a rebeldia não era benéfica ao homem. Assim, apóia as ações empreendidas pelos nobres contra os cavaleiros. Segundo ele, os projetos de reformas deveriam ser coordenados pela alta nobreza, a qual deveria ficar com todas as terras advindas da Igreja. Assim, a Reforma

251 Luterana se afasta de qualquer movimento social radical, ou seja, não há caráter revolucionário em sua proposta. Nos anos de 1523 a 1525 eclodiram várias mobilizações camponesas na Alemanha. A princípio, esses movimentos surgiram como suporte aos cavaleiros, mas logo em seguida se transformou num grupo independente. Os movimentos camponeses foram liderados por Thomas Munzer, adepto do anabatismo e seguidor fervoroso do luteranismo. Ao observar que os princípios defendidos por Lutero traziam, basicamente, benefícios para a nobreza, Munzer se afastou das propostas de Lutero e criou sua própria doutrina, a qual era contrária à existência de propriedade privada. Seus seguidores, camponeses e aprendizes urbanos, rebelaram-se contra os bens da aristocracia e da Igreja. Em primeiro lugar, nosso modesto pedido e desejo, nossa opinião e vontade é que, no futuro, nos sejam dados poder e autoridade, para que cada comunidade possa eleger o seu pastor e, da mesma forma, possa demiti-lo, caso se porte indevidamente. (...) Em terceiro lugar, até agora éramos tratados como escravos, o que é uma vergonha, pois, com o seu precioso sangue, Jesus Cristo nos salvou a todos tanto ao mais humilde pastor ao mais nobre senhor sem distinção. (...) Manifesto dos Camponeses. Fevereiro/Março de In: Antologia Humanística Alemã. Porto Alegre: Globo, p Na região central da Alemanha, o movimento alcançou proporção revolucionária, pois os camponeses passaram a exigir o fim da servidão e posse comum da propriedade. Em relação a esse movimento popular, mais uma vez Lutero repudia-o publicamente, condenando Thomas Munzer e seus signatários. Sem apoio suficiente, os movimentos camponeses foram fortemente reprimidos por tropas militares custeadas pela alta nobreza. No geral, foram mais de 100 mil pessoas mortas, entre elas o principal líder das rebeliões, Thomas Munzer, decapitado em O calvinismo, a predestinação e o espírito capitalista A difusão e consolidação da doutrina luterana, na Alemanha, influenciou outros países europeus. Entre eles Suécia, Dinamarca e Noruega, onde seus monarcas aderiram aos preceitos protestantes, eliminando, assim, a influência do catolicismo. O eco da reforma luterana também atingiu a Suíça. Na época, o país estava fragmentado em cidades-repúblicas, tais como Basiléia, Genebra, Zurique e Berna, todas elas eram grandes centros de atividades comerciais. O controle político dessas cidades estava nas mãos de um grupo de burgueses em plena expansão. No entanto, as barreiras, estabelecidas pela Igreja, impediam o aumento de seus lucros. O clero era contrário à liberdade comercial e ao elevado lucro da burguesia. Nessa perspectiva, os comerciantes necessitavam de novos fundamentos econômicos, religiosos e morais que pudessem ser favoráveis ao lucro e à prática da mão de obra livre e assalariada. Nesse sentido, conclui-se que a reforma religiosa suíça veio suprir uma necessidade, evidentemente, burguesa. A Reforma Protestante foi iniciada no território suíço por Ulrich Zwinglio ( ), que passou a divulgar intensamente a doutrina de luterana. Ele foi ordenado a padre em 1517, mostrando-se bastante crítico em relação aos dogmas católicos. Zwinglio exercia ação humanitária em benefício aos pobres e enfermos nas ruas de Zurique, principalmente no decorrer da peste negra que atingiu a Suíça em Por esses gestos, ficou muito conhecido. Esses gestos de caridades o fez meditar mais sobre a necessidade se entregar mais ao universo religioso. Em suas palavras proferidas, defendiam a urgência de uma reforma na Igreja Católica. Zwinglio acreditava na predestinação, porém, rejeitava a confissão, afirmando que cabia, apenas, a Deus redimir os homens dos seus pecados. Por esforço de Zwinglio, a religião reformada alcança até o norte da Suíça. Em 1531, foi iniciada uma guerra civil que ocasionou a sua morte. Entretanto, suas propostas foram reconhecidas no acordo, denominado de Paz de Kappel (1531), que deliberava aos governantes a escolha da sua própria religião. As disputas religiosas se alastraram até Genebra. Essa cidade foi palco de atuação de um dos mais notáveis incentivadores da Reforma, o intelectual francês João Calvino ( ). Estudioso de Direito, teologia e das artes liberais, ele aderiu às idéias de Lutero, em 1530.

252 Devido às perseguições religiosas, Calvino transfere-se para Genebra em Nesta cidade publicou Instituições da religião cristã. Nesse documento definia os fundamentos teológicos do calvinismo, a saber, a confirmação dos princípios luteranos (salvação pela fé) e a crença total na Teoria da Predestinação. Segundo essa teoria, o homem já nasce predestinado à salvação ou a condenação. Esse princípio surgiu do dogma da onisciência de Deus, que sabe e vê todas as coisas. Dessa maneira, Deus sempre soube quem iria se salvar e quem estaria condenado. O culto calvinista era simples, sua liturgia limitava-se à leitura e comentários dos textos sagrados. Chamamos de predestinação ao eterno decreto de Deus com que sua majestade determinou que deseja fazer a cada um dos homens: porque ele não cria a todos em uma mesma condição de estado, mas ordena a uns a vida eterna e a outros a perpétua condenação. Portanto, segundo o fim a que o homem é criado, dizemos que está predestinado ou à vida ou à morte. (...) Trecho do livro Instituições da Religião Cristã. A doutrina calvinista defendia os seguintes princípios: 1. livre interpretação da Bíblia; 2. aceitação apenas de dois sacramentos: batismo e eucaristia; 3. salvação obtida por meio da graça de Deus (predestinação); 4. extinção da hierarquia eclesiástica; 5. utilização das línguas nacionais nos cultos religiosos. Como o apoio da burguesia suíça, Calvino estruturou seus princípios fundamentados na valorização do trabalho, na rigorosa disciplina e na utilidade de economizar. Segundo ele, o trabalho era o responsável pelo sucesso material, que representa um sinal divino. Para Calvino, o enriquecimento (indicação da salvação) simboliza uma graça de Deus enquanto que a pobreza uma condenação. O calvinismo defendia o lucro e o empréstimo de dinheiro com juros, assim, essa doutrina como era compatível com as atividades comerciais, foi bem aceita entre os burgueses das principais cidades-repúblicas da Suíça. Em 1541, Calvino assume poder político e religioso de Genebra. A administração de Calvino foi marcada pelo intenso despotismo, impondo severos costumes morais, tais como, obrigar as pessoas a participar do culto e da comunhão. A doutrina calvinista se expandiu rapidamente pela Europa Ocidental, atingindo os Países Baixos, a Dinamarca, a Escócia (os presbiterianos), a França (os huguenotes) e a Inglaterra (os puritanos). O calvinismo adquiriu mais adeptos do que do luteranismo, na medida sua doutrina atendia melhor as necessidades capitalistas dos burgueses. O significado econômico do calvinismo, e bem assim o da crença reformada em geral, tem sido origem de prolongada controvérsia. Max Weber afirmou que a fé protestante, através do realce que deu às ocupações, ajudou a desenvolver a iniciativa capitalista. É certo que ele poderia ter apontado, em reforço das suas idéias, a capacidade comercial e industrial dos calvinistas holandeses, dos huguenotes franceses, dos homens de negócios escoceses e dos industriais (...) britânicos, mas, conforme salientaram os seus críticos, teria exagerado a questão (...) O realce calvinista da atividade e da poupança não tardou a ser associado ao êxito (e à riqueza) como um sinal de favor de Deus, e ao fracasso (e à pobreza) como uma indicação do seu desfavor. GREEN, V. H. H. Renascimento e Reforma. Lisboa: Dom Quixote, p O Anglicanismo A Reforma Protestante inglesa tem características bastante peculiares. O monarca Henrique VIII repudiou, inicialmente, as idéias luteranas, chegando até a perseguir os seus seguidores. Essa oposição aos reformadores, fez com a Igreja condecorasse o rei inglês como Defensor da Fé. No entanto, Henrique objetivava confiscar as terras eclesiásticas, debilitando, dessa maneira, a influência da Igreja Católica.

253 Em 1527, Henrique VIII, encontrou uma justificativa para afastar o clero das questões políticas na Inglaterra. Nesse ano, o soberano requisitou ao papa Clemente VII a anulação do seu matrimônio com a espanhola Catarina de Aragão, a qual não podia engravidar. Por casar-se com Ana Bolena, sem a bênção da Igreja, o rei foi excomungado. Os vários problemas entre o papa e o rei provocaram a cisão em 1531, quando o Parlamento inglês aprovou um conjunto de leis que subordinava a Igreja à autoridade governamental. No ano de 1534, através do Ato de Supremacia, o rei se tornou o representante máximo da Igreja Anglicana, sendo responsável pela nomeação dos eclesiásticos e pelas determinações das doutrinas religiosas. Vale salientar, que todos dogmas católicos foram mantidos no anglicanismo, com exceção o poder papal que estava submetido ao do rei. Após o Ato, as propriedades da Igreja Católica transferiram-se para o controle dos nobres e do monarca. Nessa perspectiva, podemos concluir que as razões da separação oficial entre o Estado e a Igreja Católica não foram religiosas, mas econômicas e políticas. Com a morte de Henrique VIII, iniciou-se um período intenso de tensão. Entretanto, quando Elizabeth I ( ), filha de Henrique VIII com Ana Bolena, chega ao trono, consegue estabelecer a paz religiosa. Com ela no poder, a doutrina anglicana adquiriu princípios mais definidos. Tais preceitos foram resultados de um entrelaçamento entre elementos do anglicanismo com o calvinismo. O grande objetivo era gerar uma conciliação ente os fundamentos religiosos na Inglaterra, a fim de evitar a fragmentação do reino. Entre 1558 e 1603, a Rainha Elisabeth I aprofundou e consolidou o processo de reforma. Nesse período ela publicou a Lei dos 39 Artigos. Em linhas gerais, o anglicanismo se caracterizava pelos seguintes pontos; 1. uso da língua inglesa nas liturgias; 2. manutenção da hierarquia clerical; 3. salvação alcançada pela predestinação; 4. aceitação do batismo e da eucaristia; 5. submissão da Igreja ao Estado. O Igreja Católica renovada As reformas protestantes provocaram transformações políticas e sociais em praticamente todo o continente europeu. A expansão do protestantismo gerou uma contra-ofensiva da Igreja Católica. Esse movimento renovação do catolicismo ficou conhecido como Contrarreforma. Segundo alguns historiadores, as origens da Reforma Católica remontam o final do século XV, ou seja, foi iniciada antes da Reforma Protestante. Na Itália e na Espanha, sob a liderança de alguns membros do clero, foram estabelecidas medidas com o propósito de reabilitar a disciplina religiosa e retomar a verdadeira essência do cristianismo. Porém, a Igreja Católica só adota medidas mais efetivas com a consolidação dos movimentos reformistas do século XVI. A reação Católica tinha como objetivo conter o avanço protestante e recuperar o prestígio do catolicismo no cenário geopolítico europeu. Para atingir tal fim, a Igreja utilizou os padrões mais tradicionais do catolicismo, como por exemplo, a restabelecimento do Tribunal do Santo Ofício. Esse órgão, criado na Idade Média, julgava e punia aquelas pessoas (os hereges) que discordavam e criticavam com as práticas da Igreja Católica. Buscando solidificar a reforma católica, o papa Paulo III convoca o Concílio de Trento ( ). Essa assembléia foi marcada por algumas suspensões. O principal objetivo do Concílio era discutir temas religiosos e posicionar-se em relação às críticas protestantes. Todavia, esse encontro não conseguiu chegar a nenhum consenso, apenas reafirma os dogmas católicos e condena às ações protestantes. As decisões tomadas pelo Concílio foram caracterizadas mais pelo tradicionalismo do que pela inovação. As principais medidas do Concílio foram as seguintes: 1. manutenção dos sete sacramentos católicos: batismo, crisma, eucaristia, ordem, confissão, extrema unção e matrimônio;

254 2. reafirmação dos princípios do catolicismo e condenação das novas religiões; 3. o latim permanece com língua litúrgica oficial nas missas católicas; 4. confirmação da infalibilidade papal; 5. manutenção da hierarquia eclesiástica, do celibato clerical; 6. adoção de uma nova disciplina para os membros do clero; 7. criação do Catecismo e dos seminários de teologia; 8. instituição da lista dos livro proibidos (o Index Librorum Proibitorum). O index foi várias vezes reavaliados, sendo abandonado em 1966; 9. restabelecimento do Santo Ofício. Trechos de algumas decisões do Concílio de Trento I Se alguém disser que o homem se pode justificar para com Deus por suas próprias obras (...) ou pela doutrina da lei, sem a divina graça adquirida por Jesus Cristo, seja excomungado. V- Se alguém disser que o livre arbítrio do homem está perdido e extinto depois do pecado de Adão, ou que ele é um simples nome sem objeto, ou o que lê é uma ficção introduzida pelo demônio na Igreja, seja excomungado. ARTOLA, Miguel. Textos fundamentais para la leitura. Madri: Alianza, O Concílio também criou medidas moralizadoras buscando coibir práticas abusivas, como a venda de indulgências. Porém, a Igreja continuou afirmando a necessidade das boas obras como meio de se obter a salvação. A Reforma Católica também contou com o reforço de várias ordens religiosas. A mais famosa foi a Companhia de Jesus, criada por Inácio de Loyola em Os membros dessa ordem ficaram conhecidas como jesuítas. Eles desempenharam ações muito importantes para o fortalecimento do catolicismo em várias regiões que atuaram. Como educadores, foram fundamentais na catequização dos nativos americanos. As reformas e as mudanças nas relações de poder A Reforma empreendida por Martinho Lutero e João Calvino gerou mudanças nas relações econômicas, sociais, políticas e religiosas. O protestantismo trouxe uma nova moral econômico-religiosa, a qual possibilitou o enriquecimento da burguesia. Além disso, a ruptura da cristandade resultou no prestígio da autoridade papal. Porém, a maior conseqüência da Reforma Protestante foi a cisão da cristandade ocidental. A livre interpretação da Bíblia, a liberdade de culto e a substituição do latim pelas línguas nacionais contribuíram decisivamente para o fortalecimento do nacionalismo nos países. Entretanto, vale salientar, que liberdade de culto não pode ser confundido com liberdade religiosa, porque a intolerância também foi usada pelos protestantes mais tradicionais.

255 TEXTO COMPLEMENTAR Texto 01 Católicos e luteranos se reconciliam Depois de quase quinhentos anos, católicos e luteranos perceberam que tinham mais semelhanças do que divergências e deram um passo importante para o entendimento. Em outubro de 1999, depois de quatro séculos de separação e de 32 anos de conversações. Católicos e luteranos assinaram, na Alemanha, acordo que estabelece um consenso sobre a principal questão teológica que os afastou. O documento conjunto vai explicar de que modo as duas denominações encaram hoje a salvação o instante em que os cristãos se libertariam de todos os pecados e se encontrariam com Deus na eternidade. Quando se rebelou contra o papa Leão X, o monge agostiniano Martinho Lutero ( ) produziu as 95 Teses que tratavam do tema, e as tornou públicas. O gesto desencadeou o movimento da Reforma, que deu origem às Igrejas protestantes. À época, católicos defendiam que, para atingir a salvação. Os fieis deveriam praticar boas obras. Ou melhor: entregar-se às ações solidárias e respeitar um sem-número de ritos (orações, jejuns, donativos, peregrinações, adoração de relíquias etc). A salvação dependeria do mérito de cada cristão. Quem fizesse mais obras somaria mais pontos no céu. Tal doutrina acabou gerando uma série de abusos como a venda de indulgências. Em troca de recursos para a reconstrução da basílica de São Pedro (Roma), o papa Leão X oferecia a remissão total ou parcial das penas que o doador de dinheiro iria sofrer; na Terra ou no purgatório, por ter cometido pecados. As 95 Teses questionavam as vendas... Daqueles escritos brotava uma nova doutrina: a salvação deriva da graça divina e não das obras. Foi há menos de quatro décadas que as distancias começaram a diminuir. Em 1967 criou-se a comissão Mista Internacional Católico-Luterana, que desde então se reúne periodicamente para analisar as pendências teológicas. Há dois anos o grupo finalizou a declaração que deverá ser assinada agora (outubro de 1999) e receberá o aval do Vaticano e da Federação Luterana Mundial, que congrega 95% dos 61 milhões de luteranos. Com o acordo, ambas passam a professar que: - Salvação decorre da graça de Deus e não das boas obras. - Só se chega à salvação pela fé. - Embora não levem à salvação, as boas obras são conseqüências da fé. - O cristão faz boas obras não para se salvar, mas como testemunho da fé. A assinatura ocorrerá em 31 e outubro, data em que Lutero divulgou as 95 Teses. A cidade de Augsburgo, onde o monge sofreu um interrogatório por ordem do papa, sediará a cerimônia. Anteore, Armando. Folha de S. Paulo, 19/9/1999. Texto 02 Durante muito tempo, acreditou-se que a Reforma havia ocorrido por causa dos abusos que naquele momento se produziam no interior da Igreja. (...) Atualmente se considera insuficiente a explicação moral da Reforma, que procura dar conta de um fenômeno essencialmente religiosos. (...) (...) a investigação histórica atual se orienta decididamente, no que se refere à Reforma, para o estudo das doutrinas e de suas relações com a mentalidade dos homens do século XVI. A causa principal da Reforma foi, em resumo, esta: numa época agitada, na qual o individualismo realizava grandes progressos, os fiéis sentiram a necessidade de uma teologia mais sólida e mais viva que aquela que lhes ensinava ou não lhes ensinava um clero geralmente pouco instruído (...). MARQUES, Adhemar et tal. História Moderna através de textos. 7. ed. São Paulo: Contexto, p Analisando os textos 1. Qual o tema abordado por eles? 2. Quais as principais ideias que o texto 01 faz alusão? Comente-as. 3. Em sua opinião quem cedeu mais de seus princípios para assinar o acordo? Justifique.

256 FAZENDO HISTÓRIA 1. Explique os principais fatores que contribuíram para Reforma Protestante. 2. Comente as principais práticas da Igreja Católica criticadas pelos reformistas no século XVI. 3. Relacione as idéias luteranas com as revoltas camponesas ocorridas nos territórios na Alemanha. 4. Por outro lado, impõem-se o fato de os protestantes (especialmente em alguns de seus ramos...), tanto como classe dirigente, quanto como classe dirigida, seja com maioria, seja como minoria, terem demonstrado tendência específica para o racionalismo econômico, que não pôde ser observada entre os católicos em qualquer dessas situações. A razão dessas diferentes atitudes deve, portanto, ser procurada no caráter intrínseco permanente de suas crenças religiosas, e não apenas em suas temporárias situações externas na história. WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. 8 ed. São Paulo: Pioneira, p. 23. O calvinismo defendia o trabalho, a vida regrada e o hábito de economizar dinheiro. Após a leitura do texto faça a relação entre a doutrina calvinista e o desenvolvimento do capitalismo. 5. Leio o texto abaixo e em seguida responda às questões. Deus chama cada um para uma vocação particular cujo objetivo é a glorificação dele mesmo. O comerciante que busca o lucro, pelas qualidades que o sucesso econômico exige: o trabalho, a sobriedade, a ordem, responde também ao chamado de Deus, santificando de seu lado o mundo pelo esforço, e sua ação é santa. CALVINO, João. In: MOUSNIER, Ronald. História geral das civilizações: os séculos XVI e XVII: os processos da civilização européia. São Paulo: Difel, Tomo IV, v.1. a) De acordo com o texto, explique a teoria da predestinação criada por João Calvino. b) Relacione a expansão das idéias defendidas no texto com o desenvolvimento do capitalismo a partir do século XVI. 6. Por que o Parlamento inglês apoiou a iniciativa do monarca Henrique VIII na fundação da Igreja Anglicana?

257 7. (FUVEST-SP) Antes do luteranismo e calvinismo surgirem, no século XVI, e romperem com a unidade do cristianismo no ocidente, houve, na Baixa Idade Média, movimentos heréticos importantes, como o dos cátaros e dos hussitas, que a Igreja Católica conseguiu reprimir e controlar. Explique: a) Como a Igreja Católica conseguiu dominar as heresias medievais? b) Por que o luteranismo e o calvinismo tiveram êxito? 8. (Unicamp-SP) Embora a origem da Reforma de Lutero se deva a uma experiência pessoal, ela refletiu, na verdade, o estado de espírito comum a muitos seguidores da Igreja romana. De fato, a iniciativa da livre interpretação da Bíblia de ser compreendida como mais uma das muitas manifestações típicas do individualismo do homem renascentista. (PERIS, Carmem e VERGES, Glória. El Renascimento. Barcelona: Parramón Ediciones, s.d., p.32) a) Quais foram as relações culturais da Reforma Protestante com o Renascimento? b) Por que a livre interpretação da Bíblia era criticada pelo alto clero medieval? 9. (FUVEST) Alguns historiadores admitem conexão entre o calvinismo e o desenvolvimento do capitalismo a partir do século XVI. Indique dois aspectos dessa conexão. 10.(Unicamp) No dia 31 de outubro de 1517, Martinho Lutero, professor de Teologia da Universidade de Wittenberg, afixou na porta de uma igreja daquela cidade um documento em que eram expostas 95 Teses. Baseado em Elton, G. R. história de Europa. a) Que processo histórico o gesto de Lutero inaugurou? b) Cite duas práticas adotadas pela Igreja Católica condenadas por Lutero. c) Por que se considera que esse processo histórico acabou facilitando o desenvolvimento do capitalismo? 11.(Unicamp) Em um dicionário histórico, encontramos a seguinte definição: Contra- Reforma o termo abrange tanto a ofensiva ideológica contra o protestantismo quanto os movimentos de Reforma e reorganização da Igreja Católica, a partir de meados do século XVI. Dicionário do Renascimento italiano. Zahar, Dê as principais características da Contrarreforma e analise duas delas.

258 QUESTÕES DE VESTIBULARES 1. (UPE)O século XVI na Europa assistiu a modificações tensas e conturbadas em relação à crença da população. Com o começo das reformas religiosas, o cristianismo ocidental deixou de ser uno, e os protestantes ocuparam um espaço na sociedade europeia. Sobre a reforma religiosa do século XVI, analise as afirmações a seguir: I. No período medieval, vozes, como as de John Wycliff e Jan Huss, faziam críticas ao catolicismo e pregavam reformas. II. O pensamento humanista e individualista do Renascimento não influenciou a eclosão da Reforma. III. O despreparo moral e intelectual do clero católic o medieval junto com a cobrança de indulgências aceleraram o advento da reforma protestante. IV. O Concílio de Trento buscou negar o valor da s doutrinas protestantes e reafirmar a hegemonia católica no mundo cristão europeu. V. A Europa assistiu a um enfraquecimento da intolerância religiosa com as reformas, evitando conflitos armados entre católicos e protestantes. Estão corretas: a) I, II e III. b) II, IV e V. c) II, III e IV. d) I, III e IV. e) III, IV e V. 2. (UPE) A Contrarreforma ou Reforma Católica consistiu na reorganização da Igreja Católica com o objetivo de enfrentar o avanço do protestantismo. As principais medidas dessa reforma foram, exceto: a) organização do Concílio de Trento, que estabeleceu um conjunto de decisões para garantir a unidade da fé Católica, reiterando os princípios tradicionais do catolicismo. b) reativação dos tribunais da Inquisição para combater e punir os desvios da fé católica. c) considerar a fé cristã que tinha na bíblia, através do livre-exame, sua única fonte, o caminho para a salvação da alma. d) criação da ordem jesuíta, que investiu na criação de escolas religiosas para promover a educação dos cristãos. e) fortalecimento da censura com criação do índex de livros proibidos, prática que contribuiu, também, para inibir o debate e as descobertas científicas. 3. (FCC) O surgimento do cristianismo introduz uma noção de História, segundo a qual esta nada mais é do que o desenvolvimento dos desígnios divinos. (Pedro P. A. Funari & Glaydson J. Silva. Teoria da História. São Paulo: Brasiliense, 2008, p. 25) A Reforma, séculos depois, introduziu outros princípios, tais como: a) a defesa da autoridade incontestável do papa e dos sacerdotes, na interpretação dos desígnios divinos. b) o conceito de predestinação e a noção de que o trabalho e o lucro dignificam o homem. c) a crença de que os pobres deveriam se rebelar contra os ricos, pois a História era movida pela luta de classes. d) a visão de que os Estados deveriam se subordinar politicamente às orientações do Vaticano. e) a concepção de que os judeus e demais seguidores de outras crenças deveriam ser eliminados. 4. (UPE) Sobre a reforma luterana, considere as seguintes proposições: I. De acordo com a pregação de Lutero, mais importante do que a hierarquia era palavra de Deus presente nas Sagradas Escrituras.

259 II. Com a eclosão da revolta dos camponeses germânicos, liderados por Thomas Müntzer, Lutero aconselhou os senhores a: golpear, estrangular e apunhalar os amponeses, pois não há nada mais diabólico do que um homem revoltado. III. Eliminou a maioria dos sacramentos Católicos, negando que tivessem o poder de salvar os homens do pecado. Manteve apenas o batismo. IV. Extinguiu o celibato, permitindo o casamento dos sacerdotes e instituiu, no lugar da missa, a ceia do Senhor. Estão corretas: a) somente I e II. b) somente II e III. c) somente III e IV. d) somente II, III e IV. e) I, II, III e IV. 5. (UPE) Sobre O Calvinismo, considere as seguintes proposições: I. Defendia ideias de socialização, propondo a repartição de propriedades com a condenação da riqueza. II. Pregava a reforma da Igreja, negava o dogma da infalibilidade do papa e lutava contra o predomínio dos prelados germânicos. III. Ensinava que o lucro não era pecado e que a única maneira de alguém saber se estava predestinado à salvação era obter êxitos nas relações econômicas por meio do trabalho árduo e disciplinado. IV. Propunha a aceitação exclusiva das sagradas escrituras como instrumentos para conhecer a verdade divina. Estão corretas: a) somente I e II. b) somente III e IV. c) somente I, II e III. d) somente II, III e IV. e) I, II, III e IV. 6. (COVEST) A Reforma trouxe mudanças que não ficaram, apenas, restritas ao campo da religião. As mudanças tiveram amplas repercussões na política, inclusive por possibilitarem o surgimento de grupos que questionavam radicalmente a sociedade da época. Os anabatistas, por exemplo: a) negavam a validade do cristianismo e defendiam o fim das monarquias. b)combateram o conservadorismo de Lutero e conseguiram fazer uma reforma social nos Países Baixos. c) eram partidários dos ensinamentos de Santo Agostinho e defendiam os interesses da aristocracia. d)defendiam uma melhor repartição das riquezas sociais, conseguindo adeptos em muitas regiões da Europa. e) fizeram alianças políticas com a aristocracia, embora combatessem os ensinamentos de Lutero. 7. (UPE) O predomínio do Catolicismo fez parte de um grande período da história da Europa. Com o surgimento e a expansão da Reforma, novas idéias surgiram, abalando um poder secular. Lutero, um dos líderes da Reforma, defendia o (a) a) fim do clero católico, com uma crítica ao que diziam as Sagradas Escrituras, duvidando das suas verdades. b) afirmação do pensamento de santo Agostinho, valorizando o papel da fé na salvação do indivíduo. c) manutenção dos sacramentos, para fortalecer a palavra de Deus, enaltecendo poder do clero mais simples. d) extinção do celibato, além de manter a necessidade de consolidar a hierarquia papal e sua relação com os bispos. e) conflito contra o poder dos reis, negando a importância do pecado e do batismo.

260 8. (VUNESP) Leia com atenção as frases a seguir. I. A Reforma Protestante, ocorrida em meados do século XV, na Europa, representou, entre outras coisas, a insatisfaçãoda nobreza em relação às riquezas e ao poder da Igreja Católica. II. As camadas populares, por sua vez, acatavam as orientações da Igreja por continuar a ver, nessa instituição, a expressão dos valores básicos da religião cristã, como humildade e caridade. III. A partir das críticas aos abusos da Igreja Católica, Martinho Lutero propôs a criação de uma Igreja mais próxima dos valores originais do cristianismo. Está correto apenas o contido em: a) I. b) II. c) III. d) I e III. e) II e III. 9. (UPE) No início da Idade Moderna, o catolicismo experimentou uma dissensão interna que marcou definitivamente sua ação enquanto Igreja Universal. Lutero, Calvino e Henrique VIII foram responsáveis pela maior Reforma Religiosa no âmbito do cristianismo. Neste período, essa religião dividiu-se em quatro correntes, sendo que a) os católicos acreditavam na salvação pela fé e pelas boas ações, enquanto os calvinistas e anglicanos aceitavam apenas a salvação pela fé como parte da teoria da predestinação. b) os luteranos, em relação à eucaristia, acreditavam na presença real de Cristo com transubstanciação, e os calvinistas e anglicanos, apenas na presença espiritual de Cristo. c) os anglicanos, em relação ao culto, suprimiram o sacrifício da Missa e conservaram a liturgia, enquanto os católicos continuaram com a Missa, centro principal do culto. d) os católicos continuaram com os sete sacramentos, enquanto os luteranos, calvinistas e anglicanos, apenas com dois: batismo e comunhão. e) os luteranos entendiam que a Igreja era útil à salvação, suprimindo a hierarquia eclesiástica, enquanto os anglicanos também mantiveram a utilidade da Igreja em relação à salvação e conservaram a hierarquia eclesiástica. 10. (COVEST) A Reforma trouxe abalos ao poder político dos católicos e se confrontou com grupos da nobreza da época. Nas suas propostas, orientava para: a) a necessidade de mudar os hábitos religiosos e para o combate ao celibato. b) a força de uma ética baseada na igualdade e no respeito à distribuição das riquezas. c) a formação de governos libertários, com princípios constitucionais democráticos. d) a organização de uma religião sem formalidades, que condenava os ensinamentos do Antigo Testamento. e) o estabelecimento de uma religião monoteísta, sem cultos ou ritos dominicais. 11. (SELECT) A passagem do Feudalismo para o Capitalismo Industrial representou um longo processo de transição. Durante as primeiras fases da Idade Moderna, esse processo foi acompanhado e influenciado por mudanças políticas e culturais de importância decisiva, tais como: O Renascimento Cultural, movimento de renovação na arte e na cultura européia. Muitos artistas e pensadores passaram a exprimir em suas obras, ideais, valores e uma visão de mundo livre dos dogmas da Igreja. O ser humano tornou se o centro das indagações dos novos intelectuais. E a Reforma Protestante, movimento religioso iniciado por Martinho Lutero, que determinou a ruptura da unidade da igreja católica e deu origem ao Protestantismo. Sobre o Renascimento Cultural e a Reforma Protestante, tendo como referência inicial o texto acima, assinale a alternativa correta: a) Uma das características marcantes do Renascimento foi o seu racionalismo, com a convicção de que todos os fenômenos podem ser explicados pela deísmo, pela razão e pelo humanismo. b) Calvino admitia a necessidade da concessão da graça divina para a salvação dos homens.

261 c) Enquanto Lutero acredita na fé como único modo de salvação, Calvino admite a predestinação daqueles indivíduos que têm sucesso nos negócios e nas questões materiais. d) O Renascimento marcou um momento de ruptura com as concepções da cultura medieval ao incorporar o Individualismo e Antropocentrismo. e) Maquiavel, pensador renascentista, baseou se na democracia grega para a formulação do seu pensamento político. 12. (UFT) No início da Era Moderna, o processo de crise que gerou a chamada Reforma envolveu não apenas fé mas também disputas políticas. Considerando-se esse contexto, é correto afirmar que: a) a Igreja Católica reagiu à Reforma convocando o Concílio de Trento, cujas medidas visaram a impedir o crescimento do protestantismo. b) as religiões protestantes não aceitavam inovações nos ritos sagrados entre outras, a realização de missas em outras línguas que não o latim. c) Martinho Lutero, em seus ataques ao Papado, discordava principalmente do processo violento de catequese dos aborígines americanos. d) uma das iniciativas do Vaticano para aplacar as críticas dos protestantes consistiu em tornar mais branda a ação do Tribunal do Santo Ofício. 13. (UPE) "Ante os ataques dos protestantes e na linha das posições doutrinais e das decisões do concílio, a Igreja pós-tridentina tende a revalorizar determinadas formas de devoção coletiva. De fato, estas aparecem como a expressão da realidade da Igreja universal, desde que estreitamente enquadradas pelo clero" Lebrun, F. "As Reformas: devoções comunitárias e piedade pessoal" in História da Vida Privada (3), Cia. Das Letras, p. 73). A convocação do Concílio de Trento foi uma reação contra a Reforma, tomando medidas como: a) a proibição da venda de indulgências nas regiões do norte da Europa, mantendo a venda em Portugal e na Espanha. b) a reativação da Inquisição e a criação de uma lista de livros proibidos, contribuindo para a censura das ideias. c) a liberação da venda de cargos eclesiásticos, mas manteve a indissolubilidade do casamento. d) a mudança na hierarquia eclesiástica, diminuindo os poderes do papa e dos bispos. e) a criação do tribunal da Inquisição em nações do norte da Europa, com a finalidade de combater calvinistas e luteranos. 14. (UPE) O poder da Igreja Católica sofreu abalos na sua base com a Reforma liderada por Calvino e Lutero. Com relação às mudanças das práticas religiosas da época, a Reforma a) reforçou a intervenção dos sacerdotes nos rituais, evitando crítica à sua autoridade como representantes de Deus. b) incentivou a leitura da Bíblia em latim, nos templos religiosos, conduzida pelas lideranças clericais mais atuantes. c) acabou com a existência da confissão privada, cabendo a cada um fazer seu exame de consciência sobre os pecados cometidos. d) fortaleceu a hierarquia clerical, criando mais espaços para estreitar as relações entre os governos da época e a religião. e) retomou princípios defendidos por Tomás de Aquino, enfatizando a autonomia de cada um para se salvar dos seus pecados. 15. (COVEST) A Reforma trouxe mudanças políticas, religiosas e culturais. Foi importante para a Modernidade. Seus entendimentos com a burguesia: a) foram cheios de conflitos, pois a burguesia queria que o catolicismo prevalecesse em toda a Europa. b) tiveram pactos significativos, pois Lutero não aceitava o poder da nobreza nem o militarismo dos reis. c) conseguiram êxitos, pois a burguesia queria espaço para defender seus projetos contrários aos da Igreja Católica. d) fracassaram na Europa Ocidental; apenas se estenderam de forma ampla na Inglaterra e na América. e) consolidaram-se no século XVII, com a vitória da Revolução Francesa e o fim das monarquias absolutistas.

262 OLHARES HISTÓRICOS Livros História das inquisições: Portugal, Espanha e Itália séculos XV-XIX. BETHENCOURT, Francisco. São Paulo: Companhia das Letras, A Reforma na Europa do século XVI. DICKENS, A. G. Lisboa, Editorial Verbo. (História Ilustrada da Europa). A cruz e o crescente: Cristianismo e Islã, de Maomé à Reforma. FLECHTER, Richard. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, Renascimento e Reforma. GREEN, V. H. H. Lisboa: Dom Quixote, Cinema Lutero Direção de Eric Till. Alemanha/EUA, minutos Após quase ser atingido por um raio, Martim Lutero (Joseph Fiennes) acredita ter recebido um chamado. Ele se junta ao monastério, mas logo fica atormentado com as práticas adotadas pela Igreja Católica na época. Após pregar em uma igreja suas 95 teses, Lutero passa a ser perseguido. Pressionado para que se redima publicamente, Lutero se recusa a negar suas teses e desafia a Igreja Católica a provar que elas estejam erradas e contradigam o que prega a Bíblia. Excomungado, Lutero foge e inicia sua batalha para mostrar que seus ideais estão corretos e que eles permitem o acesso de todas as pessoas a Deus. Sites 95 Teses de Lutero Site da Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil, que oferece o texto integral das 95 proposições elaboradas pelo reformador Martinho Lutero. Disponível em:

263 O Estado Moderno e o Absolutismo Monárquico O sistema feudal foi caracterizado pela fragmentação territorial e pela descentralização política. Consequentemente, o rei possuía poucos poderes. Entretanto, na Baixa Idade Média, o fortalecimento do comércio e o desenvolvimento das cidades fez surgir a burguesia. Esse grupo social contribuiu de maneira essencial para o surgimento e consolidação dos Estados Nacionais na Europa. O fortalecimento do poder dos monarcas interessa aos burgueses. Igualmente, os reis se interessavam do apoio da burguesia, pois, dessa forma podia-se, por meio de empréstimos e contribuições tributárias, sustentar os exércitos que combatiam as investidas dos nobres feudais. A criação de um exército permanente contribuiu decisivamente para o aumento do poder real. Com o passar dos anos, as milícias foram incorporadas ao exército. Assim, a importância dos cavaleiros, núcleo do poder feudal, foi decaindo. A partir disso, o rei passou a controlar além do exército, a justiça e a arrecadação de impostos. Bandeira do Brasil. Essa imagem retrata alguns dos símbolos dos Estados Nacionais, sentimento de pertencimento ao país. Outro fator decisivo que contribuiu para a construção dos estados nacionais foi a unidade territorial. A unificação territorial de importância fundamental, pois, a mesma possibilitava a padronização das leis, da moeda e dos pesos e medidas. Dessa maneira, o rei se encontrava altamente fortalecido. É nesse cenário, que, entre os séculos XII e XV, são estabelecidos as monarquias nacionais. Os casos mais expressivos foram em Portugal, na Espanha, na Inglaterra e na França. O Estado nacional centralizado simbolizou a consonância de interesses entre o monarca e os burgueses. A burguesia se interessava por estado forte, pois essa condição possibilitava o desenvolvimento da economia. Já os nobres viam no fortalecimento do poder central, uma alternativa para reprimir as diversas rebeliões camponesas que assolavam várias regiões da européia. Desse modo, o Estado Nacional apresenta contradições, pois por um lado beneficiava a burguesia e o rei, do mesmo modo atendia os interesses da nobreza.

264 Em linhas gerais, os principais elementos do Estado Nacional são: moeda única, território unificado, exército nacional, língua, administração e outros símbolos nacionais (bandeira e hino). Esses sentimentos patrióticos agravaram ainda mais o sistema feudal que chega a sua exaustão no século XIV. Com o objetivo de superar os entraves das estruturas feudais, o rei buscou suporte econômico nos burgueses, além disso, ele manteve as relações com os nobres, na pretensão de garantir os privilégios em troca de apoio político. A partir desse jogo de interesses, os poderes dos monarcas cresceram gradativamente. No decorrer dos séculos XVI e XVII, em várias monarquias nacionais da Europa Ocidental, o poder político foi amplamente acentuado. Nesse instante, os monarcas passaram a governar de maneia autoritária. Com o passar dos tempos, o poder real foi adquirindo um caráter absoluto. Características do Estado Absolutista Com a consolidação do absolutismo, o Estado passou a monopolizar as esferas do poder militar, administrativo, jurídico e político. Essa centralização também beneficiou a emergente classe de burgueses, a qual se interessava pela unificação de mercados e da moeda, pela proteção contra concorrência de produtos estrangeiros. Os burgueses também desejavam a existência de uma legislação, que fosse válida para todo o território. Vale salientar, que a formação e desenvolvimento dos Estados Nacionais não representaram o fim do sistema feudal, pois as relações sociais e econômicas possuíam marcas tipicamente do feudalismo. Porém, o processo do absolutismo teve um papel essencial para acelerar a passagem para o capitalismo moderno. Em linhas gerais, as principais características dos Estados Absolutistas são: forte centralização política, unificação de sistemas legais (leis), formação de um exército nacional sob o comando do monarca, arrecadação de impostos, enfraquecimento dos poderes senhoriais, burocracia, subordinação da Igreja ao estado, diplomacia, nacionalismo, aumento da justiça real, unificação monetária, mercantilismo, eliminação da autonomia das cidades e das regiões aduaneiras. O absolutismo monárquico não foi um processo homogêneo. Ele alternou de país para país. Algumas regiões sequer, conseguiram completar a fase de centralização, como foi caso da Alemanha, que só alcançou no século XIX. O absolutismo alcançou ampla estabilidade em Portugal, Espanha, França e Inglaterra. Geralmente, o poder absolutista tem sido analisado como um regime em que o rei detém elevados poderes, se posicionando acima de tudo e de todos, ou seja, ele não necessita prestar contas a ninguém. Entretanto, essa concepção é discutível, porque não podemos entender como uma pessoa, independente de sua concepção política, possa governar um país sem qualquer tipo de apoio. Geralmente, os governantes fazem alianças políticas, a qual se torna essencial para garantir a governabilidade. Dessa maneira, esses acordos obrigam os governantes a assumirem alguns compromissos com sua base de apoio, limitando, assim, de alguma forma, os seus poderes. Portanto, o absolutismo se enquadra em tal argumentação. Para alguns historiadores, o Estado Absolutista pode ser considerado como tipicamente burguês. Já para outros, ele pode ser representado por dois grupos sociais hegemônicos (burguesia e nobreza) que geram o equilíbrio de classes. A análise do Estado Moderno pressupõe a existência de uma discrepância entre a teoria e a prática à época do absolutismo. Tal afirmação pode ser observada, uma vez que no plano teórico o poder dos soberanos era incontestável, porém na prática existiam limitações ao exercício da autoridade por parte dos monarcas. Essa limitação pode ser muito bem constatada nos parlamentos formados por integrantes da aristocracia, na manutenção dos privilégios dos nobres, tais como isenção de tributos, direito a tribunais especiais, monopólio dos melhores cargos públicos. Teóricos absolutistas No decorrer dos séculos XVI e XVII, surgiram diversos pensadores que defenderam a necessidade de um Estado fortemente centralizado e absoluto, ou seja, autoritário. Esses intelectuais elaboraram teorias que foram fundamentais para a construção da imagem dos

265 governantes absolutistas. Visando justificar o poder dos reis, os pensadores absolutistas elaboraram teorias filosóficas com o propósito de manipular as camadas sociais. O objetivo principal era vender uma boa imagem do monarca. Esses teóricos fizeram uma grande reflexão sobre o Estado e Política com a finalidade de encontrar modelos ideais de Estado e de poder. Um dos primeiros pensadores a lançar pressupostos teóricos para justificar o poder centralizado e duradouro foi o florentino Nicolau Maquiavel ( ). Sua teoria segue princípios racionalistas, fazendo reflexão sobre o Estado e a política. Suas concepções tornaram-se alicerces da ciência política contemporânea. Maquiavel é favorável ao fortalecimento do poder do príncipe, ou seja, do Estado. Segundo ele, para instalação e consolidação do Estado seria fundamental que o governante tivesse autonomia e que na sua gestão não houvesse qualquer influência das instituições religiosas. Influenciado pela descentralização política da Itália, em sua obra O Príncipe, ele afirma que a maior função de um governante é garantir, a qualquer custo, o poder e a estabilidade de um Estado. Nesse livro, ele rompe com as tradições cristão-medievais, lançando uma nova concepção, a qual afirma que ética e política deve separar-se. Retrato de Nicolau Maquiavel, pintado por Santi di Tito. Daqui nasce um dilema: é melhor ser amado que temido, ou inverso? Respondo que seria preferível ser ambas as coisas, mas, como é muito difícil conciliá-las, parece-me mais seguro ser temido do que amado, se só se puder ser uma delas. Há uma coisa que se pode dizer, de uma maneira geral, de todos os homens: que são ingratos, mutáveis, dissimulados, inimigos do perigo, ávidos de ganhar. Enquanto lhes fazem bem, são teus, oferecem-te o seu sangue, os seus bens, a sua vida e os seus filhos, como disse atrás, porque a necessidade é futura; mas, quando se aproxima, furtam-se, e o príncipe que se baseou somente nas suas palavras encontra-se despojado de outros preparativos está perdido. As amizades que se conquistam com dinheiro, e não pelo coração nobre e altivo, fazem sentir os seus efeitos mas são como se não as tivéssemos, pois de nada nos servem quando delas precisamos. Os homens hesitam menos em prejudicar um homem que se torna amado do que outro que se torna temido, pois o amor mantém-se por um laço de obrigações que, em virtude de os homens serem maus, se quebra quando surge ocasião de melhor proveito. Mas o medo mantém-se por um temor do castigo que nunca nos abandona.contudo, o príncipe deve fazer-se temer de tal modo que, se não conseguir a amizade, possa pelo menos fugir à inimizade, visto haver a possibilidade de ser temido e não odiado, ao mesmo tempo. MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. Lisboa: Europa-América.p De acordo com Maquiavel, o príncipe para alcançar o poder e nele permanecer, deve obedecer duas regras essenciais: estar isentos das influências pessoais e morais e não se preocupar com os meios que serão usados para atingir tal finalidade. O importante é alcançar o objetivo, pois os fins justificam os meios. Assim, o governante deve se guiar por uma ética comprometida com os desejos do Estado, a qual se contrapunha à ética que pautava os homens. Vale salientar, que seu pensamento não é favorável ao absolutismo, entretanto, as ideias contidas na sua obra influenciaram diversos intelectuais da época, os quais defendiam um Estado centralizado que concebesse plenos poderes ao rei. Thomas Hobbes ( ) é considerado por muitos como o principal teórico da época, pois ele conseguiu articular e justificar de maneira lógica e coerente a teoria

266 absolutista. Em sua obra Leviatã, defende que o Estado absoluto simboliza a sobreposição do estado de natureza. Para Hobbes, os seres humanos, em seu estado natural, atendem apenas seus desejos pessoais, não se preocupando com as necessidades coletivas e gerais, o que os conduzem às constantes divergências. Segundo esse pensador, por causa do egoísmo inerente ao homem, a sociedade humana apresenta uma tendência à desorganização e ao caos, pois os seus membros, dotado de egoísmo, estão dispostos a tudo para satisfazer os seus interesses. Nesse sentido, Hobbes afirma o homem era o lobo do homem, ou seja, a disputa de todos contra todos. Para superar essa situação, a sociedade civil deve estabelecer um contrato, o qual os homens devem ceder seus direitos a um governante, isto é, ao rei. Dessa forma, o povo deveria legitimar o poder do soberano (caráter absoluto), pois, só assim, ele estaria apto a resolver os conflitos sociais. Outro pensador absolutista foi Jean Bodin ( ). Em seu livro Seis Livros da República. Nessa obra, ele inaugura a corrente que procura justificar o poder absolutista através da concepção divina dos monarcas. Bodin defendia que o monarca estava acima da legislação e dos cidadãos comuns, pois a soberania real derivava de Deus. Nessa perspectiva, o monarca não deveria dividir o poder com ninguém, e nenhuma pessoa também deveria questioná-lo. O rei sábio deve governar harmonicamente o seu reino, entremeando suavemente os nobres e os plebeus, os ricos e os pobres (...). Nada havendo de maior sobre a terra, depois de Deus, que os príncipes soberanos, e sendo por Ele estabelecidos como seus representantes para governarem os outros homens, é necessário lembrar-se de sua qualidade, a fim de respeitar-lhes e reverenciar-lhes a majestade com toda a obediência, a fim de sentir e falar deles com toda a honra, pois quem despreza seu príncipe soberano despreza a Deus de quem ele é a imagem na terra. BODIN, Jean. Seis Livros da República. In: CHEVALLIER, Jean-Jacques. As grandes Obras Políticas de Maquiavel a Nossos dias. 3 ed. Rio de Janeiro: agir, p Outro pensador que defendeu a centralização do poder foi o holandês Hugo Grotius. Segundo ele, apenas a autoridade ilimitada do monarca seria capaz de garantir a ordem social de um país. Grotius se preocupou bastante com a situação da política internacional. Devido a isso, é considerado como um dos fundadores do Direito Internacional. Já o bispo francês Jacques-Bénigne Bossuet ( ) é também considerado um dos renomados teóricos do poder absoluto dos reis. Escreveu Política Tirada da Sagrada Escritura, publicada postumamente. Essa obra foi escrita para justificar o poder do rei Luís XIV (França). Nesse livro, Bossuet defende que há uma aproximação entre o poder real e o poder divino. Segundo ele, essa proximidade faria com que as ações do rei fossem infalíveis, devido à inspiração de Deus. Portanto, esse pensador afirma que a autoridade do monarca tinha consonância divina, assim, o poder real se fundamenta no direito divino. Bossuet concebe os reis como expressão mais sublime da autoridade cedida por Deus. O trono real não é o trono de um homem, mas o trono do próprio Deus. (...) Três razões fazem ver que este governo (o da monarquia hereditária) é o melhor. A primeira é que é o mais natural e se perpetua por si próprio (...). A segunda razão (...) é que esse governo é o que interessa mais na conservação do Estado e dos poderes que o constituem: o príncipe, que trabalha para o seu Estado, trabalha para seus filhos, e o amor que tem pelo seu reino, confundindo com o que tem pela sua família, torna-se natural (...). A terceira razão tira-se da dignidade das casas reais (...). A inveja, que se tem naturalmente daqueles que estão acima de nós, torna-se aqui em amor e repugnância a uma família que sempre viram como superior e à qual se não conhece outra que a possa igualar (...) O trono real não é o trono do homem, mas o trono do próprio Deus (...). Os reis (...) são deuses e participam de alguma maneira da independência divina. O rei vê de mais longe e de mais alto; deve acreditar-se que ele vê melhor, e deve obedecer-lhe sem murmurar, pois o murmúrio é uma disposição para a sedição. BOSSUET, Jacques-Bénigne. Política tirada da Sagrada Escritura. In: FREITAS, Gustavo de. 900 textos e documentos de História. Lisboa: Plátano Editorial, s.d. v. 2. p. 201.

267 Monarquias portuguesa e espanhola Os árabes permaneceram do século VIII até o XV na Península Ibérica. Até, por volta do século XI, os mouros e os católicos conviviam em alternados períodos de paz e conflitos. No entanto, após as cruzadas foi desencadeada uma intensa luta com o propósito de expulsar os islâmicos. Essas lutas ficaram conhecidas como Guerra de Reconquista. À medida que as áreas eram retomadas, em Portugal passavam a ser chamadas de condes. Já na Espanha, recebiam o nome de reinos. Portugal surgiu a partir de uma faixa de terra conquistada pelos cristãos sob o comando do monarca Afonso VI de Leão, que repassou o seu controle para o francês Henrique de Borgonha, devido a sua dedicação no combate aos árabes. Essa área recebeu o nome de Condado Portucalense. Em 1139, essas terras são repassadas para o filho de Henrique de Borgonha, Afonso Henrique. Com apoio de um grupo de políticos, ele consegue a emancipação do condado, dando origem a Portugal. Semelhante ao processo de unificação portuguesa, o Estado espanhol se forma, a partir da expulsão dos islâmicos de sua região. As áreas conquistadas foram os reinos de Leão e Castela, Navarra e Aragão. Com o passar dos anos, alguns deles foram anexados por intermédio de lutas ou por vínculos matrimoniais. Foi o que ocorreu com a união entre os reis católicos Fernando e Isabel. Após esse casamento houve a junção entre os reinos de Leão e Castela e o reino de Aragão, dando origem a atual Espanha. Influenciados por um forte sentimento religioso, Fernando e Isabel tiveram uma participação decisiva na expulsão dos árabes da Península Ibérica, em No século XVI, a Espanha se apresenta no cenário internacional como uma grande potência, devido a sua recente centralização política. O monarca Carlos I de Habsburgo foi o responsável pela consolidação do absolutismo na Espanha. No ano de 1519, se tornou imperador do Sacro Império Romano-Germânico, passando a ser chamado de Carlos V. Em 1556, ele dividiu o reino com seus irmãos Fernando (territórios da Áustria e Alemanha) e Filipe II (Espanha, colônias espanholas, regiões da Itália e Países Baixos). No governo, Filipe II buscou fortalecer o seu poder a nível externo (colônias) e interno. Em 1580, há união das coroas espanhola e portuguesa e Filipe II se torna rei dos dois países. Em 1588, após organizar a Invencível Armada (frota naval), a Espanha enfrenta o exército inglês. No entanto, as pretensões expansionistas espanholas foram paralisadas, pois a marinha inglesa conseguiu derrotar a até, então, frota invencível da Espanha. A derrota ocorreu no canal da Mancha. As perdas na Europa, adicionadas à crise na extração de metais preciosos nas colônias e a insuficiência administrativa espanhola em modernizar sua estrutura econômica, contribuíram para que a principal potência do século XVI entrasse em declínio. Monarquia inglesa Antes da unificação o território britânico era formado por quatro reinos. A centralização das Ilhas Britânicas ocorreu no século XII sob a liderança do rei Henrique II. O sucessor dele foi Ricardo Coração de Leão, que dedicou boa parte do seu governo a luta nas cruzadas ou combatendo os franceses. A falta do rei e os elevados custos militares provocaram insatisfação entre os nobres, os quais conseguiram, em 1215, assinar a Carta Magna. Esse instrumento jurídico limita o poder dos reis. Até hoje o regime de governo na Inglaterra é a monarquia constitucional, cuja origem, portanto, se relaciona com a Magna Carta. Segundo alguns historiadores, a monarquia inglesa consiste num caso especial, devido a maneira pela qual o poder político se estruturou no país após a assinatura da Magna Carta pelo rei João Sem Terra. A Magna Carta constituía um estatuto político basicamente feudal. Ela não tinha a pretensão de garantir liberdades e garantias individuais às pessoas comuns. O seu objetivo maior era estabelecer os limites do poder real, através da fixação dos direitos e deveres dos súditos e da monarquia. Com a criação do Parlamento inglês, no século XIII, há uma ampliação do alcance da Magna Carta. Nesse momento, há uma determinação da lei onde o monarca deveria respeitar o Parlamento e este não poderia ser de modo algum destituído.

268 O Parlamento inglês era constituído pela Câmara dos Lordes (nobres e eclesiásticos) e Câmara dos Comuns (baixa nobreza, Gentry). Portanto, o Parlamento era bicameral. É bom destacar que os membros do clero eram escolhidos pelo rei, enquanto que os elementos da baixa nobreza eram eleitos através do voto censitário (votos vinculados às posses). Os dois órgãos parlamentar passaram a controlar a arrecadação de tributos estatal além do exercício das atividades legislativas. A centralização do poder real na Inglaterra teve sua consolidação no século XVI, com a ascensão da Dinastia Tudor, após a Guerra das Duas Rosas ( ). Esse conflito foi provocado pela disputa do trono inglês entre as tradicionais famílias York e Lancaster. Essa guerra envolveu boa parte da nobreza, a qual saiu bastante debilitada após o seu término. A chegada de Henrique VII ao poder representou a pacificação entre os York e Lancaster. Entretanto, o Estado Absolutista inglês se forma com Henrique VIII ( ). Ele submeteu o Parlamento e homologou o Ato de Supremacia que tornava o anglicanismo em religião oficial da Inglaterra. Após um breve intervalo de atritos religiosos, no governo de Maria I ( ), o catolicismo foi restaurado. Porém, com a chegada de Elizabeth I ( ) ao poder, o anglicanismo voltou a ser a religião oficial do reino. Com essa rainha a economia inglesa alcança estabilidade, pois ela adotou uma arrojada política mercantilista e construiu uma poderosa frota marinha. Sem deixar herdeiros, a rainha Elizabeth foi sucedida por Jaime I ( ), dando início a Dinastia Stuart. Monarquia francesa A Guerra de Cem Anos foi essencial para a constituição da monarquia na França. Esse evento gerou um sentimento de nacionalidade, unificou o exército e fragilizou a nobreza. Por outro lado, esse longo conflito tardou o processo de centralização, já em andamento desde o século XIII. Com o término da guerra, o rei Carlos VII aprovou algumas medidas, tais como uma reforma financeira e o controle sobre o exército, as quais fortaleceram a monarquia. Entretanto, no século XV, quando Luis XI chega ao poder, inicia-se uma oposição entre a nobreza e o rei. Porém, o rei Luís consegue reprimir os nobres na região de Borgonha. A derrota dos nobres simboliza a unificação, legitimação e fortalecimento da monarquia da França. No século XVI, num cenário marcado por disputas religiosas, foi reiniciado na França o processo de centralização por intermédio da Dinastia Valois. No governo de Carlos IX ( ), foram intensificados os conflitos envolvendo os burgueses calvinistas (os huguenotes) e os nobres católicos. O ápice dessas divergências ocorreu na noite de São Bartolomeu, em 1572, quando milhares de protestantes foram cruelmente massacrados em Paris. No reinado do calvinista Henrique IV, houve a promulgação do Edito de Nantes que liberava o culto aos protestantes. Dessa forma, o país alcançou um relativo pacifismo, pois foi retomada a aliança entre o rei e a burguesia. O seu sucessor, Luís XIII, procurou tornar a França uma poderosa potência européia através do seu ministro o cardeal Richelieu. Os franceses enfrentaram a Dinastia Habsburgo (Espanha e Áustria) na Guerra dos Trinta Anos ( ). A vitória da França criou condições necessárias para a consolidação do absolutismo no país. Luís XIV ( ) simbolizou o apogeu do absolutismo francês. No governo, ele concentrou plenos poderes em suas mãos, dando significado literário a sua famosa frase O Estado sou eu. Através do seu ministro, Colbert, foram lançados os fundamentos do mercantilismo francês. Esse período foi caracterizado pelo incentivo à navegação marítima e à conquista de colônias e ampliação das manufaturas. Essas práticas econômicas estimularam os burgueses. Pretendo exibir a grandiosidade do seu reino, o rei Luís XIV construiu o Palácio de Versalhes. Para esse local, se transferiram milhares de nobres que passaram a adquirir amplos privilégios. Os sucessores desse governo, Luís XV e Luís XVI, enfrentaram várias instabilidades econômicas, políticas e sociais que comprometeram a manutenção do regime na França.

269 Imagem de Luís XIV, o Rei Sol, pintado por Hyacinthe Rigaud, em É somente na minha pessoa que reside o poder soberano. É somente de mim que os meus tribunais recebem sua existência e a sua autoridade; a plenitude desta autoridade, que eles não exercem senão em meu nome, permanece sempre em mim, e o seu uso nunca pode ser contra mim voltado; é unicamente a mim que pertence o poder legislativo, sem dependência e sem partilha; é somente por minha autoridade que os funcionários dos meus tribunais procedem, não à formação, mas ao registro, à publicação, à execução da lei, e que lhes é permitido advertir-me o que é o dever de todos os úteis conselheiros; toda ordem pública emana de mim, e os direitos e interesses da nação, de que se pretende ousar fazer um corpo separado do Monarca, estão necessáriamente unidos com os meus e repousam inteiramente nas minhas mãos. Luís XIV, citado por Marques, Berutti e Faria. História moderna através dos textos. Cultura na época do absolutismo Na final do século XVI e início do XVII, a Europa passava por uma crise econômica e social. Essa instabilidade foi provocada, entre outros fatores, pela reforma católica, a qual influenciou a cultura barroca. A época do barroco (XVI/XVII) expressa as agitações econômicas, religiosas e sociais. A produção cultural barroca não contemplou apenas a nobreza, mas também alcançou o público em geral. A arte barroca buscava o sobrenatural e o maravilhoso. O surgimento do barroco ocorreu na Itália. Porém, a arte barroco floresceu em demais regiões da Europa. O pintor Caravaggio ( ) foi um dos expressivos artistas da época. Ele empregou em suas obras o contraste dramático de luz e sombra, característica que se tornou referência no Barroco na Europa. Na Espanha a cultura barroca foi caracterizada pelo nacionalismo, realismo e fé religiosa. Nesse país se destacou Velásquez ( ). Já na França, no governo de Luís XIV, o barroco ganhou muita consistência. Os artistas barroco se transformaram em funcionários públicos. As principais figuras do barroco francês foram Racine (teatro e história), Molière (teatro), Lê Brun (artes plásticas). Nos Países Baixos, os destaques da arte barroca foram Rubens ( ) que pintou vários quadros visando exaltar a religiosidade católica; Gianlorenzo Bernini ( ) foi pintor, escultor e arquiteto; Frans Hals procurou em suas obras retratar o cotidiano da burguesia holandesa. A difusão da música barroca foi mais intensa do que a renascentista. A produção musical barroca é marcada por muita alegria e espiritualidade. Os mais importantes compositores dessa fase foram Antônio Vivaldi ( ) e o alemão Johan Sebastian Bach ( ). A mais famosa obra de Vivaldi foi de As quatro estações. Já Bach, considerado como um dos mais brilhantes compositores de todas as épocas, compôs mais de 200 cantatas, entre elas Paixão segundo Mateus. Além disso, criou peças orquestrais, como os Concertos de Brandenburgo.

270 TEXTO COMPLEMENTAR Conselho de Maquiavel: melhor ser temido que amado Daqui nasce um dilema: é melhor ser amado que temido, ou o inverso? Respondo que seria preferível ser ambas as coisas, mas, como é muito difícil conciliá-las, pareceme muito mais seguro ser temido que amado, se só se puder escolher uma delas. Há uma coisa que se pode dizer, de uma maneira geral, de todos os homens: que são ingratos, mutáveis, dissimulados, inimigos do perigo, ávidos de ganhar: Enquanto lhes faz bem, são teus, oferecem-te o seu sangue, os seus bens, a sua vida e os seus filhos (...) porque a necessidade é futura; mas, quando ela se aproxima, furtam-se, e o príncipe que se baseou somente nas suas palavras encontra-se despojado de outros preparativos, esta perdido. As amizades que se conquistam com dinheiro, e não pelo coração nobre e altivo, fazem sentir os seus efeitos mas são como se não os tivéssemos, pois de nada nos servem quando delas precisamos. Os homens hesitam menos em prejudicar um homem que se torna amado do que outro que se torna temido, pois o amor mantém-se por um laço de obrigações que, em virtude de os homens serem maus, quebra-se quando surge a ocasião de melhor proveito. Mas o medo mantém-se por temor de um castigo que nunca nos abandona. Contudo, o príncipe deve fazer-se temer de tal modo que, se não conseguir amizade, possa pelo menos fugir das inimizades, visto haver a possibilidade de ser temido e não ser odiado, ao mesmo tempo. Isto sucederá, sempre, se ele se abstiver de se apoderar dos bens e riquezas dos seus cidadãos e súditos e também das suas mulheres. E quando for obrigado a proceder contra o sangue de alguém, não deve agir sem justificação conveniente nem causa manifesta. Acima de tudo, convém que se abstenha de tocar nos bens de outras pessoas, porque os homens esquecem mais depressa a morte do pai do que a perda do seu patrimônio. Maquiavel, Nicolau. O príncipe. Analisando o Texto A teoria de Maquiavel segue os princípios racionalistas, fazendo reflexão sobre o Estado e a política. Suas concepções tornaram-se alicerces da ciência política contemporânea. Nesse sentido, quais as principais ideias contidas no texto acima que expressam os princípios maquiavélicos? Por quê? Justifique.

271 FAZENDO HISTÓRIA 1. Descreva os principais elementos que contribuíram para a formação das monarquias nacionais em Portugal, na Espanha, na França e na Inglaterra. 2. Analise a relação de interesses estabelecidas entre o rei e a burguesia na montagem do Estado Moderno. 3. Em sua opinião, as ideias de Maquiavel podem ser aplicadas na vida política do mundo atual? Por quê? Justifique. 4. Explique a expressão O homem é o lobo do homem do teórico absolutista Thomas Hobbes. 5. Escreva um pequeno texto abordando sobre o barroco europeu e suas relações com o absolutismo monárquico. 6. Leia, abaixo, o bilhete escrito pelo monarca absolutista Luís XIV aos Representantes de Paris: É somente na minha pessoa que reside o poder soberano. É somente de mim que os meus tribunais recebem sua existência e a sua autoridade; a plenitude desta autoridade, que eles não exercem senão em meu nome, permanece sempre em mim, e o seu uso nunca pode ser contra mim voltado; é unicamente a mim que pertence o poder legislativo, sem dependência e sem partilha (...) Luís XIV, citado por Marques, Berutti e Faria. História. História moderna através dos textos. Após a leitura, aponte as principais ideias deixadas bem claras por Luís XIV? Elas definem as características de um regime absolutista? Por quê? Justifique. 7. (Unicamp-SP) Sobre o governo dos príncipes, Nicolau Maquiavel, um pensador italiano do século XVI, afirmou: O príncipe não precisa ser piedoso, fiel, humano, íntegro e religioso, bastando que aparente possuir tais qualidades. (...) Um príncipe não pode observar todas as coisas a que são obrigados os homens considerados bons, sendo frequentemente forçado, para manter o governo, a agir contra a caridade, a fé, a humanidade, a religião (...). O príncipe não deve se desviar do bem, se possível, mas deve estar pronto a fazer o mal, se necessário. (Adaptado de MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe.(Os Pensadores). São Paulo, Nova Cultural, p )

272 A partir do texto, responda: a) Qual o maior dever do príncipe? b) Como o príncipe deveria governar para ter êxito? c) De que maneira as ideias de Maquiavel se opunham à moral cristã medieval? 8. (UFSCar) Nicolau Maquiavel, autor de O Príncipe, refletindo sobre as razões do sucesso ou do fracasso político dos governantes, escreveu: (...) restringindo-se aos casos particulares, digo que se vê hoje o sucesso de um príncipe e amanhã a sua ruína, sem ter havido mudança na sua natureza, nem em algumas de suas qualidades. Creio que a razão disso (...) é que, quando um príncipe se apoia totalmente na fortuna, arruína-se segundo as variações daquela. Também julgo feliz aquele que combina o seu modo de proceder com as particularidades dos tempos, e infeliz o que faz discordar dos tempos a sua maneira de proceder. O Príncipe. Trad. De Lívio Xavier. São Paulo: Abril Cultural, 1973, p. 10. a) Em que período histórico-cultural Maquiavel viveu e, portanto escreveu suas obras? b) Defina a noção maquiavélica de Fortuna e explicite como o autor entende os motivos do fracasso ou do sucesso dos governantes. 9. (Unicamp) Todo o poder vem de Deus. Os governantes, pois, agem como ministros de Deus e seus representantes na Terra. Consequentemente, o trono real não é o trono de um homem, mas o trono do próprio Deus. Bossuet, Jacques. Política tirada das palavras da Sagrada Escritura, (...) que seja prefixado à Constituição uma declaração de que todo o poder é originalmente concedido ao povo e, consequentemente, emanou do povo. Emenda Constitucional proposta por Madison em 8 de junho de a) Explique a concepção de Estado em cada um dos textos. b) Qual a relação entre o indivíduo e Estado em cada um dos textos? 10.(FUVEST) A partir da Idade Moderna observa-se, em países da Europa ocidental, um progressivo fortalecimento das monarquias nacionais. Descreva as principais características políticas e econômicas desse processo entre os séculos XVI e XVII.

273 QUESTÕES DE VESTIBULARES 1. (UEAP) A organização dos Estados Nacionais, entre os séculos XV e XVIII, foi desencadeada por diversos acontecimentos importantes, que fizeram parte do contexto histórico europeu na transição do sistema feudal para uma sociedade de ordem burguesa. (MOTA, Mirian B.; BRAICK, Patrícia R. História: das cavernas ao Terceiro Milênio. São Paulo: Moderna, 2002, p.122). Leia as assertivas a seguir e, com base no texto e em seus conhecimentos sobre o contexto histórico que tornou possível a constituição dos Estados Nacionais, marque a alternativa correta. I. No final da Idade Média os reis procuram concentrar o poder político em suas mãos, processo esse que se desenrolou de forma tranqüila, pois foram pontuais os embates e guerras entre os senhores feudais e os reis. II. Com a expansão comercial e urbana a partir do século XI, surge um novo grupo social, a burguesia, que, devido a interesses opostos aos da nobreza, apóia financeiramente os reis no processo de centralização do poder. III. O renascimento comercial e urbano e a crise do feudalismo fortaleceram a centralização do poder nas mãos dos reis, fazendo com que, aos poucos, a organização política feudal cedesse lugar às monarquias nacionais. IV. No processo de centralização do poder, os reis se utilizaram de milícias urbanas, sem, no entanto, chegarem a criar exércitos nacionais permanentes. a) Apenas I e II estão corretas. b) Apenas I e III estão corretas. c) Apenas II e III estão corretas. d) Apenas II e IV estão corretas. e) Apenas III e IV estão corretas. 2. (UFG) Leia o texto a seguir. As monarquias absolutas introduziram os exércitos regulares, uma burocracia permanente, o sistema tributário nacional, a codificação do direito e os primórdios de um comércio unificado. Todas essas características parecem ser eminentemente capitalistas. ANDERSON, Perry. Linhagens do estado absolutista. São Paulo: Brasiliense, p. 17. Neste sentido, as monarquias absolutistas refletem a) o equilíbrio crescente de forças entre nobreza e burguesia. b) a ampliação do poder da nobreza, temerosa em relação à burguesia. c) o enfraquecimento da figura do rei e, consequentemente, da nobreza. d) a necessidade de reformas políticas, tendo em vista as pressões sociais. e) a vulnerabilidade dos grupos burgueses no decorrer da modernidade. 3. (UFPB) O absolutismo foi o regime político genuíno dos tempos modernos. Entre os seus teóricos, destaca-se Thomas Hobbes, autor de O Leviatã. A sua concepção de poder pode ser assim resumida: a) Todas as atividades destinadas ao benefício do Estado são legítimas, uma vez que os fins justificam os meios. b) A política e a moral não se separam, pois o bem do Estado está ligado ao bem do indivíduo. c) O melhor Estado é o democrático, entendido como um contrato entre o soberano e seus súditos. d) A monarquia hereditária é o melhor governo, pois tem origem divina, é mais natural e se perpetua por si mesma. e) O poder do Estado soberano é ilimitado, onde a lei, a propriedade e as doutrinas devem ser rigidamente por ele controladas. 4. (COVEST) Muitos pensadores renascentistas formularam princípios que combatiam o autoritarismo político e viam a possibilidade de se construir uma sociedade mais justa e tolerante. Outros, como Maquiavel, inspiraram o absolutismo. Este pensador:

274 a) destacava que o conflito de interesses marca a sociedade humana, defendendo, assim, a centralização política. b) apesar do seu pessimismo, defendia princípios democráticos e a ética na política. c) tinha idéias parecidas com as de Erasmo, autor do Elogio da Loucura. d) estabeleceu uma forte relação com o pensamento político de Aristóteles. e) firmou-se como um dos principais pensadores utopistas da época renascentista. 5. (COVEST) As teorias de Maquiavel e Hobbes foram fundamentais para o estabelecimento do absolutismo, a consolidação do Estado Moderno e para mudanças nas relações políticas da Europa. Entre as idéias básicas de Hobbes, podemos destacar: a) a necessidade de educar o ser humano, para que ele retomasse sua boa relação com a natureza e transformasse a vida social da sua época. b) a crença na capacidade de se estabelecer relações harmoniosas entre os povos, desenvolvendo-se o comércio e os negócios públicos. c) a crítica feita ao Cristianismo e sua insistência em derrotar o poderio da Igreja e das religiões, que, segundo ele, eram as únicas responsáveis pela hipocrisia social. d) a preocupação com a centralização do poder político, fundamental para a posterior consolidação do Estado Moderno. e) a preocupação com a política, que não impediu a produção de obras literárias importantes para sua época dentro de uma perspectiva artística. 6. (UPE) Os principais aparelhos do Estado Nacional, na sua fase de formação e consolidação, foram a(o): a) patrística e a teocracia. b) feudalismo e a suserania. c) universalismo do papado e a ética paternalista. d) Lei de Talião e a escatologia. e) burocracia e o exército. 7. (UNIFAL) Nada havendo de maior sobre a terra, depois de Deus, que os príncipes soberanos, e sendo por Ele estabelecidos como seus representantes para governarem os outros homens, é necessário lembrar-se de sua qualidade, a fim de respeitar-lhes e reverenciar-lhes a majestade com toda a obediência, a fim de sentir e falar deles com toda a honra, pois quem despreza seu príncipe soberano, despreza a Deus, de Quem ele é a imagem na terra." (BODIN, Jean. "A República". IN: CHEVALIER, Jean-Jacques. As grandes obras políticas de Maquiavel aos nossos dias. Rio de Janeiro: Livraria Agir Editora, p. 58.) Com base nos conhecimentos sobre o absolutismo e a partir do texto de Jean Bodin, é correto afirmar: a) O monarca absolutista tinha plenos poderes e as ações não eram limitadas por qualquer espécie de lei e sua forma de governo era considerada despótica. b) Ao chefe de estado era proibido fazer leis com validade em todo o país, decretar a guerra e a paz, criar cargos públicos, condenar ou perdoar os réus, cunhar moedas, estabelecer ou suspender impostos. c) Para os teóricos do absolutismo, o governo monárquico era a forma mais eficaz de soberania, pois dispunha da unidade régia e de autoridade divina. d) Segundo a teoria do direito divino, a Igreja Católica estaria destituída de qualquer prerrogativa na administração dos sacramentos, que passam a ser incumbência do príncipe soberano. e) De acordo com a teoria do direito divino, o governante deve assumir uma postura aberta ao diálogo e argumentações das camadas sociais mais necessitadas. 8. (CETAP) Diversos pensadores desenvolveram filosofias que justificavam o poder absoluto dos reis. Dentre eles, temos Jacques Bossuet, teórico francês que afirmava que: a) o homem é o lobo do homem, a sociedade civil precisa se organizar politicamente em torno de um rei para sair do estado de natureza, que para ele é o caos, desordem e convulsão social. b) o rei é de importância vital para a sociedade, pois só um governo forte e capacitado é capaz de instituir limites necessários a uma boa convivência social. c) sem rei haveria uma guerra de todos contra todos, por isso a importância da existência do rei na sociedade, pois somente ele, com poderes absolutos, é capaz de colocar limites nas ações desordenadas do povo.

275 d) todo poder emana de Deus e os reis são seus representantes na terra, sendo assim, o trono real é o trono de Deus, não podendo seus atos serem questionados pelos homens. e) um rei deveria ser virtuoso, pois ele era o representante divino, mas ao mesmo tempo ousado para tomar decisões políticas, dentre elas, a guerra, que deveria se constituir em um bem para seu povo. 9. (VUNESP) O fim último, causa final e desígnio dos homens (...), ao introduzir aquela restrição sobre si mesmos sob a qual os vemos viver nos Estados, é o cuidado com sua própria conservação e com uma vida mais satisfeita. Quer dizer, o desejo de sair daquela mísera condição de guerra que é a consequência necessária (...) das paixões naturais dos homens, quando não há um poder visível capaz de os manter em respeito, forçandoos, por medo do castigo, ao cumprimento de seus pactos (...). (Thomas Hobbes. Leviatã, In: Os pensadores, 1983.) De acordo com o texto, a) os homens são bons por natureza, mas a sociedade instiga a disputa e a competição entre eles. b) as sociedades dependem de pactos internos de funcionamento que diferenciem os homens bons dos maus. c) os castigos permitem que as pessoas aprendam valores religiosos, necessários para sua convivência. d) as guerras são consequências dos interesses dos Estados, preocupados em expandir seus domínios territoriais. e) os Estados controlam os homens, permitindo sua sobrevivência e o convívio social entre eles. 10.(UFPI) Relativamente à história do absolutismo monárquico na Europa, analise os itens a seguir: I. O Estado nacional absolutista desenvolveu a formação e consolidação de uma burocracia estatal, de um exército nacional, bem como (para a elaboração e execução de políticas econômicas que viabilizassem o acúmulo de riquezas o mercantilismo) estratégias de ação fundamentais para sua implementação bemsucedida. II. Uma das estratégias de ação dos monarcas franceses, para consolidar a figura do Rei como governante absoluto, foi fortalecer a participação dos Nobres nas decisões políticas. III. O rompimento entre Henrique VIII e a Igreja Católica e a conseqüente fundação da Igreja Anglicana foram fundamentais para consolidar o absolutismo na Inglaterra. Em um só movimento, ele afastou a interferência do Papa nos assuntos internos da Inglaterra, apossou-se dos bens pertencentes à Igreja em seus domínios e passou a ter rígido controle sobre a hierarquia eclesiástica da nova Igreja. IV. Nicolau Maquiavel, no livro O Príncipe, defende a legitimidade de um Estado absolutista. O principal argumento do pensador italiano está fundamentado no princípio divino dos reis, ou seja, a autoridade dos reis era sagrada, de modo que se rebelar contra o Rei era rebelar-se contra Deus. Assinale a opção correta: a) São verdadeiros os itens I, II, III e IV. b) São verdadeiros os itens I e II. c) São verdadeiros os itens I e III. d) São verdadeiros os itens I, III e IV. e) São verdadeiros os itens I, II e III.

276 OLHARES HISTÓRICOS Livros As Grandes Obras Políticas de Maquiavel a Nossos Dias. CHEVALLIER, Jean-Jacques. 3. ed. Rio de Janeiro: Agir. O Antigo Regime e a Revolução. TOCQUEVILLE, Aléxis de. 2. ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília. Cinema Elizabeth Músicas Missas, oratórias e concertos de Johann Sebastian Bach ( ): Seis concertos de Brandenburgo e o oratório Paixão de São Mateus. Handel ( ), autor do clássico Messias. Sonatas e missas feitas para cravo de Domenico Scarlatti ( )

277 A expansão marítima europeia e as práticas mercantilistas As grandes navegações constituem um período marcado por grandes e surpreendentes aventuras, pois os europeus viajaram por locais até, então, jamais explorados. O imaginário e o medo do desconhecido foram marcas singulares dessas expedições. Desse modo, os tripulantes tinham que ter preparação técnica, espírito aventureiro e ousadia para enfrentar as várias lendas que, na época, falavam da existência de monstros marinhos e serpentes gigantescas. Essas fantasias que se relacionaram com a expansão ultramarina eram ainda influências do universo medieval que cercava o homem moderno. Mesmo possuindo coragem e ousadia, os navegantes temiam o incerto. Assim, o mito e a razão estavam presentes nas conquistas marítimas. Entretanto, o domínio de vários conhecimentos científicos (astronomia e cartografia) contribuiu para que os navegadores conseguissem superar as dificuldades, possibilitando, assim, suas diversas conquistas. A partir do século XV, as inovações técnicas possibilitaram a realização das grandes viagens marítimas. O avanço da cartografia, a invenção das caravelas, o aperfeiçoamento da bússola, do quadrante e do astrolábio foram essenciais para as realizações das perigosas expedições ultramarinas. O momento das descobertas foi também o momento das rupturas. Ao lado das invenções técnicas, que permitiam as aventuras dos navegantes, transformações nas estruturas materiais e mentais deram início ao que a filosofia e a história chamam de libertação do indivíduo, tirando-o do anonimato medieval: divinização do homem e humanização de Deus. Com o nascimento da ideia de indivíduo, surge um novo homem que se pretende autônomo. É essa autonomia que permite a construção, por meio da experiência, de uma nova ordem econômica e política que se contrapõe, no plano das ideias, ao caráter ideológico dominante. Vemos, na circunavegação, a criação do grande processo de circulação: surgimento do espírito capitalista, com a circulação da mercadoria e da moeda; ao mesmo tempo que o gosto do risco nas navegações se afirma, aparece o primeiro esforço para organizá-la racionalmente através de contrapontos de seguro, fundação das bolsas e dos grandes banco. NOVAES, Adauto. Experiência e destino. (org.). A descoberta do homem e do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, p Para compreender melhor as navegações europeias, torna-se fundamental analisá-la levando em consideração às influências do Renascimento (senso crítico e racionalismo), os interesses econômicos e a consolidação dos Estados Nacionais. Sob a perspectiva econômica, havia a necessidade de encontrar locais que pudessem fornecer mercadorias e metais preciosos, gerando, assim, condições favoráveis ao acúmulo de capitais entre os burgueses que eram as grandes patrocinadoras das expedições marítimas. Além disso, as monarquias desempenharam um papel fundamental no apoio e financiamento das viagens além mar. O sentido da expansão ultramarina para a modernidade A expansão marítima deve ser inserida no contexto das diversas transformações ocorridas na Europa Ocidental entre os séculos XV e XVI. As viagens marítimas ampliaram e provocaram a formação de novos horizontes nas mentalidades dos europeus. As grandes navegações assinalaram a europeização de boa parte do planeta, especialmente, do Novo Mundo, ou seja, a América. Segundo alguns historiadores, a Expansão Marítima provocou uma verdadeira revolução comercial. A partir de então, o Mar Mediterrâneo, que desde a antiguidade era o principal eixo econômico europeu, cedeu espaço para uma nova rota, a saber, o Oceano Atlântico. Através dessa realização, verifica-se uma internacionalização dos mercados ou até mesmo a fase inicial da globalização. A partir desse processo histórico, o comércio adquiriu um caráter dinâmico e diversificado, envolvendo vários continentes: Europa, África, Ásia e América.

278 Com a incorporação das novas rotas, as cidades italianas perderam o monopólio das especiarias. Os metais preciosos extraídos do continente americano foram rapidamente importados para a Europa, o que provocou uma elevação considerável nos preços no século XVI. No decorrer do século XVI, graças a exploração sistemática dos recursos minerais do eixo México-Peru-Potosí, houve um forte afluxo de metais preciosos na Europa. (...) É evidente que o ingresso no século XVI marca o início da expansão europeia pelo mundo afora. Os descobrimentos dos portugueses e dos espanhóis, seja qual for o significado que se dê a esse termo, projetam a Europa para fora de seu quadro continental e revolucionam os conhecimentos que os sábios europeus acreditavam ter sobre o globo desde a Antiguidade. Mas centrar-se na expansão ibérica é, mais uma vez, reproduzir uma história carregada de eurocentrismo, no sentido em que a história dos outros continentes só existiria em relação à que é construída pelos povos da Europa. Nessa toada, o México ou o Brasil só emergiriam à tona da História quando descobertos e conquistados pelos europeus. Se essa passagem de século tem hoje um sentido para nós, um sentido que talvez não tinha nos séculos anteriores, é porque vemos que aí é que surgem as primícias da globalização. E essa globalização é mais que um processo de expansão de origem ibérica, mesmo se o papel da península foi dominante. A globalização que se esboça entre o fim do século XV e o início do século XVI corresponde a um fenômeno global de desencravamento (...) Inconscientemente, Colombo, realiza, assim, o desencravamento de uma América isolada do resto do mundo a milênios, ao passo que Vasco da Gama faz da áfrica o elo que une Portugal à Ásia." GRUZINSKI, Serge. A Passagem do Século: as origens da globalização. São Paulo: Companhia das Letras, p Os principais desdobramentos do expansionismo europeu foram a montagem do sistema colonial nas Américas que possibilitou a acumulação primitiva de capitais na Europa, o que acelerou ainda mais a passagem do feudalismo para o capitalismo. Além dessas ressonâncias econômicas, é importante destacar que a as grandes navegações contribuiu decisivamente para o fortalecimento do Estado Moderno, além de intensificar o tráfico negreiro da África para a América e o extermínio de diversos povos, culturas e etnias do continente americano. A visão do paraíso As viagens marítimas europeias enfrentaram uma série de dificuldades. Os principais problemas, inicialmente vivenciados, foram as precárias embarcações, a escassez de eficientes instrumentos náuticos para a navegação em mar aberto e o desconhecimento de oceanos e continentes, tais como a América. Até o século XV, o mundo europeu tinha como centro o Mar Mediterrâneo, o qual era utilizado como percurso para buscar especiarias no oriente. Nem mesmo o desenvolvimento das técnicas na época (o aperfeiçoamento do uso da bússola, do quadrante, do astrolábio e da cartografia) e a elaboração de instrumentos (a luneta inventada por Galileu e o relógio mecânico) foram suficientes para garantir o sucesso das viagens marítimas. Mesmo com todos esses avanços, as expedições marítimas eram revestidas de dúvidas e incertezas. Na época, havia a crença de que a terra era uma superfície plana em forma de disco. Assim, quem avançasse até seus extremos, poderia cair num grande abismo. Além disso, diversas lendas de influências religiosas, contribuíram para a construção do imaginário europeu em relação às terras, até então, desconhecidas. Nesse sentido, criaram-se a ideia da existência do Jardim do Éden (o paraíso). Essa criação divina estava perdida nas terras distantes e misteriosas. Ao chegar à América, em 1492, Cristóvão Colombo havia acreditado que tinha achado o tal paraíso. Entretanto, um dos mitos mais divulgados era a do Eldorado, uma região onde quase tudo era feito de ouro. Ao conquistar os astecas e os maias, os espanhóis chegaram a acreditar na descoberta do Eldorado devido a grande quantidade de ouro e prata nas regiões habitadas por essas civilizações.

279 (...) fizera-se fazer um belíssimo jardim, com todos os frutos e árvores que soubera encontrar e, ao redor daqueles, diversos e vários palácios e casas, adornados com trabalhos de ouro, pinturas, e equipados com tecidos de seda. Ali, por algumas canaletas que desembocavam em diversas partes desses palácios, se via correr vinho, leite e mel e água claríssima e ali se fizera morar donzelas graciosas e belas, que sabiam cantar e tocar qualquer instrumento e dançar e, sobretudo, treinadas em fazer aos homens todas as carícias e agrados que se possam imaginar. POLO, Marco. Livro das maravilhas; Porto Alegre: L&PM, As viagens marítimas foram fundamentais para a ampliação de novos conhecimentos. A partir dessas expedições, os europeus acumularam diversos saberes e experiências, modificando a concepção e entendimento de si mesmo e da realidade que o cercava. As grandes navegações foram impulsionadas por uma série de fatores econômicos e políticos. O desenvolvimento das atividades mercantis, no século XV, gerou a necessidade da busca de novos mercados consumidores, além de matérias-primas e de metais preciosos (ouro, prata). Essas carências foram ampliadas com o aumento dos preços das mercadorias, uma vez que as repúblicas italianas, com destaque para Gênova e Veneza, (detentoras do monopólio das especiarias no Mar Mediterrâneo) passaram a cobrar altos impostos sobre os produtos vindos do oriente, tais como noz-moscada, pimenta-do-reino e seda. Outro fator que temos que considerar foi a conquista de Constantinopla pelos turcos otomanos, que dificultou ainda mais a rota para o Oriente. Nessa perspectiva, os europeus se sentiam cada vez mais necessitados de encontrar novas rotas comerciais com a finalidade obter metais preciosos, romper o monopólio comercial das cidades italianas e também dos árabes. Desse modo, Portugal e Espanha, seguidos por Inglaterra, França e Holanda foram os primeiros países que se lançaram na grande aventura marítima. O objetivo em comum desses países era redimensionar as atividades e as rotas comerciais. A montagem da Monarquia portuguesa A formação do Estado Português está relacionada aos constantes combates contra os árabes que ocuparam a Península Ibérica no século VIII. A Guerra de Reconquista, como ficou conhecida a luta contra os mouros, contribuiu para a expansão do cristianismo e para a centralização política portuguesa. A monarquia portuguesa foi fundada, em 1139, por D. Afonso Henriques. Ele deu início a dinastia de Borgonha, que permanece no poder até Nesse período, os portugueses lutaram intensamente com a finalidade de consolidar sua emancipação política. A existência da figura do rei foi essencial na organização e na coordenação geral nos enfrentamentos contra os muçulmanos. Dessa maneira, a precoce centralização política e administrativa contribuiu para a consolidação do reino de Portugal e para o fortalecimento da autoridade do monarca. Vale salientar, que enquanto Portugal possuía um governo centralizado, outras regiões da Europa apresentavam ainda estruturas políticas tipicamente feudais. Outro fator importante para o pioneirismo português foi a sua localização geográfica. Sua posição facilitou o interesse pelas navegações, uma vez que os lucros obtidos com a pesca, deu condições para que os portugueses pudessem se planejar e organizar futuramente viagens em busca de novas rotas. Essas condições contribuíram para os projetos marítimos portugueses, pois boa parte das regiões europeia enfrentava muitas dificuldades, tais como: a escassez de mão-de-obra, a baixa geral nos preços dos produtos, as insurreições camponesas, as revoltas urbanas, a fome, as epidemias e as constantes guerras. Nesse cenário, algumas cidades do litoral de Portugal, especialmente Lisboa, passaram a ponto de referência entre o sul e o norte da Europa. A partir desse momento, há a consolidação de um grupo de comerciantes portugueses, os quais estão vinculados com às atividades marítimo-comerciais e também visam acabar com a monopolização italiana sobre o comércio das especiarias. Isso porque entre as fontes produtoras dos produtos orientais e os comerciantes de Portugal, havia quase 12 intermediários, sendo que um deles reajustava o valor que se aproximava de 100%. Nessa perspectiva, o fortalecimento dos comerciantes portugueses constitui um dos fatores do pioneirismo português no processo da Expansão ultramarina.

280 A Revolução de Avis e a busca de novas rotas A chegada ao poder do rei D. João I ( ), ao trono português, deu início à dinastia Avis. Nesse momento, entra em cena um grupo de ricos burgueses, em busca de poder e riqueza. Devido aos altos lucros obtidos pelos bem-sucedidos investimentos nas navegações e no comércio, a burguesia mercantil passou a apoiar financeiramente o monarca na denominada Revolução de Avis ( ). O objetivo desses mercadores era garantir a permanência de seus lucros. A centralização política portuguesa se completa com a Revolução de Avis. No entanto, alguns historiadores discutem se esse movimento foi de fato um evento burguês. Porém, a participação da classe mercantil nesse acontecimento foi significativa. Após esse episódio, Portugal (ameaçado de ser anexado ao reino de Castela), consolidou-se como Estado monárquico centralizado que contava com a participação da burguesia e também dos fidalgos. A Revolução de Avis também simbolizou a vitória da burguesia mercantil que ao formar a parceria com o a monarquia tornou Portugal uma nação moderna e empreendedora. Além disso, Portugal se lança a grande aventura marítima pelo Oceano Atlântico, livrando a Europa da dependência do mar Mediterrâneo. Através das pioneiras viagens portuguesas, o comércio europeu encontrara uma nova rota para chegar às fontes de metais preciosos e mercadorias orientais. As Índias eram fornecedoras de produtos de grandes interesses para os europeus, a saber, as especiarias. Dessa forma, o reino português se torna um dos principais agentes da expansão marítima e comercial da Europa. Em 1419, o filho de D. João I, o infante D. Henrique organiza, na cidade de Sagres, um centro náutico, geográfico, astronômico e cartográfico, que passou a ser conhecida equivocadamente como a Escola de Sagres. Na verdade, não existiu em Sagres um complexo escolar, materialmente estruturado, o que houve ali foi o desenvolvimento e aperfeiçoamento de técnicas de navegação que recebeu fortes influências árabes através da incorporação de inovadores conhecimentos astronômicos e náuticos. De fato, a cidade de Sagres funcionava como uma espécie de centro de estudos de assuntos relacionados com as grandes navegações. As viagens e conquistas portuguesas Portugal inicia sua expansão marítima com a conquista da cidade marroquina de Ceuta, em Em seguida, os portugueses conquistaram a Ilha da Madeira (1425), o arquipélago de Açores (1427) e várias outras descobertas no decorrer do litoral atlântico africano. Assim, as explorações empreendidas, inicialmente, pela costa ocidental da África tinham como objetivo estabelecer contatos comerciais com centros produtores de ouro, comercializar escravos e também dá continuidade a Reconquista, pois havia a intenção de permanecer combatendo os muçulmanos e cristianizar as pessoas pagãs. A espada aliada à cruz e a fome iriam comandar as conquistas europeias, segundo o poeta chileno Pablo Neruda. A espada representava a força e a natureza militar da conquista. A cruz simbolizava a missão religiosa que procurava amenizar a violência, com a ideia de catequizar os infiéis, os não-cristãos. Os portugueses davam a suas conquistas o aspecto de uma nova cruzada. Era a forte presença da Igreja Católica, muito poderosa em Portugal e na Espanha, deixando sua marca na expansão marítima europeia. REZENDE, Antônio Paulo; DIDIER, Maria Thereza. Rumos da história: a construção da modernidade O Brasil e o mundo moderno, v.2. São Paulo: Atual, Em 1434, o explorador Gill Eanes, cruzou o Cabo Bojador, que, de acordo com as tradições da época, consistia no ponto máximo para se navegar sem correr o risco de ser devorado por um monstro marinho. No ano de 1440, as viagens ultramarinas adquiriram um forte aparato tecnológico com o aperfeiçoamento das caravelas, que ficaram mais manejáveis e leves. Usando essa importante novidade, os portugueses alcançaram o arquipélago de Cabo Verde (1444).

281 Bartolomeu Dias e os seus marinheiros enfrentando uma tempestade. O navegador alcançou o extremo meridional da Costa Africana, No entanto, em 1460, as conquistas portuguesas são paralisadas após a morte de D. Henrique. A consolidação das áreas ocupadas se deu por intermédio da organização de inúmeras feitorias (entrepostos comerciais) e fortalezas, as quais garantiram a monopolização do comércio da região aos portugueses. Com o passar dos tempos, esses núcleos começaram a gerar lucros, pois, além de ocuparem posição comercial privilegiada, forneciam ouro, escravos e marfim. No reinado de D. João II ( ), o projeto expansionista ganhou um novo ritmo. Em 1482, Diogo Cão conseguiu chegar à foz do Rio Congo, conduzindo seus navios, nos três anos sucessivos, mais para o sul. Era o início dos preparativos da Coroa portuguesa em alcançar as Índias contornando o litoral da África (périplo africano). Entre 1487 e 1488, o navegador Bartolomeu Dias alcançou o extremo meridional da costa africana, chamado por ele de Cabo das Tormentas. Porém, o rei de Portugal ficou tão satisfeito, que rebatizou a região, passando a ser denominada de Cabo da Boa Esperança. Desse modo, a descoberta de Bartolomeu Dias deu abertura definitiva a um novo caminho com destino ao lucrativo e desejado comércio com as Índias. Em 1497, seguindo o mesmo percurso de Bartolomeu Dias, Vasco da Gama, escolhido pelo rei D. Manuel I, completou o périplo africano, passando por Moçambique e chegando, em 1498, em Calicute, na Índia. O sucesso da expedição de Vasco da Gama foi fundamental, pois possibilitou que os portugueses pudessem lutar pela hegemonia das especiarias orientais. Em 1500, com o objetivo de consolidar o domínio comercial nas Índias, a Coroa portuguesa organizou, até então, a maior e mais bem equipada expedição com 1300 tripulantes e treze navios. Essa poderosa esquadra foi comandada pelo capitãomor Pedro Álvares Cabral. Nobre e habilidoso navegador, Cabral era um destaque na corte portuguesa. No decorrer da viagem, algumas caravelas se afastaram do litoral africano, o que levou Cabral a aportar, no dia 22 de abril, na Ilha de Vera Cruz, primeiro nome dado ao Brasil. No dia 02 de maio, ele segue viagem até Calicute (Índia). Lá, após ter desembarcado, bombardeou a cidade e deu início ao domínio lusitano na região. Ao regressar à Portugal com a notícia de que conseguira ampliar as possessões portuguesas no Novo Mundo, Cabral recebeu diversas homenagens.

282 É importante lembrar, que a expedição liderada por Cabral não foi a última empreendida pelos portugueses. Em 1511, eles conquistaram Malaca, localizada no sudoeste asiático. Já em 1517, chegaram à China, onde, em 1555, através de um acordo estabelecido com o imperador chinês, dominaram a Ilha de Lampacao, que passou a ser denominada, em 1557, de Macau. Essa importante cidade se transformou num ponto estratégico usado pelos lusitanos como porta de entrada ao Império Chinês. Em 1543, os portugueses atracaram na Tanegashima, no Japão. Nessa região, mesmo existindo a figura de um imperador, na prática o poder era descentralizado, apresentando também aspectos políticos e sociais semelhantes aos vivenciados na Europa Ocidental Medieval. A sociedade japonesa era constituída por comunidades isoladas em si mesmas, ou seja, havia pouco contato com povos estrangeiros. Os portugueses não construíram nem um ponto estratégico de dominação no Japão. Porém, como a região era rica em prata, os comerciantes lusos obtiveram rentáveis negócios. As bem-sucedidas viagens marítimas empreendidas pelos portugueses ao Oriente possibilitou o surgimento da lucrativa Carreira da Índia. Essa viagem ocorria anualmente, saindo de Lisboa até a cidade Goa, na Índia. O objetivo dessa expedição era comercializar a pimenta-do-reino, que era o principal produto de exportação dos portugueses para os demais países do continente europeu. A cidade fortificada de Goa, consistia num ponto estratégico dominado diretamente pelos lusitanos. No final do século XVI, Goa já se tornara o centro de referência do comércio oriental, além de concentrar o maior número de portugueses fora do país. A presença nas várias regiões orientais e as influências étnico-culturais portuguesas levaram, alguns historiadores japoneses, a batizarem o fase compreendida entre 1540 e 1630 de século cristão. Com o domínio do comércio das especiarias, com as inúmeras conquistas coloniais e com um Estado centralizado, todos os fatores contribuíam para colocar Portugal numa posição de prestígio no cenário internacional. Entretanto, Portugal não soube aproveitar por muito tempo tais vantagens. Os fantásticos lucros adquiridos, aos poucos, foram diminuindo. O imenso império constituído era bastante dispendioso, gerando mais prejuízos do que ganhos. Nessa situação, a coroa portuguesa teve que pedir empréstimos e adotar, internamente, uma rígida política fiscal com o propósito de manter a administração de suas terras conquistadas. Para dificultar ainda mais, a enorme evasão populacional (gerada pela dedicação aos empreendimentos externos e marítimos), provocou uma drástica queda na produção agrícola. Dessa forma, países como Holanda e Inglaterra foram beneficiados ainda mais com as conquistas portuguesas, pois além de negociarem com produtos orientais na Europa também lucravam com a concessão de empréstimos bancários. Analisando a viagem de Cabral Cabral partiu para as Índias não só para continuar os contatos estabelecidos por Vasco da Gama, mas também com outros objetivos. Um deles era dar cobertura aos limites préestabelecidos pelo Tratado de Tordesilhas, acordo diplomático assinado com a Espanha, em 1494, que definia que as terras localizadas 370 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde pertenciam a Portugal. Dessa maneira, pelo tratado, maior parte do território brasileiro já estava anexada aos domínios lusitanos, portanto, um pouco antes da chegada de Cabral ao nosso solo, em 22 de abril de Outra questão polêmica seria se algum outro navegador português teria chegado à América antes de Cabral. Alguns documentos comprovam que antes da viagem de Cabral ao Brasil, houve duas viagens comandadas pelos navegadores espanhóis Vicente Pizón e Diego de Lepe, os quais percorreram o litoral brasileiro entre janeiro e março de No entanto, há algumas aberturas que geram polêmicas entre diversos historiadores. Uma teoria afirma que, em 1498, o explorador português Duarte Pacheco Pereira, enviado especial de D. Manuel I, teria desembarcado em terras brasileiras. Essa realização estaria registrada no livro Sobre os Mares do Mundo escrito por ele entre os 1505 e 1508.

283 (...) Portanto, bem aventurado Príncipe, temos sabido e visto como no terceiro ano de vosso reinado do ano de Nosso Senhor de 1498, donde nos Vossa Alteza mandou descobrir a parte ocidental, passando além da grandeza do mar oceano, onde é achada e navegada uma tão grande terra firme, com muitas ilhas adjacentes a ela, que se estende a 70 graus de ladeza da linha equinocial contra o Pólo Ártico e, posto que seja assaz fria, é grandemente povoada, e do mesmo círculo equinocial torna outra vez e vai além em 28 graus e meio de ladeza contra o Pólo Antártico e tanto se dilata sua grandeza e corre com muita longura, que de uma parte nem da outra não foi visto nem sabido o fim e cabo dela; (...) assim que temo sabido que das praias e costa do mar destes reinos de Portugal. (...) PEREIRA, Duarte Pacheco. As viagens de Cabral, Pinzón e Lepe, o verdadeiro descobridor do Brasil. Globo Ciência. São Paulo: Abril, As navegações espanholas No final do século XV, os espanhóis lançaram-se nas viagens marítimas. Assim, como Portugal, a localização geográfica da Espanha era favorável ao avanço ultramarinho. Além disso, vale ressaltar que a unidade política e a formação do Estado Nacional, alcançadas em 1492, foram essenciais para o desenvolvimento das atividades marítimas no Atlântico. Nesse mesmo ano, como prolongamento da guerra de Reconquista, a Espanha anexou o reino de Granada (último reduto árabe na Península Ibérica). Desse modo, a unificação dos reinos espanhóis sob a coordenação de Castela foi decisiva para as pretensões expansionista. Outro fator importante que podemos mencionar é que havia na Espanha um grupo de burgueses interessados em investir nos negócios relacionados às navegações e ao comércio oriental. O aspecto religioso também fundamentou o projeto expansionista espanhol. A questão da conversão, voluntária ou forçada, dos infiéis (todos que não pertenciam ao catolicismo), era interpretada como uma obrigação abençoada por Deus. Nessa perspectiva, em 1535, o cronista espanhol Oviedo exclamou: Que, duvida que a pólvora contra os infiéis é incenso para o Senhor?. Diante disso, as navegações espanholas devem ser compreendidas como uma confluência de interesses político, religiosos e econômicos. Os aperfeiçoamentos tecnológicos e os sucessos das viagens lusitanas influenciaram as expedições da Espanha. Porém, os espanhóis não contavam com uma equipe de técnicos (construtores de navios, geógrafos, navegadores, cartógrafos). Por isso, as experiências vivenciadas pelos italianos e os portugueses serviram como base para as grandes aventuras espanholas. Nessa perspectiva, em 1492, o navegador genovês, Cristóvão Colombo inicia o ousado empreendimento expansionista espanhol. Contratado pelos reis espanhóis Fernando e Isabel, Colombo desenvolveu um projeto utópico e arrojado para a época. Influenciado pelo espírito questionador dos intelectuais renascentistas, ele era um estudioso de viagens marítimas. Como conhecia a cartografia, Colombo acreditava que a Terra era redonda (tese rejeitada pela maioria dos europeus) e, portanto, poderia alcançar o Oriente navegando pelo Ocidente. Evidentemente, hoje, sabemos que ele tinha razão, mas ele não tinha conhecimento que entre a Ásia e a Europa existia um extenso continente, a América. Em 12 de outubro de 1492, as três embarcações (Santa Maria, Pinta e Nina) comandadas por Colombo aportou na ilha de Guanaani, rebatizada de São Salvador. Nessa mesma viagem, Colombo descobriu as ilhas de Cuba e São Domingos. Os primeiros contatos entre europeus e nativos, nesse momento, foram amistosos. Colombo pensava que havia chegado às Índias. Porém, estava num novo continente, bem distante das terras que pretendiam alcançar. Empolgado, retornou a Espanha, onde recebeu diversos títulos e honras, tais como Vice-Rei e Governador das Terras Firmes e Ilhas a Descobrir. Na segunda viagem feita ao solo americano, em 1493, montou uma expedição com cerca de 1500 homens que conseguiu tomar posse das terras e fundar a primeira cidade. A partir de então, Colombo começa a enfrentar os primeiros atritos com os colonizadores. Na terceira viagem, em 1498, descobriu a ilha de Trindade. Segundo alguns historiadores, a glória de Colombo foi rápida e instantânea. Após diversos fracassos em suas tentativas de explorar as terras recém-descobertas, chegou a ser preso em 1500, sendo solto em seguida. Com a morte de sua protetora, a rainha Isabela

284 da Espanha, em 1504, acabou se isolando. Em 1506, em Valadolid, Colombo morre. Até então ele rejeitava a ideia de que chegara à América, como defendia América Vespúcio em seu livro Mundus Novus, lançado em A propagação na Europa das informações de que a Espanha havia alcançado as Índias desencadeou uma intensa disputa entre portugueses e espanhóis. Isso porque desde 1415, os portugueses estavam se dedicando em seu empreendimento ultramarino e sentiam no direito de comercializar os produtos orientais. AS NAVEGAÇÕES E A PARTILHA DO MUNDO Nessa perspectiva, é compreensível a preocupação de Portugal, principalmente depois da proposta sugerida pelo papa Alexandre VI, 1493, que determinava a divisão das terras descobertas e a descobrir por intermédio de um meridiano que passava a 100 léguas a costa ocidental de Cabo Verde. Segundo a proposta do papa espanhol, tal acordo seria oficializado através da Bula Intercoetera, que, dessa forma, legitimava à Espanha todas as terras localizadas a oeste e ao governo português as terras situadas a leste desse meridiano. No entanto, Portugal não aceitou a proposta, pois temia que a sua rota para Oriente fosse prejudicada. Desse modo, em 1494, os dois países assinaram o Tratado de Tordesilhas que deslocava o meridiano para 370 léguas a oeste do Cabo Verde. O Tratado de Tordesilhas foi bastante favorável aos portugueses, porque garantiu o domínio sobre o Atlântico Sul, o controle sobre a rota oriental e a posse das terras que a Coroa portuguesa descobertas e a descobrir. Fernão de Magalhães e a viagem ao redor do mundo Em 1513, o navegador espanhol Vasco Nunez Balboa realizou um feito importante: cruzou o istmo do Panamá, alcançando o Pacífico. Assim, a Espanha começava a lucrar com as riquezas, como seus projetos marítimos, e com as riquezas advindas das colônias americanas. No entanto, foi o português Fernão de Magalhães que, em 1519, comandou uma expedição que realizou a primeira viagem circunavegação. Contornando a América do Sul(o estreito de Magalhães), passando pelo Pacífico, chegando a Índia e retornando à Espanha pelo Cabo da Boa Esperança. A duração dessa expedição foi de três anos. A frota inicial dessa viagem era de cinco navios, porém apenas um conseguiu terminar o trajeto. O próprio Fernão de Magalhães não conseguiu chegar até o fim, pois foi vítima de uma emboscada organizada pelos nativos nas Filipinas, em 1521.

285 Foi o navegador e escritor italiano Antonio Pigaffeta que completou o percurso dessa longa aventura, escrevendo um relato dessa pioneira viagem ao redor do mundo. Segundo esse documento, apenas dezoito dos 237 tripulantes conseguiram retornar à Espanha, aportando na cidade de Servilha, em 8 de setembro de A Europa pós-expansão marítima As expedições marítimas foram essenciais para que os europeus entrassem em contatos com outros costumes e culturas. Os mares e oceanos, que antes assustavam, são utilizados como meio para alcançar lucro e riquezas advindas dos negócios marítimos. Além disso, temos que mencionar o grande desenvolvimento na arte das navegações e a aquisição inovadores conhecimentos técnicos. A conquista da América inaugurou um amplo campo propício à constituição de mitologias envolvendo as relações entre a cultura europeia e os povos que habitavam o continente. O encontro de mundos distintos, com seus esquemas mentais e culturais inteiramente diferenciados, agravados pelo deslocamento de especialidades conhecidas e dominadas, impedia a reação desses povos entre si, tornando-os ausentes. As relações entre a história e o espaço (desconhecido dos europeus que chegavam e inimaginado pelos naturais sobre os que chegavam) sofreram uma interrupção promovendo novas formas de articulação entre o presente e o passado. IOKOI, Zilda Márcia Gricoli. América Latina: imagens, imaginação e imaginário. Rio de Janeiro: Expressão e cultura; São Paulo: Edusp, p.745. A Espanha formou o mais poderoso império, entre os séculos XVI e XVII. Esse destaque internacional foi alcançado graças a grande quantidade de ouro e prata extraída das colônias americanas. Entretanto, assim como os portugueses, os intensos gastos estatais e a ostentação da coroa provocaram uma forte recessão no poderoso império espanhol. Nessa perspectiva, outros países entram nas aventuras marítimas à procura de riquezas. Nesse cenário, entram os franceses, ingleses e holandeses que desejavam também participarem da partilha do Novo Mundo. Porém, eles não obtiveram grandes êxitos marítimos, se compararmos com a Espanha e Portugal, mesmo assim, acumularam muita riqueza. Enfim, as conquistas europeias foram importantes, pois lançaram os alicerces do sistema capitalista moderno. As navegações de outros países europeus Os franceses lançaram-se as viagens marítimas a partir do século XV. Com o intuito de descobrir uma passagem para o Pacífico através do Atlântico, Juan Verazzano e Jacques Cartier comandaram as primeiras expedições. O primeiro até a Nova Inglaterra, em Enquanto que o segundo viajou ao Canadá, em Porém, ambas as viagens fracassaram, o que levou Verazzano e Cartir a se dedicarem à pirataria, principal-mente no Brasil (Maranhão e Rio de Janeiro). Posteriormente, os franceses se preocuparam em formar as colônias da América do Norte. Assim, como os franceses, os ingleses eram excelentes piratas e contrabandistas. Vários navios que cruzavam as costas do Atlântico eram saqueados e roubados pelos famosos corsários ingleses. Por conseguir grandes tesouros para a coroa, Francis Drake se transformou em um dos principais corsários da Inglaterra. Ele comandou uma viagem com sucesso uma viagem ao redor do mundo, em Percorrendo todo o litoral sulamericano, cruzando a costa ocidental da América Central e da América do Norte, Drake seguiu para Austrália em É importante lembrar, que os ingleses procuravam uma passagem para o continente asiático pelo extremo norte da América e do Mar Norte. Em 1553, Richard Chancellor tentou, mas fracassou.

286 O tráfico de escravos (da África para a América) também gerou significativos lucros para os ingleses. Segundo alguns historiadores, essa atividade foi essencial para o desenvolvimento da economia inglesa. A partir do século XVII, a Inglaterra inicia seu projeto de colonização da região que atualmente pertence aos Estados Unidos. A entrada tardia da França e da Inglaterra na corrida marítima pode ser justificada pelas dificuldades provocadas pela Guerra de Cem Anos ( ). Como já analisamos, a unidade político-administrativa constituía um dos pontos básicos para os ousados projetos expansionistas, como foi o caso dos países ibéricos, pioneiros nos empreendimentos marítimos. Assim, quando a França e a Inglaterra solucionaram os problemas políticos, puderam entrar nas grandes aventuras ultramarinas. Os holandeses organizaram algumas expedições pelo Mar do Norte e de Barents sem muito êxito. Na época, a Holanda se destacava como revendedora e produtora de mercadorias no comércio e no continente europeu. No século XVI, os holandeses eram subordinados, politicamente, ao Império Espanhol. Mesmo com esses problemas políticos, os holandeses eram exímios comerciantes e financistas, como foi o caso, por exemplo, do financiamento da produção açucareira no Brasil, sendo responsável pelo seu refinamento e posterior distribuição na Europa. Além de investir na indústria manufatureira de açúcar, a partir da segunda metade do século XVI, a Holanda se dedica ao lucrativo empreendimento, a saber, o tráfico de escravos africanos para América. Desse modo, as viagens marítimas consolidaram a hegemonia dos países europeus sob o resto do mundo. Além disso, o projeto ultramarino desenvolveu o comércio e as atividades financeiras, ampliando as rotas para Oriente, quebrando, dessa forma, o monopólio das navegações no Mediterrâneo. A expansão marítima beneficiou a burguesia, que, a partir de então, afirma-se como um poderoso segmento social além de fortalecer os Estados Nacionais, deixando-o mais forte e centralizado. O mercantilismo No decorrer da expansão marítimo-comercial dos séculos XV e XVI os Estados Modernos europeus colocaram em prática uma série de ações econômicas que visavam ao desenvolvimento das atividades manufatureiras, cujos resultados financeiros contribuíram para o enriquecimento da burguesia e o fortalecimento do poder dos monarcas. Desse modo, os países objetivavam acumular muitos metais preciosos (ouro, prata). Boa parte dos lucros era obtida através da exploração colonial. É importante enfatizar que o termo mercantilismo não foi empregado, na época, por nenhum de seus defensores. Nem mesmo seus mais fervorosos intelectuais, como Jean- Baptiste Colbert (França) e Thomas Mun (Inglaterra), usaram tal nomenclatura. Irônicamente, o escocês Adam Smith, em seu livro A Riqueza das Nações (1776), tornou-se o principal divulgador do termo mercantilismo. Smith, integrante da Escola Clássica, era defen-sor do capitalismo liberal. Portanto, o mercantilismo não pode classificado como um siste-ma econômico. Ele consiste num conjunto de ideias e prática econômicas usadas pelos comerciantes e governantes europeus entre os séculos XV e XVIII. O mercantilismo variou bastante de acordo com as realidades políticas e econômicas dos países europeus. As práticas econômicas eram controladas diretamente pelo Estado. Ele definia as prioridades, concedia os monopólios, estabelecia as taxas alfandegárias protecionistas, incentivava a construção naval e também atuava ativamente na formação e administração do sistema colonial. Assim, o mercantilismo, deve ser entendido como uma série de ideias e práticas econômicas que fortaleceu os Estados Modernos, a burguesia mercantil, as conquistas marítimas e o sistema de colonização.

287 Quadro de Claude Lorrain que representa um porto de mar francês de 1638, no momento fundamental do mercantilismo. A prática mercantilista variou de Estado para Estado, além de suas modificações ao longo dos séculos, mesmo assim, podemos traçar os pontos comuns do mercantilismo: Intervencionismo estatal: consistia na regulamentação do mercado interno, dos monopólios comerciais e das atividades internacionais. O objetivo dessa prática era fortalecer o Estado e a burguesia. Dessa forma, os governantes tinham condições necessárias para equipar melhor seus respectivos exércitos e aperfeiçoar sua política fiscal. Também cabia ao Estado fazer concessões de monopólios, as quais eram favoráveis aos burgueses. Metalismo ou bulionismo: Na época, a riqueza de um país era avaliada pela quantidade de metais preciosos (metalismo) acumulados. Desse modo, o acúmulo de ouro e prata era essencial para o enriquecimento dos Estados Nacionais. Entretanto, o metalismo foi bastante criticado no século XVII, pois a grande quantidade de metais reservados(denominado na Espanha de bulionismo) pela Espanha, no século anterior, impulsionou a elevação geral dos preços e das importações dos produtos manufaturados, o que resultou no escoamento dos metais para fora do país. O caso espanhol comprovou que não bastava apenas acumular metais preciosos, era necessário criar condições para deixar a balança comercial em superávit, ou seja, as exportações (venda) deveriam ser superiores as importações (compra). Balança comercial favorável: os países deveriam exportar mais do que importar. Outra alternativa seria o aumento do valor das mercadorias em relação ao preço de compra. Assim, para ocorresse uma balança comercial favorável era fundamental garantir o desenvolvimento dos mercados externos (vender mais produtos) e preservar a economia interna (diminuir as importações). Essa estratégia dificultava a saída dos metais preciosos, aumentando seu estoque com a elevação das exportações.

288 a única maneira de fazer com que muito ouro seja trazido de outros reinos para o tesouro real é conseguir que grande quantidade de nossos produtos seja levada anualmente além dos mares, e menor quantidade de seus produtos seja para cá transportada. Trecho de documento da corte inglesa, Política para tornar o reino de Inglaterra próspero, rico e poderoso. Monopólio: Boa parte dos Estados Nacionais Modernos praticava o monopólio, como a finalidade de garantir o controle das atividades comerciais no país. Normalmente, os monarcas entregavam as concessões aos grupos de burgueses em troca da contribuição tributária e pagamentos pelo direito da exclusividade dos empreendimentos mercantis. Exploração colonial ou colonialismo: As colônias desempenhavam uma função primordial no mercantilismo, ou seja, elas asseguravam à metrópole a monopolização comercial, forneciam matérias-primas, produtos tropicais, metais preciosos (ouro, prata) e por fim, também eram usadas como mercado consumidor. Nessa perspectiva, a colonização foi o eixo de desenvolvimento principal para as metrópoles, uma vez que as colônias possuíam elementos econômicos essenciais para o enriquecimento os Estados europeus. A exploração do Novo Mundo foi decisiva para a sistematização do mercantilismo. (o mercantilismo)... reagrupa comodamente uma série de atos e de atitudes, de projetos, de ideias, de experiências que marcam, entre o século XV e o século XVIII, a primeira afirmação do Estado moderno em relação aos problemas concretos que ele tinha que enfrentar. Fernand Braudel Pacto colonial: Os Estados que aderiram ao colonialismo tiveram que encontrar meios para integrar as imensas áreas territoriais africanas, orientais e americanas ao mercado europeu. Com essa finalidade foi implantado o pacto colonial. O pacto ou exclusivismo colonial estabelecia que as regiões colonizadas existem em função das metrópoles, ou seja, as colônias servem apenas, apara atender as necessidades econômicas das Coroas metropolitanas(controladores das importações e exportações). Desse modo, toda produção colonial deveria propiciar o enriquecimento dos comerciantes e das Metrópoles. As atividades econômicas desenvolvidas nas colônias eram bastante restritas, pois a produção colonial deveria ser um simples complemento da economia de suas respectivas metrópoles. Era terminantemente proibido qualquer tipo de concorrência entre colônia e metrópole. Protecionismo: pretendendo proteger seus mercados internos, os países aumentavam as tarifas alfandegárias, assim, atingiam-se os seguintes objetivos: o encarecimento dos produtos importados que refletia diretamente numa maior procura pelos produtos nacionais. A postura protecionista também incluía o impedimento da entrada de alguns produtos, o que também estimulava o comércio interno e, consequentemente, aumentava a riqueza nacional. O mercantilismo nos países ibéricos Os monarcas da Espanha e de Portugal implantaram o metalismo ou bulionismo (palavra derivada do inglês bullion, que significa metal precioso). De acordo com essa concepção, a prosperidade estava intimamente relacionada com às condições do Estado em acumular ouro e prata. Inicialmente, os portugueses se dedicaram ao exclusivismo comercial das especiarias orientais (comercialismo). Posteriormente, sistematizaram sua colonização nas terras americanas, passando a adotar uma postura de expropriação de todos os bens que possibilitassem lucros das regiões coloniais, a essa prática denominamos de colonialismo.

289 Alguns dados estimam-se que aproximadamente que mais de 18 mil toneladas de prata e duzentas de ouro foram extraídas pelos espanhóis entre os séculos XVI e XVII. Assim, a base do sistema colonial da América espanhola foi estruturada na extração de metais preciosos. Entretanto, vale salientar que, os espanhóis também se dedicaram ao comércio de escravos, as pilhagens, às atividades agrícolas e à pecuária. Mercantilismo francês Na França o mercantilismo foi denominado de industrialismo ou colbertismo, em referência a Jean-Baptiste Colbert que exerceu a função de ministro das Finanças, entre 1661 e 1683, durante o governo do monarca Luís XIV ( ). No decorrer do século XVII, os governantes franceses invectivaram as produções manufatureiras, principalmente as conhecidas indústrias de luxo, ou seja, estavam na pauta das exportações os seguintes produtos: móveis, perfumes, tecidos, papeis, porcelanas, cristais e tapetes. Essas atividades comerciais eram intensamente regulamentadas pelo Estado, como o propósito de garantir o padrão de qualidade. Além disso, o mercantilismo francês foi incrementado pelo comércio colonial e pela indústria naval. As conquistas coloniais, resultado dos empreendimentos das eficientes companhias de comércio, receberam fortes estímulos e concessão de monopólios do governo da França. Além das vantagens que produzirá a entrada de uma quantidade maior de prata corrente no reino, é certo que, através das manufaturas, milhões de pessoas que vivem na indolência ganharão sua vida. Que número também considerável ganhará sua vida na navegação e nos portos do mar, que a multiplicação quase ao infinito dos navios multiplicará, do mesmo modo, a grandeza e o poder do Estado. Eis a meu ver, os fins aos quais devem tender a aplicação do rei, sua bondade e seu amor por seus povos. Jean-Baptiste Colbert O Mercantilismo na Inglaterra O mercantilismo na Inglaterra adotou o comercialismo, que, na prática, consistiu no incentivo á produção manufatureira, principalmente, o setor de têxteis. Houve também um estímulo ao desenvolvimento da marinha inglesa e às atividades dos corsários (responsáveis pelos saques aos navios espanhóis carregados de metais preciosos). A prática da política mercantilista na Inglaterra se desenvolveu entre os séculos XVI e XVII, simultânea ao projeto expansionista marítimo-comercial. Em 1600, foi organizada a Companhia das Índias Ocidentais que implantou centro de negócios na Índia e na Indonésia. Em seguida, os ingleses estabeleceram entrepostos em Bombaim (Índia), Pérsios (Irã) e na América. Essas ações resultaram no desenvolvimento da marinha mercante inglesa e na expansão da exportação (minério de alúmen, papel e produtos têxteis). Graças aos Atos de Navegação, promulgados pelo governo inglês, a marinha mercante se aperfeiçoou e se modernizou. Em 1651, o primeiro ato foi aprovado por Oliver Cromwell. Essa medida político-econômica estabelecia que os produtos europeus só poderiam ser transportados por navios ingleses ou de seus países de origens. Dessa maneira, as mercadorias africanas, asiáticas e americanas só poderiam ser importadas em navios coloniais ou ingleses. Em 1660 foi aprovado o segundo ato. Ele especificava que o capitão e no mínimo três quartos dos tripulantes dos navios tinham que ser britânicos. Para alguns historiadores, essas duas medidas foram fundamentais para a prosperidade do Estado inglês e para o desenvolvimento das atividades comerciais. O Mercantilismo nos Estados Germânicos Os Estado Germânicos(compostos por diversas unidades fragmentadas) adotaram o cameralismo. Essa expressão originou-se de Kammer (tesouro real) e era utilizada para designar as ações de combate as seqüelas geradas pelas excessivas descentralizações territorial. Assim, o cameralismo consistiu numa política econômica mercantilista bastante diferente daquelas praticadas por outros países europeus.

290 Os cameralistas tinham como objetivo aumentar a arrecadação de impostos, desse modo, o Estado enriqueceria através dessas rendas. Os príncipes das principais unidades germânicas, como a Áustria, controlavam e regulamentavam as produções agrícolas e manufatureiras. O mercantilismo na Holanda Na Holanda, a política mercantilista desenvolveu-se por intermédio de uma forte burguesia mercantil e bancária. O mercantilismo holandês, desse modo, foi fundamentado em três bases principais: na Companhia das Índias Orientais, responsável pelo controle dos negócios holandeses no Oriente (remessas de ouro e vendas de produtos adquiridos) e de explorar riquezas e bens de regiões coloniais; o Banco de Amsterdã, que fornecia linhas de créditos e moedas de vários países aos comerciantes, independentemente de sua nacionalidade; por fim, a frota mercante transportava volumosas cargas nos trajetos marítimos. Os holandeses também se destacaram na produção de tecidos e lanifícios, no tingimento e tecelagem da seda, no acabamento dos tecidos ingleses, na cervejaria, na destilaria, na preparação do sal, cacau e tabaco, na fabricação de microscópios, no polimento de lentes ópticas, na produção de pêndulos e aparelhos de navegação e nas impressões cartográficas e de livros de vários idiomas.

291 TEXTO COMPLEMENTAR Raios cósmicos ameaçam viagens espaciais Pesquisadores se preocupam com o tipo de blindagem contra a radiação para proteger astronautas que partem em viagens de longa-distância por John Matson Antes que os astronautas ponham os pés em Marte uma infinidade de desafios técnicos precisa ser superada. Proteger os viajantes espaciais do bombardeio de partículas energéticas não é certamente o último entre eles. Fora da atmosfera e do campo magnético que protegem a Terra partículas supersônicas geradas no interior de estrelas investem furiosa-mente zunindo pelo espaço e bombardeando violentamente tudo o que encontram pelo caminho - inclusive astronautas. Nos seres vivos, podem causar destruição de material genético. Durante anos, vários sistemas de proteção foram propostos, de barreiras físicas a blindagens magnéticas ou eletrostáticas - soluções que alguns pesquisadores de destaque consideraram completamente impraticáveis. No entanto, um grupo de pesquisadores europeus começou a testar um campo de força magnética em laboratório, obtendo resultados tecnológicos que acreditam ser potencialmente viáveis. Ruth Bamford, física do Laboratório Rutherford Appleton, em Didcot, na Inglaterra, e seus colegas dispararam um feixe de plasma com partículas carregadas com velocidade acima de mach 3 (mac 1 equivale à velocidade do som), para simular um jato de partículas energéticas solares em um campo magnético induzido. O que observaram foi o desvio praticamente total das partículas carregadas em torno do campo - uma minimagnetosfera relativamente segura, de acordo com o estudo publicado on-line no jornal Plasma Physics and Controlled Fusion, em 4 de novembro de Embora essa estratégia tenha permanecido como uma solução potencial para o problema da radiação, abordagens recentes a consideram insustentável. Conforme observado por Eugene Parker, professor de física da University of Chicago, o peso de um sistema desse tipo seria demasiado para uma viagem espacial viável. Samuel Ting Prêmio Nobel e pesquisador do Massachusetts Institute of Technology, chefiou o grupo que planejou esse sistema com uma massa de nove toneladas, ainda muito pesado e desencorajador para se pensar numa viagem a Marte. Preocupei-me mais com os raios cósmicos das galáxias, que têm energia mais alta, o que exige, portanto um campo magnético mais intenso, avalia Parker. Suas estimativas dependem da necessidade de desviar partículas, algumas delas 20 vezes mais energéticas que as analisadas por Bamford e seu grupo. Disponível em Acesso em 23 de fevereiro de Analisando o texto Após a leitura dos dois textos, será que podemos estabelecer alguma relação entre as dificuldades enfrentadas pelos navegadores no decorrer da Expansão Marítima e os astronautas dos tempos atuais? Os receios, os medos, as incertezas são semelhantes? Por quê? Justifique.

292 FAZENDO HISTÓRIA 1. Explique qual o significado político, econômico e cultural da Expansão Marítima para o mundo ocidental (Europa, África e América). 2. O projeto de Expansão Marítima foi resultado de diversos interesses. Faça um breve texto comentando os elementos que fundamentaram as grandes navegações europeias. 3. Leia o poema a seguir. Mar Português Ó, mar salgado, quando do teu sal São lágrimas de Portugal! Por te cruzamos, quantas mães choraram, Quantos filhos em vão rezaram! Quantas noiva ficaram por casar Para que fosses nosso, ó mar! Valeu a pena? Tudo vale apena Se a alma não é pequena. Quem quer passar além do Bojador Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele foi que espelhou o céu. PESSOA, Fernando. Mensagem. São Paulo: Difel, Após a leitura do poema, mencione as principais ideias desenvolvidas no poema de Fernando Pessoa que podemos relacionar com a Expansão Marítima portuguesa. 4. (UNESP) Um mercantilista inglês escreveu: Os meios ordinários para aumentar nossa riqueza e tesouro são pelo comércio exterior, para o que devemos obedecer sempre a esta regra: vender mais aos estrangeiros em valor do que conseguimos deles. MUN, Thomas. Discourse on England s treasure by foreign trade, a) O autor desse fragmento exprime um princípio essencial da política mercantilista. Era através dele que os mercantilistas explicavam a origem da riqueza dos Estados. Que princípio era este? b) Por quer as áreas coloniais da América foram fundamentais para a satisfação desse princípio mercantilista? 5. (Unicamp-SP) A expansão marítima da península Ibérica (Espanha e Portugal) nas Américas foi orientada por um projeto colonizador que, além da exploração econômica das terras, tinha por objetivo a imposição de uma cultura europeia e cristã. Qual foi o papel da Igreja Católica nesse projeto colonizador? 6. (Fuvest) Explique como a formação do Estado Nacional português contribuiu para o pioneirismo na expansão comercial marítima. 7. (Fuvest) Portugal, nos séculos XV e XVI, exerceu importante papel no cenário europeu graças ao pioneirismo de sua navegação pelo Atlântico. a) Qual o objetivo da política portuguesa de incentivo à navegação? b) Cite duas inovações técnicas de navegação adotadas pelos portugueses. c) Quais as vantagens econômicas colhidas por Portugal nessas viagens?

293 QUESTÕES DE VESTIBULARES 1. (UPE)O processo da Expansão Ultramarina acabou por redefinir o mapa mundial nos séculos XV-XVI. Com a descoberta da América e a possibilidade de um melhor conhecimento da África e Ásia, por parte dos europeus, ocorreram várias mudanças na mentalidade europeia. Sobre essa realidade, é correto afirmar que: a) várias narrativas sobre as terras distantes e exóticas e seus habitantes foram publicadas na Europa, como os escritos de Hans Staden. b) os espanhóis, logo de início, caracterizaram as descobertas de Colombo, como a chegada a um novo continente até então desconhecido. c) os portugueses optaram por colonizar a África central, evitando fixarem-se na América. d) a França e a Inglaterra colheram os lucros pela antecipação às nações ibéricas no processo das descobertas ultramarinas. e) a Espanha acabou por ocupar boa parte do território africano, dominando assim o tráfico negreiro até fins do século XVIII. 2. (COVEST) O mercantilismo foi um conjunto de idéias e de práticas econômicas dominantes na Europa, entre os séculos XIV e XVIII, que variou de Estado para Estado. Sobre o mercantilismo, assinale a alternativa correta. a) Foi uma forma de exploração da natureza, empregada aos recursos minerais, vegetais, animais e humanos que obedecia a interesses imediatistas, sem preocupação com o futuro. b) A Holanda praticava um tipo de mercantilismo conhecido como metalista e industrial que veio a desenvolver em parceria com a Espanha no século XVIII. c) Portugal desenvolveu apenas o mercantilismo de plantagem, baseado na produção tropical destinada ao mercado internacional. d) As refinarias de açúcar de Sevilha substituíram as refinarias de Portugal, na fase do desenvolvimento do mercantilismo industrial de Castela. e) Companhias de comércio foram instaladas por todos os Estados mercantilistas eurpeus, para reforçar a política comercial ou o colbertismo (referência a Colbert, ministro francês, que defendia o comércio de produtos baratos vendidos mais caros nos mercados coloniais). 3. (UPE) Leia atentamente as afirmativas abaixo. I. As grandes navegações contribuíram para ampliar o comércio e promover um encontro entre culturas de diversas origens marcado pela conciliação. II. A Dinastia de Avis estimulou atividades mercantis com a participação significativa do infante D. Henrique. III. Espanha e Portugal tiveram importância destacada na Expansão Marítima Européia, financiando navegadores sem estimular disputas territoriais. IV. A viagem de Colombo, com a ajuda dos reis de Espanha, resultou no descobrimento da América em 1492 embora o navegador pensasse ter alcançado as Índias. Após a leitura, conclui-se que: a) as afirmativas III e IV estão incorretas, pois Colombo contou com a ajuda do governo português. b) as afirmativas II e IV são as únicas corretas. c) apenas a afirmativa IV está correta. d) todas as afirmativas estão corretas. e) todas as afirmativas registram erros históricos. 4. (UFPI) A expansão marítima e comercial, empreendida pelos europeus no início da Idade Moderna, lançou os países do velho continente em busca de riquezas além-mar. As longas viagens realizadas nos séculos XV e XVI se inserem no contexto das práticas mercantilistas que caracterizaram esse período e resultaram na formação de vastos impérios coloniais em diferentes continentes. Assinale a opção que indica corretamente o principal motivo dessas viagens realizadas no âmbito da expansão marítima e comercial.

294 a) A principal motivação foi a revolução comercial e tecnológica que se desenvolveu nesse período. As novas técnicas de navegação que os portugueses e espanhóis colocaram em prática a partir do século XV tornavam as viagens oceânicas mais rápidas e seguras, consolidando o pioneirismo da industrialização na península ibérica. b) A principal motivação foi comprovar as teses sustentadas pela Igreja Católica sobre a esfericidade da Terra naquele período. Assim, o catolicismo contribuiu de modo decisivo para estimular o desenvolvimento das práticas mercantilistas e do próprio sistema capitalista que viria a se consolidar em seguida. c) A principal motivação foi a contratação de mercadores de Gênova e Veneza, experientes navegadores nas rotas mediterrâneas, pelos reinos de Portugal e Espanha. Assim, ficou assegurado o acesso dos portugueses e espanhóis às rotas comerciais para o Oriente, seja pelos oceanos, seja pelo Mediterrâneo. d) A principal motivação foi a necessidade de abastecer o mercado europeu com maior quantidade de matérias-primas e assegurar dessa forma, o pioneiro processo de industrialização verificado na península ibérica nesta época. e) A principal motivação foi quebrar o monopólio árabe-italiano no comércio de especiarias com o Oriente, controlado pelos mercadores de Gênova e Veneza. Assim, tornou-se necessário encontrar outra rota de navegação marítima que não fosse pelo mar Mediterrâneo. 5. (COVEST) Sobre a Expansão Marítima Europeia, analise as afirmativas abaixo. 1. Para a realização da grande aventura marítima, foram fundamentais as descobertas técnicas da época, não tendo influência a experiência do navegador. 2. A busca de riqueza foi importante para o envolvimento das pessoas com a navegação e para a valorização de novos produtos comerciais. 3. O descobrimento do Brasil foi resultado de uma estratégia do grande navegador Vasco da Gama com a ajuda de Pedro Álvares Cabral. 4. A Expansão Marítima trouxe grandes renovações para a cultura da época e teve, portanto, claras ligações com as mudanças históricas que levaram à construção dos tempos modernos. 5. A importância das viagens de Colombo se restringe aos parâmetros de uma aventura heróica de um grande e idealista navegador. Estão corretas apenas: a) 1, 2 e 5 b) 3 e 4 c) 1, 3 e 5 d) 2 e 4 e) 1, 2, 4 e 5 6. (UFAC) O Mercantilismo europeu se deu a partir do século XVI, quando: a) Aprofundou-se a íntima relação entre Estado Nacional e economia, caracterizando-se por ser uma política de controle e incentivo, buscando o Estado garantir o seu desenvolvimento comercial e financeiro, fortalecendo o próprio poder. b) Os senhores feudais resolvem comercializar seus produtos junto aos burgos. c) A Igreja assume o controle das grandes viagens ao Velho Mundo. d) O Estado Nacional e suas monarquias não interferem nas relações mercantis dos seus burgueses. e) As monarquias nacionais liberam suas colônias das amarras mercantis. 7.(UEM) Entende-se por Mercantilismo o conjunto de leis e de práticas administrativas adotadas por vários Estados europeus entre os séculos XVI e XVIII, que regulamentavam as atividades econômicas. A respeito do Mercantilismo, assinale o que for incorreto. a) O mercantilismo assumiu formas diferentes nos diversos países europeus. b) As leis mercantilistas eram inspiradas pela doutrina do liberalismo econômico, de Adam Smith, e visavam intensificar as exportações e as importações. c) Os teóricos do Mercantilismo acreditavam que, mais do que o comércio interno, era o comércio externo com outras nações que trazia lucros e riquezas. d) Os países mercantilistas adotavam medidas severas para evitar a saída de ouro e de prata de seu território.

295 e) Obter uma balança comercial favorável era uma preocupação constante dos Estados mercantilistas. 8. (ACEP) No curto espaço de tempo que se estende da chegada de Cristóvão Colombo a São Domingos (1492) à tomada da cidade de Cuzco pelas forças militares comandadas por Francisco Pizarro (1533), os espanhóis conquistaram um vasto território no continente americano. Assinale a alternativa que descreve corretamente uma etapa da conquista espanhola da América. a) A rendição do Chile levada a cabo por Pedro de Valdívia, com a derrota imediata e escravização da população dos araucanos nativos da região. b) A submissão dos tainos e caraíbas nas Antilhas por Diego D Almagro, com o subsequente desenvolvimento da agricultura intensiva de tabaco na região possibilitada pelo uso dos nativos como mão-de-obra escrava. c) A conquista do Império asteca no México pelas tropas de Fernão Cortez, com a instituição da mita como forma compulsória de trabalho organizadora da exploração de prata e ouro na região. d) A derrota do Estado quéchua ou Império inca pelas expedições comandadas por Francisco Pizarro, com guerras de conquista que se estenderam até a segunda metade do século XVI. e) O confronto com os maias na Guatemala através das forças comandadas por Pedro de Alvarado, com a expulsão dos espanhóis e a reorganização do reino de forma autóctone ao longo do século XVI. 9. (IPAD) As afirmativas abaixo referem-se ao Mercantilismo. Analise-as. 1. O estímulo à exportação pelas metrópoles de matérias-primas industriais para os mercados coloniais emergentes foi um objetivo da política mercantilista. 2. Dentre as principais práticas mercantilistas destacam-se o estímulo à balança comercial favorável, o metalismo, o monopólio comercial e a intervenção estatal na economia. 3. O Mercantilismo é constituído por um conjunto de idéias e práticas coerentes e uniformes, aplicadas por vários Estados Nacionais europeus com resultados semelhantes. 4. A aplicação das ideias mercantilistas acarretaram o fortalecimento do Estado Nacional, de um poder centralizado e absoluto, cuja expressão foi a Monarquia Absoluta. Estão corretas apenas. a) 1, 3 e 4. b) 2, 3 e 4. c) 2 e 4. d) 1 e 3. e) 3 e (COVEST) As viagens do genovês Cristóvão Colombo são anúncios de novos tempos para o mundo europeu, que se lançava em busca de riquezas e de aventuras. Com ajuda do governo espanhol, Colombo foi: a) um aventureiro corajoso e improvisador, para quem não importavam os objetivos mais sérios da navegação. b) um estudioso de cartografia, acreditando, segundo descobertas recentes, que a terra era redonda. c) um navegador ambicioso, preocupado em encontrar minas de ouro e servir bem ao Rei da Espanha. d) além de rico comerciante de produtos do Oriente, um intelectual respeitado na época, por suas idéias renovadoras. e) um defensor de mudanças políticas na Espanha e na Itália, ligado aos projetos das burguesias locais. 11. (URCA/CE) As grandes navegações são conhecidas como um momento histórico de conquistas por parte dos europeus sobre outras regiões do mundo. Sobre o processo de Expansão Marítima é correto afirmar que: a) Foi um fato isolado e de sorte dos europeus, notadamente dos portugueses que detinham conhecimento náutico e um grande espírito de aventura.

296 b) Teve a primazia dos franceses, primeiros descobridores de novas terras e primeiros colonizadores das Américas. c) Teve ligação com o mercantilismo europeu e com a busca de riquezas em outros continentes. d) Foi motivada somente pelo fervor religioso e a busca da conversão de povos do mundo ao catolicismo. e) Foi de fundamental importância na formação do Reino de Portugal e na ascensão da Dinastia de Borgonha. 12. (UPE) As mudanças ocorridas na Idade Moderna atingiram diretamente todo um sistema que prevaleceu na época do feudalismo. Com a formação das monarquias nacionais, com o poder centralizado dos reis, houve também uma preocupação em organizar a economia, usando práticas mercantilistas. O mercantilismo favoreceu: a) o fortalecimento das atividades comerciais, embora combatesse o monopólio e a grande propriedade de terras. b) a intervenção do Estado na economia, incentivando o colonialismo e o protecionismo. c) a ascensão política da burguesia, embora combatesse o metalismo e os lucros excessivos. d) a expansão da economia europeia, destacando-se o livre comércio, o desenvolvimento da pecuária e a quebra do intervencionismo. e) o crescimento das economias da Europa Central, criando condições para o fim das corporações de ofício e incentivando a atividade agrícola. 13. (FURG) No processo de transição entre a Idade Média e a Moderna houve uma lenta transformação das mentalidades. Enquanto no medievo os homens viviam dentro de uma ordem social estamentária, na modernidade o privado passou a ser valorizado. Essa nova forma de pensar foi representada pela busca dos bens materiais, caracterizada na Idade Moderna por dois fenômenos históricos, o primeiro chamado de Mercantilismo e o segundo de Navegações. Sobre estes, considere as afirmativas: I. O mercantilismo foi um movimento voltado para a aquisição de metais, com o objetivo de aumentar as reservas de riquezas das monarquias, apoiado pela Igreja e direcionado para conquistar a Terra Santa. II. As Navegações marítimas não tiveram como motivador apenas os interesses comerciais, mas, também, o desejo de conhecer o maravilhoso, o fantasioso e o desconhecido. III. O mercantilismo foi uma teoria econômica que privilegiava a aquisição da mercadoria, mas desprezava o metal. IV. Os Estados mercantilistas investiram nas navegações como forma de ampliar territórios, de buscar metais preciosos e de explorar as novas colônias como mercados fornecedores de matéria-prima e ao mesmo tempo como consumidores. V. O que auxiliou os navegadores da Idade Moderna foi a abundância de mapas, que contava muito com a contribuição dos mapas antigos. VI. As práticas mercantilistas tiveram como principais características a intervenção do Estado na economia e a regulamentação dos investimentos públicos, de forma a acumular capital. Leia atentamente e assinale a alternativa que apresenta todas as afirmativas corretas: a) Somente a I e a V estão corretas. b) Apenas a VI está correta. c) A I, a III e a V estão corretas. d) A II, a IV e a VI estão corretas. e) Apenas a I está correta. 14. (UPE) O mercantilismo foi o princípio, que norteou a prática econômica de grande parte dos reinos europeus na época moderna. São características da política econômica mercantilista: 1. Combate ao monopólio e ao protecionismo comercial. 2. Manutenção de uma balança comercial favorável. 3. Empenho em acumular moedas e metais preciosos no território nacional. 4. Ausência da interferência do Estado na economia.

297 Estão corretas apenas: a) I, II e III. b) I, III e IV. c) II, III e IV. d) I e IV. e) II e III. 15. (FATEC) A ocupação da América começou efetivamente com a chegada dos espanhóis (Colombo), em Ao chegar ao Novo mundo os europeus encontraram a) somente civilizações extremamente primitivas que viviam da caça e da pesca, como os tupis, na região Sul da América, e os iroqueses, habitantes do Norte. b) apenas povos que permaneciam isolados entre si, em estágios anteriores à civilização, ou seja, o Neolítico e o Paleolítico, como os Astecas na América Central. c) uma imensa diversidade de povos e culturas: civilizações extremamente organizadas e avançadas em seu processo político-econômico e social, e povos que permaneciam no que os historiadores conceituam como períodos Neolítico e Paleolítico. d) civilizações sofisticadas, como os Incas, Maias e Astecas, que, por meio de uma imensa confederação, conseguiram defender-se dos europeus, até a chegada de Fernão Cortez, no México, em 1520, com seu poderoso exército lusoespanhol. e) povos antropófagos, primitivos e selvagens, desorganizados militarmente e dominados pelos Maias, que viviam no período Paleolítico, o que facilitou o domínio dos ingleses na região. INSTRUÇÃO: Responder à questão 16, sobre a prática econômica mercantilista, relacionando a coluna da esquerda com a coluna da direita. 1. França 2. Espanha 3. Inglaterra 4. Províncias Unidas 5. Alemanha ( ) Metalismo - A metrópole buscava conquistar colônias fornecedoras de metais, visto que, para os metalistas, a riqueza nacional era indicada pelo nível de reservas de metal acumulado. ( ) Mercantilismo Industrial - Desenvolveu manufaturas de luxo, para atender ao sofisticado mercado da Espanha, e expandiu suas companhias de comércio e a construção naval. ( ) Mercantilismo Comercial - Tinha como prática comprar barato e vender caro, ganhar no frete, estimular a construção naval e formar companhias de comércio. ( ) Mercantilismo Cameralista - Na falta de um Estado para conduzir a política econômica, as Ligas das cidades mercantis se organizaram para proteger seu comércio marítimo, agindo como intermediárias sobretudo no comércio de cereais da Europa Oriental para o Ocidente. ( ) Mercantilismo Comercial e Industrial - O país ampliou sua indústria naval e assumiu quase todo o tráfico marítimo internacional no século XVI, formando poderosas companhias de comércio e erguendo um centro financeiro. Associando-se corretamente cada país da coluna da esquerda com a modalidade mercantilista por ele praticada, obtém-se, de cima para baixo, a sequência: a) b) c) d) e)

298 OLHARES HISTÓRICOS Livros A Formação do Império Português ( ). AMADO, Janaína; FIGUEIREDO, Luiz Carlos. São Paulo: Atual, (Discutindo História) História da América Latina. BETHELL, Leslie (org.). São Paulo: Edusp, A América Latina na época colonial. LOCKHART, James; SCHWARTZ, Stuart. Tradução de Maria Beatriz de Medina. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, Cinema 1492: A descoberta do Paraíso Revista BBC História. Expedições e Aventuras. Ano 1 - edição n 6.

299 A conquista e a colonização dos povos da América O encontro entre dois mundos Ao chegarem ao Novo Mundo, os exploradores europeus encontraram uma diversi-dade de etnias que povoavam o continente. Essa incrível variação cultural reunia desde grandes impérios até populações em estágio de nomadismo. A região da América do Norte era ocupada por grupos indígenas bem diferentes, alguns urbanizados e sedentarizados, como, por exemplo, os iroqueses. Já nas planícies havia povos que praticavam a agricultura com técnicas avançadas. Enquanto isso, no extremo do continente, os esquimós garantiam a sua sobrevivência por intermédio da coleta, da pesca e da caça. Boa parte dos nativos americanos residia nas florestas tropicais localizadas na América do Sul. A coleta de frutos e raízes, a caça e a pesca serviam como elementos essenciais para a sua alimentação. Havia também etnias que praticava a agricultura de subsistência, cultivando plantas como, a mandioca. A vivência nas florestas e o cultivo de alguns desses produtos implicaram em hábitos e costumes desconhecidos, até então, pelos europeus. Essa diferente realidade provocou várias reações entre os conquistares, entre as quais o paternalismo, a rejeição e a curiosidade. As descrições dos cronistas, dos viajantes e dos colonizadores sobre a fauna, a flora, os costumes e as etnias retratavam a forma exótica do que se observava. Tudo indica que o encontro entre dois mundos diferentes deliberou um espanto geral em ambas as partes. Os hábitos e costumes percebidos no outro eram bem diferentes das pessoas estavam acostumadas a perceber nos seus conterrâneos. A descrição que os índios (mais) fizeram dos europeus (...) Seus rostos eram estranhos Os senhores os tomaram por deuses, Nós mesmos, vosso pai, Fomos vê-los Quando entraram em Yximchée, (...) LÉON-PORTILLA, Miguel. A conquista da América vista pelos índios. Petrópolis: Vozes, A surpresa dos portugueses em relação aos indígenas (...) A feição deles é parda, um tanto avermelhada, com bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertura. Não fazem o menor caso de encobrir ou de mostrar suas vergonhas, e nisso têm tanta inocência com em mostrar o rosto. Ambos traziam o lábio de baixo furado e metido nele seus ossos de verdade, brancos e do comprimento duma mão travessa, da grossura dum fuso de algodão, agudos na aponta como furador.(...) GANDAVO, Pero Magalhães. Tratado da Terra do Brasil. In: RONCARI, Luiz. Literatura brasileira: dos primeiros cronistas aos últimos românticos. São Paulo: Edusp, Os conquistadores espanhóis ficaram admirados quando encontraram a cidade de Tenochtitlán. Na época com cerca de 1 milhão de pessoas, a cidade fascinava por sua grandiosidade e riqueza. Os europeus também se maravilharam com a fauna e flora do mundo tropical. Por isso, novos alimentos, como o milho, o abacaxi, o tomate, a batata, a abóbora, mandioca foram inseridos na alimentação entre os europeus. Os hábitos e os costumes de vida dos nativos provocaram espanto e rejeição. Por exemplo, a antropofagia

300 (consumo de carne humana), os sacrifícios humanos (astecas e maias), os mitos, as lendas, o politeísmo e a poligamia foram violentamente combatidos. Já a nudez era descrita com bastante perplexidade. Por outro lado, os nativos americanos também espantaram pelos modos de vida dos europeus. As armas de fogo, as caravelas, os canhões, as roupas, a língua, os cavalos e os costumes causaram um forte impacto entre os povos do Novo Mundo. As descrições e os relatos em relação ao tipo de vida de alguns grupos indígenas produziram entre os europeus diversas reações, muitas delas exageradas. O humanista francês Montaigne ( ) via essas sociedades como a representação do paraíso e, portanto, defendia os hábitos indígenas. Em sua obra Ensaios, de 1582, o autor expressa sua sensibilidade com o modo violento pela qual se processou a conquista espanhola: Nosso mundo acaba de descobrir um outro (...) não menos povoados e organizado que o nosso (...) Os que o subjugaram (...) usavam coletes de uma pele luminosa e dura e armas cortantes e resplandecentes (...); acrescentem-se os raios e os estrondos de nossas armas e arcabuzes, capazes de amedrontar o próprio César, que, igualmente inexperiente, se teira espantado (...). Quantas cidades arrasadas, quantas nações exterminadas, quantos milhões de povos passados a fio de espada (...): vitórias mecânicas. Nunca a ambição (...) incitou os homens, uns contra os outros, a tão horríveis hostilidades e a calamidades tão miseráveis! MONTAIGNE, Michel Eyquem de. Ensaios. São Paulo: Nova Cultural, Entretanto, a maioria dos conquistadores conceituava os nativos como primitivos, irracionais, sem almas, brutos, selvagens, obscenos. Segundo os europeus, as nações indígenas viviam num estágio atrasado e numa sociedade sem regras e sem religião. Essa postura etnocêntrica serviu como discurso para dominar, ou seja, tais concepções foram alicerces para justificar a exploração e o violento processo de colonização instituído nas terras americanas. As descobertas europeias não podem de maneira alguma ser concebidas como ponto de partida da história americana. Isso porque, há aproximadamente 50 mil anos a.c., iniciaram as primeiras migrações dos povos asiáticos para a América. Distribuindo-se por todas as terras americanas, formaram ao longo dos tempos sociedades complexas, as quais anos depois seriam achadas pelos invasores europeus. Essas variedades culturais influenciaram as relações estabelecidas entre os conquistadores e os conquistados. Por exemplo, os tupis que habitavam o Brasil tinham hábitos e procedimentos culturais da fase do Paleolítico, ou seja, desconheciam a escrita e sobreviviam da coleta, da caça e da pesca. Enquanto isso, os astecas, maias e incas praticavam a agricultura, ergueram grandes monumentos arquitetônicos e possuíam uma sofisticada organização social. Entretanto, uma cultura não deve ser analisada pela quantidade de obras elaboradas. Cada civilização tem seus hábitos e costumes próprios de viver, sua forma original de procurar o equilíbrio nas relações culturais estabelecidas entre os homens e a natureza. Os preconceitos são estabelecidos quando se afirma que há culturas melhores que outras. A partir de então, são criadas justificativas para a dominação e injustiças. Foi dessa maneira que os europeus pretenderam legalizar a conquista, se auto-elegendo superiores, possuidores de verdades e enviados de Deus. As culturas indígenas americanas antes da chegada dos Europeus As primeiras culturas pré-coloniais da América: Astecas, Maias e Incas Antes da chegada dos colonizadores europeus, na em terras do atual México, América Central e na Região Andina existia uma diversidade de culturas altamente sofisticadas, conhecidas como culturas pré-colombianas. As manifestações culturais das civilizações da Mesoamérica (Maias e Astecas) e das Cordilheiras dos Andes (Incas) podem ser constatadas desde as construções de gigantescos

301 monumentos feitos de pedras até a escrita, os sistemas matemáticos, a astronomia e o calendário. O continente americano tinha uma população de aproximadamente de 40 milhões de habitantes, onde eram faladas mais de 2 mil línguas diferentes. A sofisticação das culturas pré-colombianas (...) Estão longe os tempos em que autores (...) podiam considerar as altas culturas pré-colombianas como primitivas. Elas eram, pelo contrário, como tem sido demonstrado cada vez com maior clareza e riqueza de dados, sofisticadas e complexas; e apresentavam, em suas relações sociais e em suas categorias de pensamento, lógicas coerentes (...). CARDOSO, Ciro Flamarion. Poder e religião nas altas culturas pré-colombianas: astecas, maias e incas. In: VAINFAS, Ronaldo (org.). América em tempo de conquista. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, ) Os maias A sociedade Maia estava localizada na Península do Yucatán, atual território do México. Ocupava também parte da Guatemala, Honduras e São Salvador. Entre 250 e 900 d.c, essa sofisticada civilização se desenvolveu baseada em cidades-estado bem estruturadas, como Chichén Itzá, Mayapán e Uxmal. Cada cidade possuía autonomia político-administrativa e era governada por um monarca cujo poder tinha caráter hereditário e divino, ou seja, o rei era uma pessoa escolhida por um deus para governar na Terra. O rei entre os maias era denominado de Halach Uinic que tinha a responsabilidade de cuidar da política interna e externa. Ele e os guerreiros exerciam funções políticas e religiosas. A fama do monarca era alcançada pela sua capacidade de fazer prisioneiros, no decorrer das guerras, com finalidade de sacrificá-los nos cultos as divindades. Cena do filme Apocalypto, dirigido por Mel Gibson, Sociedade e economia Na sociedade maia era marcante a religiosidade, a qual confirmava os privilégios do governante e de algumas famílias. O rei ou Halach Uinic nomeava uma série de funcionários como magistrados, chefes militares, sacerdotes e administradores. Um outro componente dessa sociedade eram os mercadores, grupo social que comercializava penas, produtos agrícolas, mel, cera, sal, cerâmica e mantas. Os artesãos e os camponeses mazehualob integravam a maior parte da população. Entre outras obrigações, tinham que pagar impostos e trabalhar em grandes obras.o interessante é que escravos de guerras pertenciam a um senhor, porém não trabalhava na produção.

302 Em algumas regiões do continente americano, o maior desenvolvimento da agricultura produzindo o excedente, a hierarquização social, a divisão do trabalho entre campo e cidade -, aliado à pressão demográfica e à introdução de novas tecnologias (produção em terraços nas montanhas e irrigação, por exemplo), propiciou o surgimento de grandes centros urbanos. A partir dessas bases, organizaram-se as civilizações pré-colombianas dos maias (América Central), Astecas (México) e Incas (nos Andes). MOARES, José Geraldo Vinci de. História: geral e Brasil. São Paulo: Atual, p.16 As atividades econômicas maia era essencialmente agrícola: milho, cacau, algodão e sisal. Devido a baixa fertilidade das terras, os maias desenvolveram vários saberes técnicos, como por exemplo, o rodízio das culturas. As catástrofes naturais, o esgotamento dos solos e as disputas internas e externas levaram a civilização maia à decadência. Religião e cultura Os maias desenvolveram diversos conhecimentos. Na matemática, criaram um sistema numérico vigesimal, ou seja, os números eram agrupados em vintenas: 20, 40, 60, 80. Elaboraram o símbolo para o zero, fundamental para resolver operações complexas e uma escrita com caracteres hieroglíficos, ainda indecifrável. No campo da astronomia, fizeram a previsão de eclipses com cálculo precisos sobre a movimentação dos astros, o que facilitou na criação de um calendário com 365 dias, dividido em 18 meses de 20 dias, aos quais somavam cinco dias para completar o ciclo solar. A arquitetura e a engenharia foram as áreas dos saberes mais desenvolvidas pelos maias. As pirâmides, as cidades com edifícios, os canais de irrigação e os reservatórios de água encantam os espectadores até hoje. Por fim, merece ainda destaque os trabalhos de cerâmica, a pintura de afrescos e as esculturas de baixo-relevo. A religião era algo marcante na mentalidade dos maias. Eles acreditavam que a vida era conduzida pelos deuses, os quais eram cultuados nos grandes templos. A maioria das divindades era representada por elementos naturais como a chuva, o sol e o vento, porém, havia a crença em um deus criador do mundo, que eles denominavam de Hunad. 2) Os Astecas Localizados no lago do Texcoco, região do atual México, os Astecas ou Mexicas ( ) formaram um poderoso Império que recebeu uma série de influências culturais de outras civilizações, a saber, olmecas, zapotecas, mixtecas, totonacas e maias. Onde hoje se encontra a capital mexicana, os astecas construíram a cidade de Tenochtitlán. Vale salientar, que o Império Asteca foi resultado da junção entre três grandes centros urbanos, Texcoco, Tlacopán e a própria Tenochtitlán. Os astecas conquistaram vários povos vizinhos que contribuíam com impostos em forma de produtos, tais como ouro, algodão e cacau. O alimento básico da população era o milho. Além disso, o cacau era usado para a extração do xocoatl, primitivo chocolate. Outros produtos também cultivados entre os astecas: feijão, tomate, pimenta, abóbora e tabaco. A capital do Império, Tenochtitlán, era um grande centro urbano com cerca de 1 milhão de habitantes, apresentado dimensão superior a qualquer cidade européia da época. Segundo historiadores, Tenochtitlán era bem estruturada e organizada, o que fez com que os espanhóis ficassem maravilhados com a grandeza da cidade. Quando lá chegamos, ficamos atônitos com a multidão de pessoas e a ordem que prevalecia, assim como a vasta quantidade de mercadorias. Cada espécie tinha seu lugar particular, que era distinto por um sinal. Os artigos consistiam em ouro, prata, jóias, plumas, mantas, chocolate, peles curtidas ou não, sandálias e outras manufaturas de raízes e fibras de juta, grande número de escravos homens e mulheres, muitos dos quais estavam atados pelo pescoço, com gargalheiras, a longos paus. MEGGERS, Betty J. América pré-histórica.rio de Janeiro: Paz e Terra.

303 Nela eram comercializados legumes, jóias, ervas medicinais e até mesmo escravos. As sementes de cacau eram usadas como unidade de valor para trocas comerciais. Os astecas ainda adquiriam de outras regiões tecidos, peles, cerâmica e borracha. Sociedade e Política no Império Asteca A sociedade asteca era fortemente hierarquizada. A nobreza (chefes militares, altos funcionários do Estado e sacerdotes) consistia na camada social mais privilegiada. Em seguida, vinha um grupo intermediário formado por comerciantes ou pochthecas (isentos de pagarem impostos) e artesãos. Por último, os escravos, os camponeses, os prisioneiros de guerras e os criminosos. Os sacerdotes faziam observações astrais e davam consultas sobre diversos assuntos, por exemplo, viagens e negócios. Os camponeses recebiam do Estado, alimentos e roupas. O rei ou Tlatoani (chefe dos guerreiros) comandava os exércitos, cuidava da política internacional e partilhava o poder com um determinado chefe de governo, chamado de mulher-serpente, responsável pelas construções e pelas leis. Dessa forma, a monarquia asteca era teocrática e militarista. A guerra era realizada em nome de um deus, mas também tinha interesses econômicos, a saber, arrecadar impostos dos povos dominados. Assim, pode-se afirmar que o Império asteca era sustentado pelos tributos recolhidos das populações subjugadas. O Estado asteca era dono de todas as terras do império. Essas propriedades eram distribuídas aos templos, cidades e bairros, chamados de calpulli. Nas cidades e bairros o trabalho tinha o caráter coletivo, ou seja, todos tinham o direito de cultivar uma parte da terra. No decorrer dos tempos, essa tradição foi se modificando, pois os chefes militares e outros nobres se desobrigaram em trabalhar, o que gerou uma desigualdade social. Religião e Cultura A religião asteca era politeísta e astral, sendo o culto ao Sol um dos mais praticados. Em seus rituais, os astecas praticavam sacrifícios humanos. Uma das metas do exército asteca era capturar o maior número possível de prisioneiros e destiná-los a Tenochtitlán. Lá eram feitos os sacrifícios ao deus da guerra, Huizilopochtli. Os sacerdotes interpretavam esse ritual como uma necessidade de regar a terra com sangue humano. A imagem é de um manuscrito mexicano de fins do século XVI e retrata o massacre realizado pelos espanhóis contra guerreiros astecas durante a festa de Tóxcatl, ocorrida no templo Maior em Tenochtitlán. Este episódio histórico é conhecido como Noite Triste. Outras divindades importantes deidades eram Quetzacoatl, deus da sabedoria, e Tlacoc, deus da chuva. Existiam divindades para cada cidade e para cada profissão. A mitologia asteca previa o retorno dos deuses à terra. Assim, quando os espanhóis chegaram a essa região em 1521, foram recebidos como tais deuses. No campo cultural, os astecas criaram um calendário (semelhante ao dos Maias), desenvolveram um sistema de escrita, elaboraram poemas, peças dramáticas, cantos e hinos religiosos, os quais eram acompanhados por instrumentos musicais.

304 O brilhantismo das construções arquitetônicas e a organização urbanística demonstraram um apurado conhecimento matemático dos astecas. Na capital do Império, encontravam-se belíssimos canais, templos, palácios, lojas e residências. As construções mais características da civilização asteca são os templos em forma de pirâmide. Pirâmides de Comalcalco. 3) Incas Os Incas montaram um imenso Império no território andino, que correspondia aos atuais Equador, Peru, Bolívia, Argentina e Chile. Com cerca de 15 milhões de habitantes com culturas e costumes diferenciados, dessa forma, os Incas formaram o mais vasto Império da América pré-colombiana. Vale ressaltar, no entanto, a presença de outros povos que habitavam nessa região antes dos Incas, os Chavíns (serras peruanas), os Manabis (litoral do Equador), os Chimus (norte do Peru). Além desses, pode-se citar os Chinchas, Mochichas e os Nazcas. De acordo com os pesquisadores, a maior parte dessas civilizações pré-incaicas eram organizados em centros urbanos, possuíam templos e tinham uma agricultura variada baseada no cultivo do milho e da batata. Havia também a domesticação de animais, lhamas, vicunhas e alpacas. Formação de um Império nos Andes Liderado por Manco Capac, considerado o primeiro Imperador, os Incas se estabeleceram em Cuzco (Peru) no século XII. A partir daí, os incas iniciaram sua expansão que abrangeu desde a atual Colômbia até o sul do Chile. Entre 1438 e 1471 ocorreu a consolidação do Império. Governado pelo jovem príncipe, Pachacuti Yupanqui, os Incas dominaram os chancas e em seguida os chimus que ocupavam os vale ao norte da Bolívia. O imperador Yupanqui, também chamado de Inca, ocupou o território de todo o Peru e fronteiras do Equador. Seus sucessores conquistaram parte da Argentina e da Bolívia. Organização política e social O Império Inca era constituído por várias etnias e culturas de civilizações preexistentes. O sistema político era baseado numa monarquia teocrática hereditária que atribuía plenos poderes ao governante, denominado Inca. O rei ou o inca, que era venerado como um deus, era considerado como um filho do deus-sol, Inti Raymi. O Inca também criava leis, comandava o exército e era o guardião das terras. Ele podia ter quantas mulheres quisesse, além da sua esposa principal, chamada de coya, que geralmente era eleita entre suas irmãs. A falta de regras claras para a sucessão governamental gerou várias disputas pelo poder. Por exemplo, a expansão do Império foi paralisada em razão da disputa entre os irmãos Huascar e Atahualpa, ambos os filhos de Huayana. O primeiro centralizou o império em Cuzco e o segundo em Quito. Essas divergências políticas e os confrontos entre os funcionários do Estado enfraqueceram o Império Inca, facilitando conquista dos espanhóis em 1532.

305 A sociedade era compota pelo chefe do Estado (o Inca), que detinha poderes divinos hereditários. Logo abaixo vinham os sacerdotes, que ensinavam e narravam os mitos, as lendas e as histórias sobre o Imperador. Já os cargos administrativos eram ocupados por nobres e pelos parentes do Imperador. Os guerreiros tinham bastantes prestígios entre os incas, uma vez que havia uma exaltação à educação militar. Assim como o Império Asteca, os burocratas Incas eram mantidos pelos impostos arrecadados pelo Estado. Vários funcionários eram escolhidos pelo governante para controlar as contribuições tributárias. Havia também os grupos familiares e comunitários conhecidos como ayllus. Os ayllus consistiam em terras doadas pelo estado, onde os camponeses trabalhavam coletivamente. Essas comunidades estavam ligadas por antepassados semelhantes e por laços de parentesco. O ayllu era governado pelo mais idoso da comunidade, o curaca. Os camponeses que integravam os ayllus eram obrigados a cultivar as propriedades do Inca e dos nobres, além de pagarem impostos em forma de produtos. O Estado também os obrigavam a prestar serviços em obras públicas, com as pontes, as pirâmides, as estradas os canais de irrigação e os terraços A extração de minério era executada através do trabalho compulsório não remunerado, chamada de mita, cuja mão de obra era disponibilizada pelas aldeias através de rodízios. Nesse sistema, os trabalhadores recebiam apenas alimentos em troca de força produtiva. Por último estavam os artesãos e os yanaconas, nascidos na cidade de Yanacu e condenados à escravidão. A mão de obra escrava era destinada apenas às atividades domésticas. Economia e planejamento A economia inca era baseada na agricultura. O milho, a batata, o tomate, abóbora e o amendoim constituíam os produtos mais cultivados. Com o objetivo de não deixar faltar alimento para a numerosa população de aproximadamente 20 milhões, o Estado doava as terras aos camponeses para que eles cultivassem toda a área possível. Por isso, foram desenvolvidas lavouras nas encostas das serras. Esses sistemas de terraço eram formados por grandes degraus construídos com paredes de pedras e cuja irrigação era feita por intermédio de canais de irrigação. Havia também a domesticação de animais. As lhamas serviam de meio de transporte, fornecia couro, carne e esterco. Já das alpacas e vicunhas eram obtidos lã. Os cachorros-domato e os porcos eram poucos utilizados entre os incas. O comércio era fraco e restrito a produtos requintados usados pelos nobres. O Estado inca fazia regularmente censo populacional. Para fazer a contagem era utilizado o quipo, determinada de calculadora manual, composta de cordões coloridos e nós. O levanta-mento do número de habitantes representava base do planejamento para o Estado, uma vez que fornecia informações essenciais para dos impostos, de mão-de-obra para execução de obras públicas e por fim, meio de controlar o crescimento vegetativo. O grandioso Império Inca contou com uma magnífica infra-estrutura baseada na construção de pontes e estradas que possibilitaram a circulação de mensageiros, populações, exércitos e funcionários. Para se ter idéia de como era sofisticado esse planejamento, ao longo dos trajetos os viajantes podiam usufruir de pequenas construções (os tambos) que possuíam alimentos e água, e em certos casos serviam como abrigo. Religião e cultura Os Incas não conheciam a roda e nem criaram um sistema de escrita. Entretanto tiveram êxitos em outras áreas do conhecimento. Na medicina usavam ervas e faziam sangrias, realizando cirurgias com perfurações cranianas. No campo da matemática desenvolveram um sistema decimal de registro, chamado de quipu. Além disso, usaram pesos e medidas padronizados. Na astronomia, fizeram previsões de eclipses e elaboraram um calendário. Os artesão incas trabalharam com a madeira, o ouro, a prata e o tecido. Houve a produção de cerâmica, esculturas e pinturas.

306 A arquitetura e a engenharia são os maiores feitos da cultura incaica. Nessa área do saber, os incas construíram os palácios, as fortalezas, as pontes, os terraços de irrigação e as pirâmides. As obras arquitetônicas mais famosas estão localizadas nas cidades de Sacsahuamán, Cuzco e Machu Pichu. Em 1533, a Império Inca foi invadido pelos espanhóis e o imperador, Atahualpa, foi assassinado. Alguns incas resistiram à conquista dos europeus até 1571, quando foi executado o último líder inca, Tupac Amaru que se tornou uma figura simbólica das culturas ameríndias americana. Os índios da América do norte Os grupos indígenas que povoavam da região Sudeste dos atuais Estados Unidos cultivavam milho, feijão, abóbora e outros tipos de frutos silvestres. Praticavam a pesca e a caça. Criaram técnicas para a construção canoas, casas, vasos de cerâmica e armas para defesa e ataque. Já os habitantes do Sudoeste, conheciam o sistema de irrigação e cultivam o algodão. As mulheres eram responsáveis pela moagem do milho, pelo cuidado das hortas e excelentes ceramistas. Já os homens ajudavam nas atividades domésticas, teciam e confeccionavam sandálias de couro. A chefia dos pueblos (povoados) era tradicionalmente exercida com o auxílio de uma assembléia composta por anciãos e pela presença dos sacerdotes tribais. Retrato de um Sioux (Red Bird). Entre os povos mais famosos da América do Norte na época da colonização estavam os sioux ou dakota. Eles eram compostos por três grupos: os santees, os yanktons e os tétons. Por sua vez, os tétons eram formados por várias tribos, entre elas, os oglalas, brulés e hunkpapas. Esses grupos habitavam as regiões das pradarias cortadas pelos rios da bacia do Missouri e Mississipi, noroeste dos atuais Estados Unidos. Nessa mesma região viviam os cheyenne (aliados dos sioux) e os crow (inimigos dos sioux). Cada grupo indígena possuía seu próprio idioma, porém existia uma linguagem de sinais que possibilitava a comunicação entre as variadas nações indígena Os sioux, além de praticarem praticar a agricultura, caçavam bisão e búfalo. Após as caçadas, as aldeias repartiam a carne dos animais. Os chifres e os ossos eram utilizados na elaboração de armas e com o couro confeccionavam utensílios domésticos e vestimentas. Violência e dominação cultural nas relações políticas entre colonizados e colonizadores O processo de colonização da América foi marcado pela tensão e violência, o que resultou em perdas irreversíveis para os habitantes americanos. Todavia, os invasores buscaram elaborar uma memória histórica favorável a eles, como meio de anular ou neutralizar a história dos vencidos. Os conquistadores ocuparam o território recém-invadido como se fossem os donos legítimos de todos e de tudo. A partir de então, a história do continente americano será marcada por milhares de mortes e um intenso processo de exploração. Os fatores principais que impulsionaram essa brutalidade foram o sonho do Eldorado, a pretensão do rápido enriquecimento com ouro e a prata existentes em grande quantidade no continente e, por fim, o incentivo à inimizades entre os povos americanos.

307 Segundo alguns historiadores, a presença em si dos europeus foi o suficiente para provocar milhares de mortes nas terras americanas, devido a disseminação de inúmeras epidemias. A pneumonia, a gonorreia, o sarampo, o cólera, a escarlatina, a febre amarela, o tifo, a gripe e a varíola dizimaram populações inteiras. Em contrapartida, os europeus foram contagiados pela encefalite, pólio, a sífilis venérea e a hepatite. Índios perderam a guerra bacteriológica O Descobrimento da América, no quadro da expansão marítima europeia, deu lugar à unificação microbiana do mundo. No troca-troca de vírus, bactérias e bacilos com a Europa, África e Ásia, os nativos da América levaram a pior. Dentre as doenças que maior mortalidade causaram nos ameríndios estão as bexigas, isto é, a varíola, a varicela e a rubéola (vindas da Europa), a febre amarela (da África) e os tipos mais letais de malária (da Europa mediterrânea e da África). O cólera, o sarampo, a difteria, o tracoma, o tifo, a peste bubônica, a escarlatina, a disenteria amebiana, gripes, entre outros males, também foram aqui introduzidos pelos europeus. Já a América estava infectada pela hepatite, certos tipos de tuberculose não associados à doença pulmonar, encefalite e pólio. Mas o melhor troco patogênico que os ameríndios deram aos europeus foi a sífilis venérea, verdadeira vingança que os vencidos da América injetaram no sangue dos conquistadores. Nos portos europeus onde desembarcavam os conquistadores, a sífilis, sexualmente transmitida, se propagava, gerando um pânico semelhante ao que a Aids suscita hoje entre nós. Assim, no século XVI, a representação da morte passou a ser associada ao erotismo nas pinturas dos retábulos das igrejas: o tradicional esqueleto com uma foice foi substituído por uma jovem mulher, bela, diáfana, encarregada de levar os homens para o outro mundo. Porém, as mortandades causadas na América pelos micróbios introduzidos pelos descobridores foram maiores que os estragos causados na Europa pela sífilis. Eclodindo a partir de 1519 nas Antilhas, a varíola começava na América a carreira que lhe daria o título de maior assassina da humanidade. No continente, a varíola abriu caminho para os espanhóis conquistarem Tenochtitlán (novembro de 1519), atual cidade do México, e em seguida alastrou-se no Peru (1521), derrubando dezenas de milhares de indígenas que poderiam ter enfrentado os espanhóis. Nesse sentido, as vitórias de Cortez sobre os astecas e de Pizarro sobre os incas devem ser reconsideradas: não se trata de batalhas nas quais a cavalaria e a pólvora europeia venceram as flechas e as lanças indígenas, mas de uma guerra bacteriológica que os ameríndios não tinham chance de ganhar. ALENCASTRO, Luís Felipe de. Folha de S. Paulo, 12 out Caderno Especial. Em relação aos nativos, os europeus possuíam várias vantagens. Seus desejos eram explícitos e necessitavam de uma ação cruel: exterminar para conquistar. Os invasores conheciam melhor as técnicas e estratégias militares, detinham armas de fogo e também se valiam das constantes rivalidades entre as diversas etnias. Em 1520, as campanhas do espanhol Hernán Cortés com o intuito de dominar as terras americanas demonstram o método cruel e violento utilizado pelos conquistadores. Cortés invadiu o México e massacrou a população local. Já Francisco Pizarro, na década de 1530, massacrou o povo inca. Além desses exemplos, podemos relatar que várias outras nações foram exterminadas, violentadas e muitas escravizadas. Dessa forma, a injustiça e intolerância foram as principais marcas usadas pelos conquistadores. Eles atuaram como os verdadeiros donos do mundo, se comportando como os grandes protetores da civilização em combate aos perigos da selvageria. Os europeus misturaram interesses econômicos com o projeto civilizatório e ainda contavam com a proteção religiosa. Proclamavam-se os escolhidos de Deus, protetores da verdadeira e genuína religião. Nessa perspectiva, passaram a impor a fé cristã aos habitantes do Novo Mundo, obrigando-os, dessa maneira, a abandonar suas crenças religiosas. O cronista espanhol Francisco López de Gómora, em sua Historia General de las Índias, de 1551, procura justificar a violência da conquista: Como disse, nossos espanhóis descobriram, percorreram, converteram grande quantidade de terras em sessenta anos de conquista. Nunca nenhum rei e nenhuma nação percorreram e subjugaram tantas coisas em tão pouco tempo, assim como nós fizemos, nem fizeram, nem mereceram, o que nossa gente fez e mereceu pelas armas, pela navegação, pela pregação do Santo Evangelho e pela conversão dos idólatras. É por essa razão que os espanhóis são perfeitamente dignos de louvor. Bendito seja Deus que lhes deu essa graça e esse poder.

308 Espada, cruz e fome: Mecanismos da conquista espanhola Em benefício a humanidade civilizada, com o auxílio e apoio da Igreja Católica, os portugueses e espanhóis exterminaram diversos povos e culturas. A catequização foi uma maneira suave de legitimar a dominação, de divulgar a superioridade dos cristãos sobre as nações indígenas conquistadas. Nesse sentido, os africanos escravizados e os nativos sofreram cruelmente. Na concepção dos colonizadores, eles sequer eram vistos como seres humanos. Eram concebidos como uma coisa, um objeto, algo sem alma. Assim, a missão colonizadora foi construída com extrema violência, subjugação e hipocrisia praticada pelos europeus. O historiador Ronaldo Vainfas, em seu livro Economia e Sociedade na América Espanhola observou tais mecanismos de conquistas: A conquista espanhola, em todas as regiões onde se viu coroado de êxito, conduziu a um processo de crise geral das culturas submetidas. Em certas situações, como no caso Arawak das Antilhas, levou ao completo desaparecimento físico da população conquistada. Noutros casos, como no México ou no Peru, ainda que não tenha eliminado totalmente a população indígena, provocou alterações e deformações profundas na cultura e no modo de vida dos povos conquistados (...). À guisa de ilustração, relembremos o caso do México Central, que possuía pouco mais de 25 milhões de índios em 1519, e se viu reduzido a cerca de 1 milhão, em 1605 (...). VAINFAS, Ronaldo. Economia e Sociedade na América Espanhola. Rio de Janeiro: Gaal, p.40. De acordo com as pesquisas realizadas por professores da Universidade de Berkeley, nos Estados, a população indígena americana na época da chegada dos europeus era de, aproximada-mente, 80 milhões. Buscando compreender como puderam algumas centenas de europeus dominarem e vencer populações tão grandes, sociólogos, historiadores, antropólogos e poetas elaboraram diversas respostas. O escritor chileno Pablo Neruda ( ), ao analisar os mecanismos de conquistas usadas pelos espanhóis afirmou: A espada, a cruz e a fome dizimaram a família selvagem. Ao utilizar a palavra espada, o poeta fazia referência à superioridade das armas dos conquistadores (canhões, arcabuzes, lanças e pistolas, espadas, armaduras e escudos central), às quais os nativos podiam combatê-las com seus arcos, flechas, lanças de madeira e tacapes. Além disso, os cavalos usados pelos espanhóis deixaram os índios assustados, pois os nativos desconheciam esses animais. Os cavalos garantiram aos invasores uma enorme agilidade nos campos de batalha. Ao referir-se à cruz, Neruda faz alusão à função desempenhada pela Igreja Católica, vista como o suporte espiritual do projeto da conquista e, posteriormente, da colonização. A catequese era imposta à força e também funcionou como um elemento importante na desestruturação do universo psíquicoespiritual dos nativos americanos. A cruz foi usada para legitimar a conquista. Não por acaso, em 1492, Cristóvão Colombo, ao tomar posse das terras, o seu primeiro gesto foi fincar um cruz. Nessa perspectiva, o cronista espanhol Francisco López Gómora, afirmou: Assim, não pense ninguém que foram tirados o poder, os bens e a liberdade dos indígenas: e sim que Deus lhes concedeu a graça de pertencerem aos espanhóis, que os tornaram cristãos (...). Ensinaram-lhes latim e ciências, que valem mais do que toda a prata e todo o ouro que eles tomaram. Porque, com conhecimentos, são verdadeiros homens, e da prata nem todos tiravam muito proveito. Por fim, ao utilizar o termo fome, Neruda refere-se às conseqüências da desorganização das formas de trabalho preexistentes, que garantiam a sobrevivência de milhões de habitantes do Novo Mundo. Ao estabelecer o sistema colonial fundamentado, inicialmente, na exploração dos recursos minerais, os espanhóis deslocaram enormes contingentes de nativos de suas aldeias para o trabalho compulsório nas minas. Tal procedimento rompeu definitivamente a produção de alimentos, provocando fome generalizada. A fragilidade orgânica dos povos indígenas favoreceu a propagação endêmica (varíola e sarampo) com maior rapidez.

309 Preocupado com a situação dos índios, o frei Bartolomeu de Las Casas em seus vários livros relata detalhes do processo da conquista. Defensor dos índios, Las Casas denuncia os mecanismo violentos e criminosos praticados pelos espanhóis. Leia a seguir trechos de sua autoria: Esses povos se igualam ou até mesmo ultrapassam muitas nações do mundo reputadas como civilizadas e racionais, não sendo inferiores a nenhuma. Assim, igualam-se a gregos e romanos e até em alguns de seus costumes, os superam. Superam também a Inglaterra, a França e algumas de nossas regiões da Espanha (...). É portanto fato estabelecido que a maior parte dentre eles estão, no conjunto, assaz dispostos a receber não só a doutrina moral mas também nossa religião cristã, mesmo se alguns, em alguma região, ainda não atingiram a perfeição política de uma república bem governada e possuam certos costumes corrompidos (...). Não há nenhuma razão para nos surpreendermos com os defeitos, os costumes bárbaros e desregrados que podemos encontrar entre as nações índias, nem menosprezá-las por isso. Pois a maioria das nações do mundo, senão todas, foram bem pervertidas, irracionais, depravadas e deram mostra de muito menos prudência e sagacidade no modo de se governar e exercer as virtudes morais. Nós próprios fomos piores nos tempos de nossos ancestrais e em toda a extensão de nossa Espanha, pela barbárie de nosso modo de vida e pela depravação de nossos costumes. LAS CASAS, Bartolomeu de. Apologética História, cap In: MAHN-LOT. A Descoberta da América. São Paulo: Perspectiva, s.d. p Os adelantados O período da conquista se prolongou por quase 60 anos, sendo encerrado oficialmente em 1556, momento em que Felipe II passa a ocupar o trono da coroa espanhola. Com o propósito de consolidar o poder do Estado, esse monarca adotou um conjunto de medidas com a finalidade de reduzir consideravelmente a autoridade dos adelantados. Estes eram particulares que adquiriam concessões da Coroa para ocupar e conquistar as terras americanas. Eles enfrentaram diversas guerras contra os nativos usando recursos próprios, entretanto, combatiam em nome do rei. Os adelantados eram em sua maior parte homens com poucos recursos econômicos, os quais viram na aventura americana possibilidade para o enriquecimento imediato. Entre os principais adelantados destacaram-se Hernán Cortez e Francisco Pizarro. Os adelantados eram acompanhados por um pequeno exército contratado e equipado com armas de fogo, cavalos e pólvora. Inicialmente, os adelantados não eram submetidos a nenhuma autoridade. A ação dos conquistadores não foi restringida e o uso da violência contra os indígenas tornou-se constante. Com vimos, os abusos de poder ocorreram sob o pretexto, até mesmo, da divulgação dos preceitos cristãos. A princípio, o governo espanhol apoiou as atitudes desses aventureiros, porém, a partir da segunda metade do século XVI, a forte autonomia dos adelantados passou a gerar preocupação as autoridades metropolitanas. A partir de então, o governo espanhol pretende reestruturar a empresa colonial, fortalecendo a ação estatal e impondo a vontade do monarca nas regiões recém-conquistadas. Em 1556, Filipe II proíbe a utilização dos termos conquista e conquistadores. Em relação a proibição do uso dessas palavras o historiador Ruggiero Romano comentou que desapareceram dos atos oficiais, mas ficaram nos fatos. A resistência indígena A resistência indígena foi bastante comum em todo o território americano. Ela ocorreu, de modo geral, por intermédio de ataques aos povoados e vilas e, às vezes, pelo massacre de habitantes já estabelecidos pelos conquistadores. Em 1537, por exemplo, no Peru, após a conquista consolidada por Pizarro e Almagro, os incas remanescentes, comandados por Manco-Capac, organizaram uma rebelião que só foi sufocada em 1572, quando houve a execução de Tupac-Amaru, sucessor de Manco-Capa. Até os dias atuais, o nome Tupac- Amaru simboliza resistência indígena.

310 Essa resistência também se manifestou na América Espanhola por intermédio da preservação de vários elementos das culturas indígenas (material e espiritual). Em diversos países da América hispânica, como o Peru, o México e a Bolívia, a permanência dos dialetos e das línguas pode ser compreendida como uma ação de resistência. Além disso, nesses países ainda são praticados cultos, rituais e festas, cujas raízes são advindas das culturas astecas, incas e maias. Tudo isso pode ser entendido como meios de resistências construídos pelos povos indígenas. Outro exemplo de resistência pode ser visto na postura de Tecumseh, chefe dos Shawnees, uma das tribos da América do Norte. No século XIX, quando foi desencadeado o projeto de conquista (também sob o uso da violência) dos territórios do oeste dos Estados Unidos, Tecumseh observou: Onde estão hoje os pequot? Onde estão os narragansett, os moicanos, os pokanoket, e muitas outras tribos outrora poderosas de nosso povo? Desapareceram diante da avareza e da opressão do Homem Branco, como a neve diante de um sol de verão. Vamos nos deixar destruir, por nossa vez, sem luta, renunciar as nossas casas, à nossa terra dada pelo Grande Espírito, aos túmulos de nossos mortos e a tudo que nos é caro e sagrado? Sei que vão gritar comigo: Nunca! Nunca! In: BROWN, Dee. Enterrem meu Coração na Curva do Rio. São Paulo: Melhoramentos, s.d. p.19.

311 TEXTO COMPLEMENTAR Texto 01 O encontro entre culturas: europeus e americanos Pessoas e situações diferentes daquelas que conhecemos devem ser encaradas e analisadas de acordo com os valores da cultura à qual pertencem. Se, ao contrário, a avaliação for feita do ponto de vista de quem analisa ao que se chama etnocentrismo, que significa julgamento feito a partir dos valores de uma única cultura, a do próprio observador. Nesse caso, determinada cultura é considerada melhor ou pior em comparação ao que é familiar e considerado normal. [...] Os europeus ficaram sem saber qual o lugar ocupado pelos índios na humanidade e se eles tinham alma ou não. Na verdade, desde o primeiro encontro, as populações nas terras americanas não foram sequer consideradas como integrantes da humanidade. [...] A dificuldade de olhar o diferente continua existindo até hoje. A referência para avaliar o outro tende a ser o que nós somos. Conhecer os usos e os costumes de vários povos, comparar uns com os outros pode nos ajudar a entender que as culturas não devem ser julgadas melhores ou piores, mas que, apenas, elas são diferentes. SCATAMACCHIA, Maria Cristina Mineiro. O encontro entre culturas: europeus e indígenas no Brasil. 12. ed. São Paulo: Atual, p Texto 02 Identidade indígena Um jovem índio, Nambikwara, nos fala de como as pessoas identificam os índios: Se você não tem isso feito na boca, no nariz e na orelha (furos), as pessoas não vão acreditar, vão falar: você não é índio! Aí não tem jeito de comprova que você é índio! Índio tem de ser sempre índio! Como é ser sempre índio? Será que vestir roupa de branco, falar português, utilizar utensílios domésticos, agrícolas, faz do índio um branco? Nós nos acostumamos com a imagem de índios todos iguais. Essa visão equivocada acontece há 500 anos, desde que Colombo chegou á América pensando ter chegado às Índias. Ainda hoje, muitos continuam olhando para esses povos do mesmo jeito, embora as pesquisas e os meios de comunicação já tenham demonstrado que as sociedades indígenas, ao mesmo tempo em que compartilham um conjunto de traços comuns, também se diferenciam umas das outras. (...) Cada sociedade indígena se pensa e se vê de maneira diferente e tenta manter o que é específico de seu povo apesar dos efeitos destrutivos do contato com o branco. ZENUN, Katsue Hamanda e ADISSI, Valéria Maria Alves. Ser índio hoje. São Paulo: Loyola, p De acordo com o texto 01, em que consiste o etnocentrismo e o que pudemos fazer para evitá-lo? 2. Em sua opinião, no contato entre europeus e os habitantes da América, no século XVI, houve a prática do etnocentrismo? Justifique. 3. Após a leitura, faça uma análise comparativa dos temas abordados nos dois textos. Cite os pontos comuns.

312 4. FAZENDO HISTÓRIA 1. (UFU-MG) Assim, não pense ninguém que foram tirados o poder, os bens e a liberdade (dos indígenas): e sim que Deus lhes concedeu a graça de pertencerem aos espanhóis, que os tornaram cristão e que os tratam e os consideram exatamente como digo. (...) Ensinaram-lhes o uso do ferro e da candeia (...). Deram-lhes moedas para que saibam o que compram e o que vendem, o que devem e possuem. Ensinaram-lhes latim e ciências, que valem mais do que toda a prata e todo o ouro que eles tomaram. Porque, com conhecimentos, são verdadeiramente homens, e da prata nem todos tiravam muito proveitos. GÓMARA, Francisco López de. História general de las índias: coletânea para a História da América.São Paulo: CENP, O texto acima expressa uma forma de se ver a conquista e a colonização da América pelos espanhóis. A partir da análise do texto e de seus conhecimentos sobre este processo histórico. a) Faça um comentário sobre a visão antropocêntrica do autor, destacando a forma como os valores culturais de espanhóis e indígenas são tratados no texto. b) Identifique e caracterize uma das três principais sociedades indígenas conquistadas pelos espanhóis maias, astecas ou incas mostrando como viviam e se organizavam social e politicamente no período imediatamente anterior à conquista. 2. Leia atentamente o texto a seguir. Canto triste E tudo isso sucedeu conosco. Nós o vimos (o conquistador), Nós ficamos perplexos, Com este triste e deplorável destino, Nos sentimos angustiados. Pelos caminhos jazem flechas partidas, As cabelos estão espalhados. As casas estão destelhadas, Seus muros avermelhados. Germens se espalham por suas ruas e praças, e as paredes estão salpicadas de miolos. As águas estão rubras, tintas (de sangue), E quando a bebemos, é como se bebêssemos água salgada. Nos puseram preço. Preço de jovem, de sacerdote, De criança e de donzela. Basta: o preço de um pobre Era um punhado de milho, Somente dez tortas de insetos; Vinte tortas de grama salgada, Este era o nosso preço. Ouro, jade, ricas mantas, (...) tudo isso é precioso. Nada foi levado em conta. Chorai, amigos meus, Compreendi que com estes fatos Perdemos a Nação Mexicatl. A água azedou, se azedou a comida. Isto é o que nos fez Tlatelolco, O doador da vida. In: PORTILLA, Miguel Leon. Visión de los Vencidos: Relaciones Indígenas de La conquista. México, UNAM, O texto acima consiste num poema-lamentação escrito à época da conquista espanhola no México. Nele tem-se a denominada visão dos vencidos mencionando o sentido da conquista para os povos indígenas. Esse poema tem autoria desconhecida e revela a incompreensão dos astecas em relação à violência praticada contra eles. Nessa perspectiva quais trechos do poema revelam a perplexidade do autor diante da violência come-tidas pelos espanhóis.

313 3. Explique a frase a seguir, levando em conta o que estudamos neste capítulo. As sociedades maia, inca e asteca eram sociedades revestidas de um caráter sagrado; a religião participava intimamente da vida cotidiana dos povos. Todas as funções dirigentes ganhavam legitimidade graças ao ritual religioso que os cercava. PEREGALLI, E. A América que os europeus encontraram. 4. (UNICAMP-SP) a) A respeito dos astecas, comente as características urbanas de Tenochtitlán. b) Por que foi fundamental para os espanhóis construir a Cidade do México sobre Tenochtitlán? 5. (Fuvest-SP) A terra queimará e haverá grandes círculos brancos no céu. A amargura surgirá e a abundância desaparecerá... Será o tempo da dor, das lágrimas e da miséria. É o que está para vir. (Profecia maia). Quais as formas de dominação, impostas pelos conquistadores espanhóis aos povos indígenas da América, que mostram o cumprimento da profecia. 6. Como estavam organizadas as comunidades indígenas antes da chegada dos europeus? Comente como ocorreram os primeiros contatos. 7. Faça uma descrição do processo da conquista, destacando na América espanhola.

314 QUESTÕES DE VESTIBULARES 1. (UPE)Com relação às áreas Mesoamérica e Andina, no período colonial, é CORRETO afirmar que os(a): a) Maias se constituíram em um grande Império, chegando a ser comparado ao Império Grego. b) Astecas, do ponto de vista político, viviam sob um Conselho Supremo, muito distante de um modelo de Monarquia. c) maior parte das realizações artísticas das culturas andinas foram conservadas pelos espanhóis. d) espanhóis, à medida que penetravam no interior do continente, surpreendiam-se com o alto nível de organização econômica, política e religiosa dos povos ameríndios. e) emancipação das colônias espanholas significou a libertação do povo de Tupac. 2. (UPE) O mundo moderno fez crescer os desejos de liberdade e provocou muitas lutas políticas até mesmo fora da Europa. A conquista dos povos da América I. trouxe a abertura de mercados e novas ideias de mundo, sem o uso da violência e da força política. II. modificou, de imediato, a vida dos países conquistadores, tornando-os potências internacionais e imbatíveis. III. fortaleceu a Igreja Católica, mantendo seu poder religioso em toda a América, sem oposições de outros grupos. IV. consolidou o capitalismo já no século XVI, com a afirmação da mão de obra assalariada e o fim da escravidão europeia. V. facilitou o contato entre povos de culturas diferentes, baseado na supremacia dos valores europeus. Somente está correto o que se afirma em: a) I, III, IV e V. b) I e V. c) II, III e V. d) V. e) I, II e V. 3. (PUC-PR) Como conseqüência dos descobrimentos marítimos, grandes quantidades de ouro e prata foram levadas para a Europa pelos espanhóis, originários de obras de arte e minas de povos vencidos, principalmente dos: a) tupis e guaranis. b) charruas e fueguinos. c) araucanos e charruas. d) pueblos e seminoles. e) incas e astecas. 4. (UFC-CE) Recentemente, Alejandro Toledo foi eleito presidente do Peru. Durante a campanha eleitoral, foi chamada de Pachacútec, numa alusão ao imperador incaico que consolidou um império nos Andes centrais. Sobre a sociedade incaica, é correto afirmar que: a) o fato de constituir um das mais significativas sociedades pré-colombianas tem como base a negação da cultura dos povos dominados. b) A sua economia tinha por base a agricultura, com a distribuição de terras pelo Estado e a prática do sistema de regadio. c) O que diferenciava das demais culturas pré-colombianas era a idéia de uma sociedade igualitária. d) O comércio interno era significativo, tendo no guano um dos produtos mais valorizados. e) A sua cultura desapareceu com o processo da dominação espanhola.

315 5. (UFSM-RS) Os guerreiros constituíam um dos grupos mais importantes na sociedade asteca. No início, eram escolhidos entre os indivíduos mais corajosos e valentes do povo. Com o tempo, entretanto, a função de guerreiro começou a ser passada de pai para filho, e apenas algumas famílias, privilegiadas, mantiveram o direito de ter guerreiros entre seus membros. KARNAL, Leandro. A conquista do México. São Paulo: FTD, 1996.p 13. O texto faz referência à sociedade asteca, no século XV, a qual era: a) guerreira e sacerdotal, formada de uma elite política que governava com tirania a massa de trabalhadores escravos negros. b) igualitária e guerreira, não reconhecendo outra autoridade senão a sacerdotal, que também era guerreira. c) comunal, com estruturas complexas, sendo dirigida por um Estado que contava com um aparelho administrativo, judiciário e militar. d) hierarquizada e guerreira, visto que o imperador era, ao mesmo tempo, o general do exército asteca e o sumo pontífice sacerdotal. e) igualitária, guerreira e sacerdotal: todo guerreiro era um sacerdote e todo sacerdote era um guerreiro. 6. (ADIVISE) Das sociedades indígenas pré-colombianas que viviam no continente americano, destacam-se a dos incas, a dos maias e a dos astecas, que se diferenciaram das demais por serem sociedades sedentárias e agrícolas, sendo consideradas como civilizações ou sociedades de alta cultura. Em relação à cultura desses povos, marque a afirmativa incorreta: a) Por meio de guerras, os astecas dominaram um grande território e inúmeros povos, que pagavam impostos ao seu rei. Para garantir as boas graças dos deuses, sacrificavam os prisioneiros de guerra, adquirindo com isso uma estabilidade social. b) A sociedade maia era constituída por centenas de centros cerimoniais autônomos. Os maias acreditavam que cada dia e cada mês eram regidos por uma divindade. Para apaziguar os deuses, erguiam pirâmides e realizavam sacrifícios humanos. c) Os ameríndios receberam os espanhóis com grandes honras, presentes e festas, pois acreditavam que seu deus mítico havia retornado. Depois, ao perceberem que os espanhóis não eram deuses, os expulsaram por algumas vezes. d) Os incas impuseram a todos os povos dominados a sua religião, na qual o deus sol, representado pelo rei, era o mais importante nos rituais e cerimônias. Seu idioma era quíchua e todos deveriam conhecê-lo e praticá-lo. Além disso, havia um sistema numérico de nome quipo compartilhado por todos. 7. (UFPB) Antes da chegada dos europeus ao continente americano, os seus habitantes vivenciavam estágios diferentes de desenvolvimento. Sobre esses estágios, analise as afirmativas abaixo. I. As tribos mais numerosas, no Brasil, pertenciam ao tronco lingüístico tupiguarani, praticavam a agricultura, mas não conheciam os metais, à exceção do ouro. II. Os Astecas absorveram os conhecimentos de outras culturas, como a dos Olmecas e a dos Maias, formando uma sociedade hierarquizada, com uma agricultura sofisticada. III. Os Incas notabilizavam-se pelo uso da roda e da escrita, pela prática do monoteísmo e pelas relações de igualdade entre todos os seus membros. Está(ão) correta(s) apenas: a) I. b) II. c) III. d) I e II. e) II e III. 8. (COVEST) A colonização dos povos da América envolveu conflitos culturais e embates militares expressivos. Com relação à conquista dos astecas, feita pelos espanhóis, podemos afirmar que: a) a atuação militar dos espanhóis foi que decidiu a derrota dos astecas, devido à fragilidade do seu exército e à sua desorganização política.

316 b) a grandiosidade dos astecas impressionou os conquistadores espanhóis, sobretudo, o comandante Fernão Cortez. c) apesar de sua riqueza, os astecas não tinham conquistas culturais que impressionassem os europeus; eram apenas bons artesãos. d) a vitória de Cortez expressou, na época dos grandes descobrimentos, a força imbatível do exército espanhol, aliado dos portugueses na colonização da América. e) essa conquista trouxe riquezas para o conquistador Fernão Cortez, rico comerciante de minérios da época; contudo, as vantagens para o domínio espanhol na América foram insignificantes. 9. (UFOP) Sobre as culturas pré-colombianas Asteca e Inca, é incorreto afirmar: a) Entre os Astecas, os membros da comunidade pagavam ao Estado três tipos de tributo: o serviço militar, o trabalho pessoal nas cidades e o tributo em espécie. b) Diferentemente dos Astecas, os Incas não estabeleceram sistemas tributários sobre as populações do Império. c) Os Incas formaram o Império mais vasto de toda a América pré-colombiana, que incorporava centenas de grupos étnicos, culturais e linguísticos. d) A unidade social básica, tanto entre os Incas, como entre os Astecas, era a comunidade aldeã. 10. (UPE) As conquistas coloniais abasteceram a Europa com novos produtos, mas também fez o chamado mundo antigo conhecer outras sociedades e outros feitos humanos. Na América, os incas: a) tinham um grande império, no qual havia liberdade política, semelhante à democracia dos tempos de Atenas. b) possuíam grandes riquezas econômicas, contudo sem haver organização administrativa para expandi-las. c) conseguiram dominar vários povos, formando um império poderoso e organizado administrativamente. d) localizaram-se numa região rica em ouro e prata, próxima do México que facilitou sua aliança com os astecas. e) habitavam a região amazônica apresentando um sistema de governo descentralizado e ricas minas de ouro. 11. (IPAD) Os descobrimentos marítimos aproximaram culturas diferentes e dinamizaram o comércio europeu. A colonização das terras conquistadas se deu com o uso: a) das tropas militares, sem práticas mercantilistas para suas atividades comerciais. b) da violência contra os conquistados, mas também com a ajuda da Igreja. c) de uma pedagogia religiosa que condenava a escravidão do índios. d) da força da nobreza da França e da Inglaterra, sem a presença da burguesia. e) das tropas militares dos países mais poderosos, sem a participação da nobreza. 12. (FUNCAB)Os Tupinambás, no entender dos lusos, usavam de bestialidades mui estranhas : pedras ou ossos nos beiços, por exemplo, vivendo como alimárias montesas, ou seja, como animais. O fato deles não possuírem nem fé, nem lei, nem rei (...) transformou-se aos poucos em justificativa para desprezá-los. Pior ainda, o canibalismo, registrado primeiramente por Américo Vespúcio, fez de muitos grupos tribais o símbolo por excelência da barbárie. (Mary del Priore; Renato Pinto Venâncio. O livro de ouro da história do Brasil, 2001.) Infere-se do texto que: a) ao aportarem na América, os europeus encontraram outras sociedades e culturas, já citadas na Bíblia, mas consideradas extintas. b) a catequese pretendia cristianizar os Tupinambás por intermédio da correspondência entre os deuses indígenas e os santos católicos. c) os europeus, guiados pelos preceitos renascentistas, encaram os indígenas como crianças, que mereciam apoio, proteção e educação. d) os indígenas encontrados pelos portugueses não despertaram atenção e curiosidade, pois não possuíam reservas de ouro e prata. e) por encarar o outro a partir de seus próprios valores, o olhar europeu só foi capaz de julgar os índios a partir da diferença e da falta.

317 OLHARES HISTÓRICOS Livros Visão do Paraíso. HOLANDA, Sérgio Buarque de. São Paulo: Companhia editora Nacional/USP,1969. A América que os europeus encontraram. PEREGALLI, E. São Paulo: Atual, Américas Antigas: as grandes civilizações.saunders, Nicholas J.Tradução de Ana Paula B. da Silva. São Paulo: Madras, Os índios norte-americanos. Cinco séculos de luta e opressão. SOLA, J.A. São Paulo: Moderna, Tristes Trópicos: Perspectivas do homem.lévi-strauss, Claude. Ed. 70 Melati, Julio Cézar. Índios do Brasil. Brasília, Coordenada, 1972 Cinema Apocalypto Direção de Mel Gibson. Estados Unidos, min. Um homem é capturado para ser sacrificado, em nome da prosperidade do império maia. Ele consegue fugir e tenta voltar para casa o mais rápido possível, para salvar sua família. Dirigido por Mel Gibson (Coração Valente). Sites Enciclopédia de Artes Visuais Site disponibiliza informações sobre a iconografia e a literatura produzidas por viajantes estrangeiros no decorrer dos séculos XV a XIX. Disponível em:

318 As colonizações espanhola, inglesa, francesa e holandesa O Sistema de Colonização A conquista e a ocupação do Novo Mundo foi estruturada nos interesses metropolitanos, ou seja, a colonização foi utilizada como instrumento para atender os anseios da monarquia e da burguesia comercial. Nesse sentido, a principal função das colônias era produzir riquezas por intermédio da extração dos recursos naturais (ouro, prata, madeira) e das atividades agrárias (plantação de cana-de-açúcar, algodão). Essa exploração colonial era decorrente da prática do mercantilismo e ficou conhecida como sistema colonial. Segundo os princípios desse sistema, a colônia deveria fornecer seus bens naturais e produzir matérias-primas para as metrópoles. Somado a isso, a colônia era obrigada a limitar suas atividades manufatureiras, pois só poderia consumir produtos manufaturados vindos direto da metrópole. Desse modo, a colônia só existia para atender os interesses metropolitanos. Nessa estrutura, não havia espaço para acordo ou parcerias, apenas a subordinação da colônia à metrópole, o que consolidava o pacto colonial. Cada metrópole (país colonizador) tinha posse total de sua colônia, e apenas ela detinha a legalidade para desenvolver atividades comerciais no território colonial (exclusivismo econômico). Assim, a metrópole possuía a monopolização dos negócios coloniais, uma vez que não era permitido o surgimento de competição e concorrência. Esse exclusivismo comercial permitia à burguesia mercantil metropolitana a aquisição da maioria do lucro produzida na colônia. Sobre essa característica o historiador Fernando Novais afirmou: É o regime do comércio entre metrópoles e colônias que se situa o elemento essencial desse mecanismo (do Antigo Sistema colonial mercantilista). Reservando-se a exclusividade do comércio com o Ultramar, as metrópoles europeias na realidade organizavam um quadro institucional de relações tendente a promover necessariamente um estímulo à acumulação primitiva de capital na economia metropolitana a expensas das economias periféricas colônias. As regiões coloniais eram propriedades do Estado colonizador, que a explorava de acordo com as suas necessidades. Geralmente, foram concedidas ou doadas terras temporariamente ou definitivamente a colonizadores que tinham como obrigações explorar as riquezas e repassar parte delas à metrópole. A enorme quantidade de riquezas extraída da América foi fundamental para o acúmulo de capitais nas mãos das monarquias europeias e também da burguesia mercantil. Essa concentração de capital (propiciado pelo tráfico negreiro, pela exploração colonial, pelo protecionismo comerciais) colaborou decisivamente para o encaminhamento da Revolução Industrial. O processo de colonização na América também contribuiu para o surgimento de sociedades como diversas bases culturais sob as influências espanhola, inglesa, francesa, holandesa e portuguesa. A América é uma mulher... Pelo menos assim, ela aparece nas iconografias entre o século XVI e XVIII; o ventre opulento, o longo cabelo amarrado com conchas e plumas, as pernas musculosas, nus seios. (...) A representação assim construída pelos europeus traduzia um discurso que tentava se impor como concepção social sobre o Novo Mundo: a América, como uma bela e perigosa mulher, tinha que ser vencida e domesticada para ser melhor explorada. A metáfora para a exploração do continente serviu, na prática, para ilustrar as relações de gênero, no período da conquista. PRIORE, Mary Del. Imagens da terra fêmea: A América e suas mulheres. In: VAINFAS, Ronaldo (org.). América em tempo de conquista. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1992.

319 A formação dos primeiros núcleos de ocupação O domínio e o processo de exploração espanhola se deu por intermédio do estabelecimento de núcleos de ocupação permanente. O ponto de partida foi a ilha de Hispaniola (São Domingos). Milhares de espanhóis se deslocaram para essa região com o propósito de explorá-la. Além disso, várias expedições de conquista foram organizadas com o destino às atuais Cuba, Jamaica e Porto Rico. Entretanto, à procura compulsiva por metais preciosos conduziram os espanhóis para colonização das terras continentais, reduzindo, consequentemente, as migrações ao Caribe. Em 1509, foi instalado o segundo núcleo de ocupação na América central, mais precisamente no istmo do atual Panamá. A ocupação dessa região foi essencial para os anseios da Espanha, pois pela localização, o Panamá se transformara no epicentro da colonização. No sentido norte, os espanhóis conquistam Costa Rica e Nicarágua, e, em direção ao sul, entre 1525 e 1546, as terras das atuais Venezuela e Colômbia são ocupadas. Foi dessa região, que os conquistadores saíram para dominar o Império Inca. Fonte: DUBY, Georges. Atlas historique. Paris: Larousse, p.282. Em 1517, no México, foi constituído o terceiro núcleo colonial. Entre 1519 e 1521, o adelantado Hernán Cortez e um grupo de espanhóis dominaram a sede do Império Asteca. A partir da ocupação, a região passou a ser denominada de Nova Espanha. Daí foram organizadas expedições exploratórias em direção as atuais repúblicas de El Salvador, Guatemala e Honduras. Houve também fluxos migratórios para as regiões do norte (Califórnia e Texas). O quarto núcleo de ocupação foi instalado no Peru, entre 1531 e Posteriormente, foi iniciado o processo de colonização dos atuais Chile, Bolívia e Equador. Já na região da Bacia do Rio da Prata (atuais Argentina, Paraguai), entre os anos de 1509 e 1559, foi instalado o quinto núcleo de ocupação. Dessa maneira, paulatinamente, a presença espanhola se consolidava. Documentos indicam que vieram para a América mais de pessoas entre 1509 e Sabendo que, o número de migrantes clandestinos foi bem mais elevado.

320 A colonização espanhola A colonização da Espanha foi estruturada essencialmente na extração de metais preciosos (ouro e prata) dos atuais territórios do México, Bolívia e Peru. O vasto Império espanhol se estendia de Buenos Aires até a Califórnia. Fazia parte também do sistema colonial espanhol, várias ilhas do Caribe, entre elas, Cuba. O principal objetivo da Coroa espanhola era manter o controle sobre a comercialização dos recursos minerais explorados desde a fase da conquista. (...) A partir de meados do século XVI, o poder nas colônias tendeu a mudar de mãos, passando dos conquistadores aos funcionários da máquina estatal. A alteração foi profunda, pois expressou a afirmação do poder metropolitano nos territórios americanos. VAINFAS, Ronaldo. Economia e Sociedade na América Espanhola. Rio de Janeiro: Graal, p O Estado espanhol se preocupava também em criar uma estrutura burocrática que pudesse garantir uma maior arrecadação tributária e consequentemente, visava evitar a sonegação de impostos. Tais procedimentos eram fundamentais para manter o projeto de colonização. Simultâneamente, foi coibida a escravização indígena, atividade comum na época da conquista, entretanto, estabeleceu-se o trabalho obrigatório. Nesse sentido, o monopólio comercial (exclusivismo comercial) foi sistematizado o que garantiu uma elevada transferência de riquezas das colônias para a metrópole. A consolidação do domínio espanhol sobre suas colônias ocorreu, progressivamente, por intermédio do estabelecimento dos vice-reinos e das audiências. Dessa maneira, entende-se que a construção do sistema colonial da Espanha ocorreu após um longo processo de desorganização social e cultural dos índios americanos. Os mecanismos de organização usados pelos espanhóis eram estruturas políticoadministrativas complexas. Assim, foram criados diversos órgãos: os metropolitanos (poder deliberativo) e os coloniais (poder executivo). Organização político-administrativa da América Espanhola Em 1535, foi criado o vice-reinado da Nova Espanha, com capital na cidade do México. Posteriormente surgiu o Vice-Reinado do Peru (1543) que correspondia a atual região do Peru e parte da Bolívia. No século XVIII, criou-se o vice-reino da Nova Granada (1717). Com sua capital em Bogotá, seus territórios englobavam, o que compreende atualmente, o Panamá, à Colômbia e o Equador. Em 1776, surgiu o Vice-Reino do Rio da Prata, formado pelos atuais Paraguai, Argentina, Uruguai, parte da Bolívia e Argentina. Como pertenciam à alta nobreza, os vice-reinos representavam na colônia os anseios do rei espanhol. Essas instituições controlavam as minas, supervisionava a catequização dos índios, presidiam as reuniões das Audiências. Subordinados aos vice-reinos foram estruturadas algumas unidades de menor relevância, as denominadas capitanias gerais (Chile, Venezuela. Guatemala e Cuba). Durante o século XVI, o governo espanhol aperfeiçoou as estruturas políticoadministrativas no Novo Mundo. A principal intenção da Coroa espanhola era tomar posse definitiva do seu extenso império. A partir de então, muitos adelentados foram sendo substituídos pelos magistrados. Foram criadas as Audiências, instalados nos principais centros econômicos das colônias, eram responsáveis pelas questões administrativas, fiscais e judiciárias. As Audiências estavam subordinadas ao Real e Supremo Conselho das Índias (sede em Servilha), instituído em 1524, cuja competência consistia em centralizar a legislação e administração das colônias espanholas americanas. Além disso, tinha poder para nomear funcionários coloniais e a tutela sobre os ameríndios. As Audiências exerciam suas funções como tribunais, os quais estavam subordinados diretamente ao Real e Supremo Conselho das Índias. Como possuíam diversas competências fiscalizadora, judiciária e administrativa, as Audiências se tornaram poderosas instituições nas colônias espanholas.

321 Em nível local, foram instituídos os Cabildos ( câmaras municipais ), cujas atribuições eram recolher impostos regionais e aplicar as normas jurídicas nas vilas e nas cidades. Eles eram formados por pessoas nascidas nas próprias colônias e por filhos de espanhóis nascidos na América. Os integrantes dos Cabildos constituíam a elite colonial, denominada de criollos (proprietários de minas, de terras e grandes comerciantes). O alcaide presidia os cabildos e os seus componentes eram chamados de regidores. É importante mencionar, que apenas os Cabildos podiam ser ocupados por indivíduos nascidos na América. Os restantes dos cargos da administração colonial eram destinados exclusivamente para os nascidos na Espanha, os Chapetones ou guachupinos. Os inúmeros privilégios concedidos a esse grupo no exercício dos cargos políticos e administrativos tornaram-se elementos fundamentais para o desencadeamento das lutas pela independência, lideradas pelos criollos, no início do século XIX. Rede burocrático-administrativa da América Hispânica Casa de Contratação (1503) Responsável pelas questões jurídicas, econômicas nas colônias. Regularizava as atividades comercias e fiscalizava a entrada e saída de metais preciosos. Conselho das Índias (1524) Principal órgão da administração colonial. Nomeava e fiscalizava os funcionários coloniais, além de ser responsável pela defesa militar. Vice-Reinados Capitanias Audiências Cabildos Para controlar melhor as colônias, a Coroa Espanhola descentralizou a administração em quatro Vice-reinados: da Prata, do Peru, de Nova Granada e Nova Espanha. Divisões administrativas dos vice-reinados. Tribunais judiciários, atuando, também na fiscalização das ações administrativas. Órgão semelhante às câmaras municipais. Era responsável pela administração local. Organização econômica das colônias hispânicas Essencialmente, o que impulsionou os colonizadores espanhóis foi os sonhos dos dourados, ou seja, a exploração econômica seguia os princípios mercantilistas: as colônias teriam que complementar as economias metropolitanas, com o fornecimento de metais preciosos. Logo após o início da colonização, os espanhóis passaram a utilizar o trabalho escravo indígena, principalmente o das mulheres, que extraíam o ouro aluvião de rios na América Central e nas Antilhas. Na metade do século XVI, os conquistadores descobriram minas e prata em Potosí (Bolívia). A partir de então, a extração metálica se tornou a principal atividade na economia da América hispânica, o que propiciou uma intensa ocupação das regiões mineradoras. A cidade de Potosí, no apogeu da extração de prata ( ), chegou a ter em torno de 150 mil habitantes. Sob o ponto de vista jurídico, as minas não eram propriedades particulares. O subsolo pertencia à Coroa espanhola. No entanto, os mineradores recebiam concessões para explorar. Posteriormente, foram introduzidos novos equipamentos na extração dos metais no fundo das minas, como isso exigia investimentos elevados, os pequenos e médios extrativistas foram excluídos, deixando, assim, a exploração metálica para os grupos financeiros aristocráticos. O sistema de trabalho adotado nas atividades mineradoras foi o repartimiento de índios, conhecido como cuatéquil no México e mita nas regiões andinas. Com a proibição da escravização indígena, em 1542, os espanhóis passaram a empregar a mão-de-obra nativa por intermédio do trabalho compulsório. Assim, o repartimiento consistia no trabalho obri-

322 gatório e temporário realizado nas minas e nos locais de beneficiamento do minério. Geralmente, a seleção dos índios ocorria através de um sorteio. Após a escolha, os indígenas passavam a exercer suas atividades em regiões com péssimas condições de trabalho, em troca, recebiam baixíssimos salários. Com o tempo, além da remuneração, passaram a ganhar o partido (parte da produção da extração metálica). Posteriormente, com o declínio das comunidades ameríndias, o trabalho livre substituiu o repartimiento. A mita consistia numa forma de trabalho compulsório usada notadamente nas regiões mineradoras do Peru e da Bolívia. Constituía uma modalidade de mão-de-obra tipicamente Inca. Durante o Império Inca, ela caracterizava-se pela mobilização, em caráter rotativo, de certo número de trabalhadores que deveriam prestar serviços gratuitos ao Estado Incaico. Esses trabalhadores eram enviados pelas aldeias que estavam sob o domínio do Império. Nessa perspectiva, os conquistadores se beneficiaram dessa forma preexistente de trabalho compulsório para iniciar a dominação. Nesse momento, as aldeias indígenas passaram a enviar trabalhadores (os mitayos), que exerciam suas funções nas minas de Potosí durante o dia todo com, cerca de 5 mil pessoas em cada um dos turnos. Já nas minas de prata da região de Zacateca, norte do México, foi instalado o cuatequil. Esse sistema de trabalho era semelhante ao implantado em Potosí, ou seja, consistia na utilização da mão-de-obra indígena. Estabelecido em 1512, a encomienda ( recomendar ) apresentou uma modalidade particular de repartimiento. O encomendero responsabilizava-se em assegurar a educação cristã a tribos inteiras de índios, as quais eram confiadas aos colonizadores que passavam a ter, a sua disposição, trabalhadores para a execução de atividades agrícolas e mineradoras. Nesse processo, os índios também eram deveriam pagar tributos em espécie. A encomienda era concedida pela Coroa e só podia ser transferida por até duas gerações à do beneficiário. Os encomederos eram proibidos de tomar posse das terras tribais. No entanto, na prática isso fugiu do controle das autoridades. Segundo historiadores, a encomienda e o repartimiento foram um dos responsáveis pelo grande massacre das populações indígenas. Códice Kingsborough: um encomendero abusa de um índio Os encomederos foram severamente criticados por leigos e eclesiásticos, dada a tamanha violência com tratavam os nativos. O dominicano Bartolomeu de Las Casas ( ), o mais árduo defensor dos indígenas, assim comentou:

323 Aqueles que foram de Espanha para esses países (e se têm na conta de cristãos) usaram de duas maneiras gerais e principais para extirpar a face da terra aquelas míseras nações. Uma foi a guerra injusta, cruel, tirânica e sangrenta. Outra foi matar todos aqueles que podiam ainda respirar ou suspirar e pensar em recobrar a liberdade ou subtrair-se aos tormentos que suportam, como fazem todos os Senhores naturais e os homens valorosos e fortes; pois comumente na guerra não deixam viver senão as crianças e as mulheres: e depois oprimem-nos com a mais horrível e áspera servidão a que jamais tinham submetidos homens ou animais. LAS CASAS, Frei Bartolomeu de. O paraíso destruído: brevíssima relação da destruição das Índias(1552). Porto Alegre: L&PM, De acordo com o historiador Ciro Flamarion, as encomiendas: em que, como prêmio do esforço de conquista, a alguns dos conquistadores fossem confiadas (entregues em encomenda ) comunidades indígenas que ficariam sob sua responsabilidade em matéria de catequese e defesa; em troca, o encomendero poderia exigirlhes tributos em gêneros e prestações de trabalho. CARDOSO, Ciro F. S. O Trabalho na América Latina Colonial. São Paulo: Ática, 1985, p.40. A extração de metais preciosos nas colônias espanholas atingiu números expressivos. O historiador francês Pierre Chaunnu afirmou que entre 1503 e 1660 foram produzidos, aproximadamente, 25 milhões de quilos de prata. Vale salientar, que as atividades comerciais nas regiões próximas de extração mineral foram bastante intensas, uma vez que tornou-se necessário o abastecimento às populações nas proximidades dos núcleos mineradores. Esse dinamismo gerado pelo abastecimento de mercados gerou um considerável comércio entre as regiões do Chile, Paraguai e Argentina, os quais distribuíam produtos agrícolas e gado. Desse modo, houve um desenvolvimento expressivo nas regiões localizadas ao norte de Buenos Aires, cuja economia era pautada, principalmente, pela pecuária extensiva. O comércio entre as colônias e a metrópole realizava-se entre os portos americanos (Vera Cruz, no México; Havana, em Cuba; Cartagena, na Colômbia; Porto Belo, no Panamá) e o porto fluvial de Sevilha, na Espanha. Essa transação se enquadrava no sistema de portos únicos e galeões que era subordinado ao Real e Supremo Conselho das Índias. No início do século XVII, a atividade mineratória começa a entrar em declínio. Um dos motivos que explicam essa situação é a impressionante e drástica diminuição de trabalhadores nas minas provocada pela elevada mortandade dos nativos. Observe os dados da tabela, abaixo, que faz alusão a população indígena no México:

324 População indígena do México (em milhões de habitantes) , , , , , , ,0 Fonte: FRANCO JÚNIOR, Hilário; ANDRADE FILHO, Ruy de Oliveira. Atlas: história geral. São Paulo: Scipione, p.39. Simultaneamente ao declínio da extração metálica, desenvolveu-se, em algumas regiões, como nas Antilhas, uma agricultura que cultivavam produtos tropicais e subtropicais voltados para a exportação denominada de hacienda ( fazenda ). Esse sistema era estruturado no plantation: propriedade latifundiária, prática da monocultura e utilização do trabalho escravo de procedência africana. As haciendas também se caracterizavam pela maneira autoritária com que o proprietário coordenava as atividades agrícolas e a vida daquelas que dependiam dele economicamente. A concentração de terras fortaleceu a elite criolla que possuía a maior parte das propriedades rurais. As principais regiões que ocupadas pelas haciendas foram: América Central (produção de índigo, El Salvador), Antilhas e México (açúcar), América do Sul (algodão, Peru). É importante enfatizar, que poucos territórios da América Espanhola utilizaram o sistema de escravidão africano. As colônias hispânicas, no geral, usaram em suas áreas de trabalho um percentual que se aproximou dos 10% de mão-de-obra africana. A exceção foi Cuba, que devido a expansão dos seus ingenios (engenhos), a partir da segunda metade do século XVIII, introduziu na produção açucareira, entre 1774 e 807, uma quantidade muito grande de escravos africanos. A colonização inglesa No começo do século XVII tem início a colonização inglesa nos territórios que, de acordo com o Tratado de Tordesilhas pertenciam à Espanha. Os espanhóis organizaram algumas expedições em regiões dos atuais Estados Unidos. Porém, a aparente inexistência de metais preciosos, o clima temperado da América do Norte e a extração de metais preciosos no eixo México-Peru inviabilizaram para os espanhóis a colonização daquelas áreas. Inicialmente, os ingleses marcaram presença na região através de algumas expedições marítimas, as quais objetivavam encontrar uma passagem para Ásia por intermédio das áreas do extremo da América do Norte. Embora, não tenham alcançado êxito, essas viagens em conjunto com as práticas da pirataria, possibilitaram aos aventureiros ingleses um conhecimento do litoral norte do Atlântico. Apesar das tentativas de ocupar essas regiões em fins do século XVI, foi só a partir do início do século XVII que se efetivou o processo de colonização. Em 1607, foi fundada a primeira colônia, Virgínia. Após receber concessões do Estado, a Companhia de Comércio de Londres lançou a iniciativa de fundar essa colônia. O principal interesse da companhia era estruturar uma produção agrícola que pudesse abastecer o mercado europeu. Diversas outras companhias de comércio também lançaram no processo de colonização, fundando novas colônias nas áreas costeiras. Os primeiros colonos ingleses desembarcaram na América em 1607, onde fundaram a colônia da Virgínia, que não prosperou e foi abandonada. Entretanto, veja qual foi a impressão de John Smith: Nunca o céu e a terra se combinaram em parte alguma numa harmonia mais perfeita para proporcionar ao homem um lugar para sua habitação. HOCKET, Homer C. Political and social history of the United States ( ). Nova York: Macmillan, 1925.

325 Por volta de 1620, algumas famílias a bordo do navio Mayflower saíram da Inglaterra com destino à América. Membros da pequena burguesia, artesãos, camponeses, pequenos proprietários rurais e comerciantes integravam essas famílias. Por serem calvinistas, essas pessoas foram perseguidas pela doutrina religiosa oficial da Inglaterra, o anglicanismo. Desse modo, muitos puritanos (calvinistas) vieram para a América por causa de questões religiosas. Nesse sentido, algumas colônias foram instituídas a partir de incentivos particulares, ou seja, coordenadas por refugiados políticos e religiosos. No mesmo ano de desembarque ao continente americano, os puritanos fundaram a colônia de Massachusetts, dando início a colonização da denominada Nova Inglaterra. A formação das treze colônias Graças a incentivos de particulares, foram formadas, na América do Norte, o conjunto de 13 colônias. Podemos analisá-las, distribuindo em três agrupamentos: ao norte, as colônias chamadas de Nova Inglaterra (Massachussetts, New Hampshire, Connecticut e Rhode Isaland); ao sul, foram fundadas Geórgia, Maryland, Carolina do Norte, Carolina do Sul e Virgínia; já o centro era formado por Nova Iorque, Nova Jérsei, Pensilvânia e Delaware. As colônias do norte eram formadas por pequenas propriedades rurais que produziam diversos produtos, com a utilização do trabalho familiar e mão-de-obra assalariada. Foi utilizada também, em grande número, a mão-de-obra dos denominados servos de contratos. Estes constituíam camponeses expropriados e expulsos das regiões comunais devido ao processo de cercamentos em andamento na Inglaterra. Como eles não tinham condições de custear os gastos da viagem, assinavam um contrato de trabalho com duração, no geral, de seis anos. Esse acordo afirmava que o camponês deveria prestar serviços em terras do proprietário que havia custeado todas as despesas de deslocamento. Essa situação se configurava como uma servidão por dívida (indentured servant). As colônias nortistas desenvolveram a agricultura de subsistência, tendo destaque o cultivo de cevada, centeio e alfafa. Nessa região, também foram instalados os engenhos hidráulicos para a moagem de milho e trigo. Os produtos excedentes e manufatureiros atendiam à demanda dos mercados locais. Além da policultura, houve a prática da pecuária (gado bovino e ovino), que incrementou a produção de carne, banha e têxtil. Outras atividades econômicas importantes desenvolvidas na Nova Inglaterra foram a pesca (bacalhau, cavala, salmão e arenque), a construção naval e a fabricação do rum. Nessa região, desenvolveu-se um conjunto de relações mercantis que envolvia os colonos da Nova Inglaterra ( ou até mesmo as do centro), as Antilhas(colônias inglesas e francesas) e a África. Chamado de comércio triangular ou triângulos comerciais. Esse rico comércio consistia basicamente na compra pelos colonos do norte de açúcar e melaço vindos das Antilhas. Por sua vez, os nortistas transformavam o melaço em rum, o qual era transportado por navios da Nova Inglaterra e negociado no mercado africano. Como tinha boa aceitação comercial na África, trocava-se o rum por escravos. Nesse processo, os escravos obtidos nessas negociações eram destinados às fazendas antilhanas, às colônias do sul e também ao mercado da Europa. Posterior a distribuição de escravos, os navios retornavam às colônias nortistas com mais açúcar e melaço. Através do comércio triangular, os colonos também levavam para o mercado europeu várias mercadorias, tais como peixe seco, açúcar, melaço e frutas. Dos países europeus, os colonos adquiriam produtos manufaturados que eram comercializados na Nova Inglaterra. Essa relativa liberdade comercial da Nova Inglaterra e das colônias do Centro, a qual rompia com o monopólio metropolitano, pode ser entendida pela situação vivenciada na Inglaterra no século XVII. Na época, a Coroa Inglesa passou por muitas convulsões políticas, marcadas por vários conflitos entre a monarquia e o parlamento. Os interesses estatais e burgueses em relação ao mercado oriental, somado com a crise política do século XVII, são fatores que provocaram um desinteresse da metrópole em relação às suas colônias.

326 A colonização de povoamento que se inicia na América no século XVII constitui, portanto, seja uma operação com objetivos políticos, seja uma forma de exploração de mão-de-obra europeia que um conjunto de circunstâncias tornara relativamente barata nas Ilhas Britânicas. Ao contrário do que ocorrera com Espanha e Portugal, afligidos por uma permanente escassez de mão de obra quando iniciaram a ocupação da América, a Inglaterra do século XVII apresentava um considerável excedente de população, graças às profundas modificações de sua agricultura no século anterior. Essa população, que abandonava os campos à medida que o velho sistema de agricultura coletiva ia sendo eliminada, e em que as terras agrícolas eram desviadas para a criação de gado lanígero, vivia em condições suficientemente precárias para submeter-se a um regime de servidão por tempo limitado, com o fim de acumular um pequeno patrimônio. (...) O início desta colonização de povoamento no século XVII abre uma etapa nova na história da América. Em seus primeiros tempos essas colônias acarretam vultosos prejuízos para as companhias que se organizam. Particularmente grandes são os prejuízos das colônias que se instalam na América do Norte. FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Nacional, p O surgimento das assembleias coloniais e a chamada negligência salutar contribuíram para o desenvolvimento da construção de um sentimento de independência política (selfgovernment). Assim, por essa série de razões (existência de manufaturas, autogoverno, pequena propriedade e trabalho livre, além de outras razões), boa parte dos historiadores usa o termo colônias de povoamento em referência às colônias que integram a Nova Inglaterra. As colônias do Sul utilizavam o sistema de plantation(grandes fazendas) estruturado no cultivo de tabaco, arroz, índigo e algodão voltado para o mercado exterior. Dessa forma, as colônias sulistas se enquadravam no tradicional modelo do Antigo Sistema Colonial, uma vez que sua economia era um complemento da metropolitana. Inicialmente, foi utilizado o trabalho familiar e a servidão por contrato. Porém, rapidamente os latifundiários deram preferências à mão de obra dos escravos africanos. A sociedade das colônias meridionais foi marcada por intensas diferenças sociais e étnicas. A discriminação racial e a intolerância adquiriram enormes proporções, tendo como maior exemplo a criação, no século XIX, da sociedade secreta segregacionista Ku Klux Klan. Localizadas entre a Nova Inglaterra e as colônias sulistas, os núcleos do Centro foram os últimos a se formarem na América Inglesa. Essa região já havia sido explorada por holandeses, franceses, alemães e suecos. As colônias centrais pode ser entendida como uma fusão do dinamismo da Nova Inglaterra com a tolerância das colônias do sul. Desse modo, podemos afirmar que houve grande diversidade étnico-cultural dada a presenças de vários grupos sociais na região. As principais atividades comerciais nessas colônias foram: manufaturas têxteis e metalúrgicas, a criação de gado, agricultura (trigo, cevada, centeio e aveia) desenvolvida em pequenas e médias propriedades. As colonizações francesa e holandesa Nas regiões do atual Canadá, os franceses fundaram suas colônias. As regiões dominadas pelos colonizadores franceses se estenderam pelo interior do continente americano, por causa dos caçadores de pele e dos missionários. Em linhas gerais, o território colonial da França foi constituído por uma extensa área pouco povoada. Além da América do Norte, a França também formou colônias nas Antilhas, cuja exploração se estruturava no sistema de plantation. Além disso, os franceses conquistaram a região das Guianas e invadiram o Brasil, criando instalações no Rio de Janeiro (1555) e no Maranhão (1612). Já os holandeses, como não haviam ocupados regiões do continente americano, passaram um bom tempo sem fundar colônias. Porém, eles foram atuantes nas atividades coloniais através dos financiamentos concedidos à produção agrária e ao tráfico negreiro. Entre 1630 e 1654, os holandeses ocuparam o Nordeste do Brasil, desenvolvendo, em fins do século XVII, uma bem-sucedida produção açucareira nas Antilhas, também sob a égide do sistema de plantation.

327 TEXTO COMPLEMENTAR Educação nas colônias: primeiras escolas e universidades A colonização britânica na América do Norte foi feita em boa parte por grupos protestantes. Esses grupos, como vimos, consideravam indispensável que todas as pessoas conhecessem a Bíblia. Ora, para isso, era preciso que todos aprendessem a ler. Os colonos protestantes fundaram então muitas escolas de alfabetização. Essas escolas eram mantidas pela própria comunidade, que pagava inclusive o salário do professor. Isso ajuda a explicar por que, durante os séculos XVII e XVIII, os índices de analfabetismo nas Treze Colônias estavam entre os menores do mundo. Além das escolas de ensino básico, os colonos fundaram também universidades. Para ser admitido numa delas, o candidato devia saber interpretar obras de autores clássicos no original, em latim ou grego, conhecer a Bíblia com profundidade, saber aritmética e levar a vida sem vícios. O estudo da Bíblia era matéria obrigatória em todos os cursos dessas universidades, que tinham entre seus principais objetivos a formação de líderes religiosos (pastores e pregadores) para as comunidades. Entre as mais conceituadas universidades norte-americanas fundadas nos tempos coloniais, está a Universidade de Harvard, criada em 1636 em Massachussetts. Harvard começou com um único professor e apenas nove alunos, dos quais a maioria abraçou o ofício de pastor. Um texto de 1643 dizia que esta universidade estava sendo criada (...) para avançar o saber e perpetuá-lo para a posteridade, com a preocupação em não permitir que pastores mal preparados trabalhem em nossas igrejas. Extraído do site oficial da Harvard Universty: Hoje Harvard é uma das universidades mais prestigiadas do mundo, atraindo pesquisadores e estudantes de todos os continentes. A instituição oferece vários cursos em diversas áreas das ciências humanas, exatas e biológicas. Os cursos em Harvard são caros, porém s estudantes carentes com bom desempenho recebem bolsas de estudos. Após a leitura do texto, comente a importância do processo educacional implantado nas Treze Colônias e quais suas influências para o desenvolvimento dos Estados Unidos?

328 FAZENDO HISTÓRIA 1. (Fuvest-SP) Compare os sistemas de colonização adotados na América por Espanha e Inglaterra. 2. (UFU-MG) Na colonização da América os espanhóis utilizaram-se de dois sistemas para enquadrar o trabalho dos índios. Dê o nome e explique como funcionava cada um desses sistemas. 3. (Fuvest-SP) O mundo grecorromano e o mundo ocidental moderno criaram colônias ultramarinas e usaram o trabalho escravo. Indique as diferenças entre esses dois períodos históricos no que se refere à colonização e à escravidão.

329 QUESTÕES DE VESTIBULARES 1. (UPE) Creio que por causa dessas obras ímpias, criminosas e ignominiosas, perpetradas de modo tão injusto e bárbaro, Deus derramará sobre a Espanha sua fúria e sua ira, porque toda a Espanha bem ou mal, teve o seu quinhão nas sangrentas riquezas, usurpadas à custa de tanta ruína e extermínio. Las Casas citado por Todorov. p. 29. A citação de Las Casas é uma profecia de que dificilmente os países europeus puderam escapar. Analise e assinale a alternativa correta. a) A Espanha foi quem mais lucrou com as expansões marítimas, estando apta a entrar na modernidade com todos os recursos oriundos da política metalista. b) Embora a Espanha desempenhasse o papel principal na colonização, não esteve sozinha no processo de destruição, trazendo consigo portugueses, franceses, ingleses, holandeses, belgas, italianos e alemães que chegaram mais tarde. c) A Espanha não destruiu tanto assim a América, pois em algumas partes deste continente, como no Equador e no Peru, os povos indígenas ainda representam boa parte da população. d) Todo o ouro conquistado pela Espanha serviu para pagar as dívidas contraídas com as Treze Colônias da América, que estavam necessitando de dinheiro para conquistar sua independência da Inglaterra. e) A Espanha não lucrou com o ouro extraído porque teve que dividir o território conquistado com a Inglaterra e a França, que reivindicaram a parte norte da América. 2. (COVEST) Uma conjugação de fatores possibilitou que as colonizações espanhola e inglesa, na América, desenvolvessem sociedades profundamente diferentes. Assinale a alternativa que indica tais diferenças. a) A ausência de metais preciosos e a monocultura da cana-de-açúcar nas treze colônias da América inglesa. b) A tolerância religiosa na América espanhola e a diversificação de atividades agrícolas na América Inglesa. c) A negligência fiscal por parte da Inglaterra e a presença de colonos de diferentes credos políticos e religiosos, em busca de liberdade na América inglesa se contrapões à presença do Estado espanhol na administração colonial e da religião católica junto aos colonos e índios. d) A ausência da escravidão na América espanhola e a presença da servidão na América inglesa. e) A monocultura da cana-de-açúcar, do tabaco e do algodão na América espanhola, em oposição à extração de metais preciosos na América inglesa. 3. (UFPB) A ocupação das Américas pelos europeus, a partir de 1492, logo demandou a presença do Estado metropolitano a fim de organizar, direcionar e normatizar a vida nas colônias. Para tanto, as metrópoles montaram aparelhos administrativos complexos, seguindo modelos de cada tradição européia, em contato com as tradições aborígines e que, em sua maioria, serviam aos interesses dessas metrópoles sobre o território. Nesse contexto, em relação à administração espanhola, considere as afirmações: I. A administração da América hispânica caracterizou-se pelo centralismo de decisão na Corte de Madrid. Foi unitarista no controle territorial do continente americano e desenvolveu uma política religiosa cosmopolita, respeitando as religiões locais. II. A divisão administrativa adotada pela Espanha previa dois tipos de Colônia: os vicereinados e as capitanias-gerais. Chegaram a ser estabelecidos quatro vice-reinos Nova Espanha, Nova Granada, Peru e Rio da Prata e quatro capitanias-gerais Cuba, Guatemala, Venezuela e Chile. III. A Busca do Eldorado foi muito forte entre os espanhóis. Fato que levou à montagem de uma administração preocupada, primeiramente, em cristianizar os gentios. Daí,

330 só tardiamente, é que se voltaram para o controle fiscal, com o surgimento da mineração no século XVIII. Está(ão) correta(s) somente: a) I. b) II. c) III. d) II e III. e) I e II. 4. (UPE) Na época da expansão marítima europeia na América, as viagens de exploração eram importantes para o crescimento das riquezas das potências da época. Os ingleses neste contexto a) fizeram, inicialmente, mais viagens de reconhecimento ao litoral da América do Sul. b) firmaram contratos com Portugal, para explorar as minas de ouro, usando princípios mercantilistas. c) tiveram a sorte de descobrir minas de ouro que garantiram as despesas com a colonização. d) contaram com a ajuda de piratas famosos, para assaltarem navios estrangeiros e acumularem riquezas. e) dominaram, já no século XV, boa parte da região que viria a ser os Estados Unidos da América. 5. (UPE) Assinale a alternativa correta. a) As colonizações portuguesa e espanhola tiveram êxito na conversão pacífica dos nativos da América, construindo uma cultura híbrida e diversificada. b) As administrações coloniais seguiram, inicialmente, princípios do mercantilismo substituídos, já no século XVII, pelas teorias do liberalismo econômico. c) A presença da Igreja Católica foi fundamental nas colônias portuguesas, ajudando na montagem da dominação e garantindo um suporte religioso importante. d) O ouro foi a grande riqueza da América portuguesa, livrando a metrópole de dívidas e garantindo o ressurgimento do império português. e) Os modelos administrativos coloniais foram centralizadores, incentivaram a prática da escravidão, mas deram certa autonomia às colônias para organizar sua economia. 6. (UPE) A expansão marítima europeia movimentou riquezas, sonhos, ambições, conhecimentos. Estava articulada com as inúmeras mudanças que ocorriam nos séculos iniciais da Idade Moderna. A colonização das terras conquistadas foi: a) um longo processo que envolveu a burguesia européia, juntamente com as monarquias nacionais, aliados na defesa da quebra dos monopólios. b) importante para assegurar a dominação política e auferir lucros com as riquezas existentes. c) executada pela burguesia e a nobreza, sem a participação dos monarcas da época. d) marcada pelo êxito imediato, a boa receptividade dos colonos e a eficácia do pacto colonial. e) feita de maneira improvisada, encontrando resistência dos nativos e enfraquecendo os Estados europeus. 7. (UNIFAL) Com relação à colonização francesa, espanhola e inglesa no continente americano, é CORRETO afirmar: a) A colonização espanhola, baseada no trabalho compulsório indígena, nos séculos XVI e XVII, predominou nas áreas mineradoras do México e Peru. b) A colonização inglesa na região do Caribe baseava-se no trabalho escravo indígena e na grande lavoura de exportação. c) Nas regiões de colonização francesa, predominou a escravidão indígena, fundamental para a produção da economia canavieira. d) A colonização inglesa da América do Norte baseava-se, ao Sul, na agricultura familiar e atividades manufatureiras e, ao Norte, na lavoura escravista de exportação. 8. (FUNCAB) Na colonização da América Espanhola, a mão-de-obra indígena foi empregada pelos espanhóis em diferentes regimes de trabalho. Com relação aos sistemas de trabalho utilizados na colonização hispano-americana, analise as afirmativas abaixo:

331 I. Na encomienda, os indígenas eram encomendados (entregues) aos colonos espanhóis (os encomenderos), que eram obrigados a pagar os tributos à Metrópole. Na prática, os nativos acabavam por realizar trabalho forçado em favor dos colonizadores. II. No repartimiento, os espanhóis recrutavam mão de obra indígena para trabalhar em fazendas ou obras públicas, como pontes e estradas. Nesse sistema de trabalho, os indígenas eram teoricamente remunerados em dinheiro, mas houve casos de pagamento em gêneros ou ainda com moedas sem valor. III. Na mita, o regime de trabalho já era utilizado pelos incas antes da chegada dos espanhóis à América, que fizeram algumas adaptações aos seus interesses. Embora remunerada, essa atividade era imposta aos indígenas, sendo eles recrutados na comunidade para servir no mesmo período em que cuidavam de suas próprias terras. Está correto o que se afirma em: a) I e II, apenas. b) I, II e III. c) I e III, apenas. d) II e III, apenas. 9. (UFPB) A ocupação das Américas pelos europeus, a partir de 1492, logo demandou a presença do Estado metropolitano a fim de organizar, direcionar e normatizar a vida nas colônias. Para tanto, as metrópoles montaram aparelhos administrativos complexos, seguindo modelos de cada tradição européia, em contato com as tradições aborígines e que, em sua maioria, serviam aos interesses dessas metrópoles sobre o território. Nesse contexto, em relação à administração espanhola, considere as afirmações: IV. A administração da América hispânica caracterizou-se pelo centralismo de decisão na Corte de Madrid. Foi unitarista no controle territorial do continente americano e desenvolveu uma política religiosa cosmopolita, respeitando as religiões locais. V. A divisão administrativa adotada pela Espanha previa dois tipos de Colônia: os vicereinados e as capitanias-gerais. Chegaram a ser estabelecidos quatro vice-reinos Nova Espanha, Nova Granada, Peru e Rio da Prata e quatro capitanias-gerais Cuba, Guatemala, Venezuela e Chile. VI. A Busca do Eldorado foi muito forte entre os espanhóis. Fato que levou à montagem de uma administração preocupada, primeiramente, em cristianizar os gentios. Daí, só tardiamente, é que se voltaram para o controle fiscal, com o surgimento da mineração no século XVIII. Está(ão) correta(s) somente: a) I. e) II. b) III. c) II e III. d) I e II. 10.(UNESP) Leia as assertivas sobre a independência das 13 colônias inglesas na América do Norte. I. Foi um movimento que manteve as bases da estrutura da sociedade colonial, preservando a escravidão. II. A resistência interna das colônias foi fortalecida com o apoio externo dos países ibéricos. III.Sofreu influência das idéias iluministas francesas, baseadas nos princípios da liberdade, propriedade e igualdade civil. IV. A união das 13 colônias inglesas contra a Inglaterra objetivou a ruptura do pacto colonial. Estão corretas as afirmativas a) I e IV, apenas. b) II e III, apenas. c) I e II, apenas. d) I, III e IV, apenas. e) I, II, III e IV.

332 OLHARES HISTÓRICOS Livros Estados Unidos: a formação da nação. KARNAL, Leandro. São Paulo, Contexto, (Coleção Repensando a História) A formação dos Estados Unidos. NARO, Nancy Priscilla Smith. São Paulo, Atual (Coleção Discutindo História) Cinema O Novo Mundo Direção de Terrence Mallick. Estados Unidos, minutos. No início do século XVII, 3 navios partem da Inglaterra para a América do Norte. Ao chegar eles aportam em meio a um império indígena, sendo que um dos tripulantes se apaixona pela filha do chefe local. O Novo Mundo Direção de Terrence Mallick. Estados Unidos, minutos. No início do século XVII, 3 navios partem da Inglaterra para a América do Norte. Ao chegar eles aportam em meio a um império indígena, sendo que um dos tripulantes se apaixona pela filha do chefe local. As bruxas de Salém Direção de Nicholas Hytner. Estados Unidos, min. Em pleno século XVII, um grupo de adolescentes é flagrado em ritual demoníaco. Ao serem interrogadas sobre o fato, elas passam a apontar as pessoas as quais não gostam como sendo verdadeiras bruxas, como forma de se vingarem. Internet e Literatura Pablo Neruda O site hospeda as principais obras do poeta chileno Pablo Neruda. Disponível em:

333 Vista de Itamaracá, Franz Post. CAPÍTULO 22 América Portuguesa: a montagem do sistema colonial, 343 CAPÍTULO 23 A economia da América Portuguesa, 360 CAPÍTULO 24 A sociedade colonial brasileira e a escravidão moderna, 375

334 América portuguesa: A montagem do sistema colonial Semelhante aos demais europeus, os lusitanos, ao desembarcarem na América, estranharam bastante os primeiros povos que habitavam o atual Brasil. Os costumes, as tradições, a língua, a nudez e a organização social das comunidades indígenas não eram compatíveis com a realidade conhecida pelos portugueses. A surpresa dos portugueses em relação aos indígenas (...) A feição deles é parda, um tanto avermelhada, com bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertura. Não fazem o menor caso de encobrir ou de mostrar suas vergonhas, e nisso têm tanta inocência como em mostrar o rosto. Ambos traziam o lábio do baixo furado e metido nele seus de verdade, brancos e do cumprimento duma mão travessa, da grossura dum fuso de algodão, agudos na ponta como furador. (...) GANDAVO, Pero de Magalhães. Tratado da Terra do Brasil. In: RONCARI, Luiz. Literatura brasileira: dos primeiros cronistas aos últimos românticos. São Paulo: Edusp, Quando os portugueses chegaram ao Brasil se assustaram com os povos que aqui habitavam. Isso se deu devido às disparidades encontradas entre os costumes dos povos indígenas (maneira de vestir, de encarar os trabalhos e de pensar e de ver o mundo) em relação aos europeus. A organização social dos ameríndios foi classificada pelos invasores como primitivas, incompletas e infantilizada. Essa visão preconceituosa gerou algumas contradições, a saber, o índio era visto como uma pessoa sem maldade, pura e ao mesmo tempo selvagem. Essas concepções favoreceram a uma política dúbia, a maioria dos índios foram vítimas de massacres, já outros, ficaram protegidos pela catequização coordenada pelas missões religiosas. A diversidade cultural dos primeiros habitantes do Brasil Pouco se sabe da história dos índios brasileiros no período colonial ou até mesmo antes dele. Segundo estimativas a população que ocupava o território brasileiro girava em torno de 5 a 6 milhões de habitantes. Boa parte das informações que se tem sobre os primeiros habitantes do atual Brasil foi disponibilizada por missionários, náufragos e viajantes que conviveram entre os grupos Tupis. De acordo com essas fontes, havia uma forte diversidade cultural entre os índios. Cada qual com suas crenças, seus costumes, suas línguas e seu modo de lidar com os recursos naturais. Entretanto, é possível citar algumas semelhanças entre eles. Confira abaixo alguns aspectos. Não conheciam a escrita; Havia uma divisão de trabalho por sexo e por idade: os homens pescavam e caçavam; construíam casas; fabricavam canoas e armas; preparavam o solo para o plantio; protegiam a tribo e guerreavam. Já as mulheres cultivavam o milho, a batata-doce, a mandioca; fiavam e teciam. Além disso, executavam os serviços domésticos e cuidavam das crianças; Casamento endogâmico, ou seja, entre os membros da mesma tribo; em algumas tribos era permissível a poligamia; Executavam a queimada da vegetação para o plantio, essa prática chama-se de coivara; Não possuíam um Estado organizado; As terras eram comunitárias, mas os objetos de trabalho eram individuais; Alguns grupos faziam migrações quando os alimentos estavam próximos de terminarem; já outros, mais sedentários, utilizavam a cerâmica; Sociedade de guerreiros: conflitos entre os grupos indígenas; Religião baseada em mitos e espíritos;

335 Com base na semelhança lingüística, houve, inicialmente, uma divisão dos índios brasileiros, os Tupis-Guaranis e os Tapuias (todo aquele que falava tupi). Os Tupis-guaranis estavam localizados em todo litoral brasileiro, do norte ao sul e como tiveram relações amistosas com os portugueses foram vistos de forma positiva. Já os Tapuias, habitavam em algumas áreas litorâneas e no interior do Brasil foram hostis à presença dos portugueses e, por isso, foram classificados negativamente. Família guarani capturada por caçadores de índios escravistas, tela de Jean Baptiste Debret, O poder entre os Guaranis Entre os Guaranis, como nos povos indígenas na América portuguesa em geral, o poder político não estava separado da sociedade. Era a própria sociedade quem detinha a totalidade do poder. Havia líder, mas seu poder era limitado. O respeito às decisões do chefe dependia de sua capacidade de persuasão e não da força. Os chefes tinham mais obrigações que privilégios e suas decisões estavam condicionadas na cultura do povo e não em sua vontade. A aceitação da liderança dependia daquilo que eram consideradas virtudes do chefe, entre elas a idade, a experiência, a coragem, a generosidade, os dotes oratórios, ser bom guerreiro, bom xamã, as habilidades na caça, pesca e agricultura. Todas essas qualidades eram usadas para a comunidade. O que legitimava o poder do chefe eram as contraprestações que a comunidade recebia dele. Em resumo, os líderes tinham mais prestigio que poder. A única exceção em que o chefe exercia o poder com autoridade, utilizando-se da força, eram os períodos de guerras. A autoridade do líder era extremamente frágil. Dependia diretamente do respaldo dos liderados. O chefe não possuía súditos, mas sim partidários. COLAÇO, Thaís Luzia. In: WOLKEMER, Antônio Carlos (Org.). Direito e justiça na América indígena da conquista à colonização. Porto Alegre: Livraria do Advogado, p116-7.texto adaptado. A língua usada pelos colonizadores para manter os primeiros contatos com os índios foi o tupi ou tupinambá. Porém, existia uma outra língua que era resultado da mistura entre o tupi e o latim, conhecida como língua geral ou nheegatu. Segundo pesquisadores, na época da chegada dos europeus existia uma diversidade enorme de grupos indígenas, classificados em centenas de línguas diferentes. Para os especialistas essa quantidade de famílias lingüísticas podem ser organizadas em quatro troncos lingüísticos: Tupi, Macro-Jê, Karib e Arwak. Os grupos indígenas conheciam muito bem os fenômenos naturais. Por exemplo, os Tupinambás sabiam fazer a relação entre as fases da lua e as marés. Os povos indígenas praticavam fitoterapia, ou seja, faziam tratamentos médicos através do uso de várias plantas. Havia a aplicação de venenos na captura de peixes e na caça em geral. Uma das substâncias mais utilizadas entre eles era o curare. Ele era colocado na ponta da flecha. Ao atingir a presa, seu efeito era imediato, pois os animais eram paralisados e chegavam a morrer por asfixia.

336 As peças feitas pelos índios eram voltadas para o uso cotidiano, tais como potes e urnas. Os enfeites plumários, os adornos e as pinturas eram usados em ritos ou festas, eventos considerados por eles muito especiais. As plumas possuíam uma diversidade de cores, que depois de maravilhosas combinações serviam como matérias-primas na fabricação de braceletes, toucas, mantas, colares, diademas. Além disso, havia a produção de redes, esteiras e cestos de vários estilos. As tatuagens que são usadas por muitas pessoas nos dias atuais, também eram comuns entre os índios. Nessas pinturas corporais eram empregados vários tipos de corantes, principalmente o azul-escuro do jenipapo, o vermelho do urucum, o branco do calcário e o preto do carvão. Segundo os antropólogos, essas pinturas tinham relações com a função social da pessoa ou com ao cerimonial a ser realizado. Os diversos saberes sobre a natureza foram altamente necessários para a sobrevivência dos europeus no período colonial, e tais conhecimentos foram absorvidos no decorrer do século e são perceptíveis na cultura brasileira contemporânea. Enfim, não se pode negar as inúmeras contribuições dos índios para a formação étnica e cultural da sociedade brasileira. O início da ocupação O processo de colonização alterou toda a realidade cultural e étnica da população local. Assim, as comunidades indígenas foram fortemente impactadas pelo projeto colonizador de Portugal. A princípio, as relações entre os habitantes do litoral foram pacíficas, porém, com o transcorrer dos anos a violência e a catequização foram os principais instrumentos para dominar os ameríndios. Nos primeiros 30 anos da colonização, a corte portuguesa tinha maior interesse com os empreendimentos comerciais orientais, os quais lhe rendiam elevados lucros. Isso porque, que nas terras do atual Brasil não havia sinal da existência de metais preciosos, assim, as regiões da América Portuguesa ficaram em segundo plano. Entretanto, as terras descobertas precisavam ser ocupadas pelos portugueses, pois outros países também desejavam participar das atividades comerciais e rejeitavam o Tratado de Tordesilhas. Nesse momento, Portugal precisava colonizar e dominar as colônias do novo continente, mas a conquista era muito dispendiosa. Sobre essa fase, denominada por muitos historiadores como pré-colonial, Luiz Roberto Lopez afirma: Durante os primeiros trinta anos da dominação portuguesa, o Brasil não foi, tecnicamente falando, uma colônia, visto que não estavam presentes diversos elementos que (...) fazem parte da estrutura colonialista. É fato que existia uma riqueza da qual os portugueses se apropriavam. Mas inexistia um sistema montado em função dessa apropriação (...). A apropriação da referida riqueza o pau-brasil dava-se dentro de moldes muito primitivos e a sociedade indígena que aqui existia não era afetada pelo relacionamento econômico imposto pelas necessidades de enriquecimento de Portugal. Em resumo, este lado nos mostra que se a simples dominação política não configura a situação colonial, da mesma forma não a configura a apropriação pura e simples das riquezas de uma terra pela população de outra. LOPEZ, Luiz Roberto. História do Brasil Colonial. 2. ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, p. 17.

337 Mapa de Lopo Homem, No começo de 1500, Pedro Álvares Cabral realizou uma excitante viagem que tinha como objetivo consolidar as relações mercantis com as Índias e confirmar as vantagens territoriais estabelecidas pelo Tratado de Tordesilhas. Com uma grandiosa frota composta por treze naus e aproximadamente mil e duzentos homens, Cabral aportou em Porto Seguro, região litorânea, da terra que ele nomeou de Ilha de Vera Cruz, posteriormente, Terra de Santa Cruz. A descoberta cabralina não foi obra do acaso, segundo alguns historiadores, o ocorrido estava dentro de suas previsões. Inicialmente, os portugueses não se interessavam em ocupar rapidamente as terras brasilis, pois a aparente inexistência de riquezas (especiarias e artefatos luxuosos) não justificaria tal empreendimento. Na realidade, a chegada da frota lusitana à América não provou o mesmo estímulo da expedição comandada por Vasco da Gama ao Oriente. Assim, os negócios com as Índias eram muitos mais vantajosos. Mesmo assim, era necessário proteger a colônia, desbravar o seu litoral, criar feitorias. Isso porque países, como a França, rejeitaram às determinações do Tratado de Tordesilhas, que partilhava o mundo entre espanhóis e portugueses. Desse modo, os franceses organizaram diversas incursões ao litoral da colônia americana, discordando do domínio de Portugal, uma vez que as terras ainda estavam desocupadas. Tal questionamento se fundamentava no princípio jurídico chamado uti possidetis, ou seja, o direito de posse estava condicionado a ocupação e a exploração. A primeira forma de exploração: o pau-brasil A extração do pau-brasil (ibirapitanga, em tupi) constituiu a primeira forma de exploração econômica empreendida pelos portugueses. Essa árvore era encontrada em grande quantidade nas matas litorâneas que abrangia os atuais estados do Rio Grande do Norte ao Rio de Janeiro. Os componentes naturais dessa madeira tinham um precioso valor comercial. Desde o período medieval, nos centros manufatureiros de Flandres (entre Holanda e Bélgica), os tecidos eram tingidos com púrpura e com uma substância advinda de uma árvore. Da casca do pau-brasil era retirada um corante avermelhado que além ser usado para tingir tecidos, também utilizava-se na produção de tinta para escrever, na fabricação de navios e móveis. Sobre a relativa importância econômica dessa madeira, o historiador Hilário Franco comenta:

338 Se o valor daquele produto (o pau-brasil) era bem inferior ao das especiarias já se calculou que uma nau de 120 toneladas carregada de especiarias valia sete vezes um igual carregamento de pau-brasil não era, no entanto, desprezível. De fato, não se justificariam tantos cuidados do governo, se se tratasse de produto inferior na escala dos lucros auferidos. O próprio interesse estrangeiro em particular deste comércio, com navios franceses, e em menor escala, ingleses e espanhóis, procurando romper o monopólio lusitano, indica nesse sentido. FRANCO JÚNIOR, hilário; CHACON, Paulo Pan. História Econômica Geral e do Brasil. São Paulo: São Paulo, 1980.p Aos poucos Portugal foi se dedicando a extração do pau-brasil. Mesmo estando ciente que os negócios com esse recurso vegetal jamais alcançaria os lucros obtidos no Oriente, a Coroa estabeleceu o monopólio da madeira. Desse modo, o governo concedia à particulares ou às expedições oficiais, o direito de explorar, transportar e comercializar o produto. Por outro lado, os contratantes tinham como obrigação organizar o sistema de feitorias - locais de armazenamento fortificados onde era guardada a madeira a ser levada para a metrópole. A cada ano, os contratantes deveriam organizar expedições com o objetivo de explorar o litoral. Vale destacar que a grande presença desse vegetal no litoral, também atraiu contrabandistas franceses. Por isso, como meio encontrado para impedir o contrabando ilegal da madeira, a Coroa decretou o monopólio desse produto. A mão de obra utilizada na extração do pau-brasil foi a indígena, a qual foi assegurada através do escambo. Em troca de tecidos, roupas, canivetes, miçangas e outros objetos, os habitantes locais derrubavam as árvores, adquiriam as toras e as transportavam para as feitorias. Assim, esse mecanismo tornou viável a exploração dessa madeira que se enquadrava nos interesses econômicos da Coroa portuguesa. Desse modo, a exploração do pau-brasil foi caracterizada pelo caráter predatório e rudimentar que contribuiu para a destruição das florestas litorâneas brasileiras. De acordo com alguns números, anualmente, eram extraídas aproximadamente 300 toneladas de madeira. Dado a forma destrutiva e exploratória, essa atividade econômica entra em decadência já na década de Entre 1501 e 1502 foi organizada a primeira viagem ao Brasil, a qual contou com a participação do navegador italiano Américo Vespúcio e do comandante Gonçalo Coelho. Vale salientar, que as primeiras expedições não constituíram empreendimentos com fins colonizadores. Inicialmente, elas tinham a finalidade de fazer o reconhecimento geográfico e, simultaneamente, pesquisar as viabilidades da exploração do pau-brasil. Fernando de Noronha junto com os seus consorciados obtiveram entre 1503 e 1505, o exclusivismo da exploração da madeira. Nesse período, contando com o apoio da Coroa, realizaram-se outras expedições exploratórias comandadas por Cristóvão Jacques, Fernão de Magalhães, Diogo Garcia e Sebastião Caboto. Segundo alguns historiadores, nessa fase inicial, já havia dezenas de europeus (exilados, desertores e náufragos) convivendo com os índios. Essas pessoas foram utilizadas com freqüência como intérpretes nos contatos entre os europeus e os habitantes locais. A colonização e a organização administrativa A partir do início da década de 1530, a Coroa portuguesa passou a encontrar dificuldades em manter o extenso império colonial tanto no Oriente quanto no Ocidente. Além disso, o governo também enfrentava outro problema, sustentar a luxuosa e dispendiosa corte metropolitana. Diante dessa situação, tornou-se obrigado a contrair empréstimos e a procurar prováveis riquezas nas terras da América. Assim, podemos afirmar que as principais razões que contribuíram para o processo de colonização foram: 1. declínio das atividades comerciais de especiarias no Oriente; 2. incursões de estrangeiros no litoral da colônia portuguesa; 3. conclusão de que a montagem das feitorias em pontos estratégicos era insuficientes para efetivar a conquista do território; 4. descoberta de metais preciosos nas regiões do México e Peru. Nessa perspectiva, como as expedições exploratórias e de costeiras foram incapazes de paralisar a permanente presença dos corsários franceses (contrabando de pau-brasil) no

339 litoral brasileiro, seria necessário que o Estado português pudesse garantir a posse dessas regiões, estabelecendo núcleos constantes de povoamento, colonização e proteção. No governo de João III, a economia portuguesa enfrentou uma intensa crise econômica. O império português era bastante dispendioso. Além disso, a arrecadação tributária não conseguia acompanhar os altos gastos da corte. Daí, Portugal acumulava dívidas. A burguesia portuguesa também se endividou, uma vez que passou a depender dos empréstimos dos banqueiros estrangeiros para manter seus negócios. Diante das ameaças estrangeiras e concebendo o Brasil como alternativa para diminuir a recessão, o governo português começa definitivamente a colonização em 1530, quando foi realizada a grandiosa expedição (com mais de quatrocentos homens, entre eles espanhóis e holandeses) colonizadora sob o comando de Martin Afonso de Sousa. O representante da Coroa tinha como principal compromisso reconhecer e colonizar as regiões, tornando-as rentáveis, proteger o litoral colonial, fundar vilas e fortificações. Ele também visava encontrar uma passagem terrestre ou fluvial que ligasse o Atlântico às minas de prata peruanas. Com Martin Afonso de Sousa foi iniciada a plantação de cana-de-açúcar nas terras lusitanas, atividade que transformaria a colônia numa região potencial-mente geradora de grandes lucros para a metrópole. Com amplos poderes repassados pela Coroa, Martin Afonso, como tinha que ocupar as terras da colônia, passou a distribuir sesmarias (lotes de terras desocupadas) às pessoas que tinham interesses em explorá-las com os recursos próprios. Esse mecanismo de distribuição já havia sido praticado com êxito nas colônias portuguesas de Madeira e Açores. Ao regressar da expedição à região sul, Martin Afonso fundou, 1532, a vila de São Vicente (atual litoral do Estado de São Paulo), considerada o primeiro núcleo urbano da colônia portuguesa. Nesse local, ele também estabeleceu o cultivo da cana-de-açúcar, ordenando a construção do primeiro engenho da América portuguesa, lançando as estruturas para agroindústria açucareira. A expedição empreendida por Martin Afonso foi fundamental para o desenvolvimento do projeto de colonização desejado pela coroa portuguesa. Como meio de concretizar os planos colonizadores, em 1534, a Coroa instituiu o sistema de capitanias hereditárias ou donatárias, praticado anteriormente nas ilhas litorâneas da África. Com o estabelecimento do sistema de capitanias, o território foi fragmentado em 15 faixas lineares de terras que se estendiam do litoral ao meridiano de Tordesilhas. Para a efetivação, o governo português contou com o auxílio de particulares, aos quais eram concedidas lotes de terras por intermédio a carta de doação. Essa concessão era intransferível, ou seja, a capitania não podia ser vendida e nem doada, pois cabia exclusivamente ao monarca português esse direito. Entretanto, o sistema transferia privilégios aos capitães donatários, geralmente integrantes da pequena nobreza, burocratas e comerciantes com mínimos recursos para empreender. Vale destacar, que as doações também eram utilizadas como meio de recompensa pelos serviços prestados ao governo português. Em relação a essa forma de colonização encontrada pelo governo português, o economista Celso Furtado comentou: Contudo, tornava-se cada dia mais claro que se perderiam as terras americanas amenos que fosse realizado um esforço de monta para ocupá-las permanentemente (...). Sem embargo, os recursos de que dispunha Portugal para colocar produtivamente no Brasil eram limitados e dificilmente teriam sido suficientes para defender as novas terras por muito tempo. FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura. P.56. Não restam dúvidas de que, desde o momento de seu desembarque, tanto os donatários quanto seus colonos visavam ao lucro imediato. O principal, e quase único, objetivo da maioria era enriquecer o mais rápido e facilmente possível e retornar a Portugal. Nesse sentido, os homens que os donatários trouxeram para ocupar suas terras não eram colono no sentido literal da palavra: eram conquistadores dispostos a saquear as riquezas da terra, especialmente as minerais. BUENO, Eduardo. Capitães do Brasil: a saga dos primeiros colonizadores. Rio de Janeiro: Objetiva, p.13.

340 Detalhe do mapa Terra Brasilis (Atlas Miller, 1519), atualmente na Biblioteca Nacional de França. Os direitos e deveres dos capitães donatários estavam inseridos num documento chamado de Foral. Em relação à administração, possuíam o direito de fundar vilas, doar sesmarias, responsável pelo monopólio da justiça e da liderança militar. No âmbito econômico, detinham o domínio das moendas de água, dos engenhos e das marinhas de sal. Além dessas vantagens, os capitães podiam a cada ano escravizar e mandar vender em Portugal 24 índios apresados tinham o direito de vintena (vigésima parte) do valor da extração do pau-brasil, 50% do dízimo do pescado, a redízima (um centésimo) dos lucros da coroa, a décima parte dos metais preciosos e, por fim, detinham os direitos de passagens em portos, rios e outras águas. Os principais objetivos desejados com o estabelecimento das capitanias hereditárias, no geral, malograram. As razões para esse fracasso podem ser atribuídas à escassez de recursos financeiros, a distância da Europa, a falta de terras férteis em algumas capitanias, as precárias condições de transportes e comunicação, a falta de experiência e interesses de alguns donatários e, ainda, as hostilidades entre portugueses e os habitantes locais. As únicas capitanias bem-sucedidas foram as de Pernambuco e São Vicente, que se desenvolveram devido à instalação da agroindústria açucareira. Vale salientar, que Martin Afonso, concessionário da Capitania de São Vicente, não se interessou em administrá-la pessoalmente, optando pela ocupação do cargo de capitão-mor da Armada da Índia. Para o historiador Sérgio Buarque de Holanda, a família de colonos Schetz, oriundos dos países baixos, foram os responsáveis pela prosperidade de São Vicente. Entretanto, mesmo com os investimentos feitos na produção de cana-de-açúcar e na criação de gado, o desenvolvimento dessa capitania não se aproximou da prosperidade de Pernambuco.

341 Sob a administração de Duarte Coelho, Pernambuco, mesmo sem o auxílio da Coroa portuguesa, se desenvolveu. Ele fundou a vila de Olinda, enfrentou conflitos com os habitantes locais, importou escravos da África, que passaram a ser utilizados como principal mão de obra da lavoura canavieira. Duarte Coelho reclamava da falta de apoio do Estado Português, que não conseguia coibir a presença dos contrabandistas do pau-brasil. Apesar das queixas, o governo português não atendeu o seu pedido. A vila de Olinda é a cabeça da capitania de Pernambuco, a qual povoou Duarte Coelho, (...) Esta gente pode trazer de suas fazendas quatro ou cinco mil escravos da guiné e muitos do gentio da terra. É tão poderosa esta capitania que há nela mais de cem homens que têm de mil até cinco mil cruzados de renda, e alguns de oito, dez mil cruzados. Desta terra saíram muitos homens ricos para estes reinos que foram a elas muito pobres, com os quais entram cada ano desta capitania quarenta e cinqüenta navios carregados de açúcar e pau-brasil. SOUSA, Gabriel Soares. Tratado descritivo do Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, p Com o propósito de incentivar o processo de colonização, em meados do século XVI, a coroa portuguesa cria o Governo-Geral (1548), cuja função primordial seria centralizar as decisões e a administração colonial. Desse modo, houve a substituição do projeto inicial, marcado pela descentralização, por outro, caracterizado pela centralização administrativa. A principal função do Governo-Geral era oferecer apoio e suporte as capitanias. Nessa perspectiva, a Capitania da Bahia de Todos os Santos foi escolhida para ser a sede do governo. Em 1549, a cidade de Salvador seria fundada. Desse modo, essa capitania se tornou a primeira capitania real, ou seja, administrada diretamente por um encarregado do governo português. Com o decorrer do tempo, a metrópole foi readquirindo direitos de administração sobre outras capitanias hereditárias, transformando-as em capitanias reais. Os governadores motivaram e apoiaram a implantação de engenhos nos assentos coloniais, promovendo a aglutinação dos nativos com os povoados e vilas. Além disso, os governadores também instituíram feiras regulares, controlaram o povoamento, combateram os invasores, proibiram o comércio irregular do pau-brasil, organizando-o e garantindo, dessa forma, lucros ao Estado Português. Acompanhado de mais de mil pessoas, em 1549, aporta na colônia o primeiro governador-geral, Tomé de Souza, ficando no cargo até Ao desembarcar na Bahia, ele organizou a sede do governo (Salvador) e tentou centralizar as medidas políticas e administrativas na colônia, porém não obtive êxito. Os governadores posteriores também enfrentaram uma série de dificuldades para implantar o projeto de centralização. O governador Duarte da Costa ( ) encontrou resistência até mesmo entre os colonos da Bahia. No seu mandato, teve que combater a invasão francesa ao Rio de Janeiro. Já o governador-geral Mem de Sá ( ), utilizando de habilidade política, expulsou os franceses, iniciou uma violenta luta contra os nativos revoltosos e apoiou os jesuítas no processo de catequização das tribos pacíficas. O governo-geral era assessorado pelo provedor-mor (encarregado pela cobrança de impostos e provimentos de cargos), o ouvidor-mor (cabia a ele a aplicação da justiça) e o capitão-mor (cuidava da defesa da colônia). Vale ressaltar que, o estabelecimento do Governo-Geral não acarretou o fim das capitanias hereditárias. Segundo o Regimento, documento régio que criou o modelo centralizador definia que o Governo-geral teria sido instituído para dar ajuda e favor aos capitães donatários. Eu, el-rei, faço saber a vós, Tomé de Sousa, fidalgo de minha Casa, que vendo quanto serviço de Deus e meu é conservar e enobrecer as capitanias e povoações das Terras do Brasil (...), ordenei ora de mandar nas ditas terras fazer uma fortaleza e povoação grande e forte, em um lugar conveniente, para daí se dar favor e ajuda às outras povoações (...); e por ser informado que a Bahia de Todos os Santos é o lugar mais conveniente da costa do Brasil (...), que na dita Bahia se faça a dita povoação e assento, e para isso vá uma armada com gente, artilharia, (...) e tudo o mais que for necessário. E pela muita confiança que tenho em vós (...) hei por bem de vos enviar por governador às ditas terras do Brasil (...). BONAVIDES, Roberto e AMARAL, Paulo. Regimento de Tomé de Sousa, 17 de dezembro de In: Textos políticos da história do Brasil. Brasília: Senado Federal; Subsecretaria de Edições Técnicas, 1966.

342 Entre 1572 e 1578, a colônia portuguesa vivencia uma situação político-administrativa curiosa: com o propósito de reforçar e tornar a administração mais eficiente, o monarca D. Sebastião estabeleceu na América Portuguesa dois governos-gerais. Ao norte foi instituído um governo, com sede em Salvador e ao sul foi estabelecido o outro, no Rio de Janeiro. Entretanto, os frustrantes resultados obtidos com essa divisão levaram a Coroa a restabelecer o antigo formato. Em 1578, houve a reunificação da administração, com sede em Salvador. Em 1621, ocorreu mais uma vez uma divisão político-administrativa, que teve uma maior permanência. Nesse ano, foram criados o Estado do Brasil (que se estendia do Rio Grande do Norte ao sul da colônia) e o Estado do Maranhão (formado por parte do Pará e os atuais estados do Maranhão, Piauí e Ceará). As sedes administrativas desses estados eram, respectivamente, Salvador e São Luís. A criação do Estado de Maranhão pode ser compreendido pela preocupação da Coroa portuguesa em relação às ameaças de ocupação da região pelos franceses. O Maranhão permaneceu separado da unidade colonial até A partir do século XVIII, as capitanias hereditárias começam a serem extintas, pelo Marquês de Pombal. Em 1759, a capitania de São Vicente foi a última a deixar de existir. No transcorrer desse tempo, a autonomia dos donatários foram limitadas cada vez mais pelo exercício de poder dos governadores-gerais, os quais tinham interesses em consolidar sua autoridade. Administrações municipais: os homens bons Os governadores-gerais enfrentaram algumas dificuldades para estabelecer a sua autoridade, devido a resistência dos capitães-donatários, dos proprietários de terras e do imenso território a ser administrado. O grande dilema da unidade administrativa consistia em que, além de ter atraia os colonos, seria necessário ao mesmo tempo controlá-los e governá-los. Desse modo, à medida que alguns poderes foram extraídos dos donatários e fazendeiros, instituíram-se órgãos que possibilitavam a sua participação política e administrativa. Nessa perspectiva, foram estabelecidas nas vilas e nas cidades as Câmaras Municipais ou Senado da Câmara, responsáveis, entre outras atribuições, pela administração municipal; organização das feiras e mercados; execução de obras públicas; conservação das ruas, limpeza urbana e arborização. Só podiam participar das eleições os homens nascidos na comunidade local. Entretanto, estavam aptos a votar e a ser votados, apenas, os chamados homens bons, a saber, proprietários de terras e escravos, membros do clero, funcionários reais e nobres. Assim, escravos, pobres, estrangeiros, judeus, mulheres ou praticante de qualquer atividade manual (camponeses, comerciantes, artesãos) eram excluídos do processo. Cada Câmara possuía dois juízes ordinários (eleito), um juiz-de-fora (nomeado pela Coroa), um procurador e três vereadores. Essas pessoas eram incumbidas de solucionar todos os problemas do município, desde o recolhimento de impostos até disputas por terras. Segundo alguns historiadores, a câmara possuía elevada autonomia, tornando-se, desse modo, importante espaço para a realização dos desejos e vontades políticas dos poderosos dos municípios. Mesmo subordinadas ao governo-geral, as Câmaras Municipais, se transformou em muitos casos, num agente de clientelismo e corrupção. A renda usada para gerir os negócios públicos era originária da arrecadação de tributos e do patrimônio municipal (ruas, praças, pontes, estradas, alugueis de prédios públicos). (...) A Coroa via com freqüência suas ordens canceladas ou ignoradas, o que era provavelmente inevitável dado o tamanho da colônia e os escassos recursos disponíveis a ela. Embora tendo jurado lealdade à Coroa, (...) administradores com freqüência usavam sua própria autoridade para enriquecer a si e a sua família. O contrabando, por exemplo, predominava, em especial nas fronteiras do Norte e do Sul, subtraindo à Coroa ganhos valiosos. SKIMORE, Thomas E. Uma história do Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998.

343 O sentido da colonização A organização econômica da América portuguesa foi estruturada nos moldes do Antigo Sistema colonial, ou seja, seguiu os princípios do colonialismo mercantilista. De acordo com o historiador Caio Prado Júnior o modelo de colonização possuía um sentido. Sobre esse tema, ele comenta: No seu conjunto, e vista no plano mundial e internacional, a colonização dos trópicos toma o aspecto de uma vasta empresa comercial, mas complexa que a antiga feitoria, mas sempre com o mesmo caráter que ela, destinada a explorar os recursos naturais de um território virgem em proveito do comércio europeu. É este verdadeiro sentido da colonização tropical. De que o Brasil é uma das resultantes; e ele explicitará os elementos fundamentais, tanto no social, como no econômico, da formação e evolução histórica dos trópicos americanos. Se vamos à essência da nossa formação, veremos que na realidade nos constituímos para fornecer açúcar, tabaco, alguns outros gêneros; mais tarde ouro e diamantes; depois algodão e em seguida café para o comércio europeu. Nada mais que isto. PRADO JÚNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. 42. ed. São Paulo: Brasiliense, Nessa perspectiva, o projeto de colonização da América portuguesa apresentaram as seguintes características: como na América hispânica, houve nas terras portuguesas a exploração estruturou-se na complementaridade, ou seja, a colônia deveria fornecer à metrópole e ao mercado europeu, tanto recursos naturais (ouro e prata) como produtos tropicais; a produção colonial foi organizada em larga escala e custos reduzidos, aspectos que podem justificarem, em sua maior parte, a estrutura latifundiária e o uso do trabalho escravo, principalmente, africano; o processo de colonização rinha como principal pilar o pacto colonial, expressão equivocada, embora alguns historiadores tenha o costume de utilizá-la, pois a unilateralidade desse pacto era notório, uma vez que beneficiava e favorecia a transferência de riquezas coloniais para a sede da Coroa e para a burguesia mercantil; a agricultura era caracterizada pela monocultura, mão-de-obra escrava (tráfico de escravos bastante lucrativo), voltada para o mercado exterior e dependente de financiamentos internacionais. Esse caráter, serviu como um dos impedimentos para o estabelecimento de uma colonização formada por pequenas e médias propriedades e uso do trabalho assalariado ou familiar, pois tais aspectos gerariam um dinamismo no mercado interno, algo que o sistema colonial condenava; a proibição da implantação de manufaturas nas regiões coloniais, fator que garantia à burguesia metropolitana o comércio, com elevados lucros, das mercadorias europeias; o exclusivismo comercial, que transferia para a burguesia mercantil com exclusividade o domínio de maior parte dos lucros produzidos na colônia. A respeito dessa característica, o historiador Fernando Novais enfatizou: É como no regime do comércio entre metrópoles e colônias que se situa o elemento essencial desse mecanismo (do Antigo Sistema Colonial mercantilista). Reservando-se a exclusividade do comércio com o Ultra-mar, as metrópoles europeias na realidade organizavam um quadro institucional de relações tendentes a promover necessáriamente um estímulo à acumulação primitiva de capital na economia metropolitana a expensas das economias periféricas coloniais. O chamado monopólio colonial, ou mais corretamente e usando um termo da própria época, o regime do exclusivo metropolitano constituía-se pois no mecanismo por excelência do sistema. NOVAIS, Fernando A. Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema Colonial Ed. São Paulo: Hucitec, p. 72.

344 TEXTO COMPLEMENTAR TEXTO 1 Um caldo de culturas Índio: Pindorama, Pindorama é o Brasil antes de Cabral Pindorama, Pindorama é tão longe de Portugal... Fica além, muito além do encontro do mar com o céu Português: Vera Cruz, Vera Cruz quem achou foi Portugal Vera Cruz, Vera Cruz atrás do Monte Pascoal Bem ali Cabral viu, dia vinte e dois de abril Não só viu, descobriu toda terá do Brasil Índio: Pindorama, Pindorama, mas os índios já estavam aqui Pindorama, Pindorama já falava tão bem tupi Só depois vêm vocês que falavam tão bem português Só depois de vocês, nossa vida mudou de uma vez Todos: Ao Álvares Cabral, Ao El rei Dom Manuel ao índio do Brasil, ainda quem me ouviu Vou dizer descobri, o Brasil ta inteirinho na voz Quem quiser vem ouvir Pindorama ta dentro de nós [...] Pindorama. Sandra Peres e Luís Tatit, TEXTO 2 Encontro de culturas Por causa dos portugueses, eclodiu um tumulto dos selvagens numa região, a dos Caetés, que até então tinha sido tranquila, e o capitão (...) mos implorou (...) que acorrêssemos em ajuda à localidade de Igaraçu (...). Partimos (...). O número de defensores devia estar em torno de noventa cristãos aptos para a luta. (...) Os selvagens que nos sitiavam foram estimados em oito mil. Nossa única proteção na localidade sitiada consistia numa cerca de varapaus. (...) Ao atirarmos neles, jogavam-se ao chão de modo a escapar das balas. (...) Chegavam perto do povoado, atiravam numerosas flechas para o alto, que deviam nos atingir ao cair e às quais tinham amarrado algodão embebecido em cera. (...). Ameaçavam também nos comer caso nos pegassem. (...) O sítio demorou quase um mês. Os selvagens tiveram algumas baixas, mas nós, cristãos, não sofremos nenhuma. STADEN, Hans. Hans Staden: primeiros registros escritos e ilustrados sobre o Brasil e seus habitantes. São Paulo: Terceiro Nome, p Analisando os textos 1. De acordo com letra da canção Pindorama, explique o significado do Brasil em cada estrofe. 2. Comente as principais ideias contidas no texto.

345 FAZENDO HISTÓRIA 1. (Unicamp) A expansão marítima da Península Ibérica (Espanha e Portugal) nas Américas foi orientada por um projeto colonizador que, além da exploração econômica das terras, tinha por objetivo a imposição de uma cultura europeia e cristã. Qual foi o papel da Igreja Católica nesse projeto colonizador? 2. (Vunesp-SP) Este Estado do Brasil... tem gente, os mercadores, que trazem do Reino as suas mercadorias a vender a esta terra e comutar por açúcares, do que tiram muito proveito.(diálogos das grandezas do Brasil, 1618). Baseando-se no trecho, responda: a) Como era realizado o comércio do Brasil colônia? b) Além dos mercadores, qual outra camada social era beneficiada na colônia brasileira? 3. (Fuvest-SP) Antonil, na obra Cultura e opulência no Brasil, de 1711, afirmava: Os escravos são as mãos e os pés do senhor de engenho. Analise a afirmativa. 4. (Unicamp-SP) O trecho a seguir foi adaptado de Roteiro do Maranhão a Goiaz, um escrito anônimo de 1780: As colônias são estabelecidas para a utilidade da metrópole. Os habitantes da colônia devem ocupar-se em cultivar e adquirir as produções naturais, ou matérias-primas, que serão exportadas para a metrópole, a qual não só irá servir delas, mas, aperfeiçoando-se, poderá também tirar das colônias o preço da mão-deobra e comercializar o supérfluo com as nações estrangeiras. a) Caracterize as funções das colônias do ponto de vista das metrópoles. b) De acordo com o texto, como as metrópoles utilizavam a produção colonial? c) Descreva, a partir do texto, o processo de obtenção do lucro pelas metrópoles. 5. (Vunesp-SP) A empresa agrícola inerente à colonização portuguesa continua como fator do subdesenvolvimento atual do Brasil e de outros países. Esclareça o que é plantation e explique as razões de sua escolha pelos colonizadores lusitanos. 6. (Fuvest-SP) Comente os problemas do regi-me de capitanias hereditárias e sua relação com a criação do governo-geral em (Faap-SP) Qual o grau de relacionamento da pecuária do São Francisco com a economia açucareira do Nordeste colonial? 8. (UFRJ)...sois grandes loucos, pois através-sais o mar e sofreis grandes incômodos, como dizeis quando aqui chegais, e trabalhais tanto para amontoar riquezas para vossos filhos ou para aqueles que vos sobrevivem. Não será a terra que vos nutriu suficiente para alimentá-los também? Tempos pais, mães e filhos a quem amamos; mas estamos certos de que, depois da nossa morte, a terra que nos nutriu também nos nutrirá... Registro deixado por Jean de Léry, que esteve no Rio de Janeiro, em Esta citação foi uma resposta dada por um Tupinambá a um francês, depois de saber que ele vinha de terras longínquas a fim de buscar lenha para extração de tintas. a) Explique uma das principais diferenças culturais entre os portugueses e os povos que habitavam o Brasil, evidenciando a propriedade da terra. b) Cite duas características do modelo econômico mercantilista, predominante na Europa, no período a que o texto se reporta.

346 QUESTÕES DE VESTIBULARES 1. (UPE) A conquista e a colonização da América não estavam unicamente ligadas ao processo de expansão mercantilista da Europa moderna. Faziam parte, também, da ação da igreja tridentina no combate ao protestantismo e na luta em prol da ampliação do número de fieis católicos. Nessa perspectiva, a) a catequese dos povos americanos não teve destaque na ação das coroas portuguesa e hispânica no Novo Mundo. b) a instituição do padroado régio na Espanha e em Portugal assim como em suas possessões no além-mar comprova o caráter religioso da conquista da América. c) a ação dos jesuítas na catequese dos ameríndios e na colonização ibérica na América se restringiu aos territórios hispânicos. d) a presença massiva de protestantes na América colonial sob a tutela das monarquias ibéricas ressalta a pequena atuação da igreja católica na colonização do Novo Mundo. e) na América Portuguesa, os jesuítas não tiveram espaço para a atuação catequética, cabendo essa ação, nos territórios lusos da América, a outras ordens, como os franciscanos e beneditinos. 2. (UPE) Conquistar a terra era uma grande aventura que envolvia muitas surpresas e frustrações. A expedição de Martim Afonso não foge desse quadro. Sobre ela, pode-se afirmar que a) foi uma iniciativa independente da metrópole, sem ajuda de particulares, visando expulsar os rivais estrangeiros. b) deu início ao bem sucedido sistema de capitanias hereditárias, centralizando a administração e descobrindo as minas de ouro do Sudeste. c) introduziu o sistema de plantation na colônia, com a importação de escravos e o comércio com a Holanda e com a Espanha. d) se preocupou apenas com a lavoura açucareira em São Vicente, não se interessando com a descoberta do ouro no Oeste de Minas. e) foi importante para começar a fixar as bases da colonização, embora não tenha concretizado alguns objetivos planejados. 3. (UEA) Leia o texto. Novas cartas jesuíticas Devia haver um protetor dos índios para os fazer castigar, quando houvesse mister (necessidade), e defender dos agravos (males) que lhes fizessem (...). A lei que lhes hão de dar é defender-lhes de comer carne humana e guerrear (...), fazer-lhes ter uma só mulher, vestirem-se, pois têm muito algodão, ao menos depois de cristãos, tirar-lhes os feiticeiros, mantê-los em justiça entre si e para com os cristãos; fazê-los viver quietos e sem se mudarem para outra parte... (Pe. Manuel da Nóbrega, ) A partir do texto, pode-se concluir que a) os europeus demonstraram respeito e consideração pelos hábitos e práticas das sociedades indígenas. b) as recomendações foram acatadas pelas populações indígenas, pois não se distanciavam de seus usos. c) os europeus e as sociedades indígenas estabeleceram intensas trocas culturais, em clima de reciprocidade. d) a superioridade europeia foi reconhecida pelos líderes indígenas, que comandaram a adaptação à nova ordem. e) os europeus pretendiam modificar os costumes e o modo de vida dos indígenas, os quais consideravam bárbaros. 4. (UFAL) Como o sistema de capitanias gerais não conseguiu sucesso na colonização do Brasil, devido a várias dificuldades, Portugal resolveu organizar o governo-geral, que: a) centralizou a exploração econômica e reorganizou a administração das riquezas até 1822.

347 b) conseguiu superar certos obstáculos e evitar, sem maiores dificuldades, o isolamento das capitanias. c) teve o cuidado de fortalecer a colônia contra as invasões estrangeiras e de melhorar as relações com os indígenas. d) se chocou com os objetivos da Igreja Católica, preocupada com a libertação dos nativos e dos escravos. e) manteve a dominação portuguesa de forma violenta, fracassando, no entanto, na superação das dificuldades já existentes. 5. (CONSULPLAN) Durante os primeiros trinta anos da dominação portuguesa, o Brasil não foi, tecnicamente falando, uma colônia, visto que não estavam presentes diversos elementos que (...) fazem parte da estrutura colonialista. É fato que existia uma riqueza da qual os portugueses se apropriavam, mas inexistia um sistema montado em função dessa apropriação (...). Uma das razões da ausência de um projeto de colonização pode ser percebida nas palavras do navegador italiano Américo Vespúcio, que percorreu boa parte do litoral brasileiro na primeira década do século XVI, a serviço do Estado português. Pode-se dizer que não encontramos nada de proveito. (Marques, Adhemar. Pelos caminhos da História) A alternativa que sintetiza o conteúdo dos trechos é: a) Durante esse período, verificou-se a extração sistemática do pau-brasil, contribuição fundamental para o início efetivo da colonização e para a incursão de europeus de outras nacionalidades no litoral brasileiro. b) Para a Coroa e para a burguesia portuguesa, principais agentes da expansão ultramarina, as terras brasileiras não ofereciam possibilidades imediatas de exploração de acordo com as práticas mercantilistas que fundamentavam a montagem do sistema colonial. c) Havia uma produção organizada voltada para o comércio para complementar a econômica metropolitana que apresentava reais possibilidades de obtenção de lucro imediato. d) Por cerca de 30 anos a Coroa Portuguesa desenvolveu um projeto de colonização da Terra Brasilis baseado no comércio das especiarias, o que configura a dominação política, e da mesma forma, configura a apropriação das riquezas de uma terra pela população de outra, caracterizando o pacto colonial. e) No período, o projeto de colonização efetivo apresentado pela Coroa Portuguesa era suficiente para garantir a efetiva posse do território, não precisando, portanto que a metrópole utilizasse de outros meios para participar das práticas mercantilistas europeias. 6. (TJ-PE) O primeiro passo na vida político-administrativa que a metrópole realizou nas terras do Brasil com vistas a viabilizar a empresa açucareira e, portanto, a colonização no Brasil foi a adoção do sistema de capitanias hereditárias, já utilizado por Portugal nas ilhas colônias do Atlântico. Esse sistema, portanto, familiar aos lusitanos, caracterizava-se por vários aspectos, a que nos referimos a seguir, porém deve ser assinalado aquele incompatível: a) Esse sistema tinha por base a doação de largas faixas de terra aos capitães donatários, sendo regulamentadas por Cartas de Doação e Forais. b) O amplo poder e a total autonomia do donatário foi ferramenta de fundamental importância para a Corte metropolitana implantar seus projetos de desenvolvimento colonial sob absoluto controle real. c) O donatário, figura central na colônia no sistema de donatarias, deveria colonizar a capitania, fundando vilas, bem como proteger a terra e seus colonos dos ataques nativos e de estrangeiros. d) O donatário tinha a competência de fazer cumprir o monopólio real do paubrasil e do comércio colonial. e) O donatário respondia por cobranças de impostos sobre o comércio colonial reservando, à Coroa, um quinto do valor obtido na exploração de metais preciosos então descobertos. 7.(UECE) A armada de Martim Afonso de Sousa, que deveria deixar Lisboa a 3 de de-zembro de 1531, vinha com poderes extensíssimos, se comparados aos das expedições anteriores,

348 mas tinha como finalidade principal desenvolver a exploração e limpeza da costa, infestada, ainda e cada vez mais, pela atividade dos comerciantes intrusos. HOLANDA, Sérgio Buarque de. As primeiras expedições. In: HOLANDA, Sérgio Buarque de (org.). História geral da civilização brasileira. Tomo I, vol. 1. São Paulo: Difel, Com base nesta citação, assinale a alternativa que indica corretamente os principais objetivos das primeiras expedições portuguesas às novas terras descobertas na América: a) expulsar os contrabandistas de pau-brasil e combater os holandeses instalados em Pernambuco. b) Garantir as terras brasileiras para Portugal, nos termos do Tratado de Tordesilhas, e expulsar os invasores estrangeiros. c) Instalar núcleos de urbanização estável, baseados na pequena propriedade familiar, e escravizar os indígenas. d) Estabelecer contatos com as civilizações indígenas locais e combater os invasores franceses na Bahia. 8.(ADIVISE) A criação do Governo Geral (1548) e sua posterior implantação (1549) alteraram o rumo da política na América Portuguesa. Dentre as mudanças verificadas após a instalação do Governo Geral, assinale a afirmativa correta: a) Foram confirmadas a soberania e a autoridade da metrópole portuguesa em sua colônia americana. b) Foi encerrado o ciclo de pirataria e das invasões francesas e holandesas na América Portuguesa. c) Foram concedidas maior autonomia às Capitanias Hereditárias e mais soberania aos donatários. d) Foi dado grande incentivo às companhias de mineração, que resultaram na descoberta das minas gerais. 9.(FUNCAB) Segundo o professor Luiz Roberto Lopes, Durante os primeiros trinta anos de dominação portuguesa, o Brasil não foi, tecnicamente falando, uma colônia, visto que não estavam presentes diversos elementos que fazem parte da estrutura colonialista. Assim é fato que: a) o extrativismo do pau-brasil não contribuiu para o início efetivo da colonização. b) a extração de pau-brasil deu início ao processo de colonização. c) o caráter predatório da extração de pau-brasil gerou desinteresse a Portugal. d) Portugal entrou em acordo com a Espanha para extrair pau-brasil. e) o extrativismo de pau-brasil era bem superior ao lucro comas especiarias. 10. (UFF) A Carta de Pero Vaz de Caminha, escrita em 1500, é considerada como um dos documentos fundadores da Terra Brasilis e reflete, em seu texto, valores gerais da cultura renascentista, dentre os quais destaca-se: a) a visão do índio como pertencente ao universo não religioso, tendo em conta sua antropofagia. b) a informação sobre os preconceitos desenvolvidos pelo renascimento no que tange à impossibilidade de se formar nos trópicos uma civilização católica e moderna. c) a identificação do Novo Mundo como uma área de insucesso devido à elevada temperatura que nada deixaria produzir. d) a observação da natureza e do homem do Novo Mundo como resultado da experiência da nova visão de homem, característica do século XV. e) a consideração da natureza e do homem como inferiores ao que foi projetado por Deus na Gênese. 11. (UNIRIO) A colonização brasileira no século XVI foi organizada sob duas formas administrativas, Capitanias Hereditárias e Governo Geral. Assinale a afirmativa que expressa cor-retamente uma característica desse período. a) As capitanias, mesmo havendo um processo de exploração econômica na maior parte delas, garantiram a presença portuguesa na América, apesar das dificuldades financeiras da Coroa. b) As capitanias representavam a transposição para as áreas coloniais das estruturas feudais e aristocráticas europeias. c) As capitanias, sendo empreendimentos privados, favorecem a transferência de colonos europeus, assegurando a mão de obra necessária à lavoura.

349 d) O Governo Geral permitiu a direção da Coroa na produção do açúcar, o que assegurou o rápido povoamento do território. e) O Governo Geral extinguiu as Donatarias, interrompendo o fluxo de capitais privados para a economia do açúcar. 12. (UPE) Descobrir terras foi uma aventura cercada por grandes interesses. Havia ambições econômicas, desejos de enriquecimento rápido, pessoas que buscavam na aventura da colonização mudar suas vidas e, se possível, fixar residência nas terras conquistadas. No início, Portugal teve dificuldades de encontrar uma riqueza que estimulasse a colonização. A exploração do pau-brasil a) foi precária e de pouca rentabilidade com a participação exclusiva do Estado português. b) trouxe lucros com a participação do comerciante Fernão de Noronha. c) não atraiu interesses de particulares, além de esse produto ser desconhecido na Europa. d) abrangeu boa parte do território brasileiro com a atuação de comerciantes franceses aliados com a Corte portuguesa. e) contou com a hostilidade das tribos indígenas que não se interessavam em ajudar Portugal e respondiam, com violência, às tentativas dos exploradores. 13. (UPE) Para Portugal era fundamental ocupar as colônias, para evitar conflitos com as nações inimigas e garantir a colonização. Apesar das dificuldades iniciais, terminou por implantar o sistema de capitanias hereditárias. Era feita a doação da terra ao donatário, mas o poder continuava centralizado nas mãos do rei. No caso da capitania de Pernambuco, seria correto afirmar que a) juntamente com as capitanias de São Vicente e do Maranhão foram as mais lucrativas. b) seu donatário não conseguiu ocupar a capitania, sendo obrigado a retornar a Portugal e a desistir da ocupação. c) conseguiu prosperar, destacando-se pela produção do açúcar. d) foi ocupada, inicialmente, por invasores franceses, apesar da luta do seu donatário para expulsá-los. e) seu donatário se dedicou ao cultivo do algodão e do açúcar, tornando-se um dos centros culturais da colônia no século XVI. 14. (COVEST) As feitorias portuguesas no Novo Mundo foram formas de assegurar, aos conquistadores, as terras descobertas. Sobre essas feitorias, é correto afirmar que: a) a feitoria foi uma forma de colonização, empregada por portugueses na África, na Ásia e no Brasil, com pleno êxito para a atividade agrícola. b) as feitorias substituíram as capitanias hereditárias durante o Governo Geral de Mem de Sá, como proposta mais moderna de administração colonial. c) as feitorias foram estabelecimentos fundados por portugueses no litoral das terras conquistadas e serviam para armazenamento de produtos da terra, que deveriam seguir para o mercado europeu. d) tanto as feitorias portuguesas fundadas ao longo do litoral brasileiro quanto as fundadas nas Índias tinham idêntico caráter: a presença do Estado português e a ausência de interesses de particulares. e) o êxito das feitorias afastou a presença de corsários franceses e estimulou a criação das capitanias hereditárias.

350 OLHARES HISTÓRICOS Livros O trato dos viventes: formação do Brasil no Atlântico Sul, séculos XVI e XVII. ALENCASTRO, Luiz Felipe. São Paulo: Companhia das Letras, História dos índios no Brasil. CUNHA, Manuela Carneiro da (org.). São Paulo: Fapesp/Companhia das Letras, À margem dos 500 anos: reflexões irreverentes. PRADO, Maria Lígia. São Paulo: Edusp, Religião e religiosidade no Brasil Colonial. PRIORE, Mary Del. São Paulo: Ática, Cinema Caramuru, a invenção do Brasil Direção de Guel Arraes. Brasil, min. Em 1º de janeiro de 1500 um novo mundo é descoberto pelos europeus, graças a grandes avanços técnicos na arte náutica e na elaboração de mapas. É neste contexto que vive em Portugal o jovem Diogo, pintor que é contratado para ilustrar um mapa e, por ser enganado pela sedutora Isabelle, acaba sendo punido com a deportação na caravela comandada por Vasco de Athayde.

351 A economia na América Portuguesa A Coroa Portuguesa, a partir da década de 1530, enfrentou algumas dificuldades para administrar ou sustentar ao mesmo tempo suas posses no Oriente e na África, além de manter a dispendiosa corte metropolitana. Assim, como vimos no capítulo anterior, os problemas econômicos impulsionaram os portugueses a procurar novos meios, entre eles consolidar a conquista e ocupação das terras americanas. Essa alternativa surgida não consistia numa tarefa fácil, uma vez que implicava no povoamento da colônia, na geração sistemática de atividades lucrativas e na organização administrativa da região. Assim, para montar todo esse aparato administrativo na América Portuguesa, tornava-se necessário a disponibilidade de recursos financeiros que serviriam para custear o povoamento e a mão-de-obra, além de outros pontos. O primeiro passo dado para consolidar tais objetivos, foi a implantação e desenvolvimento da produção açucareira. Como a colônia apresentava características geográficas favoráveis ao cultivo da cana-deaçúcar, esse empreendimento propiciou bastante lucro para a Coroa Portuguesa. O que é legítimo afirmar, comprovado pela documentação dos preços, é que com a fase de grande crescimento da economia açucareira assistimos ao seu enquadramento nas linhas de força do sistema colonial; os preços sobem pouco na colônia, a elevação é acentuada na metrópole, isto é, geram-se lucros excedentes lucros monopolistas que se acumulam entre os empresários metropolitanos. NOVAIS, Fernando A. Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema Colonial ed. São Paulo: Hucitec, p. 80. Em síntese, a economia da América Portuguesa foi caracterizada pela utilização da mãode-obra escrava, pela grande propriedade (latifúndio), pelo cultivo de produtos tropicais e pela extração de metais e pedras preciosa. Outras atividades econômicas também tiveram importante participação na economia colonial, mesmo sendo colocada em segundo plano pela política mercantilista metropolitana. O eixo econômico que recebeu mais atenção do governo português foi evidentemente, a lavoura canavieira. A implantação da agroindústria açucareira articulou a exploração da América e da África (fornecedora da mão-de-obra) e ajudou a Coroa Portuguesa a superar ou amenizar a crise dos negócios orientais. Açúcar: o doce sabor do lucro De acordo com o Tratado de Tordesilhas, uma parte da região brasileira já pertencia a Portugal antes mesmo de 1500, porém outros países europeus rejeitavam as determinações da divisão realizada em Para efetivar a ocupação das terras americanas, o governo português, a partir de 1530, iniciou a organização de um empreendimento agrícola bastante lucrativo para a metrópole. De grande aceitação no mercado europeu, o açúcar foi o produto escolhido. A opção pelo cultivo da cana-de-açúcar pode ser explicada, pois os portugueses tinham grandes experiências na produção e comercialização do açúcar desenvolvido nas ilhas do Atlântico. No final do século XV, na ilha da Madeira já existiam cerca de 150 engenhos de açúcar, movimentados pelo trabalho escravo. (...) Impulsionado pelo príncipe D. Henrique, o Navegador, colonizadores portugueses se instalaram nas ilhas de Açores e Madeira, aproximadamente em (...) Mercadores genoveses logo viram a possibilidade de cultivar cana-de-açúcar nas ilhas. (...) Nas ilhas de Açores os canaviais cobriam parte das terras, uma vez que a cultura de cereais encontrou clima favorável. Na ilha da Madeira, e posteriormente nas Ilhas Canárias e São Tomé, a história foi diferente. Ali, agricultores puderam cultivar cana-de-açúcar em grande quantidade e na maior parte das terras da ilha. O açúcar proveniente da Ilha da Madeira começou a chegar a Portugal em 1450; no final do século XV, o açúcar proveniente das ilhas do Atlântico era mais barato do que aquele produzido no continente europeu, na região mediterrânea. (...) SOLBRIG, Otto T. e SOLBRIG, Doroth J. Sos hall you reap: farming and crops in human affairs. Washington, D.C.: Island Press, 1994.

352 O açúcar era considerado pelos europeus como uma especiaria. Até o período medieval, ele era usado, exclusivamente, para fins medicinais. Com o decorrer do tempo, o açúcar foi sendo substancialmente valorizado, tornando-se um produto de primeira necessidade nas refeições da burguesia e aos poucos se popularizou, se tornando presente na vida cotidiana de muitos europeus. Nas regiões a Espanha árabe e na Sicília, desde o século VIII, já se dedicavam ao cultivo da cana, sendo consideradas as principais produtoras açucareira na Europa. Até os judeus, instalados em Portugal no início do século XVI, estabeleceram-se na ilha de São Tomé, litoral africano, para se dedicar ao plantio da cana-de-açúcar. A produção açucareira na colônia portuguesa foi estruturada, essencialmente, no Nordeste em sistema de Plantation, estrutura agrícolas caracterizada pelas grandes propriedades rurais monoculturas, produção voltada para o mercado externo e a utilização do trabalho escravo. As unidades de produção, denominado de engenhos, ocuparam diversas regiões da colônia. Os engenhos foram instalados no Nordeste e nos atuais estados de Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo. Nesses locais foram produzidos os açúcares mascavo e semi-refinado e aguardentes de cana (cachaça). Desse modo, nas décadas de 1530 e 1540, a produção canavieira se tornou na primeira atividade mercantil explorada sistematicamente pela Coroa portuguesa no Brasil. As boas relações entre holandeses e portugueses favoreceram ao financiamento da empresa do açúcar, além da distribuição do produto mercado europeu. Por volta de 1590, já havia aproximadamente 36 engenhos na Bahia e 66 em Pernambuco. Cada engenho possuía em torno de 80 a 100 trabalhadores. Engenho de açúcar no Nordeste brasileira, Em linhas gerais, a implementação da agromanufatura do açúcar na América Portuguesa foram impulsionados pelos seguintes fatores: 1. Extensa margem de lucro que poderia ser alcançada com comercialização do produto no mercado da Europa; 2. A falta de concorrência e a experiência dos portugueses na produção açucareira nas ilhas do atlântico (Madeira e Cabo Verde) 3. A participação de créditos holandeses, atuante no financiamento da montagem dos engenhos, no transporte, no refinamento e na distribuição do açúcar no mercado europeu; 4. As condições geográficas favoráveis, principalmente, no Nordeste, que apresentava excelente qualidade do solo (massapê) e ótimas condições climáticas (quente e úmido) para o cultivo do produto, além da disponibilidade de enormes áreas territoriais. A produção da cana-de-açúcar demandava grandes propriedades, elevado números de escravos, pastos para os animais, meios de transportes e áreas florestais que pudessem

353 fornecer lenha e madeira. A preocupação em atrelar a produção açucareira a uma atividade rentável gerou uma indispensável necessidade de instalações de elevado custo e também da utilização de grande quantidade de trabalhadores especializados. Para financiar tal empreendimento houve a necessidade de contrair empréstimos concedidos principalmente pelos banqueiros flamengos. Os engenhos açucareiros A montagem de um engenho de açúcar demandava altos custos financeiros, o que provocou frustração nos pequenos produtores, obrigando, inicialmente, os donatários a solicitarem empréstimos aos holandeses e italianos. Os engenhos consistiam num conjunto de construções, localizadas nas fazendas canavieiras, normalmente interligadas, constituídos pela casa-grande (habitação do dono ou senhor de engenho), a senzala (dormitório dos escravos), a capela (celebração de missas), a plantação canavieira e o espaço destinado a manufatura do açúcar. Assim, o engenho tornou-se, durante o período colonial, a mais importante unidade de produção açucareira no Brasil. Boa parte das atividades econômicas se concentravam ao redor dos engenhos. A grande propriedade era destinada especialmente para o cultivo da cana-de-açúcar através da prática da monocultura, sobrando pouquíssimo espaço para o desenvolvimento da agricultura de subsistência e a pecuária. Depois da colheita, o açúcar era manufaturado nas instalações dos engenhos formados pela moenda, a casa das caldeiras, a fornalha e casa de purgar. A cana era esmagada na moenda, onde se extraía o caldo chamado de garapa. Existiam duas modalidades de engenhos, os movidos por tração animal (trapiche) e os de roda d água (reais). Os mais comuns eram os trapiche, pois a construção dos reais eram dispendiosos e também dependiam das regularidades dos fluxos fluviais. O cozimento da cana se processava na casa das caldeiras e fornalhas, grandes tachos, comumente feito de cobre. Por fim, eram retiradas as impurezas do açúcar na casa de purgar. A situação dos trabalhadores do engenho era muito complicada, uma vez que eles viviam num ambiente insalubre, longas jornadas de trabalhos, calor excessivo e vários acidentes. Sobre os perigos no trabalho nos engenhos, André João Antonil, em seu livro Cultura e opulência do Brasil, descreve: A moenda é o lugar de maior perigo do engenho. Porque, se, por desgraça, a escrava que mete a cana entre os eixos (cilindros), ou por força do sono, ou por cansaço, meteu desatentamente a mão mais adiante do que devia, arrisca-se a passar moída entre os eixos. Se não lhe cortarem logo a mão ou o braço apanhado, tendo para isso junto da moenda um facão, ou não forem tão ligeiros em fazer parar a moenda, o sofrimento dessa escrava será ainda maior. Na moenda trabalham cerca de sete ou oito escravas: três para trazer cana, uma para meter, outra para passar o bagaço, outra para conservar e acender as candeias, que na moenda são cinco, outra para limpar o cocho do caldo e os aguilhões da moenda e refrescálos com água para que não ardam, e outra para botar fora o bagaço, ou no rio ou na bagaceira, para se queimar a seu tempo. E se for necessário botá-lo em parte mais distante, não bastará uma só escrava, mas haverá necessidade de outra que a ajude, porque, de outra sorte, não se daria vazão a tempo, e ficaria entupida a moenda. ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia, No Brasil eram produzidos o açúcar branco, voltado para a exportação, e o açúcar mascavo (grosso e escuro). A utilização das técnicas de purgar nas unidades produtoras brasileiras ocorreu, pois não havia refinarias em Portugal. Após o branqueamento, o açúcar era embalado em caixas e transportado para a Lisboa, que por sua vez seria enviado para Antuérpia, onde ocorria a distribuição. A partir do século XVII, a cidade de Amsterdã tornou-se a distribuidora, além de possuir instalações apropriadas para o refinamento do açúcar. À margem das grandes propriedades agrícolas e do complexo do engenho, existiam os lavradores pobre (brancos e mestiços), os quais produziam como meeiros. Nesses locais, desenvolveram a agricultura de subsistência e o cultivo da cana. Entretanto, eram obrigados

354 a utilizar a moenda dos senhores de engenhos, por esse motivo ficaram denominadas de fazendas obrigadas. Em algumas situações, os latifundiários concentravam suas atividades no processamento do açúcar, deixando a produção sob a responsabilidade dos lavradores. Todas essas etapas produtivas transformaram a produção açucareira num negócio agroindustrial sofisticado e lucrativo, o qual era resultado da combinação de terra, técnica, trabalho compulsório, cultivo da cana-de-açúcar e instalações. A produção e a comercialização açucareira foram essenciais para consolidar os domínios portugueses no Atlântico, além de contribuir para a formação de grupos sociais caracterizados por prestígio e poder. Outro desdobramento dessa unidade produtiva se deu na constituição da sociedade colonial brasileira, a saber, latifundiária, exportadora e escravista. A mão de obra na lavoura canavieira O governo português encontrou muitas dificuldades em empregar a mão de obra europeia em sua colônia. Devido aos problemas provocados no final do período medieval, Portugal e outras nações da Europa apresentavam baixo índice populacional. Somado a isso, livres da servidão feudal, os camponeses não desejavam se deslocar para a América, onde tinham que enfrentar a difícil tarefa de aventurar-se nas matas tropicais, além de enfrentar os nativos e árduos trabalhos rurais. Segundo a lógica econômica estabelecida pela Coroa metropolitana, que visava à obtenção de elevados lucros com a negociação de produtos tropicais, o dispêndio com a mão-de-obra deveria ser reduzido. Esse dilema foi solucionado com a inserção de um modo árduo de trabalho, a escravidão. No início da produção açucareira, os senhores de engenhos encontraram muitas dificuldades, devido à escassez de mão de obra. Para resolver esse problema, os índios foram amplamente usados como escravos nas grandes lavouras canavieiras. "Família de um chefe camacã se prepara para uma festa", Jean Baptiste Debret. Inicialmente os índios foram utilizados na produção açucareira. Mesmo com os impedimentos do Estado português por meio de leis e decretos, além do combate dos jesuítas, os índios foram escravizados até aproximadamente a década de A Igreja Católica, em especial, os jesuítas condenavam a escravização indígena, porém, não tinham a mesma postura em relação ao trabalho compulsório dos escravos africanos. Sobre isso, o historiador Jaime Rodrigues afirma:

355 O padre Vieira viveu no Maranhão na segunda metade do século XVII e atuou como protetor dos índios contra a escravidão, defendendo a introdução de escravos africanos. Um episódio ilustrativo, da maneira como Vieira encarava a escravidão dos africanos, ocorreu quando os negros de Palmares solicitaram o envio de um capelão para o quilombo. Vieira recusou-se a atender o pedido, por diversas razões, entre elas, fortíssima e total, o fato de os quilombolas serem escravos rebelados. Por isso estariam em pecado, e sua liberdade não era conveniente à Colônia. Como disse Vieira em uma de suas cartas, esta mesma liberdade assim considerada seria a total destruição do Brasil. Os Jesuítas se opuseram ao cativeiro dos índios e transmitiram aos escravos negros a ideia de que sua condição era definitiva por Deus e que, se suportassem essa situação, a recompensa seria dada no céu. Vieira comparava os sacrifícios dos escravos na produção de açúcar aos de Cristo na cruz. RODRIGUES, Jaime. O tráfico de escravos para o Brasil. São Paulo: Ática, p.17. Em fins do século XVI, houve uma substituição nas regiões açucareiras da mão-de-obra indígena pelos escravos oriundos da África. Porém, nas regiões periféricas ou regiões econômicas secundárias, tais como o vale amazônico, o sertão nordestino, São Paulo e o extremo sul, o trabalho compulsório indígena durou um pouco mais, até por volta do século XVIII, quando foi estabelecida, em 1755, uma lei de combate a escravidão dos ameríndios. Por muito tempo, alguns historiadores defendiam a tese de que a substituição da mão de obra indígena pela escrava africana se deu em decorrência da falta de costume do nativo ao trabalho, sendo, assim, classificado como preguiçosos, enquanto que o negro tinha aptidões ao serviço pesado. Entretanto, tal teoria, atualmente, não tem crédito algum. Há outra teoria que tenta compreender os motivos que impulsionaram a alteração do trabalho indígena pelos negros africanos. Essa se pauta em conceitos econômicos, afirmando que o tráfico negreiro constituía numa lucrativa atividade mercantil. Muitos historiadores contemporâneos afirmam que se torna mais prudente analisar o caso por meio de diversas determinantes, pois há vários fatores que provocaram a substituição do trabalho indígena pelo negro. Em resumo, a escravidão indígena se tornou inviável nas lavouras canavieiras, segundo as perspectivas dos colonizadores, pelos seguintes fatores: 1. as permanentes resistências das populações indígenas; 2. a fuga em grande escala de tribos das regiões litorâneas para locais de difícil acesso no interior e área amazônica; 3. devido a resistência dos índios nativos e por se localizarem em regiões cada vez mais distantes das unidades produtoras, houve um aumento nos preços dessa mão de obra; 4. a falta de adaptação dos índios ao regime de trabalho agrícola típico das atividades da plantação canavieira, ou seja, caracterizada por processos repetitivos, rigorosa disciplina, uso de método humilhantes e opressivos, além da comercialização das relações humanas; 5. os interesses mercantis da burguesia metropolitana mais interessada pelo lucrativo tráfico negreiro, o que devido a grande demanda da mão de obra africana nas regiões açucareiras garantiu um elevado acúmulo de capitais nas mãos desses empreendedores. Nessa perspectiva, o trabalho escravo africano foi instalado no Brasil para atender a demanda da empresa monocultura canavieira. Antes mesmo de colonizar o Brasil, o governo português já lucrava com o tráfico negreiro, que se realizava com a captura de negros africanos e sua comercialização na Europa. Além dos portugueses, os ingleses, os holandeses e os franceses também obtiveram bons lucros com a venda de escravos. Os traficantes adquiriam os escravos africanos por meio de valores irrisórios, ou melhor, em troca de fumo; caixas, barris e amarrados de açúcar; aguardente; búzios; fardos e caixões de tecidos de algodão; mosquetes (arma similar a espingarda); pólvora; espelhos e contas de vidro. Após a aquisição dos escravos, os colonos vendiam nas colônias, conseguindo expressos lucros.

356 Negros de Bengala e Congo, por Debret. Os colonos viam no trabalho escravo africano algumas vantagens. Uma delas, se dava pelo desconhecimento por parte dos negros do território, o que dificultava as fugas. Outra vantagem consistia na aquisição de escravos oriundos de diversificados grupos étnicos e, portanto, de costumes diferentes, de modo a prejudicar a comunicação e a unidade entre eles. No entanto, isso não impediu o surgimento de grupos de resistências que foram articulados por grupos de escravos africanos. A escravidão moderna se tornou um dos pilares para o desenvolvimento econômico e para o dinamismo dos negócios mercantis que consolidaram o domínio dos países europeus. Nas grandes fazendas coloniais, os escravos foram vítimas de maus-tratos e preconceitos. A mentalidade dos colonizadores se pautava em desvalorizar a raça negra, desprezando seus padrões culturais e seus costumes, incentivando as disputas internas entre grupos africanos, como maneira de justificar a escravidão. Assim, o escravo era visto com mera força de trabalho e como uma mercadoria de precioso valor mercantil. A partir da década de 1550, desembarcaram no Brasil os primeiros negros, oriundos de dois grandes grupos étnicos: os bantos (África equatorial e tropical) e os sudaneses (ocidente africano). Os navios tumbeiros que traziam os negros eram caracterizados por precárias condições higiênicas. Entre 1560 e 1570, houve uma crescente substancial de entrada de escravos no Brasil, boa parte deles eram destinados às plantações canavieiras do Nordeste, principalmente com destino a Bahia e Pernambuco. As atividades pecuárias: sertão nordestino e extremo-sul O governo português deu atenção especial à produção da lavoura canavieira que garantiu extraordinário lucro para a metrópole, principalmente para a Holanda, que chegou a ganhar mais que Portugal com o refinamento e distribuição do produto. Portanto, esse bem sucedido empreendimento fez com que os portugueses ficassem desinteressados em investir em outros setores econômicos. (...) Para Roberto Simonsen, quatro foram os instrumentos econômicos que ampararam a expansão para o interior: a criação de gado, como retaguarda econômica das zonas de engenho e, mais tarde, em decidido apoio à mineração ; a caça ao índio, como suprimento de mão-de-obra em face do comércio africano em declínio, em meados do século XVII; e a busca de especiarias e drogas do sertão. Entretanto, o elemento mais importante, nessa fase, foi o gado e a sua expansão através de currais, na luta de vida e morte contra o primeiro ocupante da terra, desfazendo-se o mito, caro à historiografia brasileira, da boa conveniência dos índios com os currais. SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. Conquista e colonização da América portuguesa. In: LINHARES, Maria Yeda L. História geral do Brasil. Rio de Janeiro: Campus, 1990.

357 Entretanto, o crescimento da indústria açucareira e o aumento das pessoas envolvidas nessa produção geraram várias necessidades. Nesse momento, a criação de gados ganha espaço na economia colonial, que teve um papel importante na subsistência da população. O gado era bastante útil como alimento, meio de transporte, fornecimento de couro e força de trabalho. Os primeiros rebanhos vieram das ilhas portuguesas do Atlântico, principalmente de Cabo Verde. No início da colonização o gado era criado nos engenhos, onde era usado como tração animal e também no transporte de cargas e pessoas. Gradativamente houve um aumento no número de reses, o que gerou alguns problemas para os donos de engenhos, uma vez que os gados destruíram o canavial e ocupava espaço que pertencia ao cultivo do açúcar. Desse modo, a pecuária encontrou uma série de dificuldades para sua implementação. Visando garantir os lucros dos grandes proprietários, a administração portuguesa chegou a proibir a criação dos animais na região litorânea. Essa medida contribuiu para o processo de interiorização e ocupação do grande sertão, ultrapassando os limites estabelecidos pelo Tratado de Tordesilhas. Sobre a expansão pecuária no sertão nordestino, o jesuíta André João Antonil ( ), em seu livro Cultura e Opulência do Brasil, escreveu: As fazendas e os currais de gado situam onde há largueza de campo e água (...), por isso os currais da Bahia estão postos na borda do rio São Francisco (...). E, posto que sejam muitos os currais da parte da Bahia, chegam a muito maior número os de Pernambuco (...). Os currais desta parte hão de passar de oitocentos, e de todos estes vão boiadas para o Recife, Olinda e suas vilas para o fornecimento das fábricas dos engenhos (...). Só no rio Iguaçu estão hoje mais de trinta mil cabeças de gado. As da parte da Bahia se tem certo que passam de meio milhão, e mais de oitocentos mil hão de ser as partes de Pernambuco. ANTONIL, André João. Cultura e Opulência do Brasil. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, p Ao longo dos séculos XVI e XVII, a pecuária começou a ser realizada no sertão da colônia, partindo do Rio do São Francisco e percorrendo os atuais estados da Bahia, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí, Maranhão, atingido também os rios Tocantins e Araguaia. Nessa extensa área ainda pouco povoada, os gados ocupavam enormes latifúndios e eram cuidado por escravos africanos. Em propriedade de porte médio, os animais eram tratados por trabalha-dores livres, geralmente brancos pobres ou mestiços. O vaqueiro ou curraleiro recebiam uma pequena remuneração pelo exercício de suas atividades. Porém, a situação dos vaqueiros se diferenciava dos demais criadores, pois passados quatro ou cinco anos de serviços cada um deles em cada quatro crias recebiam uma. Assim, os vaqueiros podiam formar seus próprios rebanhos. (...) Assim, o (vaqueiro) podia iniciar seu próprio rebanho e sua fazenda criatória que, por ser extremamente simples, requeria pouco capital. (...) A sociedade que se organizou nas áreas de pecuária, denominada de civilização do couro (expressão criada pelo historiador Capistrano de Abreu, no século XIX), permitiu certa mobilidade social. No século XVIII, a descoberta de ouro nas Minas Gerais levou a pecuária a descer pelo curso do São Francisco, onde ocorreram lutas entre os índios, que tinham roças nas ilhas, e os vaqueiros, que viam nessas mesmas ilhas estábulos naturais para o gado. A criação acompanhava ainda os cursos do Araguaia e do Tocantins. BOLTEHO, Ângela Viana; REIS, Liana Maria. Dicionário Histórico Brasil: Colônia e Império. Belo Horizonte: o Autor, p.136. A descoberta de salinas nos atuais estados do Ceará, Alagoas e a existência de barreiros salgados no vale do São Francisco contribuíram para o desenvolvimento das atividades pecuárias. A partir do início do século XVIII, o atual estado do Pará, ilha do Marajó, se tornou num importante centro criatório do gado bovino. Já no sul da colônia, a origem da pecuária teve origem em terras espanholas. Nessa região, a criação do gado era destinada para a produção da carne salgada (charque). Além disso, essa área fornecia para as regiões mineradoras gado muar e equino.

358 No decorrer do século XVIII, a pecuária também se expandiu ao extremo-sul, especificamente para a Capitania de São Pedro, atual Rio Grande do Sul. Essa ampliação significou também resultou no rompimento com os limites estabelecidos pelo meridiano imaginário de Tordesilhas. Em 1680, nas margens do Rio da Prata, a coroa portuguesa funda a Colônia de Sacramento. O objetivo da Coroa era incentivar o povoamento dessas regiões. Por isso, há uma motivação da vinda de famílias açorinas para a ocupação das costas litorâneas do extremo-sul. A pecuária sulista alcança inicia sua expansão a partir da segunda metade do século XVIII, pois a indústria do charque atinge seus índices mais consideráveis devido a necessidade de abastecer as áreas mineradoras, na época, já densamente povoadas. A atividade mineradora, nos primeiros anos do século XVIII, criou, nas regiões das Minas, Mato Grosso e Goiás, um grande mercado consumidor de carne. Por isso, muitos paulistas dedicaram-se a levar para lá boiadas dos campos de Curitiba ou de mais ao sul (do Rio Grande). O gado era aprisionado, amansado, quedando-se algum tempo nas invernadas, numa espécie de estágio. Após a engorda, seguia andando até Laguna, núcleo populacional mais importante do sul. Dali era embarcado para o Rio de Janeiro e Santos, a fim de abastecer as regiões mineradoras. GANCHO, Cândida Vilares; TOLEDO, Vera Vilhena de. Caminhos do Boi: Pecuária Bovina no Brasil. 2. ed. São Paulo: Moderna, p. 24.

359 As drogas do sertão O espanhol Francisco de Orellana denominou, em 1542, de Amazonas o mais importante rio que cruzava o norte do Brasil. Essa região que pertencia as posses da Espanha, foi desbravada e conquistada por exploradores lusitanos. Entretanto, antes dos portugueses, por volta do final do século XVI e princípio do XVII, os ingleses e holandeses tentaram ocupar o local. Em 1616, os portugueses conseguiram edificar um forte em Belém e expulsar os invasores. Comandada por Pedro Teixeira, em 1637, foi organizada algumas campanhas oficiais que geraram condições para a colonização portuguesa. Os principais motivos que impulsionaram os portugueses a explorar o interior da floresta amazônica foram a possibilidade do aprisionamento indígenas para o trabalho compulsório. Outro interesse consistia na busca de produtos designados de drogas do sertão. Essa nomenclatura representava várias especiarias tipicamente da Amazônia: guaraná, anil, baunilha, salsa, urucum (corante), pau-cravo, castanha-do-pará, gergelim, cacau e noz de pixurim. Realizada por meio de trabalho indígenas (organizado pelos jesuítas), que conheciam a região, a extração dessas ervas e produtos tropicais transformou-se, entre o final do século XVII e o início do XVIII, na principal atividade econômica desenvolvida no norte, tendo assim, um importante papel na ocupação do interior da floresta amazônica. Vale salientar, que os portugueses passaram a se interessarem pelas drogas do sertão no momento em que os negócios orientais entrava em declínio. Por isso, a necessidade de realizar a ocupação e exploração de um território que possuía muitas riquezas naturais e exóticas. Outras atividades econômicas Na América Portuguesa, outras atividades econômicas também se destacaram à margem do sistema plantation. Produtos como algodão e o tabaco foram cultivados em pequenas propriedades e geraram vantagens econômicas para os seus produtores. O litoral baiano se destacou no cultivo do tabaco que era trocado na África por escravos. Além disso, o tabaco era consumido na colônia e no mercado europeu, cujos números de consumidores eram elevados. No início da colonização, o cultivo do algodão era voltado para mercado interno, especialmente, na utilização dos tecidos para fazer as roupas dos escravos. É importante destacar, que os índios já exploravam o algodão, usando-o seus fios para confecção de redes. Por volta do século XVIII, iniciou-se a exportação de grandes quantidades de algodão. Esse fato se deu devido a subida de preços no cenário internacional e pela independência dos Estados Unidos. As colônias inglesas eram exímias produtoras de algodão e, por causa das instabilidades geradas pela guerra, suas vendas sofreram considerável abalo. Entretanto, no início do século XIX, os Estados Unidos retomam sua produção, resultando numa queda das exportações na colônia portuguesa. Os negócios locais dinamizaram e envolveram comerciantes e produtores. Dentre os principais produtos produzidos na América Portuguesa, destacaram-se feijão, açúcar, farinha de trigo, de milho e de mandioca, rapadura, fumo, couro, toucinho, charque e carne fresca, aguardente, peixe fresco e seco. No comércio colonial também havia a comercialização de produtos importados, tais como: azeite, vinagre, bacalhau, vinho, pimenta-do-reino, especiarias, azeitonas, tecidos finos, agulhas para costura, papel, pena, linhas, tinta para escrever, anzóis e linhas para pesca, além disso, também tinha vasilhas, panelas, jarros, pratos, tachos e vasos para uso particular, pregos, ferramentas, cordas, caixas e o sal. Como complemento da economia colonial, havia também a agricultura de subsistência, que mesmo sufocada pela monocultura, conseguiu produzir uma boa variedade de frutas, além do cultivo da mandioca, arroz, milho e feijão. No entanto, essa atividade foi insuficiente, uma vez que não atendia a demanda populacional que a partir do século XVII cresceu consideravelmente.

360 TEXTO COMPLEMENTAR TEXTO 1 Rapadura: alimento do sertanejo (...) Hoje muito consumida pela população do Nordeste do Brasil, especialmente no sertão a rapadura é rica em vitaminas, ferro e flúor. E ainda: possui grande teor energético e preço baixo, além de ter característica de produto natural. Também chamada de raspadura (palavra provinda do verbo raspar), a rapadura originou-se das crostas de açúcar presas às paredes das tachas, durante a sua fabricação, retiradas pela raspagem e moldadas como tijolos. Com o passar do tempo, recebeu alguns requintes como a adição de castanhas de caju, amendoim, cabeças-de-cravo e cascas de laranja. A fabricação da rapadura iniciou-se nas Canárias, ilhas espanholas do Atlântico, possivelmente no século XVI, constituindo-se não apenas guloseima, mas uma solução prática de transporte de alimento em pequena quantidade para uso individual. Como o açúcar comumente umedecia-se e melava, o ladrilho de rapadura acompanhava o viajante, por ser de fácil transporte e possibilitar prática acomodação, além de resistir durante meses às mudanças atmosféricas. A iguaria, que ficou conhecida por andar junto com a farinha do sertanejo, ganhou notoriedade. Das mochilas de personagens famosos como Lampião, o rei do cangaço, a rapadura conquistou as prateleiras dos supermercados e serviu de tema para uma feira nordestina em Santa Cruz da Baixa Verde, a 444 km do Recife. (...) TEXTO 2 Disponível em: Acesso em 10 de agosto de Texto adaptado. A alimentação na Colônia Para as necessidades de alimentação foram-se cultivando de norte a sul, através dos primeiros séculos coloniais, quase que as mesmas plantas indígenas ou importadas. Na farinha de mandioca fixou-se a base do nosso sistema de alimentação. Além da farinha cultivou-se o milho; e por toda parte tornou-se quase a mesma mesa colonial, com especializações regionais apenas de frutas e verduras: dando-lhe mais cor ou sabor local em certos pontos a maior influência indígena; ou outros, um vivo colorido exótico a maior proximidade da África; e em Pernambuco, por ser o ponto mais perto da Europa, conservando-se como um equilíbrio entre as três influências: a indígena, a africana e a portuguesa. (...) É ilusão supor-se a sociedade colonial, na sua maioria, uma sociedade de gente bem-alimentada. Quanto à quantidade, eram-no em geral os extremos: os brancos das casas-grandes e os negros das senzalas. Os grandes proprietários de terras e os pretos seus escravos. Estes porque precisavam de comida que desse para os fazer suportar o duro trabalho da bagaceira. Analisando os textos FREYRE, Gilberto. Casa-grande e Senzala. 49 ed. Ed. São Paulo: Global, p Comente os principais aspectos apresentados nos textos acima concernente aos hábitos alimentares desenvolvidos no período colonial.

361 FAZENDO HISTÓRIA 1. Em sua opinião, por que o governo português começou a se empenhar na colonização das terras americanas a partir da década de 1530? Quais as dificuldades encontradas para efetivar a colonização do Brasil? Explique. 2. Qual a alternativa encontrada pela Coroa portuguesa para consolidar a colonização de sua colônia? Qual o resultado dessa solução? Fracassou ou teve êxito? Justifique sua resposta. 3. Explique as principais funções do governo-geral e quais os resultados obtidos na prática por esse sistema. 4. Conceitue as Câmaras Municipais. Qual o papel político exercido por elas no período colonial. 5. (PUC-RJ) O trabalho escravo indígena e do negro africano desempenhou papel fundamental na colonização da América Portuguesa. a) Considerando que, nos primórdios da colonização, o recurso à escravização dos negros da terra, isto é, dos indígenas, foi uma prática recorrente inclusive nas áreas de plantio da cana-de-açúcar, cite uma razão que tenha contribuído para a progressiva substituição dos escravos indígenas por escravos de origem africana nessas áreas. b) Caracterize uma repercussão econômica, social ou demográfica do fim do tráfico negreiro intercontinental para a sociedade brasileira em meados do século XIX. 6. (Vunesp) No Brasil, costumam dizer que para os escravos são necessários três PPP, a saber, pau, pão, e pano. E, posto que comecem mal, principiando pelo castigo que é o pau, contudo, prouvera a Deus que tão abundante fosse o comer e o vestir como muitas vezes é o castigo. ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil, Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, a) Qual a crítica ao sistema escravista feita pelo autor do trecho apresentado? b) Indique dois motivos que explicam a introdução da escravidão negra na porção americana do Império Português. 7. Pesquise em jornais, revistas, livros ou na internet, informações fazendo referência a posição social e atuação dos negros na sociedade brasileira contemporânea e em seguida relacione-os com o nosso passado histórico.

362 QUESTÕES DE VESTIBULARES 1. (VUNESP) Sobre o emprego da mão de obra escrava no Brasil colonial, é possível afirmar que a) apenas africanos foram escravizados, porque a Igreja Católica impedia a escravização dos índios. b) as chamadas guerras justas dos portugueses contra tribos rebeldes legitimavam a escravização de índios. c) interesses ligados ao tráfico negreiro controlado pelos holandeses forçavam a escravização do africano. d) os engenhos de açúcar do Nordeste brasileiro empregavam exclusivamente indígenas escravizados. e) apenas indígenas eram escravizados nas áreas em que a pecuária e o extrativismo predominavam. 2. (COVEST) Através dos engenhos de produção de açúcar, Portugal conseguiu acumular riqueza e ampliar os investimentos no Brasil. Contou ainda com financiamento dos holandeses. As condições de vida, nos engenhos de cana-de-açúcar: a) eram de muito luxo e ostentação para aqueles que trabalhavam como assalariados. b) eram muito precárias nas senzalas, onde habitava a maior parcela dos escravos. c) dependiam apenas dos senhores, que algumas vezes construíam pequenas moradias para seus escravos. d) não privilegiavam nem mesmo os senhores, devido à sua falta de estrutura. e) eram de luxo apenas para os representantes oficiais da Igreja Católica. 3. (COVEST) As razões que fizeram com que no Brasil colonial e mesmo durante o império a escravidão africana predominasse em lugar da escravidão dos povos indígenas, podem ser atribuídas a: a) setores da Igreja e da Coroa se opunham à escravização indígena; fugas, epidemias e a legislação antiescravista indígena tornou-a menos atraente e lucrativa. b) religião dos povos indígenas, que, proibia o trabalho escravo. Preferiam morrer a ter que se submeterem às agruras da escravidão que lhes era imposta nos engenhos de açúcar ou mesmo em outros trabalhos. c) Reação dos povos indígenas, que por serem bastante organizados e unidos, toda vez que se tentou capturá-los, eles encontravam alguma forma de escapar ao cerco dos portugueses. d) a ausência de comunicação entre os portugueses e os povos indígenas e a dificuldade de acesso ao interior do continente, face ao pouco conhecimento que se tinha do território e das línguas indígenas. e) um enorme preconceito que existia do europeu em relação ao indígena, e não em relação ao africano, o que dificultava enormemente o aproveitamento do indígena em qualquer atividade. 4. (UFC) Segundo a definição do historiador Charles R. Boxer, o Padroado real português pode ser definido em geral como uma combinação de direitos, privilégios e deveres concedidos pelo papado à Coroa de Portugal na qualidade de patrocinadora das missões católicas e dos estabelecimentos eclesiásticos missioneiros na África, Ásia e Brasil [A igreja militante e a expansão ibérica, São Paulo: Cia das Letras, 2007, p. 98]. São direitos, privilégios e deveres do Estado português na Colônia portuguesa na América, segundo o Padroado, a) a uso da Mesa de Consciência e Ordens, criada pela Santa Sé, à qual cabia submeter à aprovação do rei as indicações dos postulantes a cargos eclesiásticos de categoria inferior aos bispos pertinentes. b) a fiscalização da Inquisição mediante o controle administrativo do Tribunal do Santo Ofício, ativo em Pernambuco, Salvador, Paraíba, Rio de Janeiro e no Estado do Grão- Pará.

363 c) a construção de catedrais, igrejas, conventos e ermidas bem como a coleta dos dízimos, a criação de novas dioceses e a nomeação de seus titulares. d) o acompanhamento das atividades missionárias de diversas ordens regulares, como franciscanos, mercedários, beneditinos, carmelitas e jesuítas, sob a supervisão da Congregação de Propaganda Fide, criada por Roma em e) o veto a bulas e breves papais não autorizados previamente pela Coroa bem como a implementação de artigos reguladores do dogma religioso e da disciplina eclesiástica para uso exclusivo do culto e do clero coloniais. 5. (COVEST) Ocupar as terras conquistadas era uma preocupação do governo português, logo depois da chegada de Cabral ao Brasil. Nesse sentido, a exploração do pau-brasil foi: a) fundamental para a instalação imediata dos governos nas capitanias mais ricas, o que ajudou na compra de escravos. b) lucrativa para Portugal, durante toda a época colonial, concorrendo com o ouro na sua exportação. c) importante para a organização das capitanias gerais, antes da vinda de Martim Afonso de Souza para o Brasil. d) ponto de partida para se pensar na administração colonial, apesar das dificuldades financeiras. e) decisiva para a escolha do modelo de colonização, no qual não havia auxílio de capitais privados. 6.(UFTM) Fonte: Silva, Maria Beatriz Nizza. Nova História da Expansão Portuguesa. Lisboa, Estampa, O mapa da página anterior representa as principais atividades da economia brasileira no século: a) XVI, que apresenta exploração do pau-brasil no litoral e das drogas do sertão na região amazônica, assim como a ocupação do interior brasileiro pelas atividades de mineração e pecuária. b) XVII, que apresenta importações/exportações, antes proibidas na colônia devido ao monopólio comercial da metrópole portuguesa. c) XVIII, pois já demonstra atividades de mineração no centro brasileiro. Não pode ser de século posterior por não indicar atividade cafeicultora. d) XIX, em que, no Brasil Império, a economia tinha por base a cafeicultura voltada para a exportação. e) XX, no qual a exportação de pau-brasil é preponderante na economia brasileira e se verifica a existência de áreas industriais, destacadas no mapa. 7.(UPE) A colonização do território brasileiro custou décadas de ocupação para os portugueses, devido a sua imensa extensão. Com relação à base econômica de colonização do Norte, pode-se afirmar que a) predominou, no início, a exploração do ouro que os índios escondiam. b) ela ficou restrita às drogas comuns na região amazônica e à exploração de minérios. c) ela teve a cana-de-açúcar como um produto bem sintonizado com as condições da região. d) foram bem aceitos os produtos da região na Europa, como canela e cacau. e) foi explorada a pesca com a ajuda dos índios tapuias da região.

364 8.(UPE) A exploração das colônias forneceu riquezas para manutenção de muitos Estados europeus dos tempos modernos. O Brasil destacou-se pela sua importância, contribuindo com suas riquezas para Portugal. A economia colonial no Brasil a) teve no açúcar seu único produto realmente lucrativo. b) dependeu da exploração do ouro. c) centralizou suas atividades na região Nordeste. d) conseguiu, com a exploração de diamantes, bons lucros para Portugal. e) ocupou territórios próximos da região litorânea para a exploração da pecuária. 9. (UPE) Sobre a cana-de-açúcar no Brasil colonial, não é correto afirmar que a) as zonas produtoras coloniais dedicavam-se à elaboração de um só produto (monocultura). b) a produção, que tinha a finalidade de complementar as economias da metrópole, estava voltada para os mercados europeus. c) os simples plantadores acabaram subordinando-se aos senhores de engenho. d) se optou pela implantação do escravismo negro, devido a um empreendimento de alta rentabilidade: o tráfico negreiro. e) se incentivava minifúndio, isto é, o trabalho livre de pequenos agricultores. 10. (URCA) No período colonial brasileiro as atividades econômicas da mineração e da produção açucareira tiveram destaque. Ao analisarmos as duas atividades pode-se notar que: a) na região açucareira predominou o trabalho escravo, já na região da mineração a mão de obra das jazidas auríferas era predominantemente assalariada. b) em ambas predominou o uso do trabalho escravo com predomínio da escravização dos negros africanos e de seus descendentes aqui nascidos. c) a mineração tinha um caráter predatório, já a atividade açucareira sempre se preocupou com a renovação dos solos e a preservação do meio-ambiente. d) nas duas atividades a utilização do trabalhador livre e assalariado favoreceu a dinamização da economia colonial. e) enquanto na região açucareira do nordeste houve rígido controle fiscal e metropolitano, na região mineradora os portugueses mantiveram-se relativamente distantes conferindo autonomia aos colonos. 11. (COVEST) A chegada dos portugueses ao Brasil despertou interesses de outros países europeus. De fato, Portugal: a) efetivou a ocupação imediata das terras e garantiu seu poder incontestável diante das outras potências. b) teve dificuldade para assegurar sua conquista, devido a problemas na administração política da colônia. c) fez alianças políticas importantes com a França e com a Holanda, para combater as ambições da Espanha. d) implantou o sistema de capitanias hereditárias, com o êxito que foi destacado pelos seus inimigos europeus. e) desprezou a ocupação da colônia, devido à fragilidade da sua organização militar e a pressão exercida pela Espanha. 12. (UPE) As relações entre ameríndios e europeus na América Portuguesa, desde o século XVI, se caracterizaram como um dos elementos de formação da organização social do Brasil. Sobre esta realidade, é correto afirmar que a) as relações pautadas no escambo, tão características dos anos iniciais da presença europeia na América Portuguesa perdurou, de forma sistêmica, nas relações entre europeus e indígenas, até o século XIX. b) os movimentos de resistência indígena nunca se configuraram como ameaça para os europeus. c) a mão de obra indígena não foi utilizada sistematicamente no processo de colonização da América Portuguesa, tendo em vista a utilização em massa dos africanos como mão de obra desde a primeira metade do século XVI. d) a Guerra dos Bárbaros, ocorrida entre os séculos XVII e XVIII, foi um dos capítulos das tensões entre os índios e a coroa portuguesa no período colonial. e) diferentemente do que se deu na América Espanhola, não há registros de movimentos de resistência indígena na América Portuguesa.

365 OLHARES HISTÓRICOS Livros Os africanos e seus descendentes no Brasil. BOULOS JR., Alfredo. São Paulo: FTD, Moradores de engenho: relações de trabalho e condições de vida dos trabalhadores rurais na zona cana-vieira de Pernambuco segundo a literatura, a academia e os próprios atores sociais. DABAT, Christine Rufino. Recife: Ed, Universitária da UFPE, O trabalho nos engenhos.trindade, Etelvina. São Paulo: Atual, Cinema A MISSÃO Direção de Rolando Joffé. Inglaterra, min. No final do século XVIII Mendoza, um mercador de escravos, fica com crise de consciência por ter matado Felipe, seu irmão, num duelo, pois Felipe se envolveu com Carlotta. Ela havia se apaixonado por Felipe e Mendoza não aceitou isto, pois ela tinha um relacionamento com ele. Para tentar se penitenciar Mendoza se torna um padre e se une a Gabriel, um jesuíta bem intencionado que luta para defender os índios, mas se depara com interesses econômicos. Música Tributo a Martin Luther King - Wilson Simonal

366 A sociedade colonial brasileira e a escravidão moderna A sociedade brasileira atual pode ser analisada pela combinação e entrelaçamento de distintos grupos culturais e étnicos, cujos alicerces remontam ao período colonial. A sociedade colonial era constituída, essencialmente, por três grupos étnicos: brancos, índios e negros. Cada uma dessas etnias geraram contribuições culturais originais que foi se concretizando de modos diferenciados nas diversas regiões do Brasil. A sociedade colonial fundamentou-se, basicamente, no trabalho escravo, o que contribuiu para os distanciamentos sociais e os preconceitos gerados pelo trabalho manual. A escravidão colonial era institucionalizada. Alastrou-se por toda a sociedade, influenciando nas formas de pensar e agir. Desse modo, o preconceito racial, iniciado no período colonial, perpassou a abolição e chegou até os nossos dias. Sobre as distinções raciais e de classes praticadas no Brasil Colônia, o historiador Boris Fausto comenta: No âmbito da estrutura social da Colônia, um princípio básico de exclusão distinguia determinadas categorias, pelo menos até a Carta-lei de Era o princípio da pureza de sangue. Impuros eram os cristãos-novos, os negros, mesmo quando livres, em certa medida os índios e as várias espécies de mestiços. Desse princípio racial decorria a impossibilidade de ocupar cargos, receber títulos de nobreza, participar de irmandades de prestígio, etc. A Carta-lei de 1773 acabou com a distinção entre cristãos antigos e novos, o que não quer dizer que daí para frente o preconceito se tenha extinguido. FAUSTO, Boris. História concisa do Brasil. 2. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, p. 31. No decorrer dos seus trezentos anos, a sociedade colonial do Brasil sofreu poucas alterações estruturais. Nesse extenso período, as atividades produtivas estiveram, no âmbito geral, sustentadas pelos trabalhadores escravos. Podemos afirmar, que as condições sociais foram moldadas pelas práticas trabalhistas, que permaneceram praticamente inalteráveis até o final do século XIX. As relações sociais estabelecidas durante o período colonial foram bastante diversificadas. Pequenos lavradores, comerciantes, artesãos, burocratas, roceiros, cativos libertos, religiosos, senhores de engenhos, escravos, mestiços, negros, índios e brancos promoveram um importante dinamismo nas relações de poder na sociedade colonial. A casa-grande e dominação na sociedade açucareira As características das atividades econômicas foram determinantes para a heterogeneidade da formação da sociedade brasileira colonial. Localizados na zona litorânea, os engenhos se tornaram os centros das relações sociais. Nessas áreas, onde prevaleceram a agromanufatura açucareira, foram desenvolvidas boa parte da vida social da colônia. Nessa sociedade preponderou patriarcalismo, ruralismo e escravismo. A sociedade açucareira era caracterizada pela rígida estrutura social e pelo seu perfil aristocrático. A grande propriedade agrária, genericamente denominada de engenho, era formada pela casa-grande, moradia do senhor e de sua família; pela senzala, local que abrigava os negros escravizados; pela capela, usada para a celebração de missas. Além disso, tinham as dependências de agregados e de homens livres que viviam nos engenhos e prestavam vários serviços, como anotações contábeis e fiscalização do trabalho escravo. O senhor de engenho era a principal autoridade das grandes propriedades açucareiras. Em seu cotidiano, ocupava-se com os negócios do açúcar, venda, controle e compra de escravos, administração de suas terras e o pagamento dos salários aos trabalhadores livre.. A autoridade dos senhores de engenho não se limitava aos seus familiares. Detentores

367 de muito poder e prestígio, tinham domínio sobre praticamente todos os habitantes de suas propriedades, a saber, agregados e massas de escravos. Nem mesmo alguns homens livres (comerciantes) escapavam, uma vez que o engenho era o mais importante compra-dor de mercadorias. Enegenho de cana-de-açúcar em Pernambuco, Frans Post (século XVII). As relações de dependência estabelecidas entre o senhor com os integrantes ligados à grande propriedade, determinaram à formação de uma sociedade patriarcal. Nessa perspectiva, os senhores detinham o pátrio poder, ou seja, plenos poderes sobre os seus dependentes (familiares e demais moradores do engenho). Tudo deveria passar pelas mãos do senhor. Através dele, eram garantidos os recursos financeiros para a construção e reforma de igrejas, além da prestação de serviços na área de saúde. Essa estrita relação de dominação/ subordinação contribuiu para a formação de fortes laços de proteção e de favores. Esse clientelismo, desenvolvido principalmente nas diversas regiões rurais brasileiras, permaneceu por muito tempo, chegando até mesmo, mesmo com em outros formatos, até os dias atuais. Pode-se perceber isso, claramente, em algumas práticas políticas contemporâneas. A estrutura patriarcal tinha sua reprodução garantida através do direito de primogenitura, ou seja, a herança do senhor de engenho cabia exclusivamente ao seu filho mais velho. Os senhores ostentavam luxo, grandeza e autoridade. O religioso André João Antonil, em seu livro Cultura e Opulência do Brasil, comentou sobre a importância dada, na época, ao título de senhor de engenho : O ser senhor de engenho é título a que muitos aspiram, porque traz consigo o ser servido, obedecido e respeitado de muitos. E se for, qual deve ser, homem de cabedal (homem que possui riquezas) e governo, bem se pode estimar no Brasil o ser senhor de engenho, quanto proporcionalmente se estimam os títulos entre fidalgos do reino. ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil. 3. ed. Belo Horizonte: Itatiaia, São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, p.89. O sociólogo Gilberto Freyre ( ) analisou de maneira inovada e ousada, a estrutura social desenvolvida nos engenhos. De acordo com Freyre, o patriarcalismo, a dominação e a violência que marcaram as relações sociais durante o período colonial brasileiro foram atenuadas pelo processo de mistura de raças (miscigenação), pela cordialidade e pela tolerância moral. Em seu livro Casa-Grande e Senzala, lançado em 1933, Freyre buscou entender o dinamismo da sociedade patriarcal através do estudo das festas, crenças, tradições e dos costumes praticados pelos diferentes grupos étnicos da época. Em sua opinião, a miscigenação deu a sociedade colonial um caráter único e diversificado.

368 Os escravos nas regiões açucareiras desempenhavam múltiplas atividades: preparo da terra, plantio e corte da cana, transporte do produto e serviços domésticos (mucamas, criados, moleques de recado). Estes últimos viviam em dependências secundárias da casagrande. Dada a necessidade e relevância do trabalho escravo para a economia colonial, Antonil afirmou: Os escravos são as mãos e os pés do senhor de engenho porque sem eles no Brasil não é possível fazer, conservar e aumentar fazendas nem ter engenho corrente. Considerando de modo geral, a formação brasileira tem sido, na verdade, (...) um processo de equilíbrio de antagonismos. Antagonismos de economia e de cultura. A cultura europeia e a indígena. A europeia e a pastoril. A africana e a mineira. O católico e o herege. O jesuíta e o fazendeiro. O bandeirante e o senhor de engenho. O paulista e o emboaba. O pernambucano e o mascate. O grande proprietário e o paria. O bacharel e o alfabeto. Mas predominando sobre todos os antagonismos, o mais geral e o mais profundo: o senhor e o escravo. É verdade que agindo sempre entre tantos antagonismos contundentes, amortecendo-lhes o choque ou harmonizando-os, condições de confraternização e de mobilidade social peculiares ao Brasil: a miscigenação, (...) a fácil e freqüente mudança de profissão e de residência, o fácil e frequente acesso a cargos e a elevados posições políticas e sociais de mestiços e de filhos naturais, (...) a tolerância moral, a hospitalidade a estrangeiros, a intercomunicação entre as diferentes zonas do país. FREYRE, Gilberto. Casa-grande e Senzala. 6. ed. Rio de Janeiro: José Olympio. P Escravidão Antes da chegada dos conquistadores europeus, os povos africanos eram fragmentados em diversas etnias e se organizavam em clãs, tribos, reinos e unidades políticas variadas. A multiplicidade cultural, espiritual e linguística era imensa. Essa diversidade étnica provocava com grande frequência vários conflitos intertribais, onde o grupo os perdedores tornavamse prisioneiros dos vencedores. Assim, a escravidão era uma relação social conhecida na África, porém de maneira diferenciada. Tradicionalmente, os cativos eram presos de guerras, propriedade comunitária, não podendo ser vendido. De acordo com alguns historiadores, tratava-se de uma escravidão semi-patriarcal, ou seja, os escravos não tinham valor econômico. Posteriormente, no contexto do colonialismo da América, os europeus aproveitaram-se desse fato para adquirir escravos, que foram transformados em mercadorias e negociados para vários locais do continente americano. A partir do século XVI, vários negros são retirados de sua terra natal e trazidos para o Brasil, tornando-se mão-de-obra essencial para o funcionamento da economia colonial. Os escravos africanos transformaram-se em força de trabalho básico nas atividades açucareira, mineira e outros setores. Os negócios envolvendo escravos geraram grande rentabilidade para os senhores de engenhos, poderosos mineradores e demais proprietários. Os escravos eram transportados da África à América através dos tumbeiros (alusão às tumbas) que não oferecia nenhuma condição higiênico-sanitária. Cada navio negreiro transportavam, cerca de 400 a 600 pessoas (homens, mulheres e crianças) em compartimentos sem ventilação. As principais regiões de aquisição de escravos no território africano no decorrer o período colonial foram: Guiné (século XVI), Congo e Angola (séculos XVII e XVIII) e Moçambique (séculos XVIII e XIX). Os dois grupos étnicos de negros vindos da África, tradicionalmente identificados, são dos bantos e dos sudaneses.

369 Navio Negreiro, Rugendas. Os escravos eram transportados da África à América através dos tumbeiros (alusão às tumbas) que não oferecia nenhuma condição higiênico-sanitária. Declamado, em 1868, o conhecido poema de Castro Alves, Navio Negreiro, descreve as dificuldadese sofrimentos dos negros deslocados da do continente africano para América. 'Stamos em pleno mar... Doudo no espaço Brinca o luar dourada borboleta; E as vagas após ele correm... cansam Como turba de infantes inquieta. 'Stamos em pleno mar... Do firmamento Os astros saltam como espumas de ouro... O mar em troca acende as ardentias, Constelações do líquido tesouro... 'Stamos em pleno mar... Dois infinitos Ali se estreitam num abraço insano, Azuis, dourados, plácidos, sublimes... Qual dos dous é o céu? qual o oceano?... Castro Alves, autor do Poema Navio Negreiro. Trecho do poema Navio Negreiro. A probabilidade de sobrevivência das pessoas trazidas ao Brasil pelos tumbeiros estava condicionada a alguns fatores: longa e desgastantes viagens (duração de 35 a 50 dias aproximada-mente, ou de 5 a 6 meses, quando se enfrentava péssimas condições de navegação); condições climáticas; alimentação e água. De qualquer forma, as condições de viagens vivenciadas pelos africanos eram precárias e insalubres. Alguns historiadores acreditam que as perdas humanas atingiram, no século XVI, a taxa média de 25%. Na época, os percentuais aceitáveis giravam entre 5% e 15%. Estimativas aproximadas sinalizam que, ente os século XVI e XIX, quase 400 mil morreram no trajeto África-América.

370 Na sua condição de propriedade, o escravo é uma coisa, um bem objetivo. Lembrando Aristóteles, consideramos nossa propriedade o que está fora de nós e nos pertence. Nosso corpo, nossas aptidões intelectuais, nossa subjetividade não entram no conceito de nossa propriedade. Mas o escravo, sendo uma propriedade, também possui corpo, aptidões intelectuais, subjetividade é, em suma, um ser humano. Poderá ele o ser humano ao se tornar propriedade, ao se coisificar? Assim que escravidão saiu da fase embrionária e mais ou menos acidental nas comunidades primitivas, ganhando, na sociedade já dividida em classes, contornos definidos e institucionalizados, a tendência dos senhores de escravos foi a de vê-los como animais de trabalho, como instrumentum vocale, bem semovente (...) Daí ter sido usual a prática de marcar o escravo com ferro em brasa como se ferra o gado. Os negros eram marcados já na África, antes do embarque, e o mesmo se fazia no Brasil, até o final da escravidão. (...) Seu comportamento e sua consciência teriam de transcender a condição de coisa possuída no relacionamento com o senhor e com os homens livres em geral(...) Os escravos sempre sofreram as penas mais pesadas e infames. As mutilações não só foram previstas pelo direito romano como também pelo Código Filipino português e pelas várias legislações penais das colônias americanas, num momento ou noutro, inclusive no Brasil. Mas a pena mais cruel, justamente por ser uma pena, implicava o reconhecimento de se punia um ser humano. GORENDER, Jacob. O escravismo colonial. São Paulo, Ática, p Os traficantes adquiriam os escravos africanos por intermédio de, essencialmente, aguardente, cavalos, tabaco, zimbo (pequena concha), armas e outros artefatos. A aquisição dessa força de trabalho envolvia um detalhado e minucioso exame das condições de saúde e habilidades do cativo. Ao desembarcar nos principais portos brasileiros (Recife, Salvador e Rio de Janeiro), os mercadores de escravos esperavam certo tempo para que as peças (expressão utilizada para os escravos destinados ao mercado) pudessem se recuperarem da extensa viagem. Além da qualificação, a idade e o sexo determinavam o valor do cativo. A aparência saudável era determinante para o preço final do escravo. Mesmo havendo muita oscilação nos preços, os lucros gerados pelo tráfico negreiro foram significativos. Após negociados, os escravos eram tratados com extrema violência. Além do trabalho compulsório, os castigos eram usados com o objetivo de reprimir e controlar os cativos nos engenhos. Nesse sentido, foram aplicados variados instrumentos de tortura: troncos, chicotes, gargalheiras, máscaras de flandres, correntes, mordaça, libambo, algemas, palmatória. Geralmente, quando algum escravo fugitivo era recapturado, obrigava-o a utilizar a gargalheira ou marcava-o com a letra F, com ferro quente. Jean-Baptiete Debret ( ) foi um dos principais pintores das condições dos escravos no Brasil Imperial

371 A distinção de escravos O uso da mão de obra escrava africana foi um dos pilares fundamentais da sociedade colonial. Os negros da terra (índios) e os negros da guiné (africanos) foram utilizados no Brasil em todos os setores da economia rural e urbana, nas atividades domésticas e artesanais. O trabalho manual tornou-se sinônimo de escravidão. No universo colonial, os escravos eram tratados com simples coisas, mercadoria, bens semoventes. Nas zonas urbanas, havia os escravos domésticos (dedicados a tarefas caseiras), de ganho e de aluguel. Os escravos de ganho atuavam em variadas atividades remuneradas: transporte de cargas e pessoas, barbearia, prostituição, comércio ambulante, entre outras. Parcela do dinheiro adquirido nessas funções era repassada aos senhores, entretanto alguns escravos guardavam uma parte, usada em vestuário, alimentação, aquisição de ferramentas e, possivelmente, da alforria (compra da liberdade). Já os escravos de aluguel eram alugados por particulares para a execução de múltiplas e diversificadas tarefas. Hierarquização dos cativos Dentro do processo de escravização foi estabelecido uma classificação entre os cativos. Os escravos africanos recém-chegados que tinham dificuldades em se adaptar aos costumes do colonizador eram denominados de boçais. Estes ocupavam posições inferiores e se ocupavam de atividades cansativas e repetitivas. Já os ladinos eram considerados mais aptos e capazes, pois estavam integrados ao universo da escravidão. Eles manuseavam equipamentos e tinham domínios de algumas técnicas. Por isso, trabalhavam nas moendas, nas caldeiras, na casa de purgar, na casa-grande e nas oficinas (olarias, carpintarias e ferrarias). Finalmente, essa hierarquia era completada com o crioulo, negro ou mestiço nascido e criado na colônia. Os ladinos e os crioulos eram mais utilizados como escravos domésticos ou de ganho (prestavam serviços ou faziam pequeno comércio, devendo pagar certa quantia ao senhor) e eram mais comuns nas cidades; os boçais, geralmente sem nenhuma mistura racial, eram utilizados no trabalho pesado do campo. Novas diferenciações surgiram na sociedade escravista a partir do final do século XVIII, e sobretudo no século XIX, quando o número de escravos alforriados e libertos aumentou consideravelmente. Esse crescimento foi pequeno para inferir na estrutura do sistema escravista, mas determinante para criar mais um elemento de referência e diversificação no universo da escravidão no Brasil. MORAES, José Geraldo Vinci de. História: geral e do Brasil: volume único. E. ed. São Paulo: Atual, p Escravidão e famílias Há poucas informações relacionadas às famílias escravas. A escassez de documentações explica esse reduzido conhecimento sobre os núcleos familiares africanos desenvolvidos no Brasil. Por muito tempo acreditava-se que não existia essa organização social, em razão dos impedimentos estabelecidos pelo sistema escravocrata. A lógica do sistema demandava mais força de trabalho masculina que feminina o que servia como empecilho para os laços familiares. Os trabalhadores braçais sofriam maustratos e humilhações, o que possivelmente, gerou, em alguns deles, uma perda de desejo em formar um agrupamento permanente como de uma família. Outro obstáculo se dava pela baixa taxa de natalidade entre as mulheres escravas. Essa reduzida redução acontecia devido violência contra as escravas, mas também muitas delas decidiam não ter filhos como uma forma de resistência à escravidão. A troca de parceiros, voluntária ou imposta, as promiscuidades no cotidiano das senzalas, os abusos sexuais dos senhores dificultarem também a constituição de grupos familiares. Mesmo com esses impedimentos incontestes pra a formação dos núcleos familiares, pesquisas recentes apontam para o estabelecimento de núcleos, principalmente a partir do

372 século XIX, buscaram formar uniões familiares (afetivas e culturais) mais estáveis, e sólidos. As possibilidades da formação de famílias mostraram-se mais intensas nos centros urbanos, uma vez que os escravos mantinham contatos próximos com a vida doméstica e costumes dos senhores. Entretanto, há muito o que se pesquisar sobre o cotidiano familiar entre os escravos. A brecha camponesa A brecha camponesa consiste na concessão de pequenos lotes concedidos pelos grandes proprietários aos escravos. Essas terras eram cedidas com o propósito de realizar uma produção agrícola voltada para o mercado interno. As terras não se tornavam posses dos escravos, prevalecia sempre à vontade dos seus senhores. Em relação a esse modelo, as escritoras Ângela Botelho e Liana Reis escreveram: Denominação dada pelos estudiosos atuais à prática dos senhores de conceder porções de terra a seus escravos, para que nelas cultivassem lavouras e criassem animais. Normalmente, o cultivo destas terras era feito aos domingos e dias santos (...). Ao que tudo indica, essa prática foi comum no período colonial, especialmente no nordeste açucareiro. Adotada em regiões escravistas da América Central e sul dos Estados Unidos, ficou conhecida na época como costume do Brasil. BOTELHO, Ângela Viana; REIS, Liana Maria. Dicionário Histórico Brasil: Colônia e Império. Belo Horizonte: O Autor, p. 27. Nessas porções de terras, os escravos cultivavam milho, mandioca, batata, feijão, cará e hortaliças. A produção agrícola também estava ligada à criação de pequenos animais (porcos, galinhas), equinos e gado bovino. Segundo alguns historiadores, a brecha camponesa consistia num instrumento de controle da ordem escravocrata, cumprindo a função de reduzir os dispêndios e manutenção da força de trabalho por parte dos grandes proprietários. Além disso, através desse modelo os cativos adquirir suplementos de acordo com suas necessidades, como roupas, tabaco, bebidas, inclusive, a sua liberdade e de seus parentes. Alguns negros repassavam o gerenciamento de suas rendas a pessoas brancas, com a finalidade de formar uma poupança. No final do século XVII, diversos alvarás e ordens reais sancionaram a brecha camponesa no Brasil. Resistência negra: meios individuais e coletivos Os africanos resistiram bravamente contra a humilhação e violência vivenciados por eles. No decorrer do período colonial, muitos deles manifestando sua revolta e desesperos cometeram suicídios, abortos voluntários, promoveram sabotagens na produção de açúcar, incendiaram propriedades, assassinaram senhores e feitores, insuflaram revoltas nas fazendas e nas povoações, fizeram automutilações e organizaram fugas coletivas ou individuais. Entretanto, muitas fugas fracassavam, pois os capitães-do-mato sempre estavam à procura dos escravos fugitivos. Outros sentiram o banzo, atitude de recolhimento, tristeza e apatia, que os deixavam ineficazes na execução de suas respectivas tarefas. Abatidos, muitos chegaram a morrer. Humilhado, espezinhado, maltratado, submetido a vexames e até sadismo inimagináveis, como salgamento de feridas produzidas por chicotadas, castração, corte seios, quebra de dentes a martelada e emparedamento vivo, o negro nunca aceitou sua condição docilmente, como tantas vezes se propalou. Nas palavras de Arthur Ramos, foi bom trabalhador e mau escravo. O negro reagiu sempre que pode e como pode: fugindo, assassinando, rebelando-se. Mostrou, enfim, por todos os meios ao seu alcance, o quanto aquela situação não lhe servia. LOPEZ, Luiz Roberto. História do Brasil Colonial. 3. ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, p. 43.

373 A preservação das crenças e tradições africanas também podem ser consideradas como outra forma de resistência, mesmo com a conde-nação da Igreja Católica. Os negros trazidos da África possuíam religiões e ritos distintos. No geral, eles cultuavam os antepassados, que eram responsáveis pela proteção e cuidado da comunidade tribal. Devido a migração e dispersão de vários grupos (moçambiques, angolas, bengalas, hauçás, jejes, iorubas), os africanos passaram a cultuar divindades mais concretas, relacionadas às forças sobrenaturais da natureza. Essas deidades, os orixás, após um processo de aculturação entre a herança africana, as concepções religiosas dos brancos e índios da colônia, eram referenciados em rituais e festas. Geralmente, os cultos eram praticados ao som de diversos instrumentos de percussão. As manifestações culturais coletivas também foram maneiras de expressar a rebeldia, preservando danças, rituais fetichistas africanos, a capoeira e a música. A feitiçaria é considerada, por alguns historiadores, como a dimensão mais agressiva desta resistência, pois os cativos, pressupondo deter o domínio do desconhecido, acreditavam poder controlar as atitudes de seus senhores e determinar sua morte. Feiticeiros eram muito temidos, e alguns chegaram a causar enorme insegurança às populações locais nos núcleos urbanos coloniais e, particularmente, na Capitania de Minas Gerais, durante o século XVIII. Da mesma forma, os batuques causavam receio entre os brancos e as autoridades coloniais, ao criarem um clima de sobrenatural. BOTELHO, Ângela Viana; REIS, Liana Maria. Dicionário Histórico Brasil: Colônia e Império. Belo Horizonte: O Autor, p Os Quilombos Os quilombos ou mocambos se tornaram o símbolo maior de resistência escrava no Brasil Colônia. Após as fugas coletivas, estes se organizaram em acampamentos em regiões pouco povoadas, matas fechadas e áreas de difícil acesso, estabelecendo importantes núcleos de resistência negra. Essas aldeias eram bastante protegidas. Os quilombolas procuraram restabelecer costumes e hábitos tipicamente da África. Para tanto, havia vários obstáculos, pois muitos negros fugidos eram originários de diferentes grupos étnicos. Porém, prevalecia um espírito de comunidade e sobrevivência. Os quilombos tornaram-se mecanismo de resistência e meios pelos quais os africanos e os afro-descendentes resgataram, simplificadamente, sua identidade cultural e espiritual, pois estas eram fortemente reprimidas e rejeitadas pelos senhores e autoridades civis e religiosas do Brasil colonial. Escondiam-se também nos quilombos, índios e criminosos procurados pela justiça. Os quilombolas praticavam a caça, a pesca, a coleta de frutos, o comércio, o banditismo, a agricultura e a pecuária. Durante os mais de três séculos de escravidão surgiram em diversas regiões do Brasil centenas de quilombos, com tamanhos e repercussões diferenciadas. Entre os mais expressivos podemos citar: Quilombo do Buraco do Tatu, Quilombo do Ambrósio e o mais conhecido Quilombo de Palmares. O Quilombo do Buraco do Tatu (século XVIII) foi organizado nas proximidades de Salvador, na Bahia. Buscando garantir a sobrevivência, os refugiados obtiveram armas, munições e alimentos, além disso, assaltavam fazendas e viajantes. Em 1763, foi reprimido e destruído. O Quilombo do Ambrósio (século XVIII) foi estabelecido próximos às atuais cidades mineiras de Ibiá e Campos Altos. Esse quilombo chegou a ter mais de duas mil pessoas, sendo destruído em Já o Quilombo dos Palmares (1630 e 1694) ocupou uma vasta área, conhecida como Serra da Barriga, localizada entre os atuais estados de Pernambuco e Alagoas. Esse quilombo reunia diversas aldeias (os mocambos), chegando a ter, na época de sua destruição, um número aproximado de 20. Essa região recebia fugitivos de várias partes da colônia. Pela sua estrutura social e militar, esse quilombo é considerado por muitos historiadores como o mais importante do Brasil Colônia. Havia em Palmares uma rica atividade agrícola e um forte comércio entre as várias aldeias. As práticas religiosas era resultado da fusão entre ritos católicos e africanos

374 presentes no quilombo. A liderança política era exercida por um guerreiro. O primeiro líder político, provavelmente, foi Ganga-Zumba, sendo Zumbi, o último. Após ter sobrevivido por quase 65 anos, Palmares foi destruído por sucessivas expedições militares e repressivas. Em 1695, o bandeirante Domingos Jorge Velho organizou uma expedição com cerca de 9 mil homens que conseguiu destruir o Quilombo de Palmares. Zumbi tornou-se um símbolo de resistência negra. A data de sua morte, 20 de novembro, é considerada, hoje, como o Dia da Consciência Negra. Sobre o estabelecimento e posterior destruição do Quilombo de Palmares, a historiadora Jacqueline Hermann comenta: Palmares cresceu com o avanço da economia açucareira e o aumento do tráfico africano em substituição ao cativeiro indígena no litoral. (...) O número de quilombolas de Palmares cresceu muito nas décadas de , pois as guerras luso-flamengas enfraqueceram o controle senhorial, facilitando a fuga de escravos (...). O experiente capitão-mor Fernão Carrilho, depois de diversas batalhas, deu Palmares por destruído, em 1678, mas a verdade só prendera muitos líderes palmarinos, dentre os quais os parentes de Ganga Zumba, líder dos quilombolas. Com esse triunfo, o governador Aires Sousa e Castro pressionou o rei de Palmares para firmar o acordo de Recife (...). O acordo deu início a nova fase na história do quilombo: provocou dissidências e fez surgir a liderança de Zumbi, que insistiu na guerra (...). Em 1695, Zumbi foi morto pelos bandeirantes, sendo degolado e tendo sua cabeça enviada para Recife como troféu. A importância da vitória sobre Palmares foi tamanha para a metrópole que chegou a ser chamada de gloriosa Restauração de Palmares, sendo comparada ao triunfo sobre os holandeses. HERMANN, Jacqueline. Palmares. In: VAINFAS, Ronaldo (org.). Dicionário do Brasil colonial ( ). Rio de Janeiro: Objetiva, Quilombolas no lançamento da Agenda Social Quilombola e do Plano Nacional de Promoção da Igualdade Racial, no Palácio do Planalto em Brasília. As formas de resistências não eram só realizadas através da rebeldia, assassinato de feitores, fugas, suicídios ou quilombolas. Uma imensa e inovadora historiografia brasileira traz à discussão outras maneiras de luta e negociação dos cativos por condições de vida mais digna. O historiador Luiz Fernando Saraiva analisa sobre os possíveis casos de negociações entre escravos e os senhores: Os novos estudos, entretanto, têm destacado novas formas de resistência como a possibilidade de os escravos comprarem, ganharem ou negociarem suas alforrias; ou a possibilidade de montarem famílias e permanecerem ligados a elas; ou ainda o direito a uma produção autônoma de alimentos (que poderiam inclusive ser vendidos no mercado), entre outras. Tentando resumir o que é impossível de ser resumido: a escravidão era um sistema violento, mas mesmo com esta violência havia espaço para negociação. Este é o cerne das grandes discussões que hoje ocorrem nas grandes universidades do país acerca da escravidão. SARAIVA, Luiz Fernando. Da pesquisa à prova. NOSSA HISTÓRIA.São Paulo: Vera Cruz, ano 2. n. 21.jul p. 82.

375 A resistência indígena Os povos indígenas da América Portuguesa tiveram seu universo cultural, material e espiritual destruído pelos colonizadores. Existiam no Brasil, no início do século XVI, uma população de aproximadamente de 5 a 6 milhões de índios, agrupada em diversas nações e tribos. A resistência indígena permanece até os dias de hoje. Atualmente, a principal luta dos cerca dos 300 mil índios lutam a favor da preservação de suas terras e identidade cultural, constantemente ameaçadas pelos garimpeiros, madeireiros, posseiros e empresas ligadas ao agronegócio. Há quinhentos anos chegaram os invasores vindos de longe; de lá até hoje, tudo mudou no lugar em que vivemos, muitos dos nossos foram dizimados por doenças ou guerras. Se no início éramos 6 milhões, hoje somos 300 mil. De nós levaram e levam a madeira, o ouro e a própria terra. Nossa grande mãe chora de tristeza e choramos juntos com ela. Quando vamos no rio e ele está sujo, quando vamos na mata e ela não mais existe, quando queremos falar com os espíritos e eles não mais respondem porque uma máquina passou na sua morada. Temo certeza que a civilização que nos foi imposta foi uma civilização que não deu certo, não deu certo para o nosso povo, e agora temos certeza de que não deu certo para o nosso povo, e agora temos certeza de que não deu certo para o homem branco. Nós, índios, ainda resistirmos, mantemos nossas tradições, mantemos respeito à grande mãe natureza, por isso somos chamados de selvagens e preguiçosos. Não compreendemos a sabedoria de vocês, não entendemos uma sabedoria que destrói a mata, polui os rios, mata os peixes. Não compreendemos uma sabedoria que abandona seus velhos, maltrata suas mulheres e crianças. Não compreendemos a ânsia do homem branco em dominar o seu irmão, a natureza e as forças do universo. Todo esse poder, todas as armas, por outro lado, mão têm feito de vocês um povo feliz. Muitas doenças, muitas dores que seus sábios não podem curar, sabemos o remédio. Muitas pragas nas plantações de vocês, nossa sabedoria poderá resolver. Adaptado de: Carta de Princípios da Sabedoria Indígena, aprovada pelo Primeiro Encontro Nacional de Pajés. Caros Amigos. 16. ed. São Paulo: Casa Amarela. Jul p.15. Vários grupos indígenas resistiram à escravidão e lutaram pela posse de suas terras. Os principais movimentos de resistência foram: Guerra ou Confederação dos Tamoios: primeiro movimento de resistência que agrupou vários nativos contra os lusitanos. Organizados na metade do século XVI, essa guerra colocou em risco a dominação dos portugueses no Rio de Janeiro e em São Vicente. Foi formada uma coligação que contou com a participação dos tupinambás, goitacazes e aimorés que lutaram contra a escravização e pela posse de suas terras. O conflito se encerrou em Após as mediações dos padres jesuítas Manoel de Nóbrega e José de Anchieta e do estabelecimento de um acordo de paz. Esse tratado não foi cumprido pelos portugueses, que posteriormente, assassinaram mais de 2 mil índios, escravizando mais de 4 mil. Guerra dos Bárbaros ou do Açu: consistiu num conjunto de conflitos que envolveram os índios cariris, caripus, icós e janduís e os bandeirantes. Esses atritos ocorreram a partir de 1554, na região Nordeste. Devido a expansão sistemática dos colonizadores, milhares de nativos resistiram à ocupação de suas terras nas áreas dos atuais estados do Ceará, do Rio Grande do Norte, da Paraíba e de Pernambuco. No final do século XVII, as autoridades coloniais reprimiram violentamente as resistências indígenas nessas localidades. Guerra Guaranítica: conflito ocorrido no extremo-sul, em meados do século XVIII, impulsionado pela recusa dos ameríndios em abandonar o território dos Sete Povos das Missões.

376 O papel da Igreja Católica no processo de colonização A Igreja Católica cumpriu uma importante função no decorrer de todas as etapas do processo de colonização. A atuação dos religiosos católicos estava relacionada diretamente aos interesses mercantilistas, favorecendo decisivamente para o projeto colonizador. Desde a metade do século XVI, os jesuítas tinham o monopólio da educação em Portugal, qual lhes foi transferido a administração do Real Colégio de Artes de Coimbra, cuja pretensão era formar e capacitar religiosos para atuarem no processo de catequização na América Portuguesa. O monopólio também se estendeu ao Brasil. Os primeiros grupos de jesuítas da Companhia de Jesus chegaram ao Brasil, em 1549, sob liderança de Manuel de Nóbrega. Os jesuítas tinham como objetivo principal na Europa recuperar os fieis perdidos para os movimentos protestantes. Na colônia, eles pretendiam se antecipar ao protestantismo, buscando, dessa forma, conter seu avanço em regiões fora do continente europeu. Os religiosos desejavam impedir que os protestantes fizessem seguidores entre os habitantes do Novo Mundo. Essa missão provocou intensos conflitos entre os jesuítas e os colonizadores, que aproveitavam os índios nas atividades produtivas, escravizando-os. Os jesuítas visavam transformar os nativos em bons cristãos e fieis súditos do Governo português. As ações da Companhia de Jesus protegiam os indígenas dos ataques e violência dos colonos. Os religiosos através das conversões religiosas subjugaram os nativos aos seus interesses, dominando culturalmente e ideologicamente diversas comunidades indígenas. O processo de educação religiosa acontecia nos aldeamentos jesuíticos, conhecidos como missões ou reduções. Nessas comunidades os jesuítas impunham aos nativos os costumes e os modos de vida dos europeus, buscando integrá-los e orientá-los segundo os preceitos cristãos. Os índios das missões podiam trabalhar em suas próprias roças durante um mês, contanto que prestassem serviços no mês seguinte aos senhores (missionários ou colonos) ou quando necessário. Todos os indígenas, entre 15 e 50 anos de idade, deveriam prestar esses serviços, executados de forma extenuante e sem respeito a horário de trabalho, podendo também ser castigados fisicamente. Muitos aldeamentos indígenas estabeleceram-se próximo às vilas e povoados de portugueses, facilitando assim a catequese. A servidão era a maneira de extrair o máximo do índio e civilizá-lo, pelo trabalho, disciplina, respeito e aceitação dos valores culturais dos colonizadores. Os bairros de São Miguel Paulista e Pinheiros, na atual cidade de São Paulo, São Lourenço, em Niterói, e Caucaia, em Fortaleza, foram aldeias indígenas que mantiveram esse tipo de relação com as classes dominantes coloniais. BOTELHO, Ângela Viana; REIS, Liana Maria. Dicionário Histórico Brasil: Colônia e Império. Belo Horizonte: O Autor, p. 69. Além de educar os índios, os jesuítas também passaram a administrar escolas que ofereciam ensino aos filhos da elite colonial. Os primeiros colégios foram fundados em São Vicente e em Salvador por Manuel de Nóbrega. Em 1554, o padre José de Anchieta fundou o Colégio de São Paulo. Posteriormente, houve foram fundadas outras instituições educacionais no Rio de Janeiro (1568), em Olinda (1576), em Ilhéus (1604) e no Recife (1655). Dessa maneira, todas as atividades pedagógicas e evangelizadoras praticadas na colônia eram controladas pelos jesuítas. O Tribunal da Inquisição O poder que os jesuítas detinham em Portugal, através do intermédio do Tribunal do Santo Ofício da Inquisição, foi estabelecido também no Brasil. Esse tribunal tinha como principal finalidade combater as denominadas seita heréticas, conter o avanço das ideias protestantes, os saberes eruditos que manifestavam contrários aos princípios católicos e combater as manifestações culturais e religiosas de diversos segmentos populares rebeldes aos dogmas eclesiásticos, principalmente, os praticantes de mágicas e feitiçarias.

377 Feiticeiros perseguidos pela inquisição Apesar de a hierarquia católica ter se oposto rigorosamente, desde os tempos apostólicos. A todas as religiões não-cristãs, rebaixando-as à condição de idolatria, superstição e feitiçaria, na prática, muitas vezes, outra era a realidade, sobretudo debaixo do Equador. No Nordeste, nas Minas e no resto da Colônia, são freqüentes as denúncias contra homens e mulheres que recorriam aos feiticeiros e feiticeiras, em especial quando os exorcismos da Igreja e os remédios de botica não surtiam efeito na cura de variegada gama de doenças. (...) Diversos são os padres e frades acusados ao Tribunal de Inquisição de terem encaminhado seus fregueses aos calunduzeiros, reconhecendo a melhor eficácia dos negros no alívio de certas doenças físicas ou emocionais. MOTT, Luiz. Cotidiano e vivência religiosa: entre a capela e o calundu. In: NOVAIS, Fernando A. História da vida privada do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, v.1. A prática da Inquisição no período colonial foi efetivamente iniciado, em Pernambuco e Bahia foram os locais visitados por agentes inquisidores, uma vez que essas localidades chamaram a atenção da coroa portuguesa devido as suas prosperidade. Religiosidade popular A sociedade colonial apresentava uma série de manifestações sincréticas, ou seja, havia uma fusão de elementos culturais distintos ou até mesmo antagônicos. O sincretismo afrocatólico se tornou peculiar no Brasil colonial. O catolicismo popular teve como exemplo maior as irmandades leigas, que foram, simultaneamente, centros de devoção (práticas religiosas) e de assistencialismo social (auxílio aos associados e seus familiares). Era muito relevante ser integrante de uma irmandade no período colonial, especialmente, nas regiões das Minas, uma vez que isso poderia denotar a saída da marginalização. Outra importância das irmandades se dava após a morte, pois aos seus confrades havia a garantia dos seus sepultamentos dentro das igrejas ou locais próximos. Segundo alguns historiadores, indiretamente, as irmandades foram fundamentais para a construção de igrejas de estilo rococó ou Barroco mineiro. Esse estilo alcançou seu apogeu com as igrejas e esculturas de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho ( ), e nas pinturas de Manuel da Costa Ataíde ( ). Outras camadas sociais: os desclassificados A população do Brasil colonial era bastante heterogênea. Nos principais núcleos urbanos da colônia portuguesa conviviam artífices, pedreiros, carpinteiros, alfaiates, sapateiros, ourives, religiosos, ferreiros, barbeiro, pescador, costureiras, prostitutas, soldados, músicos, religiosos, mercadores fixos, ambulantes e funcionários públicos. Desse modo, a sociedade mineira era marcada por uma vida urbana rica e complexa. No decorrer do período colonial esses grupos populacionais, em sua maioria pobres, foram chamados de desclassificados.

378 TEXTO COMPLEMENTAR A mulher no período colonial A importação da metrópole de um discurso moralizador sobre o uso dos corpos instala-se na Terra de Santa Cruz de par com o desejo de cristianização e difusão da fé católica, bem como com a ânsia do sistema mercantil de constituir contingentes populacionais que habitassem as novas terras. A ideia de adestrar a sexualidade dentro do casamento decorre do interesse de fazer da família o eixo irradiador da moral cristã. Mas eis que falta à mulher ideal para casar, e a Igreja vai despender séculos de pregação para formar, fora das elites, uma mentalidade de (...) castidade para mulheres para quem certas noções como virgindade, casamento e monogamia eram situações pouco comuns, em contrapartida à realidade mais forte: a das dificílimas condições materiais e insegurança econômica na colônia, que ditava regras e costumes próprios (...) Mas será certamente a constituição da família, como eixo de difusão da fé católica, assim, como o papel da mulher enquanto propagadora do catolicismo, que irá inspirar os pregadores coloniais (...) O casamento era considerado elemento de equilíbrio social, e dentro dele, a ausência de paixão, a obediência e a subordinação da mulher, A Igreja, mais minuciosa, fabrica través dos manuais de confissão um saber sobre a sexualidade feminina no passado (...) para controlá-la e puni-la. A hipocrisia deste sistema normativo que quer eleger um modelo ideal de mulher para implantar, com sucesso, a família e a fé católica na colônia, - explicita-se claramente nos processos que desvendam as formas de contravenção às leis civis e eclesiásticas. Quão distantes da pregação erudita e religiosa não se encontravam as mulatas e negras forras e as brancas empobrecidas, todas mulheres livres a lutar contra as dificuldades do cotidiano. Ao discurso sobre seus comportamentos, ou os que deveriam ter, elas respondiam com práticas tidas por desabusadas, mas apenas resultantes de condições materiais de vida. Ao público escândalo de tantos concubinatos e mancebias somavam-se filhos tidos por fragilidade de carne humana, fora de qualquer laço conjugal. A maternidade, além de sentimento, cuidados com filhos e trabalho de parto, era um laço que unia mães e filhas num mesmo ofício: o da prostituição, com a bênção da pobreza e a conivência de pais e maridos. (...) Descoladas, portanto, de uma pregação religiosa que as fantasiava virtuosas e puras as mulheres coloniais são mais filhas de Eva do que de Maria; mergulhadas nas asperezas do trabalho doméstico, ou nos ofícios de rua e da lavoura, acabam por elaborar, mesmo enquanto rascunhos dos modelos eruditos, regras e éticas próprias. DEL PRIORE, Mary. A mulher na história do Brasil. São Paulo: Contexto, p O texto da historiadora Mary Del Priore faz uma reflexão acerca da condição da mulher não apenas no período colonial, mas também nos dias atuais. Por meio de uma atenta leitura, percebem-se os limites que estabelecidos às mulheres pela Igreja, com a utilização do discurso sobre o uso dos corpos femininos e seus prazeres. Nessa perspectiva, responda: a) De acordo com o texto, como construída a imagem ideal da mulher? b) A construção da figura feminina ideal entrou em contradição com a realidade da maioria das mulheres do Brasil Colônia? Por quê? Justifique.

379 FAZENDO HISTÓRIA 1. Havia outra possibilidade do governo português não utilizara mão-de-obra escrava no Brasil? Por quê? Justifique. 2. Em sua opinião ainda há repercussões da experiência escravocrata na sociedade contemporânea? Cite alguns exemplos. 3. Aponte as principais dificuldades encontradas com a escravização indígena. 4. De quais regiões africana vieram os negros para o Brasil? Qual a função exercida pelo tráfico negreiro para desenvolvimento e manutenção da escravidão no Brasil? 5. Comente a diversidade cultural que existia entre os escravos no Brasil. 6. Quais foram as formas de resistência dos negros em combate à escravidão? Comenteas. 7. (Unicamp-SP) Os escravos no Brasil é geralmente representado como dócil, dominado pela força e submisso ao senhor. Porém, muitos historiadores mostram a importância da resistência dos escravos aos senhores e o medo que os senhores sentiram diante dos quilombos, insurreições, revoltas e atentados e fugas de escravos. a) Descreva o que eram os quilombos. b) Por que a metrópole portuguesa e os senhores combateram os quilombos, as revoltas, os atentados e as fugas de escravos no período colonial brasileiro? 8. (Fuvest-SP) Antonil, na obra Cultura e opulência no Brasil, de 1711, afirmava: Os escravos são as mãos e os pés do senhor de engenho. Analise esta afirmativa.

380 QUESTÕES DE VESTIBULARES 1. (UPE) Desde o século XVI, a escravidão foi uma instituição presente no processo de colonização portuguesa na América. A mão de obra escrava se constituiu como base da produção econômica da América Portuguesa, sendo utilizada em diver sas atividades lucrativas. Sobre a relação da escravidão com a sociedade colonial brasileira, é correto afirmar que a) a escravidão negra africana só ganhou impulso em relação à sua utilização na economia brasileira, a partir do século XVIII, com a exploração aurífera. b) a mão de obra escrava que predominava na produção de açúcar no nordeste colonial era a indígena, em especial a dos povos tupi. c) o tráfico de escravos africanos era uma das prin cipais atividades rentáveis da coroa portuguesa desde o século XVI. d) a escravidão indígena não foi utilizada em algumas regiões da colônia, como no caso da Capitania de São Vicente. e) não há evidências da utilização de escravos africanos na produção pecuária, no sertão colonial. 2. (UNESP) Esse quilombo [Quariterê, em 1769, próximo a Cuiabá], liderado pela Rainha Tereza, vivia não apenas de suas lavouras, mas da produção de algodão que servia para vestir os negros e, segundo alguns autores, até mesmo para funcionar como produto de troca com a região. Possuía ainda duas tendas de ferreiro para transformar os ferros utilizados contra os negros em instrumentos de trabalho.sua destruição foi festejada como ato de heroísmo, em Portugal. (...)(Jaime Pinsky, A escravidão no Brasil) A respeito dos quilombos, pode-se dizer que a) não representavam ameaça à ordem colonial, na medida em que não visavam pôr em questão o poder metropolitano. b) sua duração efêmera revela a pequena adesão dos escravos às tentativas de contestação violenta ao regime escravista. c) o combate violento à organização quilombola era uma prioridade, por esta representar a negação da estrutura social e produtiva escravista. d) mantinham relação permanentemente hostil com a população vizinha, constantemente ameaçada pelos raptos de mulheres brancas. e) sua organização interna priorizava os aspectos militares, o que acabava por inviabilizar a realização de outras atividades. 3. (UPE) O trabalho cria riquezas sociais que, nem sempre, são divididas e servem para efetivar sociedades equilibradas. O uso da escravidão mostra a existência da exploração, mesmo nos tempos modernos. A escravidão a) foi utilizada nas colônias europeias até o século XVIII, na agricultura, apresentando grande lucratividade nos negócios agrícolas. b) tinha lugar no trabalho doméstico, apenas nas colônias portuguesas e inglesas, sendo ineficaz no comércio. c) conseguiu se firmar nas colônias espanholas; sem êxitos expressivos, nas colônias inglesas, devido aos preconceitos raciais. d) deu condições para favorecer o crescimento da burguesia, que lucrava com o comércio da época e firmava seus interesses. e) inexistiu no trabalho, nas minas de ouro da América, sendo utilizada na agricultura latifundiária e nos serviços urbanos. 4. (UFT) O negro era cativo para que sua força de trabalho o fosse. Como conseqüência, o elemento predominante na existência do negro era o trabalho. (PINSKI, Jaime. A escravidão no Brasil. São Paulo: Contexto, 2006, p. 47). Em relação ao trabalho escravo no Brasil, é incorreto afirmar que:

381 a) os escravos não eram donos de suas ferramentas, mas usavam aquelas cedidas pelos seus proprietários. b) os escravos, no Brasil, eram mantidos num regime de trabalho assalariado, frequentemente de sol a sol, na época da colheita. A subserviência e a deferência eram essenciais para a sua sobrevivência. c) os escravos faziam todo o tipo de serviço. Eram vaqueiros, remeiros, mineiros, e lavradores; eram artífices, marceneiros, ferreiros, pedreiros e oleiros; eram domesticos e pajens, guarda-costas, capangas e capitães do mato; feitores e até carrascos. d) o trabalho começava antes do sol nascer, quando todos se apresentavam ao administrador da propriedade. Após uma breve oração, iniciava-se o labor diário que constava geralmente da produção ou beneficiamento de bens de consumo. 5. (FUVEST) Deve-se notar que a ênfase dada à faceta cruzadística da expansão portuguesa não implica, de modo algum, que os interesses comerciais estivessem dela ausentes como tampouco o haviam estado das cruzadas do Levante, em boa parte manejadas e financiadas pela burguesia das repúblicas marítimas da Itália. Tão mesclados andavam os desejos de dilatar o território cristão com as aspirações por lucro mercantil que, na sua oração de obediência ao pontífice romano, D. João II não hesitava em mencionar entre os serviços prestados por Portugal à cristandade o trato do ouro da Mina, comércio tão santo, tão seguro e tão ativo que o nome do Salvador, nunca antes nem de ouvir dizer conhecido, ressoava agora nas plagas africanas Luiz Felipe Thomaz, D. Manuel, a Índia e o Brasil. Revista de História (USP), 161, 2º Semestre de 2009, p Adaptado. Com base na afirmação do autor, pode-se dizer que a expansão portuguesa dos séculos XV e XVI foi um empreendimento a) puramente religioso, bem diferente das cruzadas dos séculos anteriores, já que essas eram, na realidade, grandes empresas comerciais financiadas pela burguesia italiana. b) ao mesmo tempo religioso e comercial, já que era comum, à época, a concepção de que a expansão da cristandade servia à expansão econômica e vice-versa. c) por meio do qual os desejos por expansão territorial portuguesa, dilatação da fé cristã e conquista de novos mercados para a economia europeia mostrar-se-iam incompatíveis. d) militar, assim como as cruzadas dos séculos anteriores, e no qual objetivos econômicos e religiosos surgiriam como complemento apenas ocasional. e) que visava, exclusivamente, lucrar com o comércio intercontinental, a despeito de, oficialmente, autoridades políticas e religiosas afirmarem que seu único objetivo era a expansão da fé cristã. 6. (FUVEST) Os indígenas foram também utilizados em determinados momentos, e sobretudo na fase inicial [da colonização do Brasil] ; nem se podia colocar problema nenhum de maior ou melhor aptidão ao trabalho escravo (...). O que talvez tenha importado é a rarefação demográfica dos aborígines, e as dificuldades de seu apresamento, transporte, etc. Mas na preferência pelo africano revela-se, mais uma vez, a engrenagem do sistema mercantilista de colonização; esta se processa num sistema de relações tendentes a promover a acumulação primitiva de capitais na metrópole; ora, o tráfico negreiro, isto é, o abastecimento das colônias com escravos, abria um novo e importante setor do comércio colonial, enquanto o apresamento dos indígenas era um negócio interno da colônia. Assim, os ganhos comerciais resultantes da preação dos aborígines mantinham-se na colônia, com os colonos empenhados nesse gênero de vida ; a acumulação gerada no comércio de africanos, entretanto, fluía para a metrópole; realizavam-na os mercadores metropolitanos, engajados no abastecimento dessa mercadoria. Esse talvez seja o segredo da melhor adaptação do negro à lavoura... escravista. Paradoxalmente, é a partir do tráficonegreiro que se pode entender a escravidão africanacolonial, e não o contrário. Fernando A. Novais. Portugal e Brasil na crise do Antigo Sistema Colonial. São Paulo: Hucitec, 1979, p Adaptado. Nesse trecho, o autor afirma que, na América portuguesa, a) os escravos indígenas eram de mais fácil obtenção do que os de origem africana, e por isso a metrópole optou pelo uso dos primeiros, já que eram mais produtivos e mais rentáveis.

382 b) os escravos africanos aceitavam melhor o trabalho duro dos canaviais do que os indígenas, o que justificava o empenho de comerciantes metropolitanos em gastar mais para a obtenção, na África, daqueles trabalhadores. c) o comércio negreiro só pôde prosperar porque alguns mercadores metropolitanos preocupavam-se com as condições de vida dos trabalhadores africanos, enquanto que outros os consideravam uma mercadoria. d) a rentabilidade propiciada pelo emprego da mão de obra indígena contribuiu decisivamente para que, a partir de certo momento, também escravos africanos fossem empregados na lavoura, o que resultou em um lucrativo comércio de pessoas. e) o principal motivo da adoção da mão de obra de origem africana era o fato de que esta precisava ser transportada de outro continente, o que implicava a abertura de um rentável comércio para a metrópole, que se articulava perfeitamente às estruturas do sistema de colonização. 7. (UECE) Leia o fragmento a seguir e analise as afirmações que o seguem.... negar-lhes totalmente (aos escravos e negros) os seus folguedos, que são o único alívio do seu cativeiro, é querê-los desconsolados, de pouca vida e saúde. Portanto, não lhes estranhem os senhores o criarem seus reis, cantar e bailar por algumas horas em alguns dias do ano... (ANTONIL, André João. Cultura e Opulência no Brasil. Belo Horizonte/São Paulo, Itatiaia/Edusp, 1982.) I. Antonil, jesuíta do período colonial, foi um dos primeiros a perceber (em termos de controle social e ideológico) a importância de se deixar aflorar as manifestações sincréticas da heterogênea sociedade colonial. II. Numa colônia escravista, o sincretismo religioso teria que ser tolerado para o bom funcionamento dos mecanismos domina-dores coloniais. Por outro lado, o sincretismo afro-católico dos escravos foi uma realidade importante para a preservação dos ritos e mitos da religião africana. III. Caracteres negros, indígenas e judaicos fundiram-se na América Portuguesa compondo, posteriormente, diversas religiões, porém, surpreendentemente, com rituais semelhantes e crenças e manifestações homogêneas. Com base no texto, pode-se considerar que a) todas as afirmações são verdadeiras. b) somente as afirmações I e II são verdadeiras. c) somente as afirmações II e III são verdadeiras. d) somente as afirmações I e III são verdadeiras. 8. (COVEST) A mistura de culturas faz parte da formação do mundo moderno. Analisando o caso do Brasil, podemos afirmar que houve aí: a) um equilíbrio entre os costumes dos vários povos. b) uma miscigenação que provocou diversidade e conflitos. c) uma prevalência da arte indígena e de seus hábitos alimentares. d) uma soberania absoluta dos hábitos europeus, considerados civilizados. e) uma relação sem conflitos religiosos, devido ao poder da Igreja Católica. 9. (UNIFESP) Analise o texto. E escravidão foi o regime de trabalho preponderante na colonização do Novo Mundo; o tráfico que a alimentou, um dos setores mais rentáveis do comércio colonial. (...) A colonização do Antigo Regime foi o universo paradisíaco do trabalho não-livre; o eldorado enriquecedor da Europa. (Fernando A. Novais. Portugal e Brasil na crise do Antigo Sistema Colonial) O texto comprova a idéia de que a) a exploração do trabalho escravo representou um obstáculo ao desenvolvimento do comércio europeu. b) os europeus exploravam os assalariados, enquanto os colonos exploravam os escravos na América. c) o tráfico de escravos tornou-se uma atividade pouco rentável, por isso os escravos foram substituídos por assalariados. d) a exploração do trabalhador livre proporcionou grande rentabilidade para os colonizadores europeus. e) os colonizadores europeus beneficiaram-se economicamente da exploração do tráfico e do trabalho escravo.

383 10. (UPE) A conquista e a colonização da América não estavam unicamente ligadas ao processo de expansão mercantilista da Europa moderna. Faziam parte, também, da ação da igreja tridentina no combate ao protestantismo e na luta em prol da ampliação do número de fieis católicos. Nessa perspectiva, a) a catequese dos povos americanos não teve destaque na ação das coroas portuguesa e hispânica no Novo Mundo. b) a instituição do padroado régio na Espanha e em Portugal assim como em suas possessões no além-mar comprova o caráter religioso da conquista da América. c) a ação dos jesuítas na catequese dos ameríndios e na colonização ibérica na América se restringiu aos territórios hispânicos. d) a presença massiva de protestantes na América colonial sob a tutela das monarquias ibéricas ressalta a pequena atuação da igreja católica na colonização do Novo Mundo. e) na América Portuguesa, os jesuítas não tiveram espaço para a atuação catequética, cabendo essa ação, nos territórios lusos da América, a outras ordens, como os franciscanos e beneditinos. 11. (UEL) Sobre a escravidão e demais formas de trabalho compulsório no Brasil e na América, é correto afirmar: a) O sucesso da colonização do território brasileiro deu-se em função das Capitanias Hereditárias e o consequente comércio de terras empreendido pelos seus proprietários, conhecidos como donatários. b) Como estratégia de conquista e dominação dos espaços e povos pertencentes ao Novo Mundo, os espanhóis destruíram civilizações nativas e reduziram os sobreviventes à servidão. c) A mão de obra escrava africana, utilizada nas colônias espanholas, constituiu-se numa grande fonte de renda por oferecer aos proprietários de terras uma forma mais eficaz e ágil de exploração das terras coloniais. d) Na América espanhola, a mineração contou com a mão de obra nativa e, os que não colaboravam recusando-se ao trabalho eram enviados à Espanha, transformados em escravos da Coroa. e) Nas colônias do oeste dos EUA, devido à ausência de mão de obra escrava de origem africana, recrutou-se para trabalho compulsório nas minas e em outros serviços as civilizações nativas. 12. (COVEST) A vinda dos europeus para a América modificou as relações aí existentes em muitos aspectos. Por exemplo, no Brasil, os indígenas; a) passaram a viver como povos sedentários, socialmente em harmonia, sem conflitos entre eles. b) sofreram com o impacto da colonização, devido às pressões dos colonizadores e à sua política agressiva. c) adaptaram-se, sem problemas, aos rituais da religião católica, favorecendo as estratégias de dominação dos jesuítas. d) resistiram com êxito aos ataques portugueses, evitando a perda de áreas de cultivo da mandioca e do milho. e) trabalharam na exploração da cana-de-açúcar, mostrando grande conhecimento da técnica de cultivo da terra. 13. (UPE) A colonização portuguesa foi decisiva para assegurar o domínio das terras sempre ameaçadas por outras potências europeias. Na gestão da colonização, a Igreja Católica ajudou o governo português, a) emprestando valores monetários para firmar a exploração na cana-de-açúcar. b) defendendo o uso de escravos até o século XVII, para depois lutar pela sua emancipação. c) ensinando concepções de mundo europeias, facilitando a dominação dos colonos no seu cotidiano. d) conseguindo convencer os índios, sem violência e opressão, de que era mensageira da salvação. e) deixando a política para Portugal dominar, preocupando-se, apenas, com as questões culturais.

384 14. (POLI) Analise as afirmações sobre a escravidão africana no Brasil colonial e escolha uma das alternativas, de acordo com o código abaixo. I. a opção se fez em função do seu baixo custo e facilidade de obtenção. II. foi marcada, fundamentalmente, pelo bom relacionamento entre senhores e escravos. III. teve a exploração e a violência como características marcantes. IV. era uma instituição completamente desconhecida no continente Europeu. V. esteve atrelada aos interesses mercantis no tráfico negreiro. a) se forem corretas as afirmações I e V. b) se forem corretas as afirmações II e III. c) se forem corretas as afirmações III e V. d) se forem corretas as afirmações III e IV. e) se forem corretas as afirmações I e III. 15. (POLI) Ser senhor de engenho é uma honra a que muitos aspiram; porque este título traz consigo os serviços, a obediência e o respeito de muita gente. E se ele for, como devia ser, um homem rico e com capacidade administrativa, o prestígio concedido a um senhor de engenho no Brasil pode ser comparado à honra com que os nobres titulares são tidos entres os fidalgos de Portugal. Charles Boxer, O império marítimo português ( ), p A partir do texto e dos seus conhecimentos sobre a sociedade colonial, assinale a alternativa correta a) O patrimonialismo, no caso colonial, resumia-se à necessidade de adquirir bens materiais já que os não materiais, como títulos e postos eclesiásticos, eram desvalorizados. b) A sociedade colonial herdou concepções européias e lhes acrescentou novos critérios de diferenciação baseados na escravidão. c) Valores aristocráticos, como o monopólio dos poderes nas mãos de um pequeno grupo de origem fidalga, não se consolidaram na colônia. d) A falta de mulheres brancas fez com que as poucas que para a colônia se destinaram gozassem condições sociais paritárias à dos homens, amenizando o patriarcalismo. e) O histórico português de colonizadores da África e da Ásia amainou o racismo e a discriminação contra os ameríndios e o negros de origem africana. 16. (UPE) No Brasil, a sociedade colonial foi marcada pela dominação de preconceitos e pelo poder do Catolicismo. Essa sociedade a) era sustentada pelo trabalho escravo, não havendo mão-de-obra livre em nenhum setor da economia. b) dependia de investimentos europeus, com destaque para os holandeses em relação ao açúcar. c) aceitava o trabalho escravo como base de produção até o começo do século XIX. d) submetia-se às ordens da metrópole, sem haver rebeliões políticas ou movimentos sociais. e) tinha autonomia econômica, negociando com as grandes potências européias. 17. (COVEST) As condições de vida dos escravos nos engenhos de açúcar eram precárias, marcadas pela violência e por constantes punições. É importante afirmar que a existência de escravos na sociedade colonial brasileira contribuiu para sedimentar desigualdades e dificultar a luta contra a metrópole portuguesa. Assim, a escravidão nesse período: a) serviu de base para a sustentação econômica da colônia, embora se restringisse apenas à zona rural. b) não se estendeu à pecuária, onde o trabalho indígena foi aproveitado com grande eficiência. c) não apresentou resistência à prática violenta dos senhores; muitos escravos fugiam ou praticavam o suicídio. d) serviu, como mão de obra, para consolidar o patriarcalismo e o desprezo pelo trabalho manual. e) foi praticada apenas nas regiões onde houve grande produção agrícola para exportação.

385 OLHARES HISTÓRICOS Cinema Quilombo Direção de Cacá Diegues. Brasil, min. Em torno de 1650, um grupo de escravos se rebela num engenho de Pernambuco e ruma ao Quilombo dos Palmares, onde uma nação de ex-escravos fugidos resiste ao cerco colonial. Entre eles, está Ganga Zumba, príncipe africano e futuro líder de Palmares, durante muitos anos. Mais tarde, seu herdeiro e afilhado, Zumbi, contestará as idéias conciliatórias de Ganga Zumba, enfrentando o maior exército jamais visto na história colonial brasileira Sites Fundação Palmares Site do Governo Federal que traz os principais programas sociais e favorável aos negros e afrodescendentes. Disponível em: políticas inclusivas

386 Dança Tapuia, Albert Eckhout CAPÍTULO 25 A Formação de Pernambuco e a Invasão Holandesa, 396 CAPÍTULO 26 A expansão das fronteiras e a mineração no Brasil, 414 CAPÍTULO 27 Movimentos coloniais nativistas, 429

387 A formação de Pernambuco e as Invasaões Holandesas A História de Pernambuco, segundo Manuel Correia de Andrade é marcada por uma série de comprometimentos, de convergências e divergências. No decorrer do processo histórico, o território pernambucano sofreu várias modificações em suas limitações. Suas dimensões eram bem superiores às atuais. Com o passar de cinco séculos, entretanto, por questões, principalmente, políticas, Pernambuco foi perdendo terras. O início da história de Pernambuco remonta a expedição liderada por Gaspar de Lemos, em 1501, a qual teria fundado as primeiras feitorias, possivelmente, em Igarassu. Anos mais tarde, Cristóvão Jacques foi escolhido para defender o local. Erguida na entrada do Canal de Santa Cruz, em Itamaracá, a feitoria pretendia estabelecer um relacionamento com os habitantes locais, procurando informações sobre as prováveis riquezas existentes nas colônias. Igarassu, Pernambuco. O início da história de Pernambuco remonta a expedição liderada por Gaspar de Lemos, em 1501, a qual teria fundado as primeiras feitorias, possivelmente, em Igarassu Nos estudos sobre a história pernambucana, não podemos de maneira alguma negar a importância das contribuições das comunidades indígenas, as quais lançaram elementos fundamentais para a construção da identidade de Pernambuco. Os tabajaras e os caetés, que habitavam na região litorânea, foram os primeiros grupos indígenas a entrarem em contato com os portugueses. Havia também os cariris que eram rivais dos tabajaras e caetés. Localizados no sertão, os cariris se destacaram pelas suas práticas aguerridas. Nos séculos XVI e XVII, eles reagiram contra a colonização portuguesa, formando relevantes grupos na guerra dos Bárbaros. Atualmente, em algumas áreas do território pernambucano ainda pode ser visto traços marcantes da cultura indígena. Por exemplo, os índios fulni-ô (Águas Belas), os pancararus (Tacaratu) e os xucurus (Cimbres) ainda mantêm sua língua e costumes.

388 A administração de Duarte Coelho Em 1534, o governo português visando promover a colonização do Brasil criou o regime de Capitanias Hereditárias. Como já vimos anteriormente, esse sistema era regido por dois documentos: a carta de doação e foral. Nessa perspectiva, a coroa portuguesa, no mesmo ano, concedeu a Capitania de Pernambuco, chamada de Nova Lusitânia, ao donatário Duarte Coelho Pereira. Também foi entregue um lote (Capitania de Itamaracá) a Pero Lopes de Souza. A fragmentação de Itamaracá foi iniciada com a criação da Paraíba (1585). Desestruturada, a capitania de Itamaracá é anexada a Pernambuco por volta de Acompanhado de sua esposa Britas de Albuquerque e do seu cunhado Jerônimo de Albuquerque, Duarte Coelho se tornou um exímio administrador da capitania pernambucana. Coelho se preocupava, principalmente, em explorar os recursos locais, em estabelecer contatos com os nativos e encontrar produtos que gerassem bons lucros. O grande objetivo de Duarte era construir em Pernambuco um outro Portugal. Sobre isso, o historiador Evaldo Cabral de Mello, em seu livro A Ferida de Narciso, afirma: (...) fazer um outro Portugal fora precisamente o programa de Duarte Coelho, primeiro donatário de Pernambuco. Para simbolizar seu propósito, ele adotou para a capitania o nome de Nova Lusitânia, que, após seu falecimento, será preterido pelo topônimo tupi, Pernambuco. Desde então, Nova Lusitânia adquiriu travo erudito, sendo literalmente aplicado ao conjunto da Colônia até os tempos da Independência. Na Europa, o nome exótico foi também adotado, a ponto de em finais do século XIX, o Recife ainda, ser designado por cidade de Pernambuco. O vocábulo pernambucano data dos começos do século XVII, constituindo, com o de são paulista, os dois mais antigos gentílicos da história brasileira (...) A designação de Nova Lusitânia sofrera, portanto, o mesmo abandono a que fora relegado a de Terra de Santa Cruz, exceto que o nome de brasil não tinha procedência indígena. MELLO, Evaldo Cabral. A ferida de narciso: ensaio de história regional. São Paulo: SENAC, p. 10. Duarte Coelho explorou as regiões o rio Igarassu e, em 1537, fundou uma vila denominada de Olinda. Esse local oferecia excelentes condições geográficas favoráveis ao cultivo da cana-de-açúcar, maior empreendimento desenvolvido nos primeiros anos de colonização. O administrador da Capitania de Pernambuco se deparou com diversos desafios e obstáculos para consolidar a ocupação da região. Coelho enfrentou os indígenas que rejeitavam a subordinação ao escambo. Além disso, outras dificuldades superadas foram a densa fauna e flora, o clima e as doenças. Mesmo assim, Duarte Coelho conseguiu implantar os primeiros centros de produção colonial, os engenhos. Em 1548, grupos indígenas atacaram Igarassu. Como os nativos cercaram a vila, o governo convocou os marinheiros que havia chegado ao Recife e que prestam auxílio aos sitiados via marítima e fluvial. Numa dessas embarcações estava o alemão Hans Staden, autor do livro Duas Viagens ao Brasil. Após a morte de Duarte Coelho, em 1553, seus filhos deram continuidade às conquistas territoriais, ocupando os vales dos rios Pirapama-Jaboatão, Ipojuca, Sirinhaém, Formoso, Una, Manguape, Mundaú e São Miguel. O governo dos sucessores de Coelho foi caracterizado pelos intensos combates aos indígenas, pelo estabelecimento dos latifúndios, adoção do sistema escravista, implantação da monocultura, fatores que fomentaram a economia e a empresa açucareira. Inicialmente, a mão de obra utilizada nas lavouras canavieiras pernambucanas, era a indígenas. Ao chegar em Pernambuco, em 1560, Duarte de Albuquerque (filho de Duarte Coelho) organizou campanhas de ataques aos nativos, punindo-os e escravizando-os. Como os portugueses possuíam maior número de combatentes e armas, boa parte dos grupos indígenas juntos com suas posses foi dominada. Vale salientar, que houve resistências organizadas pelos indígenas. Essas expedições desempenharam um papel crucial na interiorização que impulsionou o aumento da produção açucareira. Assim, na Nova Lusitânia, ao ser invadida pelos flamengos, em 1630, já havia aproximadamente 70 engenhos.

389 As riquezas geradas pela lavoura canavieira possibilitaram a formação de tradicionais famílias, partindo de Jerônimo de Albuquerque surgiram os troncos Albuquerque Maranhão, Albuquerque Melo, Acioly, Lins e Cavalcanti. A prosperidade da Nova Lusitânia também serviu para atrair outros povos e comerciantes transformando Olinda e o porto do Recife em locais dinâmicos e bastante transitados. A Holanda nos séculos XVI e XVII Por volta da primeira metade do século XVII, a região produtora de açúcar de Pernambuco foi ocupada pelos holandeses. A presença holandesa no Brasil, para melhor compreender essa ocupação, torna-se necessário levar em consideração os acontecimentos internacionais e os interesses econômicos holandeses em relação ao tráfico de negros e a empresa açucareira. Bem antes da ocupação, os holandeses já vinham investindo no comércio de açúcar brasileiro, sendo responsáveis pela distribuição do produto mercado europeu. Assim, havia bons vínculos estabelecidos entre os empreendedores holandeses e os portugueses. A principal cidade mercantil da província da Holanda era Amsterdã que fornecia aos países ibéricos madeiras, pescados e trigo da região do Mar Báltico e do Mar do Norte. Em contrapartida, os portugueses enviavam sal, especiarias, vinho e açúcar de Lisboa. A Holanda integrava, como outras províncias dos Países Baixos, os denominados Netherlands (Terras do Norte). Na época, juntamente com a atual Bélgica, essas regiões pertenciam aos domínios espanhóis governados por Filipe II, da dinastia Habsburgos. A burguesia comercial holandesa era bastante próspera e ocupava uma posição privilegiada nos negócios desenvolvidos na Europa. Esse grupo mercantil era adepto as ideias calvinistas que estimulava a ética do trabalho e do aquisição de lucros. As tensões entre espanhóis e holandeses são iniciadas quando o rei Filipe II decide aumentar ainda mais os tributos aos burgueses da região. Contrária a essa atitude, houve uma revolta generalizada contra o monarca. Na época, a economia espanhola vivia uma fase esplendorosa e intensificava a cobrança de impostos como meio de garantir o sustento dos dispêndios da corte de suas forças militares. Somado a isso, havia também a rivalidade que envolvia católicos espanhois e os protestantes calvinistas. Em relação aos conflitos envolvendo holandeses e espanhóis, a historiadora Elsa Avancini comentou: Os holandeses, conhecidos também como flamengos, eram habitantes dos Países Baixos do Norte, que foram províncias espanholas até 1581, quando deixaram de reconhecer a autoridade de Filipe II (rei da Espanha). Apoiados pela Inglaterra, lutaram por sua independência e, em 1584, formaram um novo país, chamado Província Unidas dos Países Baixos (ou República da Holanda), que passou a concorrer com a Espanha na disputa pelo seu imenso império colonial no Oriente e nas Américas. AVANCINI, Elsa Gonçalves. Doce inferno: Açúcar, guerra e Escravidão no Brasil Holandês ed. São Paulo: Atual, p. 07. Em 1556 foi criado um movimento de combate a dominação ao Império espanhol. Esse grupo de resistência foi duramente reprimido pelo exército de Filipe II. Porém, mesmo com essa repressão, os rebeldes permaneceram lutando em favor da formação de um país livre, chegando até a formar, em 1579, uma organização de combate aos espanhóis, chamada de União de Utrech. A independência é alcançada em 1581, quando há formação das Províncias Unidas. A Bélgica e Luxemburgo permaneceram sob a tutela da Espanha. Desse modo, após sua emancipação, a Holanda adquire uma posição ainda mais privilegiada no comércio europeu. O governo holandês era exercido por uma associação de poderosos comerciantes. No princípio do século XVII, os Países Baixos se tornaram uma grande potência econômica, possuidora de uma excelente esquadra mercantil, responsável pela comercialização de produtos coloniais na Europa. Além disso, os holandeses ocuparam importantes centros comerciais na África e na Índia. Entre 1609 e 1621, houve um período de trégua (Trégua dos Doze Anos) entre holandeses e espanhóis, o que facilitou, no âmbito geral, o desenvolvimento comercial dos flamengos. Todavia, no comércio açucareiro, os holandeses encontraram algumas barreiras.

390 A União das coroas Espanhola e portuguesa Com a morte de D. Sebastião, rei de Portugal, em 1578, o trono lusitano é repassado para o seu tio-avô, o cardeal D. Henrique, que falece dois anos depois sem deixar sucessor. Assim, foi iniciada uma crise dinástica que propiciou à conjunção, em 1580, dos tronos português e espanhol. Alegando ser neto de D. Manuel I de Portugal, Filipe II da Espanha foi proclamado o novo monarca da coroa portuguesa, formando-se, desse modo, a União Ibérica, que perdurou até Com a unificação das coroas ibéricas, consequentemente, todas as posses do império português, inclusive o Brasil, foi transferido ao domínio espanhol. O governo espanhol tinha grande intenção em dar continuidade à exploração no Brasil. Nessa perspectiva, visando não provocar problemas, ao assinar o Juramento de Tomar, acordo diplomático que tornou oficial a união das duas Coroas, ficou acertado que a administração colonial e o controle sobre as atividades mercantis deveriam permanecer sob a gerência dos portugueses. A principal intenção da Espanha consistia em arrecadar tributos. Para garantir um bom fluxo de impostos, ampliou-se a autoridade do provedor-mor para coibir as fraudes nas esferas administrativas da colônia. Outra medida tomada na administração filipina foi a criação de dois estados na colônia: Estado do Maranhão e o Estado do Brasil. O primeiro abrangia as regiões do Grão-Pará, Maranhão e Ceará. Já o segundo era formada pelo restante do território da colônia portuguesa. Essa divisão administrativa foi estabelecida com o objetivo de manter um maior controle sobre a região norte e preservar a costa brasileira dos ingleses, franceses e holandeses. A Presença Holandesa no Brasil A unificação das coroas ibéricas gerou importantes consequências para o Brasil. A União Ibérica tornou praticamente sem validade o Tratado de Tordesilhas, o que impulsionou a interiorização colonial, conduzindo os portugueses às regiões sul e amazônica. Outro desdobramento consistiu na Invasão Holandesa ao Brasil. O motivo principal que provocou a ocupação foi o rompimento dos laços comerciais entre portugueses e holandeses provocada pela União Ibérica, uma vez que a Holanda era inimiga da Espanha. A partir de então, os investidores flamengos foram afastados dos lucrativos negócios açucareiros que mantinham com os lusitanos. Eles foram os primeiros a se envolverem nas agromanufaturas açucareira, sendo responsáveis pelo financiamento, transporte, refino e comercialização do produto na Europa. Por essa razão, a burguesia mercantil holandesa decidiu recuperar esse rentável comércio, ocupando boa parte do Nordeste brasileiro, principal região produtora de açúcar no período colonial. Durante o período em que dominaram o Nordeste açucareiro, os holandeses tiveram o controle do tráfico negreiro na região. Detalhe do quadro Mercado de escravos de Recife, de Zacharias Wagner, século XVII.

391 Os embargos estabelecidos em função da União Ibérica também motivaram os holandeses a criarem a Companhia de Comércio das Índias Orientais (1609), que atuava em áreas asiáticas, e a Companhia de Comércio das Índias Ocidentais (1621). Esta última tinha como objetivo atuar na América e regiões do Atlântico, devendo preservar os interesses mercantis dos holandeses. As companhias constituíam em sociedades, onde seus acionistas visavam, através expedições militares, garantir elevados lucros em seus empreendimentos comerciais. Nesse sentido, os holandeses invadiram o Nordeste na primeira metade do século XVII. Em 1624, a Bahia e, em 1630, Pernambuco. A primeira investida fracassou, pois os flamengos foram expulsos, em Já a segunda tentativa teve êxito, uma vez que houve a posse de enormes extensões territoriais produtoras de açúcar. Invasão à Bahia Em 1624, a Companhia das Índias Ocidentais, detentora do monopólio comercial das terras americanas e africanas, organizou e financiou uma campanha que invadiu a Bahia. De acordo com o historiador Gonsalves de Mello, essa expedição foi cuidadosamente planejada, chegando os holandeses a obterem informações sobre a situação do Brasil, com a ajuda de judeus simpatizantes dos flamengos. Por outro lado, os espanhóis tomaram conhecimentos, intermédio de seus espiões, dos planos para a ocupação, porém não manifestaram muita preocupação com tal possibilidade. A escolha pela invasão a Salvador se deu pela sua posição geográfica e estratégica, o que futuramente facilitaria outras campanhas coordenadas pela Companhia, além disso, a Bahia possuía também um grande centro produtor açucareiro. No dia 09 de maio, os holandeses aportaram em Salvador, surpreendendo seus habitantes com uma poderosa frota composta de 26 navios, centenas de canhões e mais de três mil homens sob o comando de Jacob Willekens e Piet Heyn. Após um dia de luta, Salvador foi fulminantemente dominada. A maioria da população fugiu para locais próximos à capital. Assim, inicialmente, os portugueses apresentaram pouca resistência, principalmente quando o governador, Diogo de Mendonça, foi preso e enviado para a Holanda. Nessa ocasião, o governador de Pernambuco, Matias de Albuquerque, foi indicado pela Câmara dos Homens bons para administrar a Bahia. A resistência foi organizada pelo bispo de Salvador, D. Marcos Teixeira, que contou com a participação de grupos de guerrilheiros. A contra-ofensiva teve sucesso. Grupos de resistências, com a aproximadamente 25 a 30 homens, se organizaram e atacaram de surpresas (táticas de guerrilhas) as tropas holandesas que sofreram perdas significativas. Nesse instante, a Companhia das Índias Ocidentais envia mais duas tropas armadas reforçadas com mais de 1500 canhões, 9346 homens e 62 navios de grande porte. Entretanto, uma esquadra luso-espanhola formada por 52 navios e 12 mil homens, comandados por Fradique de Toledo Osório, chega ao Brasil em março de Em maio do mesmo ano, após sangrentos combates, os holandeses se renderam. A invasão a Pernambuco Mesmo frustrados com a inesperada derrota, os holandeses retornaram ao litoral baiano, em 1627, dedicando-se aos lucrativos atos de pirataria contra os navios espanhóis e portugueses. A intenção era fortalecer o caixa da Companhia das Índias Ocidentais. As ações empreendidas pelos holandeses no atlântico estavam provocando vários prejuízos ao governo da Espanha, que publicou um alvará régio que coibia o comércio com os flamengos. Todavia, permaneceu o clima tenso, uma vez que havia grandes expectativas para a realização de novas incursões holandesas. A região escolhida dessa vez para ocupação foi Pernambuco, capitania mais próspera e mais povoada da colônia, com 140 engenhos na ativa e produzindo aproximadamente mais de 10 mil toneladas de açúcar. Nesse contexto, Pernambuco se configurava como principal núcleo de produção agroaçucareira colonial. Em 6 de fevereiro de 1630, uma poderosa esquadra, sob os comandos de Hendrick Loncq e Diedrich van Waedenburgh, composta por 67 navios, 7 mil homens e mais de mil

392 canhões, desembarcaram na Praia de Pau Amarelo, litoral pernambucano. Sobre a invasão holandesa a Pernabuco, o historiador José Antônio Gonsalves de Mello, na sua obra Tempo dos Flamengos afirmou: A conquista de Olinda e Recife pode ser consumada em poucos dias; a força atacante era bastante forte e militarmente superior note-se que há refrências ao emprego de novas armas de fogo de guerra e o habitantes preferiam se retirar; mesmo os que tinham a perder com o saque da cidade (...). MELLO, José Antônio G. de. Tempo dos Flamengos. Recife: Massangana, O governador Matias de Albuquerque, responsável pela defesa, retirou-se para o Arraial do Bom Jesus, de onde foram organizados constantes ofensivas e emboscadas contra os invasores. Assim, os colonos portugueses utilizaram novamente a tática de guerrilhas como meio de paralisar a expansão holandesa, que pretendia atingir o interior para garantir o domínio das unidades produtoras de açúcar além do controle sobre os suprimentos alimentares. A resistência comandada por Matias de Albuquerque dificultou por cinco anos, o avanço dos inimigos. Entretanto, não foi suficiente para conter a conquista holandesa. Os holandeses contaram com a ajuda dos cristão-novos (judeus convertidos), de alguns mestiços, indígenas e até mesmo senhores de engenho, cansados da exploração lusitana. As contribuições desses aliados foram fundamentais para a permanência dos holandeses no Brasil. Assim, entre 1632 e 1635, com novos e significativos reforços vindos da Europa e com apoio dos colonos, os holandeses conquistaram pontos estratégicos como as capitanias de Itamaracá, Paraíba, Rio Grande do Norte e, finalmente, o Arraial de Bom Jesus principal núcleo de resistência dos colonos portugueses que consolida a dominação de Pernambuco. Dentre os importantes aliados dos holandeses, destacou-se o mulato Domingos Fernandes Calabar. Contrabandista nascido em Porto Calvo (Alagoas), foi um dos que prestou serviços preciosos aos invasores. Conhecedor das regiões onde ocorriam a guerra basílica (ataques guerrilheiros), Calabar se transformou num eficaz colaborador das tropas holandesas. Inicialmente, lutou em favor das tropas que visavam impedir a conquista de Pernambuco, ou seja, ao lado dos portugueses. Porém, por ter auxiliado os holandeses, foi acusado de traidor, sendo preso, executado e esquartejado pelos luso-brasileiros. Essa acusação não tinha nenhum fundamento, uma vez que os portugueses e espanhóis também eram invasores. A conquista holandesa e a manutenção das tropas holandesas geraram grandiosos gastos para a Companhia das Índias Ocidentais que esperava recuperar esses dispêndios rapidamente. Apesar de provocar sérios prejuízos à Espanha, a Companhia atingiu um considerável déficit em Por outro lado, a Espanha estava envolvida num conflito contra a França, chamada de Guerra de Trinta Anos ( ), não tendo condições, nesse momento, de enfrentar os holandeses. Assim, a falta de ajuda metropolitana tornou cada vez mais difícil a resistência. Com o passar dos tempos, a convivência turbulenta e hostil entre os colonos e os invasores se modificaram e caminhou em direção a um entendimento. Os senhores de engenhos desejavam retomar a produção de açúcar e evitar mais perdas, provocadas, principalmente, pelos permanentes incêndios nos canaviais e pela fuga de escravos. Da mesma forma, a Companhia das Índias buscava outros meios para evitarem ou livrar-se dos constantes prejuízos. A administração de Nassau ( ) O conde João Maurício de Nassau-Siegen foi escolhido pela Companhia das Índias Ocidentais para administrar as terras conquistadas no Brasil. Com uma sólida formação humanista e com muito prestígio na Holanda, devido suas realizações militares, Nassau chegou ao Recife no início de Ele assumiu o comando das posses holandesas com intensos poderes, ocupando o cargo de governador-geral e sendo auxiliado por três integrantes da Companhia das Índias Ocidentais.

393 Maurício, desde que entrou no Brasil, quis lhe fossem do agrado labores e perigos (...). De tal forma combinou entre os estrangeiros a bravura, a prudência, a probidade, virtudes exímias dos generais, que aos soldados deu exemplo de seu denodo bélico e aos domésticos o de uma vida moderada exata (...). Severo guarda do direito e da justiça, conteve, com lei igual, os mais altos e os mais humildes, os bárbaros e os cristãos, os mercadores e os cidadãos. Velou por tudo quanto era em proveito e glória da Companhia. (...) BARLEUS, Gaspar. História dos feitos recentemente praticados durante oito anos no Brasil (1647). In: INÁCIO, Inês C. e LUCA, Tânia Regina de. Documentos do Brasil colonial. São Paulo: Ática, Logo no início de sua administração, Nassau encontrou a produção açucareira completamente desestruturada. Essa desorganização foi provocada pela excessiva saída dos senhores de engenhos para a Bahia, pela destruição dos canaviais e pelas fugas de escravos. Centenas de cativos se aproveitaram dos conflitos entre holandeses e lusobrasileiros e fugiram para as matas da Serra da Barriga (atual Alagoas), onde fundaram, no início do século XVII, o maior e mais duradouro quilombo do Brasil, o Quilombo dos Palmares. Os primeiros anos da administração nassoviana foram dedicados a reorganização da produção açucareira. Para atingir esse propósito, procurou estabelecer boas relações com os grandes proprietários rurais, fornecendo-os escravos e créditos para a reativarem a produção açucareira. Alguns engenhos abandonados foram vendidos, o que gerou bons lucros para a Companhia. Já outros, graças aos empréstimos, foram reconstruídos. Essas atitudes contribuíram para que muitos senhores de engenho estabelecessem boas vinculações com os flamengos. Diante disso, em pouco tempo, houve o restabelecimento do fornecimento da produção do açúcar e a Holanda voltou a distribuir o produto no mercado europeu. Durante o seu governo, Nassau obteve um excelente desempenho militar, ocupando Alagoas e tomando o forte que protegia o litoral cearense. Entretanto, seu ataque a Salvador, em 1638, fracassou. Como administrador, Nassau se tornou uma figura memorável. As melhorias econômicas trazidas por ele geraram boas receitas para a Companhia. Visando resolver os problemas de abastecimento, Nassau obrigou os proprietários rurais a cultivar mandioca proporcionalmente ao número de habitantes existentes nos respectivos engenhos. Também foi instituída uma relativa liberdade comercial para os habitantes das regiões conquistadas e que tivessem investidos nos engenhos. Além disso, Nassau foi habilidoso e chegou a convidar alguns senhores de engenho para participar do governo. Não lhes ofereceu cargos importantes, porém, não desprezava suas reivindicações. Outra marca da administração nassoviana foi a tolerância religiosa, onde os colonos luso-brasileiros não eram obrigados a aceitarem os preceitos protestantes holandeses. Ao longo da gestão nassoviana, o Recife, capital do Brasil Holandês, recebeu um tratamento diferenciado. Desde o começo da ocupação, os invasores já tinham boas simpatias por essa cidade. Sob orientação do arquiteto holandês Peter Post, Recife foi reconstruída e remodelada. Na época, a cidade sofria sérios problemas habitacionais e urbanístico-sanitários. Na ilha de Antônio Vaz foi urbanizada e erguida praticamente uma nova cidade, denominada de Mauritsstat ou Maurícia. Nassau também procurou conciliar os diferentes e múltiplos interesses da população recifense composta pelos colonos nascidos na região, holandeses, portugueses, franceses e ingleses, calvinistas, católicos e judeus, negros e índios.

394 Pretendendo entender o Brasil, Nassau trouxe da Europa diversos estudiosos, cientistas e pintores para retratar e analisar as belezas encantadoras da fauna e da flora da terra. Esses estudiosos estavam imbuídos do espírito renascentista. Os flamengos foram os primeiros a desenvolver esse tipo de estudos sobre as belezas naturais brasileiras. Os principais intelectuais que aportaram no Brasil Holandês foram o naturalista alemão Macgraf, os pintores Franz Post e Albert Eckout e o médico Willem Piso. Os cientistas pesquisaram sobre as doenças tropicais e suas prováveis curas. No Recife, foi construído o primeiro observatório astronômico do continente americano. Mameluca, Eckout. Entre os primeiros artistas holandeses que desembarcaram no Brasil durante o governo nassoviano temos Albert Eckout ( ). A tela de Eckout mostra a Mameluca, fruto da misciginação do período colonial, descalça, com um cesto de flores. Esse pintor retrata um tipo humano, colocando a natureza como discreta moldura. Assim, o elemento humano ganha destaque nas obras de Eckout. O foco é a ação do ser humano sobre a natureza do mundo colonial. Vista de Itamaracá, Post. O pintor Franz Post ( ) privilegiava a paisagem. Em suas obras, os seres humanos aparecem como elementos discretos em meio à paisagem exuberante, como pode ser perceptível na tela acima.

395 Gilberto Freyre, analisando as melhorias nas condições higiênicas do Nordeste durante a ocupação holandesa, afirmou: (...) Diz-se que o Nordeste tivera suas condições de higiene melhoradas durante o domínio holandês: e é possível que tal houvesse sucedido, pelo menos no Recife e nos seus arredores, com as obras de engenharia e principalmente com o sistema de canais de que o conde João Maurício de Nassau dotou a capital do açúcar; e o interior, com as medidas tomadas por ele contra os desmandos da monocultura da cana e a favor da plantação de legumes e de cereais pelas terras dos engenhos. Essas medidas teriam-se refletindo de modo favorável sobre a saúde da população. Além disso, o domínio holandês nos teria trazido o saber médico dos doutores judeus de Amsterdã, e por conseqüência, melhor assistência médica e higiênica aos habitantes do Nordeste. FREYRE, Gilberto. Nordeste: aspectos da influência da cana sobre a vida e a paisagem do Nordeste do Brasil. São Paulo: Globo, p.149. A demissão de Nassau Em dezembro de 1640, a União Ibérica chega ao fim com a chegada ao poder do monarca português D. João IV, que dar início à Dinastia Bragança. Em 1641, os portugueses assinaram um tratado de paz e amizade de dez anos, restabelecendo as boas vinculações entre as duas nações. Porém, Nassau desrespeitou o acordo e deu continuidade as suas campanhas expan-sionistas, conquistando Sergipe e invadindo o Maranhão. Além disso, os flamengos atacaram a Angola e Luanda com o intuito de aumentar o fornecimento de escravos para as lavouras canavieiras do Nordeste brasileiro. As relações entre Nassau e a Companhia estava sofrendo alguns desgastes. Em 1642, enviou um relatório, reclamando da falta de auxílio e das várias adversidades que enfrentavam no Brasil. Segundo Nassau, faltavam soldados, munições e alimentos, que eram essenciais para a manutenção das conquistas. Mesmo com essas reclamações, pouco foi feito e com o passar dos anos, a situação ficou ainda mais complicada, pois até as tropas deixaram de receber suas remunerações. Somado a isso, as atitudes da Companhia iam de encontro aos católicos, privada da liberdade de culto antes liberado por Nassau. Outro fator agravante era o endividamento ascendente dos proprietários de engenhos e o clima cada vez mais evidente de conspiração contra o domínio dos batavos. A partir de 1642, já havia muitos comentários de que o senhor de engenho João Fernandes Vieira planejava uma insurreição. Por outro lado, as forças holandesas estavam se reduzindo. Assim, devido aos diversos atritos entre Nassau e a direção da Companhia, o administrador acaba sendo demitido em 1643, retornando à Europa em maio de A partir de então, o Brasil passou a ser administrado por uma comissão da Companhia. Temerosos com o insucesso da dominação holandesa no Brasil, partiram com Nassau várias pessoas, entre elas poderosos comerciantes. Pelos bons serviços prestados nas terras brasileiras, Nassau recebeu um singelo posto de coronel do exército holandês. A Companhia ainda chegou a oferecer-lhe novamente o cargo de dirigente do Brasil, mas ele rejeitou. A insurreição pernambucana A saída de Nassau do governo simbolizou o fim do período de expansão holandesa na colônia portuguesa. Os representantes da Companhia não possuíam as mesmas habilidades administrativas e políticas do conde Nassau. Por isso, elevaram substancialmente as taxas de juros dos empréstimos e exigiam seus pagamentos dentro do prazo estabelecido. Essas ações provocaram a saturação das relações entre luso-brasileiros e os holandeses. Nesse cenário, foi irrompida a Insurreição Pernambucana. Os boatos do possível movimento se propagavam com muita intensidade, e existiam muitas pessoas interessadas em torná-lo verdade, principalmente, os senhores de engenhos endividados. Para os proprietários rurais derrotar os holandeses significava livrar-se das onerosas dívidas que os afligiam. Nesse cenário de tensão, no dia 13 de junho de 1645, teve início a insurreição. Lideradas por André Vidal de Negreiros, Fernandes Vieira, Henrique Dias e Felipe Camarão, as forças de combate às tropas holandesas travaram diversas batalhas. Em agosto os

396 colonos luso-brasileiros conseguiram importante vitória sobre os flamengos no monte das Tabocas (atual Vitória de Santo Antão). Os rebeldes foram auxiliados pelo governador da Bahia Antônio Teles da Silva, que enviou tropas para ajudá-los. Por outro lado, os holandeses receberam mais reforços e estavam bem guarnecidos pelo mar. As mulheres de Tejucupapo Nessa fase de expulsão dos holandeses, em 1646, ocorreu um fato inusitado na região de Tejucupapo (atual Goiana). Após algumas derrotas e praticamente cercados, os holandeses tentaram ocupar essa localidade com o objetivo de conseguir víveres. Tejucupapo se destacava na produção de mandioca, que desde o governo nassoviano se tornara escassa na capitania. A falta de alimentos assolava os habitantes do Recife, onde os batavos estavam confinados. De acordo com os historiadores, os holandeses planejaram o ataque num domingo, pois nesse dia os homens do vilarejo, segundo os costumes, iam ao Recife para negociar com os caranguejos e outros moluscos. Dessa forma, com o distrito desprotegido, o ataque seria mais fácil, assim, acreditava os invasores. Porém, quando o exército holandês se aproximava, quatro mulheres (Maria Camarão, Maria Quitéria, Maria Clara e Joaquina), ao saber do ataque, se organizaram e planejaram uma reação. Enquanto, os poucos homens que permaneceram em Tejucupapo foram enfrentar os invasores na baia, as mulheres colocaram água misturada com pimenta para ferver em panelas de barro e em tachos. No Monte das Trincheiras, as mulheres jogaram a mistura nos olhos dos soldados holandeses, que foram surpreendidos com o ataque. Além disso, usaram armas improvisadas e motivaram os maridos a se defenderem. Segundo alguns relatos, foram mais de 300 flamengos executados. Após algumas horas de batalhas, as mulheres de Tejucupapo saíram vitoriosas. É importante analisar que essa atitude empreendida por essas mulheres não tinham conotações políticas ou ideológicas. As tejucupapenses nem lutaram em favor da permanência dos portugueses no Brasil, tão pouco combateram a expansão flamenga. Suas atitudes podem ser compreendidas como uma simples e ousada defesa do seu vilarejo, de suas vidas e dos seus filhos. Isso porque, havia poucos homens na comunidade para defendê-las. A derrota holandesa No final de 1648, ocorreram duas batalhas decisivas no monte dos Guararapes, onde os holandeses sofreram grandes derrotas. Apesar dessas perdas, Recife permanecia nas mãos da Companhia das Índias Ocidentais. A situação holandesa estava muito difícil. No final de 1653, uma armada portuguesa cercou o Recife via marítima, enquanto que as forças locais atacaram por terra. Cercado por todos os lados e praticamente sem alternativas, no dia 26 de janeiro de 1654, os holandeses se renderam na Campina da Taborda. No dia posterior, João Fernandes Vieira e as tropas vitoriosas tomaram o Recife. Vieira recebeu diversas homenagens e recompensas, sendo nomeado conselheiro de guerra, capitão-geral e governador de Angola. Além disso, recebeu o título de Restaurador da Igreja na América. Na concepção da Igreja, a insurreição representou uma luta travada entre católicos e protestantes. Vencedores dos flamengos, que tinham vencido os espanhóis, por algum tempo senhores de Portugal, os combatentes de Pernambuco sentiam-se um povo, e um povo de heróis. Nesta convicção os confirmaram os testemunhos do reconhecimento oficial, os encarecimentos dos historiadores (...) os sobreviventes das lutas, os herdeiros das tradições ligeiramente alteradas com o tempo (...) Passado o primeiro momento de entusiasmo, os renóis quiseram reassumir a sua atitude de superioridade e proteção. Data daí a irreparável e irreprimível separação entre pernambucanos e portugueses. Capistrano de Abreu. Segundo o historiador Evaldo Cabral de Mello, em seu livro O Negócio do Brasil: Portugal, os Países Baixos e o Nordeste ( ), a derrota holandesa deve ser entendida por um outro olhar. De acordo com ele, a expulsão dos flamengos não foi resultado, especificamente, da insurreição, mas fruto de um acordo firmado com Protugal,

397 conhecido como Paz de Haia, que pagou 4 milhões de florins aos holandeses, os quais passaram a reconhecer a perda do nordeste brasileiro. Em relação à Holanda, além dos problemas enfrentados no Brasil, também vivia um impasse contra a Inglaterra, que havia declarado guerra aos holandeses. Esse conflito foi provocado pela disputa da hegemonia nos mares. Devido a esses sucessivos enfraquecimentos a Companhia das Índias Ocidentais entra em falência em Em linhas gerais, a expulsão dos holandeses gerou consequências negativas para a economia açucareira colonial. Tendo adquirido as técnicas de produção, os holandeses voltaram suas atividades agromanufatureiras para as Antilhas (Suriname e Curaçao), rompendo-se, assim, com o monopólio exercido por Portugal e tornando-se, a partir de então, os principais concorrentes da produção brasileira.

398 TEXTO COMPLEMENTAR Pintores das paisagens e dos tipos humanos brasileiros Junto com cientistas, arquitetos e professores, Maurício de Nassau trouxe seis artistas. Entre eles, dois são conhecidos ainda hoje: Albert Eckout e Frans Post. Albert Eckout ( ), especializado em retratar tipos humanos e animais, pintou negros, mulatos e indígenas do Brasil no século XVII. Seus retratos a óleo foram pintados em tamanho original e estão preservados no Museu Nacional da Dinamarca, em Copenhague. Eles são um verdadeiro documento antropológico sobre o processo de mestiçagem nas Américas. Mas não se queira ver na obra de Eckout retratos etnográficos exatos. Seus quadros são marcados por uma visão eurocêntrica (...). Frans Post ( ) ficou mais conhecido que seu colega Eckout. Arquiteto e excelente pintor de paisagens, seus quadros representam cenas da vida rural e urbana brasileira (...). Tanto quanto na obra de Eckout, Post também fantasia os negros e indígenas representados. Mas não deixa de fornecer informações importantes da época. Nos sete anos de permanência no Brasil, Frans Post pintou dezoito paisagens. Mas, de volta à Holanda, continuou retratando o que viu no Brasil, principalmente em Pernambuco. Suas telas podem ser encontradas nos principais museus do mundo. De lá pra cá (...) quinze quadros de Frans Post foram comprados e trazidos para Pernambuco para formar a coleção do recém-criado Instituto Ricardo Brennand (no Recife). Nenhuma instituição, museu ou coleção particular no mundo possui tantos Frans Post. O Louvre, que guarda o que resta do presente de 27 quadros de Frans Post, que Nassau deu a Luiz XIV, conserva hoje apenas oito telas, mesmo número conservado no Museu Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro. CONTINENTE MULTICULTURAL. Continente Documento. Recife. n. 8, 2003, p Os pintores Albert Eckout e Frans Post integraram a comitiva de artistas e cientistas trazidas ao Brasil no período nassoviano na primeira metade do século XVII. Segundo o texto, as obras desses pintores pode ser classificadas como naturalistas e descritivas? Por quê? Justifique. 2. Após uma releitura do capítulo, compare as perspectivas de ambos os pintores em relação às suas telas. Qual a relação que cada uma das telas possui com o elemento humano da Colônia.

399 FAZENDO HISTÓRIA 1. Comente sobre os principais aspectos da administração de Duarte Coelho. 2. Cite algumas modificações políticas e econômicas inseridas no Brasil Holandês na administração de Maurício de Nassau. 3. Explique os principais motivos que provocaram a expulsão dos holandeses do Nordeste brasileiro. 4. Em sua opinião, a Guerra dos Mascates tem alguma relação com o domínio holandês no Brasil? 5. De acordo com os seus conhecimentos, o que a vinda de diversos artistas e cientistas para a colônia revela sobre o governo de Maurício de Nassau em Pernambuco? 6. Em sua opinião quais os principais motivos políticos internos e externos que contribuíram para a expulsão dos holandeses do Brasil. 7. Durante a etapa de expulsão dos holandeses, um fato inusitado ocorreu na atual cidade de Goiana. Que evento foi esse? Comente-o.

400 QUESTÕES DE VESTIBULARES 1. (ENEM) Ruy Guerra e Chico Buarque de Holanda escreveram uma peça para teatro chamada Calabar, pondo em dúvida a reputação de traidor que foi atribuída a Calabar, pernambucano que ajudou decisivamente os holandeses na invasão do Nordeste brasileiro, em 1632: -Calabar traiu o Brasil que ainda não existia? Traiu Portugal, nação que explorava a colônia onde Calabar havia nascido? Calabar, mulato em uma sociedade escrava e discriminatória, traiu a elite branca? Os textos referem-se também a esta personagem. Texto I:...dos males que causou à Pátria, a História, a inflexível História, lha chamará infiel, desertor e traidor, por todos os séculos. Visconde de Porto Seguro. In: SOUSA JÚNIOR, A. Do Recôncavo aos Guararapes. Rio de Janeiro: Biblex, Texto II: Sertanista experimentado, em 1627 procurava as minas de Belchior Dias com a gente da Casa da Torre; ajudara Matias de Albuquerque na defesa do Arraial, onde fora ferido, e desertara em conseqüência de vários crimes praticados. (os crimes referidos são o de contrabando e roubo) CALMON, P. História do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, Pode-se afirmar que: a) A peça e os textos abordam a temática de maneira parcial e chegam às mesmas conclusões. b) A peça e o texto I refletem uma postura tolerante com relação à suposta traição de Calabar, e o texto II mostra uma posição contrária à atitude de Calabar. c) Os textos I e II mostram uma postura contrária à atitude de Calabar, e a peça demonstra uma posição indiferente em relação ao seu suposto ato de traição. d) A peça e o texto II são neutros com relação à suposta traição de Calabar, ao contrário do texto I, que condena a atitude de Calabar. e) A peça questiona a validade da reputação de traidor que o texto I atribui a Calabar, enquanto o texto II descreve ações positivas e negativas dessa personagem. 2. (IPAD) A presença holandesa atingiu Pernambuco no século XVII, trazendo modificações na sua cultura e na vida social. Na época da administração de Maurício da Nassau: a) Olinda e Recife se modernizaram, com a constante construção de obras urbanas e ampliação da população estrangeira. b) muitos engenhos de açúcar recuperaram sua produção, apesar de permanecerem algumas dificuldades. c) o Recife foi remodelado e sua população cresceu com rapidez, mesmo com a proibição da entrada de judeus. d) a economia se fortaleceu embora tivesse sido proibida a importação de escravos. e) as reformas urbanas favoreceram apenas os lugares habitados pelos holandeses. 3. (UFPE) A União Ibérica durou 60 anos e teve influência na colonização portuguesa do Brasil. Durante o período da união entre Portugal e Espanha, o Brasil: a) atingiu o auge da sua produção açucareira com ajuda de capitais espanhóis. b) foi invadido pela Holanda, interessada na produção do açúcar. c) conviveu com muitas rebeliões dos colonos contra o domínio espanhol. d) registrou conflitos entre suas capitanias, insatisfeitas com a instabilidade econômica. e) conseguiu ficar mais livre da pressão dos colonizadores europeus. 4. (UFPE) A colonização portuguesa teve um momento importante, politicamente, quando ocorreu a União Ibérica, tornando-se Portugal ligado à Espanha. Nesse período, houve as invasões holandesas nas terras brasileiras. Essas invasões:

401 a) tiveram um grande êxito militar, pois os holandeses só foram expulsos no final do século XVII. b) enfraqueceram o império espanhol, que perdeu suas terras para Portugal e para a França. c) mostraram a existência de rivalidades políticas entre Espanha e Holanda, e interesses pela produção do açúcar. d) contribuíram para o desmantelamento do império espanhol, já em crise devido às suas guerras com a Inglaterra. e) definiram a ascensão política da Holanda como a nação mais rica e poderosa da Europa moderna. 5. (UPE) Em Pernambuco, a presença dos holandeses, apesar de ter fornecido várias contribuições, sobretudo na administração de Nassau, provocou também divergências e conflitos. Com a saída dos holandeses, a) os engenhos recuperam sua capacidade de produção e autonomia nos lucros. b) a concorrência do açúcar antilhano diminui, ajudando a economia portuguesa. c) o algodão passou, de imediato, a ser o produto mais importante da colônia. d) a escravidão negra diminui, acentuadamente, com a ruína dos engenhos. e) a crise nos preços do açúcar atinge a economia colonial no Brasil. 6. (UFMA) Não convém por agora que a prática de nossa religião seja abertamente introduzida entre os portugueses com a abolição dos seus ritos e cerimônias, pois nada há que mais os exacerbe (...) Peço a Deus Onipotente que abençoe e tome sob sua divina proteção o governo de V Sas. Dedicado a V. Sas. J. Maurício, Conde de Nassau. Recife de Pernambuco, 6 de maio de 1644 (Apud Luís Koshiba e Denize Manzi. História do Brasil, p. 73) Em relação à presença holandesa no Brasil é correto afirmar: a) A grande dívida deixada pelo governo dos holandeses em Pernambuco foi com o setor urbano, devido à necessidade de investimento na economia canavieira. As cidades continuaram sem nenhuma obra de infraestrutura. b) Apesar da política de conciliação e de uma administração eficiente, a popularidade de Nassau era cada vez mais decadente, o que contribuiu para o declínio do domínio holandês. c) A política de conciliação implementada por Maurício de Nassau, com os habitantes da região conquistada, consistia, entre outros benefícios, na garantia da propriedade, manutenção dos direitos e liberdade de culto, permissão do comércio com os Países Baixos e redução da carga tributária. d) Um dos aspectos mais marcantes do governo de Nassau foi a proibição do tráfico negreiro por razões de ordem religiosa, em conciliação com o pensamento calvinista. e) Desajustes econômicos, sociais, culturais e religiosos foram a marca de todo o governo de Maurício de Nassau, que resistiu ainda por sete longos anos em Pernambuco. 7. (UPE) O período da dominação holandesa, no Brasil, trouxe benefícios evidentes, sobretudo, para a capitania de Pernambuco. O governo de Nassau representou um marco político nas relações entre os nativos e os holandeses, além de haver ajudado os senhores de engenho a superarem definitivamente a crise de produção do açúcar. Sobre o que foi dito acima, pode-se afirmar que: a) os holandeses mostraram-se excelentes colonizadores, merecendo historicamente elogios, pois modernizaram a produção do açúcar e tinham planos de se fixarem no Brasil. b) há um exagero nas considerações feitas, pois os senhores de engenho não se aproximaram politicamente de Nassau. c) é correto destacar a atuação dos holandeses diante do amplo fracasso que representou o governo colonizador português e da capacidade administrativa de Nassau. d) Portugal e Holanda eram colonizadores com interesses claros de explorar, de acordo com suas possibilidades, as riquezas aqui existentes.

402 e) a análise histórica atual não considera a importância de Nassau e desmistifica sua atuação como administrador, sendo o texto acima impreciso e exagerado. 8. (IPAD) A historiografia tende a valorizar as ações e a memória oficial, sobretudo no que diz respeito a eventos de grande porte, como as guerras ou as revoluções. Em alguns casos, entretanto, a memória popular lembra-se de cenas e acontecimentos diferentes. A este respeito, em Tejucupapo, a memória local preservou a história a) dos padres doceiros que preparavam barras de rapadura. b) dos índios bravios que ajudaram os portugueses contra os franceses. c) das mulheres que expulsaram os holandeses com paus, pedras, panelas, água e pimenta. d) dos gêmeos taumaturgos que realizam milagres na praça pública. e) dos cavaleiros e das cavalhadas medievais, revividas durante o carnaval. 9. (UPE) O sistema de capitanias hereditárias facilitou a ocupação do Brasil por parte dos portugueses. A experiência da capitania de Pernambuco foi bem sucedida. Nela, a produção do açúcar a) favoreceu economicamente e possibilitou a ocupação de todo o seu território de forma eficiente. b) contribuiu para organizar a economia e instituir uma sociedade com uma destacada dinâmica urbana. c) tornou Pernambuco a capitania mais rica e mais populosa do Brasil durante todo o período da dominação portuguesa. d) destacou-se dentre as atividades econômicas da capitania, voltada para o mercado exterior, com apoio fundamental da mão de obra escrava. e) destacou-se junto com a pecuária e o algodão no século XVI, devido à presença do capital holandês e às exportações para Europa. 10.(UPE) A exploração das terras brasileiras pela Coroa Portuguesa exigia investimentos expressivos. Portugal conseguiu aliados para explorar a colônia, com destaque inicial para a Holanda, que a) se interessou pelo rico comércio do pau-brasil, nas regiões do Norte e Nordeste. b) financiou a exploração das minas no Oeste da colônia, conseguindo lucros excepcionais. c) vendeu muitos navios de guerra para proteger o litoral do Brasil, reforçando as tropas portuguesas. d) teve papel importante no comércio do açúcar, obtendo bons lucros. e) estreitou as relações de Portugal com a Espanha, favorecendo o comércio de ouro e prata. 11.(UPE) A administração de Maurício de Nassau continua criando polêmica entre os historiadores. Não há como negar, porém, que Nassau a) estabeleceu uma boa relação com os grandes proprietários, evitando, com habilidade, a crise da produção do açúcar. b) promoveu expedições militares, conseguindo expandir o domínio holandês até Salvador na Bahia. c) preocupou-se em modernizar o Recife, trazendo intelectuais europeus que divulgaram idéias renascentistas. d) mudou os hábitos religiosos e culturais cotidianos, combatendo o catolicismo. e) era um dos sócios da Cia. das Índias Ocidentais e tinha projeto de expandir o domínio holandês pela América. 12.(UFAL) A União Ibérica contribuiu para alterações na administração do Brasil colonial. Portugal sofreu com a presença espanhola na gestão da vida política. Durante a União Ibérica: a) o Brasil conseguiu se livrar das constantes invasões estrangeiras, devido ao poderio da armada espanhola. b) Portugal atribuiu o governo da colônia Brasil a duas capitais, a fim de facilitar a gestão administrativa. c) os inimigos da Espanha não se aproveitaram da situação para incomodar os negócios e os territórios portugueses. d) a presença dos holandeses foi frequente, com êxito nas invasões feitas a Pernambuco e à Bahia, em busca do açúcar.

403 e) a perda da autonomia política de Portugal foi absoluta, mudando inclusive sua estrutura administrativa. 13.(UPE) A presença holandesa no Brasil colônia causa, até hoje, polêmicas entre historiadores. As controvérsias se localizam, sobretudo, em relação à atuação de Maurício de Nassau, que dirigiu os empreendimentos da Companhia das Índias Ocidentais no Brasil. Nassau conseguiu destacar-se, mas terminou sendo demitido em Com relação ao seu governo, é correto afirmar que a) procurou restabelecer a produção do açúcar, mas fracassou devido à falta de recursos. b) teve cuidados especiais com o Recife, onde fixou sua residência, melhorando suas condições. c) apesar do empenho, não conseguiu aumentar os domínios territoriais dos holandeses. d) reconstruiu a cidade de Olinda, onde pretendia se instalar. e) não conseguiu estabelecer boas relações com os grandes proprietários que tramavam, desde o início, sua expulsão. 14.(UFAL) A União Ibérica estabeleceu-se entre Portugal e Espanha, no final do século XVI, com repercussões para a administração portuguesa no Brasil colonial. Essa União: a) transformou a sociedade brasileira da época, devido à presença constante de navegantes espanhóis trazendo migrantes pobres para aqui tentarem a sorte. b) deu mais flexibilidade às normas consagradas pelo Tratado de Tordesilhas e criou mais condições para a expansão territorial do Brasil. c) suprimiu a liberdade política de Portugal, sem, contudo, interferir no poder administrativo sobre as colônias mais ricas. d) não alterou as formas de administração do Brasil não repercutindo, portanto, nas relações de Portugal com as demais nações. e) contribuiu para a modernização da colônia, aumentando significativamente a sua produção econômica. 15.(UFPE) A presença holandesa no Brasil colonial é tema que se destaca nos estudos historiográficos. Sobre o governo de Nassau ( ) e sua época, sempre surgem comentários e debates; porém, podemos afirmar que: a) a recuperação da autonomia política de Portugal, nesse período, deu mais condições para este país desenvolver relações com os holandeses no Brasil. b) Nassau não teve qualquer conflito com os nativos; apenas se desentendeu com o comando europeu da Companhia das Índias. c) a atuação de Nassau em nada modificou as relações dos holandeses com os senhores de engenho, fracassando, porém, na expansão militar e na exportação de açúcar. d) sua administração se restringiu a fazer benefícios à parte central do Recife, onde habitava com a sua família e onde construiu as obras mais importantes. e) não houve na sua administração nenhuma preocupação com as conquistas militares; seus interesses se voltavam sobretudo para a arte renascentista. 16.(PUC-RS) Em 1640, com o fim da União Ibérica, Portugal se defronta com vários problemas e desafios para administrar o Brasil Colonial e desenvolver a sua economia. Entre esses problemas, não pode ser citado: a) a expulsão dos holandeses da região açucareira do Nordeste. b) a destruição do Quilombo de Palmares, que desafiava a ordem escravista. c) a escassez de metais preciosos e a queda dos preços do açúcar. d) a expulsão dos jesuítas que dificultavam a escravização dos indígenas no estado do Grão-Pará. e) a reorganização administrativa da colônia e de sua defesa.

404 OLHARES HISTÓRICOS LIVROS Economia de Pernambuco no século XVI. ANDRADE, Manuel Correia de. Editora Universitária. UFPE: Recife, Doce inferno: açúcar, guerra e escravidão no Brasil Holandês ( ). AVANCINI, Elsa Gonçalves. São Paulo: Atual, Guerra, açúcar e religião no Brasil dos holandeses. LOPEZ, Adriana. São Paulo: Senac, O negócio do Brasil: Portugal, os Países Baixos e o Nordeste ( ). MELLO, Evaldo Cabral de. Rio de Janeiro: Topbooks, A guerra dos holandeses. PLUTONI, Pedro. São Paulo: Ática, REPRODUÇÃO CINEMA Menino de Engenho Brasil, Direção de Carlos Diegues. 119 min. Luta dos escravos africanos contra o domínio senhorial no Nordeste do século XVII. Os fugitivos constroem uma comunidade conhecida como Quilombo dos Palmares, que se torna refúgio e símbolo da resistência contra a escravidão. Sinopse extraída do site REPRODUÇÃO O Judeu Direção de Jom Tob Azulay. Brasil, 1985/ min. Judeu conta a saga do artista e sua família após seu julgamento pelo Tribunal do Santo Ofício, em Lisboa, para onde os infiéis eram levados. Antônio José e o irmão André tornam-se estudantes da prestigiada Universidade de Coimbra, até que, quando o jovem completa 21 anos, novamente sua família é acusada de judaísmo Sinopse extraída do site

405 A expansão das fronteiras e a mineração no Brasil Durante a unificação das coroas ibéricas, Portugal viveu um período turbulento. Os sinais de decadência do império colonial ficaram notáveis. Entretanto, as dificuldades para manter as colônias já existiam desde o século XVI. As despesas para garantir o controle das conquistas obrigaram a coroa lusitana a contrair vários empréstimos com credores internacionais. A recessão econômica vivenciada pelo país, impulsionou o fluxo migratório para o Brasil, principalmente, a partir do século XVII. Desse modo, segundo Caio Prado, o governo português teve que adotar algumas medidas drásticas para coibir o êxodo demográfico que estava gerando prejuízos para sua economia. A União Ibérica, através do Juramento de Tomar, garantiu aos portugueses relativa autonomia administrativa e trouxe uma maior flexibilidade nas fronteiras estabelecidas pelo Tratado de Tordesilhas. Assim, a união das coroas espanhola e portuguesa favoreceu a expansão territorial do Brasil. O processo de ocupação do interior colonial foi marcado pela lentidão e por vários obstáculos, mas essencial para os anseios da administração metropolitana. Os fascinantes lucros obtidos no comércio oriental já não atraiam mais os portugueses. Restava agora aos lusitanos, buscar novas alternativas, entre elas, continuar à procura pelos metais preciosos no território brasileiro. Várias capitanias estavam abandonadas e era necessário reestruturá-la para intensificar a colonização. Nessa perspectiva, por volta da segunda metade do século XVII e princípio do XVIII, teve início o processo de interiorização. Em linhas gerais, diversos fatores contribuíram para expansão territorial, entre os principais, podemos citar as atividades econômicas complementares (a pecuária, drogas do sertão), as missões religiosas, as entradas e as bandeiras, o combate às invasões estrangeiras e a busca de metais preciosos. A conquista do Nordeste brasileiro O ataque aos indígenas foi uma das marcas da expansão da colonização da América portuguesa. Em Sergipe, os colonizadores atacaram violentamente os índios caetés. Os jesuítas tentaram mudar esse panorama, mas não adiantou. As campanhas expansionistas pretendiam também escravizar os indígenas, por isso, os choques estabelecidos entre nativos e europeus. Em 1589, Cristóvão Barros organizou uma expedição que conseguiu vencer os caetés. Dessa forma, houve a abertura para a colonização, com o estabelecimento da produção canavieira. Na Paraíba, os grupos indígenas potiguares e tabajaras resistiram intensamente a ocupação portuguesa. Nessa região, os franceses conseguiram comercializar o pau-brasil, pois mantinham boas relações com os habitantes locais. Uma expedição luso-espanhola, comandada por Diogo Flores Valdez e Frutuoso Barbosa, conseguiu derrotar os franceses. Entretanto, as disputas envolvendo as tropas responsáveis pelo controle das terras ocupadas, contribuíram para uma contraofensiva dos índios, que contaram com a ajuda dos franceses, que visavam recuperar o contrabando de produtos coloniais. No final do século XVI, o ouvidor-geral Martim Leitão conseguiu garantir a conquista da região paraibana. Assim como na Paraíba, os franceses também estabeleceram bons vínculos com os nativos do Rio Grande do Norte. Em 1599, os irmãos Jorge e Jerônimo de Albuquerque, após um acordo firmado com os potiguares, conseguiram conquistar a região. No começo do século XVII, o Ceará foi dominado pelas tropas comandadas por Martim Soares Moreno que derrotou os índios e expulsou os franceses. Na cidade de Fortaleza foram erguidos o forte de São Pedro e a capela de Nossa Senhora de Amparo.

406 Novos conflitos entre franceses e portugueses também ocorreram no processo de conquista do Maranhão. No entanto, em 1615, Alexandre Moura expulsou e destruiu o núcleo de colonização construído pelos franceses, denominado de França Equinocial. A conquista da Amazônia Em 1616, sob o comando de Francisco Caldeira Branco, foi erguido o forte de Presépio na cidade de Belém, ponto de partida para a conquista do Pará. Porém, a ocupação dessa região também foi marcada por hostilidades. Os conquistadores tiveram muitas dificuldades, enfrentando a resistência dos tupinambás. Somado a isso, as disputas entre os conquistadores dificultaram ainda mais a ocupação. A presença de estrangeiros (ingleses, holandeses) na região amazônica também era o outro obstáculo. Em 1632, os portugueses conseguem expulsar os rivais, entretanto os tupinambás permaneceram oferecendo forte resistência. Inicialmente, a cana-de-açúcar foi a base econômica no Norte. Todavia, como as condições geográficas eram inadequadas para o cultivo, os portugueses procuraram outras fontes de riquezas. Com o auxílio dos habitantes locais, exploraram uma diversidade de produtos naturais, tais como a canela, o cacau, a castanha, as famosas drogas do sertão. As missões religiosas também tiveram um relevante papel na etapa de colonização amazônica. A ocupação do sul e do centro-oeste Os bandeirantes avançaram de maneira impetuosa para a região sul, fundando São Francisco, Desterro (atual Florianópolis) e outros povoados. A coroa portuguesa se mostrou interessada na possibilidade de dominar a região do rio da Prata, importante pela sua localização e grande fornecedora de couro e sebo. Essa região era ocupada por aldeamentos indígenas coordenadas pelos Jesuítas, denominadas de missões. O avanço dos luso-brasileiros em direção ao estuário do rio da Prata fez com que os espanhóis de Buenos Aires contestassem frente ao governo português, enfatizando que o Tratado de Tordesilhas não permitia a expansão portuguesa naquela região. Essas divergências provocaram uma série de conflitos entre espanhóis e portugueses. PRINCIPAIS TRATADOS E LIMITES

407 Por volta de 1619, as missões foram invadidas pelos bandeirantes, que destruíram boa parte dos aldeamentos e escravizaram vários índios. Em 1679, os portugueses fundaram, às margens do rio da Prata, a Colônia de Sacramento, que se localizava além dos limites do Tratado de Tordesilhas. Inicialmente, os espanhóis aceitaram a ocupação lusitana, porém, logo foram iniciadas várias disputas pela Colônia de Sacramento. Em 1750, as missões e a Colônia de Sacramento foi discutida diplomaticamente por intermédio do Tratado de Madri. Através desse documento, ficou decidido que a região das missões pertenceria a Portugal, enquanto Sacramento ficaria com a Espanha. Porém, as mudanças não se realizaram de forma tranquila, uma vez que o tratado determinava que os mais de 30 mil indígenas e os missionários deveriam ser transferidos para o lado espanhol, deixando, assim, suas terras. Os nativos não aceitaram essa obrigação, dando início, em 1754, as Guerras Guaraníticas. Os Guaranis foram apoiados pelos jesuítas, até que, em 1756, espanhóis e portugueses invadiram as terras ocupadas pelos índios. Todos esses conflitos geraram bastante tensão na região, no entanto, não impediu o processo de colonização. Nessa área, foram desenvolvida atividades econômicas ligadas a pecuária, fundamentais para consolidar o povoamento na região sul. A colonização da região centro-oeste (atuais Mato Grosso e Goiás) teve estrita ligação com as atividades mineiras. As expedições organizadas pelos bandeirantes foram fundamentais pra o surgimento dos primeiros núcleos de povoamento na região: Vila Bela, Vila Boa e Cuiabá. Antes da descoberta de ouro no rio Cuiabá, em 1719, Bartolomeu Bueno da Silva (o Anhanguera) já havia explorado as terras do centro-oeste. Com a descoberta de ouro em Goiás (1722), favoreceu a elevação da região a categoria de capitania autônoma. Tratados e fronteiras A expansão das fronteiras da colônia portuguesa foi marcada por uma série de conflitos e dificuldades. Concomitantemente ao avanço territorial, o governo português sofreu várias investidas e ocupações de estrangeiros que questionavam as posses lusitanas. A unificação das coroas espanhola e portuguesa facilitou o processo de interiorização, efetivado, sobretudo, pelas bandeiras paulistas. No começo do século XVIII, a expansão colonial alterou completamente as limitações estabelecidas pelo Tratado de Tordesilhas, o que provocou muitas confusões nas regiões norte e sul. Diante disso, os dois países buscaram firmar novos acordos para tentar resolver esses impasses. A princípio, foi assinado os Tratados de Utrecht ( ). Através desse acordo diplomático, tentava-se solucionar os problemas relacionados às fronteiras da Amazônia e no extremo sul. Já o Tratado de Madri (1750), anulava os limites fronteiriços definidos pelo de Tordesilhas. A partir de então, a posse das terras seria daquele que estava ocupando (princípio uti possidetis). Assim, Portugal anexou às suas posses os territórios dos atuais estados do Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Amazônia. Em contrapartida, a colônia do Sacramento foi concedida à Espanha. Em 1777 houve a assinatura do Tratado de Idelfonso. Tentando solucionar os novos conflitos no sul, definia que a ilha de Santa Catarina e parte do Rio Grande ficaria com os portugueses, enquanto os espanhóis receberiam os Sete Povos das Missões e a colônia do Sacramento. As entradas e as bandeiras Por volta da segunda metade do século XVII, devido a decadência da comercialização açucareira no mercado europeu, o governo de Portugal incentivou a busca de pedras e metais preciosos nas terras coloniais americanas, por intermédio das expedições denominadas de entradas e bandeiras. As entradas, realizadas entre os séculos XVI e XVII, consistiam em expedições oficiais, que saiam da região litorânea com o propósito de explorar o interior, aprisionar indígenas e procurar nobres metais (ouro, prata). Já as bandeiras foram expedições particulares, organizadas desde o século XVI, e formadas por milhares de indivíduos originários de São Paulo. Essas expedições partiam em direção ao sertão com o objetivo de capturar os índios para escravizar (bandeiras de apresamento), metais preciosos (bandeira de prospecção) e para reprimir nativos rebelados ou combater quilombos, principalmente, no nordeste açucareiro (sertanismo de

408 contrato). O movimento dos bandeirantes trouxe um maior dinamismo para o processo de interiorização, ultrapassando as fronteiras delimitadas pelo Tordesilhas. O apresamento de indígenas gerou violentos atritos entre os bandeirantes e os jesuítas. A principal missão desses religiosos, era converter os nativos em cristãos. A intervenção dos colonizadores ameaçava o projeto de catequização coordenada pela Companhia de Jesus, fundamentais para os propósitos pretendidos pela Contrarreforma. A preocupação desses religiosos era voltada para proteção dos índios, pois, assim, garantiria o controle exclusivo sobre eles. Por outro lado, os jesuítas agiam indiferente quanto ao trabalho escravo africano. Em relação ao bandeirismo de apresamento, o jesuíta Antônio Vieira, repudiando essa atividade, expressou: Na primeira carta disse a V. Ver. A grande perseguição que padecem os índios, pela cobiça dos portugueses em o cativarem. Nada há de dizer de novo, senão que ainda continua a mesma cobiça e perseguição, a qual cresceu ainda mais. No ano de 1649 partiram os moradores de São Paulo para o sertão, em demanda de uma nação de índios distantes daquela capitania muitas léguas pela terra adentro, com a intenção de os arrancarem de suas terras e os trazerem às de São Paulo, e aí se servirem deles como costumam. Em 1750, foi estabelecido o critério da guerra justa que tinha o objetivo de impedir a escravização indígena, mas não obteve sucesso. Em 1591, os jesuítas asseguram a proteção sobre as comunidades indígenas. Entretanto, os bandeirantes continuaram capturando os índios das comunidades organizadas pelos jesuítas, chamadas de reduções ou missões. As reduções do sul, fundadas entre 1610 e 1631, integravam as províncias de Tape, Uruguai, Guairá, Itatim e Paraná. Os jesuítas se preocupavam em proteger esses centros de evangelização, aprendizagem de ofícios (ceramista, carpintaria) e enriquecimento, pois as reduções transformaram-se em entrepostos comerciais e produtivos, caracterizados pelo caráter coletivo da propriedade. Todos trabalhavam, havendo a divisão dos frutos resultantes do esforço em comum. Os guaranis também se dedicavam à escultura, à música e ao artesanato. Por muito tempo foi construída uma imagem mítica e heroica das ações dos bandeirantes. Eles eram classificados, por alguns historiadores, como descobridores de riquezas, responsáveis pela fundação de vilas, desbravadores e importantes na etapa de povoamento de várias localidades. Porém, tornam-se inegáveis, suas ações negativas, percebidas através da dizimação de diversas comunidades indígenas, as migrações forçadas de nativos e transformação do índio num simples produto. As bandeiras e os metais preciosos Desde o início da colonização, ocorreram várias tentativas para encontrar os metais preciosos. As expedições organizadas à procura de ouro foram frustradas. Em 1531, por exemplo, a expedição comandada por Pero Lobo fracassou. VIEIRA, Padre Antônio. Carta ao padre Provincial. Maranhão, PRINCIPAIS PRINCIPAIS BANDEIRAS Durante o século XVI, em Guarulhos, no Jaraguá e em São Roque foi encontrado o ouro de aluvião, encontrado às margens do rio e misturado com cascalho, argila e areia. Mesmo em pequena quantidade, essa descoberta motivou bastante o governo metropolitano que enviou à capitania de São Vicente o governador-geral Francisco Souza com a finalidade de incentivar novas pesquisas. Entretanto, apenas no século XVIII os sonhos de explorar os metais e pedras preciosas tornaram-se reais e sistemáticos.

409 Por volta de 1695, os bandeirantes encontraram ouro em boa quantidade na região de Rio das Velhas, regiões do atual estado de Minas Gerais. Nos anos posteriores foram abertos novos caminhos auríferos nos estados de Mato Grosso e Goiás e, também, a descoberta de diamantes na região do Serro Frio (Minas Gerais). (...) Em 1776, a população de Minas Gerais, excluindo os índios, superava as almas o que representava 20% da população total da América portuguesa e o maior aglomerado urbano de toda a colônia. Mais de 50% da população era negra... O resto compunha-se, em porcentagens aproximadamente iguais, de brancos, mulatos e outros mestiços de combinações raciais inteiramente americanas. Era grande a desproporção entre homens e mulheres e, no interior de vários grupos raciais, só as mulatas eram mais do que os mulatos.(...) SILVA, Maria B. Nizza da. (coord.). O Império Luso-brasileiro, Lisboa: Estampa, As informações sobre a descoberta dos metais preciosos impulsionaram uma rápida migração para as áreas auríferas. Segundo estimativa, chegaram a essas regiões cerca de 30 a 50 mil desbravadores, oriundos de Portugal e outras partes da colônia. Milhares de pessoas foram atraídas pelas possibilidades e esperanças de concretizarem sonhos e excelentes negócios. Devido a esse grande fluxo, a região mineira concentrou uma elevada densidade demográfica, contribuindo para a formação de um grandioso aglomerado urbano. A situação econômica de Portugal no século XVIII Até por volta do início do século XVIII, o dinamismo econômico colonial era maior no nordeste brasileiro. As demais regiões possuíram uma vida econômica ínfima. Porém, quando os bandeirantes descobriram ouro na região denominada como Gerais, modificaram esse panorama. As atividades mineiras impulsionaram a transferência do eixo econômico do nordeste para o centro-sul do Brasil. Para a coroa portuguesa, a descoberta de metais preciosos, durante algum tempo, gerou uma relativa tranquilidade para sua arruinada economia. No entanto, os benefícios trazidos pela mineração duraram pouco. A economia portuguesa, no século XVIII, enfrentou uma série de dificuldades, devido a falta de infraestrutura produtiva. Como sinal da grave crise, os portugueses não tinham nem meios para reestruturar seu exército e sua marinha. Nessa situação, os portugueses passaram a depender de alguns países credores, como a Inglaterra. Assim, os portugueses ficaram subordinados, principalmente, à política inglesa. O governo português assinou diversos acordos com a Inglaterra, sendo uma dos mais importantes o Tratado de Methuen ou Panos e vinhos, em Segundo alguns historiadores, ele oficializou a dependência de Portugal em relação aos britânicos. O Tratado de Methuen concedia aos portugueses favorecimentos alfandegários na venda de vinhos para o mercado inglês, em contrapartida obrigava os lusitanos a comprar produtos manufaturados da Inglaterra. Esse acordo inibiu o desenvolvimento das manufaturas portuguesas, uma vez que estas não tinham condições de concorrer com as mercadorias inglesas, fabricadas em grandes quantidades e com preços baixos. Nessa perspectiva, a coroa portuguesa ficava cada vez mais submetida aos caprichos da Inglaterra. A colônia seguiu o mesmo percurso, pois diversas riquezas extraídas da região foram utilizadas, direta ou indiretamente, para o pagamento de dívidas perante os ingleses. A exploração do ouro Por muito tempo, os colonizadores portugueses desejavam encontrar metais preciosos. Achar o ouro poderia significar o fim da crise e dos endividamentos que marcava a trajetória da economia portuguesa. O estado Português, pioneiro na expansão marítima, enfrentava grandes problemas, procurando superá-los, criou mecanismos para espoliar o máximo possível suas colônias, principalmente o Brasil. Com as descobertas das jazidas auríferas, o governo português buscou criar mecanismos estatais com a finalidade de controlar e regulamentar as atividades mineradoras, desde a distribuição das datas ou lotes de terras até a arrecadação tributária. O controle das extrações do ouro foram bastante rígidas. Desde 1603, havia o Código Mineiro que organizava a extração dos metais preciosos, porém não obteve muito êxito, pois a produção aurífera era muito pequena. Com o aumento das extrações mineradoras, o código ficou inoperante, obrigando a metrópole a criar novos mecanismos para fiscalizar a

410 economia mineradora. Para atingir esses objetivos, os portugueses diversos meios e estruturas administrativas. Em 1702, a coroa portuguesa criou o Regimento dos Superintendentes, Guardas-Mores e Oficiais Deputados para as Minas de Ouro. Através desse documento foi instituído a Intendência das Minas, que consistia num a administração especial das regiões auríferas, vinculada diretamente a Metrópole e ao Conselho Ultramarino. Em cada região que houvesse a extração de metais preciosos, houve a implantação estabeleceu essa estrutura administrativa. A intendência era responsável pela cobrança de impostos, distribuição de datas, fiscalização das extrações e policiamento da região mineradora, funcionando como tribunal. O intendente, tornava-se, assim, o homem mais poderoso da região. Os territórios auríferos pertenciam a coroa, que podia repassá-los a particulares para o extrativismo. Essas regiões foram ocupadas através da distribuição de porções de terras com cerca de 66 metros, denominadas de datas. Era proibida a venda desses lotes. Os instrumentos de arrecadação de impostos estabelecidos pelo governo português variaram bastante com o passar dos tempos. A cobrança do quinto (20% sobre o total minerado de ouro, prata e diamantes) foi um dos primeiros instituídos no sistema tributário. Esse mecanismo estava passivo a ocorrência de várias fraudes, por isso, foi substituído pelo sistema de fintas, criada em 1713, (quantia anual permanente paga à coroa, o valor se aproximava de 30 arrobas ou 450 kg). O governo português analisou que esse sistema era frágil e possibilitava as sonegações, para evitar isso, foram criadas, em 1722, as Casas de Fundição, sendo as principais localizadas em Vila Rica, Sabará, São João del Rei e Vila do Príncipe. De acordo com esse sistema, todo o ouro extraído era obrigado a ser enviado para essas unidades que seria fundido em barras com o selo real, e só depois de calculada a quinta parte de seu valor, estava liberada para as negociações. Mesmo com essa rigidez, os contrabandos permaneceram. ÁREAS DE MINERAÇÃO NO SÉCULO XVIII ÁREAS DE MINERAÇÃO NO SÉCULO XVIII

411 O desenvolvimento das minas e o contrabando do ouro motivaram o governo português a reformular o sistema de arrecadação. O quinto passou a existir simultaneamente com o sistema de capitação, que constituía numa cobrança tributária estipulada por cabeça de escravo, produtivo ou não, de ambos os sexos, com idade superior a 12 anos. Os mineradores que não tinham escravos também contribuíam com esse sistema, na ocasião, pagavam sobre si mesmos. Principais impostos O sistema de tributação ficou mais rigorosa a partir de 1535, com os estabelecimento de novos impostos e aparelhos de controle, como o Censo das Indústrias. A introdução de novas tarifas, geram insatisfações nos mineradores, que eram constantemente ameaçados pelo confisco de suas propriedades, caso atrasassem em suas contribuições. O apogeu da produção aurífera, entre 1733 e Entretanto, a partir da segunda metade do século XVIII, tem início o declínio da economia do ouro. Em 1751, as Casas de Fundição são reativadas, sendo introduzidas um sistema de cotas anuais. Caso a população descumprisse com essas determinações, havia a cobrança da derrama (imposto obrigatório com a finalidade de completar a cota estipulada). A derrama foi usada como pretexto para as formulações e articulações da Inconfidência Mineira. As condições de trabalho nas Minas O trabalho escravo era o mais utilizado nas minas. Essa atividade permitia ou gerava condições para que o negro comprasse sua liberdade. As técnicas empreendidas na exploração de ouro nas minas eram precárias. A maior parte de ouro encontrado era o aluvião, relativamente mais fácil de explorar, porém mais rápido em seu esgotamento. Sua prospecção era baseada no uso de instrumentos e técnica simples. O ouro aluvião ou de faisqueira era retirado dos leitos dos rios, lagos e riachos através da bateia(espécie de bacia) e o ouro extraído das minas, era chamado lavras. A exploração aurífera foi realizada basicamente pela mão de obra escrava negra. Desenho de Carlos Julião. Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.

412 Sempre fiscalizadas pela coroa, as extrações de ouro possuíam duas formas de organizações: as lavras e os faiscamentos. As lavras eram grandes estabelecimentos que possuíam especializados instrumentos de trabalho, contavam com a participação de vários trabalhadores, implicando, dessa forma num maior investimento. Esse modelo de organização foi desenvolvido na fase de apogeu da mineração, quando havia grandes investimentos e a produção era abundante. Já a pequena extração era realizada por pequenos números de trabalhadores isolados que empregavam métodos rudimentares de extração. Esses indivíduos que realizavam essas atividades eram denominados de faiscadores. A crise na produção O auge da produção aurífera durou pouco, sendo assim, o sonho do Eldorado tinha chegado ao fim. O governo português se preocupou intensivamente em adotar políticas fiscais, com a alta cobrança tributária, não procurando melhorar as técnicas de extração. As principais jazidas auríferas foram encontradas nas regiões dos atuais estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Bahia. A coroa se interessava, basicamente, no volume de metais arrecadados, não dando a atenção às reivindicações da população e nem aos sinais do esgotamento do mineral. Portugal que a escassez do ouro se dava por causa das fraudes e desvios praticados pelos colonos. Desse modo, a metrópole encontrava na criação de vários impostos e agressiva fiscalização, os meios para evitar mais inquietações da população. Entre 1741 e 1761, foram extraídas mais de 290 toneladas de ouro. Porém a partir desse período, a produção entrou em franco declínio. Alguns historiadores, afirmam que essa decadência se deu pelo esgotamento natural das jazidas e pela falta de novas técnicas para a extração em profundidade. Os diamantes A extração de diamantes atraiu intensamente os ambiciosos. As primeiras pedras de diamantes foram encontradas por Bernardo Fonseca, no começo do século XVIII, nas regiões do Serro Frio, Minas Gerais. O Brasil foi o primeiro país produtor moderno de diamantes em todo o mundo. Para garantir o controle da extração, Portugal adotou uma política fiscal agressiva, além de uma estrutura administrativa bastante rígida. Em 1730, foi criado o Distrito de Diamantina, que exercia forte controle sobre a região diamantífera, procurando evitar a sone-gação e o contrabando.o governo metropolitano procurou isolar essa região do restante da capitania. A sede administrativa do Distrito era Tijuco (atual cidade mineira de Diamantina). Sobre a criação do Distrito de Diamantina, Caio Prado Júnior escreveu: Demarcou-se cuidadosamente o território em que se encontravam os diamantes, isolando-o completamente do exterior. Este território, que se chamou o Distrito Diamantino, é o que circunda a atual cidade de Diamantina, em Minas Gerais. (...) Verdadeiro corpo estranho enquistado na colônia, o Distrito Diamantino vivia inteiramente isolado do resto do país, e com uma organização sui generis: não havia governadores, câmaras municipais, juízes, repartições fiscais ou quaisquer outras autoridades ou órgãos administrativos. Havia apenas o Intendente e um corpo submisso de auxiliares que eram tudo aquilo ao mesmo tempo, e que se guiavam unicamente por um regimento colocado acima de todas as leis e que lhes dava a mais ampla e ilimitada competência. Na área do Distrito ninguém podia estabelecer-se, nem ao menos penetrar ou sair sem autorização especial do Intendente, e a vida de seus habitantes achava-se inteiramente nas mãos daquele pequeno régulo que punha e dispunha dela a seu talante. PRADO JÚNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. 7. ed. São Paulo: Brasiliense, p. 63. Em 1734, o Distrito passou a ser administrado pela Intendência dos Diamantes, órgão responsável pela vigilância e regulamentação da extração. Os intendentes controlavam os fluxos de pessoas. A entrada e a saída só era permitida com a autorização do intendente.

413 A exploração de diamantes ocorria de maneira similar à do ouro, por intermédio da concessão de datas, a cobrança da taxa sobre a quantidade total de pedras extraídas (o quinto) e utilização do trabalho escravo. Entre 1734 e 1737, o governo português suspendeu a mineração, com o propósito de evitar a redução dos preços das pedras preciosas na Europa. Em 1740, a Coroa estabeleceu o sistema de Contratos de Monopólio, onde as terras eram arrendadas, por prazo determinado, aos contratadores. Eles passaram a comandar a extração de diamantes, destinando ao governo uma quantia anual predeterminada. O contratador possuía vasta autoridade sobre o território diamantífero e seus habitantes, sendo subordinado apenas à Intendência dos Diamantes. O contratador João Fernandes de Oliveira, se tornou bastante conhecido por ter se casado com a famosa negra Xica da Silva, a qual tinha todos os seus desejos atendidos pelo marido, por mais difíceis que fossem. O sistema de monopólio perdurou até 1771, quando a metrópole criou a Real Extração, passando a administrar diretamente às atividades mineradoras. Nessa mesma época, foi editado o Regimento Diamantino que pretendia impedir o contrabando das gemas (pedras preciosas). Apesar dos rígidos instrumentos de controle e fiscalização, o contrabando era uma prática corriqueira. Mesmo com grandes poderes, os intendentes não conseguiram impedir as sonegações. Porém, as severas repressões garantiram bons lucros à coroa portuguesa, num período em que os diamantes já davam sinais evidentes de escassez. O ouro e a integração da economia colonial A economia mineradora desempenhou um importante papel na integração da economia e no processo de expansão territorial. Pode-se afirmar que o ouro foi atividade explorada sistematicamente que integrou a economia entre várias regiões e diversos setores produtivos. Em linhas gerais, quem trabalhava nas regiões mineiras se dedicavam mais ao garimpo, colocando em segundo plano a produção alimentar. Nesse sentido, outras regiões da colônia adquiriram espaço no fornecimento de víveres. O nordeste e o norte forneceram gado e escravos. O sul também enviou gado para alimentação e muitas mulas que foram usadas nos transportes de ouro para os portos (Parati e Rio de Janeiro) e de produtos para as regiões mineiras. Já o sudeste, principalmente, as áreas do sul de Minas, São Paulo e Rio de Janeiro, desempenharam duas funções relevantes: fornecimento de mercadorias às minas e serviam como locais de paradas e pouso dos tropeiros, que deram origens a muitas vilas, tais como Pouso Alegre, Passos, Campanha. As transformações geradas pela mineração O intenso crescimento demográfico e a urbanização do Centro-Sul foram As principais transformações geradas pela economia mineira. A população das regiões mineiras, concentrada em vários núcleos urbanos, contando com diversos serviços impulsionados pela circulação de moedas. As cidades só tendiam a se desenvolverem. Vila Rica, por exemplo, teve uma população que oscilou entre 30 e 100 mil habitantes, de acordo com a época. Nesses vários centros urbanos houve o surgimento de múltiplas atividades profissionais livres: os artesãos, os pequenos comerciantes, lojistas, hospedeiros e prostituição. O ouro era o principal de ter acessos a esses serviços. As atividades comerciais complementares das minas aumentavam as chances de enriquecimento. A sociedade colonial estratificada, que praticamente não oferecia boas oportunidades para a transferência de um grupo para outro, começou a se transformar. Assim, através das atividades subsidiárias à economia mineira havia uma pequena possibilidade de ascensão de determinados grupos sociais. O aparecimento de novos setores sociais, não paralisou o uso da escravidão no Brasil. O aumento dos trabalhadores livres não chegou a comprometer a ordem escravista colonial. Por volta do final do século XVIII, existiam em Minas Gerais, aproximadamente, quatro escravos por cada pessoa livre. Porém, não se pode negar que o dinamismo da sociedade mineira era bem mais acentuada que a açucareira.

414 TEXTO COMPLEMENTAR Centro histórico guarda raízes do passado A cidade de Goiás, ou Goiás Velho, como também é chamada, guarda um patrimônio arquitetônico e cultural dos mais ricos do país. Tanto que, em 2001, o centro histórico foi declarado Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco. Suas ruas tranquilas mantem o calçamento original de pedras, e os prédios históricos do século XVIII mostram uma arquitetura colonial em que prevalece a simplicidade com poucas influências do barroco. A origem da cidade está ligada à exploração do território brasileiro pelos bandeirantes paulistas. No início do século XVIII, vilarejos provisórios eram erguidos para abrigar os mineradores de ouro. O Arraial de Sant Anna, fundado por Bartolomeu Bueno da Silva, em 1725, já com o nome de Vila Boa de Goiás, torna-se a capital de Goiás, desmembrada da capitania de São Paulo. Somente em 1937 o poder político do estado é transferido para a nova capital do estado, Goiânia. A cidade permite que se entre em contato com a história. Basta andar pelas ruas, entrar nas igrejas, admirar as construções antigas, ir ver a casa onde viveu sua mais ilustre moradora, a poetisa Cora Coralina, ou conhecer o Museu das Bandeiras. Nos doces e nas manifestações religiosas, como a impressionante Procissão do Fogaréu da Semana Santa, permanecem as raízes culturais do passado. Para quem gosta de curtir a natureza, são organizadas caminhadas na reserva ambiental da Serra Dourada, que se ergue em um dos lados da cidade. As igrejas são quase todas do século XVIII e revelam simplicidade de estilo. A Igreja da Boa Morte (1779) é a única que apresenta elementos típicos do barroco na fachada. Abriga o Museu de Arte Sacra, com destaque para as imagens de Veiga Valle, escultor local, que viveu no século XIX. Merecem ser vistas também as igrejas São Francisco de Paula (1761), Nossa Senhora do Carmo (1786), Nossa senhora da Abadia(1790) e de Santa Bárbara (1780). Disponível em: Acesso em 12 de agosto de No século XX, a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), elaborou a lista do Patrimônio Cultural da Humanidade. O grande objetivo é preservar, para as futuras gerações, obras e conjuntos arquitetônicos, assim como as áreas verdes, considerados de grande valor e interesse universal. Nessa perspectiva, comente as principais ideias desenvolvidas no texto acima. O que você faz para preservar o patrimônio de sua cidade ou Estado? Pesquise as principais obras artísticas e arquitetônicas de sua região.

415 Fazendo História 01. Faça uma relação entre a cobrança de impostos na região das Minas com a Derrama. 02. Leia o texto a seguir. A pobreza mineira É gente levada a pensar que, num país em que há ouro e diamante, devam os seus habitantes serem imensamente ricos, dignos de inveja (...). Ficar-se-á surpreendido com o que eu vou dizer e entretanto falo a verdade, sem exagero ou diminuição. A habitação mal merece o nome de casa; é a mais miserável barraca que a imaginação possa figurar (...). As paredes consistem em palha rebocada de lama: um buraco com caixilho serve de janela ou uma ruim porta faz às vezes dela. As fendas abertas na taipa raramente são tapadas e muito poucas vezes vi uma casa consertada. O piso é de barro úmido e ainda mais desagradável pela imundície dos habitantes. MAWE, John. Viagens pelo interior do Brasil. In: TOLEDO, Vera Vilhena de e GANCHO, Cândida Vilares. O brilho dos metais: mineração e metalurgia no Brasil. São Paulo: Moderna, (Coleção Desafios) a) Encontre a ideia global do texto. b) De acordo com os seus conhecimentos, comente outros aspectos para confirmar a ideia central apresentada pelo o autor. 03. (VUNESP) As minas do Brasil se vão de dia em dia acabando, como mostra a experiência; muitas delas já não dão nem para as despesas; antigamente (...) tirava-se tanto que só a capitania das Minas Gerais pagava dos direitos dos quintos cem arroubas de ouro todos os anos. COUTINHO, J. J. da Cunha Azeredo. Discurso sobre o estado atual das minas do Brasil, a) Aponte uma das causas do declínio da produção aurífera da região das Minas Gerais na época em que o texto foi escrito. b) Indique duas consequências econômicas da atividade mineradora para a Colônia.

416 04. (UFV-MG) O ouro brasileiro deixou buracos no Brasil, templos em Portugal e fábricas na Inglaterra. Eduardo Galeano Explique de que forma os fatos contidos na frase anterior estão relacionados historicamente. 05. (UNICAMP-SP) No Brasil colonial, além da produção açucareira escravista, o historiador Caio Prado Júnior (em Formação do Brasil Contemporâneo) enumera outras atividades econômicas importantes como, por exemplo, a mineração do século XVIII, que era também uma atividade voltada para o comércio externo. a) Caracterize a mineração no século XVIII em termos de região geográfica, organização do trabalho e desenvolvimento urbano. b) Cite e caracterize duas outras atividades econômicas do Brasil colonial que não eram voltadas para o comércio externo. 06. Os versos abaixo foram extraídos do poema Canto Mineral, de Carlos Drummond de Andrade. E as esmeraldas, Minas, que matavam De esperança e febre E nunca se achavam E quando se achavam Eram verde engano? Após a leitura, responda: a que episódio histórico o poeta faz alusão?

417 QUESTÕES DE VESTIBULARES 1. (UFPE-Alter.) A economia colonial brasileira sofreu instabilidades, com momentos de prejuízos econômicos significativos. Porém, no século XVIII, com a exploração do ouro das Minas Gerais, Portugal conseguiu: I. recuperar parte dos seus prejuízos, sem, no entanto, se tornar uma grande potência. II. expandir a ocupação da colônia, movimentando a economia para além da região de Minas. III. tornar-se uma potência econômica, aumentando seu poderio militar e político. IV. diminuir o número de escravos na colônia, incentivando o trabalho assalariado. V. evitar a existência de rebeliões marcantes contra a metrópole. 2. (UFPE-Alter.) A exploração de diamantes foi uma atividade importante da economia colonial brasileira, ajudando Portugal a aliviar sua dívida externa. De fato, a exploração de diamantes: I. gerou uma renda superior à da exportação do açúcar. II. dispensou o uso da mão de obra escrava. III. fez do Brasil, no século XVIII, o maior produtor do mundo. IV. na região das Gerais, durou todo o século XVIII. V. adotava uma rígida fiscalização, embora não tenha conseguido evitar o contrabando. 3. (UFAL) A descoberta das minas de ouro trouxe euforia para os portugueses. Realizavase um sonho de há muito perseguido. Não só o ouro como também o diamante deram fôlego à exploração de Portugal. Com relação aos diamantes: a) o Brasil no século XIII chegou a ser o maior produtor do mundo. b) o esquema de exportação foi importante até o século XX. c) a política portuguesa trouxe a valorização internacional do produto. d) o seu rendimento foi maior do que o da cana-de-açúcar. e) a sua descoberta se deu apenas no início do século XIX. 4. (URCA/CE) No período colonial brasileiro as atividades econômicas da mineração e da produção açucareira tiveram destaque. Ao analisarmos as duas atividades pode-se notar que: a) na região açucareira predominou o trabalho escravo, já na região da mineração a mão de obra das jazidas auríferas era predominantemente assalariada. b) em ambas predominou o uso do trabalho escravo com predomínio da escravização dos negros africanos e de seus descendentes aqui nascidos. c) a mineração tinha um caráter predatório, já a atividade açucareira sempre se preocupou com a renovação dos solos e a preservação do meio-ambiente. d) nas duas atividades a utilização do trabalhador livre e assalariado favoreceu a dinamização da economia colonial. e) enquanto na região açucareira do nordeste houve rígido controle fiscal e metropolitano, na região mineradora os portugueses mantiveram-se relativamente distantes conferindo autonomia aos colonos. 5. (UFPE) Durante o século XVIII, a exploração do ouro e de pedras preciosas marcou a economia colonial do Brasil, provocando mudanças significativas resultantes: a) da chegada de técnicos estrangeiros, encarregados de dirigir a produção na região das Minas. b) do deslocamento do eixo econômico da colônia para região mineira, exigindo alterações na administração do Brasil. c) dos empréstimos conseguidos por Portugal junto à Inglaterra, para aprimorar a exploração das minas de diamantes. d) do crescimento da riqueza colonial, conseguindo fazer de Portugal a grande potência internacional da época. e) da transformação de Minas Gerais na mais rica capitania da colônia durante os séculos XVIII e XIX.

418 6. (ENADE) Desde o século XVI, as Bandeiras marcaram o período colonial brasileiro. Partiam da Capitania de São Vicente, mais especialmente de Porto Feliz, às margens do rio Tietê, rumo ao interior desconhecido pelos portugueses. Além da prospecção de metais preciosos, as Bandeiras tinham como objetivo central: a) o desenvolvimento da cultura da cana-de-açúcar pelas capitanias. b) a organização da exploração da pecuária nos pampas. c) a preação de indígenas para o trabalho compulsório. d) a contenção do expansionismo espanhol na região platina. e) o início da extração do látex na Amazônia. 7. (COVEST) O Tratado estabelecido entre Portugal e Espanha, em 1750, bem diferente do firmado em 1494, propiciou o reconhecimento internacional de uma configuração dos limites do Brasil, quase idêntica à atual e recebeu o nome de: a) Tratado de Santo Idelfonso. b) Tratado de Methuen. c) Tratado de Madri. d) Tratado de Tordesilhas. e) Tratado de Westfália. 8. (UERJ) Sobre a capitania de Minas Gerais, no século XVIII, não se pode afirmar: a) Foi marcada pela presença de irmandades leigas constituídas por escravos, forros e homens livres. b) Caracterizou-se por um processo de intensa urbanização, que estimulou o pequeno comércio, no qual predominavam mulheres, livres ou forras. c) Teve como mão de obra predominante, nas atividades mineradoras, o trabalhador livre e o escravo indígena. d) Reuniu considerável número de artesãos especializados, músicos e escritores. e) Conseguiu fornecer muitas riquezas minerais para a coroa portuguesa. 9. (UNESP) "Nossa milícia, Senhor, é diferente da regular que se observa em todo o mundo. Primeiramente nossas tropas com que vamos à conquista do gentio bravo desse vastíssimo sertão não é de gente matriculada no livro de Vossa Majestade, nem obrigada por soldo, nem por pagamento de munição." (Carta de Domingos Jorge Velho ao rei de Portugal, em 1694.) De acordo com o autor da Carta, pode-se afirmar que: a) os bandeirantes possuíam tropas de mercenários, pagas pela metrópole, com o objetivo de exterminar indígenas. b) havia proibição oficial de capturar índios para a escravização e os bandeirantes pretendiam evitar ser punidos pelos colonos e pelos espanhóis. c) os exércitos portugueses, organizados na colônia, tinham a particularidade de serem compostos por indígenas especializados em destruir quilombos. d) algumas tribos indígenas ameaçavam a segurança dos colonos e as bandeiras eram tropas encarregadas de transportar os nativos para as reduções religiosas. e) muitas das bandeiras paulistas eram constituídas por exércitos particulares, especializados em exterminar e capturar indígenas para serem escravizados. X

419 OLHARES HISTÓRICOS LIVROS A idade do ouro no Brasil: dores de crescimento de uma sociedade colonial. BOXER, Charles R. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, Bandeiritismo: verso e reverso. DAVIDOFF, Carlos. São Paulo: Brasiliense, Chica da Silva e o contrabando de diamantes: o outro lado do mito. FURTADO, Júnia Ferreira. São Paulo: Companhia das Letras, Escravos e libertos nas Minas Gerais do século XVIII. PAIVA, Eduardo França. 2. ed. São Paulo: Annablume, CINEMA Xica da Silva Direção de Carlos Diegues. Brasil, min. Escrava que, durante o ciclo de ouro, na atual e rica cidade de Diamantina, aproveitou-se de sua sensualidade para conquistar a alforria e se tornar a rainha do Diamante. INTERNET Cidades históricas brasileiras MÚSICA Paula Fernandes, Seio de Minas Uma excelente e agradável interpretação musical na voz de uma das maiores cantoras sertanejas do Brasil. A belíssima composição faz referência em vários trechos às riquezas(ouro, diamante) que transformaram as Minas Gerais, no século XVIII, numa das regiões mais prósperas da colônia portuguesa. LITERATURA Carlos Drumond de Andrade Poema: Canto mineral.

420 Movimentos coloniais nativistas Os colonos da América Portuguesa se organizaram e resistiram às ações tirânicas dos representantes metropolitanos. As autoridades não encontraram ou não dispunham de alternativas eficazes para administrar a heterogênea sociedade colonial de acordo com os desejos da monarquia lusitana. As distâncias e os problemas de implantar normas gerais para a colônia geraram muitos prejuízos, dificultando, sobretudo, o sucesso administrativo. No decorrer do período colonial, principalmente, entre os séculos XVII e XVIII, foram realizados muitos motins, conspirações, revoltas e rebeliões. Alguns podem ser denominados como movimentos nativistas ou regionais de contestação à política fiscal metropolitana (cobrança de altos impostos, monopólio comercial), portanto não tinham pretensão separatistas, ou seja, não tinham a intenção de romper definitivamente com Portugal. Outros movimentos, entretanto, assumiram um caráter nitidamente separatista, ou seja, visavam a emancipação das respectivas regiões. Os principais movimentos nativistas contestadores foram a Revolta de Beckman (1684), a Guerra dos Mascates (1710), Guerra dos Emboabas (1708 e 1709) e a Revolta de Vila Rica (1720). Já os movimentos que lutaram em favor da independência que se destacaram foram a Conjuração Mineira (1789), Conjuração Baiana (1798) e Revolução de Estes últimos estudaremos nos capítulos 14 e 15. Aclamação de Amador Bueno Algumas revoltas de pouca expressão política ocorreram no sudeste, entre os séculos XVII e XVIII. Em 1641, alguns paulistas se organizaram sob a liderança do proprietário rural Amador Bueno. A razão do motim se deu pela luta em favor da escravidão dos índios. Os insurretos chegaram a decretar a emancipação de São Paulo e aclamaram o seu líder como rei. Porém, Amador Bueno não se interessou com a proposta, pois não queria entrar em choque com a o governo português. Assim, a recusa do seu líder fragilizou o movimento. Amador Bueno rejeitou a coroa, foi perseguido pelos paulistas e se refugiou no mosteiro de São Bento em São Paulo. Óleo de Oscar Pereira da Silva. A Revolta de Beckman ou Revolta de Bequimão No atual Estado do Maranhão ocorreu, em 1684 e 1685, um movimento de contestação chamado de Revolta de Beckman. Na época, um das principais dificuldades enfrentadas pelo Maranhão era a escassez de trabalhadores, pois havia na região um número muito reduzido de oferta de escravos. Essa falta levou os colonos a escravizar os indígenas. Isso provocou vários atritos entre colonos e jesuítas, que condenavam a escravidão dos ameríndios.

421 Com a finalidade de resolver esse impasse de força de trabalho, o governo português criou a Companhia Geral de Comércio do Maranhão, a qual detinha o monopólio comercial da região. Entre outras responsabilidades, cabia à companhia fornecer anualmente 500 escravos negros para as províncias do Maranhão e Grão-Pará, abastecer a região com produtos alimentícios importados (vinho, bacalhau e farinha de trigo), além de obter e exportar gêneros locais, como cacau, tabaco e açúcar. O descumprimento do acordo estabelecido entre a Companhia e os proprietários locais contribuiu para eclosão de um movimento rebelde. Em fevereiro de 1684, um grupo de proprietários rurais, liderados pelos irmãos Manuel e Tomás Beckman, se revoltou, tomando os depósitos da Companhia do Comércio e o governo regional. Os rebeldes se organizaram na sede da Câmara Municipal de São Luís e suas principais decisões foram: a deposição do capitão-mor do Estado, assumindo um governo provisório; a extinção da Companhia do Comércio e a expulsão dos jesuítas. Escolhido pelos sublevados, Tomás Beckman foi à Lisboa, tentar solucionar a situação junto com as autoridades metropolitanas. O grande objetivo era convencer a Coroa de que os colonos lutavam por uma causa justa. Fracassando, Tomás Beckman recebeu voz de prisão em Lisboa. A fim de resolver os impasses, o governo português aboliu os privilégios da companhia e escolheu um novo dirigente para o Maranhão. Quando o novo governador chegou a São Luís, em 1685, mandou dissolver o Governo Provisório, reprimindo violentamente o movimento, determinando a prisão dos principais representantes e executando Jorge Sampaio e Manuel Beckman, líderes mais influentes. Já os demais integrantes foram condenados à prisão e ao degredo, sendo outros membros perdoados. Guerra dos Emboabas A Guerra dos Emboabas ocorreu entre 1708 e 1709, na região do atual Estado de Minas Gerais. Nessa região, os bandeirantes paulistas descobriram as primeiras minas de ouro. Esse fato fez com que os bandeirantes reivindicassem o direito exclusivo da extração do metal. A descoberta das jazidas auríferas, todavia, atraiu muitos aventureiros, pessoas de diversas capitanias da colônia, além de grande quantidade de portugueses. Todos eles foram atraídos pelas possibilidades de rápido enriquecimento. Os paulistas consideravam os mestiços, índios, portugueses e negros que chegavam a região como invasores e intrusos. Ouro Preto, antiga Vila Rica Os portugueses que chegaram às Minas ficaram conhecidos como emboabas, termo que fazia referência às roupas que usavam e que lembravam uma ave de mesmo nome. Com o passar dos tempos, os atritos entre os paulistas e os forasteiros foram se intensificando. Isso porque, no início da extração de ouro, havia a falta de uma permanente autoridade da metrópole. A região das minas pertencia à capitania de São Vicente, assim, a câmara municipal de São Paulo, requereu ao governo português, em 1700, os direitos exclusivos de exploração das Minas Gerais. Com o passar dos anos, o clima ficava cada vez mais tenso. Os paulistas eram bastante diferentes dos demais colonos: sua língua mais utilizada era o tupi-guarani; andavam com vestimentas simples e andavam descalços. Por isso, denominavam outros colonos de emboabas, uma vez que aqueles andavam com botas. O principal ponto de concentração dos paulistas se localizava entre os rios das Velhas e das Mortes, o território de Vila Rica. O superintendente das minas, Borba Gato, liderava os paulistas. Os emboabas e os paulistas durante quase um ano viveram em permanentes atritos. Liderados por Manuel Nunes Viena, os emboabas conseguiram vencer os paulistas. O acontecimento mais conhecido foi o do Capão da Traição, que massacrou diversos paulistas. Após esses episódios, em 1709, a administração metropolitana implantou um rígido controle

422 sobre a região, expulsou o líder emboaba e atendeu alguns pedidos dos paulistas, entre eles, garantir a entrada dos foram obrigados a sair da região das Minas. Em 1710, o governador Antonio de Albuquerque Coelho, separou do Rio de Janeiro das regiões de Minas Gerais e São Paulo, até então pertenciam a uma mesma capitania. Além disso, houve a proibição do uso de armas por negros, mestiços e índios, criando uma companhia de soldados com o objetivo de estabelecer e garantir a ordem. Em 1720, teve a criação da Capitania de Minas Gerais, separada de São Paulo. Diversas vilas também foram fundadas pela Coroa portuguesa, entre elas Vila Rica, atual Ouro Preto; São João del-rei; Vila Nova da Rainha, atual Caeté e Nossa Senhora do Carmo, atual Mariana. Esses núcleos urbanos foram fundamentais, pois possibilitou uma maior fiscalização da região. As disputas que envolveram os emboabas e os paulistas refletiram a frágil organização político-administrativa nas regiões mineiras. Após esse conflito, o governo português se preocupou em criar as primeiras estruturas administrativas e fiscais de exploração aurífera. As rivalidades entre Olinda e Recife A presença dos holandeses no Nordeste brasileiro causou sérios transtornos para a economia açucareira. Nem mesmo após a expulsão dos invasores, os problemas foram resolvidos, pois a aristocracia olindense sofreu grandes perdas. A cidade foi muito danificada, precisando de uma reconstrução. No começo do século XVIII, os senhores de engenho de Olinda estavam cheio de dívidas. Para se ter uma dimensão da crise açucareira na região, enquanto a Bahia com seus 146 engenhos produziam caixas de açúcar, Pernambuco fabricava , com as suas 245 unidades produtoras. Como foi visto anteriormente, a concorrência com açúcar antilhano agravou ainda mais a crise, pois impulsionou a queda do preço do açúcar no mercado europeu. Enquanto isso, o Recife se desenvolvia. Com um comércio dinâmico e uma crescente população, chegando diversos comerciantes a acumularem bons lucros. Alguns desses negociantes, como estavam interessados no controle econômico regional, concederam empréstimos aos proprietários rurais de Olinda. Essa situação desagradou intensamente a aristocracia olindense, que se sentia humilhada e contrariada como a posição privilegiada dos recifenses. Como forma de vingança, denominava os credores de Recife de mascates. Esse termo é utilizado até os dias atuais e se refere ao comerciante ambulante que circulava negociando seus produtos. Na época, os aristocratas olindenses usava a expressão com um sentido depreciativo. Além disso, os recifenses eram acusados de representar na colônia os interesses de Portugal. Durante o domínio holandês ( ), o Recife foi escolhida para ser a sede da administração flamenga, e, por isso, recebeu várias melhorias urbanísticas. Por outro lado, Olinda, sede da Capitania, abrigava as principais instituições administrativas como a Câmara e os tribunais. Para diminuir os transtornos provocados pela guerra de expulsão holandesa, os administradores elevaram a cobrança de impostos. Porém, os comerciantes recifenses rejeitaram, passando a reivindicar a elevação do seu povoado à categoria de vila, o que lhes permitiriam ter direito a uma Câmara e outros órgãos governamentais. Em 1709, no governo de Sebastião Castro Caldas, a Coroa mandou erguer um pelourinho no Recife, a partir de então, a cidade foi elevada ao posto de vila autônoma, com a instalação da administração municipal. Tal medida acirrou mais ainda as rivalidades entre olidenses e recifenses. Os latifundiários de Olinda rejeitaram a atitude, pois ficaram temerosos que. Ao alcançarem a independência, os recifenses poderiam exigi-los o pagamento dos débitos. O governador, Castro e Caldas, foi vítima de um atentado, mas não sofreu danos, indo refugiar-se na Bahia. Esses acontecimentos só ampliaram a tensão. O confronto entre as duas regiões foi iniciado, em 1710, quando os olidenses ocuparam o Recife, destruindo o pelourinho e instituindo o bispo Manuel Álvares como o novo governador, que contou com o apoio da metrópole. Entretanto, os mascates não se conformaram com a perda e planejaram uma contraofensiva. Contado com a ajuda do capitão-mor da Paraíba, João da Mata, e com os recursos financeiros que possuíam, os recifenses articularam forças para enfrentar os olindenses. Os combates permaneceram, porém os recifenses conseguiram aprisionar o bispo Manuel da Costa, obrigando-o a renunciar ao cargo. As negociações de paz ficaram sob a responsabilidade do novo governador, Félix José Mendonça, que aportou em Pernambuco

423 em Assim, que assumiu a administração, Félix Mendonça mandou prender mais de 150 membros da aristocracia de Olinda. Não houve a concessão de perdão para os olidenses. Após o encerramento dos conflitos, os maiores beneficiados foram os recifenses que passaram a sediar a administração da capitania. Desse modo, os mascates se consolidaram política e economicamente. Motim da Maneta Essa revolta ocorreu na Bahia, em A monopolização do sal e aumento de impostos sobre os produtos importados foram os principais motivos para a eclosão desse movimento. Esse motim teve a liderança de João de Figueiredo Costa, o maneta. Os soldados, oficiais, marinheiros e população local, todos membros do motim, passaram a depredar as residências daqueles que apoiavam as novas políticas fiscais implantadas pelos portugueses. A culminância da revolta ocorreu com o saque feito ao comércio da cidade de Salvador. Devido a esses problemas, a coroa suspendeu por três anos as determinações que estabeleciam os novos tributos. (...) violenta revolta ocorrida na Bahia (...) quando o sal foi monopolizado pela Coroa por concorrer com o produto em Portugal. O movimento se deveu também ao aumento dos impostos sobre produtos importados. Liderados por João de Figueiredo Costa, o maneta, soldados, oficiais, marinheiros e a população local passaram a depredar as casas dos que concordaram com as novas determinações portuguesas, e a revolta culminou com o saque do comércio de Salvador. Por causa desse conflito, foram suspensas as determinações que, contudo, voltariam a vigorar três anos depois. BOTELHO, Ângela Viana; REIS, Liana Maria. Dicionário Histórico Brasil. Colônia e Império. Belo Horizonte: O Autor, p.123. A Revolta de Filipe dos Santos A Revolta Filipe dos Santos, também conhecida como Motim de Vila Rica, ocorreu, em 1720, na região de Minas Gerais. O movimento contestava contra o estabelecimento das Casas de Fundição. O seu principal líder foi o minerador Felipe dos Santos. O motim deflagrou-se 25 dias antes de entrar em vigor o decreto real que aprovava a criação de quatro Casas de Fundição: Vila Rica, Vila do Príncipe, Vila Real do Sabará e São João del-rei. Os revoltosos rejeitavam a cobrança do quinto do ouro, além disso, reivindicavam a anulação da ordem real que tratava do estabelecimento das Casas de Fundição. Os rebeldes denunciavam, por meio de um documento, os funcionários da Coroa que trabalhavam nas Minas Gerais, acusando-os de corruptos. Inicialmente, as autoridades portuguesas abriram espaço para negociação com os integrantes do movimento, porém, posteriormente, o governador da capitania Conde de Assumar liderou uma tropa com cerca de homens para combater os revoltosos. Felipe dos Santos foi condenado à morte, sendo em seguida esquartejado pelas ruas de Vila Rica. Julgamento de Filipe dos Santos. Óleo de Antônio Parreiras.

424 TEXTO COMPLEMENTAR Amor à terra? [Um] tipo de interpretação floresceu em torno do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), preocupado em estudar e valorizar os processos que levaram à independência do país. Ao cunhar a expressão revoltas nativistas, aqueles historiadores pretendiam designar os conflitos coloniais marcados por um incipiente sentimento nacionalista. Mas, ao contrário de outros episódios do gênero como a Revolta de Beckman, a Guerra dos Mascates ( ) e a Revolta de Vila Rica, a Guerra dos Emboabas apresentava uma dificuldade: qual era, afinal, o grupo social imbuído desse caráter autonomista ou nacionalista? Quem seriam os verdadeiros defensores da causa nacional? A questão ainda dividia a historiografia no século XX: de um lado ficaram os partidários dos paulistas; de outro, os dos emboabas. ( ) a Guerra dos Emboabas não foi, de modo algum, uma revolta nativista. Ponto final. Mesmo se restringirmos o conceito de nativismo à acepção corrente no século XVIII, isto é, de sentimento de amor à pátria, ainda assim a palavra não se aplica ao conflito. Nem paulistas nem emboabas pareciam movidos pela afeição à terra. O aprisionamento do conflito nesse rótulo nativista impediu gerações de historiadores de perceberem que, por trás das divergências entre os dois grupos, o que existia na época era uma cultura política peculiar. ( ) Uma política herdeira tanto das doutrinas que no século anterior tinham legitimado a insurreição de Portugal contra o domínio espanhol quanto do conturbado processo de negociação entre os descobridores e a Coroa em torno da exploração das riquezas minerais. ( ) Paulistas e emboabas eram todos igualmente forasteiros numa terra recémdescoberta. Juntos formavam uma multidão de 50 mil pessoas que fervilhavam à beira dos rios e caminhos, nos sertões distantes e inóspitos, e disputavam lado a lado as lavras e datas minerais. E ali, em meio a essa multidão vaga e tumultuária, no dizer dos contemporâneos, confluíam valores e concepções políticas forjados em experiências históricas muito diferentes. Revista de História da Biblioteca Nacional. L, 01/10/2008, Amor à Terra? Adriana Romeiro. Analisando o texto 1. O debate proposto pela autora do texto dá-se pela visão sedimentada pela IHGB em relação às revoltas nativistas e as interpretações encadeadas posteriormente. Que concepção historiográfica a historiadora Adriana Romeiro propõe? 2. A partir da concepção apresentada pela historiadora, pode-se afirmar que outros movimentos nativistas também foram marcados por episódios peculiares da cultura política peculiar, sem a presença de sentimento de nação brasileira no século XVII/XVIII? Por quê? Jutifique.

425 2. FAZENDO HISTÓRIA 1. Explique os principais motivos que impulsionaram os movimentos de contestação à política colonial empreendida pela coroa portuguesa. 2. Indique as razões que motivaram a revolta liderada pelos irmãos Beckman e dos Emboadas, comente sobre os grupos sociais nelas envolvidos. 3. Por que os historiadores devem empregar com relativo cuidado historiográfico o termo nativista para os movimentos ocorridos nos séculos XVII e XVIII? 4. A trepidante história das contestações ao domínio português durante a época colonial é campo fértil para a colheita de heróis, batalhas e gestos de coragem. No Maranhão, a resistência dos irmãos Beckman às humilhações causadas pela Companhia de Comércio da Metrópole, o apego da nobreza açucareira aos interesses de Pernambuco na Câmara de Olinda por ocasião do conflito com os mascates do Recife, ou ainda o sacrifício de Filipe dos Santos nas ruas de Vila Rica garantem uma boa dose de emoção e se inscrevem no panteão da memória dos grandes feitos brasileiros. Figueiredo, L. Rebeliões no Brasil Colônia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, p De acordo com o texto acima, responda o itens a seguir. a) O que as rebeliões e movimentos coloniais nativistas indicam? b) Quais as possíveis relações existentes entre os movimentos citados no texto? Aponte uma semelhança e distinção entre eles. 5. Identifique e relacione, a partir da lista abaixo, os motivos centrais para as revoltas estudadas no capítulo. Movimentos e revoltas Principais motivos 6. (UNICAMP) Comentando a Guerra dos Emboabas(1709), o historiador Antônio Sérgio escreveu: Cedo no Brasil se bucaram as minas. Para isso se organizavam expedições (bandeiras) que se internavam pelo sertão. Enfim, a descoberta fez-se e a notícia atraiu muita gente. Os habitantes de São Paulo consideravam como inimigos todos os que pretendiam, como eles, enriquecer com o ouro. Adaptado de: Sérgio, A. Breve Interpretação da História de Portugal. a) Quem eram os emboabas e por que os paulistas entraram em guerra contra eles? b) Explique as transformações econômicas que a mineração provocou no Brasil.

426 QUESTÕES DE VESTIBULARES 1. (UFPE) O termo Nativismo é utilizado pelos historiadores para designar revoltas ou movimentos de resistência contra a dominação portuguesa. São movimentos nativistas ocorridos no Brasil: a) Mascates, Emboabas, Revolta de Beckman. b) Guerra dos Bárbaros, Mascates. c) Revolução de 1817, Confederação do Equador. d) Revolução Praeira, Canudos, Quilombo dos Palmares. e) Confederação dos Tamoios, Guerra dos Bárbaros. 2. (UPE-Alter.) Na primeira metade do século XVIII, o Recife contava com uma população de aproximadamente 45 mil pessoas. Olinda perdia a supremacia que tinha, antes, no auge da produção açucareira. Sem dúvida, a vinda dos holandeses para o Brasil contribuiu para o crescimento do Recife como também os resultados da Guerra dos Mascates. O texto acima I. comete erro histórico, pois a supremacia de Olinda permanece até o século XIX. II. exagera com relação aos resultados da Guerra dos Mascates, que pouca importância teve na vida do Recife. III. faz uma síntese da situação do Recife, no século XVIII, pois é inegável o seu crescimento nesse período. IV. valoriza a vinda dos holandeses que, em nada, alterou a vida do Recife, já em ascensão na época. V. avalia erradamente a população do Recife. 3. (POLI) O mapa a seguir relaciona algumas rebeliões nativistas. Após analisá-lo atentamente, julgue as afirmações e assinale a alternativa que as associa corretamente I. resistência dos mineradores à criação da Casa de Fundição. II. reação dos colonos à criação da Companhia de Comércio e às ações jesuíticas. III. disputa entre os mascates e a açucarocracia pelo controle político da região. a) Z III, W II, X I. b) Z II, W III, X I. c) Z III, W I, X II. d) Z I, W II, X III. e) Z I, W III, X II.

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